REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8076538
Igor José dos Santos¹
Jaqueline Diniz da Silva²
Fernanda Faria de Almeida Rojas Gutieres3
Alex Sandro Dias Costa4
Nei Domiciano da Silva
Helianna Barbosa Lourenço
Alexandre Vieira Silva
Rogério dos Santos Morais
Jair Rottini
RESUMO
Vivenciado um momento delicado no sistema de saúde e também econômico, muitas pessoas tiveram que inovar e neste cenário, o presente artigo analisou especificamente o quadro de Microempreendedores Individuais de uma determinada região, verificando como reagiram aos impactos ocasionados pelo COVID-19 e consequentemente como contornaram a situação, mantendo o negócio ativo, gerando renda para o sustento de suas famílias e realizações pessoais. Adotou-se uma pesquisa quantitativa de caráter exploratório, sendo aplicado um formulário semiestruturado para coleta de dados. Buscou-se conhecer as alternativas escolhidas pelos empreendedores e como tem sido moldar seus negócios diante da situação atual. Com as incertezas, a resiliência e a persistência foram características fundamentais para que a crise pudesse ser enfrentada. Reinventar foi primordial para que os riscos pudessem ser amenizados e proporcionalmente a isso, servir de referência para outros indivíduos.
Palavras-chave: Microempreendedor Individual (MEI); Pandemia; Crescimento; Reinventar; Cenário; Resiliência.
1 INTRODUÇÃO
Diante de uma sociedade com crescimento cada vez mais relevante dos Microempreendedores Individuais (MEI) no mercado, e com o enfraquecimento da economia, analisou-se como tal público reagiu aos impactos perante a situação de Pandemia ocasionada pelo COVID-19. Pouco se conhecia sobre o vírus e os malefícios que o mesmo poderia causar, tampouco sabia-se em quanto tempo iria cessar.
Com o decorrente abalo do setor econômico, surgiram incertezas e muitos questionamentos em relação ao futuro, principalmente no que diz respeito aos riscos de se manter como empreendedor: realmente seria rentável dar continuidade aos negócios? Ou seria mais vantajoso caminhar para o fim? Dúvidas como essas foram constantes e, ressalta-se que o propósito deste artigo é estudar e analisar os efeitos do novo cenário para os empreendedores de uma região mineira.
A figura do empreendedor é dominante em toda história do progresso da humanidade. As Grandes Navegações, a Revolução Mercantil e a Revolução Industrial, são apenas alguns dos eventos promovidos pelo empreendedorismo, envolvendo a tomada de riscos na identificação e no aproveitamento de oportunidades (MAXIMIANO, 2006, p. 3).
Segundo o Portal El País (2021), o Brasil chegou a um desemprego de 14,6% entre julho e setembro de 2020, quando o isolamento social e a retração da economia com a pandemia do covid-19 reduziram a oferta de postos de trabalho. Seguindo esse raciocínio, é importante salientar que a taxa de desempregados contribuiu com o surgimento do MEI.
Nesse contexto, torna-se relevante, ainda, destacar as possíveis vantagens e desvantagens executadas através do empreendedorismo. Saber lidar com as incertezas e aventurar-se na reinvenção, são pilares importantes na busca pelo sucesso. Analisar o ambiente e entender o que é benéfico para o negócio, contribui para que cada vez mais novas ideias “floresçam” e melhorias possam ser feitas cotidianamente.
Empresários renomados como Henry Ford e Bill Gates, começaram seus empreendimentos praticamente do zero, foram além da criação de empresas. Eles transformaram a tecnologia, o modo de fazer negócio e a própria sociedade (MAXIMIANO, 2006, p. 2). Isso mostra que o campo de conhecimento traz consigo oportunidades que fazem a diferença. Portanto, é importante ir em convergência com as informações, traçando bons caminhos para prosperidade.
De acordo com Schumpeter (1982 p. 9), é, contudo, o produtor que, via de regra, inicia a mudança econômica, e os consumidores, se necessário, são por ele ‘educados’; eles são, por assim dizer, ensinados a desejar novas coisas, ou coisas que diferem de alguma forma daquelas que têm o hábito de consumir. Sendo assim, nota-se a capacidade contínua dos indivíduos de se adaptar e inovar dentro de um contexto econômico.
2 OBJETIVO
O objetivo principal do presente artigo é levar conhecimento sobre o MEI e, os impasses deste diante da pandemia, agregando ideias, conceitos, discussões de dados estatísticos e informações de cunho profissional relacionados ao empreendedorismo, sendo instrumento de aprendizagem e pesquisa para indivíduos interessados no tema.
O estudo foi realizado através de trinta e três Microempreendedores Individuais de seis cidades do Sul de Minas Gerais, verificando os benefícios e malefícios vivenciados por eles durante o momento pandêmico ocorrido em todo o globo terrestre e como os mesmos contornaram essa situação.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Empreendedorismo e suas características
Empreender não é missão fácil. Muitos já nascem com características que contribuem para o surgimento dos respectivos talentos; outros empreendem por necessidade e, assim, aprendem e buscam no empreendedorismo forma de sustento, tanto como forma de elevação e valorização social.
Segundo Schumpeter (1985), empreender é inovar a ponto de criar condições para uma radical transformação de determinado setor, ramo de atividade, território, onde o empreendedor atua: novo ciclo de crescimento, capaz de promover uma ruptura no fluxo econômico contínuo, tal como descrito pela teoria econômica neoclássica.
De acordo com o Sebrae (2022), um empreendedor deve apresentar algumas características fundamentais, dentre elas:
Tabela 1: Comportamentos do empreendedor
Características | Descrição |
Busca de oportunidades e iniciativa | Age com proatividade, aproveita oportunidades incomuns para progredir |
Persistência | Reavalia e muda seus planos para superar objetivos |
Disposição para correr riscos calculados | Assume desafios e responde por eles |
Exigência de qualidade e eficiência | Melhorar continuamente seu negócio e/ou seus produtos |
Comprometimento | Atua em conjunto com a sua equipe para atingir bons resultados |
Busca de informações | Busca orientação e investiga como oferecer novos produtos e serviços |
Estabelecimento de metas | Cria objetivos mensuráveis, com indicadores de resultado |
Planejamento e monitoramento sistemáticos | Enfrenta grandes desafios, agindo por etapas |
Persuasão e rede de contatos | Obtém suporte de pessoas chave para seus objetivos |
Independência e autoconfiança | Transmite confiança na sua própria capacidade |
Fonte: Adaptado pelos autores
Portanto, faz-se necessário, a exploração e compreensão a respeito do indivíduo empreendedor, e os caminhos que ele percorre para alcançar os objetivos, já que antes da década de 90, o empreendedorismo não era muito difundido. Ele, em verdade, passou a ser relevante através de instituições incentivadoras, tais como SEBRAE e SOFTEX (Serviço Brasileiro para Exportação de Software). Essas organizações auxiliam e prestam consultoria, contribuindo para o desenvolvimento do seu negócio e do país (HALICKI, 2012).
3.2 O MEI em tempos contemporâneos
Na atualidade, trabalhar informalmente acarreta algumas desvantagens ao indivíduo, como o desamparo financeiro e legal, ou seja, é um ambiente de incertezas e impasses. Apesar do trabalhador atuar livremente e fazer seus próprios horários, não usufruir de benefícios que lhes são de direito, como FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), licença maternidade/paternidade, auxílios do governo (seguro desemprego, auxílio-doença, aposentadoria, etc.), torna a atividade desfavorável ao profissional que, além de não gozar das vantagens acima citadas, impede, ainda, que seus negócios prosperem.
De acordo com o Portal da REDESIM (2018), o MEI surgiu em 2008, com a Lei nº 128, buscando formalizar trabalhadores brasileiros que desempenhavam atividades sem o amparo legal ou jurídico. Com a legislação em vigor desde 2009, mais de 7 milhões de pessoas já se formalizaram como microempreendedores individuais.
É notório que o crescimento do MEI no país vem se destacando no mercado devido as suas particularidades. Segundo o Sebrae (2021), para aqueles que desejam se enquadrar neste perfil de empresa, deve-se seguir os requisitos abaixo:
- Limite de faturamento anual no ano de 2022 de R$ 81.000,00 (R$ 6.750,00 mensais), sendo que há um projeto de Lei em tramitação que visa aumentar o teto em 2023;
- Não possuir participação em outra entidade como sócio ou titular;
- Contratar apenas um funcionário com um salário mínimo ou o piso da categoria.
Quando formalizado como MEI, a pessoa física passa a ter um CNPJ, passando a ter, assim, obrigações e direitos de uma pessoa jurídica. Um dos benefícios é o de adquirir créditos bancários com juros mais acessíveis; outro, é ser enquadrado como Simples Nacional e estar isento de tributos federais (Imposto de Renda, PIS, COFINS, IPI e CSLL).
Por outro lado, o MEI, como qualquer outro regime empresarial, requer uma atenção, já que há existência de riscos. Como não existe a possibilidade de se ter um sócio, automaticamente delimita-se as responsabilidades para o titular do CNPJ, o que dificulta maiores investimentos no negócio, uma vez que a integralização do Capital Social é apenas do titular e o mesmo terá que se responsabilizar por qualquer prejuízo (não poderá contar com ajuda de terceiros). Além disso, o fato de não ter vínculo empregatício (ser dono do empreendimento) traz consigo a necessidade de exercer a atividade de forma consciente, uma vez que a renda própria e a sobrevivência da empresa dependem exclusivamente do desempenho do titular.
Diante dessa configuração, visualiza-se diferentes perfis de MEI: o empreendedor nato (mitológico), o que aprende (inesperado), o serial (cria novos negócios), o corporativo, o social, por necessidade, o herdeiro (sucessão familiar) e o “normal” (planejado) (DORNELAS, 2007, p. 11-15).
Tabela 2: Perfis Empreendedores
Perfis Empreendedores | |
Empreendedor Nato (Mitológico) | Começaram do nada e criaram grandes impérios; São visionários, otimistas, estão à frente do seu tempo e comprometem-se 100% para realizar seus sonhos. |
Empreendedor que Aprende (Inesperado) | Normalmente uma pessoa que, quando menos esperava, se deparou com uma oportunidade de negócio e tomou a decisão de mudar o que fazia na vida para se dedicar ao negócio próprio. |
Empreendedor Serial (Cria Novos Negócios) | É aquele apaixonado não apenas pelas empresas que cria, mas principalmente pelo ato de empreender. É uma pessoa que não se contenta em criar um negócio e ficar à frente dele até que se torne uma grande corporação. |
Empreendedor Corporativo | São geralmente executivos muito competentes, com capacidade gerencial e conhecimento de ferramentas administrativas. Trabalham de olho nos resultados para crescer no mundo corporativo. |
Empreendedor Social | Tem como missão de vida construir um mundo melhor para as pessoas. Envolve-se em causas humanitárias com comprometimento singular. |
Empreendedor por Necessidade | Cria o próprio negócio porque não tem alternativa. Geralmente não tem acesso ao mercado de trabalho ou foi demitido. Não resta outra opção a não ser trabalhar por conta própria. |
Empreendedor Herdeiro (Sucessão Familiar) | O empreendedor herdeiro recebe logo cedo a missão de levar à frente o legado de sua família; O desafio do empreendedor herdeiro é multiplicar o patrimônio recebido. |
O “Normal” (Planejado) | Aquele que “faz a lição de casa”, que busca minimizar riscos, que se preocupa com os próximos passos do negócio, que tem uma visão de futuro clara e que trabalha em função de metas. |
Fonte: Adaptado de Dornelas (2007)
Para Dornelas (2007), os empreendedores por necessidade são vítimas do modelo capitalista atual, pois não têm acesso a recursos, à educação e às mínimas condições para empreender de maneira estruturada. Geralmente se envolvem em negócios informais, desenvolvendo tarefas simples, prestando serviços e conseguindo como resultado pouco retorno financeiro.
Já os empreendedores por oportunidade identificam uma chance de negócio ou um nicho de mercado e decidem empreender, mesmo possuindo alternativas correntes de emprego e renda (SEBRAE, 2022).
Logo, o MEI abre portas para todos os perfis, colaborando, então, para a formalização e desenvolvimento das atividades no mercado, tornando-se cada vez mais uma alternativa para aqueles que, por adversidades ou infelicidade no trabalho, buscam uma forma de renda para o próprio sustento ou simplesmente, exercer aquilo que almeja.
3.3 O MEI e seus impasses diante do Coronavírus (COVID-19)
O COVID-19 teve início em 31 de dezembro de 2019, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China (PORTAL OPAS, s.d.). De acordo com o Portal Radio Senado (2022), o primeiro caso confirmado de pessoa com o novo coronavírus no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro de 2020. Hoje, são mais de 28 milhões de casos registrados no país.
Com o surgimento da pandemia, inevitavelmente houve uma crise no sistema econômico e financeiro do país e, consequentemente, muitos trabalhadores foram afetados, o que deixou um cenário de incertezas e muitos questionamentos sobre trabalho e geração de renda, já que o isolamento social foi firmado em lei.
Em março de 2020, com o decreto de distanciamento social como medida protetiva, muitas pessoas foram obrigadas a deixar seu local de trabalho, continuando suas atividades somente aqueles considerados essenciais: supermercados, farmácias, postos de combustíveis e principalmente hospitais. Tal alternativa fraquejou a economia, desestabilizando milhares de empreendimentos, e, paralelamente, surgiram novas ideias como forma de resiliência.
Diante do “susto” vivenciado, a palavra reinventar nunca foi tão popular, e foi isso que as pessoas fizeram. O MEI teve um crescimento significativo, do total de CNPJ criados em 2021, 3,1 milhões optaram por ser MEI, o que corresponde a 80% dos negócios abertos. Nos anos de 2018 e 2019, eles representavam 75% dos pequenos negócios criados (SEBRAE,2021).
De acordo com o gráfico abaixo, um levantamento feito pela Serasa Experian mostrou que, em janeiro de 2021, houve recorde no número de novos negócios no país.
Figura 1: Crescimento do MEI no Brasil
Fonte: Serasa Experian 2021
Observando o cenário, novas providências surgiram, a fim de auxiliar o microempreendedor na execução de suas atividades.
No início de abril, o Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN) publicou a Resolução Normativa nº 154, que prorrogou o vencimento dos tributos federais relativos aos meses de abril, maio e junho por seis meses. Sendo assim, as guias que venceriam, em 20 de abril, 20 de maio e 20 de junho têm como novos vencimentos as datas de 20 de outubro, 20 de novembro e 20 de dezembro, respectivamente (SEBRAE,2021).
O teletrabalho, popularmente conhecido como home office, foi também uma opção para aqueles que precisavam trabalhar e não queriam, de certa forma, dar uma pausa nas atividades e continuar cumprindo com os protocolos de prevenção do COVID-19. Muitas foram as dificuldades encontradas, pois diversas empresas com o perfil conservador, sentiram o impacto do avanço tecnológico na contemporaneidade. Fazer algo diferente do habitual, tornou-se uma barreira. Entretanto, foi a alternativa cabível naquele momento. Outro caminho para manter-se ativo foi a concessão de férias coletivas aos funcionários, uma vez que a demanda de serviços de certas entidades teve uma queda significativa.
Apesar das alternativas criadas, houve crescente número de desemprego, motivando, assim, esses indivíduos a se tornarem empreendedores, não por vocação, mas pela necessidade de sobrevivência.
A pandemia puniu de forma mais dura os trabalhadores com pouca instrução, com redução de postos de trabalho, em 2020, de 17,1%, para pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto, e de 14,8% para o grupo com fundamental completo e ensino médio incompleto. A queda foi menor, de 6,4%, entre aqueles com médio completo e superior incompleto. Entre os brasileiros com superior completo, por outro lado, houve avanço de 5,5% nos empregos em 2020 (PORTAL FGV IBRE, 2021).
À vista disso, nota-se que a pandemia teve influência no surgimento de empreendedores, que deixaram de lado o que era confortável e “seguro” para conseguirem sobreviver. Observa-se então, que o crescimento de empreendedores por necessidade sobressai sobre os demais, devido a taxa de desemprego, fechamento de empresas e redução de salários. Empreender por necessidade, nem sempre é prazeroso, mas é uma alternativa para aqueles que buscam uma ocupação.
4 MÉTODO DE PESQUISA
Com o intuito de analisar o impacto da pandemia para os Microempreendedores Individuais e suas vertentes, esta pesquisa é classificada como quantitativa de caráter exploratório. Os conceitos abordados foram baseados em materiais já publicados, sendo estes: livros, sites, revistas, artigos científicos e anais científicos.
Com base na pesquisa bibliográfica, aplicou-se um formulário criado através do “Google Forms”. O intuito deste foi captar informações referentes à realidade vivenciada pelos Microempreendedores durante o cenário pandêmico. Nele estavam contidas perguntas com alternativas, tornando-o claro e direto. Para guiar o questionário, seguiu-se um roteiro com as seguintes perguntas:
- Nome, Idade, Formação e Gênero
- Quando você se tornou-se Microempreendedor Individual (MEI)?
- Qual o ramo de sua atividade?
- Já tinha conhecimento da atividade escolhida?
- Por qual meio de comunicação conheceu o MEI?
- Como foi o desempenho do seu negócio durante a pandemia?
- Precisou suspender as atividades durante a pandemia?
- Quais foram os principais desafios enfrentados?
- Sente-se realizado profissionalmente?
- Em algum momento percebeu que não queria mais empreender?
- Na pandemia, utilizou de benefícios governamentais?
- Mudou ou pensa em mudar de ramo?
- Consegue visualizar vantagens e desvantagens em ser MEI?
- Como é sua jornada de trabalho?
- Possui amparo contábil?
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletadas trinta e três respostas, em seis cidades do Sul de Minas Gerais, sendo estas: Aiuruoca, Baependi, Cristina, Cruzília, Inconfidentes e São Lourenço. Por meio dos resultados obtidos com a pesquisa, apresenta-se abaixo a apuração real dos dados mais relevantes. Do total de entrevistados, dezenove são do gênero feminino (57,6%) e quatorze do gênero masculino (42,4%), como mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 1: Gênero dos participantes do formulário
Ao analisar o perfil empreendedor, nota-se que as mulheres, durante a pandemia, mantiveram-se em maior número no mercado, quando comparado aos homens. Percebe-se também que a maioria dos entrevistados estão na faixa etária entre 16 a 30 anos, havendo variação entre aqueles que estão ingressando no mercado de trabalho e outros já ativos, em busca de realização financeira e profissional.
Gráfico 2: Idade dos Empreendedores entrevistados
Em relação às pessoas com idade acima de 51 anos, observa-se uma baixa porcentagem de empreendimentos, com apenas 3% dos dados coletados. Não se sabe ao certo
o motivo, mas cabe citar que podem estar aposentados, ou caminhando para tal feito, ou simplesmente já estabilizados, não havendo a necessidade de correr riscos.
Quando perguntado o grau de escolaridade, verifica-se um número relevante de indivíduos que concluíram o Ensino Médio. Em contrapartida, a minoria não concluiu o Ensino Fundamental. Aqueles que concluíram o Ensino Superior somam 12,1%, comprovando que não é um fator determinante ser graduado, pois independentemente do nível de formação o importante é o espírito empreendedor.
Gráfico 3: Nível de Escolaridade
Quando analisado o ano de abertura do MEI, a maior parcela concentra-se entre os anos de 2016 a 2020, verificando então que nem todos iniciaram suas atividades naquele momento delicado de pandemia, havendo consequências significativas durante esse período, benéfica para alguns e prejudicial a outros. Ainda assim, diante de todos os empecilhos, surgiram novas possibilidades e os microempreendedores fizeram destas, um caminho para o empreendimento. Como mostra o gráfico abaixo, 18,2% dos empreendedores iniciaram suas atividades na Pandemia:
Gráfico 4: Ano de abertura do MEI
Já que os estudos foram realizados na região Sudeste do país, mais precisamente no Sul de Minas, as atividades de prestação de serviços e comércio se destacaram, mantendo uma
porcentagem equivalente a 84,80% para cada atividade, o que reflete no perfil desenvolvido da localidade, que possui vasta quantidade de comércio e empresas industriais (há muitas que necessitam de prestação de serviços por terceiros).
Gráfico 5: Ramo de Atividades
Para dar início a atividade, ter conhecimento da área que irá atuar é indispensável, visto que as chances de fracassar são menores, embora ela esteja presente. Trazer uma experiência anterior facilita o desempenho do negócio encurtando o processo das metas estabelecidas. Portanto, somente quatro das pessoas que responderam o formulário não tinham conhecimento algum da atividade que iriam exercer. O que é considerado um resultado satisfatório, quando comparado a grande maioria.
Gráfico 6: Conhecimento da atividade exercida
Deter o conhecimento sobre como formalizar o empreendimento também faz parte do processo de desenvolvimento. Com a globalização, a transmissão de informações através de diferentes veículos, como internet, revistas, televisão e até mesmo indicação de amigos facilitou tal conhecimento sobre o assunto. No questionário, a maioria alega que conheceu o MEI através de outras empresas, o que demanda uma melhor troca de informações.
Gráfico 7: Veículos por qual conheceu o MEI
Com os danos ocorridos no período de pico do COVID-19, muitas empresas tiveram que inovar sua gestão para que as atividades pudessem ter uma continuidade. Por outro lado, outras não tiveram a mesma sorte e precisaram diminuir ou até mesmo parar com suas atividades. No estudo realizado, os dados coletados apontam que nenhum dos pesquisados ficou sem trabalho. Enquanto 60,6% afirmam que houve uma queda no ritmo da empresa, outros 6,1% relatam aumento de atividade, ocasionando, então, benefícios aos mesmos.
Gráfico 8: Desempenho do negócio durante a pandemia
Quando questionados sobre os desafios enfrentados, foram listadas algumas possíveis dificuldades. Entre elas, a (queda) demanda de serviços se destaca (54,5%), seguida da diminuição da jornada de trabalho (18,2%), deduzindo, portanto, que a redução de horas trabalhadas foi consequência da baixa procura pelos serviços. Outro fator importante é o capital, pois é através deste que é possível realizar investimentos e arcar com as responsabilidades do dia a dia da organização, e, neste contexto, sete dos entrevistados alegaram ter tido dificuldade com o financeiro, havendo então baixa quantidade de capital, impossibilitando o crescimento do empreendimento. Salienta-se, ainda, que apenas três pessoas (9,1%) não enfrentaram nenhum desafio, em oposição ao cenário.
Gráfico 9: Desafios enfrentados
No que tange às desvantagens de ser MEI não só em um período desafiador mas de modo geral, o limite de faturamento anual de R$ 81.000,00 foi o mais citado no questionário (45,5%), pois acarreta, como já mencionado, um possível bloqueio nas possibilidades de crescimento do negócio. Seguindo esse raciocínio, o fato de poder contratar apenas um funcionário é também um obstáculo que não favorece a alavancagem, razão pela qual 21,2% mostraram-se insatisfeitos com tal requisito. Não possuir vínculo empregatício apresentou a segunda maior porcentagem em relação a insatisfação das pessoas (24,2%). Isso se deve à restrição do seguro desemprego, já que se as portas fecharem, não se teria a quem recorrer financeiramente.
Gráfico 10: Desvantagens do MEI
Analisando os fatores benéficos, a tributação simplificada foi significativa (39,4%) como sendo a principal vantagem, visto que os tributos apresentam uma grande carga para outros regimes tributários, e, consequentemente, o MEI é uma opção mais acessível. Ao contribuir com os tributos e emitir suas notas fiscais, o empreendedor, de certa forma, mantém-se formalizado, tornando-se transparente em relação às suas obrigações, sendo este o desejo de 33,3% dos entrevistados. Ainda sobre as vantagens, 6,1% relatam facilidade na
captação de recursos através de créditos bancários, pois o mesmo apresenta melhores condições e valores disponibilizados em relação a uma pessoa física.
Gráfico 11: Vantagens do MEI
Ao enfrentar períodos instáveis, o governo disponibilizou alternativas para socorrer aqueles que estavam ameaçados, uma delas foi a disponibilização do Auxílio Emergencial que, como o próprio nome já diz, recurso que deve ser utilizado em períodos de maior necessidade. O público alvo mostrou-se bem dividido, pois 48,5% informaram não ter precisado do benefício, enquanto 45,5% utilizou do mesmo apenas uma vez, para auxiliar na continuidade dos empreendimentos. Ressalta-se ainda que apenas uma pessoa cita ter buscado amparo governamental e não ter obtido sucesso.
Gráfico 12: Utilização de Recursos Governamentais
Um aspecto relevante foi que, mesmo com todos os empecilhos encontrados, a taxa de desmotivação perante a existência do MEI foi muito baixa, o que demonstra que provavelmente estes empreendedores possuem características como determinação e resiliência. Das 33 pessoas, 81,8% delas não pensaram em desistir (Gráfico 13), tampouco mudar de ramo (Gráfico 14), pois possivelmente encontraram naquela ocasião uma forma de
superar seus limites e alcançar resultados fortalecedores. Da mesma forma, os mesmos indivíduos sentem-se realizados profissionalmente, reforçando a prosperidade de seus negócios (Gráfico 15).
Gráfico 13: Taxa de motivação dos Empreendedores
Gráfico 14: Necessidade de mudança de ramo
Gráfico 15: Realização Profissional
Com o crescimento do MEI no Brasil, pressupõe-se que todas as informações devem estar em consonância com a realidade exercida, mas nem sempre isso acontece. Há muitas pessoas que se tornam Microempreendedores Individuais sem se aprofundar sobre o tema, contribuindo, então, para falta de compromisso e responsabilidade, não só fiscal como também com os direitos e deveres do empreendedor. O amparo contábil não é obrigatório, mas é de suma importância para que essas informações cheguem de forma apropriada, evitando danos aos responsáveis. No questionário aplicado, 20 pessoas (60,6%) possuem suporte de profissionais da área contábil, enquanto 39,4% afirmam realizar toda parte burocrática sozinhos, via internet, através de aplicativos. Apesar de não ser uma obrigatoriedade, a ajuda de um contador é importante no esclarecimento de dúvidas para que o MEI continue empreendendo de maneira correta, em busca de seus objetivos.
Gráfico 16: Utilização de amparo contábil
6 CONCLUSÃO
Por meio deste trabalho, foi possível aprofundar sobre os Microempreendedores Individuais, em especial, aqueles que atuaram de forma significativa durante a pandemia. Com esse estudo pode-se observar os diferentes perfis dos empreendedores do Sul de Minas Gerais e os impactos positivos e negativos vivenciados por estes em um momento de abalo econômico e social.
Observa-se que apesar de todos os embaraços, os empreendedores, em sua grande maioria, mantiveram-se ativos, contribuindo para geração de renda e desenvolvimento do país. Cabe salientar que as mulheres se destacaram e tiveram um papel importante nesta pesquisa, pois mostraram-se em maior quantidade, evidenciando que elas estão cada vez mais conquistando espaços e fazendo história e diferença no mundo.
As informações obtidas foram relevantes, atingindo os objetivos estabelecidos e, com a coleta de dados concluiu-se que os empreendedores utilizaram de diferentes mecanismos para inovar, evoluir e consequentemente suportar as barreiras e obstáculos que surgiram no decorrer do tempo, buscando condições melhores de vida para alcançar a realização pessoal e profissional.
Ademais, todo assunto abordado serviu como fonte de informação para indivíduos que possuem interesse no MEI, que vem crescendo constantemente em solos brasileiros e tem papel marcante na vida daqueles que dependem do próprio negócio. Ideias novas surgem todos os dias, abrindo portas para que sejam difundidas e trazidas para a realidade.
Por fim, empreender é uma arte e, conforme o observado nesta análise, os trabalhadores, de forma consciente, controlada e racional agiram para reverter a situação de crise para conseguir sobreviver diante das dificuldades. Não existe uma regra específica para empreender, mas o que não pode ser deixado de lado é a busca pelo conhecimento, pois este é a base para ampliar o negócio e tornar-se bem-sucedido.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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