REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10116638
Fares Frades Coelho
Luzineide Rodrigues dos Santos Bastos
Maria de Jesus Rodrigues de Sousa
Naira Franciely Morais
Rennio Cesar de Souza Carvalho
Valéria Fernandes Pereira
RESUMO
Por meio desse trabalho buscarei deixar com evidencias a importância do brincar na infância, mas para que isso ocorre de um jeito prazeroso para criança, mostrarei a importância da brinquedoteca. Um espaço criando para as crianças brincar, conhecer o novo, entrar no mundo da imaginação, desenvolvendo-se e aprendendo. Este estudo tem por objetivo explicitar alguns princípios orientadores que nos acompanharão durante toda a discussão proposta neste trabalho: a defesa dos direitos das crianças, de todas as crianças. Não pretendemos aqui falar de um espaço escolar, que visa promover atividades didáticas voltadas ao ensino/aprendizagem, mas de um espaço de liberdade, intencionalmente organizado para a criança brincar. A liberdade de brincar é um direito conquistado e consubstanciado na lei.
Palavras-chave: Brincar; Brinquedoteca; Aprendizagem; Direitos.
ABSTRACT
Through this work I will try to highlight the importance of playing in childhood, but for this to happen in a pleasant way for children, I will show the importance of the playroom. A space creating for children to play, get to know the new, enter the world of imagination, developing and learning. This study aims to explain some guiding principles that will accompany us throughout the discussion proposed in this work: the defense of the rights of children, of all children. We do not intend to speak here of a school space, which aims to promote didactic activities aimed at teaching / learning, but of a space of freedom, intentionally organized for children to play. The freedom to play is a right earned and embodied in the law.
Keywords: Play; Playroom; Learning; Rights.
1. INTRODUÇÃO
Por meio desse artigo buscaremos identificar a importância da brincadeira na infância da criança. Por que o brincar é tão importante para o desenvolvimento infantil? Será que a criança aprende quando brinca? Qual a importância da brinquedoteca na escola e em outros ambientes sociais? Quais os direitos da criança estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)? Quando a criança brinca ela desenvolve, aprende, experimenta um mundo de possibilidades, ganha autonomia de suas ações e organiza suas emoções.
Para a criança tudo é experimento e com a brincadeira ela explora, coleta, seleciona e constrói experiências, aprendendo a elaborar seus sentimentos, reflexões, criatividade, independência e valores, desenvolvendo assim suas habilidades.
A brincadeira enriquece o universo, as experiências e as vivencias da criança, pois pela brincadeira apodera-se de sua imagem, meio sociocultural e espaço, relacionando consigo e com a comunidade. Certificando também para as crianças o direito de brincar, garantindo por lei.
O brincar executa um papel muito importante na socialização da criança, concedendo-lhe aprender a cooperar, partilhar, relacionar e a comunica-se, desenvolvendo o respeito por si e pelo outro.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. BRINQUEDOTECA – DIREITOS DO BRINCAR
De acordo com Vygotsky (1999), a brincadeira exerce uma forte influência no desenvolvimento infantil uma vez que é utilizada pela criança, de um lado pela necessidade de ação e por outra para satisfazer suas impossibilidades de executar determinadas ações. No entanto a brincadeira não é apenas uma atividade simbólica, uma vez que mesmo envolvendo situações imaginárias, ela baseia-se em regras de comportamento condizentes com aquilo que está sendo representado o que fará com que a criança internalize regras de conduta, valores, modo de agir e de pensar de seu grupo social, que passará a orientar o seu comportamento e desenvolvimento cognitivo.
“No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário, no brinquedo é como se ela fosse maior do que na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento” (VYGOTSKY, 1999, p. 134-135).
É indiscutível a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil. Ela está introduzida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tornando um dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se.
A brincadeira é uma parte fundamental da aprendizagem e desenvolvimento da criança, momento em que ela exercita todos os seus direitos e estabelece contato com os campos de experiência, como personagem principal de seu desenvolvimento. E é direito da criança segundo a BNCC:
“brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais” (Base Nacional Comum Curricular, p. 38).
O art. 31 da Declaração dos Direitos Humanos, diz: Os Estados reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística. Os Estados respeitarão e promoverão o direito da criança de participar plenamente da vida cultural e artística e encorajarão a criação de oportunidades adequadas, em condições de igualdade, para que participem da vida cultural, artística, recreativa e de lazer (BRASIL, 1990a).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990) preconiza no Artigo 4º:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990b).
A brinquedoteca é um espaço para brincar, um direito da criança (CF/1988, ECA/1990), conquistado a partir da luta de uma sociedade que se organiza em movimentos reivindicativos pelos direitos que a criança possui de brincar. Temos, portanto, a brinquedoteca como um espaço lúdico destinado à criança, que pode se tornar um ambiente propício para o exercício da participação política, já conquistado desde 1989 na Convenção dos Direitos da Criança (CDC).
O Artigo 16, inciso IV desse Estatuto afirma que “O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: brincar, praticar esportes e divertir-se”.
2.2. O SURGIMENTO DA BRINQUEDOTECA NO BRASIL
Em 1971 na inauguração do Centro de Habilitação da Associação de Pais e Amigo (APAE), em São Paulo, foi realizado uma grande exposição de brinquedos pedagógicos. E em 1981 surgiu a primeira brinquedoteca na Escola Indianópolis, em São Paulo, atendendo diretamente as crianças. Em 1984 foi criada a Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBRI) que era responsável pelo crescimento e havia uma preocupação com os brinquedos e brincadeiras das crianças do Brasil. E em 1994 com o objetivo de amenizar o processo de internação das crianças foi criada a Brinquedoteca do Instituto da criança do Hospital das Clinicas , na Faculdade de Medicina da USP. Considerando assim a primeira Brinquedoteca em uma unidade hospitalar com objetivo de melhorar o tratamento das crianças internadas.
2.3. ESTRUTURA DE UMA BRINQUEDOTECA
O mais importante desse espaço é que as crianças se sintam confortáveis, um espaço que tenha como objetivo abrigar variedades tipos de brinquedos, mesinhas, livros, cadeira e outros. Com boa iluminação e ventilação natural, com uma decoração que interesse as crianças, mas com tonalidades neutras como galáxia, zoológico, floresta, etc.
Devemos tomar bastante cuidado com as cores das paredes, pois o objetivo é criar um ambiente alegre, mas o uso exagerado de cores vivas pode tornar um espaço cansativo, pois os brinquedos que devem fazer o trabalho de colorir o ambiente.
Uma excelente opção para organizar o ambiente é espalhar nichos, caixas e cestas para manter a brinquedoteca sempre organizada.
Todos os brinquedos devem estar no alcance das crianças para ela poder escolher e brincar quando desejar, mas sempre ensinando que deve devolvê-la ao mesmo local que pegou, com isso é preciso acostumar a criança a manter a organização do espaço.
E para ter um espaço seguro escolher o chão com pisos emborrachados ou de EVA, locais sem altura de queda, evitar móveis com pontas pontiagudas, não ter no ambiente objetos que são facilmente derrubados e quebrados e proteger o acesso a janelas ou portas.
Brincar é fundamental para o desenvolvimento humano. Inúmeras pesquisas bibliográficas já foram realizadas e publicadas sobre a importância do brincar e comprovam os benefícios que o ato de brincar proporciona. Dessa forma, partimos dessas pesquisas e avançamos a outros aspectos que cerceiam a implantação de brinquedotecas, os espaços, recursos e possibilidades de organização desse espaço.
A brinquedoteca, como um espaço recente no contexto escolar, foi criada a partir do reconhecimento da necessidade que a criança possui de um espaço intencionalmente organizado destinado ao exercício lúdico.
Nesse sentido deixamos clara a importância da brincadeira na educação infantil, por isso a necessidade de se ter um espaço específico como a brinquedoteca, onde teremos jogos e brinquedos específicos que estimulem cognitivamente essa criança.
Através da brincadeira a criança socializa, aprende, desenvolve a afetividade, divide os brinquedos e o espaço com outras crianças, além de estar movimentando-se, é enriquecedor o ato de brincar.
Sabendo que o ato de brincar é respaldado por lei, podemos pensar nesse ambiente, a brinquedoteca, também em uma área hospitalar, onde encontramos crianças hospitalizadas, fragilizadas, e podemos humanizar sua estada no hospital, tendo um espaço como a brinquedoteca.
Já está comprovado por pesquisas que a criança hospitalizada para de crescer. Que as crianças possam continuar a viver, nos hospitais! (VIEGAS, 2012).
Santos (2011) afirma que brincar nesse ambiente pode desenvolver a autonomia da criança pela liberdade de escolher com o que deseja brincar, o que também favorece a iniciativa, a criatividade, o senso crítico e a responsabilidade de manter o ambiente organizado como sendo um princípio ético.
Brincar não se limita somente ao contato que a criança tem com o brinquedo. Por meio da brincadeira a criança aprende comportamentos, expressa sentimentos e emoções, interage nas trocas com outras crianças e com os adultos, o que possibilita o desenvolvimento da expressão artística, a transformação e a descoberta de novos significados lúdicos que dão vida à brincadeira (FRIEDMANN, 1992).
A conquista pelos direitos da criança tem avançado gradativamente, assumindo contornos mais complexos a favor de garantir à criança, não somente existir dignamente, mas também de participar politicamente. Entretanto, falta muito para que todas as crianças tenham uma vida digna, estamos muito aquém de uma situação ideal e plena com respeito à aplicação da lei (MÜLLER, 2007, p.141; TOMÁS; FERNANDES, 2011, p. 65).
Infelizmente, a realidade das escolas públicas no Brasil não tem condições de arcar com um projeto como esse, por isso, a necessidade de nos conscientizarmos e unidos, educadores e familiares, implantarmos esse espaço na escola, com a participação de todos torna-se possível.
O educador pode através de reuniões com os pais, abordar o assunto, apresentar um projeto com o objetivo de mostrar para eles a importância da brinquedoteca no processo de ensino e aprendizagem de seus filhos.
Atualmente, existem no Brasil as seguintes modalidades de brinquedoteca:
Comunitária, hospitalar, itinerante, terapêutica, escolar, centro de pesquisa e extensão universitária, instituições penais, ONGS: culturais, esportivas, entre outras, totalizando 565 brinquedotecas até o ano de 2009 (OLIVEIRA, 2011, p. 21).
Elas têm sido instaladas em condomínios, edifícios residenciais, shoppings, restaurantes, academias, entre outros. Precisamos refletir sobre a real finalidade dessas brinquedotecas. Muitas vezes estão associadas a algum tipo de consumo.
Os espaços comerciais que oferecem espaços para brincar, consequentemente, atraem os pais que optam pelos locais que demonstram respeito à criança. Há também os adultos donos de estabelecimentos comerciais que instalam esses espaços pensando somente no lucro. Estes propõem espaços inadequados, onde a criança não se sente à vontade para brincar, os brinquedos não são acessíveis, mas ornamentais.
Os cantos temáticos de uma brinquedoteca devem seguir os critérios de criatividade e organização. Saliento também, a importância da consideração dos temas a serem utilizados em cada local, região ou condições pelas quais são organizados esses espaços, para que atendam a necessidade da criança, e que sejam oferecidos brinquedos de toda categoria, não somente aqueles feitos com sucata ou materiais alternativos. Sugiro a casinha, artes, fantasia, leitura, profissões, jogos recreativos, oficina de construção, e o que a criatividade permitir.
“Possamos ser os que lutam, para garantir a criança, o direito a liberdade de brincar, ser criança e viver a infância intensamente.” (Rosely Montagnini). Partindo desse pensamento podemos ir inserindo aos poucos espaços como esses no ambiente escolar, buscando um aprendizado de qualidade, só assim formaremos essas crianças em sua integralidade. É brinquedo que aprendem a dividir, que socializam que resolvem suas próprias discussões, formam grupos por afinidade, por escolhas, e futuramente vão tornarse ótimos adultos que saberão trabalhar em equipe.
O brincar, que estamos falando, tem um objetivo, não é sem sentindo. Nesse espaço, da brinquedoteca, teremos vários jogos, brinquedos, música, etc. Com a finalidade de uma formação mais humana, onde priorizamos essa fase maravilhosa de ser criança, ali iremos mediar com afeto, apoio e carinho. Resgatando a inocência de ser criança. Os educadores podem improvisar, contando histórias, dramatizando, formando rodas de conversa, estimulando o educando a interagir, surgindo trocas positivas entre seus pares.
Rubem Alves, diz em seu livro A alegria de ensinar, que “o nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos”.
Convido a todos os envolvidos, professores, gestores e familiares, a serem interpretes de sonhos. Vamos plantar a semente desse pensamento, vamos colocar em prática o amor para com nossas crianças, respeitando o espaço delas, valorizando suas brincadeiras, apoiando essa fase tão mágica e única, que é ser criança.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os aspectos observados deste trabalho concluímos que devemos assegurar um direito básico da criança: o brincar e o desenvolver-se por completo dentro de um ambiente adequado. Para possibilitar essa experiência para as crianças, o ambiente tem que atender à necessidade delas, com brinquedos coloridos e apropriados para atender várias idades.
A brinquedoteca proporciona o desenvolvimento da criança, tornando-os sujeitos ativos, sendo um espaço que a criança brinca por si mesma, descobrindo o seu eu.
A brinquedoteca representa um ambiente físico cheio de brinquedos variados com finalidade de possibilitar à criança interações por meio do brinquedo, permitindo vivenciar a cultura lúdica.
Podemos dizer que a brinquedoteca é um espaço atribuído para liberdade da ludicidade, valorizando o brincar espontâneo de cada criança. Sendo assim, com esse ambiente acolhedor que a brinquedoteca proporciona, a criança desenvolve e aprende, tanto fisicamente, socialmente, como afetivamente e cognitivamente.
A partir das pesquisas realizadas, podemos dizer que a brinquedoteca é fundamental, porque as crianças devem resgatar o brincar espontâneo e livre que tem ficado esquecido, infelizmente, por causa da violência e a falta de tempo da população do mundo atual.
Nesse sentindo podemos dizer que a criança que brinca é mais feliz. Sua imaginação é rica em detalhes, de contos, lendas, várias formas de brincadeiras saudáveis, adquirem criatividade ao socializar com colegas, desenvolvem naturalmente suas emoções e aprendem a lidar com elas. Brincar é vida em abundância para nossas crianças.
4. REFERÊNCIAS
BROUGÈRE, G. Brinquedo e Cultura. Tradução de Gisela Wajskop. São Paulo: Cortez, 1995.
CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 4. Ed. Portugal: Lexikon Editorial, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
TOMÁS, C. Há muitos Mundos no Mundo: Cosmopolitismo, Participação e Direitos da Criança. Porto: Edições Afrontamento, 2006.
VÁSQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. 4. ed. Tradução Luiz Fernando Cardoso. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 454p. Original espanhol.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/concepcao-do-brincare-aprender-na-visao-de-piaget-e-vygotsky/32223
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BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
Como montar uma Brinquedoteca. Barcelona. Disponível em: https://barcelonasuperficies.com.br/blog/playground/como-montar-uma-brinquedotecaescolar/ Acesso em : 12/09/2020.
ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Editora Papirus; 14º Edição.
1 Naira Franciely Morais Silva. Graduada em Pedagogia pela Universidade UNOPAR. E- mail: nairanfm@hotmail.com
2 Viviane Inês Donadel. Graduada em pedagogia. Especialização: psicopedagogia. E-mail: vivianedonadel@gmail.com.