ZOUK, LAMBADA, LAMBAZOUK, ZOUK BRASILEIRO – MITOS, VERDADES E EVOLUÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248251624


Nairo Barbosa Ramos¹


RESUMO

Este artigo investiga as distinções entre zouk, lambada e lambazouk, analisando suas origens, evoluções e mitos. Argumenta-se que o zouk é um estilo musical originário das Antilhas Francesas e que o lambazouk é uma versão da lambada com movimentos novos influenciados por outros estilos e outras danças, dançada ao som de músicas de zouk e outros gêneros musicais. A análise é baseada em evidências científicas e empíricas, destacando que a lambada se adapta a diferentes gêneros musicais, mas mantém suas características essenciais. A lambada é destacada como uma dança genuinamente brasileira e um patrimônio cultural de Porto Seguro.

Palavras-Chave: Zouk, Lambada, Lambazouk, Zouk Brasileiro, Origens, Evolução, Mitos, Verdades, Patrimônio Cultural, Preservação Cultural, Resgate Cultural.

ABSTRACT

This article investigates the differences between zouk, lambada and lambazouk, analyzing their origins, evolutions and myths. It is argued that zouk is a musical style originating from the French West Indies and that lambazouk is a version of lambada with new movements influenced by other styles and dances, danced to the sound of zouk music and other musical genres. The analysis is based on scientific and empirical evidence, highlighting that lambada adapts to different musical genres, but maintains its essential characteristics. Lambada is highlighted as a genuinely Brazilian dance and a cultural heritage of Porto Seguro.

Keywords: Zouk, Lambada, Lambazouk, Brazilian Zouk, Origins, Evolution, Myths, Truths, Cultural Heritage, Cultural Preservation, Cultural Rescue.

INTRODUÇÃO

A dança é uma expressão artística que transcende fronteiras e culturas, contribuindo para a diversidade do patrimônio cultural. Entre as inúmeras formas de dança, o zouk e a lambada destacam-se por sua difusão global e pelas complexas interações culturais que promovem. Todavia, devido à sobreposição de estilos musicais e de dança, muitas vezes há confusão sobre as características e origens dessas formas de expressão. Este artigo se propõe a desvendar mitos, clarificar verdades e explorar a evolução do zouk, lambada e supostamente o lambazouk, ressaltando a lambada como uma dança autenticamente brasileira e um patrimônio cultural de Porto Seguro.

ORIGENS DO ZOUK E DA LAMBADA

O zouk originou-se nas Antilhas Francesas, particularmente em Martinica e Guadalupe, durante a década de 1980. Este gênero foi popularizado pela banda Kassav’, que mesclou ritmos caribenhos com influências africanas, criando uma música e dança com características únicas (GUILBAUD, 1996). Já a lambada surgiu no Brasil, no estado do Pará, no final dos anos 1970. Ela é uma fusão de ritmos caribenhos, como merengue e cúmbia, com a música popular brasileira, tendo ganhado destaque internacional na década de 1980, principalmente após o sucesso da banda Kaoma com a música “Lambada (Chorando Se Foi)” (FONSECA, 1990).

A MÚSICA E A DANÇA: DEFINIÇÕES

Zouk e lambada são, frequentemente, confundidos devido à semelhança rítmica e aos movimentos de dança. Contudo, são distintos em suas características fundamentais. O zouk é mais lento e romântico, enquanto a lambada é vibrante e rápida. A lambada, embora possa ser dançada ao som de zouk, preserva sua essência e estilo característicos (CUNHA, 2001)

PRECURSORES E A DIFUSÃO DA DANÇA

Os precursores do zouk, como a banda Kassav’, desempenharam um papel fundamental na disseminação deste estilo pelo mundo. De maneira semelhante, a lambada, impulsionada pelo sucesso internacional da banda Kaoma, tornou-se um fenômeno global, especialmente em países europeus e latino-americanos. A influência da lambada foi particularmente marcante em Porto Seguro, onde desempenhou um papel significativo no desenvolvimento do turismo nas décadas de 1980 e 1990 (HENRY, 2008; NAVARRO, 2010). BARBOSA RAMOS, 2023).

LAMBADA: DANÇA GENUINAMENTE BRASILEIRA

A lambada é uma expressão cultural singular do Brasil, refletindo a diversidade e a riqueza cultural do país. Embora influenciada por ritmos internacionais como o zouk, a lambada manteve sua identidade única, sendo reconhecida como uma dança genuinamente brasileira. Em Porto Seguro, a

lambada se consolidou como um importante elemento cultural e econômico, influenciando o turismo e fortalecendo a identidade local (VASCONCELOS, 1993; BARBOSA RAMOS, 2023).

EVOLUÇÃO DA DANÇA

Ao longo do tempo, tanto a lambada quanto o zouk passaram por transformações estilísticas. A lambada, por exemplo, adaptou-se ao ritmo do zouk, resultando no que muitos chamam de lambazouk. Essa evolução demonstra a capacidade da lambada de se adaptar a diferentes contextos musicais, sem perder suas características essenciais (SOUZA, 2015).

MITOS E VERDADES

Um mito comum é que o zouk brasileiro ou lambazouk representa uma nova forma de dança distinta do zouk original. Na realidade, o termo refere-se à lambada com uma nova roupagem que foi introduzida elementos de outras danças como: Bolero, Samba de Gafieira,Salsa, Jazz e o Contemporâneo, dançada ao som de músicas Zouk e outros gêneros musicais com batidas eletrônicas remixadas e produzidas por DJs como: Kompa, Kizomba,Tarraxinha,Reggaeton e o Pop, mostrando como a lambada se adapta a diferentes estilos musicais. Essa confusão entre termos destaca a necessidade de uma compreensão mais precisa das origens e evoluções dessas danças (COSTA, 2017).

PATRIMÔNIO CULTURAL E IMATERIAL

A lambada foi oficialmente reconhecida como patrimônio cultural e imaterial de Porto Seguro, conforme aprovado por lei na câmara dos vereadores. Esse reconhecimento sublinha a importância da lambada para a identidade cultural local e sua contribuição para o patrimônio cultural do Brasil. A preservação e promoção da lambada são essenciais para manter viva essa tradição e fortalecer a identidade cultural da região (FERNANDES, 2020; SILVA, 2023).

VALORIZAÇÃO E RESGATE CULTURAL

A preservação e valorização do zouk e da lambada envolvem o reconhecimento de suas origens e contribuições culturais. Eventos culturais, festivais e programas educacionais desempenham um papel vital na promoção e no resgate dessas danças. A lambada, como patrimônio cultural de Porto Seguro, exemplifica a importância de tais iniciativas para preservar e promover a cultura local, contribuindo para a identidade cultural e o turismo (ALMEIDA, 2021).

ANALOGIA DO AUTOR

▪ O Caráter Híbrido da Lambada: A  lambada,  desde  seu  surgimento, se caracterizou por ser uma dança que absorve e se adapta a diferentes influências musicais e coreográficas. Este caráter híbrido e adaptativo da lambada permite que ela incorpore novos elementos, como novos movimentos e combinações de novos passos inclusive de adaptações de outras danças, sem perder sua identidade central. Essa flexibilidade é uma das razões pela qual a lambada se manteve relevante ao longo das décadas.

Distinção Cultural e Geográfica: Ao mesmo tempo que o zouk, a lambada e suposto lambazouk compartilham semelhanças, é crucial reconhecer as distinções culturais e geográficas entre eles. O zouk, originário das Antilhas Francesas, carrega elementos da cultura caribenha, enquanto a lambada é intrinsecamente brasileira, nascida no Pará. Essa distinção é fundamental para evitar a homogeneização cultural e garantir que cada dança seja valorizada em seu contexto original.

Importância da Educação e Disseminação do Conhecimento: A perpetuação de mitos em torno do zouk e da lambada se dá, em grande parte, pela falta de conhecimento e educação sobre suas origens e características. É essencial promover a disseminação de informações corretas por meio de programas educacionais, workshops e eventos culturais que esclareçam as diferenças e semelhanças entre essas danças, contribuindo para sua valorização e preservação.

Reconhecimento como Patrimônio Cultural: O reconhecimento oficial da lambada como patrimônio cultural imaterial é uma conquista significativa, mas ainda há trabalho a ser feito para garantir que essa dança seja devidamente valorizada e protegida. Esse reconhecimento deve ser acompanhado por políticas públicas que incentivem a prática, o ensino e a documentação da lambada, assegurando sua continuidade para as futuras gerações.

A Lambada como Ferramenta de Identidade Cultural: A lambada não é apenas uma dança, mas um símbolo de identidade cultural para o Brasil, especialmente na cidade de Porto Seguro na Bahia. Ela reflete a história, as tradições e a diversidade do povo brasileiro. Ao preservá-la, estamos protegendo não apenas um estilo de dança, mas também a memória coletiva e o patrimônio imaterial de uma região.

Contribuição para o Turismo e a Economia Local: Além de seu valor cultural, a lambada desempenhou um papel crucial na atração de turistas para Porto Seguro durante as décadas de 80 e 90, fortalecendo a economia local. O resgate e a promoção da lambada podem novamente transformar essa dança em um ativo econômico importante para a região, incentivando o turismo cultural e promovendo eventos que celebrem a dança e a música.

▪  A Lambada na Era Digital: Com o advento das plataformas digitais e redes sociais, a lambada e suas variantes têm a oportunidade de alcançar um público global. Essa presença digital pode ser uma ferramenta poderosa para promover a dança, corrigir equívocos e conectar comunidades de dançarinos ao redor do mundo, fortalecendo a ideia de que a lambada é uma dança viva e em constante evolução

SINGELA  HOMENAGEM  DO  AUTOR  A  GRANDES  ARTISTAS PROTAGONISTAS DA ÉPOCA DE OURO DA LAMBADAEMPORTOSEGURO:

Esta é minha singela homenagem aos grandes artistas que protagonizaram a era de ouro da lambada em Porto Seguro. Autodidatas, dançarinos e professores que, com seus talentos natos, deixaram um legado inesquecível. Durante as décadas de 80 e 90, a lambada não só se firmou como um dos maiores símbolos culturais de Porto Seguro, mas também conquistou admiradores ao redor do mundo. Nesse período, diversos dançarinos se destacaram, contribuindo para o brilho e a popularidade dessa dança única. Nomes como João Lambadeiro, Maroto, Formiga, Belinha, Rebeca, Duca de Caraíva, Chico e Roberta, Maria Mariana, Ângela, Marilei, Zé Lambadeiro, Rubinho, Evandro, Messias, Juarez, Zézinho, Lobão, Baixinho, Tânia Caminhão, Grace Jones, Naif, DJ Levi, Zé Galinha, Tartaruga Ninja, Josy, Don Don da BA, Didi, Berg Dias, Solange Dias, Gilberto Lambadeiro, entre outros, são reverenciados até hoje como verdadeiros ícones da lambada. Esses artistas, movidos por uma paixão inabalável pela dança, não apenas encantaram o público local, mas também contribuíram para a eternização da lambada como um patrimônio cultural de Porto Seguro Bahia Brasil.

RELATOS DE ALGUNS ELEMENTOS EMPÍRICOS VIVOS

Os dançarinos, professores e coreógrafos, Bráz dos Santos, Jaime Arôxa e Adílio Porto foram protagonistas essenciais na criação, desenvolvimento e difusão da Lambada, cada um desempenhando um papel crucial na evolução dessa dança que é genuinamente brasileira. Desde o final da década de 1980 até os dias atuais, eles contribuíram significativamente para a diversificação das formas de se dançar Lambada, tanto no Brasil quanto no exterior.

Os relatos desses mestres oferecem uma visão profunda e inspiradora sobre a influência de seus trabalhos no crescimento e na perpetuação da Lambada. Graças a suas inovações, a Lambada não apenas se consolidou como uma expressão cultural de grande relevância, mas também continuou a evoluir, adaptando-se a novos contextos e incorporando diferentes influências ao longo dos anos.

Essa dança, que nasceu no Brasil, conquistou o mundo, e continua a ser um símbolo vivo da criatividade e da diversidade cultural brasileira. As contribuições de Bráz dos Santos, Jaime Arôxa e Adílio Porto asseguraram que a Lambada permanecesse vibrante e em constante renovação, mantendo sua relevância tanto nas pistas de dança quanto no imaginário popular global.

José Braz Martins dos Santos, mais conhecido como Mestre Bráz dos Santos – dançarino e professor de lambada nativo de Porto Seguro-BA, autodidata, dançou no grupo musical Internacional “Kaoma” sucesso mundial, viajou mais de 100 países levando a lambada e a cultura de Porto Seguro, inspirando milhares de dançarinos com seu estilo alegre, criativo e contagiante de dançar, atualmente reside nos Estados Unidos e tem um curso de formação para professores de Lambada sediado nos Estados Unidos da América, capacitando e treinando novos professores de Lambada.

Comecei a dançar Lambada muito jovem no final da década de 80, vendo meu pai e minha mãe dançarem forró, que não era muito diferente de como se dançava lambada naquela época, não tinha muitos passos e os que tinham eram parecidos. Comecei a trabalhar muito cedo como pescador, pois foi a única opção que tive enfrentando muitas dificuldades no mar. Tive uma experiência difícil, numa das viagens para pescar em alto mar o barco perdeu a direção certa, e enfrentei uma tempestade horrível cheguei a pensar que iria morrer, uma viagem que durava 3 horas em média, durou 10 horas para retornar para casa, pedi a Deus por uma oportunidade de mudar de vida. Quando cheguei em Porto Seguro, fui convidado para uma festa de lambada, onde se apaixonei pela dança. Mesmo sem experiência, participei de uma competição, não tive uma boa colocação pois ainda estava aprendendo e, a partir daí, comecei a procurar lugares onde pudesse dançar lambada. Apesar de a dança ser inicialmente discriminada, ela foi ganhando popularidade, continuei participando de competições e, com o tempo, ganhei várias delas só perdi as duas primeiras, assim fui me tornando um dançarino de sucesso, com o dinheiro que ganhava nas competições, ajudava minha família nas despesas da casa. A cada duas semanas, havia concursos de dança que incentivava a inovação. Os dançarinos precisavam se destacar em quesitos como harmonia, conjunto, figurino e criatividade, os dançarinos assistiam a filmes de dança para copiar e adaptar movimentos, criando algo novo. O treinamento constante era essencial para desenvolver novos passos e melhorar a pontuação nas competições, a paixão pela dança cresceu devido aos concursos e à necessidade de ganhar prêmios, que ajudavam financeiramente. Empresários franceses descobriram a lambada em Porto Seguro e convidaram a mim e meu irmão Didi para se apresentarem em Paris com o grupo Kaoma, foi onde aprendi muita coisa nos proporcionou uma experiência internacional e maior compreensão sobre dança, palcos e televisão, a experiência adquirida ao me apresentar em diferentes países trouxe-me alegria e orgulho, sabendo que estavam levando a dança que evoluiu em Porto Seguro para o mundo viajei mais de 150 países dançando lambada. Hoje em dia a lambada está voltando ao seu lugar, onde nunca deveria ter saído, é uma dança sensual envolvente e uma das únicas danças, que tendo a técnica certa pode colocar outras técnicas com diversos passos de diversas outras danças usando os passos básicos da lambada, pode colocar passos do samba de gafieira, do forró, da lambada, do bolero, da salsa e outras danças, eu sempre digo que a Lambada é uma espécie de feijoada que cabe várias danças e vira uma mistura a lambada de Porto Seguro, por isso incomoda muita gente, a lambada exige ginga, energia positiva, com movimentos de ombro, cintura, pernas e braços, sorriso e uma conexão entre os dançarinos, assim tornando uma dança envolvente apaixonante e única.”

“José Braz Martins dos Santos”

Jaime Alves Arôxa Neto, mais conhecido como Mestre Jaime Arôxa – bailarino, dançarino, coreógrafo e professor com notório saber, ele é o Mestre criador de uma metodologia única, viva, evolutiva e sem igual para se ensinar as danças a dois, com extensa experiência dentro e fora do país, sendo protagonista de eventos nacionais e internacionais, já foi coreógrafo de renomadas escolas de Samba, teatro, televisão e formou diversos professores renomados. Jaime é um dos maiores profissionais da dança no Brasil e no Mundo.

“Vou aqui começar a contar a história da lambada, sobre o meu ponto de vista, né? Sobre meu ponto de vista, quero dizer porque, eu vivi uma época da lambada muito importante. A parte mais explosiva da lambada, eu estava inserido no ninho deles, né? Com os melhores, eu pude levar a lambada para o Rio de Janeiro, dança que eu conheci através de uma reportagem. E aí, mandei um sócio meu ir para Porto Seguro, mas ele terminou indo para Arraial d’Ajuda, o que me levou diretamente para Arraial d’Ajuda. Eu comecei, então, a conviver com os lambadeiros de Arraial d’Ajuda antes mesmo de conviver com os lambadeiros de Porto Seguro. Lá, eu aprendi a dançar no Jatobar, com o João Lambadeiro, com o Zé Lambadeiro, com o Maroto, com muitos grandes amigos que tenho lá. E com o Rubinho, com a Ângela, muitos, muitos. Voltei para o Rio de Janeiro muito feliz, e lá desenvolvi a lambada. Desenvolvi o primeiro show de lambada chamado ‘Lambada Alada”, formei vários professores. Fiz muitas coreografias para o Canecão com o Beto Barbosa e com a galera grande. Enfim, vivi lambada intensamente nos anos 80. Até que aconteceu um fato, né? A lambada perdeu a força enquanto nome. Eu tenho minha teoria. Na minha teoria, as casas noturnas pararam de tocar lambada por uma pressão da própria mídia, porque era tanta lambada em todo canto que já não tocava mais música eletrônica. E aí começou a afetar interesses fonográficos, industriais, que fizeram com que houvesse uma decisão quase que unânime, que fizeram com que, a lambada perdesse a força enquanto moda, modismo, mas ela fez no Brasil milhares e milhares de jovens que dançaram lambada. Desse grupo, começou a surgir, então, uma ideia de continuar, de se manter, né? Na minha escola, eu fiquei muito triste com esse passar da moda e entreguei para o Adílio Porto e a Renata Peçanha, a função de cuidar do que ele chamou de ‘Zouk’. Ele falou: ‘Não, Jaime, é o que está se usando por aí. Eu disse, eu gosto da lambada, o zouk é uma música de fora, mas se você quer usar o nome Zouk, não é uma música nossa, mas se você quer usar, eu vou ter que apoiar.” Ele foi pro Zouk e começou a misturar os passos de bolero com zouk, porque lá na escola a gente tinha todos os ritmos dançava Lambada, Salsa, Samba, bolero, dançava tudo. E aí, o Zouk passou a ter a opção do lento, que a lambada não tem, né? A lambada pode ser lenta, pode ser rápida, mas é constante no ritmo. Você dança o ritmo de maneira constante, você não para. E o Zouk. a maior introdução do Zouk, para mim, foi a câmera lenta, foi o espaço de lentidão dentro de uma dinâmica rápida da música. E com essa abertura da música, vieram outros sons, veio o New Zouk do Marfim, outras linhas do zouk que não eram exatamente Zouk, mas que permitem você fazer passos que são originários da lambada, em sua grande maioria influenciados também pelo hip hop e por outras linhas de dança. Então, hoje, o Zouk é uma dança que, em muitos casos, não é que ela perdeu sua essência a essência da lambada. A gente consegue ver alguma influência, mas hoje ela atrai pessoas interessadas, pessoas do próprio grupo do zouk que começaram a conhecer a história e começaram a descobrir o quanto é bonita a lambada, o quanto a lambada é forte, o quanto ela é importante e abriu o caminho para se juntar as duas coisas, né? Hoje, eu vejo esse movimento muito mais amplo. Eles fazem congressos lá fora, e eu sempre vejo uma hora de lambada. Então, começa a haver uma mistura de tudo, o que é o melhor para nossa dança. Porque os jovens que não viveram a época da lambada não entendem que a lambada foi um movimento muito forte. Os lambadeiros sobrevoaram, viajaram para espalhar a lambada pelo mundo. O Zouk traz a sua contribuição, que é a inovação e a possibilidade de outros movimentos, de outras dinâmicas. Eu acho que o conjunto da história é esse. Sei que tem muita treta, às vezes, tem muita discussão, muitos entendimentos diferentes, porque alguém acha que algo está errado ou certo, mas o mundo tem uma dinâmica própria. E eu como professor de dança, criei também muita coisa, criei muitos passos, criei muita nomenclatura, criei muita didática não tenho controle sobre isso. E o mundo vai se renovando, vai se expandindo, e você vai mantendo sua essência e se adaptando aos novos tempos. O que mantém minha mente muito pacífica, tanto em relação aos lambadeiros quanto em relação ao pessoal do Zouk, ao pessoal do novo Zouk, qualquer outra linha de Zouk, zouk flouer ou qualquer outra linha do zouk, para mim, são todos filhotes da lambada que têm que admirar o seu pai e sua mãe. E é isso”

“Jaime Alves Arôxa Neto

Adílio Porto – Começou na dança aos 15 anos de idade, dançarino, bailarino um renomado professor de Dança de salão formado por Jaime Arôxa, conhecido internacionalmente, levou essa dança inicialmente Lambada que o mesmo começou a chamar de zouk, para a Europa, Ásia, América do Sul e América do Norte, sua visão aguçada e futurista fez com que percebesse o potencial dessa dança, investiu seus esforços e se dedicou inteiramente a difundir essa dança pelo Mundo.

Meu nome é Adílio Porto dançarino, Bailarino e professor de dança. Aos 15 anos de idade eu vivia a incerteza de estar no último ano do ensino médio, querendo jogar futebol profissionalmente e ao mesmo tempo um amor por música e dança. Nessa época conheci a Lambada que mudou tudo na minha vida, abandonei os estudos, o futebol e resolvi que viveria da dança. Através dela conheci pessoas incríveis em Arraial D’Ajuda que me fizeram querer viver lá e nunca mais sair. Mas através da lambada em 1989 eu conheci o meu mestre Jaime Arôxa na qual me fez ver que além da lambada tinha um outro mundo da dança. A dança de salão, o ballet, o contemporâneo e tantas outras modalidades que me fizeram ver o que eu queria fazer na minha vida. Depois de alguns anos dançando na Cia de dança Jaime Arôxa, eu comecei a ver uma nova forma de se dançar a lambada, onde se misturava a essência da lambada com todas as outras danças que eu trabalhava na academia de 9h da manhã a meia noite. Foi aí que tive a ideia de começar essa nova forma de dançar, que chamei de Zouk Brasileiro, fui muito recriminado, criticado e questionado principalmente pelos Lambadeiros Raízes, que diziam isso aí não é lambada, está errado, foi aí que comecei a chamar de Zouk mesmo e deixei de chamar de Lambada e de certa forma criando uma nova forma de se dançar ou até mesmo outra dança. O próprio Jaime Arôxa meu Mestre, disse que o ZOUK era de outro país não era do Brasil, mas como eu queria seguir com essa missão, então iria me apoiar e ajudar no que fosse preciso em prol da evolução e crescimento da dança, e passou a bola para mim, mas o sucesso foi meteórico e em pouco tempo essa dança estava conquistando todo o Rio de Janeiro, depois o Brasil, mais tarde eu levei essa dança para Europa, Oceania, Ásia, e nos dias de hoje a América do Norte, junto com outros países da América do Sul também estão dançando o zouk brasileiro. Sou muito feliz de ter participado de todo o processo na formação dessa dança que tem como ponto forte a nossa lambada misturada com muitas outras danças. Acredito que o zouk não só teve uma importância crucial para que a lambada não morresse como está ajudando hoje a lambada retornar com força total e chegar a lugares que não tinha chegado antes.

“Adílio Porto”

CONCLUSÃO

Este artigo evidenciou que o “zouk brasileiro” ou “lambazouk” não se referem a novas danças, mas a variações da lambada adaptadas a diferentes gêneros musicais. A lambada, originária do Pará e desenvolvida especialmente na cidade de Porto Seguro, Bahia, é uma dança genuinamente brasileira, vale ressaltar e destacar a rica contribuição para o desenvolvimento, criação de novos passos e formas de dançar que foram inseridas e adaptadas por grandes artistas, dançarinos, professores e coreógrafos profissionais da dança, como: “João Lambadeiro – BA, Maroto – BA, Zé Lambadeiro – BA, Bráz dos Santos – BA, Jaime Arôxa – RJ e Adílio Porto – RJ” essas personalidades abrilhantaram essa Dança chamada “Lambada” que é capaz de se adaptar a novos contextos musicais sem perder sua essência. Sua importância cultural e econômica, especialmente em Porto Seguro-BA, destaca a necessidade de distinguir entre adaptações musicais e a dança original. A preservação e promoção da lambada são fundamentais para manter viva essa tradição, celebrando sua contribuição para o patrimônio cultural brasileiro. Dada a relevância cultural da lambada, recomenda-se a realização de novos estudos científicos que explorem outras dimensões empíricas, como as perspectivas de profissionais da dança, coreógrafos e historiadores culturais. A interdisciplinaridade pode servir como ponto de partida para aprofundar a compreensão da lambada, integrando campos como a Antropologia, Sociologia, Filosofia e a Educação Física, pois enquanto campo do conhecimento contempla várias áreas do saber, como: Educação, Saúde, Bem Estar, Atividades Rítmicas Expressivas que é a dança e estudos sobre oTurismo. Esse caminho é essencial para o resgate e valorização da lambada, garantindo que sua rica história seja preservada e que seus precursores sejam devidamente reconhecidos, a cultura de Porto Seguro conseguiu dar um passo importante, a lambada é oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade de Porto Seguro, na Bahia. Essa conquista foi possível graças à aprovação e sanção do projeto de lei municipal nº 045/2019, em 31 de outubro de 2019. Novas pesquisas podem oferecer insights valiosos sobre a evolução contínua da lambada e suas interações com outras culturas e práticas artísticas, além de contribuir para a formulação de políticas culturais que assegurem a preservação desse patrimônio imaterial em Porto Seguro Bahia Brasil.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, R. A. Valorização cultural: preservação e resgate das tradições. São Paulo: Editora Cultural, 2021.

BARBOSA RAMOS, N. A influência da lambada no turismo em Porto Seguro nas décadas de 80 e 90 – aspectos socioculturais, geográficos, turísticos e econômicos. Revista Gênero e Interdisciplinaridade, v. 4, n. 03, p. 165-184, 2023.

COSTA, L. M. Mitos e verdades sobre o zouk e a lambada. Rio de Janeiro: Dançar, 2017.

CUNHA, J. S. Danças do Caribe: Zouk e suas influências. Recife: Frevo, 2001.

FERNANDES, P. S. Patrimônio imaterial: dança e identidade cultural. Brasília: Cultura Viva, 2020.

FONSECA, J. A. A lambada e sua difusão global. Belém: Amazônia, 1990.

GUILBAUD, S. Zouk: Música e identidade. Paris: Éditions du Seuil, 1996.

HENRY, M. O zouk e sua influência global. Fort-de-France: Editions Caraïbe, 2008.

NAVARRO, S. A globalização da lambada. São Paulo: Dança & Movimento, 2010.

SOUZA, J. P. Transformações estilísticas e coreográficas na lambada e no zouk. Belo Horizonte: Danças & Cultura, 2015.

VASCONCELOS, A. R. Lambada: Identidade e expressão cultural brasileira. Belém: Editora Amazônia, 1993.