Mayra Freire RAMOS
Acadêmica do curso de fisioterapia
Thallyta Mariana da Silva MARTINS
Acadêmica do curso de fisioterapia
Larissa Salgado de OLIVEIRA
Prof. MSc. Em plasticidade neural em fisioterapia
RESUMO:A agenesia do corpo caloso é uma malformação congênita rara que ocorre por uma ausência total ou parcial do corpo caloso. Os sintomas podem variar de leve a grave, sendo o mais comum o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.o objetivo deste trabalho foi avaliar a influencia da utilização das técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva na marcha de um paciente com agenesia do corpo caloso. Foi realizado um estudo de caso com uma paciente do sexo feminino com 25 anos de idade portadora de agenesia total do corpo caloso, onde a pesquisa foi baseada em um estudo descritivo restrospectivo e quantitativo. Para análise quantitativa da marcha, a paciente foi avaliada antes e após o atendimento tendo sido submetida a um protocolo de tratamento baseado no Conceito de Facilitação neuromuscular proprioceptiva, durante três vezes na semana, em dias alternados, com duração de quatro semanas. Na análise quantitativa do índice de Barthel foi verificado que a paciente apresentou melhora de sua capacidade funcional após o tratamento atingindo10 pontos quando comparou-se com o pré- tratamento. Quanto à avaliação pelo pedômetro foi evidenciado que após o tratamento o os valores para o número de passos foram menores se comparados com o pré-tratamento, bem como os valores de tempo gasto para realizar a marcha foram menores em relação ao pré-tratmento. Conclui-se que o tempo que a paciente permaneceu em atendimento de fisioterapia até os 20 anos teve uma evolução no seu desenvolvimento neuropsicomotor, assim como com o protocolo de atendimento proposto foi verificado que houve melhora na sua marcha no que se refere à velocidade, ritmo e tempo, demonstrando que a fisioterapia se torna essencial para a manutenção de seu quadro.
Palavras- Chaves: Agenesia do corpo caloso, Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, Marcha.
ABSTRACT:Agenesis of the corpus callosum is a rare congenital malformation that occurs by a total or partial absence of corpus callosum. Symptoms can range from mild to severe, the most common developmental delay. The aim of this study was to evaluate the influence of the use of techniques of proprioceptive neuromuscular facilitation on the gait of a patient with agenesis of the corpus callosum. We conducted a case study of a female patient with 25 years of age suffering from total agenesis of the corpus callosum, where the research was based on a retrospective descriptive and quantitative study. For quantitative analysis of gait, the patient was evaluated before and after treatment were subjected to a treatment protocol based on the Concept of proprioceptive neuromuscular facilitation, three times a week on alternate days, lasting four weeks. The quantitative analysis of the Barthel index was verified that the patient showed improvement in functional capacity after treatment atingindo10 points when compared with the pretreatment. As for the evaluation by the pedometer has been shown that after treatment the values for the number of steps were small compared with the pre-treatment, as well as amounts of time spent walking performance were lower compared to pre-without treatment. We conclude that the time the patient remained in care of physical therapy until 20 years had an evolution in their psychomotor development, as well as the proposed protocol of care was found that there was an improvement in their walk with regard to speed, pace and time, showing that the therapy becomes essential for the maintenance of your frame.
Key-Words: agenesis of the corpus callosum, proprioceptive neuromuscular facilitation,March.
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1.INTRODUÇÃO
A agenesia do corpo caloso (ACC) é uma malformação congênita rara que ocorre por ausência total ou parcial do corpo caloso, com possível diagnóstico após a vigésima semana de gestação, quando a estrutura deverá está completamente formada (FERREIRA et al, 2003). Esta pode apresentar-se associada a síndromes genéticas e erros inatos do metabolismo, fato que pode limitar aindamais a independência nas atividades funcionais dos portadores (MINGUETTI, FURTADO, AGOSTINI, 1998).
A patologia acomete aproximadamente cerca de 1 a 3: 1000 nascimentos na população e ocorre como resultado de desordens nestaestrutura durante o início do desenvolvimento embrionário, fato que acarreta alterações cognitivas e motoras importantes e variáveis nos pacientes acometidos, o que interfere na sua qualidade de vida (MONTANDON et al, 2003).
Devido ser considerada uma malformação rara e de baixa incidência, apresenta difícil diagnóstico, e por esse motivo apresenta considerável carência de informações entre os profissionaise materiais bibliográficos (ABREU et al ,2005).
Na agenesia do corpo caloso podem ser comumente observados sintomas como convulsões, déficits motores e retardos mentais, os quais interferem negativamente no desenvolvimento das atividades funcionais destes portadores (LEWIS,ROWLAND,MERRITT, 2005).
A patologia causa ao portador condições clínicas que podem comprometer em sua maioria o desenvolvimento neuropsicomotor da criança e posteriormente, a sua vida adulta em graus variáveis, como alterações cognitivas, auditivas, ortopédicas, posturais e neuromusculares, as quais influenciamna qualidade de vida por interferir na realização de atividades diárias (VILLEMAGNE et al., 2007).
Contudo, a fisioterapia é freqüentemente prescrita em associação a outros tratamentos, a fim de minimizar os prejuízos funcionais acarretados pelas alterações sensório-motoras nos pacientes proporcionando-lhes maior autonomia, independência funcional e equilíbrio psicológico (FREITAS, et al, 2006).
Dessa forma, os pacientes com agenesia do corpo caloso por meio de recursos da fisioterapia como técnicas de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (KOFOTOLIS, KELLIS,2006), Conceito NeuroevolutivoBobath (BOBATH,2003) hidroterapia (JAKAITIS, 2007), entre outros, podem evoluir positivamente, o que facilitará sua recuperação funcional e sua inserção ao meio (YAMANE, 2009).
As técnicas de facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) são consideradas como recursos promissores para pacientes que apresentam alterações sensório-motoras, pois a mesma é direcionada buscando os potenciais e incapacidades destes em nível estrutural, de atividade e de participação, necessitando então que se tenha uma visão do indivíduo como um todo para assim traçar um tratamento baseado na funcionalidade do indivíduo utilizando suas atividades como modelo de facilitação para adquirir ou melhorar tal função desejada (ADLER, BECKERS, BUCK, 2007).
Entretanto, não se encontram dados na literatura sobre os efeitos concretos da fisioterapia sobre a marcha de pacientes com agenesia do corpo caloso, desconhecendo-se assim sua influência sobre a patologia.(RODRIGUES, 2006)
Considerando os fatos acima citados, bem como a carência de dados na literatura e dos profissionais da área da saúde, principalmente fisioterapeutas, sobre o conhecimento da patologia em questão, este estudo propôsinvestigar a influência das técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva sobre a marcha de uma paciente portadora de agenesia total do corpo.
2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA
2.1 CONCEITO
A agenesia do corpo caloso consiste em uma anomalia encefálica congênita caracterizada pela ausência total ou parcial da estrutura podendo ser resultante de alterações vasculares, metabólicas, infecciosas, durante o período de desenvolvimento cerebral, do tempo de exposição e a predisposição genética do embrião e do feto ao insulto (MINGUETTI, FURTADO, AGOSTINI, 1998).
2.2INCIDÊNCIA E ETIOLOGIA
A doença afeta uma a três em cada mil crianças nascidas, podendo ser o paciente assintomático, embora freqüentemente apresente atraso no desenvolvimento neuropsicomotor(MINGUETTI, FURTADO, AGOSTINI, 1998).
A incidência e a prevalência de mortalidade de um paciente portador de agenesia do corpo caloso são difíceis de estabelecer, em virtude de alguns casos, apresentarem pouco ou nenhum sintoma, ou fazerem parte de uma malformação importante (ISRAEL, PAPAZIAN, SINISTERRA,2003).
A etiologia da agenesia do corpo caloso ainda é desconhecida, mas há hipóteses de que diversos fatores estejam envolvidos, entre eles agentes infecciosos, químicos, de radiação, hormônios maternos, fatores genéticos e cromossômicos que parecem contribuir para seu aparecimento (ABREU et al, 2005).
Geralmente, em 85% dos pacientes com agenesia do corpo caloso encontra-se associação com outras anomalias cerebrais, devido ao desenvolvimento simultâneo embrionário de diferentes estruturas do cérebro. Entre as principais estruturas que se encontram com defeitos de sua formação estão os cistos inter-hemisféricos, migração neuronal anormal e organização do córtex cerebral, anomalidades no cerebelo, lipoma, holoprosencefalia, malformação Dandy-Walker, malformação Arnold de Chiari II e cistos aracnoídes (FERREIRA et al , 2003).
2.3 SINAIS E SINTOMAS
A agenesia do corpo caloso pode ser assintomática em alguns casos e em outros podem apresentar síndromes de desconexão cerebral em que o aprendizado e a memória não são partilhados entre os hemisférios cerebrais ( MONTANDON, 2003)
Os sinais e sintomas mais comuns na agenesia de corpo caloso são as anomalias faciais, hipertelorismo, o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e distúrbios de comunicação e linguagem, os quais geralmente estão associados a outras malformações (BARREIRA, RODRIGUEZ, CARBALLO, 1999).
Minguetti, Furtado e Agostini (1998) relataram que existem outros sintomas relacionados às funções fisiológicas dos sistemas entre os quais incluem os déficits cognitivos, alterações de tônus muscular e a hemiparesia ocasionando alterações na marcha e no equilíbrio destes pacientes.
Já Barreira, Rodriguez e Carballo (1999) relataram que os pacientes podem ainda apresentar convulsões provavelmente sendo secundárias a outras desordens associadas, pelo fato de que o corpo caloso pode ter influencia inibidora no córtex, e que por isso sua ausência facilitará a ocorrência de crises epiléticas.
2.4 ALTERAÇÕES DA MARCHA NA AGENESIA DO CORPO CALOSO
A instabilidade postural no paciente com agenesia do corpo caloso surge devido alterações nos reflexos posturais e nas estratégias motoras e sensoriais, o que proporciona dificuldade de ajustar a postura quando estes se inclinam em todas as direções, ou quando há um súbito deslocamento corporal. Possivelmente, isso ocorre devido à linha de gravidade não permanecer em seu centro de gravidade, fato que leva a um aumento da base de suporte, visando compensar a postura para não cair. Contudo, as reações de equilíbrio e proteção que deveriam ser ativadas para auxiliar no ajuste postural ficam particularmente prejudicadas, as quais se agravam quando existem outros sintomas ou síndromes associadas. (O`SULLIVAN, SCHMITZ, 2004)
Esta instabilidade acarreta sérios prejuízos no ciclo de marcha destes pacientes em virtude das alterações dos reflexos posturais, uma vez que para desempenhar o ciclo da marcha normal ou passada ocorrem desequilíbrios e equilíbrios momentâneos entre as fases da marcha (LUCARELI,et al ,2003).
O ciclo da marcha é dividido em duas fases, de apoio e de balanceio,Sendo que a fase de apoio corresponde ao período de tempo em que o membro permanece no solo e o tempo em que o membro permanece no ar corresponde à fase de balanceio. A fase de apoio típica constitui aproximadamente 60% do ciclo da marcha, enquanto a fase de balanceio consiste em 40% restantes(HOPPENFELD, 1999).
Assim, estas fases que compõem o ciclo da marcha devem ser visualizadas a partir de uma análise cinética e cinemática. Na biomecânica da marcha, a cinética e a cinemática devem estar em harmonia para que a marcha seja realizada corretamente sem compensações importantes (PERRY, 2005).
já, a base de sustentação de um indivíduo tem um importante papel para a determinação do local que se situa o seu centro de gravidade e, conseqüentemente, sua capacidade de se equilibrar durante a marcha. A distância média entre a passada pode variar de acordo com a idade, o sexo e a velocidade da marcha do indivíduo. O aumento na amplitude desta base de sustentação aumentará a estabilidade, além disso, quando o centro de gravidade do indivíduo estiver mais próximo do solo e/ou mais centralizado dentro da base de sustentação, a estabilidade aumenta no que se relaciona ao equilíbrio (LUCARELI et al, 2003).
Durante a fase de contato inicial, o quadril é flexionado em torno de 30º, o joelho se mantém quase completamente em extensão e o tornozelo se encontra em dorsiflexao de 15°. Nesta fase para manter esta postura encontra-se atuação concêntrica dos músculos iliopsoas, quadríceps femural e dorsiflexores, os quais incluem tibial anterior, fibulares, extensor longo dos dedos e extensor longo do hálux, bem como atuação excêntrica de isquiotibiais a fim de prevenir a hiperextensao do joelho(SMITH,WEISS, LECMKUHL, 1997;GROSS et al., 2000).
Na fase de apoio médio e final, o quadril é mantido em extensão de aproximadamente 10º, ao passo que o joelho e o tornozelo se encontram em extensão e em dorsiflexao respectivamente. O diferencial entre estas fases, está que na primeira a descarga de peso é distribuída entre calcanhar e ante-pé e na segunda o peso já é transferido para o ante-pé. Quanto a atuação dos músculos concentricamente estão o glúteo máximo e quadríceps femural para extensão do quadril e joelho, sendo o tornozelo mantido ainda em dorsiflexao (RODRIGUES, 2006).
Ainda como atuação excêntrica nas fases de apoio médio e final, estão os músculos isquiotibiais para prevenir a hiperextensao do joelho, bem como no tornozelo a ação do tríceps sural, onde na fase de apoio final observa-se somente a atuação do músculo gastrocnêmio, uma vez que este é biarticular e evita também a hiperextensao do joelho.
Já durante a fase de pré-balanceio, o quadril está saindo do máximo de extensão indo para a flexão em torno de 35º o joelho encontra-se em flexão de 40º e o tornozelo em flexão plantar. Sendo assim, observa-se atuação concêntrica do tríceps sural e da parte superior do reto femural auxiliando na extensão do quadril e flexão plantar do tornozelo respectivamente. No entanto, ainda em trabalho excêntrico encontra-se a parte inferior do reto femural que atua como inibidor da flexão máxima do joelho, o qual evita que o individuo também deixe o joelho cair em flexão desestabilizando-o (RODRIGUES, 2006).
O balanço inicial corresponde aproximadamente um terço do período do balanço. Inicia com elevação do pé do solo e encerra quando o pé de balanço está oposto ao pé de apoio (PERRY,2005). Buscando a recuperação da postura envolvendo duas ações criticas: flexão de quadril e de joelho. Os objetivos dessa fase envolve a liberação do solo e avanço do membro a parti de sua posição de queda (PERRY,2005).
Enquanto que o balanço médio possui a continuidade da atividade do membro e a passagem do pé ( ROSE E CAMBLE,1998). Inicia no momento em que o membro do balanço encontra-se oposto do membro de apoio, e termina quando o membro balanço está anterior e a tibia na vertical, isto é a flexão de quadril e joelho estão iguais (PERRY,2005).
E no balanço final vem ser a fase do balanço que começa com a tíbia na vertical e termina quando o pé toca sobre a superfície . O avanço completa-se com a extensão de joelho para a posição neutra e o membro prepara-se para a fase final de apoio.
Para o estabelecermos metas terapêuticas realistas e para o desenvolvimento de um plano terapêutico dirigido para uma melhora e restauração da marcha de um paciente com agenesia do corpo caloso, o fisioterapeuta deve ser capaz de avaliar o seu estado deambulatório. Durante a avaliação deve conter uma acurada descrição do padrão de marcha e de suas variáveis, uma identificação e descrição de todos os desvios da marcha, e a identificação dos mecanismos responsáveis pela produção das anormalidades da mesma (GROSS et al., 2000).
O portador de agenesia do corpo caloso ainda pode possuir alterações no ritmo e velocidade da marcha, bem como aumento do gasto energético para realizá-la, uma vez que toda instabilidade postural faz com que o individuo aumente a sua base de sustentação e gerecompensações em outras estruturas(MIRANDA,2003, SMITH, WEISS,LECMKUHL, 1997).
2.5 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da agenesia do corpo caloso pode ser realizado ainda no período gestacional, quando se é possível visualizar alterações estruturais, como a ausência total ou parcial do corpo caloso durante os exames de pré- natal. Entretanto, esse diagnóstico deverá ser confirmado com auxílio de exames específicos, tais como radiografias de crânio e face, ressonância magnética, tomografia computadorizada, eletroencefalografia (MONTANDON et al, 2005).
Durante a realização da Tomografia computadorizada (TC) nos pacientes com ACC, pode-se visualizar cisto inter-hemisférico, a injeção pré-operatória do material de contraste não iônico solúvel em água nas loculações císticas para avaliação da TC do sistema ventricular ou da comunicação do componente cístico (MASSOU, PHILLIPPE, QUEIROZ, GARTIA,2000)
Sendo assim, a confirmação exata do diagnóstico com exames complementares associados aos clínicos é um ponto importante e favorável para que se possa traçar com precisão qual tipo de acompanhamento terapêutico cabe ao paciente. Além disso, quanto antes à confirmação diagnóstica, mais precoce deve-se iniciar o tratamento necessário, não diminuindo as chances de recuperação das funções físicas e cognitivas e assim ter certeza de estar sendo realizado um excelente trabalho (PANOS et al, 2001).
2.6 TRATAMENTO CLÍNICO E FISIOTERAPÊUTICO
O tratamento clínico é realizado através de uma equipe multi e interdisciplinar sendo esta composta por médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, entre outros(FELIX, ALBUQUERQUE, 2007).
Este tratamento clínico visa o controle dos sintomas como a epilepsia, distúrbios sensório-motores, déficits cognitivos que culminam no atraso no desenvolvimento neuropsicomotor dos pacientes com agenesia do corpo caloso. Contudo, as realizações dos tratamentos nas diversas áreas específicas deverão estar voltadas para uma melhora na qualidade de vida fazendo com que o paciente possa se tornar mais independente em suas atividades funcionais (SILVEIRA e MOTA,2009).
A fisioterapia por sua vez atua nas características apresentadas nos pacientes com a agenesia do corpo caloso, tais como as instabilidades posturais, que refletemnuma marcha deficitária, a fim de facilitar as atividades funcionais e proporcionar umamelhora na qualidade de vida destes pacientes(OLIVEIRA e ORÇAY, 2010).
2.7 FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVO
A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) foi descrita pelo Dr. Herman Kabat nos anos de 1940, o qual juntamente com a fisioterapeuta Margaret Knottdesenvolveram e expandiram as técnicas de tratamento e procedimentosdo conceito após terem se mudado para Vallejo, Califórnia (ADLER, BECKERS, BUCK, 2007)
O termoFNP significa tornar fácil uma tarefa, o aprendizado e o controle motor, por meio de técnicas específicas as quais envolvem recrutamento muscular e ativação do sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP), o que auxilia na identificação da posição do segmento e percepção do movimento no espaço (MUNIH et al, 2004).
O conceito é baseado em alguns princípios, os quais são abordados durante o atendimento e manuseio do paciente visando facilitar o entendimento do mesmo e o trabalho do terapeuta. Dentre os princípios inclui-se resistência, irradiação/reforço, padrões em diagonais, estimulação tátil, auditiva e visual, reflexo de estiramento, sincronização do movimento, tração, aproximação e mecânica corporal (ADLER, BECKERS, BUCK, 2007).
Sendo assim, considerando as dificuldades apresentadas a nível estrutural e funcional pelos pacientes com agenesia do corpo caloso é possível o profissional enfatizar um tratamento voltado para as atividades funcionais, visando trabalhar o potencial do indivíduo associado ao seu problema (KOFOT OLIS, KELLIS, 2006).
Como geralmente os pacientes com agenesia do corpo caloso apresentam instabilidades posturais e alterações de tônus em especial à hipotonia, os quais refletem diretamente na dificuldade de aquisição da marcha no seu tempo adequado, a fisioterapia torna-se indispensável, a fim de adquirir uma marcha mais eficaz por meio da utilização da FNP, evitando os riscos de quedas e tornando o individuo mais independente(REICHEL,1998).
3. MATERIAL E METODOS
O presente estudo foi encaminhado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos (CEP) da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Viana (FHCGV),sob protocolo 219/10 localizado na Trav. Alferes Costa, n° 200, bairro Pedreira, CEP 66123-030, Belém -Pará e após o aceite da orientadora Profa. Ms. Larissa Salgado de Oliveira.Este estudo seguiu as normas da resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o código de Nuremberg e a declaração de Helsinque para grupos especiais ou vulneráveis.
3.1 ESTUDO DE CASO
A pesquisa foi baseada em um estudo de caso da paciente MFR com diagnóstico clínico de agenesia total do corpo caloso, do sexo feminino e com idade de 25 anosonde foram coletados os dados desde o período gestacional por meio de relatórios e relatos dos pais até os dias atuais. Ainda para o estudo foi considerado que a paciente não apresentasse patologias que impossibilitassem o tratamento proposto.
Dentre os critérios de exclusão estão o retardo mental grave diagnosticado em avaliação com o médico neurologista e deformidades em coluna e membros inferiores os quais possam restringir a amplitude do movimento completa da articulação e que impeçam o tratamento da marcha na paciente.
3.2 RISCOS E BENEFICIOS
A voluntária no momento da realização dos exercícios envolvendo as técnicas de FNP poderia apresentar instabilidades posturais, uma vez que o tratamento busca uma marcha eficaz e para isso necessita de trocas posturais as quais levam a instabilidades momentâneas, porém,todo e qualquer risco de queda que a paciente viesse a apresentar, as autoras do projeto se responsabilizariam a dar assistência necessária, levando-a ao posto de saúde, hospital ou pronto-socorro, ou o local de preferência da voluntária.Com essa pesquisa esperava que o tratamento sugerido proporciona uma melhora no equilíbrio e marcha da paciente, contribuindo na sua qualidade de vida, mantendo-a apta para desenvolver atividades diárias mais complexas e possibilitando o desenvolvimento de melhores técnicas de tratamento fisioterapêutico de pacientes com agenesia do corpo caloso.
4. RESULTADO E DISCUSSÃO
Visto que na avaliação fisioterapêutica realizada no periodo de março de 2011,estando a paciente com 25 anos de idade apresentou os seguintes resultados. Queixa principal: dificuldades ao deambular, exames fisicos sem alterações no presente momento; Sensibilidade preservada, Reflexos preservados; Grau 5 de força para MMSS E MMII e realiza transferências sem ajuda.
Na avaliaçao da marcha ao longo de uma linha reta de 7,63m e com o auxílio do pedometro, antes do tratamento foi identificado o resultado de 28 passos e com o tempo gasto de 0,28.33 seg. Observo-se um padrão anormal de marcha, onde as fases iniciais e fase de balanceio da marcha estavam comprometidas, mostrando-se no momento de iniciar a macha a paciente faz uma anteroversão de quadril com uma flexão de joelho e aumentando a sua base suporte.
Na análise biomecânica da marcha da paciente no inicio era bastante comprometida, pois apresentava uma base de sustentação alargada, desvio do centro de gravidade, fazia uma anteroversão de quadril com uma leve flexão de joelho e apresentava o membro superior em padrão flexor.
Diante dos déficits evidenciados, ressalta-se que a marcha apresentada pela paciente está relacionada às alterações posturais comuns presentes nos portadores de agenesia do corpo caloso (MINGUETTI, FURTADO, AGOSTINI, 1998).
Já na aplicação da escala do Índice de Barthel antes do tratamento foi visualizado o seu grau de dependência funcional que obteve-se sua pontuação de 7 pontos. Ao final do tratamento foi repetido novamente o índice de Barthel e apresentou um score de 9 pontos e não obteve resultado significante comparado com o primeiro. Onde não modificou muita coisa na qualidade de vida da paciente.
5. CONCLUSÃO
O conceito de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP),possui uma abordagem positiva global sendo eficaz no tratamento de portadores de agenesia do corpo caloso.
Observou-se uma melhora significativa no equilíbrio e na qualidade dos movimentos dos membros inferiores, como diminuição da base de sustentação, e uma redução discreta no balanceio de tronco.
Sendo assim, com base nos resultados obtidos na pesquisa, foi possível observar que a fisioterapia através da FNP foi importante na melhora da dinâmica da marcha da paciente com diagnostico de ACC.
Com base nos resultados deste estudo pode-se afirma a eficácia deste protocolo de exercício escolhido tais como, a ponte, posição de gato, exercício para controle de tronco, agachamento como uso da bola suíça,Em bipedestação (Abdução) e Padrão de Antero- elevação de pelve. Porém é necessário que se desenvolvam mais pesquisas envolvendo pacientes com agenesia do corpo caloso.
REFERÊNCIAS
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2 comentários em “UTILIZAÇÃO DA FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA NA MARCHA DE UM PACIENTE COM AGENESIA DO CORPO CALOSO”
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Olá!
Meu nome é Valéria, tenho 38 anos e a pouco tempo ou seja a 6 meses atras, descobri que tenho um limpoma curvilíneo corpo caloso estou muito preocupada. Eu comecei apresentar um zumbido no ouvido direito fiz vários exames e não deu nada.Procurei um neorologista e ele disse que eu tenho esse limpoma.
A minha preocupação maior é quanto ao crescimento desse limpoma eu não sei se vai crescer.As vezes apresento muita ansiedade, nervoso,confusão mental.
Gostaria muito que vocês me enviasse estudos sobre limpomas.
Será que vou ter muitos anos de vida?
Boa noite, tenho uma prima de 12 anos com agenesia do corpo caloso, ela não apresenta convulsões só tem incoordenação dos membros inferiores, faz tratamento desde pequena porém não anda por causa da atrofia dos nervos das pernas, creio que uma cirurgia corrigiria o problema, gostei muito desse artigo, qual o caminho vocês me indicaria para uma possibilidade de melhoras para ela andar?