USO DE FITOESTROGÊNIOS COMO ALTERNATIVA EM PACIENTES QUE NÃO PODEM UTILIZAR ESTROGÊNIO CONJUGADO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202508251830


Deiziane Reis Silva
Lara Cristine Duarte Pereira
Orientador: Antônio Freitas Gonçalves Junior


RESUMO

Este artigo objetiva-se em avaliar a eficácia e a segurança dos fitoestrogênios em mulheres climatéricas com contraindicação ao uso de estrogênios conjugados. A justificativa da pesquisa baseia-se na demanda por alternativas terapêuticas que atendam pacientes que não podem recorrer à Terapia de Reposição Hormonal (TRH), devido ao histórico de doenças hormonossensíveis, trombose ou riscos cardiovasculares. Adotamos uma abordagem qualitativa com delineamento bibliográfico, a partir da análise de artigos científicos publicados entre 2010 e 2024, consultados nas bases PubMed, Scopus, SciELO e Web of Science. Nesse sentido, fundamentamos com base teórica os autores como (CLAPAUCH, 2002), (SETCHELL; CASSIDY 1999), (HAN, 2002), (DE FREITAS, MIRANDA e DA GAMA, 2016) e (FARIA; OLIVEIRA 2017), que discutem os mecanismos fisiológicos da menopausa, a atuação dos fitoestrogênios no organismo e suas implicações clínicas. Nesta perspectiva, os resultados evidenciaram que o uso de isoflavonas da soja contribui para a melhora da densidade mineral óssea, do perfil lipídico e de sintomas emocionais em mulheres na pós-menopausa. Os dados analisados também indicam que, sob orientação médica e em condições clínicas apropriadas, essas substâncias não apresentam associação significativa com o risco de câncer de mama ou alterações endometriais. Verificamos ainda que a resposta ao tratamento pode variar de acordo com a presença de bactérias intestinais específicas que metabolizam as isoflavonas em equol, além de fatores como idade, dose e tempo de uso. As contribuições deste estudo estão relacionadas à ampliação do conhecimento científico sobre terapias não hormonais no climatério, ao fortalecimento da medicina baseada em evidências e ao suporte para decisões clínicas que priorizem a segurança e a individualização do cuidado em saúde da mulher.

Palavras-chave: Fitoestrogênios. Menopausa. Isoflavonas. Terapia hormonal. Climatério.

ABSTRACT

This article aims to evaluate the efficacy and safety of phytoestrogens in postmenopausal women with contraindications to the use of conjugated estrogens. The research is justified by the demand for therapeutic alternatives for patients who cannot use Hormone Replacement Therapy (HRT) due to a history of hormone-sensitive diseases, thrombosis, or cardiovascular risks. We adopted a qualitative approach with a bibliographic design, based on the analysis of scientific articles published between 2010 and 2024, consulted in PubMed, Scopus, SciELO, and Web of Science databases. In this sense, we draw on the theoretical basis of authors such as (CLAPAUCH, 2002), (SETCHELL; CASSIDY 1999), (HAN, 2002), (DE FREITAS, MIRANDA and DA GAMA, 2016) and (FARIA; OLIVEIRA 2017), who discuss the physiological mechanisms of menopause, the role of phytoestrogens in the body, and their clinical implications. From this perspective, the results showed that the use of soy isoflavones contributes to the improvement of bone mineral density, lipid profile, and emotional symptoms in postmenopausal women. The data analyzed also indicate that, under medical guidance and appropriate clinical conditions, these substances are not significantly associated with the risk of breast cancer or endometrial alterations. We also found that the response to treatment may vary depending on the presence of specific intestinal bacteria that metabolize isoflavones into equol, in addition to factors such as age, dose, and duration of use. The contributions of this study are related to expanding scientific knowledge about non-hormonal therapies in menopause, strengthening evidence-based medicine, and supporting clinical decisions that prioritize the safety and individualization of women’s health care.

Keywords: Phytoestrogens. Menopause. Isoflavones. Hormone therapy. Climacteric.

INTRODUÇÃO

A menopausa configura-se como uma fase de transição fisiológica marcada pela interrupção definitiva da função ovariana e pela redução expressiva nos níveis de estrogênio. Essa mudança hormonal pode desencadear sintomas que comprometem significativamente a qualidade de vida das mulheres, como ondas de calor, suores noturnos, distúrbios do sono, alterações do humor e perda de massa óssea. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) com estrogênios conjugados tem sido, ao longo dos anos, a principal estratégia para aliviar tais manifestações e prevenir agravos associados à deficiência estrogênica.

Entretanto, ao analisarmos criticamente o uso da TRH, observamos que sua indicação não é adequada para todas as mulheres. Pacientes com histórico de câncer de mama, tromboembolismo, doenças cardiovasculares ou outras condições hormonossensíveis estão entre aquelas para quem os riscos superam os benefícios. Essa realidade nos conduziu à busca por terapias que ofereçam segurança e eficácia, especialmente para esse grupo mais vulnerável.

Nesse contexto, voltamo-nos aos fitoestrogênios, substâncias naturais presentes em alimentos como a soja, linhaça e cereais integrais. Esses compostos possuem estrutura semelhante ao estrogênio humano e interagem com os receptores hormonais, modulando sua atividade. A literatura científica tem apontado para o potencial desses agentes no alívio dos sintomas climatéricos, embora ainda existam lacunas quanto à sua segurança em uso prolongado e à variabilidade de resposta entre pacientes.

Com base nesses elementos, propomos avaliar a eficácia e a segurança dos fitoestrogênios como alternativa terapêutica para mulheres com contraindicação ao uso de estrogênios conjugados. Buscamos, ainda, analisar os possíveis riscos e benefícios associados a essa terapia, considerando especialmente sua utilização a longo prazo. Outro aspecto que nos interessa é investigar os fatores que influenciam a biodisponibilidade dos fitoestrogênios, como a microbiota intestinal e características individuais. Por fim, pretendemos examinar em que medida essa alternativa pode repercutir positivamente na qualidade de vida das mulheres em tratamento.

Ao desenvolvermos esta pesquisa, buscamos oferecer subsídios fundamentados para a atuação clínica de profissionais da saúde, ampliando o repertório de possibilidades terapêuticas no cuidado à mulher climatérica e contribuindo para uma abordagem mais segura e personalizada.

2.0 METODOLOGIA

Esta pesquisa possui abordagem qualitativa, com delineamento bibliográfico, e tem como finalidade reunir, examinar e interpretar criticamente os estudos disponíveis sobre o uso de fitoestrogênios como alternativa à terapia hormonal convencional com estrogênios conjugados. A escolha por esse tipo de estudo se justifica pela possibilidade de acessar um volume expressivo de publicações científicas, o que favorece uma análise aprofundada das evidências já produzidas no campo da saúde da mulher.

O levantamento de dados será realizado por meio de busca sistemática nas bases de dados PubMed, SciELO, Scopus e Web of Science, com foco em artigos publicados nos últimos dez anos. Serão considerados também trabalhos anteriores que tenham relevância teórica ou metodológica reconhecida. Os descritores utilizados na busca incluirão termos como fitoestrogênios, menopausa, terapia hormonal, isoflavonas, climatério e segurança terapêutica. A seleção dos estudos seguirá critérios de rigor metodológico, priorizando ensaios clínicos, revisões sistemáticas, metanálises e estudos de coorte.

Para compor o corpus da pesquisa, utilizaremos os seguintes critérios de inclusão:

  • estudos que tratem do uso de fitoestrogênios no alívio dos sintomas da menopausa;
  • publicações que discutam a segurança dos fitoestrogênios, especialmente em pacientes com contraindicação ao uso de estrogênios sintéticos;
  • artigos publicados em português, inglês ou espanhol.

Serão excluídos:

  • trabalhos que abordem tratamentos alternativos não hormonais sem relação com fitoestrogênios;
  • publicações fora do escopo da saúde da mulher ou não relacionadas ao climatério.

Os dados extraídos dos artigos selecionados serão organizados em torno de dois eixos principais: eficácia e segurança dos fitoestrogênios. A análise será conduzida por meio da técnica de análise de conteúdo, com identificação de padrões, convergências e divergências entre os estudos. Serão destacados os principais achados relacionados à atuação dos fitoestrogênios nos sintomas vasomotores, à resposta clínica em diferentes perfis de pacientes e aos efeitos colaterais observados ou potenciais.

Como a pesquisa se limita à revisão de literatura e não envolve sujeitos humanos ou coleta de dados em campo, não há necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme estabelecido pelas resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde.

Nosso objetivo, ao adotar essa metodologia, é organizar uma base sólida de conhecimento que contribua para a avaliação crítica do uso de fitoestrogênios em contextos clínicos específicos, com foco na saúde de mulheres que não podem ser expostas à terapia hormonal convencional.

3.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Menopausa e Terapia Hormonal Convencional

Ao nos debruçarmos sobre os aspectos fisiológicos da menopausa, compreendemos que essa fase marca o fim definitivo da atividade ovariana e, consequentemente, uma queda expressiva nos níveis circulantes de estrogênio. Essa alteração hormonal repercute de forma significativa na saúde da mulher, causando sintomas vasomotores como ondas de calor e sudorese noturna, além de distúrbios do sono, alterações do humor e perda da densidade óssea (HAN, 2022).

Para o tratamento desses sintomas, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) tem sido indicada como estratégia de controle clínico, sendo os estrogênios conjugados uma das formas mais prescritas. Esses hormônios sintéticos, compostos por uma combinação de diferentes formas de estrogênio, atuam diretamente nos receptores hormonais, promovendo benefícios como o alívio dos sintomas climatéricos e a preservação da saúde óssea. De acordo com De Freitas, Miranda e Da Gama (2016), os estrogênios conjugados exercem ação sobre os osteoblastos, aumentando a expressão de receptores de calcitonina e inibindo a síntese de prostaglandinas, o que contribui para a prevenção da osteoporose.

Além da proteção óssea, observamos que esses hormônios atuam na regulação do sistema neuroendócrino e cardiovascular, promovendo sensação de bem-estar, melhora da memória e estabilidade emocional. O valerato de estradiol, por exemplo, tem sido utilizado para reduzir suores intensos, insônia e irritabilidade (CLAPAUCH, 2002).

Apesar dos efeitos positivos, ao revisarmos a literatura, identificamos riscos importantes associados ao uso prolongado da TRH. Estudos apontam que mulheres em tratamento contínuo com estrogênios conjugados apresentam maior probabilidade de desenvolver câncer de mama, eventos tromboembólicos e doenças cardiovasculares (FARIA; OLIVEIRA, 2017). Essas evidências sustentam a contraindicação da TRH em mulheres com histórico de neoplasias hormonossensíveis, distúrbios de coagulação ou doenças cardíacas.

A partir dessa análise, percebemos a necessidade de considerar cuidadosamente o perfil clínico de cada paciente antes de recomendar a reposição hormonal. Pacientes com contraindicações absolutas à TRH não devem ser expostas aos riscos associados à administração de estrogênios sintéticos. Esse cenário motivou a busca por alternativas terapêuticas mais seguras, como os fitoestrogênios, tema central deste estudo.

3.2 Fitoestrogênios: conceito, fontes e mecanismos de ação

Ao explorarmos alternativas terapêuticas à terapia de reposição hormonal com estrogênios conjugados, nos deparamos com os fitoestrogênios, compostos bioativos de origem vegetal que despertam interesse crescente na área da saúde da mulher. Esses compostos apresentam estrutura química semelhante ao 17β-estradiol, principal estrogênio endógeno feminino, o que lhes permite interagir com os receptores estrogênicos (ERα e ERβ) e exercer efeitos estrogênicos ou antiestrogênicos, dependendo do contexto fisiológico (HAN, 2002).

Identificamos três grupos principais de fitoestrogênios: as isoflavonas, encontradas principalmente na soja e em seus derivados; as lignanas, presentes na linhaça, cereais integrais e vegetais fibrosos; e os cumestanos, mais raros na alimentação, mas presentes em leguminosas como o trevo vermelho (DE FREITAS, MIRANDA; DA GAMA; 2016). Entre esses, as isoflavonas — especialmente a genisteína e a daidzeína — são as mais estudadas por sua capacidade de atuar seletivamente nos receptores estrogênicos, com maior afinidade pelo subtipo ERβ, predominante em tecidos como os ossos, cérebro e vasos sanguíneos (SETCHELL; CASSIDY, 1999).

Esse perfil de ação seletiva confere aos fitoestrogênios um potencial terapêutico relevante. Ao se ligarem preferencialmente ao ERβ, esses compostos modulam sintomas vasomotores e contribuem para a manutenção da densidade óssea, sem estimular excessivamente os tecidos mamário e endometrial — um fator de risco associado aos estrogênios sintéticos. Segundo Clapauch et al. (2002), essa seletividade pode representar um diferencial importante na redução dos efeitos adversos associados à TRH convencional (CLAPAUCH, 2002).

Além de suas propriedades estrogênicas, os fitoestrogênios também apresentam efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e cardioprotetores, o que amplia suas possíveis aplicações clínicas. Em revisão recente, Faria e Oliveira (2017) destacam que esses compostos atuam na regulação dos lipídios séricos, na melhoria da função endotelial e na redução do estresse oxidativo — fatores relevantes para mulheres na pós-menopausa, especialmente aquelas com restrição à terapia hormonal tradicional.

Ao analisarmos a literatura, reconhecemos que a eficácia dos fitoestrogênios pode variar conforme fatores como o padrão alimentar, a composição da microbiota intestinal e a capacidade individual de converter isoflavonas em metabólitos ativos, como a equol. Essa variabilidade interindividual ainda é um desafio para a padronização da indicação clínica desses compostos, mas reforça a necessidade de avaliações mais personalizadas na prescrição de terapias baseadas em fitoquímicos.

Portanto, compreendemos que os fitoestrogênios constituem uma alternativa potencialmente segura e funcional para mulheres com contraindicação ao uso de estrogênios conjugados. A presente pesquisa visa aprofundar essa análise, com base nas evidências disponíveis, avaliando o alcance real desses compostos na saúde da mulher climatérica.

3.3 Estudos sobre eficácia e segurança dos fitoestrogênios

Realizamos uma análise crítica de estudos clínicos randomizados e meta-análises publicadas entre 2020 e 2024, identificadas nas bases PubMed, Scopus e Web of Science. Nosso foco esteve em intervenções com isoflavonas, especialmente de soja, e seus efeitos sobre os sintomas climatéricos, a densidade óssea, o perfil lipídico e a segurança em curto e longo prazo.

Na meta-análise conduzida por Cano et al. (2022), que incluiu 40 ensaios clínicos com cerca de 3.285 mulheres, observou-se que o uso médio de 75 mg/dia de isoflavonas durante 24 semanas não provocou alterações significativas na espessura endometrial, índice de maturação vaginal ou níveis hormonais séricos, como FSH e estradiol (CANO, 2022). Esses dados sugerem uma ação moduladora mais seletiva e segura, quando comparada à resposta provocada pelos estrogênios sintéticos.

Uma revisão sistemática publicada por Nauman et al. (2024), que avaliou cinco estudos randomizados envolvendo 425 mulheres, constatou que, embora os fitoestrogênios não tenham demonstrado efeitos marcantes sobre os sintomas vasomotores ou qualidade de vida geral, houve redução estatisticamente significativa nos sintomas depressivos (SMD = –0,41; p = 0,01) (NAUMAN, 2024).

A respeito da densidade mineral óssea, uma revisão publicada por Zhang et al. (2023), baseada em 52 ensaios clínicos com mais de 5.000 participantes, indicou um aumento da densidade óssea em coluna lombar e quadril, especialmente em mulheres com IMC elevado e intervenções com duração superior a 12 meses. Os efeitos foram mais evidentes em doses inferiores a 90 mg/dia de isoflavonas.

No que se refere ao perfil lipídico, a meta-análise de Wolters et al. (2020), com dados de 18 estudos clínicos, demonstrou que a suplementação com isoflavonas reduziu os níveis de triglicerídeos (–12,50 mg/dL) e aumentou discretamente o HDL-colesterol (+1,83 mg/dL), particularmente em mulheres com menos de 65 anos e com intervenções superiores a 24 semanas.

No tratamento de sintomas urogenitais, revisão de Abdi et al. (2021), envolvendo 33 ensaios clínicos, revelou que fitoestrogênios como genisteína e extrato de red clover melhoraram significativamente os quadros de atrofia vaginal e disfunção urinária, principalmente quando aplicados por via tópica.

Concluímos, com base nessas evidências recentes, que os fitoestrogênios apresentam perfil terapêutico favorável, com potencial para beneficiar a saúde óssea, cardiovascular e emocional das mulheres climatéricas. No entanto, os efeitos nos sintomas vasomotores permanecem inconsistentes entre os estudos, o que exige cautela e individualização na recomendação clínica. Os dados também reforçam o baixo risco proliferativo em tecidos hormonossensíveis, como mama e endométrio, sugerindo segurança para uso em mulheres com contraindicação à TRH convencional.

4.0 DISCUSSÃO

Ao investigarmos o uso de fitoestrogênios como alternativa terapêutica para mulheres com contraindicações ao uso de estrogênios conjugados, identificamos que a literatura científica contemporânea tem avançado significativamente na análise dos efeitos desses compostos em diferentes aspectos da saúde da mulher climatérica.

Verificamos que, embora os fitoestrogênios apresentem estrutura química semelhante ao estrogênio humano, sua afinidade seletiva pelos receptores do subtipo ERβ confere a esses compostos um perfil de ação mais direcionado e, possivelmente, mais seguro que o da terapia hormonal sintética. Essa seletividade reduz o risco de proliferação em tecidos sensíveis como o endométrio e a mama, o que os torna especialmente relevantes para pacientes com histórico de doenças hormonossensíveis (CLAPAUCH, 2002).

Conduzimos revisão de estudos publicados no Brasil que investigaram os efeitos das isoflavonas da soja na mulher climatérica. Dentre eles, destacamos o trabalho de Nahás et al. (2003), conduzido com 50 mulheres na menopausa, que investigou suplementação diária de 60 mg de isoflavona por seis meses.

Esse estudo documentou redução significativa dos sintomas vasomotores — ondas de calor diminuíram em 44 % no grupo com isoflavona versus 12 % no placebo (p<0,01) — e melhoria do perfil lipídico: redução de aproximadamente 11,8 % no LDL e aumento de 27,3 % no HDL nas participantes em uso de isoflavona¹. Além disso, foi observada elevação significativa nos níveis séricos de estradiol, sem alterações no FSH e LH.

De forma mais abrangente, a revisão sistemática de Bolzan, Liberali e Coutinho (2015) analisou 10 estudos randomizados com mulheres na menopausa, destacando que:

  • Aproximadamente 29 % dos ensaios relataram redução nos níveis de triglicerídeos;
  • 71 % mostraram diminuição do colesterol total;
  • 81 % encontraram redução do LDL-c;
  • Cerca de 29 % reportaram aumento do HDL-c².

Esses estudos evidenciam que, no contexto brasileiro, a suplementação com isoflavonas de soja tem mostrado efeitos positivos tanto no alívio dos sintomas climatéricos quanto na melhora do perfil lipídico.

Esses dados reforçam um ponto que destacamos nos objetivos do nosso estudo: a importância de analisar os possíveis riscos e benefícios do uso dos fitoestrogênios com base em evidências confiáveis e atualizadas. A partir da revisão realizada, constatamos que o uso prolongado desses compostos, especialmente as isoflavonas da soja, não está associado ao aumento do risco de câncer de mama ou a alterações significativas no endométrio, desde que respeitadas as condições clínicas e haja acompanhamento adequado. Em meta-análise recente, Boutas et al. (2022) demonstraram associação inversa entre o consumo regular de isoflavonas e o risco de câncer de mama, sugerindo efeito protetor em mulheres na pós-menopausa.

Outro aspecto relevante diz respeito à variabilidade individual na biodisponibilidade dos fitoestrogênios. Estudos indicam que a conversão intestinal das isoflavonas, especialmente da daidzeína em equol — metabólito com maior afinidade pelos receptores estrogênicos —, não ocorre em todas as mulheres, sendo dependente da presença de cepas específicas de bactérias intestinais. Estima-se que apenas 25 a 30% das mulheres ocidentais sejam “produtoras de equol”, o que impacta diretamente na eficácia terapêutica dos fitoestrogênios (SETCHELL, 2002). Essa diferença na composição da microbiota intestinal tem sido apontada como um dos principais fatores para a variação nos resultados clínicos observados (GUADAMURO, 2017).

Com base nesse panorama, compreendemos que o uso de fitoestrogênios deve ser analisado de forma criteriosa, levando em consideração não somente sua ação farmacológica, mas o contexto clínico da paciente, os fatores individuais de resposta e as evidências científicas disponíveis. Embora esses compostos não substituam integralmente a TRH tradicional em todos os casos, demonstram potencial promissor como alternativa segura e funcional para mulheres com contraindicação aos estrogênios conjugados.

5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao investigarmos a viabilidade dos fitoestrogênios como alternativa terapêutica para mulheres com contraindicações ao uso de estrogênios conjugados, reunimos um conjunto robusto de evidências que nos permite refletir criticamente sobre os avanços, os limites e as possibilidades do uso desses compostos na prática clínica.

Com base na revisão da literatura recente, observamos que os fitoestrogênios, especialmente as isoflavonas da soja, apresentam um perfil farmacológico distinto, capaz de modular sintomas do climatério por meio da interação seletiva com os receptores estrogênicos do subtipo β. Essa seletividade reduz os riscos de estimulação de tecidos sensíveis, como o endométrio e o tecido mamário, o que representa um avanço relevante no cuidado de mulheres que, por contraindicações clínicas, não podem ser expostas à terapia hormonal tradicional.

A análise dos estudos clínicos revisados revelou benefícios consistentes na melhora da densidade mineral óssea, no perfil lipídico e no equilíbrio emocional, com destaque para a redução de sintomas depressivos. Em relação aos sintomas vasomotores, os resultados demonstraram certa heterogeneidade, sugerindo que a eficácia nessa dimensão pode estar condicionada a fatores individuais, como idade, tempo de menopausa, microbiota intestinal e capacidade metabólica para conversão de isoflavonas em metabólitos ativos como a equol. Essa variabilidade nos leva a considerar a importância de um acompanhamento clínico personalizado, com avaliação criteriosa antes da introdução dos fitoestrogênios na rotina terapêutica de cada paciente.

Quanto à segurança, os dados encontrados reforçam a ausência de efeitos proliferativos em tecidos hormonossensíveis, mesmo em tratamentos de médio a longo prazo. Essa constatação é de grande relevância para a prática clínica, uma vez que amplia o leque de possibilidades terapêuticas para mulheres historicamente excluídas da TRH devido a comorbidades como câncer de mama, trombose ou doenças cardiovasculares.

Entendemos, no entanto, que o uso dos fitoestrogênios ainda exige cautela. A ausência de regulamentação padronizada quanto à dosagem ideal, à formulação mais eficaz e à duração segura do tratamento é um ponto que precisa ser enfrentado com urgência pela comunidade científica e pelas agências reguladoras. Além disso, os estudos clínicos que embasam as evidências disponíveis, em sua maioria, foram realizados com amostras pequenas ou por curtos períodos, o que limita as conclusões sobre efeitos prolongados e interações com outras terapias.

A partir desta pesquisa, reafirmamos o papel dos fitoestrogênios como alternativa viável para a gestão dos sintomas do climatério, especialmente em populações clínicas de risco. Reforçamos a necessidade de ampliar os estudos com populações mais diversas, com foco na individualização terapêutica e na compreensão da farmacocinética desses compostos em diferentes perfis de mulheres.

Concluímos que os fitoestrogênios não devem ser considerados substitutos automáticos da TRH convencional, mas sim como um recurso terapêutico complementar, cujos benefícios, riscos e indicações precisam ser avaliados com base em evidências e no contexto clínico de cada mulher. Seu uso responsável pode contribuir significativamente para a promoção de saúde, autonomia e qualidade de vida no climatério, representando uma alternativa segura, acessível e cientificamente fundamentada.

REFERÊNCIAS

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WOLTERS, Maike. DEJANOVIC, Gordana. M. ASLLANAJ, Eralda. GÜNTHER, Kathrin. POHLABELN, Hermann. BRAMER, Wichor. M. AHRENS, Jenny. NAGRANI Rajini. PIGEOT, Iris. FRANCO, Oscar H. AHRENS, Wolfgang. MUKA. Taulant, GLISIC, Marija. Effects of phytoestrogen supplementation on intermediate cardiovascular disease risk factors among postmenopausal women: a meta-analysis of randomized controlled trials. Menopause. 2020 Sep;27(9):1081-1092. doi: 10.1097/GME.0000000000001566. PMID: 32852463. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32852463/. Acessado em 10 de jul. de 2025.