UMA REFLEXÃO DO CAPITALISMO, RACISMO, EUGENIA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502051160


 Elma Maria Lopes do Nascimento
Docente orientador: Mônica Regina dos Santos


Resumo

O presente artigo nos levará a uma reflexão sobre o conceito de racismo, capitalismo e eugenia, bem como fazendo um paralelo com a história da era colonial com os tempos atuais. O objetivo maior é para sensibilizar o pensar com a realidade social brasileira nos dias de hoje, assim como as ações de demanda e disputas entre oprimidos e opressores, principalmente os negros na contemporaneidade frente às lutas sociais que perduram ainda nos tempos atuais. Destaca-se ainda nesse artigo para que sejam pensados em noções de igualdade, equidade e cidadania na sociedade brasileira, devendo ser permeada pelo fator racial. Referências a eugenia também são apontadas sendo como um conjunto de ideias e prática, onde há um aprimoramento da raça humana (Diwan,2010) com intuito minimizar e/ou erradicar os defeitos genéticos das futuras gerações, o que nos tempos modernos chamamos de ciência ou estudos científicos.

PALAVRAS CHAVES: Racismo, capitalismo, eugenia.

ABSTRACTS

This article presents a reflection on the concept of racism, capitalism and eugenics, as well as making a parallel with the history of the colonial era to modern times. The main objective is to sensitize the thinking with the Brazilian social reality today, as well as actions demand and disputes between oppressed and oppressors, especially blacks in front of contemporary social struggles that persist even in the present times. Note also that article to be thought of in notions of equality, fairness and citizenship in Brazilian society, should be permeated by racial factor. References eugenics are also being identified as a set of ideas and practice, where there is an enhancement of the human race (Diwan, 2010) in order to minimize and / or eradicate the genetic defects of future generations, which in modern times call science or scientific studies.

Falar de racismo e capitalismo ainda é bastante complexo em pleno século XXI, pretende-se neste artigo discutir as problemáticas raciais, capitalistas apontadas a partir de uma reflexão do autor Callinicos, o que está de fato bem associado ao ódio racial e social. De modo bastante interessante Callinicos destaca a tamanha complexidade do homem, justificando seus limites. O seu principal interesse é nos conduzir a pensar sobre os preconceitos, não só da cor da pele, mas também de outras diferenças como escolaridade, homofobia, pobreza, poder econômico, entre outros, visto que ainda resistem no mundo moderno.

Racismo, segundo Callinicos é um traço marcante essencial da sociedade brasileira desde o início da colonização portuguesa. Na verdade o racismo já tem início com a chegada dos europeus ao Brasil, de uma vez que os índios foram às primeiras vítimas desse processo. Os índios, assim como eram e são chamados nos dias de hoje já habitavam o Território Brasileiro, antes mesmo da chegada dos Portugueses ao Brasil. Com a invasão europeia, no ano de 1500, os europeus exploraram a força do trabalho dos índios, tomaram suas terras, dizimaram doenças trazidas por eles, bem como a sua cultura negando aos indígenas à sua própria vida. Os índios já eram escravizados, deixando à sua vida para traz e ter que vivenciar uma nova cultura, costumes estes trazidos pelos brancos. A luta pela sobrevivência foi amarga, sofrida, dolorosa, violenta, com mortes e doenças, mas acima de tudo foram guerreiros, corajosos, lutando a cada momento pelo seu espaço, seus direitos na sociedade, que em pleno século XXI, conquista essa que ainda encontra-se distante por parte dos que regem a lei, na teoria e prática de um país que se diz democrático, o que de fato o que existe é o preconceito em relação a grupos de pessoas, uma vez que eles foram os primeiros habitantes do Brasil, eles são tratados como indigentes, numa sociedade regida por pessoas sem compromissos para com o social, se estendendo nos dias de hoje, em pleno mundo contemporâneo.

Na verdade, a escravidão inicia-se com os indígenas, como nos falar Celestino “com toda a reação contrária dos religiosos, foi praticamente revogada em determinados períodos, até 1959, quando um decreto pombalino aboliu a escravidão indígena.” Com relação aos escravos, a força do trabalho dos negros, além de garantir a instalação de um difícil sistema produtor de açúcar na colônia era também altamente lucrativa para a burguesia mercantil, classe média metropolitana, a partir do tráfico negreiro. O capitalismo começa aflorar tomando rumos favorecendo a burguesia, aumentado a desigualdade entre pobres e ricos.

O escravismo permitiu o desenvolvimento capitalista ao longo dos séculos. Onde o homem escravo era produto de venda ou de troca entre países, com o intuito de produzir bens de consumo como cana-de-açúcar o tabaco e algodão para atender as necessidades da burguesia, como fala Callinicos:

“O racismo emergiu na tradição oral em Barbados no século 17 e cristalizou- se em forma imprensa na Grã-Bretanha no século 18 como a ideologia da “plantocracia”, a classe dos plantadores de cana-de-açúcar e dos mercados de escravos que dominavam as colônias inglesas no Caribe. ”[23](Callinicos)

O que William diz em seu estudo clássico. “A escravidão não nasceu do racismo: ao invés disso o racismo foi à consequência da escravidão.” Onde os menos favorecidos sofrem preconceitos sem nenhum direito, negando sua própria vida, a desigualdade bastante acentuada, a força do trabalho escravista, favorecendo aos senhores burgueses, um poder econômico elevado. O processo que se deu com idas e vindas com relação a vendas de escravos, isso nos faz compreender o quanto se ganhava na comercialização do produto humano, sem se dar conta dos valores que cada cidadão tem perante a sociedade. Essa escravidão não se refere só à cor da pele negra, a desigualdade se dá também pelo nível econômico, estudos, ser escravo no mundo capitalista significa dizer que só tem valor quem tem maior valia, ou seja, o branco, negro, pardo a depender do seu nível social, ele tem o seu reconhecimento na sociedade.

Como é o racismo no capitalismo contemporâneo? Na atualidade, em pleno século XXI, acredito que o escravismo é bastante evidente, classes operárias ainda não são dignas de valorização pela realização do seu trabalho que fazem seus salários ainda tá longe de serem valorizados, pois o que importa é o lucro para os empresários, como Karl Marx diz, se o operário produz por que não dividir o lucro se o mesmo foi feito pela força do trabalho do empregado e não pelo empregador? São essas questões que ficam sem resposta, num mundo com tecnologias altamente avançadas, e que ainda se persiste nessa mesmice, que certamente ainda está longe de haver uma solução para que sejam minimizadas as diferenças sociais.  “O capitalismo, na sua forma plenamente desenvolvida, baseia-se na exploração do trabalho assalariado livre.” Porque paga-se menos, trabalhador cumpre horário, automaticamente ele irá produzir, até porque o trabalhador tem horário de chegada e de saída a cada dia, voltando o lucro para a classe favorecida, os grandes proprietários.

Atualmente, o racismo é bastante acentuado, não no que diz respeito só à cor da pele, mas a outros fatores que ainda rege como preconceito, onde o estereótipo, posição social, ainda é fator predominante, como relata Callinicos:

“Há um sentido no qual a diferença de cor não é sequer uma condição suficiente para a existência do racismo. Onde essa diferença está envolvida é com parte de um complexo de características – por exemplo, inteligência inferior, preguiça, sexualidade superativa, no caso do estereótipo ocidental tradicional dos africanos – que são atribuídos ao grupo oprimido e que servem para justificar a sua opressão. O que importa realmente é a ideia de um conjunto sistemático de diferenças – do qual as diferenças físicas visíveis são uma parte – entre opressores e oprimidos, mais do que as diferenças físicas entre si.” (Callinicos).

De fato entre opressores e oprimidos há um grande obstáculo, principalmente pela posição social, é a oportunidade que a burguesia tem de oprimir para se beneficiar no meio social, aproveitando-se dessa diferença para ter ganhos cada vez mais, através da força do trabalho desses cidadãos, seja negro, branco, pardo ou amarelo oprimidos esses que são de certa forma marginalizados desde o inicio do capitalismo ou mesmo com a invasão europeia, no ano de 1500, forma essa onde o lucro é o princípio de toda busca do homem de ontem e dos tempos atuais.

Com toda essa exploração ao longo dos tempos as comunidades e classes surgem, através dos interesses dos trabalhadores com o intuito de se fortalecerem e buscarem o seu reconhecimento na sociedade, resgatando sua identidade, cultura. Como argumenta Paul Gilroy:

 “…identidades coletivas, expressas por raças, comunidade e localidade são, em toda a sua espontaneidade, poderosos meios para coordenar ações e gerar solidariedade. A cultura tradicional “construída” se torna um meio (…) para articular autonomia pessoal com fortalecimento coletivo. “(Callinicos)”.

De fato, existindo interesses das classes e comunidades, surgem os movimentos, como “o real valor de Black Marxism de Cedric Robinson, por exemplo, está na sua contribuição a esse processo de recuperação…” Em prol dessa busca, resgatando toda a tradição, culturas trazidas do seu país, muito embora sejam minorias, confrontando com um sistema capitalista, o que de certa forma não foi e não é nada fácil para um grupo de negros conquistarem seus valores, até porque a burguesia mercantil sempre foi prioridade nos tempos passados, bem como nos tempos modernos. A persistência foi intensa, surgindo novos movimentos de grupos na luta pelo seu espaço, libertação negra contra a exploração do trabalho escravo, claro que tudo teve consequências drásticas, pois os burgueses mercantilistas revidaram com surras, muitos foram encarcerados, outros foram assassinados, eles capturavam os lideres do movimento, demonstrando total repúdio aos negros escravos pelos seus atos, e enfraquecendo os grupos com as mortes dos líderes.

O que se percebe, é que lutar pra alcançar conquistas que já eram reivindicadas pela classe foi tomando novos rumos, os grupos começaram a se expandir, principalmente em outros países, onde foram formando grupos aliados, se fortalecendo cada vez mais na luta pela classe e valorização do negro em busca de uma vida mais digna deixar de serem considerados e tratados pela elite como subumanos para serem humanos no mundo vigente. O que demonstra nos tempos atuais, que ainda persiste o preconceito com relação à luta de classes no mundo Global.

A luta de classe continuava em ascensão, pois o que se pretendia era minimizar ou até mesmo erradicar essa desigualdade, preconceito esse que por sua vez se manifesta em forma de discriminação perante as pessoas, seja seu hábitat, cultura, costumes, sendo estes considerados diferentes por uma elite. Afinal o racismo cria regras, impõe para manter o poder econômico e até mesmo o poder político em contra partida aos oprimidos.

O que seria a rebelião de classes, não revolta racial? A rebelião ocorreu na cidade de Los Angeles, segundo Willie Brown, “a violência não se limitou ao centro da cidade; se estendeu para bairros distantes e de alta renda” (…). As manifestações foram tomando novos direcionamentos, se expandindo não só a classe negra mais também outras etnias que ali já moravam e se sentiam prejudicados diante das imposições que eram colocadas, desfavorecendo não só as pessoas de baixa renda como também as de nível econômico mais elevado. Classes de brancos, negros, asiáticos se aliaram em busca dos seus direitos, fazendo saques, retirando bens de consumo em busca de uma vida melhor, a crise foi bastante árdua, onde os presidentes Reagan e Bush, nos anos 80 estudavam uma forma de minimizar a situação dos menos favorecidos, transferindo riquezas e renda dos ricos para os podres, gerando um grande impacto na economia.

A rebelião foi bastante acentuada, a cidade de Los Angeles recebeu muitos imigrantes, como os coreanos, onde eles vieram com o intuito de montar seu comércio, mesmo na época da luta pelo social, lutas de classes. Os coreanos migraram, fugindo de uma instabilidade no seu país, migraram para Los Angeles e com sua capacidade profissional se instalaram na referida cidade, dotados de experiência como: “treinamento militar, formação educacional, economias pessoais e uma vontade para trabalhar duro”. Com toda essa bagagem, os coreanos se apropriaram se estabelecendo nos bairros brancos ricos, lucrando e transferindo e ampliando seus negócios para outras áreas brancas mais lucrativas. O que se percebe é que o conflito não se dá pela cor da pele, mas pela luta de classe que cada um ocupa se já é negro ou não o que importa é a sua posição social, o que de fato provocou inquietações nas classes menos favorecidas.

O que se pretende nessa fala é levar em consideração não só a classe negra, mas também a cor branca de baixa renda, que também são discriminados, desvalorizados perante a sociedade, além de sofrerem com mudanças drásticas e ter que se adaptar a nova realidade dos opressores sobre os oprimidos. No que diz Mark sobre “a história da sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes:” De fato, a colocação é bastante pertinente, pois essa luta está ligada ao combate contra o racismo, preconceitos, entre outros. Isso se faz necessário, que se tenha um olhar diferente no sentido de organizar ideias sadias, como exemplo trabalhar nas pessoas a consciência, a sensibilidade lançando na sociedade um novo olhar, principalmente ao trabalhador negro, dando ênfase também aos trabalhadores brancos de baixa renda, vale salientar, que os homens e mulheres brancos tinham vantagens sobre o negro, pois, por serem diferenciados pela cor eram colocados numa posição, ainda que melhor que o negro, a exemplo a escolha de um serviço menos cansativo como apontador de uma determinada obra.  O homem é o verdadeiro revolucionário para alcançar suas conquistas é guiado por grandes emoções, seja de amor, gratidão, enfim é a busca pela sua libertação e valorização diante de tantos embates que a vida oferece e que de certa forma conduz o cidadão a lutar pelos seus direitos. É nessa perspectiva que o mundo caminha, a desigualdade social de certa forma diminuiu, percebe-se que no mundo moderno, a classe negra já almeja espaço a exemplo temos em nível de mundo: O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, jogadores, atores e atrizes, presidente, desembargadores, entre outros, claro que isso ainda é insuficiente, mas é significante, afinal essa luta ainda é árdua, mas também há vitórias, ainda que de forma tímida, mas já acontece, o que já é uma grande conquista, que se iniciou nos anos de 1500, era colonial se estendendo nos tempos atuais.

                    A eugenia surge em contradição aos relatos sobre o capitalismo e racismo, criada no final do século XIX por Francis Galton, onde a eugenia é um conjunto de ideias e prática, onde há um aprimoramento da raça humana. Segundo a autora “não lida com a incompreensão religiosa e tampouco com os embates de um sistema de dominação político-econômico. Com status de disciplina científica, objetivou implantar um método de seleção humana baseada em premissas biológicas.” (Diwan, 2007; p.10).

                    No Brasil, no início do século XX, iniciam-se os estudos sobre a raça humana, hereditariedade, dizia o seguinte, que um ser humano traz na sua herança genética todas as características vindas de uma preexistente. Na concepção eugenista, logo ao nascer o indivíduo era classificado com um ser superior ou inferior, o que justifica que pelas condições biológicas, quem nasce pobre está predestinada a pobreza, o que de fato não há como evitar a inferioridade e superioridade, sendo determinado pelo que se era herdado de forma natural. E é nesse relato que a autora irá nos conduzir a uma leitura no que diz respeito sobre eugenia:

“… a ciência e o poder podem se aliar e criar políticas preconceituosas, por vezes genocidas, que sob o discurso da diferença biológica separaram sociedades em classes sociais e confinaram os diferentes – considerados doentes por “esses cientistas”- em guetos, sanatórios, prisões e campos de trabalho forçado”. (Diwan,2007; p. 13).

                    Francis Galton nos estudos sobre a eugenia procurou aperfeiçoar sua ideias e pesquisas a propósito de uma análise da raça humana, no que refere ao talento, realizando também estudos sobre a criação da antropometria com análises digitais, e medição do QI, dando ênfase também nos estudos a respeito de “doença mental, o crime e a marginalidade”, enfatizando como sendo de caráter hereditário. Vale salientar que isso aconteceria paralelo à retomada dos estudos de Gregor Mendel, 35 anos depois da sua morte no início do século XX, sobre hereditariedade, realizando pesquisas como o cruzamento de ervilhas amarelas e verde, para obter a linhagem pura bem como o estudo de Charlie Darwin sobre origem das espécies e a seleção natural, onde sobrevive o mais forte e o mais fraco morre, contribuindo e enriquecendo ainda mais a pesquisa de Francis Galton sobre o estudo da eugenia. O trabalho teve bastante êxito, perdurando por várias décadas, nesse estudo, onde acontecera a valorização no sentido de ver o homem não pela cor ou pelo seu status e sim com uma visão biológica, que todo ser vivo nasce, cresce, reproduz envelhece e morre com suas características herdadas de seus familiares, seja a cor, inteligência, algum tipo de doença, levando informação pra sociedade uma nova postura a partir das suas análises a sua fundamentação sobre a eugenia. O que Galton analisava era de como melhorar e diminuir essas diferenças biológicas que acontecera em algumas gestantes pelo simples fatos de terem filhos com deficiência e como a sociedade via esse seres humanos?

“O darwinismo social vai se apropriar dessas ideias para legitimar seus desejos de controle ideológico. Baseado na luta pela vida, na concorrência e na seleção, os caminhos para solucionar os problemas sociais deveriam visar, acima de tudo, ao triunfo do indivíduo superior para depois, aperfeiçoá-lo em busca do super-homem.” (Diwan, 2007; p.31).     

                    Partindo desse princípio, o que Galton relata é bastante relevante, pois recuperar um ser humano, baseado em problemas de saúde seja físico ou mental, trazê-lo para o convívio social é acima de tudo reintegrar o indivíduo com sua autoestima elevadíssima com intuito de aperfeiçoá-lo em busca dos seus sonhos. O trabalho de Galton instigou outros curiosos na investigação da eugenia, levando esse desafio para vários países, contribuindo nos estudos da raça humana com objetivo da perfeição e reintegração do homem na sociedade.

          Com a sua morte em 1912, “a eugenia chegou ao poder e foi usada como arma política de discriminação racial e limpeza étnica. Alemanha, Estados Unidos e Escandinávia, seus maiores executores.” (Diwan,2007 p; 46). No entanto, com todos esses avanços que Galton realizou com suas experiências, fica claro que ainda se persiste/resiste com o preconceito sobre a raça humana, selecionando pela questão de status, dentro de uma sociedade que busca a linhagem pura de um determinado grupo social, não pela cor, mas pelo que o homem branco ou preto, amarelo ou pardo represente na sociedade, desencadeando, assim as lutas de classes. 

                    Chega ao Brasil e na América Latina, a eugenia por volta de 1910 no século XX. O brasileiro Renato Kehl, médico e farmacêutico, surge como principal propagandista da eugenia, que ajudou a lançar o termo eugenia no Brasil e na América Latina, iniciando, assim com uma grande divulgação das ideias sobre a eugenia na medicina e no mundo intelectual, no ano de 1918, após uma mobilização da elite médica paulista, foi fundada a sociedade Eugênica de São Paulo, sendo a primeira da América Latina. Era uma associação científica que visava estudar e divulgar sobre a questão social e a regeneração racial da população brasileira.

                    Esse trabalho não ficou só na cidade São Paulo, se expandindo também para o Rio de Janeiro, onde esse trabalho continuava em ascensão, estimulando cada vez mais os intelectuais da localidade. A elite brasileira interpretava da seguinte forma, que a eugenia desempenharia um papel bastante pertinente no sentido de auxiliar a regeneração social, buscando nos indivíduos um povo mais educado, cortês.

 “como salvar um povo feio, inculto e triste?” O que ele pretendia era fazer uma campanha eugênica, sendo dois momentos teóricos: primeiro “… defendia uma eugenia mais positiva, profilática, alinhada com objetivos dos médicos sanitaristas, entre 1917 e 1928.” Segundo “… ao período de radicalização da eugenia em que os métodos de esterilização e a restrição da imigração foram defendidos abertamente.” (Diwan, 2007; p.125).

                     Ao passo que a eugenia ia sendo divulgadas muitas outras áreas, além da medicina foram aderindo também à eugenia a exemplos os médicos sanitaristas e higienistas, que de fato gera medidas para enfrentar graves problemas sanitários e de saúde no país brasileiro. Os eugenistas acreditavam que as enfermidades sociais transformavam-se em tóxicos raciais, onde eram chamados de povinhos, coitadinhos que vinham ao mundo por crueldade, seja por uma deficiência física, mental, surdez, mudo, ou até mesmo uma doença causada por bactéria como a pneumonia. A eugenia oferece instrumentos de regeneração no que diz respeito à saúde mental, física e moral do povo. Isso ocorreu em decorrência da existência dos problemas sociais como a criminalidade, prostituição, pobreza, vícios, entre outros, visto que estava associado ao fator hereditário o que faria com que a elite acreditasse e valorizasse cada vez mais no papel da eugenia na sociedade, com o intuito de regenerar a raça humana brasileira.

                  No entanto, com relação aos políticos, os mesmos viram como forma de discriminação racial, social, distanciando cada vez mais as classes, pelo fato de um ser nascer com alguma deficiência seja física ou mental era motivo de destruição, segregação e até mesmo de eliminação por conta que para estarem numa sociedade onde as pessoas têm que ser perfeito tanto no físico quanto no intelecto, aproveitando-se dessa situação para continuar com a discriminação, selecionando cada vez mais a elite dos oprimidos.

                  Para que acontecesse essa transformação na raça nacional, segundo a que a elite eugênica pretendia e entendia era tomar atitudes drásticas como nos fala Kehl: “a improficuidade, segregação de deficientes, regulamentação eugênica do casamento e exame pré-nupcial, testes mentais de criança, verificação dos defeitos hereditários disgênicos que impedem o matrimônio e os que podem servir de base e pleiteação do divórcio…”. Com essa intervenção a sociedade eugênica ficaria menos congestionada de pessoas com deficiência, e a população por sua vez atenderia as normas da elite e a raça humana seguiria de forma valorizada por grupos da nata brasileira. A eugenia se preocupa com a saúde e constituição das futuras proles, utilizando os conhecimentos biológicos com o intuito de nascerem crianças com suas aptidões física e mental saudável, atendendo assim aos anseios da elite brasileira.

        Renato Kerl foi um seguidor de Francis Galton nos estudos sobre a eugenia, trazendo para si o conhecimento sobre a eugenia, sendo bastante pertinente e lançando essa temática aqui no Brasil onde foi contagiante e bem recebida pela elite e classe médica, foi um momento de estudos e reflexão que seria uma preocupação nacional com relação ao estado de saneamento básico, higiene e situação sobre raça pela sua miscigenação que o Brasil apresenta. E aí surge em cima dos estudos da eugenia no Brasil, como fazer esse trabalho se o Brasil é uma mistura de raças? Como tornar a raça humana pura e livre de questões acima citadas? O que chama atenção é que na teoria a história é outra, levando pra prática o trabalho se torna complexo. Ser brasileiro é falar que somos descendentes de negros, europeus, asiáticos, enfim, mesmo com toda essa miscigenação. No último censo demográfico IBGE (Instituto Brasileiro Geografia e Estatística), a nação brasileira é composta de 52,6 de negros.

        Na verdade, a eugenia visava aperfeiçoar o ser, reduzindo ao máximo as imperfeições, o que sugere as qualidades, classificando a eugenia positiva e negativa do ponto de vista de Kehl:

“A eugenia positiva tinha como objetivos centrais propiciar a seleção eugênica na orientação aos casamentos e estimular a preocupação dos casais considerados eugenicamente aptos para tal. A eugenia negativa diminui o número de seres não eugênicos ou disgênicos e incluía basicamente a limitação do casamento e procriação daqueles assim considerados.” (Diwan, 2007p. 92).

            Os casamentos eram destinados para se cumprir à boa linhagem, ou seja, futuras proles de nascerem saudáveis e perfeitos, atendendo aos objetivos preferenciais da eugenia, onde as qualidades são superiores e eram defendidas também por médicos sanitaristas, com o intuito de promover saneamento básico, nutrição, assistência médica, principalmente as grávidas no pré-natal e pós-parto, onde a aceitação social propicia grande impulso e assistência em saúde mental, física, reprodutivo, entre outros.

          No ápice da eugenia, muitos estudos foram realizados, além de Kehl existiram alguns ilustres que apoiaram a ideia eugênica como: “Gustavo Le Bor, sociólogo e psicólogo francês: Louis Agassiz, professor de Sociologia, sua tese era de que a mistura prejudicava a evolução das espécies defendida por Darwin”. (Diwan, 2007; p: 89,90).

          No mundo atual, acredito que a eugenia ainda é evidente, as tecnologias, no que diz respeito à melhoria da raça é possível detectar problemas para que a criança nasça saudável, evitando assim, a insanidade mental e a deficiência física. Quando Galton iniciou o estudo dos fatores “genes” no que diz respeito ao controle social, que poderia melhorar ou piorar as qualidades raciais das futuras gerações, no que se refere à parte física e mental de cada indivíduo. A técnica da eugenia já trabalhava o ser humano com o controle da prole, claro que de início dava a entender que seria mais uma forma de discriminação da elite para com os oprimidos, no entanto o que se buscou e busca nos dias de hoje é a perfeição das futuras gerações, para que venham ao mundo gozando de boa saúde, física e mental.

          No final do século XIX, já se trabalhava a ideia de que as proles tinham que nascer sadias para o bem da sociedade, trazendo essa ideia para a modernidade e confrontando a teoria eugênica com o mundo de hoje, junto aos avanços da tecnologia sendo de grande valia e suporte na área médica o que facilita e corrige as imperfeições de uma determinada prole, a exemplo, uma mulher gestante, hoje se pode fazer o tratamento no próprio ventre da mãe, caso seja detectado alguma anormalidade. O que demonstra que a eugenia nos tempos de hoje é a ciência. Hoje falamos de Ciências, como sendo um conjunto de conhecimentos obtidos através das metodologias, experimentos para demonstrar com exatidão o processo de veracidade, objetivando uma melhoria da raça humana no mundo contemporâneo. De fato as Ciências têm trazidos novidades, principalmente no campo da medicina, biologia, proporcionando o bem estar das famílias e da sociedade brasileira.

          Como falar da eugenia no mundo contemporâneo? Na verdade o termo eugenia está voltado ainda às perfeições, o que se percebe é que surgiram várias áreas com o intuito de melhorar as futuras gerações como a genética, a biologia molecular, a medicina, entre outros no que se refere ao melhoramento da espécie humana, a sociedade já dispõe de vários recursos, quando se falar de gerar um filho, a exemplo temos as técnicas que permitem que um óvulo e espermatozoide, por exemplo, seja estudado com objetivo de que aquele embrião será sadio antes de ser colocado no útero , processo este chamado de inseminação artificial, existindo também outros melhoramentos na genética como o projeto genoma, os transgênicos. O planejamento familiar realizado nos postos, sendo acompanhado por médicos e enfermeiros de cada localidade, o que de certa formas dar suporte as famílias sejam elas de baixa renda ou não, todos têm o direito a esse acompanhamento com intuito de que as próximas gerações nasçam sadios.

          Este trabalho procurou demonstrar, que a eugenia no Brasil foi um movimento científico diretamente dirigido pelo pensamento social e pelas memórias intelectuais que vinham crescendo no Brasil desde o final do século XIX, adentrando no século XX bem como relacionar o racismo e o capitalismo, desde a invasão no ano de 1500 até os dias atuais. Vale salientar que a eugenia evidenciou contribuindo ainda sobre a importância quanto os aspectos do pensamento igualitário brasileiro e do sistema de ideias, como: racial, políticas e científicas.                                         

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NOTAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os Índios na História do Brasil, Rio de Janeiro, 1. ed. Ed. FGV2010.164p.

CALLINICOS, Alex. Capitalismo e Racismo. Disponível em http:// Site

http://socialista.tripod.com 

DIWAN, Pietra. Raça Pura: Uma História da Eugenia no Brasil e no mundo – São Paulo, 2007.

     GALTON, F. Hereditary talent and character. Macmillan’s Magazine, 12, p. 157-66, 318-27, 1865.

LINHARES, Sérgio; Gewandsnajder, Fernando; Biologia Hoje. 1. Ed. Ed. Ática: 368p. São Paulo. 2011

TOMAZI, Nelson Dacio at al. Iniciação a sociologia. 2ºedição; São Paulo; Ed, Atual. 2000.


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