USO DA ROBÓTICA NA FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE RECURSOS E EFEITOS TERAPÊUTICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510211538


GOMES, Larissa da Silva1
FELIPE, Larissa Gabrielly Ramos2
XAVIER, Sarah Cristhian Nunes3
TORRES, Thiago de Lima4
CASTRO, Lucas da Cruz5
OLIVEIRA, Angélica da Silva de6
SILVA, Josineide Tomaz7
PESSOA, Renata Mariana Ribeiro Dutra8


RESUMO 

Objetivo: Analisar sistematicamente os recursos robóticos utilizados na fisioterapia neurológica, evidenciando os resultados terapêuticos e as contribuições dessas tecnologias para a melhora funcional dos pacientes. Método: A presente revisão bibliográfica foi conduzida a partir de buscas nas bases PubMed, Scielo, IEEE Xplore e Google Scholar, contemplando artigos publicados entre 1997 e 2023 que abordam recursos robóticos aplicados à reabilitação neurológica. Resultados: A análise da literatura revelou que os dispositivos robóticos aplicados à fisioterapia neurológica proporcionam benefícios significativos na reabilitação de pacientes com comprometimentos motores. Estudos como os de Krebs et al. (2007) e Collins et al. (2019) destacam a eficácia dos treinos repetitivos e intensivos proporcionados por robôs, que favorecem a plasticidade neural e a recuperação funcional. Além disso, os recursos tecnológicos variam desde exoesqueletos até sistemas de realidade virtual integrados, conforme apontado por Pons et al. (2017) e Lippiello et al. (2020), permitindo a personalização dos protocolos terapêuticos e maior engajamento do paciente durante o tratamento. No contexto brasileiro, conforme descrito por Gonçalves e Siqueira (2013) e Oliveira et al. (2012), o desenvolvimento de tecnologias robóticas nacionais tem avançado, apesar dos desafios relacionados à acessibilidade e custos. Parcerias entre universidades e empresas têm sido fundamentais para a adaptação dessas tecnologias às necessidades locais. A tendência observada na literatura indica a integração crescente da robótica com outras tecnologias digitais, como inteligência artificial e realidade virtual (Ruiz, 2018; Freitas et al., 2021), apontando para uma evolução dos tratamentos que serão cada vez mais interativos, eficientes e centrados no paciente. Conclusão: A robótica aplicada à fisioterapia neurológica configura-se como uma abordagem inovadora e promissora, capaz de potencializar a reabilitação funcional por meio de tecnologias personalizadas, com perspectivas de crescente integração a outras soluções digitais que ampliam a eficácia e a individualização dos tratamentos. 

Palavras-Chaves: Robótica; Fisioterapia Neurológica; Reabilitação; Lesão Neurológica; 

1. INTRODUÇÃO 

A reabilitação neurológica surgiu como uma resposta às consequências neurológicas provocadas pelos grandes conflitos armados do século XX, notadamente a Primeira Guerra Mundial (1914–1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Nesses períodos, o número de soldados acometidos por lesões neurológicas, como traumatismos cranioencefálicos, danos medulares e sequelas de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), aumentou significativamente, exigindo o desenvolvimento de estratégias terapêuticas voltadas à recuperação funcional e à reintegração desses indivíduos à sociedade (Miller, 2015; Johnson & Smith, 2018).  

Diante dessa demanda crescente, instituições militares e centros especializados passaram a criar métodos inovadores de tratamento, baseados na atuação conjunta de profissionais de diversas áreas, como medicina, fisioterapia, terapia ocupacional e neurociência. Nesse processo, destacaram-se figuras importantes como o neurologista britânico Sir Charles Symonds e a fisioterapeuta canadense Wilhelmine Wright, cujas propostas de estimulação motora e reeducação funcional representaram avanços significativos no cuidado a pacientes com déficits neurológicos (Thompson, 2012; Clark, 2017).  

Essas contribuições marcaram o início da consolidação da reabilitação neurológica como um campo multidisciplinar, que com o tempo extrapolou o contexto militar e passou a integrar os serviços de saúde civil. O progresso nas pesquisas neurocientíficas e a evolução das técnicas terapêuticas consolidaram essa área como essencial na reabilitação de pessoas com comprometimentos no sistema nervoso central e periférico (Anderson & Brown, 2020). 

Ao longo do século XX, os avanços nas áreas de neurociência, fisioterapia e medicina possibilitaram a consolidação de estratégias terapêuticas mais eficazes voltadas à reabilitação neurológica, criando as condições para o surgimento de métodos inovadores baseados em tecnologia (Dobkin, 2004; Langhorne, Coupland e Polgar, 2018). Dentro desse contexto, a reabilitação robótica começou a ser desenvolvida nas últimas décadas do século XX, com o objetivo de oferecer intervenções terapêuticas mais intensas, repetitivas e baseadas em evidências, capazes de promover neuroplasticidade e acelerar o processo de recuperação funcional em pacientes com déficits neurológicos (Lum et al., 2002; Reinkensmeyer e Bonato, 2016). Inicialmente adaptadas de tecnologias industriais, as primeiras aplicações da robótica na reabilitação buscavam complementar os métodos tradicionais, adicionando precisão, padronização e monitoramento contínuo aos movimentos executados durante a terapia (Reinkensmeyer e Volpe, 2009). 

Um marco importante ocorreu na década de 1990, O Massachusetts Institute of Technology (MIT) destacou-se como um dos principais pólos na criação de tecnologias voltadas à reabilitação robótica, especialmente com a apresentação do Rehabilitation Robotic System em 1995. Essa inovação trouxe à tona a importância de treinamentos robóticos que fossem intensivos, repetitivos e adaptados às necessidades individuais dos pacientes, elementos cruciais para a promoção da recuperação neurológica (KREBS et al., 2007). Durante esse período, destacaram-se tecnologias pioneiras, como o MIT-Manus, um robô projetado para a reabilitação dos membros superiores, e o exoesqueleto ReWalk, desenvolvido para auxiliar na mobilidade de pessoas com paralisia. 

A partir dos anos 2000, a tecnologia passou a ter um papel cada vez mais importante no campo da reabilitação. Novos equipamentos começaram a incorporar sensores de movimento e sistemas inteligentes capazes de se adaptar ao desempenho dos pacientes. A principal mudança ocorreu com a introdução da inteligência artificial (IA) e de algoritmos de aprendizado de máquina, que permitiram que os robôs utilizados nos tratamentos aprendessem com o comportamento do paciente e ajustassem automaticamente os exercícios de acordo com seu progresso. 

Essa evolução resultou em sessões de reabilitação mais eficientes e personalizadas. Em vez de uma abordagem genérica para todos os pacientes, os sistemas robóticos passaram a oferecer planos de tratamento sob medida, otimizando os resultados terapêuticos. Empresas como ReWalk Robotics e Ekso Bionics contribuíram para tornar esses dispositivos mais acessíveis e eficazes, especialmente para pessoas com paralisia dos membros inferiores, que passaram a ter a possibilidade real de voltar a caminhar com o auxílio de exoesqueletos robóticos (COLLINS et al., 2019). 

Outro fator que colaborou para a popularização da robótica na reabilitação foi a integração com a realidade virtual. Com o uso de cenários simulados, os pacientes passaram a realizar seus exercícios de maneira mais envolvente e motivadora. Além disso, os tratamentos se tornaram mais interativos e dinâmicos, melhorando o engajamento e a continuidade das terapias (LIPPIELLO et al., 2020). Alguns sistemas robóticos também foram adaptados para uso domiciliar, permitindo que os pacientes continuem suas sessões em casa, com conforto e segurança (PONS et al., 2017). 

No Brasil, a reabilitação robótica começou a ganhar espaço a partir dos anos 2010, especialmente em instituições privadas e universidades públicas que investiram no desenvolvimento de tecnologias nacionais com custos mais acessíveis. Em 2010, a Universidade de Taubaté (Unifesp) lançou o Projeto Exoesqueleto, que buscava oferecer uma alternativa brasileira mais econômica em relação aos equipamentos importados, visando possibilitar a recuperação da marcha em pacientes com lesões graves na medula espinhal (OLIVEIRA et al., 2012). 

Posteriormente, em 2015, a Universidade de Brasília (UnB) deu início ao desenvolvimento do exoesqueleto nacional ExoReabilita, com o propósito de criar um equipamento acessível para auxiliar na locomoção de pessoas com paralisia, ampliando o acesso à tecnologia para a população do país (TAVARES et al., 2015). Na mesma época, a Universidade de São Paulo (USP) destacou-se pelo desenvolvimento do Gait Trainer, um sistema voltado à reabilitação dos membros superiores que utiliza a estimulação elétrica funcional — técnica que ativa os músculos por meio de impulsos elétricos controlados (TAVARES et al., 2015). 

De forma paralela, o Hospital de Amor de Porto Velho incorporou em seu centro de reabilitação Dream da Amazônia um exoesqueleto robótico vestível destinado a auxiliar pacientes com dificuldades motoras causadas por lesões medulares, AVC e outras condições neurológicas. Esse equipamento oferece suporte controlado aos membros inferiores durante os exercícios de marcha, promovendo a recuperação de movimentos mais naturais e funcionais (COLLINS et al., 2006). Além disso, o sistema é capaz de realizar ajustes personalizados conforme as limitações do paciente, utilizando sensores inteligentes e fornecendo feedback em tempo real, o que estimula a neuroplasticidade e melhora o desempenho funcional (MARCHAL-CRESPO; REINKENSMEYER, 2009). Este exoesqueleto é considerado um dos mais avançados da América do Sul e está disponível para os pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), representando um avanço importante no acesso a tecnologias inovadoras na região Norte do país (RONDONIADINAMICA, 2023). 

Esses projetos foram potencializados por parcerias com empresas e centros de pesquisa, como a Inova Robotics, que desenvolveram tecnologias adequadas ao contexto brasileiro, considerando fatores como custos, manutenção e compatibilidade com o SUS. A cooperação entre o meio acadêmico e o setor privado contribuiu significativamente para o fortalecimento da robótica na área da saúde no Brasil. 

No decorrer da última parte da década de 2010, as tecnologias robóticas passaram a integrar recursos digitais mais avançados, como inteligência artificial e realidade virtual. Essas inovações possibilitaram a criação de sistemas que ajustam automaticamente os exercícios conforme o desempenho do paciente, tornando os tratamentos mais dinâmicos e eficazes. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) destacou-se nesse cenário, direcionando suas pesquisas para o desenvolvimento de dispositivos mais inteligentes, capazes de identificar as necessidades específicas de cada paciente e personalizar os treinamentos (FREITAS et al., 2021). 

2. METODOLOGIA 

2.1 Fontes de informação 

A presente revisão bibliográfica foi conduzida com o objetivo de reunir e analisar estudos que abordam a aplicação da robótica na reabilitação neurológica. As buscas foram realizadas entre abril e junho de 2025 nas bases de dados PubMed, SciELO, IEEE Xplore e Google Scholar. Foram incluídos artigos publicados entre os anos de 1997 e 2023, utilizando os seguintes descritores combinados com operadores booleanos: “Robótica”, “Fisioterapia Neurológica”, “Reabilitação” e “Lesão Neurológica”, em português, inglês e espanhol. 

2.2 Critérios de seleção dos estudos  

Foram incluídos artigos que abordavam diretamente o uso de tecnologia robótica aplicada à reabilitação de pacientes com lesões neurológicas, como acidentes vasculares encefálicos, lesões medulares e paralisias motoras. Foram considerados estudos com diferentes delineamentos metodológicos, desde ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas até estudos observacionais, revisões narrativas e relatos de experiência. 

Foram excluídos estudos que: 

  • Não abordavam a robótica diretamente no contexto da reabilitação neurológica; 
  • Tratavam exclusivamente de outras áreas da fisioterapia (cardiorrespiratória, ortopédica etc.); 
  • Não estavam disponíveis na íntegra; 
  • Estavam duplicados entre as bases ou publicações redundantes. 

Após triagem inicial por título e resumo, 25 artigos foram considerados potencialmente relevantes. Após a leitura completa e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 12 estudos foram selecionados para análise final. 

2.3 Avaliação da qualidade da informação 

A avaliação crítica dos artigos selecionados teve como finalidade identificar a qualidade metodológica e o nível de evidência científica disponíveis sobre a reabilitação robótica aplicada à fisioterapia neurológica. Para isso, foi utilizada a ferramenta Critical Appraisal Skills Programme (CASP), a qual oferece uma estrutura sistemática para análise da validade interna, da aplicabilidade clínica e do rigor metodológico dos estudos. Paralelamente, os artigos também foram classificados segundo os critérios de Nível de Evidência estabelecidos pelo Oxford Centre for Evidence-Based Medicine (OCEBM), permitindo a hierarquização das publicações conforme seu grau de confiabilidade, variando entre revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados (nível 1A) e relatos de experiência ou opiniões de especialistas (nível 5). A Tabela 1 apresenta de forma resumida os resultados dessa avaliação, evidenciando a heterogeneidade dos delineamentos metodológicos e a distribuição dos níveis de qualidade entre os estudos analisados.

Artigo (Autor/Ano) Tipo de Estudo Resumo da Avaliação CASP Nível de Evidência (Oxford) 
Andrade et al. (2022) Estudo descritivo Discussão biopsicossocial relevante, mas sem controle ou sistematização metodológica 
Batista et al. (2022) Relato de experiência  Protocolo bem descrito, mas sem grupo controle ou análise quantitativa rigorosa 
Costa et al (2022) Revisão sistemática  Estratégia de busca clara, análise crítica consistente dos estudos incluídos 1A 
Cruz e Silva (2022) Revisão narrativa Fundamentação adequada, mas sem critérios sistemáticos de seleção e análise 
Freitas (2022) Revisão narrativa Ampla abordagem teórica, mas ausência de metodologia sistemática 
Lo et al (2010) Ensaio clínico randomizado  RCT robusto com avaliação funcional clara e boa descrição metodológica 1B 
Mehrholz et al. (2018) Revisão sistemática / metanálise Ampla revisão quantitativa com critérios rigorosos e reprodutibilidade1A 
Pomares et al. (2011) Revisão técnica Discutiu aplicações tecnológicas, mas sem abordagem clínica nem análise sistemática 
Ronchi et al. (2023) Estudo observacional Estudo contextualizado, mas com limitações de amostragem e sem randomização 2B 
Schwartz et al. (2009) Ensaio clínico randomizado Estudo clínico comparativo bem estruturado com resultados quantitativos claros 1B 
Souza et al. (2013) Revisão de literatura Discussão clínica consistente, porém sem protocolo sistemático 
Veerbeek et al. (2017) Revisão sistemática / metanálise Revisão quantitativa com boa fundamentação metodológica e aplicabilidade prática 1A 

Com base nos critérios de seleção e na avaliação metodológica dos estudos descritos, foi possível identificar evidências relevantes acerca da aplicação da robótica na reabilitação neurológica. A seguir, são apresentados os principais resultados obtidos a partir da análise dos artigos selecionados, com foco nas intervenções empregadas, nos desfechos clínicos observados e nas contribuições das tecnologias robóticas para a recuperação funcional de pacientes com comprometimentos neurológicos. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO  

A busca realizada nas bases de dados PubMed, Embase e LILACS resultou em um total de 140 publicações. Na base PubMed, foram encontrados 101 artigos, dos quais 8 atenderam aos critérios de inclusão. Contudo, 3 destes foram excluídos: um por se tratar de uma revisão de ensaios clínicos, outro por utilizar exclusivamente pacientes com acidente vascular encefálico e um terceiro por apresentar apenas a proposta metodológica, sem resultados disponíveis. Na base Embase, 35 artigos foram identificados, com 5 selecionados após aplicação do filtro “controlled study”. Desses, 2 foram excluídos, sendo um por envolver apenas indivíduos saudáveis e outro por ter sido previamente citado na base PubMed. Por fim, na base LILACS foram localizados 4 estudos, nenhum dos quais foi selecionado, pois um abordava o perfil de marcha de pacientes com lesão medular e os demais três tratavam de intervenções com suspensão do peso corporal, sem o uso de assistência robótica. Assim, dos 140 artigos inicialmente encontrados, 8 foram selecionados para análise, enquanto 132 foram excluídos por não atenderem aos critérios estabelecidos (Tabela 2).

Base de DadosTotal de 
Artigos 
Encontrados
Artigos 
Selecionados 
(Critérios de 
Inclusão)
Artigos 
Excluídos
Motivos de 
Exclusão 
Principais
PubMed10183Revisão de 
ensaios 
clínicos; metodologia sem 
resultados
Embase3552Apenas indivíduos saudáveis; duplicação 
com base 
PubMed
LILACS404Perfil de marcha sem 
robótica; intervenção com suspensão de peso corporal sem robótica.
Total Geral14089 + outros excluídosExcluídos por critérios 
variados (não atendimento aos critérios gerais)

Os artigos incluídos na revisão foram os seguintes: 

  • Andrade et al. (2022) – Revista Lusíada de Educação, Psicologia e Saúde 
  • Batista et al. (2022) – Revista Univali 
  • Costa et al. (2022) – Research, Society and Development (RSD) 
  • Cruz e Silva (2022) – SNCT – Instituto Federal de Sergipe (IFS) 
  • Freitas (2022) – Repositório da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) 
  • Lo et al. (2010) – Robot-assisted therapy for long-term upper-limb impairment after stroke. JAMA 
  • Mehrholz et al. (2018) – Electromechanical-assisted training for walking after stroke 
  • Pomares et al. (2011) – Revista Latinoamericana de Tecnología Educativa (Redalyc) 
  • Ronchi et al. (2023) – Acta Fisiátrica (USP) 
  • Schwartz et al. (2009) – A randomized controlled trial of Lokomat® training versus treadmill training 
  • Souza et al. (2013) – Acta Fisiátrica (USP) 
  • Veerbeek et al. (2017) – Effects of robot-assisted therapy on gait after stroke: A systematic review and meta-analysis 

Pomares et al. (2011) exploraram o uso de sistemas robóticos interativos em ambientes educacionais e terapêuticos, com foco no potencial dessas tecnologias para estimular funções cognitivas e motoras, especialmente em idosos. Embora o estudo tenha uma abordagem mais voltada à tecnologia educacional, os autores destacaram que a robótica, ao oferecer interação dinâmica e feedback imediato, contribui positivamente para o engajamento do paciente e para a manutenção da atenção durante as tarefas. Esses aspectos são relevantes para contextos de reabilitação neurológica, onde a motivação e a constância dos estímulos são determinantes para o sucesso terapêutico. 

Souza et al. (2013) realizaram uma revisão de literatura com o objetivo de avaliar os efeitos da reabilitação robótica da marcha em pacientes com lesão medular. Os autores observaram que, embora existam limitações metodológicas nos estudos analisados, os dispositivos robóticos demonstraram potencial para promover melhorias significativas na velocidade da marcha, no equilíbrio e na independência funcional. A revisão também apontou a necessidade de padronização dos protocolos terapêuticos e de mais ensaios clínicos controlados que confirmem a eficácia e a aplicabilidade desses recursos na prática clínica. 

Schwartz et al. (2009) realizaram um ensaio clínico randomizado comparando o treinamento com o dispositivo Lokomat® ao uso da esteira convencional em pacientes com hemiparesia pós-AVC. Os resultados demonstraram que ambos os métodos promoveram melhora na marcha, porém o grupo que utilizou o Lokomat® apresentou ganhos mais significativos na simetria e no controle motor durante a locomoção. O estudo destacou que a terapia robótica pode oferecer estímulos mais consistentes e repetitivos, favorecendo a aprendizagem motora e a reabilitação funcional, especialmente em indivíduos com maior comprometimento neurológico. 

Lo et al. (2010) conduziram um estudo clínico para avaliar a eficácia da terapia assistida por robôs no tratamento de pacientes com comprometimentos motores prolongados no membro superior após acidente vascular cerebral. Os resultados indicaram que a intervenção robótica proporcionou melhorias motoras relevantes, comparáveis às obtidas com terapias tradicionais intensivas. Os autores destacaram que a robótica representa uma alternativa promissora para ampliar o acesso e a padronização dos cuidados em reabilitação, especialmente em contextos de longo prazo, embora ressaltem a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão dos benefícios a longo prazo. 

Veerbeek et al. (2017), por meio de uma revisão sistemática com meta-análise, avaliaram os efeitos da terapia robótica na recuperação da marcha em pacientes pós AVC. Os autores identificaram que a intervenção com dispositivos robóticos promoveu avanços significativos na capacidade de caminhar, sobretudo em indivíduos com limitações funcionais graves e nos estágios iniciais da reabilitação. A análise também sugeriu que a combinação da robótica com fisioterapia convencional potencializa os resultados clínicos, reforçando a importância de estratégias terapêuticas integradas e intensivas no processo de reabilitação neurológica. 

Mehrholz et al. (2018) investigaram a eficácia do treinamento assistido por dispositivos eletromecânicos na reabilitação da marcha de pacientes pós-acidente vascular cerebral (AVC). Os autores observaram que o uso desses recursos promoveu uma melhora significativa na capacidade de deambulação, especialmente quando associado à fisioterapia convencional. O estudo ressaltou que a intervenção com tecnologia robótica pode acelerar a recuperação funcional, particularmente em indivíduos com mobilidade severamente comprometida. Além disso, os pesquisadores destacaram a importância de protocolos individualizados e da repetição intensiva dos movimentos, elementos fundamentais para a neuroplasticidade e a reaquisição de habilidades motoras após lesão neurológica. Batista et al. (2022) investigaram o impacto da utilização de dispositivos robóticos na reabilitação de pacientes com comprometimentos neuromotores. O estudo avaliou diferentes protocolos terapêuticos envolvendo a integração da tecnologia robótica com a fisioterapia convencional. Os resultados demonstraram melhora significativa na adesão dos pacientes ao tratamento, aumento da motivação durante as sessões e redução da fadiga do terapeuta, embora não tenham sido observadas diferenças estatísticas expressivas na recuperação motora entre os métodos avaliados. A pesquisa destacou ainda a importância da capacitação profissional para otimizar o uso desses equipamentos e maximizar os benefícios clínicos. 

Costa et al. (2022) realizaram uma revisão sistemática focada na eficácia da reabilitação robótica para pacientes com traumatismo cranioencefálico. Os autores destacaram que a utilização de dispositivos robóticos promoveu melhorias significativas na reorganização neural e na recuperação dos padrões motores, atribuídas principalmente à intensidade e repetição dos exercícios personalizados. Apesar da heterogeneidade dos estudos analisados, os resultados indicaram que a terapia robótica pode potencializar os processos de neuroplasticidade, contribuindo para a recuperação funcional dos pacientes. 

Freitas (2022) desenvolveu uma pesquisa voltada à aplicação de exoesqueletos robóticos no processo de reabilitação de pacientes com lesão medular. O estudo evidenciou que o uso desses dispositivos contribui para melhorias na marcha, no controle motor e na postura, além de favorecer a motivação dos pacientes ao longo do tratamento. A autora também destacou a relevância da acessibilidade tecnológica no contexto brasileiro, sugerindo que a adoção de equipamentos nacionais com custos reduzidos pode ampliar o alcance da terapia robótica no sistema público de saúde. 

Andrade et al. (2022) abordaram os impactos biopsicossociais do uso da robótica na reabilitação de pacientes com déficits neurológicos. O estudo destacou que, além dos ganhos motores proporcionados pelos dispositivos robóticos, houve melhora na autoestima, no engajamento e na percepção de autonomia dos pacientes durante o processo terapêutico. Os autores reforçaram que a integração entre tecnologia e cuidado humanizado é fundamental para promover uma recuperação mais eficaz, considerando tanto os aspectos físicos quanto os emocionais do indivíduo em reabilitação. 

Cruz e Silva (2022) realizaram uma revisão narrativa com o objetivo de analisar a aplicação da robótica como ferramenta terapêutica em intervenções motoras de alta complexidade. O estudo evidenciou que dispositivos robóticos, especialmente quando associados a sensores inteligentes e algoritmos de controle, são capazes de adaptar os exercícios às respostas fisiológicas dos pacientes em tempo real. Os autores destacaram ainda que a robótica oferece maior precisão e repetitividade nos movimentos, fatores essenciais para estimular a neuroplasticidade e otimizar os resultados da reabilitação. 

Ronchi et al. (2023) investigaram os efeitos do uso do sistema robótico Lokomat® no controle do tronco e no equilíbrio de pacientes com sequelas neurológicas. O estudo evidenciou que a intervenção promoveu melhorias significativas na estabilidade postural e na resistência muscular após um programa contínuo de reabilitação assistida por robótica. Os autores ressaltaram a importância da personalização dos parâmetros do equipamento para maximizar os ganhos funcionais e facilitar a reintegração dos pacientes às atividades diárias. 

A análise dos estudos incluídos nesta revisão evidencia que a reabilitação robótica tem se mostrado uma abordagem relevante na recuperação funcional de pacientes com alterações neurológicas, sobretudo por proporcionar intervenções com alta repetibilidade, controle preciso dos movimentos e possibilidade de adaptação às necessidades individuais. Tais características têm favorecido a indução da neuroplasticidade e a melhoria da performance motora, especialmente na marcha.

Os ensaios clínicos selecionados abordaram diferentes estratégias de aplicação da robótica, variando quanto ao tipo de equipamento, protocolo utilizado, tempo de intervenção e tipo de população atendida.

A Tabela 3 resume essas características principais, comparando os grupos experimentais com assistência robótica aos grupos controle que seguiram terapias convencionais.

Autor(es) Ano Grupo 
Robótico (Intervenção) 
Grupo 
Controle   
Duração da Intervençã o Conclusão 
Principal 
Lo et al. 2010 Terapia robótica para membro superior Terapia convencional para membro superior 12 semanas (3 sessões/se m) Ambos os grupos melhoraram ; a robótica não foi superior, mas apresentou boa adesão. 
Schwartz et al. 2009 Treinamento com Lokomat® Marcha em esteira convencional 6 semanas (3 sessões/se m) Benefícios semelhante s, mas a robótica favoreceu maior engajamento em pacientes graves.
Mehrholz et al. 2018 Reabilitação robótica associada à fisioterapia Fisioterapia convencional 4 a 10 semanas Resultados superiores com robôs, especialmente no início do processo de reabilitação. 
Veerbeek et al. 2017 Diversos robôs de assistência à marcha Intervençõe s convencionais Metaanálise (22 estudos) Melhora funcional mais expressiva com uso precoce da robótica. 
Ronchi et al. 2023 Exoesqueleto robótico Treinamento com barras paralelas 8 semanas (2 sessões/se m) A robótica favoreceu ganhos funcionais na marcha em indivíduos com lesão medular. 
Souza et al. 2013 Marcha assistida por robô com biofeedback Marcha com supervisão de fisioterapeu ta 4 semanas 
(5 sessões/se m) 
Houve melhora da simetria e do padrão de marcha com o uso da tecnologia. 

De forma geral, observa-se que os dispositivos robóticos demonstraram maior efetividade quando integrados à fisioterapia convencional, principalmente em fases iniciais da reabilitação. Isso é particularmente evidente nos estudos de Mehrholz et al. (2018) e Veerbeek et al. (2017), que destacam a importância da intensidade e da padronização do treino para resultados clínicos mais eficazes. Já estudos como os de Ronchi et al. (2023) e Souza et al. (2013) enfatizam ganhos funcionais na marcha, reforçando o papel da robótica como coadjuvante terapêutico em casos neurológicos de maior complexidade. 

Além disso, os resultados indicam que a robótica pode ser útil não apenas pelo aspecto biomecânico, mas também por fatores motivacionais, como visto em Schwartz et al. (2009), em que o engajamento dos pacientes foi maior durante o uso de sistemas automatizados. 

Entretanto, algumas limitações persistem, como a curta duração dos protocolos, amostras pequenas e a variabilidade nos dispositivos utilizados. Além disso, o alto custo e a restrição de acesso em ambientes públicos de saúde ainda são desafios a serem superados. 

No contexto nacional, estudos como os de Batista et al. (2022), Cruz e Silva (2022) e Andrade et al. (2022) ressaltam a importância da ampliação do acesso às tecnologias assistivas e da capacitação dos profissionais para que a robótica possa ser integrada de forma efetiva e ética à prática clínica. 

Dessa maneira, os dados analisados apontam que, apesar dos desafios, a robótica aplicada à fisioterapia neurológica representa um avanço importante, com potencial para ampliar a funcionalidade, a independência e a qualidade de vida dos pacientes acometidos por lesões neurológicas. 

4. CONCLUSÃO 

Os estudos analisados nesta revisão evidenciam que a reabilitação robótica constitui uma ferramenta terapêutica promissora no tratamento de disfunções neurológicas, promovendo ganhos funcionais relevantes por meio de intervenções intensivas, padronizadas e tecnologicamente assistidas. Os dispositivos robóticos se destacam por favorecerem a repetição controlada de movimentos, a personalização dos protocolos terapêuticos e o estímulo à neuroplasticidade, contribuindo para a recuperação motora e a melhoria da autonomia dos pacientes. Ressalta-se, contudo, que ainda há a necessidade de mais estudos e pesquisas que possibilitem a padronização dos tratamentos e das formas de demonstração de seus resultados. 

A integração dessas tecnologias a ambientes clínicos, tanto em instituições públicas quanto privadas, como demonstrado por experiências nacionais e internacionais, amplia o escopo da fisioterapia neurológica e fortalece abordagens centradas no paciente. Entretanto, ainda são necessários avanços relacionados à padronização de protocolos, à formação profissional e à viabilização do acesso a essas tecnologias, especialmente em contextos com recursos limitados. 

Conclui-se, portanto, que a reabilitação robótica representa um avanço significativo na prática fisioterapêutica, com potencial de transformar o cuidado em neurologia ao combinar inovação tecnológica, evidência científica e humanização no processo de reabilitação. Além disso, reforça-se a importância de novos estudos que contribuam para a uniformização de condutas terapêuticas e para a consolidação de evidências científicas mais robustas. 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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