USO DA OXIGENOTERAPIA EM PACIENTES PEDIÁTRICOS HOSPITALIZADOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Thaís Barbosa de Oliveira1,
Andressa Hosni2,
Felipe Figueiredo Moreira3,
Ana Carolina Dorigoni Bini4

1- Pós-Graduada em Fisioterapia pediátrica, Faculdades Pequeno Príncipe – FPP, PR, Brasil.
2- Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual do Centro-Oeste, PR, Brasil.
3- Discente em Fisioterapia, Universidade Estadual do Centro-Oeste, PR, Brasil.
4- Docente do curso de Fisioterapia, Universidade Estadual do Centro-Oeste,PR, Brasil.

RESUMO

Introdução: A oxigenoterapia consiste no tratamento da hipóxia por meio da inalação de oxigênio, a uma pressão maior que a do ar ambiente. As formas de administração são variadas e a escolha é determinada pelo objetivo a ser alcançado podendo se utilizar cateteres nasais, cânulas nasais, máscaras nasais, capuz e oxitenda. Objetivo: O objetivo foi realizar uma revisão sistemática sobre os recursos e uso de oxigenoterapia em pacientes pediátricos hospitalizados. Metodologia: Trata-se de revisão sistemática elaborada através do protocolo PRISMA sobre o uso de oxigenoterapia em pacientes pediátricos hospitalizados através das bases de dados LILACS, Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), PUBMED e SciELO. Resultados: nesta revisão foram utilizados 15 artigos os quais foram selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade. Destes artigos: 13 são artigos originais, 1 estudo de caso e 1 relato de caso. Conclusão: a suplementação de oxigênio é um método seguro e eficaz de tratamento e deve ser algo controlado, prescrito e monitorado adequadamente.

Palavras-chave: Hospital; Oxigênio; Criança.

INTRODUÇÃO

O oxigênio teve seu caráter vital reconhecido desde a sua descoberta, realizada de forma independente por Schelee, em 1772, e por Pristly, em 1774. Já em 1780, foi utilizado com propósitos médicos por Chaussier, que empregou o oxigênio em recém-nascidos com dificuldade respiratória (CAMARGO, 2008).

A oxigenoterapia consiste no tratamento da hipóxia por meio da inalação de oxigênio, a uma pressão maior que a do ar ambiente, o que facilita a troca gasosa e reduz o trabalho da respiração. O oxigênio usado deve ser umidificado e aquecido. A escolha da forma de administração dependerá, principalmente, da eficiência do sistema a ser empregado. Cateteres nasais, são de fácil instalação, proporcionam uma fração inspirada de oxigênio (FiO2) entre 24 e 40%, porém, se deslocam facilmente. O uso de máscaras nasais também é simples e fornece FiO2 de até 60%; contudo, apresenta desvantagens como difícil fixação, interferência na alimentação, expectoração e aspiração de vias aéreas. O capuz para recém-nascidos e a oxitenda para lactentes e pré-escolares proporcionam, respectivamente, FiO2 de até 100 e 60%. Ambos devem usar gás aquecido e têm, como maiores problemas, o ruído em seu interior e a dificuldade com a alimentação e com a aspiração de vias aéreas, além do isolamento em relação ao ambiente imposto sobre a criança (CAMARGO, 2008).

A oxigenoterapia é classificada em dois tipos principais. A primeira, definido como baixo fluxo no qual o paciente recebe um determinado fluxo de oxigênio pelo dispositivo, e também inspira ar ambiente, tornando a FiO2 variável; os dispositivos mais utilizados nesse caso são: a cânula nasal tipo óculos, cateter nasofaríngeo, máscara de reinalação parcial, máscara de não-reinalação. Por sua vez, no Sistema de Alto Fluxo, o dispositivo oferece oxigênio em quantidade superior ao inalado em ar ambiente pelo paciente deixando a FiO2 fixa; o dispositivo mais comum é a Máscara de Venturi (MARQUES, 2017).

A suplementação de oxigênio por tempo prolongado melhora o prognóstico e a sobrevida de pacientes com hipoxemia crônica. Atualmente, com os avanços obtidos na terapia intensiva neonatal e pediátrica, a sobrevida de crianças com prematuridade extrema vem aumentando, bem como a daquelas com insuficiência respiratória de causas diversas, como bronquiolite viral aguda, bronquiolite obliterante e fibrose cística, que determinam, muitas vezes, a necessidade de oxigênio suplementar por períodos prolongados (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2000).

As infecções do trato respiratório inferior, principalmente as pneumonias são a principal causa de morte em crianças menores de cinco anos de idade nos países em desenvolvimento, sendo que, no mundo, são responsáveis pela morte anual de mais de 4 milhões de crianças nessa faixa etária. No Brasil, em 2002, tais doenças foram responsáveis por 3.725 óbitos (5%) de um total de 69.093 mortes em crianças menores de cinco anos (CAMARGO, 2008).

A prescrição de oxigénio deve respeitar indicações definidas e incluir especificações da dose, sistema de administração, duração da terapia e monitorização (NEVES, 2012). Contudo como qualquer medicamento, quando administrado de forma indevida, pode ser tóxico e ter sérias consequências. A toxicidade, que depende de fatores como pressão absoluta de oxigênio oferecido, duração da exposição e sensibilidade individual, e a maior limitação é a sua administração (CAMARGO, 2008).

Dentre os efeitos colaterais do uso de oxigênio, observam se: retinopatia da prematuridade, doença pulmonar crônica e displasia broncopulmonar em prematuros, atelectasia por altas concentrações de oxigênio e dano epitelial pulmonar devido ao estresse oxidativo. A toxicidade do oxigênio pode causar traqueobronquite, depressão da atividade mucociliar, náuseas, anorexia e cefaleia – situações reversíveis com a suspensão da oxigenoterapia. Por outro lado, a saturação muito baixa de oxigênio pode resultar em aumento da resistência pulmonar, limitação do crescimento somático e morte súbita em crianças com doença pulmonar crônica (HAY, 2000).

Reconhece-se que o oxigênio não é prescrito adequadamente pelos médicos e, em muitos países, a sua prescrição e utilização demonstraram consistentemente uma prática de pouca qualidade (O‘DRISCOLL, 2008). Por isso é imprescindível o manuseio e a monitoração adequada destes dispositivos pela equipe multiprofissional (PEREIRA, 2012).

Tendo em vista os recursos e o uso de oxigenoterapia em pacientes pediátricos hospitalizados se apresenta promissora tratamento da hipóxia, buscamos reunir estudos sobre o assunto, verificando a eficiência do método em diversas patologias.

METODOLOGIA

Trata-se de revisão sistemática elaborada através do protocolo PRISMA (Galvão et al., 2015) (Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-análises). As publicações investigadas foram referente aos últimos 10 anos, através das bases de dados LILACS, Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), PUBMED e SciELO, de forma totalmente independente. A identificação do tema baseou-se no uso da oxigenoterapia em pacientes pediátricos hospitalizados.

As palavras-chave usadas em várias combinações foram: oxigenoterapia, pediatria e hospitalização, limitando a pesquisa às línguas inglesa, espanhola e portuguesa.

Os critérios de inclusão foram o uso de oxigênio em crianças com idade de 0 a 10 anos, que foram hospitalizados. Foram excluídos trabalhos com ventilação mecânica invasiva (VMI), uso do CPAP, crianças com idade superior a 10 anos.

O próximo passo a partir dos artigos selecionados teve suas metodologias, resultados, discussões e conclusões analisados e discutidos, apresentada a revisão/síntese do conteúdo abordado.

Foram encontrados 1.765 artigos. De acordo com os critérios de inclusão, 15 artigos foram selecionados. Com a finalidade de uma maior compreensão da metodologia escolhida, a seguir apresenta-se de modo sistemático cada etapa da Revisão, utilizada para a elaboração deste estudo (Figura 1).

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RESULTADOS

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DISCUSSÃO

No presente estudo foram encontrados 15 artigos sobre o uso da oxigenoterapia em crianças, sendo 9 deles em pacientes com bronquiolite, 3 em infecção respiratória aguda, 1 em relação a utilização de oxigênio em ressuscitação de neonatos, 1 sobre atelectasia pós extubação e 1 em relação ao uso de oxigênio em pós-operatório cardíaco.

Tejera et al. (2013) em seu estudo envolvendo o tratamento com oxigenoterapia de alto fluxo em pacientes com bronquiolite e insuficiência respiratória moderada observaram êxito do tratamento utilizado em 78% dos casos com diminuição do escore de Tal e da frequência respiratória, além de que o tratamento foi bem tolerado pelos pacientes e pôde-se manter a alimentação em todos os casos.

De acordo com Sochet et. al (2017) pacientes com bronquiolite durante o uso de cânula nasal de alto fluxo toleram o procedimento de nutrição enteral; as interrupções nutricionais em 9,1% dos casos foram resultantes de taquipnéia e não devido a êmese, aspiração ou intolerância à alimentação; concluíram que a retenção nutricional pode ser mais prejudicial à criança levando a um maior tempo de internação hospitalar.

Já no estudo de Wegner et al. (2015) o tratamento com cânula nasal de alto fluxo em pacientes lactentes com enfermidades respiratórias (bronquiolite, pneumonia, apneia, entre outros) mostrou-se eficaz em 70,6% dos casos, tendo fracasso somente nos resultados referentes ao pCO2 inicial ≥ 55 mmHg que pela regressão logística mostrou haver uma conexão significativa para prever a falha do tratamento; de forma geral a aplicação da técnica foi considerada segura e simples e requer cuidado habitual como o das cânulas nasais convencionais.

No estudo de Mayfield et al. (2014) ao tratarem pacientes com bronquiolite nas alas de enfermaria pediátrica com cânula nasal de alto fluxo constataram que os pacientes tratados foram quatro vezes menos propensos a terem admissão em uma unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP); os pacientes que não responderam ao tratamento e que a condição exigia a admissão em UTIP puderam ser identificados pelo monitoramento da frequência cardíaca e respiratória.

O uso da cânula nasal de alto fluxo umidificada e aquecida em comparação ao uso de solução salina hipertônica em pacientes com bronquiolite não foi eficaz de acordo com Campaña et al. (2014); o tratamento não proporcionou melhora no sofrimento respiratório, índices de conforto e duração da internação hospitalar e também na quantidade de admissões na unidade de cuidados intensivos pediátricos.

CONCLUSÃO

A suplementação de oxigênio é um método seguro e eficaz de tratamento e deve ser algo controlado, prescrito e monitorado adequadamente, porém o seu uso indiscriminado pode levar à consequências ao indivíduo. Quando utilizado de forma correta dosagem e administração podem além de melhorar a condição fisiológica do paciente, diminuir o seu período de internação e evitar complicações e admissões à unidades de cuidados intensivos.

REFERÊNCIAS

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