A BRIEF HISTORICAL ANALYSIS OF THE RELIGIOUS STUDIES AND THE POSSIBILITIES FOR A PHENOMENOLOGY OF RELIGION IN THE PAUL TILLICH’S THOUGHT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412071558
Daniel Martins Dalpra [1]
Orientador: Claudio de Oliveira Ribeiro [2]
Resumo
A fenomenologia da religião é uma abordagem que busca compreender a experiência do sagrado em sua diversidade, livre das limitações das interpretações teológicas tradicionais. Em um primeiro momento, o texto analisa acerca da Ciência da Religião, destacando o contexto político, social e religioso europeu que antecederam seu surgimento na Europa, que se deu especialmente na Alemanha e nos Países Baixos, durante a segunda metade do século XIX. Um desses fatores corresponde ao declínio do colonialismo europeu e a crescente relevância das religiões não-cristãs que motivaram um interesse acadêmico por estas, levando à necessidade por uma abordagem científica que se distanciasse da teologia institucional. O texto explora a contribuição de figuras como Friedrich Max Müller e Cornelis Tiele na institucionalização da disciplina, além de discutir a resistência da academia, logo no seu surgimento. Em um segundo momento, enfatiza a importância do pensamento do teólogo e filósofo da religião Paul Tillich ao trazer a importância de compreender a experiência do sagrado na interrelação entre religião e cultura, sem reducionismos. A fenomenologia da religião, em perspectiva com seu pensamento, surge como uma ferramenta essencial para a compreensão profunda da experiência religiosa, integrando dialeticamente aspectos culturais e sociais que transcendem as abordagens teológicas tradicionais.
Palavras-chave: Ciência da Religião. Diálogo interreligioso. Experiência religiosa. Fenomenologia da religião. Paul Tillich
Abstract
The phenomenology of religion is an approach that seeks to understand the experience of the sacred in its diversity, free from the limitations of traditional theological interpretations. Initially, the text analyzes the field of Religious Studies, highlighting the political, social, and religious context in Europe that preceded its emergence, particularly in Germany and the Netherlands during the second half of the 19th century. One of these factors corresponds to the decline of European colonialism and the increasing relevance of non-Christian religions, which motivated academic interest in them, leading to the need for a scientific approach that distanced itself from institutional theology. The text explores the contributions of figures such as Friedrich Max Müller and Cornelis Tiele in the institutionalization of the discipline, as well as discussing the resistance from academia at its inception. Following this, it underscores the relevance of theologian and philosopher of religion Paul Tillich’s thought, emphasizing the importance of grasping the experience of the sacred within the context of interrelation between religion and culture, without reductionism. The phenomenology of religion, considering his thought, emerges as an essential tool for a profound understanding of religious experience, integrating dialectically cultural and social aspects that transcend traditional theological approaches.
Keywords: Interreligious dialogue. Paul Tillich. Phenomenology of religion. Religious experience. Religious studies.
1 INTRODUÇÃO
A Ciência da religião consiste em um campo interdisciplinar de grande relevância, tanto no contexto acadêmico quanto no debate público. Desde seus primórdios, na Alemanha e nos Países Baixos, no século XIX, os denominados até então de Estudos de religião – de caráter não confessional -, tinham como objetivo a análise científica da compreensão dos fenômenos inerentes ao sagrado e suas implicações socioculturais por meio de enfoques que superassem os limites teológicos e confessionais, inerentes neste campo. Nesse sentido, Friedrich Max Müller (1823-1900) que é considerado o principal expoente dos Estudos de religião, fora capaz de revelar a importância, a partir de seus estudos sobre religiões não-cristãs, a natureza diversa e complexa inerente às experiências religiosas. Sendo pioneiro neste novo campo de conhecimento e que, a partir disso permitira com que outros cientistas da religião surgissem e propalassem os Estudos de religião por outras universidades da Europa e, posteriormente, para o continente americano. Com a difusão e a relevância da importância trazida pelos estudos científicos da religião em perspectiva com os mais diversos fenômenos sociais, surge a importância e a necessidade para uma abordagem específica e não excludente da experiência da religiosa aplicada nos contextos tanto para as religiões cristãs quanto para as não-cristãs. Com isso, favorecendo o surgimento da fenomenologia da religião que, por sua vez, se distingue da fenomenologia filosófica.
Historicamente, o interesse por estas religiões emergiu em paralelo à crise das grandes narrativas coloniais como reflexo das mudanças sociais e econômicas na Europa, que passaram então a despertar um interesse acadêmico para as culturas e para o simbólico religioso dos povos não europeus. Todavia, apesar dos avanços em mais de um século desde o surgimento do que chamamos hoje de Ciência da religião, ainda permanecem desafios a serem superados no tocante ao amplo reconhecimento da valoração científica deste campo do conhecimento. Isso ocorre, sobretudo, no contexto brasileiro em que a separação entre os estudos teológicos – de caráter confessional – e os estudos científicos da religião, nem sempre é clara. Dentre vários aspectos que dificultam esse esclarecimento, há a questão inerente ao dilema metodológico, onde que no contexto científico identifica-se a necessidade de uma coesão entre as abordagens substantivas da religião – que priorizam aspectos fenomenológicos e filosóficos -, para com as abordagens funcionais que se ligam às ciências sociais.
A pesquisa insere-se nesse panorama e propõe uma análise crítica e histórica acerca dos fundamentos teóricos e metodológicos que amparam a Ciência da religião no recorte quanto às tensões inerentes à religião e cultura. O problema central identificado consiste na necessidade de compreender de que maneira a religião pode ser estudada de forma científica sem que se afaste de sua dimensão fenomenológica e existencial – considerando a efetivação da experiência religiosa – frequentemente restringida em análises predominantemente racionalistas ou utilitaristas.
O objetivo consiste na exploração de possibilidades de um diálogo entre os estudos científicos de religião, de um modo geral, e a fenomenologia da religião considerando a base filosófica e teológica trazida pelo pensamento de Paul Tillich (1886-1965), que aponta possibilidades nesse sentido. Possibilidades de superação de reducionismos epistemológicos que promovam um panorama capaz de integrar religião e cultura.
A justificativa para este estudo se dá pela relevância de sua aplicabilidade válida tanto no contexto teórico quanto prático de se chegar a um aprofundamento da compreensão acerca dos métodos e limites do estudo científico da religião. Por conta disso, espera-se que ocorram contribuições para o avanço de pesquisas que relacionem Ciência da religião, fenomenologia da religião e o pensamento de Paul Tillich na promoção do diálogo entre religiões. Pois acredita-se que é através das superações destas barreiras que se avança e enriquece a natureza do debate acerca do lugar da religião na sociedade, ao desprendê-la de parametrizações excludentes de natureza confessional. Onde que, dessa forma, este debate seja capaz de promover, através da pluralidade, a formação e o encorajamento do pensamento crítico entre perspectivas históricas e contemporâneas que refletem em implicações sociais e culturais no tocante à experiência religiosa.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1- O surgimento dos Estudos Científicos sobre Religião em perspectivas históricas
O primeiro esforço de estudar a religião em uma perspectiva científica surge mais precisamente na Alemanha e nos Países Baixos, a partir da segunda metade do século dezenove aproximadamente. Com os sinais de declínio do processo colonialista europeu nos continentes americano, africano e asiático, a relevância das religiões não-cristãs se destacaram sob os pontos de vista social, cultural e político. Despertando assim o interesse intelectual de um aprofundamento acerca dos aspectos religiosos e tradicionais, presentes nos povos de certas regiões colonizadas. Interesse este, mais específico, que se deu pela via dos símbolos religiosos, justamente por conta de estes revelarem uma forma específica de linguagem e de identificação por parte dos povos em relação ao sagrado.
Partindo de um prisma histórico, olha-se acerca dos eventos vividos desde o século dezesseis pela Europa, em que a Igreja Católica passou a perder gradativamente sua influência política em relação ao estado em relação às principais potências colonialistas do velho continente. Eventos estes que demarcaram o enfraquecimento do catolicismo romano se deram como a reforma protestante com Lutero na Alemanha e com Calvino na Suíça. Em um período próximo, porém na Inglaterra, o Rei Henrique VIII que ao romper com o Papa, funda a Igreja Anglicana inaugurando assim um regime bem específico, se tratando do contexto político-religioso europeu: em que Estado e religião se fundem na figura do representante da Coroa. Já na França, que assim como a Inglaterra, a partir daquele século se consolidavam como potências colonialistas, o enfraquecimento da relação entre o Estado e a Igreja Católica se deu mais tardiamente, ou seja, no final do século dezoito. Contudo, o distanciamento não ocorreu exclusivamente dentro dos limites institucionais, mas sim em relação à própria religião com a sociedade naquele contexto.
A Revolução Francesa foi um evento do qual a religião, assim como, as próprias políticas coloniais tiveram de ser repensadas pelas potências colonizadoras europeias, ao revelar que a partir das fragilidades presentes dentro do modelo de absolutismo monárquico, uma nova configuração de regime de estado poderá surgir por parte da burguesia. Ao constatar o fortalecimento do pensamento iluminista que deste instante em diante passou se expandiu para a Europa. Ainda no contexto francês da pós-revolução, vale destacar que o regime político-expansionista de Napoleão Bonaparte (1769-1821), trouxera ainda mais instabilidade em relação à soberania dos países europeus. Para Eric Sharpe, a ameaça na Europa não se dava somente em relação ao avanço do exército de Napoleão que contava com potentes aparatos bélico e de contingência militar, mas, inclusive, em decorrência do surgimento de um novo modelo econômico de produção no continente (Sharpe, 2005, p.27). O que volta o interesse cultural dos europeus em países como a Índia, por exemplo, pelo fato do país ter sido capaz de captar e de preservara a imaginação romântica, que surge como um novo panorama de pensamento contra o materialismo grosseiro em emergência por conta da revolução industrial (Sharpe, 2005, p.27).
Naquele instante, a religião na Europa passara a ser encarada a partir de uma perspectiva iluminista – pela qual influenciara o pensamento europeu, em boa medida, nos instantes iniciais do século XIX – reduzindo-a, portanto, a interpretações condizentes a uma construção da mente humana. Desprezando assim a própria experiência e o sentimento. A ciência da religião surge, portanto, como uma resposta à retomada do interesse pela religião distante de uma abordagem teológica, e que romantismo[3] assume um papel de relevada importância nesse sentido.
Em tensão contra esta corrente reducionista na tradição iluminista, uma segunda linha ideológica, isto é, o Romanticismo tornou-se visível no contexto da ciência da religião, quando Schleiermacher (1768-1834) localizou os fundamentos da religião no sentimento. Na tradição teórica correspondente, incluindo pensadores como Nathan Söderblom, Rudolf Otto, Joachim Wach, Gerardus v.d. Leeuw, Friedrich Heiler, Gustav Mesching ou Günter Lanczkowski, a religião é vista como uma constante antropológica, em seus aspectos sutis mais básicos do que a mente racional e independentes de qualquer manifestação social. Desta maneira a linha fenomenológica mostra-se como um modelo contra o reducionismo e seu foco oposto (HUFF JUNIOR & CALVANI, 2021, p.366).
A proposta para os estudos científicos sobre religião[4] se deu na Alemanha em meados de 1870, em um período em que era realizada uma profunda análise crítica e histórica dos escritos bíblicos, ao passo que os primeiros textos hindus e budistas passaram ser traduzidos para o idioma europeu (Pieper, 2024). O linguista e professor Friedrich Max Müller foi um grande estudioso das tradições orientais sendo, responsável pela tradução de diversos textos do oriente, sobretudo, aqueles escritos em sânscrito – língua esta da qual era especialista.
Müller, que vem de uma formação intelectual que se iniciou no seio familiar[5], foi o mais influente nome dos estudos de religião comparada do século dezenove. Segundo Paden, ele se tornou uma autoridade das clássicas linguagens religiosas da Índia por ter feito uma importante tradução de uma série de 50 volumes intitulada Os Livros Sagrados do Oriente[6] (Paden, 2005, p.212). Entretando, seus estudos não se limitaram às religiões mediterrâneas ou às do oriente, pois Müller foi capaz de promover um respeitável horizonte das religiões da Ásia em comparação com as religiões bíblicas (ibid., 2005, p.212). Sua relevância se tratando dos estudos de religião comparada, é atestada por Eric Sharpe. Segundo ele, Max Müller foi uma figura pivotal no estudo da religião da segunda metade do século XIX para o mundo ocidental e que permaneceu firmemente na órbita do Romantismo Alemão (Sharpe, 2005, p.27).
Se tratado do contexto colonialista por parte das nações europeias, a aproximação do colonizador com a língua e costumes locais da colônia, já faziam parte da agenda desde o processo de colonização pois, consistia em um movimento de domínio político. O que não significou algo no sentido de um esforço do colonizador pela manutenção das tradições originárias. Durante o processo de colonização europeia a preleção religiosa era pelo cristianismo – em grande medida, o católico romano -, em que os processos de conversão religiosa consistiam no apagamento religioso/cultural dos povos originários da colônia. O que para alguns povos originários se deu de forma integral. Nos casos em que os esforços da agenda colonialista não resultaram no esperado, os apagamentos religiosos e socio-identitários decorreram a partir das gerações seguintes. Um exemplo disso se observa na gradativa fragmentação das estruturas linguísticas impactando nas narrativas das ancestralidades. O que resulta no desaparecimento, em alguns casos até mesmo no enublar das memórias históricas e no empobrecimento dos valores artístico-culturais dos povos colonizados.
Os estudos de religião comparada, aparentemente, promoveram uma espécie de “enfoque” às religiões não-cristãs ao trazê-las consigo como objeto de estudo considerando símbolos e linguagens religiosas até então desconhecidos pela memória cristã da Europa. Mesmo se tratando de uma abordagem científica da religião, essa abordagem encontrou resistências de uma certa parte da academia. Um exemplo a ser considerado seria do historiador alemão Adolf von Harnack (1851-1930), que no ano de 1901 teria sido contrário a proposta de incluir religiões não-bíblicas no currículo acadêmico por considerar “diletantismo e superficialidade”, ao se opor em decorrência dos estudos voltados à religião comparada (Sharpe, 2005, p.31). Em contrapartida, ainda no mesmo ano na Suécia, Nathan Söderblom (1866-1931), argumentou, em uma de suas palestras, que aquilo que ele chamou de barreiras artificiais existentes entre religião e o resto, não deveriam mais permanecer e que a religião comparada teria de fazer parte do currículo teológico. Um resultado positivo desse esforço surge três anos mais tarde, em que os Estudos de Religião Comparada passaram a aceitos pela academia, porém, em subordinação ao programa teológico da Universidade de Manchester (Sharpe, 2005, p. 31).
2.2- A Ciência da religião e a Fenomenologia da religião
No pensamento contemporâneo brasileiro, ainda prevalece a luta pela consistência do caráter científico dos estudos da religião de se dar dentro do contexto acadêmico. Segundo Pieper (2004), a produção do conhecimento científico da Ciência da religião deve se restringir à universidade. Corroborando assim um posicionamento que, deste então, vem sendo sustentado por muitos outros cientistas da religião: que é o da defesa pela produção dos conhecimentos científicos sobre a religião, se colocarem distantes do campo teológico-institucional.
E universidades são instituições que visam elaborar e divulgar conhecimentos sobre o mundo, incluindo a dimensão simbólica e cultural do ser humano, onde se insere o dado religioso. Esse aspecto institucional é importante. Afinal é a saída da sacristia para a sala de aula que cria condições para um estudo mais autônomo da religião, sem os constrangimentos institucionais e confessionais aos quais ele poderia estar submetido (PIEPER, 2024).
De acordo com Huff Júnior & Calvani (2021), a Ciência da religião irá incorporar diversas outras perspectivas, dentre elas, a sociológica. Nesse sentido, a Ciência da religião passará a ser divididas em duas concepções de estudo. A primeira seria a substantiva[7]. Na concepção substantiva é onde estarão os estudiosos da filosofia, teologia e aqueles próximos da Fenomenologia da Religião. Já a segunda concepção seria a funcional e que corresponde das interpretações dos estudiosos das ciências sociais, assim como dos estudiosos da cultura ligados à história, teóricos sociais e culturais da religião. (Huff Júnior & Calvani, 2021, p. 365). Nesse sentido, a Ciência da religião admite a religião por conta de sua diversidade, bem como sua natureza subjetiva ao assumir uma tarefa despreocupada em relação à experiência religiosa quer seja de se chegar à descoberta do sentido, ou de se chegar a uma validação. Que, em caso contrário, a preocupação afastaria a Ciência da religião do contexto científico.
A fenomenologia da religião, que consiste em uma concepção substantiva de estudo (da religião), se encontra entre a filosofia e a história. Ela surge como uma resposta de superação de certas abordagens particulares da religião, muitas das quais se vinculam à um modelo de grupo e instituições religiosas específicas. Embora não faça parte do escopo da pesquisa deste trabalho de aprofundar sobre a fenomenologia filosófica, vale aqui importância de destacá-la, mesmo que sucintamente. A fenomenologia, ou fenomenologia filosófica (termo este adotado neste contexto para distingui-la da fenomenologia da religião), teve como precursor o filósofo Edmund Husserl (1859-1938). Entretanto se deve a Martin Heidegger (1889-1976), que foi seu aluno, toda a importância conferida à fenomenologia como um campo de estudos que se expandiu para além da filosofia. Heidegger desenvolveu o interesse inicial de Husserl no sentido de se chegar a um método filosófico que procurasse investigar, de forma distintiva, a explicar os fenômenos humanos como sendo uma ontologia. A fenomenologia é vista como uma ontologia, o que nesse sentido se contraporia à teologia, justamente por não recorrer à métodos experimentais ou própria à metafísica para o seu propósito (Goto, 2004, p.20).
Para Pieper (2019), a fenomenologia da religião, por se afastar dos interesses institucionais – nos âmbitos religioso e filosófico -, consiste em uma abordagem científica que procura, através da comparação diante dos dados religiosos, de considerar a diversidade religiosa na intenção de se chegar a categorias pelas quais possam ser organizados, ao ter o empírico como ponto de partida. O aspecto empírico da fenomenologia da religião merece destaque nesta análise, pois, mais uma vez revela o caráter fenomenológico que é o da observação por base de uma metodologia específica. Sobre o método, o entendimento de Max Müller ajuda tanto na compreensão quanto na importância de que “a ciência da religião deveria ser baseada em uma comparação imparcial e verdadeiramente científica sobre todas, ou em todas os acontecimentos relativos às religiões mais importantes da humanidade”[8] (Sharpe, 2005, p.21, tradução nossa). O objetivo da fenomenologia da religião pode ser definido como uma experiência ontológica e histórica com o transcendente. Etienne Higuet defende que o principal objetivo da fenomenologia da religião consiste em promover uma amplitude da experiência do sagrado como sendo um fenômeno primeiro, sem a pretensão de explicá-lo, o que possibilitaria entender o sagrado “a partir dele mesmo, em sua escala” (Higuet, 2012, p.356).
2.3- Paul Tillich e a interface entre cultura e religião
Para um dos principais nomes da teologia e da filosofia cristã protestante do século XX, Paul Tillich[9], a concepção de ciência retoma um olhar histórico em que as ciências eram divididas entre o pensamento e o objeto, entre a natureza dos objetos e entre o método científico. Com o passar do tempo foram identificados fatores de transitoriedade que iriam modificando a forma pela qual a ciência passou a ser classificada e isso se deveu em decorrência de fatores externos como o surgimento de novas ciências, (da necessidade) de uma reclassificação das ciências em outras categorias e, até mesmo, da mudança referente ao conceito de ciência (Beims, 2005, p. 102).
Já Ribeiro (2010, p.31) constata o potencial dialógico da produção teológica de Tillich, ao considerar que sua produção é atual a partir do momento em que o diálogo[10] entre as ciências possibilita uma recriação por parte dos referenciais produzidos. A necessidade de criar sobre o que já foi criado, diferentemente de uma agenda colonialista que pressupõe o apagamento do anterior para a confirmação do que vem depois, não diz respeito ao pensamento teológico de Tillich que consiste em uma crítica ao fundamentalismo. Na contemporaneidade, essa crítica se aplica no contexto ligado aos desafios teológicos ligados aos “absolutismos idolátricos da verdade científica”. Ribeiro (2010, p. 36) ainda faz uma reflexão sobre este ponto ao realizar um exame sobre os desafios sobre a teologia latino-americana ao apoiar nas ideias de Tillich, ao constatar a necessidade de uma interpelação crítica que surge como uma necessidade de se chegar a novas possibilidades metodológicas e conteudistas sobre a teologia sobre as discussões científicas serem capazes de criticarem os absolutismos, sobretudo, os idolátricos acerca das verdades científicas.
Necessidade esta que aponta para uma interpelação crítica, que se esgota, independente de quaisquer momentos ao longo da história. Em Tillich essa interpelação será identificada como aquilo que ele chama de “espírito protestante”, segundo muitos estudiosos de seu pensamento que percebem da maneira peculiar que o pensador alemão encontra ao se posicionar diante destas fronteiras. O que faria da fenomenologia da religião no entendimento de Tillich, se aproximar de uma fenomenologia crítica.
A fenomenologia crítica da religião surgiria como uma maneira de realizar um aprofundamento para além das dimensões práticas. Justamente por permitir com que sejam postos em exame, os fatores externos que determinam e que poderão, inclusive, modificar a maneira pela qual se dá a relação do indivíduo com a religião. A dimensão cultural e de mediação que Tillich estabelece em sua teologia, a torna sensível para tratar destes aspectos sociais, que saem de um lugar, por muitas vezes visto, como de irrelevância para a experiência religiosa. Por outro lado, a individualidade religiosa passaria por uma espécie de “reinterpretação” que, nesse sentido, se admite a ideia de uma subjetividade em correlação com a cultura.
Paul Tillich, portanto, preocupou-se com a compreensão e com a crítica da realidade nos aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos. Em função disso, como visto, estabeleceu amplo debate entre a teologia e diferentes campos do conhecimento, o que possibilitou refutar formas de reducionismo e de absolutismo religioso ou teológico. Nesse sentido, está a referência à sua produção como teologia da mediação[…]. Isso foi possível devido, entre outros fatores, à formação cultural dele, em especial as influências filosóficas do existencialismo e do marxismo, que ofereceram substancialidade ao seu pensamento teológico. A síntese criativa e critica dessas perspectivas filosóficas possibilitou, por um lado, uma visão crítica da igreja e da sociedade e, por outro, participação ativa nos processos sociais, eclesiais e políticos de sua época […]. A metodologia por ele proposta tentava oferecer respostas às indagações da situação humana, com a devida integração das dimensões existencial e social, o que garante relevância e substancialidade da produção teórica de Tillich, mesmo em outros contextos sociais e em outras épocas (RIBEIRO, 2003, pp. 21,22).
Esse aspecto interdisciplinar que bem define a abordagem do pensamento de Paul Tillich, surge a partir de interesses profundos para com outras áreas do conhecimento humano, assim como da aplicação destes em suas produções intelectuais, definiriam sobre o seu pensamento teológico estar assentado sobre a cultura[11]. Segundo Goto (2004, p.13), Tillich, ao propor uma inserção da teologia no contexto da contemporaneidade, destacará a relevância de organizar uma conexão profunda entre a mensagem teológica e o contexto cultural da qual esta se coloca. Ainda Goto (2004, p.13) nesse sentido, o método da correlação[12], abre espaço para o emprego de outros recursos, tais como os oferecidos pela fenomenologia, sobretudo se tratando de sua aplicação na investigação da experiência religiosa.
2.4- A fenomenologia da religião em Paul Tillich e as ressonâncias do pensamento existencialista
Dada a importância do pensamento de Tillich, a sua fenomenologia da religião explora aspectos importantes inerentes à existência e à essência não excludentes entre si. Segundo Goto (2004, p.104), o pensamento tillichiano “representou uma inovação no sentido de superar o conceito científico de teologia como matéria concreta e normativa e de ampliá-la de modo a abarcar toda a cultura humana”.
A fenomenologia da religião em Paul Tillich se situa dentro dos limites de uma abordagem substantiva da religião, conferindo assim consistência em relação ao aspecto interdisciplinar de seu pensamento que poderá ser identificado a partir da própria articulação de sua teologia com a cultura. Essa movimentação abarcou consigo uma série de outras áreas do conhecimento como as ciências sociais, a psicanálise, a filosofia dentre outras que fizeram parte do itinerário formativo do pensamento tillichiano.
Entretanto há também o aspecto da abordagem funcional da religião que se identifica a partir de aspectos formadores do pensamento de Tillich. Ele que é tido como um pensador existencialista cujas influências originam a partir de diferentes períodos históricos do desenvolvimento deste pensamento que, por sua vez, se situa em um contexto que orbita o período histórico do idealismo alemão. Influências estas que derivam através de precursores do existencialismo nomes como Friedrich Schelling (1775-1854), Søren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Karl Marx (1818-1883). Importante considerar que as influências do pensamento de Marx em Tillich não se deram, somente, quanto ao aspecto político tal como o pensamento marxista assim se firmou. Paul Tillich era também um crítico do pensamento político marxista e de alguns marxistas de seu tempo. É reconhecido que Tillich fazia parte do socialismo religioso em que as ideias marxistas eram sempre discutidas, porém há um aspecto importante trazido por ele em relação a Marx, pelo qual o define “como teólogo, mas também como um profeta secular moderno cuja voz ressoa especialmente em seus primeiros escritos” (Abijaudi, 2023, p.123).
Em um sentido prático, a abordagem funcional característica do pensamento de Tillich surge, também, por correlacionar temas presentes em sua contemporaneidade situando-os no contexto teológico que compreende uma abordagem sistêmica. Isso pode ser constatado, como exemplo, em um trecho de um de seus sermões que enfatizaram temas tão combatidos por Tillich (como a idolatria e a heteronomia) que, ao trazê-los sob uma visão existencialista, os problematiza atualizando-os tanto sob um ponto de vista secular quanto teológico.
Todas as pessoas desejam falsos profetas quem, através da glorificação de seus deuses, glorifiquem seus seguidores e a eles mesmos. Pessoas que desejam ser lisongeadas em relação aos seus desejos e virtudes, seus sentimentos religiosos e atividade social, seu desejo de poder e esperanças utopistas, seu conhecimento e amor, sua família a raça, sua classe e nação. E o falso profeta poderá sempre ser encontrado ao glorificar o demônio que eles adoram (TILLICH, 1948, p.91-92, tradução nossa)[13].
O conceito de ambiguidade – que é um aspecto importante no pensamento existencialista de Tillich – é de relevada importância em sua fenomenologia da religião. Para Tillich, a ambiguidade é uma característica fundamental da condição humana e que consiste na síntese envolvendo a essência humana e aspectos ligados à existência – como a contradição, morte, doença, sofrimento etc.- e que estão fora do controle das ações humanas. A partir dessa síntese, se busca verificar de que maneira a essência humana se manifesta na realidade objetiva, considerando a inevitável tensão entre o ser e o não ser caracterizada por conflitos como alienação e fragmentação. Essa ideia de dualidade no pensamento de Tillich é trazida por Abijaudi (2023, pp 89-90) pelo fato de que o pensador entendia a natureza humana como duplicidade entre a essência (que precede a existência) e a consciência que efetiva a existência. Esta que por ser impactada pelo não-ser e pela angústia em relação à morte, situa o existencialismo como uma realidade de ruptura provocado pela ambiguidade (ibid., 2023, pp 89-90).
Sobre a relação entre essência e existência, Goto (2004, p.100) assinala que sempre fora uma preocupação de Tillich em relação à filosofia e à teologia. Um outro conceito proposto por Paul Tillich em sua fenomenologia, consiste no método de correlação. Nesse sentido, ele objetiva “unir mensagem e situação”, pois este “tenta correlacionar as perguntas implícitas na situação com as mensagens implícitas na mensagem” (Tillich, 2005, p.25). O método objetiva equilibrar a interface entre situação e mensagem, sem com que um destes polos sobreponha ao outro (Goto, 2004, p.109). O método de correlação busca estabelecer um diálogo entre questões existenciais e respostas teológicas, vinculando o contexto histórico às mensagens essenciais da tradição. Esse conceito reflete a influência do pensamento de Schelling – em seu último momento filosófico -, em que a relação entre essência e existência adquire uma significativa importância.
Para Tillich, Schelling teve basicamente três momentos: o primeiro, caracterizado pela filosofia romântica da natureza, de que ele foi o precursor; o segundo, da filosofia da intuição estética, em que ele se volta para a questão da identidade; e, por último, o fim da radicalização do essencialismo, marcado pela ênfase das questões existenciais. É por esse último momento filosófico de Schelling que Tillich vai ser profundamente influenciado – e que o levará a desenvolver a correlação entre a existência e a essência. (GOTO, 2004, p.100)
A fenomenologia da religião tillichiana se insere em um “pensamento de fronteira”. E estar na fronteira significa ter de assumir uma abordagem interdisciplinar que consiste na interface entre a teológica e a filosofia no pensamento tillichiano (Ribeiro, 2010, p.32). O conceito de fronteira se refere ao espaço de interseção e diálogo interdisciplinar, levando em conta as diferentes perspectivas filosóficas e teológicas que se encontram em constante tensão. Dentro dessa perspectiva, a fenomenologia da religião em Tillich assume uma característica particular – se comparada com as fenomenologias de Husserl e Heidegger -, pois parte do princípio de uma “fundação ontológica”. De acordo com Goto (2004, p.110) a fenomenologia da religião para Tillich corresponde à investigação do ser, retomando-o “como compreensão e interpretação, pois, se o homem já é interpretação de algo, este modo-de-ser só pode estar fundado ontologicamente”.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que Paul Tillich fora capaz estabelecer sua fenomenologia da religião a partir da própria (religião cristã) ao apontar, a partir dela, certos limites que conflituam em relação à cultura dos quais ele considera dignos de serem avaliados e superados. Isso se dá por conta de ter identificado – a religião cristã – compactuada com o materialismo ligado ao desejo e ao consumo pelo qual esta deveria combater, e que ao invés disso, por muitas das vezes ela cedeu à utopia e, consequentemente ela se inclinado à idolatria. A crítica de Tillich em relação à religião cristã, concebe que ao ceder ao materialismo esta passa a se render, portanto, ao imediatismo ao priorizar pelo atendimento das necessidades circunstanciais e materialistas, ao invés de se preocupar com o sofrimento humano em suas profundezas existenciais, ao reforçar a importância da relação não excludente entre a fé e a razão.
Em um sentido prático, ao excluir da experiência religiosa a importância a reflexão e do papel da subjetividade na relação com o sagrado, a religião cristã, no pensamento de Tillich, deixa de se tornar uma possibilidade da conquista da autonomia, passando a fazer desta uma heteronomia que prefigura uma relação de domínio e de uma alienação graças à influência ideológica institucional. Ou, até mesmo, em uma situação mais extremada: a idolatria. Neste caso as consequências trazidas anteriormente, resultariam em um nível de alienação do qual impossibilita, ao indivíduo, a construção de um pensamento crítico em relação à religião. O pensamento crítico é, portanto, fundamental para se estudar cientificamente a religião.
A Ciência da religião, enquanto área do conhecimento acadêmico, surge como um campo das ciências humanas que possibilita um aprofundamento de um exame para além das dimensões práticas religiosas por permitir com que sejam postos em exame fatores externos que determinam e que poderão, inclusive, até modificar a maneira pela qual se dá a relação do indivíduo com a religião. Essa possibilidade se dá historicamente – i.e, pelo surgimento da Ciência da religião – por ser uma área do conhecimento que se fundamenta de forma interdisciplinar nas ciências humanas aportando, sobretudo, saberes oriundos dos campos da filosofia, teologia (excluindo o contexto confessional), antropologia, sociologia e da psicologia.
A dimensão cultural e dialética que Tillich estabelece em seu pensamento o caracteriza como interdisciplinar, logo, possibilitando aproximação com a Ciência da religião e, consequentemente, com a fenomenologia da religião por admitir o diálogo interreligioso. E isso bem caracteriza o pensamento de Tillich como sensível e urgente para tratar dos conflitos envolvendo religião cristã e sociedade que deixam de serem vistos como irrelevantes para a experiência religiosa, por considerar fundamental a interrelação entre o sagrado e a cultura. O método da correlação seria, portanto, uma das principais contribuições do pensamento tillichiano que possibilita uma interface científica entre religião e cultura, pois ele se dá a partir daquilo que há no sagrado que ressoa nos fenômenos culturais. Consistindo em um recurso complementar quanto à revisão e validação do fenômeno religioso.
Por conta disso, o distanciamento – apontado como um problema – entre as abordagens substantivas e funcionais da religião poderiam encontrar uma forma de serem considerados como de fundamental importância no aspecto científico da religião. Considera-se, pois, a importância extraída através da experiência como indispensável para a construção do conhecimento. Nesse sentido, a experiência religiosa não prescinde dos aportes filosóficos – substantivos -, que refletem no discurso, no simbólico e na subjetividade tão imprescindíveis para a construção do pensamento. Não abrindo mão, tampouco, da importância funcional da qual a experiência religiosa não se limita a tal. Trata-se, portanto, da experiência religiosa consistir em um modo de existência e de linguagem tanto para o sujeito quanto para uma sociedade favorecendo pensamento crítico e, com isso, fortalecendo identidades através do reconhecimento e valoração da ancestralidade nas novas gerações lutando pela defesa de sua cultura, símbolos e religiosidade. Sendo esta, a condição de resistência como forma de existir no tempo.
A experiência religiosa é capaz de integrar a perspectiva ontológica de cunho existencialista do pensamento de Paul Tillich. Essa perspectiva, ao mesmo tempo que surge como um limite, revela também o caráter interdisciplinar graças a uma condição expressa no pensamento de Tillich, de uma preocupação que é a da busca por um constante diálogo não fronteiriço envolvendo religião com os contextos sociais, culturais e políticos. Tem-se aí a defesa pela pluralidade – em um contexto amplo envolvendo religiões, religiosidades, espiritualidades e ideologias – que, por sua vez, adquire estatuto interdisciplinar em relação ao pensamento. Sendo esta a práxis do diálogo inter-religioso e que, para com que se sustente a partir de um contexto acadêmico, que o seja através da Ciência da religião. Esta que, por sua vez, conserva sua especificidade enquanto ciência que contempla a religião distanciada de uma hermenêutica determinada no sentido confessional, ao se ocupar da abordagem da dimensão religiosa sob um ponto de vista fenomenológico específico em seu campo – a fenomenologia da religião.
Por conta disso, o estudo confirma o objetivo da Ciência da religião que seria o de promover a integração e valorização da(s) experiência(s) religiosa(s), bem como de suas manifestações que se dão nos contextos religiosos e para além, ou seja, na cultura, sem as interferências que configuram aspecto fronteiriço na invalidação destas expressões por conta de moções oriundas por parte de certos segmentos institucionais, políticos e sociais. A Ciência da religião, nesse sentido, deixa de se limitar apenas no contexto epistemológico, ao assumir um compromisso da defesa pelo diálogo interreligioso, suas manifestações, assim como em prol da valoração e defesa das diversidades não apenas religiosas e de espiritualidades, mas das diferenças manifestadas em suas mais variadas formas.
REFERÊNCIAS
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[1] Discente do Mestrado em Ciência da Religião do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião (UFJF). Especialista em Ciência da Religião (UFJF). Especialista em Psicanálise (Dom Alberto). Bolsista CAPES. E-mail: danielmdalpra@gmail.com
[2] Docente do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor em Teologia pela PUC – Rio, com pós-doutorado em Teologia pela Southern Methodist University e em Ciências da Religião pela PUC – Campinas. E-mail: cdeoliveiraribeiro@gmail.com
[3] “Doutrina filosófica, distinta do movimento artístico-literário, que, no final do século XVIII até a metade do séc. XIX, em reação contra o racionalismo da filosofia das Luzes, põe-se a depreciar os valores racionais e a enaltecer a imaginação, a intuição, a espontaneidade e a paixão” (Japiassú & Marcondes, 1996, p.237).
[4] Se referindo à Ciência da Religião (C.r), que em alemão corresponde a Religionswissenschaft. Pieper (2024) aponta Friedrich Max Müller como idealizador da área de estudos “denominada de Ciência da Religião”, entretanto, sob o ponto de vista institucional o nome de referência é o do erutido neerlandês Cornelis Tiele (1830-1902) sendo este o responsável por estabelecer a C.r como disciplina universitária (ibid., 2024).
[5] Esta colocação é reforçada pelo fato de seu pai ser um escritor de poemas que foram musicados por Schubert como Die Schöne Müllerin and Winterreise. Tempos mais tarde, Ralph Waldo Emerson, amigo de Max Müller, lhe dissera que ele poderia ter se tornado um pianista de alto nível, reforçando assim um caráter importante e presente do romantismo alemão, ou seja, da arte enquanto campo de reflexão e experiência (Sharpe, 2005, p.27).
[6] The Sacred Books of the East (Paden, 2005, p.212)
[7] “[…] a visão substantiva entende a religião de forma não-derivada, como uma essência, a visão funcional a percebe como derivada, como um produto social, cultural, econômico, político etc.” (Huff Júnior & Calvani, 2021, p.365).
[8] According to Müller, such a science of religion was to be ‘based on an impartial and truly scientific comparison of all, or at all events, of the most important religions of mankind’.
[9] Teólogo, pastor luterano e filósofo da religião teuto-estadounidense tido como um grande articulador de suas ideias tanto no campo filosófico quanto teológico para com outras áreas do conhecimento. Graças à esta abertura interdisciplinar, com a natureza existencialista de seu pensamento, aliado a uma postura crítica em relação à uma perspectiva teológica não liberal, permitiu com que uma abordagem crítica nos campos científicos e filosóficos sobre a religião, tornassem uma marca em suas produções.
[10] Como Ribeiro aponta acerca da conferência “The Significance of the History of Religions for the Systematic Theologian, ministrada por Paul Tillich – e que foi publicada postumamente em 1966 em The Future of Religions -, em que o pensador coloca uma ênfase acerca a importância (ainda que indicativa), do diálogo inter-religioso (Ribeiro, 2003, p. 20).
[11] Paul Tillich, ao enfrentar e observar uma série de mudanças em seu tempo como os diversos problemas sociais, de uma dissolução da estrutura social e do surgimento de uma arte revolucionária, assim como da aproximação com as perspectivas psicanalíticas acerca do surgimento de novas consciências a partir da repressão, pode estabelecer as bases teóricas durante os anos de 1919 a 1924 enquanto era professor de filosofia da religião em Berlim (Ribeiro, 2003, p.13). Um de seus trabalhos de maior destaque fora escrito no ano de 1919, intitulado: “Über die Idee einer Theologie der Kultur (Sobre a ideia de uma teologia da cultura)” (ibid., 2003, p.13).
[12] O método da correlação “procura explicar os conteúdos da fé cristã por intermédio de perguntas existenciais e de respostas teológicas em mútua interdependência” (Ribeiro, 2003, p. 23).
[13] All people desire false prophets, who, through the glorification of their gods, glorify their followers and themselves. People long to be flattered in regard to their desires and virtues, their religious feeling and social activity, their will to power and utopian hopes, their knowledge and love, their family and race, their class and nation. And a false prophet can always be found to glorify the demon they worship.