REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10576270
Caio Marchioro Vinco1
Wagner Barbosa de Oliveira2
RESUMO: A qualidade de vida de determinado indivíduo está atrelada principalmente a fatores físicos e emocionais. Vários são os as práticas que podem ser adotadas visando a melhoria da qualidade de vida, entre elas podemos citar a prática de atividades físicas. Esse estudo teve como objetivo realizar um estudo de caso com uma adolescente de 16 anos verificando a influência da prática de atividades físicas em parâmetros tais como flexibilidade, força, resistência, velocidade, agilidade, frequência cardíaca e ainda outros fatores relacionados a qualidade de vida tais como qualidade do sono e estresse. Os resultados mostraram que a prática de atividades físicas influenciou diretamente na qualidade de vida da aluna, melhorando seu desempenho físico, saúde cardiovascular, além de promover uma melhor qualidade de sono.
Palavras-chave: bem-estar; qualidade de vida; adolescência; atividades físicas.
1. INTRODUÇÃO
O termo qualidade de vida engloba diversos fatores relacionados ao estilo de vida de determinado individuo, sendo esses fatores atrelados a questões emocionais e físicas. Alguns autores relatam que para uma boa qualidade de vida é necessário agrupar o bem-estar material, social, emocional, espiritual, físico, além de manter o desenvolvimento e atividade do corpo e mental (Castellón & Pino, 2003).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a participação em atividades físicas (AFs) pode desempenhar um papel fundamental no envelhecimento saudável e, portanto, na promoção da qualidade de vida. Vários são os relatos na literatura abordando os benefícios atrelados ao desenvolvimento de AFs, no qual podemos destacar: (i) redução da ansiedade e estresse pois podem aumentar a sensibilidade do cérebro aos hormônios norepinefrina e serotonina, além de aumentar a produção de endorfina responsável por produzir sentimentos positivos; (ii) redução de peso; (iii) desempenho de papel importante na manutenção e construção dos músculos pois promovem a capacidade de absorver aminoácidos; (iv) aumento dos níveis de energia; (v) redução do risco de doenças crônicas como doenças cardiovasculares; (vi) auxílio na saúde da pele por aumentar a produção de antioxidantes; (vii) auxílio na saúde e memória do cérebro; (viii) auxilio na qualidade do sono e, (ix) promoção de uma vida sexual melhor (Tipton & Wolfe, 2001; Slentz et al., 2009; Anderson & Shivakumar, 2013; Kruk & Duchnik, 2014; Kredlow et al., 2015; Ensari et al., 2016; Gim & Choi, 2016; Jackson et al., 2016).
Estabelecer um perfil físico e garantir a qualidade de vida atrelados a prática de atividades físicas é um dos aspectos mais importantes do profissional de Educação Física. Avaliações do desempenho do aluno faz conhecer as capacidades individuais do aluno, trabalhando de forma individual de forma a chegar nos objetivos requeridos.
Face ao exposto, o objetivo do presente estudo foi realizar um estudo de caso experimental a partir uma análise monitorada avaliando a influência de mudanças de hábitos relacionados a AF na qualidade de vida, para isso foram avaliados parâmetros tais como medida de estatura, flexibilidade, força de membros, resistência abdominal, velocidade, agilidade e resistência.
2. METODOLOGIA
2.1. Material
Cronômetro relógio smart band (Xiaomi, modelo Mi Fit 4); fita adesiva crepe (3M, tipo 101LA 24 mm x 50 m); mini cone esportivo de borracha flexível para treino de 20 cm (Plastcor); saco de areia de 2 quilos, e trena com caixa plástica emborrachada (Eda, 5 metros).
2.2. Métodos
2.2.1. Aplicação de questionário
Antes e após da aplicação das atividades físicas e avaliações foi aplicado um questionário a aluna escolhida para o estudo com o qual foram obtidos dados referentes a: idade, peso, índice de massa corporal (IMC), informações sobre as condições de saúde e condições emocionais tais como ansiedade e estresse.
2.2.2. Desenvolvimento de atividades físicas
Atividades físicas foram instruídas e desenvolvidas pela aluna no período de 16/03/2021 à 29/05/2021, totalizando em aproximadamente dois meses e meio. As atividades foram desenvolvidas duas vezes por semana, sendo uma vez por semana o desenvolvimento de caminhada/corrida e a segunda vez por semana o desenvolvimento de treinamento funcional, ambos com duração média de 45/60 minutos.
2.2.3. Teste de flexibilidade (sentar e alcançar)
Para realizar a análise desse parâmetro a aluna avaliada sentou-se descalça sobre uma trena estendida fixada no chão, tendo o ponto zero entre as pernas, com os calcanhares imediatamente próximos a marca de 38 cm. Com os calcanhares afastados a aproximadamente 30 cm, joelhos estendidos, mãos sobrepostas e dedos médios alinhados, a aluna com auxílio do avaliador flexionou o tronco à frente até alcançar com a ponta dos dedos a maior distância possível sobre a trena conforme esquematizado na Figura 1A. Foi realizada três avaliações em diferentes tempos (I, II e II, antes das atividades físicas, durante e após) a partir da posição mais longínqua que a aluna chegou na escala com a ponta dos dedos. Os resultados foram avaliados de acordo com os valores referências de flexibilidade para o sexo feminino e utilizando a idade da aluna, dessa forma podendo ser classificado em: muito fraco, fraco, razoável, bom, muito bom e excelência.
Figura 1. Representação esquemática dos testes realizados no preparo desse estudo. (A) Teste de flexibilidade pelo método sentar e alcançar; (B) Teste de força de membro inferior; (C) Teste de força explosiva de membro superior e, (D) Teste de resistência abdominal.
2.2.4. Teste de força explosiva de membro superior (MMSS)
Para essa avaliação uma trena foi fixada sobre o solo perpendicularmente à parede. O ponto zero foi contado a partir da parede. A aluna avaliada sentou-se com joelhos estendidos, pernas unidas, costas completamente apoiadas à parede e posteriormente segurou um saco de areia de 2 quilos junto ao peito com os cotovelos flexionados conforme esquematizado na Figura 1C. Com auxílio do instrutor a aluna arremessou o saco de areia a maior distância possível, mantendo as costas apoiadas na parede. A distância do arremesso foi registrada a partir do ponto zero até o local em que o saco de areia parou. Dois arremessos foram realizados e anatado o melhor resultado. A medida foi registrada em centímetros e classificada de acordo com a referência para o sexo feminino e a idade da aluna em fraco, razoável, bom, muito bom e excelência. Foi realizada três avaliações em diferentes tempos (I, II e II, antes das atividades físicas, durante e após).
2.2.5. Teste de força de membro inferior (MMII)
Para o teste de força de membro inferior MMII uma trena foi fixada no solo perpendicularmente à linha utilizada como ponto zero. A aluna se posicionou atrás da linha com os pés paralelos, ligeiramente afastados, joelhos semiflexionados, tronco ligeiramente projetado à frente. Ao sinal a aluna saltou a maior distância possível conforme apresentado na Figura 1B. Duas tentativas foram realizadas e registrado apenas o melhor resultado. A distância foi devidamente registrada em centímetros e classificada de acordo com a referência para o sexo feminino e a idade da aluna em fraco, razoável, bom, muito bom e excelência. Foi realizada três avaliações em diferentes tempos (I, II e II, antes das atividades físicas, durante e após).
2.2.6. Teste de resistência abdominal
Para o teste de resistência abdominal a aluna se posicionou em decúbito dorsal com os joelhos flexionados em 90º e com os braços cruzados sobre o tórax conforme esquematizado na Figura 1D. O instrutor fixou os pés da aluna juntamente ao solo. Ao sinal a aluna iniciou os movimentos de flexão do tronco até tocar com os cotovelos nas coxas, retornando à posição inicial. O resultado foi expresso pelo número de movimentos completo realizados no tempo de um minuto. Os resultados foram avaliados de acordo com os valores preconizados para o sexo feminino e utilizando a idade da aluna, dessa forma podendo ser classificado em: fraco, regular, médio, bom e excelente.
2.2.7. Teste de velocidade
Para esse teste foi demarcada uma distância de 20 metros com cones criando uma linha imaginária de partida e cones criando uma linha imaginária de chegada. A aluna correu essa distância e o tempo foi registrado em segundos e centésimos com auxílio do cronômetro. A partir desse resultado a performance foi classificada em fraco, razoável, bom, muito bom e excelente de acordo com o sexo e idade da aluna. Foi realizada três avaliações em diferentes tempos (I, II e II, antes das atividades físicas, durante e após).
2.2.8. Teste de agilidade
Um quadrado com quatro cones nas extremidades delimitou a área dessa atividade. O espaço entre os cones foi de quatro metros. O instrutor iniciou a contabilidade de tempo no cronometro quando a aluna cruzou a linha do primeiro cone. A aluna tocou a ponta de cada cone e retornou para o local de partida, ao cruzar a linha o cronômetro foi parado e o tempo registrado em segundos e centésimos. A partir desse resultado a performance foi classificada em fraco, razoável, bom, muito bom e excelente de acordo com o sexo e idade da aluna. Foi realizada três avaliações em diferentes tempos (I, II e II, antes das atividades físicas, durante e após).
2.2.9. Teste de resistência
Para a análise de resistência quatro cones afastados na distância de 10 metros de demarcaram a área onde foi desenvolvida a atividade. A aluna deu o maior número de voltas possível correndo em volta do perímetro por um tempo de seis minutos, cada volta completa contabilizou o total de 40 metros. Ao final do tempo foi multiplicado o número de voltas pela distância de cada volta. O valor total foi utilizado para classificar a performance da aluna em fraco, razoável, bom, muito bom e excelente.
2.2.10. Controle de frequência cardíaca
O controle da frequência cardíaca foi realizado em dias de realização de AFs, sendo monitorado em modo basal (um minuto de descanso na posição sentada), durante o treino, após o treino e após recuperação (um minuto após o treino em posição sentada). Para o monitoramento o instrutor colocou o dedo indicador e médio no pulso da aluna, logo abaixo da base do dedo polegar, contabilizou os batimentos por 10 segundos e multiplicou os batimentos por seis, obtendo o resultado de batimentos cardíacos por minuto.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo foi realizado com uma adolescente de 16 anos, 1,68 metros de altura, peso médio de 61,5 quilos e IMC de 21,61. Pelos resultados preenchidos pela aluna através de um questionário elaborado a adolescente não praticava nenhum tipo de atividade física, não fazia uso de medicamentos, nunca fez nenhum tipo de cirurgia, não possui problemas respiratórios, problemas cardíacos ou alguma doença que impeça de praticar atividades físicas, não sente dores com frequência e não é fumante. Tais resultados indicam que a adolescente estava habilitada para participar do estudo.
Foram desenvolvidas atividades físicas por um período de aproximadamente dois meses e meio, duas vezes por semana, totalizando em aproximadamente 16 dias praticando atividades físicas. Para avaliar a adolescente foram realizadas três avaliações (antes, durante e após a prática de atividades físicas). Os resultados encontram-se listados na Tabela 1.
Tabela 1. Resultados dos testes realizados nesse estudo.
Testes | Avaliação I | Avaliação II | Avaliação III |
Medida de estatura | 1,68 m | 1,68 m | 1,68 m |
Flexibilidade | 28 (Fraco) | 30 (Fraco) | 33 (Regular) |
Força de membro superior | 220 (Fraco) | 290 (Fraco) | 312 (Fraco) |
Força de membro inferior | 155 (Bom) | 152 (Bom) | 162 (Muito bom) |
Resistência abdominal | 31 (Regular) | 37 (Bom) | 42 (Excelente) |
Velocidade | 05,13 (Fraco) | 04,28 (Fraco) | 04,10 (Razoável) |
Agilidade | 08,93 (Fraco) | 07,02 (Fraco) | 06,50 (Bom) |
Resistência | 840 (Fraco) | 910 (Fraco) | 1040 (Bom) |
Os resultados apontam que o desenvolvimento de AFs melhorou o desempenho da adolescente em todos os testes analisados, chegando a resultados caracterizados até como excelentes como na análise de resistência abdominal.
Em um estudo similar avaliando a aptidão física de adolescentes Miyagi et al. (2018) concluíram que adolescentes geralmente possuem baixo nível de aptidão física e necessitam de estratégias que estimulem a mudança de hábitos em relação a atividade física. Esse estudo mostra que a prática de AFs pode trazer benefícios, melhorando a flexibilidade, força de membros, resistência abdominal, velocidade, agilidade e resistência.
Em outro estudo avaliando a flexibilidade e força de membros inferiores em adolescentes na faixa de idade entre 11 e 16 anos, os avaliadores concluíram que essa faixa de idade obtêm uma melhora significativa em comparação da fase pré para pós prática de AFs, isso se deve a qualidade motora, composição corporal e maturação biológica dessa faixa etária (Da Silva et al., 2017).
O controle da frequência cardíaca foi realizado em todos dias que ocorreram prática de AFs, os resultados encontram-se listados na Tabela 2.
Tabela 2. Controle da frequência cardíaca em modo basal, durante o treino, após o treino e após recuperação
CONTROLE DE FREQUÊNCIA CARDÍACA | |||||
Data | Horário | Basal após 01 minuto de descanso em posição sentada | Treino | Após treino | Após recuperação 01 minuto em posição Sentada |
16/03/2021 | 19:30 | 84 | 144 | 150 | 114 |
23/03/2021 | 18:30 | 78 | 132 | 150 | 120 |
28/03/2021 | 18:30 | 72 | 126 | 156 | 120 |
06/04/2021 | 19:00 | 78 | 150 | 168 | 144 |
13/04/2021 | 18:30 | 72 | 120 | 144 | 114 |
16/04/2021 | 18:30 | 66 | 114 | 150 | 120 |
20/04/2021 | 18:30 | 72 | 150 | 174 | 138 |
23/04/2021 | 17:30 | 66 | 144 | 162 | 132 |
27/04/2021 | 18:30 | 78 | 156 | 168 | 144 |
04/05/2021 | 17:00 | 72 | 150 | 174 | 150 |
07/05/2021 | 18:30 | 66 | 126 | 144 | 120 |
12/05/2021 | 17:30 | 78 | 132 | 150 | 126 |
15/05/2021 | 09:30 | 60 | 120 | 144 | 132 |
21/05/2021 | 17:30 | 66 | 126 | 138 | 132 |
25/05/2021 | 18:30 | 66 | 132 | 144 | 126 |
29/05/2021 | 09:30 | 54 | 120 | 138 | 132 |
Os resultados permitem observar em todos os dias analisados que a prática de exercícios físicos leva ao aumento da frequência cardíaca quando comparado o modo basal e após a realização de AFs. Isso ocorre, pois, a prática de AFs acelera o coração uma vez que é preciso bombear o sangue com mais vigor para suprir as necessidades do corpo durante o treino.
A prática recorrente de exercícios físicos, principalmente exercícios aeróbicos faz com que o sistema cardiovascular se adapte fisiologicamente à prática de AFs. Essas adaptações ocorrem para que o corpo não tenha grandes variações na hora de bombear o sangue e acarretam em redução da frequência cardíaca em função do tempo, conforme observado nos resultados listados na Tabela 2 em que foi observado a redução da frequência cardíaca nos treinos finais (29/05/2021) quando comparado aos treinos iniciais (16/03/2021).
A adolescente ainda relatou que verificou uma mudança significativa na melhora qualidade do sono após o desempenho de AFs, Mudanças relacionadas a ansiedade e estresse não foram verificadas.
4 – CONCLUSÃO
Diante das premissas, notavelmente percebe-se o impacto da prática de AFs na qualidade de vida da adolescente, aumentando seus níveis de energia, melhorando sua flexibilidade, força, resistência abdominal, velocidade, agilidade, resistência, frequência cardíaca, além de promover uma melhor qualidade de sono quando comparado a não prática de AFs. Esses resultados são promissores e apontam atividades físicas como uma boa alternativa para mudanças de hábitos em adolescentes, promovendo uma melhora significativa na qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
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Da Silva, J.F.; Silvestre, T.F.; Da Silva, G.R.; Terra, G.D.S.V.; Tavares, M.R.; Neiva, C.M.; Boas, Y.F.V.; Rodrigues, C.A.C. Análise comparativa da flexibilidade, agilidade e força de membros inferiores em adolescentes praticantes e não praticantes de Taekwondo. Conexão Ciências, v.12, n.3, p.7-16, 2017.
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Kredlow, M.A.; Capozzoli, M.C.; Hearon, B.A.; Calkins, A.W.; Otto, M.W. The effects of physical activity on sleep: a meta-analytic review. Journal of Behavioral Medicine, v.38, n.3, p.427-449, 2015.
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Slentz, C.A.; Houmard, J.A.; Kraus, W. Exercise, adbominal obesity, skeletal muscle, and metabolic risk: Evidence for a dose response. Obesity, v. 17, p. S-27-S33, 2009.
Tipton, K.D.; Wolfe, R.R. Exercise, Protein metabolismo and muscle growth. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, v. 11, p. 109-132, 2001.
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