VANTAGENS DE IMPLANTAÇÃO DE PASTAGEM ROTACIONADA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504271818


Sergio Viana Bruno Junior


Resumo:

O pastejo rotacionado caracteriza-se pela divisão da pastagem em piquetes menores, nos quais os animais pastejam por um período fixo seguido de descanso da área. Essa técnica de manejo busca otimizar o aproveitamento das forrageiras, permitindo que o pasto se recupere após o pastejo e mantenha alta produtividade. Este artigo revisa as principais vantagens da implantação de pastagem rotacionada em sistemas de produção animal, com foco em benefícios zootécnicos, ambientais e econômicos. Diversos estudos recentes indicam que o manejo rotacionado bem planejado pode elevar significativamente o ganho de peso por área e a produção de carne ou leite por hectare, ao mesmo tempo em que prolonga a vida útil das pastagens e melhora a sustentabilidade do sistema produtivo. Os resultados evidenciam que o pastejo rotacionado é uma importante ferramenta de intensificação sustentável na pecuária, melhorando os índices de produtividade do rebanho, a conservação do solo e a rentabilidade da propriedade rural.

Palavras-chave: pastejo rotacionado; manejo de pastagens; produção animal; sustentabilidade; pecuária.

Introdução

A pecuária de corte e leite é uma das principais atividades agropecuárias no Brasil, fundamentada predominantemente no uso de pastagens como base alimentar dos rebanhos. As condições tropicais do país favorecem o crescimento de forrageiras de alta produtividade ao longo do ano, quando se aplicam técnicas adequadas de manejo (Costa et al., 2004). Entretanto, grande parte dessas pastagens não é manejada de forma ideal, resultando em áreas degradadas e baixa produtividade animal devido ao sobrepastejo ou subpastejo e à falta de descanso para a vegetação (Costa et al., 2004). Nesse contexto, cresce o interesse por estratégias de manejo mais eficientes, como o pastejo rotacionado, para otimizar o uso das pastagens e atender à demanda crescente por produção animal sustentável.

O pastejo rotacionado consiste em subdividir a área de pastagem em vários piquetes ou módulos menores, onde os animais são colocados para pastejar por um intervalo determinado, seguindo-se um período de repouso da pastagem (Andrade, 2021). Diferentemente do pastejo contínuo tradicional, em que os animais permanecem o tempo todo em uma grande área, no sistema rotacionado controla-se a frequência e a intensidade de pastejo em cada piquete. Com isso, as plantas forrageiras têm tempo para rebrota e recomposição de suas reservas após a saída dos animais, evitando o esgotamento do pasto. Para implantar o sistema rotacionado com sucesso, é necessário planejamento prévio da infraestrutura (divisão em piquetes, cercas, bebedouros, cochos) e capacitação da equipe de manejo (Andrade, 2021).

Este artigo tem como objetivo destacar as principais vantagens da utilização do pastejo rotacionado, englobando aspectos zootécnicos (desempenho animal e manejo do rebanho), ambientais (conservação do solo e eficiência do uso da pastagem) e econômicos (produtividade e rentabilidade do sistema). Com linguagem técnica acessível a estudantes de Medicina Veterinária, serão apresentados dados de pesquisas e exemplos práticos que ilustram os benefícios dessa técnica de manejo para a produção animal sustentável.

Benefícios Zootécnicos

A adoção do pastejo rotacionado traz diversos ganhos zootécnicos, relacionados ao desempenho do rebanho e à qualidade do pasto disponível. Um dos principais benefícios é o aumento da capacidade de lotação da pastagem sem prejuízo à condição das forrageiras. Ao ajustar corretamente o momento de entrada e saída dos animais em cada piquete, é possível manter o pasto em estágio de crescimento ativo, com boa oferta de folhas verdes de alto valor nutritivo, evitando o sobrepastejo severo.

Estudos indicam que pastagens manejadas sob lotação rotacionada podem sustentar de 2 a 3 unidades animal (UA) por hectare com desempenho satisfatório, enquanto no sistema contínuo extensivo a lotação típica é muito menor, em torno de 0,5 UA/ha ou menos (Gomide, 2016; Embrapa, 2024). Como resultado, a produtividade por área aumenta consideravelmente: por exemplo, ganhos de peso vivo da ordem de 500 a 750 kg por hectare ao ano foram observados em sistemas rotacionados intensivos, valores que representam um incremento de até oito a dez vezes em comparação aos sistemas tradicionais extensivos.

Outro efeito positivo é a uniformidade do pastejo. No pastejo contínuo, os animais tendem a selecionar as partes mais tenras e nutritivas das plantas, resultando em áreas superpastejadas ao lado de áreas pouco aproveitadas. Já no pastejo rotacionado, como os animais ficam em alta densidade por curtos períodos em cada piquete, ocorre um consumo mais homogêneo da forragem disponível (Embrapa, 2013).

Essa utilização uniforme evita tanto a formação de pontos de pasto excessivamente baixo (que poderiam expor o solo) quanto o acúmulo de material velho e senescente em outras partes. Consequentemente, a forrageira mantém um perfilhamento vigoroso e rebrota com maior rapidez após o período de descanso, em comparação ao pastejo contínuo. Essa recuperação mais acelerada do pasto permite trabalhar com períodos curtos de ocupação e descansar os piquetes por tempo suficiente, garantindo alimento de qualidade constante aos animais (Prodap, 2019). Em pastagens bem manejadas, as plantas forrageiras crescem de forma mais equilibrada e acumulam reservas nas raízes e colmos baseais, aumentando sua longevidade e resistência a períodos de seca moderada.

Benefícios Econômicos

Os reflexos positivos do pastejo rotacionado também se estendem à economia do sistema de produção. Ao aumentar a produtividade animal por hectare e prolongar a vida útil das pastagens, essa tecnologia de manejo pode resultar em maior rentabilidade e uso mais eficiente dos recursos na propriedade rural.

Conforme Zimmer et al. (2012), práticas de manejo adequadas (como adubação e pastejo rotativo) podem adiar por vários anos a necessidade de renovação de uma pastagem, mantendo-a produtiva e evitando gastos recorrentes. Além disso, a melhoria contínua do solo e do stand de forrageiras pode agregar valor ao imóvel rural a longo prazo, por constituir uma terra mais fértil e produtiva.

Adicionalmente, muitos produtores observam redução de despesas veterinárias e menores prejuízos com mortalidade ou morbidade do rebanho quando adotam o pastejo rotacionado. Animais bem alimentados e menos estressados são menos suscetíveis a doenças, crescendo mais rápido e chegando ao abate ou à primeira cria mais precocemente. Isso torna o ciclo produtivo mais curto e eficiente, diminuindo o custo por quilograma produzido. Em vacas leiteiras, por exemplo, pastagens de melhor qualidade nutricional contribuem para aumentar a produção de leite e prolongar a vida útil produtiva das matrizes, gerando mais bezerros e lactações por animal ao longo da vida fatores que melhoram a rentabilidade global do rebanho (Santos et al., 2021).

Grillo (2018), ao estudar a recria de bovinos de corte no sistema rotacionado na região do Pampa, constatou viabilidade econômica superior em relação ao manejo convencional, sobretudo quando a lotação e a oferta de forragem são otimizadas. De modo semelhante, Sessim (2016) verificou que sistemas de produção com pastejo rotacionado no Rio Grande do Sul apresentaram melhor resultado econômico e menor risco de prejuízo em comparação a sistemas extensivos tradicionais, devido à maior eficiência no uso do pasto e à estabilidade produtiva.

Conclusão

A implantação de pastagem rotacionada configura-se como uma estratégia altamente benéfica para a pecuária moderna, reunindo vantagens zootécnicas, ambientais e econômicas. Do ponto de vista produtivo, o sistema rotacionado possibilita elevar a capacidade de suporte das pastagens e o desempenho dos animais, aumentando a produção de carne e leite por hectare sem degradar os recursos naturais. Observa-se melhoria na nutrição do rebanho, refletindo-se em ganhos de peso mais elevados, melhores índices reprodutivos e animais mais saudáveis. Sob o aspecto ambiental, o manejo rotacionado conserva o solo, favorece a ciclagem de nutrientes e reduz a necessidade de desmatamento para formação de novas pastagens, promovendo uma pecuária mais sustentável e em harmonia com práticas de conservação. Economicamente, ainda que requeira planejamento e investimentos iniciais, o pastejo rotacionado tende a aumentar a lucratividade da atividade pecuária ao otimizar o uso da terra e reduzir custos com suplementação e recuperação de pastos degradados.

Para os profissionais e estudantes de Medicina Veterinária, compreender as vantagens do pastejo rotacionado é fundamental, pois eles atuarão diretamente na gestão sanitária e produtiva de rebanhos. O médico veterinário no campo pode auxiliar na implementação de sistemas rotacionados, orientando quanto ao manejo adequado da pastagem para garantir a saúde animal e a produtividade. Além disso, a adoção do pastejo rotacionado atende às crescentes exigências de bem-estar animal e sustentabilidade ambiental impostas pela sociedade e pelos mercados consumidores. Animais manejados em pasto rotacionado tendem a sofrer menos com fome ou superlotação e o sistema facilita práticas sustentáveis, o que agrega valor aos produtos de origem animal.

Conclui-se, portanto, que as vantagens da pastagem rotacionada são numerosas e significativas. Quando bem planejada e executada, essa técnica de manejo resulta em ganhos zootécnicos (maior produção e eficiência do rebanho), benefícios ambientais (preservação do solo e uso racional da terra) e melhorias econômicas (maior rentabilidade e sustentabilidade do negócio rural). Dessa forma, o pastejo rotacionado representa uma ferramenta estratégica para a intensificação sustentável da pecuária, garantindo a viabilidade da produção animal a longo prazo sem comprometer o meio ambiente e o bem-estar dos animais.

Referências

ANDRADE, C. M. S. Pastejo Rotacionado. Rio Branco: Embrapa, 2021. Disponívelem: http://iquiri.cpafac.embrapa.br/prodleite/pdf/pastejo_mauricio.pdf. Acesso em: 22 abr. 2025.

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