EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE E O ZELO APOSTÓLICO NO VIÉS DA COMUNICAÇÃO NO PAPA FRANCISCO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10052018


Wesley Michel da Cruz1


1 INTRODUÇÃO

No presente estudo, se reflete sobre a ação da Igreja com os jovens contemporâneos − um desafio para os tempos atuais. Tendo como base as audiências que o Papa Francisco tem realizado, e fazendo uma leitura no viés da comunicação, a proposta desta reflexão é olhar a juventude como um desafio para os tempos atuais e se questionar o que a Igreja tem realizado para este público.

Isso porque o Papa Francisco tem alertado que a Igreja não pode se fechar em si mesma, mas deve ter um zelo e a paixão apostólica para comunicar o Evangelho: deve-se compreender que a comunicação do Evangelho é para todos, e não só para alguns.

Nesta pesquisa, também abordar-se-á sobre a metodologia utilizada pelos líderes em direção à juventude. A Igreja tem a missão de comunicar o Evangelho de acordo com a geração e cultura inserida e, se não tiver a sensibilidade de adequar a linguagem aos jovens, ficará ultrapassada e não conseguirá atraí-los.

Com a mudança do modelo social do teocentrismo para o antropocentrismo, no qual o homem acaba sendo o centro de tudo com a racionalidade, a Igreja não pode se fechar, mas precisa estabelecer um diálogo com a sociedade para, assim, avançar no processo da evangelização. Se a Igreja não se inserir no meio social, com uma linguagem acessível, como se cativará os jovens?

Com isso, o objetivo geral deste estudo foi destacar alguns pontos que a Igreja precisa refletir sobre a sua comunicação e zelo com os jovens, para obter uma boa ação evangelizadora desse público, tendo em vista que zelo apostólico e comunicação são caminhos seguros para a evangelização dos adolescentes.

2 A EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE

A evangelização da juventude, nos tempos contemporâneos, é algo de profunda urgência: os jovens têm, cada dia mais, se distanciado da proposta do Evangelho, e, quando se trata de acompanhar os adolescentes, é um tema desafiador para a Igreja. A proposta deste artigo foi fazer uma reflexão sobre a evangelização dos adolescentes, se fundamentando nas audiências do Papa Francisco sobre o zelo apostólico e fazer uma leitura no viés da comunicação.

O Papa Francisco, em seu pontificado, tem feito reflexões profundas sobre a ação pastoral da Igreja no mundo. Ela não é chamada a estabelecer muros com a sociedade, pelo contrário, precisa estabelecer pontes, diálogos e parcerias para que a Igreja continue o seu apostolado na sociedade atual, principalmente quando se reflete sobre a evangelização dos jovens: se a Igreja não consegue rever sua metodologia, ficará ultrapassada no quesito da evangelização da juventude.

O Papa Franscisco2 convoca a Igreja para que esteja em saída:

O Espírito Santo plasma-a em saída − a Igreja em saída, que sai – para que não fique fechada em si mesma, mas seja extrovertida, testemunha contagiosa de Jesus − a fé também se contagia − destinada a irradiar a sua luz até aos extremos confins da terra. Contudo, pode acontecer que o ardor apostólico, o desejo de alcançar os outros com o bom anúncio do Evangelho, diminua, se torne tíbio. Às vezes parece eclipsar-se, são cristãos fechados, não pensam nos outros. Mas quando a vida cristã perde de vista o horizonte da evangelização, o horizonte do anúncio, adoece: fecha-se em si mesma, torna-se autorreferencial, atrofia-se. Sem zelo apostólico, a fé esmorece. Ao contrário, a missão é o oxigénio (sic) da vida cristã: tonifica-a e purifica-a. Então, empreendamos um caminho à redescoberta da paixão evangelizadora, começando pelas Escrituras e pelo ensinamento da Igreja, para haurir das fontes o zelo apostólico.

Se for destacar uma das palavras-chave do pontificado do Papa Francisco, sem dúvidas é: poderíamos colocar a “Igreja em saída”. Como se pode refletir o viés da comunicação e o zelo apostólico em direção aos jovens atuais? Com certeza, essas profundas reflexões do Papa Francisco ajudam no processo para cativar os adolescentes contemporâneos.

A Igreja não pode exercer uma metodologia de evangelização dos jovens, esperando que os mesmos vão até à Igreja: eles estão nas praças, parques, ruas, escolas, universidades e em diversos lugares. Sendo assim, a Igreja é desafiada a sair de si mesma para ir em direção a eles, para comunicar o Evangelho.

O Papa Francisco – pelo trecho supracitado − convida a ter uma fé que contagia, extrovertida e, com certeza, esta é uma linguagem atual para os jovens. Diversos adolescentes olham para a Igreja apenas como uma instituição reprodutora dos ensinamentos de Cristo, enquanto muitas comunidades ainda possuem uma resistência à sua presença. Diante desta realidade, somos convocados a mudar de mentalidade, para comunicar o Evangelho:

A modernidade abriu as portas do mundo para uma nova atitude do homem e da mulher à vida, acentuando a centralidade da razão, a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Num primeiro momento, a Igreja fragilizou-se ao resistir à possibilidade de mudança, distanciando-se da juventude, da sua linguagem, de suas expressões e maneiras de ser e viver diante do avanço da modernidade. Uma das finalidades do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII era ajustar melhor as instituições da Igreja às necessidades de nosso tempo3.

Atualmente, estamos inseridos em um mundo moderno, no qual o homem está mergulhado no antropocentrismo. A Igreja, por muito tempo, foi resistente à modernidade, os meios de comunicação etc. Contudo, a partir do Concílio Vaticano II, começamos a pensar na Igreja com uma ação evangelizadora em direção ao homem contemporâneo. Para evangelizar a sociedade no qual o jovem está inserido, atualmente, é preciso acompanhar as ações da Igreja juntamente ao Concílio Vaticano II.

Se a Igreja pretende evangelizar os jovens, a ação evangelizadora dela não pode ficar paralela aos tempos atuais. Estamos inseridos na cultura da modernidade e da pós-modernidade e, dessa maneira, é impossível evangelizar a juventude atual fechando os olhos para estes aspectos que são fundamentais: Igreja e sociedade são dois conceitos que precisam caminhar juntos, quando se trata de evangelização dos adolescentes.

A pós-modernidade não substitui a modernidade, as duas culturas vivem juntas. Os valores da modernidade continuam sendo importantes para os jovens: a democracia, o diálogo, a busca de felicidade humana, a transparência, os direitos individuais, a liberdade, a justiça, a sexualidade, a igualdade e o respeito à diversidade. Uma Igreja que não acolhe esses valores encontra grandes dificuldades para evangelizar os jovens.4

Portanto, é preciso que os líderes que trabalham diretamente com a juventude sejam pessoas atualizadas e em constante formação. Isso porque, trabalhar com os jovens, hoje, é desafiador, em função desse profundo envolvimento humano e social que se deve ter com eles. Eles trazem não só perguntas sobre a vida, mas, sobretudo, problemas internos que exigem acompanhamento constante em suas vidas. Os adolescentes não esperam líderes autoritários, que pretendem prendê-los ou convencê-los de uma ideia: eles precisam ser conduzidos a uma experiência com Jesus Cristo.

Eis a mensagem para nós: não devemos esperar ser perfeitos e ter percorrido um longo caminho atrás de Jesus para dar testemunho d’Ele; o nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos. E não começa procurando convencer os outros, convencer não: mas testemunhando todos os dias a beleza do Amor que olhou para nós e nos fez levantar e será esta beleza, comunicar esta beleza que convencerá as pessoas, não comunicar a nós, mas o Senhor. Somos aqueles que anunciam o Senhor, não anunciamos a nós mesmos, nem anunciamos um partido político, uma ideologia, não: anunciamos Jesus5.

Diante de diversas questões para evangelizar a juventude, não basta ter uma boa oratória, Igreja cheia, bons músicos e artes modernas, se tudo isso não procede do testemunho pessoal. O Papa Francisco é um homem moderno, com uma linguagem acessível a todos os públicos, entretanto, suas atitudes, no pontificado, marcam sua trajetória − até mais do que as palavras.

Em algum momento, pode acontecer de os jovens que forem atraídos pelo processo de evangelização fiquem presos às realidades, líderes e encontros. Portanto, a liderança dessa juventude precisa sempre propor um caminho de formação, de discipulado, para que eles possam crescer e amadurecer em sua fé. Em outras palavras, o trabalho, com os adolescentes, não pode ser autorreferencial: todo trabalho de evangelização que se torna autorreferencial morre.

Não somos chamados a comunicar o nosso ideal ou o nosso jeito: somos convocados a comunicar Jesus Cristo. Não nos preocupemos apenas em convencer as pessoas, pois o objetivo precisa ser, em primeiro lugar, evangelizar os jovens. É preciso se atentar ao modelo de pastoral de convencimento e manutenção, e fazer do processo de conversão um modelo de testemunho.

Há estudos que demonstraram que muitos jovens estão procurando razões para viver sem envolver-se com uma ‘Igreja’ trata-se de uma espiritualidade centrada na pessoa e não a partir de uma vivência institucional e, por isso, busca-se algo que satisfaça suas necessidades6.

A partir do supracitado, é preciso fazer algumas reflexões: “qual tem sido o modelo pastoral da Igreja?”, “de manutenção, ou de conversão?”, “por que os jovens não estão se interessando pela Igreja?”, “por que eles estão buscando outras maneiras de se viver?”, “a espiritualidade, dentro das comunidades, cativa os adolescentes atuais?”, “as homilias são pensadas e preparadas também para que um jovem consiga compreender?”, “a linguagem da Igreja está inserida no mundo atual?”, “o público jovem tem sido prioridade nas comunidades, ou estão sendo esquecidos?”.

Essas questões são levantadas para que possam ser refletidas diante do cenário eclesial da sociedade atual. Se a evangelização dos jovens não for prioridade nas comunidades, essa Igreja ficará ultrapassada, vazia e escassa. O zelo apostólico, a que se refere o Papa Francisco, em suas audiências, precisa atingir o coração dos adolescentes. Sem dúvidas de que, com essa nova metodologia, se muda a realidade deles, nas comunidades.

Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a livre doutra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, acreditar que se renova porque esconde a sua mensagem e mimetiza-se com os outros. Não! É jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar continuamente à sua fonte7.

Para uma boa evangelização dos jovens com zelo, é necessário mudar de mentalidade e metodologia. E toda mudança começa a partir da mentalidade: diversas comunidades ainda não recepcionaram bem o Concílio Vaticano II. Por quê? Falta mudança de mentalidade e, mudando-a, muda-se também a metodologia. E, no que se refere à evangelização dos jovens, é necessário mudar a metodologia.

Portanto, o Papa Francisco, na Christu Vivit, pede que a Igreja se liberte das mentalidades velhas, antigas e ultrapassadas que tentam, de todas as formas, travar o avanço da Igreja na evangelização nos tempos atuais. Não se vê mais a Igreja, hoje, sem o diálogo com a modernidade. Após o Concílio Vaticano II, a Igreja não se posiciona mais como governante do mundo, mas como servidora: a Igreja continua realizando a missão de Jesus; se o Cristo serviu, a Igreja também precisa servir.

Enquanto Deus, a religião e a Igreja não passam de palavras vazias para numerosos jovens, os mesmos mostram-se sensíveis à figura de Jesus, quando ela é apresentada de modo atraente e eficaz. […] Por isso é necessário que a Igreja não esteja demasiado debruçada sobre si mesma, mas procure sobretudo refletir Jesus Cristo. Isto implica reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar e, para isso, precisa de recolher também a visão e mesmo as críticas dos jovens.8

Que a Igreja não seja autorreferencial, mas uma que aponta constantemente para Jesus Cristo. A partir de algumas situações, que ainda estão debruçadas e presas em sua própria mentalidade e fechadas em si mesmas, não conseguirão evangelizar os jovens. A atitude fundamental para evangelizá-los é sair de si mesmo e parar com a atitude autorreferencial.

[…] Pois evangelizar não é dizer: ‘Olha, blá-blá-blá’ e nada mais; há uma paixão que engloba tudo: a mente, o coração, as mãos, ir… tudo, a pessoa inteira está envolvida na proclamação do Evangelho, e por isso falamos de paixão de evangelizar9.

Diversos líderes de comunidades e padres estão presos em uma forma de evangelização diplomática e hierárquica, pela qual falam apenas superficialmente, não estão envolvidos com a sociedade, com os problemas cotidianos e nem, tampouco, com as novas metodologias de evangelização. Saiamos de nossas sacristias e salas de catequese, para se envolver verdadeiramente com o povo de Deus. Evangelizar, em todos os tempos, significou comunicar o Evangelho, mas esta comunicação, ao passar dos séculos, mudou suas estratégias, conforme as necessidades. Sendo assim, é preciso se abrir às modernidades, para comunicar com exatidão a Boa Nova.

O ambiente digital caracteriza (sic) o mundo atual. Largas faixas da humanidade vivem mergulhadas nele de maneira ordinária e contínua. Já não se trata apenas de ‘usar’ instrumentos de comunicação, mas de viver numa cultura amplamente digitalizada que tem impactos muito profundos na noção de tempo e espaço, na perceção (sic) de si mesmo, dos outros e do mundo, na maneira de comunicar, aprender, obter informações, entrar em relação com os outros. Uma abordagem da realidade, que tende a privilegiar a imagem relativamente à escuta e à leitura, influencia o modo de aprender e o desenvolvimento do sentido crítico […]10.

Nos tempos atuais, quando se trata de evangelização dos jovens, não se pode desvincular o viés da comunicação pelo ambiente digital: a juventude está totalmente inserida no mundo digital, portanto, é essencial que a Igreja faça parte desse ambiente, no intuito de atingi-los de forma eficaz. Como supracitado, é preciso mudar a mentalidade para atingir os adolescentes e, para isso, é preciso mudar a mentalidade em relação aos métodos.

E quais são os métodos de que a Igreja faz uso para atingir os jovens? Qual é a linguagem que a Igreja tem usado para se comunicar com a juventude? Os padres e líderes das comunidades precisam saber se reinventar diante do cenário do mundo digital, precisam saber utilizar esses meios de comunicação como um instrumento primordial de evangelização, principalmente quando o público é o adolescente contemporâneo:

A internet e as redes sociais geraram uma nova maneira de comunicar e criar vínculos, sendo uma ‘praça’ onde os jovens passam muito tempo e se encontram facilmente, embora nem todos tenham acesso igual, particularmente nalgumas regiões do mundo. Em todo o caso, constituem uma oportunidade extraordinária de diálogo, encontro e intercâmbio entre as pessoas, bem como de acesso à informação e ao saber11.

A internet é um lugar de encontro e, por isso, as redes não podem ser consideradas um mundo paralelo ao real: elas fazem parte da nossa cultura. Nesse sentido, a Igreja precisa fazer parte dessa cultura, levando o Evangelho aos povos, raças e nações, mas, sobretudo, aos jovens que estão inseridos nesta nova modalidade. Quando olhamos a Igreja envolvida nestes novos métodos de evangelização, vemos que os adolescentes se interessam mais por um profundo diálogo. Diante dessa realidade, podemos afirmar que não se evangeliza se não estivermos atentos ao mundo digital.

O zelo apostólico, na evangelização da juventude, passa pela escuta: a comunicação do Evangelho não é apenas falar, mas, sobretudo, escutar. Muitos jovens saem desanimados, da Igreja, porque não são escutados, assistidos e acompanhados. Escutá-los é trabalhoso, exige tempo, disponibilidade, entrega e desejo, do coração, para que sejam evangelizados.

A escuta é um encontro de liberdades, que exige humildade, paciência, disponibilidade para compreender, esforço por elaborar de maneira nova as respostas. A escuta transforma o coração daqueles que a vivem, principalmente quando se colocam em atitude interior de sintonia e docilidade ao Espírito. Por conseguinte, não é somente uma recolha de informações, nem uma estratégia para alcançar um objetivo, mas representa a forma como o próprio Deus se relaciona com o seu povo. Com efeito, Deus vê a miséria do seu povo e escuta a sua lamentação, deixa-Se tocar intimamente e desce para o libertar […]. Portanto, através da escuta, a Igreja entra no movimento de Deus que, no Filho, vem ao encontro de cada ser humano12.

Como supracitado, a escuta é um encontro de liberdades: a evangelização dos jovens não se trata apenas da transmissão da mensagem, mas da escuta. Os padres e líderes de comunidades, diversas vezes, estão tão inseridos em seu meio e atividades rotineiras do seu ofício, que se esquecem de ouvir aqueles que tanto precisam de atenção.

Nesse contexto, vale ressaltar que os que passavam pelo caminho de Jesus, tinham a oportunidade de serem escutados: Ele não apenas falava com as pessoas, Ele conseguia, em sua missão, dar atenção a elas. Em meio à multidão, ele enxergou Zaqueu e entrou em sua casa. Durante uma viagem, parou para conversar com uma samaritana. Em resumo, Jesus não focava apenas no serviço e na lei, mas, sobretudo, na atenção que dedicava à humanidade.

Diante disso, somos chamados a ser uma Igreja sinodal que caminha junto, como irmãos, e olhando a humanidade de cada um. A Igreja aprendeu, como Jesus, o ato de lavar os pés dos discípulos, portanto, nesses tempos com desafios gigantescos na evangelização da juventude, somos chamados também, assim como Cristo, a se inclinar para adentrar na realidade dos adolescentes e comunicar o Evangelho.

Muitos Padres observaram que o peso das tarefas administrativas absorve, de modo exagerado e às vezes sufocante, as energias de numerosos pastores; isto constitui um dos motivos que dificultam o encontro com os jovens e o seu acompanhamento. Para tornar mais evidente a prioridade dos compromissos pastorais e espirituais, os Padres sinodais insistiram sobre a necessidade de repensar as modalidades concretas do exercício do ministério13.

O ministério sacerdotal não pode ser resumido apenas em questões burocráticas, como administrar a paróquia ou fazer relatórios e reuniões: os padres precisam dedicar parte do seu tempo aos jovens, porque a presença do sacerdote no meio deles é essencial para o processo de evangelização. O pastor precisa estar no meio de suas ovelhas, e não apenas dentro de sua sala, resolvendo questões administrativas.

Embora permaneça a primeira e principal forma de ser Igreja no território, várias vozes destacaram a dificuldade que sente a paróquia em constituir um lugar relevante para os jovens, tornando-se necessário repensar a sua vocação missionária. A sua escassa importância nos espaços urbanos, o pouco dinamismo das propostas, juntamente com as mudanças espaçotemporais dos estilos de vida exigem uma renovação. Não obstante as várias tentativas de inovação, amiúde o rio da vida juvenil corre à margem da comunidade, sem a encontrar14.

As paróquias precisam renunciar às suas estruturas para também acolher, de modo prático e atual, os jovens. Não é possível acolher a juventude com estruturas ultrapassadas, como por exemplo, quando o jovem chega na paróquia, e o padre, em vez de ser aquele que o acolhe, está resolvendo questões burocráticas.

Uma das questões que devem ser observadas é: como os líderes de comunidades estão acolhendo os jovens? Um dos fatores primordiais dos sinais dos tempos, na atualidade, para que os adolescentes não permaneçam na Igreja, é a falta de acolhida dos membros. Pode-se pensar em um conjunto de fatores: a falta de acolhida dos membros, o distanciamento do padre e a linguagem pouco ou nada acessível. Sendo assim, como acolher comunicar e evangelizar desta maneira?

Muitos observam que os percursos da iniciação cristã nem sempre conseguem introduzir crianças, adolescentes e jovens na beleza da experiência de fé. Quando a comunidade se constitui como lugar de comunhão e como verdadeira família dos filhos de Deus, exprime uma força generativa que transmite a fé; ao contrário, onde ela cede à lógica da delegação e quando predomina a organização burocrática, a iniciação cristã é erroneamente entendida como um curso de instrução religiosa que em geral termina com o sacramento da Confirmação. Por conseguinte, é urgente repensar profundamente a abordagem da catequese e a ligação entre transmissão familiar e comunitária da fé, lançando mão dos processos de acompanhamento pessoais15.

A evangelização dos jovens não pode iniciar apenas no processo de adolescência: a Igreja precisa olhar com mais cuidado a iniciação cristã. Pensar na evangelização da juventude por meio de uma devida comunicação é, justamente, pensar como está o processo catequético em nossas paróquias: “as crianças gostam da catequese, ou ainda estamos naquele método de imposição de doutrina?”, “como é a formação e comunicação dos catequistas?”. Estas são questões que precisam ser respondidas no cotidiano das comunidades.

A catequese é a porta de entrada da Igreja e, se este tempo tão valioso para as crianças não conter qualidade, não conseguiremos cativá-las quando na juventude. São muitos os jovens que passam pela iniciação cristã e, após a crisma, não participam mais da Igreja. Muitos se criam com um sentimento de uma formatura, pela qual se encerra um ciclo e depois nunca mais volta.

Contudo, não basta criticar o desinteresse dos jovens − é preciso reavaliar o nosso método: a evangelização deles deve passar pela leitura dos sinais dos tempos e pela reavaliação dos métodos de evangelização que são utilizados atualmente. Isso porque os adolescentes precisam ser abraçados, amados e, sobretudo, acompanhados pela Igreja.

Se as paróquias e comunidades desejam contar com a presença da juventude, é necessário mudar os métodos, sua linguagem e acolhida. Os jovens não chegam prontos nas comunidades − assim com qualquer ser humano não o está: é preciso adentrar no processo de formação, no qual eles têm de ser acompanhados e, necessariamente, formados.

Portanto, para encerrar a presente reflexão, vale afirmar que é preciso ter paciência com o processo de evangelização dos jovens, que é totalmente diferente dos tempos antigos. Para ser uma Igreja jovem, é preciso que ela se incline para servi-los e acompanhar seu processo de formação. Se compreender esta realidade, a Igreja vai entender os sinais dos tempos e comunicar bem o Evangelho para esta juventude que, embora complexa, é valiosa para a missão evangelizadora nesses tempos.

3 CONCLUSÃO

 Após expor sobre o assunto, é possível enxergar a urgência da renovação da mentalidade da hierarquia, mas, sobretudo, também dos líderes nas comunidades para uma boa evangelização da juventude. O Papa Franscisco, em seu pontificado, tem insistido por uma Igreja zelosa e apaixonada em servir, que esteja acessível aos povos do tempo atual.

Os jovens, ao procurarem as paróquias, precisam encontrá-las abertas e acessíveis à sua linguagem. Um jovem, quando vai a missa hoje, consegue entender a homilia do padre? Ele se sente atraído a voltar, participar e criar um vínculo com aquela comunidade? São estas as perguntas que devem ser respondidas no cotidiano das paróquias.

Partindo desses pressupostos, pode-se dizer que a comunicação entre Igreja e juventude se inicia pelo processo de escuta. O Papa Franscisco, a partir do seu magistério, se esforça para viver uma Igreja no espírito de “Sinodalidade”, ou seja, numa caminhada conjunta. Para evangelizar os jovens atuais, tem de haver estratégias para a Igreja não viver uma evangelização utópica.

Contudo, não basta ouvir e dialogar, sobretudo deve-se agir com estratégias pertinentes que fazem os adolescentes se sentirem contextualizados dentro da comunidade eclesial. É oportuno que tenha uma dinâmica, com ardor novo de evangelização, com propostas que partem de uma nova metodologia que tenha a ousadia de fazer a imersão na sociedade e cativar a juventude.

Isso porque os jovens contemporâneos são dinâmicos, ativos e, a cada geração, a compreensão da juventude se torna mais complexa. Pode-se constatar, nos mais diferentes contextos, uma grande dificuldade em evangelizá-los, e é preciso olhar para eles não como “problemas”, mas como filhos e filhas que Deus nos confiou para educar.

As Igrejas precisam ser locais em que o jovem também possa se sentir à vontade em partilhar suas dificuldades da própria vida, entretanto, para que isso aconteça, são necessários líderes dispostos a ouvir a demanda de jovens que desejam ser escutados. Com isso, é evidente a urgência de uma comunicação e que a adaptação, na evangelização dos adolescentes, requer líderes bons e dispostos para acompanhar.

Diante da escuta dos jovens, a Igreja é chamada a ter coragem para se envolver na sociedade. Tem diversos pontos do Concílio Vaticano II que as comunidades ainda desconhecem. Que o pontificado do Papa Franscisco seja aproveitado, no sentido de a Igreja se sentir estimulada a escutar, estar próxima e, sobretudo, sair em direção de todos os públicos, principalmente os jovens.


2FRANCISCO. Audiência geral. [Vaticano], 11 jan. 2023a. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2023/documents/20230111-udienza-generale.html. Acesso em: 20 abr. 2023.
3 Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais. São Paulo: Paulinas, 2007. n. 11. Disponível em: https://www.jovensconectados.org.br/documentos/Documento_85_CNBB.pdf. Acesso em: 20 maio 2023.
4Ibid., n. 13.
5FRANCISCO, 2023a.
6CNBB, 2007, n. 20.
7FRANCISCO. Exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit do Santo Padre Francisco aos jovens e a todo o povo de Deus. Loreto, 25 mar. 2019. n. 35. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20190325_christus-vivit.html#JESUS_CRISTO_SEMPRE_JOVEM_. Acesso em: 15 jan. 2023.
8FRANCISCO, 2019, n. 39.
9FRANCISCO. Audiência geral. [Vaticano], 15 fev. 2023b. grifo do autor. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2023/documents/20230215-udienza-generale.html. Acesso em: 21 abr. 2023.
10OS JOVENS, a fé e o discernimento vocacional: Documento final. In: ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS, XV., 27 out. 2018, Vaticano… Vaticano: [s.n.], 2018. n. 39. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20181027_doc-final-instrumentum-xvassemblea-giovani_po.html. Acesso em: 20 jan. 2023.
11 Ibid., n. 87.
12OS JOVENS…, 2018, n. 6.
13Ibid., n. 17.
14OS JOVENS…, 2018, n. 18.
15Ibid., n. 19.

REFERÊNCIAS

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais. São Paulo: Paulinas, 2007. Disponível em: https://www.jovensconectados.org.br/documentos/Documento_85_CNBB.pdf. Acesso em: 20 maio 2023.

FRANCISCO. Audiência geral. [Vaticano], 11 jan. 2023a. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2023/documents/20230111-udienza-generale.html. Acesso em: 20 abr. 2023.

FRANCISCO. Audiência geral. [Vaticano], 15 fev. 2023b. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2023/documents/20230215-udienza-generale.html. Acesso em: 21 abr. 2023.

FRANCISCO. Exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit do Santo Padre Francisco aos jovens e a todo o povo de Deus. Loreto, 25 mar. 2019. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20190325_christus-vivit.html#JESUS_CRISTO_SEMPRE_JOVEM_. Acesso em: 15 jan. 2023.

OS JOVENS, a fé e o discernimento vocacional: Documento final. In: ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS, XV., 27 out. 2018, Vaticano… Vaticano: [s.n.], 2018. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20181027_doc-final-instrumentum-xvassemblea-giovani_po.html. Acesso em: 20 jan. 2023.


 1Bacharel em Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Mestrando em Teologia, pela PUC-SP. wesleymichel14@gmail.com