UM ESTUDO DE CASO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA NO EXERCÍCIO DO TRABALHO POLICIAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410060749


Reginaldo Possobam1


Resumo:

Neste artigo, buscou-se investigar a percepção dos policiais militares com relação à qualidade de vida no âmbito profissional em que exercem suas atividades e quais os possíveis impactos que podem sentir sobre suas vidas pessoais. Para isso, foi utilizado um levantamento de dados por meio de um questionário estruturado aplicado de forma online com policiais militares da 8ª Companhia Independente de Polícia Militar (8ª CIPM), tendo como base o modelo de análise de QVT das oito dimensões de Walton (1973). Foram aplicados questionários à 80 policiais dos 183 que compõem a companhia. Como resultados, contatou-se a partir das respostas dos entrevistados às perguntas presentes no questionário, que a ausência de uma jornada de trabalho definida reflete na qualidade de vida pessoal, pois muitos não conseguem desfrutar do lazer perante a família e somado a isso, temos o ambiente relativamente estressante e de alto risco de suas funções que afetam de forma direta a questão da qualidade de vida no exercício de suas funções.

Palavras-chave: Polícia Militar; Qualidade de Vida; 8ª Companhia Independente de Polícia Militar (8ªCIPM); Saúde; Trabalho.

Abstract:

In this article, we sought to investigate the perception of military police officers regarding the quality of life in the professional context in which they carry out their activities and what possible impacts they may feel on their personal lives. For this, a data survey was used through a structured questionnaire applied online with military police officers from the 8th Independent Military Police Company (8th CIPM), based on the QWL analysis model of Walton’s eight dimensions (1973). Questionnaires were administered 80 police officers. As a result, based on the interviewees’ answers to the questions present in the questionnaire, it was found that the absence of a defined working day reflects on the quality of personal life, as many are unable to enjoy leisure with their family and added to this, we have the relatively stressful and high-risk environment of their functions, which directly affect the issue of quality of life when carrying out their functions.

Keywords: Militar Police, Quality of life, 8ª Independent Police Militar Company (8ªCIPM); Health, Work.

1. Introdução

Um tema que, recentemente, vem ganhando maior atenção é a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). As empresas estão cada vez mais investindo em melhores condições de vida e de trabalho, a fim de alcançar melhores resultados. Em alguns setores, este conceito já começou a ser abordado com maior ênfase, porém, em outros, ainda carece de atenção e é neste sentido que trazemos a importância de pesquisas como esta, que investiga quais os pontos que os colaboradores consideram que necessitam de atenção.

Em uma sociedade moderna como a nossa, muitas vezes, a rotina de trabalho dos profissionais acaba exigindo grande parte de sua energia, com demandas que, muitas vezes, acabam ultrapassando a barreira do local de trabalho e as preocupações e as metas indo parar em casa, não deixando tempo livre para atividades que são necessárias para o sujeito. Com o passar dos anos, o estresse no trabalho pode acabar contribuindo para alguns problemas, como: Insônia, Síndrome de Burnout, Síndrome do Pânico, Depressão, Transtornos alimentares, Problemas cardiovasculares e problemas de pele (OLIVEIRA, 2021)

As empresas que visam a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) vem aplicando técnicas que auxiliam o profissional a conciliar suas metas, tanto profissionais, quanto pessoais de maneira a não trazer impactos prejudiciais em longo prazo. É, cada vez mais, crescente o número de casos de problemas relacionados à saúde entre a população em geral, mais frequentemente, em pessoas que desempenham trabalhos para a sociedade, como, por exemplo, em áreas como: saúde, educação, segurança pública, entre outros, que exigem, constantemente, a tomada de decisões que podem impactar na vida de outras pessoas, devido à pressão inconsciente que isso pode gerar nos sujeitos.

Sendo assim, nossa hipótese inicial é a de que, quando se trata do Policial Militar, a exigência é ainda maior, pois além de precisar disfrutar de suas capacidades físicas e mentais intactas, ele continua sendo exposto diariamente à pressão em situações de risco eminente, ao combate ao crime, confrontos armados, entre outras situações que podem ocasionar estresse.

Cientes das responsabilidades incumbidas a um cargo como esse, e a importância que esse trabalho possui para a sociedade, buscamos investigar como os próprios policias percebem a sua Qualidade de Vida no Trabalho, com base em uma pesquisa de campo realizada de forma online com uma amostragem de 80 policiais militares da 8ª Companhia Independente de Polícia Militar (8ª CIPM).

Para a presente pesquisa utilizamos uma adaptação do modelo proposto por Walton 1973, conforme Quadro 01.

Quadro 1: Critérios de QVT

Critérios de QVT
Critério 1 Compensação justa e adequadaTem como objetivo analisar a remuneração recebida pelo trabalho prestado: a) Remuneração adequada: remuneração necessária para o funcionário ter uma vida digna; b) Equidade interna: quando todos os funcionários da mesma equipe têm uma remuneração igual; c) Equidade externa: igualdade na remuneração do funcionário em comparação com as dos outros profissionais no mercado de trabalho.
Critério 2 Condição de trabalhoTem o objetivo de medir a qualidade do local de trabalho: a) Jornada de trabalho: se as quantidades de horas trabalhadas estão de acordo com o serviço prestado pelo funcionário; b) Carga de trabalho: a quantidade de trabalho deve ser realizada em um turno de trabalho; c) Ambiente físico: as condições físicas do trabalho têm que ser confortáveis, organizadas e saudáveis; d) Material e equipamento: todo o material necessário para o serviço deve estar em boas condições e ter a quantidade certa para a sua realização; e) Ambiente saudável: criar um ambiente saudável aos seus funcionários; f) Estresse: tentar não criar um ambiente estressante para o profissional.
Critério 3 Uso e desenvolvimento de capacidades pessoaisTem como objetivo verificar se o funcionário consegue aplicar os seus conhecimentos e aptidões profissionais: a) Autonomia: medida permitida ao funcionário de liberdade e independência na execução do seu trabalho; b) Significado da tarefa: o trabalho prestado deverá ser importante para o funcionário dentro e fora da empresa; c) Identidade da tarefa: medida do serviço prestado em sua integridade e no desempenho do resultado; d) Variedade da habilidade: verificar quais são as capacidades e habilidades do funcionário e utilizá-las; e) Retro informação: fornecer um feedback aos funcionários.
Critério 4 Oportunidades de crescimento e segurançaReferente às oportunidades que a empresa fornece para o desenvolvimento, o crescimento profissional e pessoal e a segurança do emprego dos seus funcionários: a) Possibilidade de carreira: possibilidade de crescimento profissional dentro da organização; b) Crescimento pessoal: possibilidade de cursos e capacitação para o desenvolvimento dos funcionários; c) Segurança de emprego: grau de segurança dos funcionários quanto às chances de demissão da empresa.
Critério 5 Integração social na organizaçãoTem como objetivo verificar o grau de integração social que existe na organização: a) Igualdade de oportunidades: todos na organização deverão ter a mesma oportunidade; b) Relacionamento: medir o grau de relacionamento interpessoal e o respeito às individualidades; c) Senso comunitário: medir o consenso entre seus funcionários.
Critério 6 Constitucionalismo / CidadaniaVerificar se a empresa está cumprindo todos os direitos dos funcionários; a) Direitos Trabalhistas: ponderar se os direitos trabalhistas estão sendo cumpridos; b) Privacidade Pessoal: observar o grau de privacidade, existente dentro da organização, em relação aos seus funcionários; c) Liberdade de expressão: se o funcionário tem a liberdade de se expressar; d) Normas e rotinas: forma que as normas e rotinas interferem no andamento do trabalho
Critério 7 Trabalho e espaço total de vidaTem como objetivo medir a harmonia entre a vida pessoal e a vida profissional do funcionário: a) Papel balanceado no trabalho: manter um equilíbrio entre as horas trabalhadas e as reais necessidades de seu cargo; b) Horário de entrada e saída do trabalho: o cumprimento das horas trabalhadas e o convívio social.
Critério 8 Orientação sobre trabalhos sociaisOrientar seus funcionários sobre trabalhos sociais: a) Imagem da empresa: se os empregados têm orgulho e satisfação de trabalhar na empresa; b) Responsabilidade social da empresa: percepção do funcionário em relação à responsabilidade social que a empresa presta a sua comunidade; c) Responsabilidade social pelos serviços: percepção do funcionário em relação à qualidade dos serviços prestado pela empresa para a comunidade; d) Responsabilidade social pelos empregados: observar a política de recursos humanos da empresa, verificando se há valorização e participação do funcionário.

Fonte: Adaptado de Walton 1973 de acordo com MELLO, JESUS, MELLO (2015, p. 41).

O objetivo principal desta pesquisa foi o de investigar a percepção dos policiais militares com relação à qualidade de vida no âmbito profissional. Para tanto, utilizamos como método de coleta de dados o questionário. O questionário foi desenvolvido com base nos critérios de QVT no trabalho desenvolvido por Walton (1973) tendo 15 questões múltipla escolha e 01 questão descritiva. De acordo com Timossi (2010), “A escolha deste modelo para avaliação da QVT justifica-se porque seus oito critérios abrangem com boa amplitude aspectos básicos das situações de trabalho.” (TIMOSSI, L. S. et al. 2010, p. 3)

O questionário foi aplicado com base em parâmetros que foram divididos em quantitativos e qualitativos.  De acordo com Dalfovo, Lana e Silveira (2008, p. 7), um modelo de pesquisa quantitativa requer estruturas de conceito e que “[…] a partir dos quais se formula hipóteses sobre fenômenos e situações que quer estudar. Uma lista de consequências é deduzida das hipóteses”. Para a pesquisa quantitativa foi aplicado um questionário conforme Tabela 01 de acordo com os critérios de avaliação “Baixo, Regular, Alto, Sim, Não, Quase Sempre, Talvez” (DALFOVO, LANA, SILVEIRA, 2008, p. 7).

Quadro 2: Formulário de auto avaliação sobre a percepção do policial militar no exercício de sua função na 8º CIA da PM-PR.

O mesmo estudo também contou com uma vertente de dados qualitativa. Segundo Natasha (Mack. et al, 2005, p. 1) “[…] uma pesquisa qualitativa é um tipo de investigação cientifica que consiste de forma geral a busca ou percepção de um indivíduo perante uma pergunta.”

O estudo qualitativo é fundamental para entender de forma direta o sentimento e a percepção da população envolvida no estudo e no caso dos policiais militares entender de forma mais clara as suas percepções e reflexos sobre o exercício da função de Policial Militar. Natasha (Mack. et al, 2005, p. 4) também ressalta que os “[…] participantes tem a oportunidade de responder de forma mais elaborada e detalhada do que acontece normalmente em métodos quantitativos.”

Para a investigação qualitativa foi aplicada uma pergunta de forma aberta e de resposta não obrigatória, sendo ela “Aponte uma melhoria que, na sua opinião, você considera necessária para melhorar o seu desempenho em sua função?”.

A taxa de respostas foi de 88,75% dos colabores optaram por responder à pergunta chave e demonstraram de forma breve a sua consideração sobre o tema.  

2. Resultados

O gráfico abaixo representa os dados estatísticos para a pergunta “Qual o seu nível de satisfação quanto à remuneração salarial da sua função?

Gráfico 01 – Nível de satisfação com relação a remuneração

Fonte: Autoria própria

Os dados quantitativos demonstram que 57,5% dos policiais consideram baixa a remuneração recebida pelo exercício de sua função baixa. Segundo Spinelli (2022, p. 10) é “[…] por meio de salário que os trabalhadores têm a possibilidade de assegurar a eles próprios e a seus familiares condições apropriadas de habitação, saúde alimentação, descanso e lazer, todas próprias da vida em sociedade.” Este tópico tem alta influência sobre a qualidade de vida dos colaboradores de qualquer organização. Gomes (2021, p. 20) afirma que “O que tem início com satisfação e prazer termina quando este desempenho não é reconhecido.”

Na sequência, nota-se que 13,75% dos colaboradores estão totalmente insatisfeitos em trabalhar na Polícia Militar e outros 51,75% acham regular o nível de satisfação no exercício de sua função.

Gráfico 02 – Nível de satisfação dos colaboradores com relação ao exercício da função

Fonte: Autoria própria

A satisfação no trabalho “[…] tem sido apontada como exercendo influências sobre o trabalhador, que podem se manifestar sobre a sua saúde, qualidade de vida e comportamento com consequências para os indivíduos e organizações (MARTINEZ, PARAGUAY, 2006, p. 67).” Outras pesquisas destacam uma relação importante entre bem estar mental e a saúde mental dos colaboradores. Locke (1976) destaca que uma característica muito importante no qual a “[…] satisfação com a vida por meio da generalização das emoções do trabalho para a vida fora do trabalho podem afetar, especificamente as relações sociofamiliares.”

Com relação ao nível de gerenciamento de estresse no exercício da função 31,25% dos colaboradores afirmaram não conseguir gerenciar o nível de stress de forma a agir com os procedimentos da função e outros 46,25% demonstraram que quase sempre conseguem administrar situações de stress e agir de forma adequada com procedimentos.

Gráfico 03 – Gerenciamento do nível de estresse

Fonte: Autoria própria

O estresse para Gomes (2021, p. 24) é o desequilíbrio entre o trabalho e a capacidade de resposta dos trabalhadores. O Policial Militar pode passar por situações elevadas de estresse e o exercício da profissão pode afetar a sua saúde mental. O estresse “[…] em nível elevado pode comprometer a saúde, levando a doenças físicas, mentais, comportamento agressivo e violento, abuso de álcool e redução da qualidade no desempenho da função.” (SOUZA et al 2015, p. 160)

Com relação à valorização do esforço no trabalho perante a sociedade nota-se que 67,50% dos policiais militares tem a percepção de nenhuma valorização da família e da sociedade perante o exercício de sua função. Para (SOUZA et al 2015, p. 166), o “[…] aspecto social, em especial do convívio familiar e apoio dos amigos, são parâmetros indispensáveis para a qualidade de vida.”

Os dados da pesquisa revelam uma estatística preocupante, no qual o ambiente familiar é fundamental na saúde mental dos policiais militares que estão expostos geralmente a situações de alto risco. Segundo Gomes (2021, p. 24 “[…] há que se considerar que em um ambiente familiar saudável e horas de repouso e lazer poderiam contribuir para um melhor equilíbrio mental na realização das muitas tarefas profissionais.”

Gráfico 04 – Percepção de valorização do esforço de trabalho perante a família

Fonte: Autoria própria

Em seguida analisamos os dados relacionados a escala de trabalho e a convivência familiar.

Gráfico 05 – Gerenciamento de escala de trabalho x família

Fonte: Autoria própria

De acordo com o Gráfico 05, podemos observar que 43,75% dos policiais militares não conseguem gerenciar a escala de trabalho com o convívio familiar. Nota-se que o baixo reconhecimento familiar está relacionado de forma direta com a conciliação das escalas de trabalho.

O presente estudo trabalha com duas vertentes de análise, no qual a principal análise qualitativa está relacionada a questão “Aponte uma melhoria que, na sua opinião, você considera necessária para melhorar o seu desempenho em sua função” tendo 24 respostas relacionadas a escala de trabalho, na qual, a principal reinvindicação é a regularização de uma escala de trabalho e salário mais justa.

Nota-se que existe uma sobrecarga de trabalho e um dos principais pontos abordados pelos colaboradores é uma escala mais adequada para exercício de sua função e uma carga horária definida. “O foco na qualidade de vida no trabalho (QVT) se torna importante devido ao fato do trabalho ocupar um grande espaço na vida das pessoas, abarcando cerca de 8 horas por dia, durante, 35 anos de suas vidas. (MELLO; JESUS; MELLO, 2015, p. 2).”

 Observa-se que uma falta de regulamentação de jornada de trabalho afeta diretamente a qualidade de vida dos profissionais assim como a sua saúde mental. Partimos então para a análise de efetivo do ponto de vista dos policiais militares.

Estas respostas são relevantes no sentido da valorização da opinião individual dos colaboradores, uma vez que, este tema é amplamente reforçado por Senasp (2013, p. 35), que nos relata que a “[…] maneira mais eficiente de motivar as pessoas é transmitir-lhes que as suas opiniões serão valorizadas, que eles terão uma voz ativa nas tomadas de decisão, e que serão engajados no processo de resolução de problemas.”

Gráfico 06 – Percepção sobre mão de obra disponível para garantir a segurança local

Fonte: Autoria própria

 Nota-se que 83,75% dos policiais militares tem a percepção que não possui efetivo adequado para garantir a segurança local. Esta percepção reflete na frustração dos mesmos com relação a uma escala definida, visto que os mesmos percebem não haver efetivo total para conseguir alcançar o objetivo de uma carga horária de trabalho definida.

De acordo com Souza (et al 2015, p. 166) “[…] o tipo de atividade a qual o militar é submetido e a relação de jornadas de trabalho e repouso interferem drasticamente em parâmetros ligados a qualidade de vida como o sono e a manutenção da atividade física regular.” Para Gomes (2021, p. 22) “[…] o desgaste profissional no ambiente de trabalho ocasionado pelas altas jornadas de trabalho acúmulo de funções e desgaste físico traz consigo sérios danos na parte psicológica dos profissionais […].” Nota-se que o esgotamento mental dos policiais militares tem alta relação com a falta de regulamentação de uma jornada de trabalho.

Seguimos a análise dos policiais militares com relação a suas percepções sobre a preocupação da instituição perante ao bem estar psicológico do servidor público.

Gráfico 07 – Visão sobre a preocupação da instituição perante os colaboradores

Fonte: Autoria própria

Nota-se que 67,50% dos colaboradores tem a percepção que a instituição não tem preocupação com a saúde mental dos colaboradores. De acordo com Gomes, (2021, p. 28) “A responsabilidade pela segurança é conjunta dos cidadãos, que devem zelar pela estabilidade social, e dos órgãos estatais, os quais devem assegurar os meios suficientes para a concretização do bem estar.”

A percepção dos policiais perante o sentimento de abandono da instituição é reflexo da falta de regulamentação de uma jornada de trabalho no qual os dados demonstram de forma preocupante um sentimento de frustração e descontentamento.

Com relação aos recursos dispostos pela instituição para o exercício da profissão 58,75% dos colaboradores acreditam que a instituição não dispõe de recursos adequados para o melhor desempenho profissional.

Neste caso não se tratam de somente recursos materiais e sim de pessoas, no qual é evidente a falta de efetivo de policiais militares e sobrecarga de trabalho, principalmente no desempenho de tarefas administrativas.

Gráfico 08 – Análise sobre recursos disponibilizados

Fonte: Autoria própria

A análise do estudo realizado é que 65% dos colaboradores tem o sentimento que a instituição não compreende a situação das bases operacionais. O Brasil tem localizações muito distintas e regiões variadas e um estudo mais abrangente de cada localidade se faz necessário para entender as demandas locais e dessa forma dispor recursos para que os profissionais possam exercer sua profissão com maior efetividade.

Gráfico 09 – Percepção sobre compreensão de recursos locais

Fonte: Autoria própria

Na percepção de crescimento dentro da instituição 45% dos colaboradores tem a percepção de não vislumbrar oportunidades de crescimento dentro da instituição.

Gráfico 10 – Visão sobre oportunidades sobre instituição

Fonte: Autoria própria

Com relação aos benefícios tem-se que 67,5% acham que os benefícios são relativamente baixos para o exercício da função.

Gráfico 11 – Análise sobre recursos oferecidos pela Instituição

Fonte: Autoria própria

Com relação às politicas públicas voltadas a diminuição da criminalidade, nota-se uma percepção preocupante no qual o presente estudo destaca que na opinião dos colaboradores 75% dos casos tais ações não são efetivas.

Para Gomes (2015, p. 10) “A má provisão e a qualidade dos serviços públicos disponíveis, a baixa infraestrutura, bem como a falta de eficiência e eficácia das políticas de segurança pública também contribuem para o ressurgimento da violência.” Ainda em conformidade com a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP (2016 p. 66), “A melhor solução é aquela que satisfaz a comunidade, melhora a segurança, diminui a ansiedade e aumenta a ordem, fortalece os laços entre polícia e comunidade e minimiza ações coercitivas.”

Gráfico 12 – Percepção sobre políticas publicas

Fonte: Autoria própria

Para o tema relacionado ao treinamento, 45% dos colaboradores tem a percepção que talvez recebam o treinamento adequado para o exercício da função. Os colaboradores de uma organização só têm confiança no exercício de sua função quando se sentem seguros que receberam o treinamento adequado para o exercício de sua função.

Gráfico 13 – Análise sobre treinamentos adequados

Fonte: Autoria própria

A seguir temos o Gráfico 14 que trata sobre o nível de pressão do desempenho da função, no qual se pode observar que nenhum dos entrevistados considera como baixo, uma pequena parcela, 7,50 % considera regular e 92,50 % consideram como alto. Para o exercício de sua função os policiais precisam administrar “[…] situações de extrema pressão e risco de morte, esta análise se faz importante dado as peculiaridades e importância do serviço para com a sociedade. (BRANDÃO, 2021, p. 6)

Muitas vezes o alto nível de pressão e cobranças no trabalho desencadeiam a síndrome de Bournout. Para Gomes (2015, p. 21) “[…] este termo é entendido como “[…] a composição Burn (queima) e out (exterior), dando um sentido de queimar-se; a pessoa se consome física e emocionalmente por completo.”

Este sentimento negativo afeta diretamente a qualidade de vida do colaborador, muitas vezes levando o mesmo ao adoecimento psicológico e em muitos casos levando ao afastamento e despertando o sentimento do Policial Militar cogitar buscar outra profissão levando em consideração uma melhor qualidade de vida no trabalho.

Gráfico 14 – Percepção sobre nível de pressão do desempenho da função.

Fonte: Autoria própria

Com relação a uma possível migração de profissão, 77,5% dos colaboradores já imaginaram seguir outras profissões em função dos benefícios. Mello, Jesus e Mello (2015, p. 41) adaptado de Elias (2011) destacam que as […] mudanças nos âmbitos organizacionais, as empresas têm oferecido cada vez mais pacotes de benefícios e remunerações para seus funcionários, tornando o ambiente de trabalho cada vez melhor.

Neste sentido nota-se que os colaboradores começam a comparar a instituição a qual trabalham com instituições privadas, as quais muitas vezes dispõem a seus colaboradores pacotes de benefícios atrativos que reforçam a estatística de 77,50% dos colaboradores que um dia já imaginaram sair da instituição. Outro fator relevante é que as instituições privadas possuem regulamentações de carga de horária, o qual é o sonho de muitos Policiais Militares, expresso na avaliação qualitativa do presente estudo.

Gráfico 15 – Análise sobre perspectiva dos colaboradores sobre buscar outras profissões

Fonte: Autoria própria

3. Conclusão

O exercício da função de Policial Militar exige dedicação e compromisso. Nota-se no presente estudo com 80 Policiais da 8º CIA que o principal efeito desmotivador dos colaboradores está relacionado com a carga horária não definida para o exercício de suas funções.

A ausência de uma jornada de trabalho definida reflete na qualidade de vida pessoal, muitos não conseguem desfrutar do lazer perante a família e o ambiente relativamente estressante e de alto risco de suas funções afetam de forma direta o exercício de suas funções.

Cabe ao Estado como instituição analisar as questões sobre efetivo, pois somado a uma jornada não definida sob a ótica dos colaboradores não existe contingente suficiente para suprir as demandas locais. Neste âmbito, soma-se uma sobrecarga de trabalho, muitas vezes expressa em turnos extras aos colaboradores atuais.

O presente estudo em dados quantitativos demonstrou o descontentamento com relação à diversos questionamentos, entretanto todos estes pontos sobre a qualidade de vida no trabalho convergem para a resposta do estudo qualitativo relacionado a escala de trabalho expressa na resposta para o questionamento: “Aponte uma melhoria que, na sua opinião, você considera necessária para melhorar o seu desempenho em sua função.”

Concluímos assim, que dentre as 8 percepções de Walton (1973) sobre trabalho, o principal fator que influencia a QVT dos policiais militares é o critério 02 que destaca a Jornada de trabalho e se as quantidades de horas trabalhadas estão de acordo com o serviço prestado pelo funcionário.

Nota-se nesse sentido um alto esgotamento físico e emocional no trabalho dos policiais militares e isso justifica os dados de 77,50% dos colaboradores que já imaginaram sair da instituição e buscar outras opções de trabalho devido a diversos fatores, mas principalmente a falta de regulamentação da jornada de trabalho.

4. Referências

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