UMA REFLEXÃO PROFUNDA SOBRE A JORNADA DA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

A DEEP REFLECTION ON THE JOURNEY OF SUICIDE PREVENTION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11479638


Jonys Durso Junior; Larissa Viana de Paula; Rodrigo Marcolino Medeiros; Professor/orientador: Robson Luís Araújo.


Resumo

Este artigo explora a prevenção do suicídio, usando o mito de Sísifo como metáfora para a luta contínua contra os desafios do suicídio e o modelo clínico de atendimento de crises suicidas de Neury Botega em “Crise Suicida: Avaliação e Manejo” (Botega, 2015). A análise fundamentase na abordagem clínica do livro, examinando atitudes históricas, magnitude do fenômeno, teorias científicas, fatores de risco e proteção, transtornos mentais, avaliação de pacientes, psicoterapia de crise, cuidados e aspectos legais.

A evolução histórica do entendimento sobre o suicídio reflete a busca incessante de Sísifo. Antigamente, o suicídio era visto como pecado ou crime (Botega, 2015, p. 36). A magnitude do fenômeno no Brasil destaca a necessidade de um olhar crítico sobre as estatísticas, comparando-se ao esforço contínuo de Sísifo (OMS, 2014). As teorias científicas no campo da psicologia oferecem uma narrativa rica, semelhante ao mito de Sísifo na perspectiva filosófica de Camus (Camus, 1942).

O exame dos fatores de risco e proteção adiciona uma dimensão prática, ressoando com a atenção meticulosa de Sísifo à sua pedra (Botega, 2015, p. 84). A avaliação de pacientes é comparada à abordagem minuciosa de Sísifo, destacando a necessidade de compreender as nuances da crise suicida (Botega, 2015). A psicoterapia de crise sublinha a importância do diálogo e da adaptação (Botega, 2015). Cuidados, estabilidade do paciente e considerações legais são entrelaçados com as reflexões de Sísifo sobre controle e autonomia (Botega, 2015, p. 154).

A vivência prática em situações de crise reforça a importância da abordagem humanizada e do estabelecimento de uma rede de apoio eficaz. A prevenção do suicídio exige flexibilidade, resiliência e um entendimento profundo das necessidades individuais e comunitárias. Este artigo propõe uma imersão na prevenção do suicídio, onde a metáfora de Sísifo enfatiza a necessidade de perseverança, colaboração e apoio mútuo para estratégias eficazes. 

Palavras-chave: prevenção do suicídio, mito de Sísifo, fatores de risco, transtornos mentais, psicoterapia de crise.

Abstract

This article explores suicide prevention, using the myth of Sisyphus as a metaphor for the continuous struggle against the challenges of suicide and Neury Botega’s clinical model for handling suicidal crises in “Crise Suicida: Avaliação e Manejo” (Botega, 2015). The analysis is grounded in the clinical approach outlined in the book, examining historical attitudes, the magnitude of the phenomenon, scientific theories, risk and protective factors, mental disorders, patient evaluation, crisis psychotherapy, care, and legal aspects.

The historical evolution of the understanding of suicide reflects Sisyphus’s relentless pursuit. In the past, suicide was seen as a sin or crime (Botega, 2015, p. 36). The magnitude of the phenomenon in Brazil highlights the need for a critical look at statistics, comparable to Sisyphus’s continuous effort (WHO, 2014). Scientific theories in psychology offer a rich narrative, akin to the myth of Sisyphus through the philosophical lens of Camus (Camus, 1942).

The examination of risk and protective factors adds a practical dimension, resonating with Sisyphus’s meticulous attention to his stone (Botega, 2015, p. 84). Patient evaluation is compared to Sisyphus’s thorough approach, emphasizing the need to understand the nuances of the suicidal crisis (Botega, 2015). Crisis psychotherapy underscores the importance of dialogue and adaptation (Botega, 2015). Care, patient stability, and legal considerations are intertwined with Sisyphus’s reflections on control and autonomy (Botega, 2015, p. 154).

Practical experience in crisis situations reinforces the importance of a humanized approach and establishing an effective support network. Suicide prevention requires flexibility, resilience, and a deep understanding of individual and community needs. This article proposes an immersion in suicide prevention, where the metaphor of Sisyphus emphasizes the need for perseverance, collaboration, and mutual support for effective strategies.

Keywords: suicide prevention, myth of Sisyphus, risk factors, mental disorders, crisis psychotherapy.

Introdução 

A jornada pela prevenção do suicídio, assim como a lenda grega de Sísifo, é marcada por desafios árduos e aparentemente intermináveis. Este artigo inicia com uma reflexão sobre o mito de Sísifo, cuja condenação pelos deuses ecoa a persistência necessária na abordagem da prevenção do suicídio (Camus, 1942). Essa metáfora rica em significado serve como ponto de partida para explorar uma abordagem clínica detalhada, extraída do livro “Crise Suicida: Avaliação e Manejo” de Neury Botega (Botega, 2015).

Ao estabelecer paralelos entre Sísifo e os esforços incessantes na prevenção do suicídio, busca-se não apenas reconhecer os desafios, mas também destacar a importância da resiliência, perseverança e colaboração nesta jornada (Botega, 2015). O livro em foco delineia áreas cruciais de análise, proporcionando uma base sólida para a compreensão da crise suicida, desde as atitudes históricas até as estratégias contemporâneas de prevenção.

A complexidade dessa questão exige não apenas uma abordagem clínica, mas também uma compreensão profunda das nuances psicológicas, sociais e culturais envolvidas. Nesse contexto, Sísifo torna-se um guia metafórico, destacando a incessante busca por soluções eficazes, assim como ele persiste em rolar a pedra montanha acima (Camus, 1942). Este artigo pretende mergulhar nas profundezas dessa dualidade, explorando as interseções entre o mito de Sísifo e a prática clínica na prevenção do suicídio. A análise é guiada pela busca constante por estratégias inovadoras, estudos de caso pertinentes e abordagens holísticas que, embora possam não eliminar totalmente o desafio, oferecem caminhos promissores para atenuar seu impacto e, consequentemente, salvar vidas (Botega, 2015).

A vivência prática ao lidar diretamente com situações de crise oferece uma perspectiva única sobre a aplicabilidade das teorias e abordagens discutidas. “O trabalho em campo mostrou a importância da abordagem humanizada e do estabelecimento de uma rede de apoio eficaz para prevenir o suicídio”. O contato direto com indivíduos em risco reforça a necessidade de estratégias personalizadas e de uma avaliação contínua e adaptativa. Essas percepções reforçam a ideia de que, assim como Sísifo deve adaptar sua abordagem continuamente, a prevenção do suicídio exige flexibilidade, resiliência e um entendimento profundo das necessidades individuais e comunitárias.

Ao adentrar a complexidade dessa temática, esta introdução estabelece as bases para uma discussão abrangente e reflexiva, buscando iluminar não apenas os obstáculos, mas também as oportunidades de transformar a narrativa da prevenção do suicídio.

1. Atitudes ao Longo da História

A análise das atitudes ao longo da história sobre o suicídio revela uma evolução significativa na forma como o fenômeno é compreendido e abordado. Antigamente, o suicídio era frequentemente visto através de lentes moralistas e religiosas, sendo tratado como um pecado ou crime. “Na Grécia antiga, por exemplo, havia uma ambivalência: enquanto algumas cidades-estados, como Esparta, viam o suicídio em certas circunstâncias como um ato de honra, outras o condenavam severamente” (Botega, 2015, p. 36). Com o advento do cristianismo, a condenação moral do suicídio se intensificou, sendo considerado um pecado grave.

Na Idade Média, essa visão moralista predominou, e o suicídio era frequentemente punido postumamente, com o corpo do suicida sendo profanado e seus bens confiscados. No entanto, a Era da Razão e o Iluminismo trouxeram novas perspectivas, com filósofos como David Hume argumentando contra a condenação moral do suicídio. No século XX, a abordagem científica começou a ganhar força, com o suicídio sendo entendido cada vez mais como um problema de saúde mental, influenciado por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais (Botega, 2015).

Jose Manoel Bertolote (2012) aponta que “a compreensão histórica do suicídio evoluiu significativamente, passando de um tabu moral para um problema de saúde pública” (Bertolote, 2012). Essa mudança reflete a luta contínua da humanidade para compreender e abordar um fenômeno complexo e multifacetado. Assim como Sísifo persiste em sua tarefa interminável, a sociedade continua a buscar maneiras mais compreensivas e eficazes de lidar com o suicídio (Camus, 1942). O entendimento histórico enriquece a abordagem contemporânea, proporcionando uma base sólida para intervenções eficazes.

Em nossa prática enquanto estagiários, pode se perceber a luta diária dos pacientes contra os pensamentos suicidas, semelhante à jornada de Sísifo descrita por Camus (1942).

Notamos que a persistência e a resiliência são vitais tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde. Percebo que o trabalho no campo de estágio exige uma compreensão profunda e empática das dores e desafios enfrentados pelos pacientes, assim como Sísifo enfrenta sua pedra interminável.

2. Magnitude do Fenômeno Suicídio

A magnitude do fenômeno suicídio é alarmante, especialmente no contexto brasileiro. O Brasil é um dos países com maiores índices de suicídio na América Latina, e as estatísticas revelam uma complexidade regional significativa. “Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil registra cerca de 14 mil suicídios por ano, sendo a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos” (OMS, 2014).

Comparar essa realidade à rotação constante da pedra de Sísifo ressalta o esforço contínuo necessário para compreender e enfrentar essa questão. As taxas de suicídio variam amplamente entre diferentes regiões do Brasil, refletindo disparidades socioeconômicas, culturais e de acesso a serviços de saúde mental. O fenômeno é particularmente agudo em áreas rurais e comunidades indígenas, onde o acesso a apoio psicológico é limitado (OMS, 2014).

A análise da magnitude do suicídio envolve não apenas a compreensão das estatísticas, mas também a exploração das narrativas individuais e comunitárias que contribuem para esses números. Isso inclui fatores como desemprego, desigualdade social, violência doméstica e abuso de substâncias, que frequentemente atuam como gatilhos para comportamentos suicidas (Botega, 2015).

Assim como Sísifo enfrenta repetidamente a subida da montanha, a sociedade deve continuamente enfrentar a tarefa de analisar, compreender e desenvolver estratégias eficazes para reduzir as taxas de suicídio. Jose Manoel Bertolote enfatiza que “é crucial abordar os determinantes sociais e econômicos do suicídio para efetivamente reduzir sua incidência” (Bertolote, 2012). Isso requer uma abordagem multifacetada, que vá além das intervenções clínicas para incluir políticas públicas, educação e suporte comunitário (OMS, 2014). O trabalho prático ressalta a importância de entender essas disparidades regionais para desenvolver estratégias de intervenção mais específicas e eficazes.

3. Teorias Científicas no Campo da Psicologia

As teorias científicas no campo da psicologia oferecem diversas perspectivas sobre as causas e a prevenção do suicídio. “A teoria do estresse-diátese, por exemplo, sugere que o suicídio resulta da interação entre vulnerabilidades individuais (como predisposições genéticas e traumas passados) e fatores estressantes atuais (como perda de emprego ou relacionamento)” (Botega, 2015). Já a teoria da desesperança de Aaron Beck enfatiza o papel central dos pensamentos negativos e da desesperança no desenvolvimento de ideação suicida (Beck, 1974).

A teoria da mente intersubjetiva de Thomas Joiner (2005) propõe que o suicídio ocorre quando os indivíduos experimentam uma combinação de dor psicológica intensa, sensação de não pertencimento e percepção de ser um fardo para os outros. Esses sentimentos podem levar ao desejo de morrer, especialmente se a pessoa desenvolve a capacidade de superar o instinto de autopreservação através de experiências com dor ou práticas auto lesivas (Joiner, 2005).

Jose Manoel Bertolote (2012) também defende uma abordagem multidisciplinar e abrangente na prevenção do suicídio, que inclui fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais, conforme discutido neste artigo. Ele argumenta que a prevenção do suicídio deve envolver uma ampla gama de intervenções, desde o tratamento de transtornos mentais até a implementação de políticas públicas eficazes. Bertolote reconhece a importância de uma compreensão holística e integradora das várias dimensões que influenciam o comportamento suicida, alinhando-se assim com a abordagem proposta no artigo (Bertolote, 2012). Integrar essas múltiplas perspectivas é fundamental para uma prática clínica eficaz.

Em campo lidamos com pacientes que apresentavam sentimentos de não pertencimento e de serem um fardo, como descrito por Joiner (2005). A vivência prática mostrou que é essencial abordar esses sentimentos de forma direta e empática, oferecendo um ambiente de apoio e segurança. A teoria de Joiner se refletiu na necessidade de intervenções que reforcem o senso de pertencimento e propósito dos pacientes, mostrando a profundidade e a complexidade do trabalho no campo de estágio.

4. Fatores de Risco e Proteção

A identificação de fatores de risco e proteção é essencial na prevenção do suicídio. Fatores de risco incluem histórico familiar de suicídio, transtornos mentais (como depressão e esquizofrenia), abuso de substâncias, isolamento social e eventos traumáticos recentes. Esses fatores aumentam a vulnerabilidade do indivíduo, colocando-o em maior risco de comportamento suicida (Botega, 2015).

Por outro lado, fatores de proteção, como suporte social forte, habilidades de enfrentamento eficazes, acesso a cuidados de saúde mental e um senso de propósito ou significado na vida, podem ajudar a mitigar esses riscos. Programas de prevenção que promovem a resiliência e oferecem apoio emocional são cruciais para reduzir as taxas de suicídio (Botega, 2015).

Jose Manoel Bertolote (2012) destaca a importância de um equilíbrio entre fatores de risco e de proteção, afirmando que “intervenções eficazes devem focar tanto na redução dos fatores de risco quanto no fortalecimento dos fatores de proteção” (Bertolote, 2012). A analogia com Sísifo é evidente aqui: assim como ele deve constantemente ajustar sua abordagem para lidar com sua tarefa interminável, a prevenção do suicídio requer uma avaliação contínua e adaptativa dos fatores de risco e proteção. Isso implica não apenas intervenções clínicas, mas também esforços comunitários e políticas públicas que promovam um ambiente saudável e de suporte (Camus, 1942). Fortalecer redes de apoio comunitário tem se mostrado um fator crucial de proteção.

Durante o estágio, nos deparamos com a necessidade de equilibrar fatores de risco e de proteção, conforme discutido por Bertolote (2012). Percebemos que a implementação de intervenções multidisciplinares, que incluem suporte social e habilidades de enfrentamento, é fundamental para a prevenção eficaz do suicídio. A vivência prática nos mostrou que a teoria se concretiza na necessidade de um olhar atento e contínuo para os pacientes em risco.

5. Transtornos Mentais

Os transtornos mentais desempenham um papel significativo no comportamento suicida. “Depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de ansiedade e abuso de substâncias estão frequentemente associados a um risco aumentado de suicídio” (Botega, 2015, p. 101). O tratamento eficaz desses transtornos, através de intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas, é uma estratégia crucial na prevenção do suicídio.

A comorbidade, ou a presença de múltiplos transtornos simultaneamente, pode complicar o quadro clínico, aumentando ainda mais o risco. Por isso, uma abordagem integrada que trate tanto os sintomas específicos de cada transtorno quanto os fatores psicossociais subjacentes é essencial (Botega, 2015).

Jose Manoel Bertolote enfatiza a necessidade de uma abordagem abrangente ao tratamento dos transtornos mentais, observando que “a integração de cuidados de saúde mental com outros serviços de saúde é fundamental para a prevenção eficaz do suicídio” (Bertolote, 2012). Ao lidar com pacientes com múltiplos transtornos, a importância de uma abordagem integrada que considere todas as dimensões da vida do paciente é reiterada.

6. Avaliação de Pacientes

A avaliação de pacientes com risco de suicídio é uma tarefa delicada e crítica. Envolve a identificação de sinais de alerta, como mudanças de humor, comportamento autodestrutivo, verbalizações de desesperança ou desejo de morrer, e o uso de ferramentas de avaliação padronizadas (Botega, 2015).

“Entrevistas clínicas detalhadas, que exploram o histórico pessoal e familiar do paciente, bem como fatores precipitantes e de proteção, são fundamentais para desenvolver um plano de intervenção eficaz” (Botega, 2015, p. 123). A avaliação contínua e a reavaliação periódica são necessárias para ajustar o tratamento conforme necessário.

A analogia com Sísifo aqui destaca a importância de uma abordagem cuidadosa e meticulosa. Jose Manoel Bertolote ressalta que “uma avaliação abrangente e contínua é essencial para identificar mudanças no risco de suicídio e adaptar as intervenções de acordo” (Bertolote, 2012). Assim como Sísifo deve prestar atenção aos detalhes para manter sua pedra em movimento, os profissionais de saúde devem estar atentos às nuances na apresentação clínica dos pacientes para oferecer o melhor cuidado possível (Camus, 1942). Uma avaliação detalhada e contínua permite intervenções mais precisas e personalizadas.

Nós, enquanto estagiários em uma comunidade terapêutica, vivenciamos a complexidade das crises suicidas em um ambiente real. Percebemos, comparado ao que o autor Botega (2015) falou, que a avaliação contínua e adaptativa dos pacientes é crucial para o manejo eficaz das crises. Percebo que é muito complexo o estudo do suicídio, mais complexo ainda é a vivência disso no campo de estágio, pois temos hoje várias configurações de suicídio, como o suicídio camuflado como experiência de álcool e drogas.

7. Psicoterapia de Crise

A psicoterapia de crise é uma intervenção breve e focada, destinada a estabilizar o paciente em risco de suicídio. “Envolve a criação de um ambiente seguro e de suporte, onde o paciente possa expressar seus sentimentos e pensamentos sem julgamento” (Botega, 2015, p. 141).

Técnicas como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia dialéticacomportamental (TDC) são frequentemente utilizadas para ajudar os pacientes a desenvolver habilidades de enfrentamento e reestruturar pensamentos negativos. A construção de um plano de segurança, que inclua estratégias para lidar com crises futuras, é uma componente chave desse processo (Botega, 2015).

B.F. Skinner poderia criticar essas abordagens por focarem excessivamente nos processos internos e não suficientemente nas contingências ambientais que mantêm o comportamento suicida. Skinner (1953) argumentaria que “modificar o ambiente do paciente e as contingências de reforço é essencial para uma mudança comportamental eficaz”.

Jose Manoel Bertolote, no entanto, observa que “a psicoterapia de crise, quando integrada com outros tipos de suporte, pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar pacientes em momentos críticos” (Bertolote, 2012). Assim como Sísifo deve entender sua tarefa e ajustar sua abordagem, a psicoterapia de crise requer um entendimento profundo das necessidades do paciente e uma abordagem adaptativa para fornecer suporte eficaz (Camus, 1942). Criar um ambiente seguro e acolhedor para facilitar a expressão dos pacientes é de suma importância.

Utilizando a terapia cognitivo-comportamental (TCC), vimos a importância de identificar e reestruturar pensamentos negativos, conforme proposto por Beck (1974). Comparado ao que Beck sugere, a vivência prática mostrou que a desesperança é um fator predominante nos pensamentos suicidas dos pacientes. A aplicação de técnicas de TCC no campo de estágio revelou a complexidade e a necessidade de uma abordagem sensível e adaptativa para cada indivíduo.

8. Cuidados e Aspectos legais

Os cuidados contínuos e os aspectos legais são componentes essenciais na prevenção do suicídio. “Isso inclui a implementação de planos de acompanhamento para garantir que os pacientes recebam suporte contínuo após a crise inicial e a coordenação com outros profissionais de saúde e serviços sociais” (Botega, 2015, p. 154).

Aspectos legais, como a confidencialidade e o consentimento informado, devem ser cuidadosamente considerados para proteger os direitos dos pacientes. Em casos de risco iminente, os profissionais podem precisar tomar medidas para garantir a segurança do paciente, mesmo que isso envolva decisões difíceis sobre a hospitalização involuntária (Botega, 2015).

A analogia com Sísifo aqui sublinha a necessidade de um equilíbrio entre controle e autonomia. Jose Manoel Bertolote argumenta que “é essencial encontrar um equilíbrio entre proteger a vida dos pacientes e respeitar sua autonomia e dignidade” (Bertolote, 2012). Assim como ele reflete sobre sua jornada, os profissionais de saúde devem navegar entre proporcionar cuidados eficazes e respeitar os direitos e a dignidade dos pacientes (Camus, 1942). Lidar com aspectos legais e éticos é uma parte crucial do manejo de crises suicidas, exigindo um balanço cuidadoso entre intervenção e respeito à autonomia do paciente.

Conclusão

A jornada pela prevenção do suicídio, à semelhança do mito de Sísifo, demonstra desafios persistentes e a necessidade de esforço contínuo. Este artigo utiliza a metáfora de Sísifo para destacar a importância da resiliência, da adaptação e do suporte colaborativo. Reconhecese a evolução histórica das atitudes em relação ao suicídio, a magnitude do fenômeno, as teorias científicas, os fatores de risco e proteção, os transtornos mentais, a avaliação de pacientes, a psicoterapia de crise e os cuidados contínuos, desenvolvendo uma abordagem mais compreensiva e eficaz para a prevenção do suicídio. A luta de Sísifo ressalta a importância da perseverança e da colaboração na busca incessante por estratégias que mitiguem os riscos e promovam um ambiente de suporte e esperança.

A vivência prática no atendimento de situações de crise evidencia a necessidade de uma abordagem humanizada e de uma rede de apoio eficaz. A experiência direta demonstra que, além das teorias e modelos científicos, é crucial a flexibilidade para adaptar as intervenções às necessidades específicas de cada indivíduo. Os profissionais de saúde devem ajustar suas estratégias constantemente, reconhecendo a singularidade de cada caso.

A prevenção do suicídio exige uma compreensão profunda das complexas interações entre fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. A integração dessas perspectivas oferece intervenções mais eficazes e sensíveis às realidades dos pacientes. A colaboração entre saúde, educação e políticas públicas é fundamental para criar um ambiente de apoio que faça diferença na prevenção do suicídio.

Em última análise, a prevenção do suicídio requer um esforço coletivo, flexível e resiliente, que se adapta às complexidades e nuances de cada caso individual. Ao adotar essa abordagem holística e colaborativa, renova-se a esperança de que a sociedade possa encontrar força e significado em sua luta contínua para salvar vidas.

Referências

Bertolote, J. M. (2012). Prevenção do Suicídio: Abordagens Multidisciplinares. São Paulo: Unesp.

Botega, N. J. (2015). Crise Suicida: Avaliação e Manejo. Porto Alegre: Artmed. Camus, A. (1942). Le Mythe de Sisyphe. Paris: Gallimard.

Organização Mundial da Saúde (OMS). (2014). Prevenção do Suicídio: Um Imperativo Global. Genebra: OMS.

Beck, A. T. (1974). The Development of Depression: A Cognitive Model. In R. J. Friedman & M. M. Katz (Eds.), The Psychology of Depression: Contemporary Theory and Research. New York: Wiley.

Joiner, T. (2005). Why People Die by Suicide. Cambridge, MA: Harvard University Press. Skinner, B. F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Macmillan.