TRIAGEM E DETECÇÃO PRECOCE DA ANEMIA FALCIFORME: CONTRIBUIÇÕES PARA A SAÚDE PÚBLICA

SCREENING AND EARLY DETECTION OF SICKLE CELL ANEMIA: CONTRIBUTIONS TO PUBLIC HEALTH

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11120950


Osni Vieira de Barros1; Nádia Moreira Pimenta1; Daniel Saddi1; Gustavo Henrique de Oliveira Lima Silva1;
Victor Bueno Martinez1 ; Edgar Luiz de Freitas Neto1; Carolina Fátima Gioia Nava1;
Orientador: Murillo de Sousa Pinto2


RESUMO

A Anemia Falciforme (AF) é uma doença genética prevalente no Brasil. No Brasil, os negros, pardos e brancos são os mais infectados. A doença foi identificada inicialmente na África e se propagou para a Península Arábica, sul da Itália e Índia antes de chegar às Américas. As manifestações clínicas que explicam a alta morbimortalidade dos portadores de doenças falcêmicas são comumente encontradas nos pacientes diagnosticados. Portanto, este estudo tem como objetivos examinar a literatura recente para entender as alterações dos eritrócitos na anemia falciforme. Os critérios de inclusão para seleção dos artigos foram: os artigos originais, os que discorrem sobre o impacto das alterações dos eritrócitos na anemia falciforme. Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos, duplicados, que não estavam disponíveis integralmente, relatos de casos isolados e os que não se enquadram no escopo do estudo. 


PALAVRAS-CHAVE: Alterações dos Eritrócitos; Hemoglobinopatia; Doença Genética.

ABSTRACT 

Sickle cell anemia (SCA) is a genetic disease prevalent in Brazil. In Brazil, black, brown and white people are the most infected. The disease was initially identified in Africa and spread to the Arabian Peninsula, southern Italy and India before reaching the Americas. The clinical manifestations that explain the high morbidity and mortality of patients with sickle cell diseases are commonly found in diagnosed patients. Therefore, this study aims to examine recent literature to understand erythrocyte changes in sickle cell anemia. The inclusion criteria for selecting articles were: original articles, those that discuss the impact of erythrocyte changes in sickle cell anemia. The exclusion criteria were: incomplete, duplicate articles that were not fully available, isolated case reports and those that did not fit the scope of the study.

KEYWORDS: Changes in Erythrocytes; Hemoglobinopathy; Genetic Disease.

1. INTRODUÇÃO

A Anemia falciforme (AF) é uma doença genética prevalente no Brasil. Esta condição faz parte das hemoglobinopatias e é definida pela presença de alterações genéticas na hemoglobina, proteína presente nas hemácias, o que altera a distribuição do oxigênio no corpo (Das Chagas Araújo et al., 2020). Essa mudança leva a uma diminuição da vida média dos eritrócitos provocando um fenômeno conhecido como vaso-oclusão, ou seja, há a obstrução dos vasos sanguíneos causando dor e lesões de órgãos. Assim, estima-se que 20% dessa população juvenil não atinja 5 anos de idade. Em relação aos adultos, os homens têm uma sobrevida de 42 anos de vida e as mulheres 48 anos (Sanitária, 2001).

No Brasil, os negros, pardos e brancos são os mais infectados. Na região sudeste, a prevalência média de portadores é de 2%; já entre os negros, esse valor aumenta para cerca de 6% a 10%. No geral, 80% das crianças com menos de 5 anos de idade morrem e a duração média de vida dos portadores é de 48 anos. Dentro desse contexto, os dados mostram que o país tem de 700 a 1.000 casos novos de doenças falciformes (DF) por ano. Assim, observa-se que a anemia falciforme é um problema de saúde pública no Brasil (Ministério da Saúde, 2018).

A doença foi identificada inicialmente na África e se propagou para a Península Arábica, sul da Itália e Índia antes de chegar às Américas por meio da imigração forçada de cerca de 4 milhões de africanos que foram transportados para o Brasil. Além disso, a alta miscigenação no Brasil fez com que a doença fosse prevalente e presente em locais onde a população afrodescendente não era representativa (Cançado; Jesus, 2007).

 Na Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias foi implantado o teste de hemoglobinopatias, presente no Teste do Pezinho realizado após o nascimento do recém-nascido, o que tornou a DF mais conhecida. No entanto, percebe-se que esses mecanismos não chegam a toda população, uma vez que, em um estudo com mulheres negras portadoras de DF, foi descrito uma discriminação e exclusão dessa parcela da população aos métodos de diagnósticos. Isso indica que a discriminação racial e de gênero deve ser combatida nos serviços de saúde pública no Brasi (Secretaria Geral Presidência da República, 2021).

As manifestações clínicas que explicam a alta morbimortalidade dos portadores de doenças falcêmicas são comumente encontradas nos pacientes diagnosticados, como exemplo pode ser citado a anemia crônica, episódios de dores osteoarticulares, dores abdominais, infecções e infartos pulmonares, retardo do crescimento e maturação sexual, acidente vascular cerebral e comprometimento crônico de vários órgãos, sistemas ou aparelhos (Ministério da Saúde, 2015).

Portanto, este estudo tem como objetivos examinar a literatura recente para entender as alterações dos eritrócitos na anemia falciforme. Outrossim, o trabalho busca discutir sobre os desafios e perspectivas futuras, para um diagnóstico diferencial da anemia falciforme, destacando as áreas de pesquisa promissoras e necessidades não atendidas na prática e pesquisa clínica.

2. METODOLOGIA

A identificação dos artigos incluídos neste estudo foi feita por meio de busca nas seguintes bases eletrônicas: PubMed, LILACS, SciELO. Os descritores utilizados foram “alterações” AND “eritrócitos” AND “anemia falciforme” AND “drepanócitos”.

Os critérios de inclusão para seleção dos artigos foram: os artigos originais, os que discorrem sobre o impacto das alterações dos eritrócitos na anemia falciforme, os que abordam sobre as alterações laboratoriais, manifestações clínicas, avanços nos diagnósticos diferencial e manejo clínico da doença, os disponibilizados gratuitamente, as revisões sistemáticas e estudos observacionais. Foram selecionados os artigos publicados entre os anos de 2019 a 2024, nos seguintes idiomas: português e inglês. 

Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos, duplicados, que não estavam disponíveis integralmente, relatos de casos isolados e os que não se enquadram no escopo do estudo. 

Os artigos selecionados foram lidos integralmente e submetidos a uma análise crítica para extrair informações relevantes sobre a anemia falciforme. Os dados foram organizados em categorias principais, incluindo manifestações clínicas, principais contribuições e limitações. Uma síntese descritiva dos principais achados foi realizada, destacando os avanços mais significativos e AF no conhecimento. Os resultados foram interpretados de acordo com a literatura existente e discutidos em relação às implicações para a prática clínica e pesquisa futura expressos no Quadro 1. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Quadro 1: Relação de artigos selecionados para a revisão

AutorTítuloManifestações clínicasPrincipais contribuiçõesLimitações
Castro et al. (2024)Anemia falciforme: dos aspectos clínicos aos achados laboratoriais 2024.*Crises de vaso-oclusão decorrentes da obstrução dos vasos sanguíneos pelas hemácias deformadas; 
*Episódios dolorosos e lesões em órgãos;
*Dano renal e problemas pulmonares;
*Deficiência da capacidade funcional; Anemia crônica.
*Ações que visam minimizar os impactos negativos na vida do doente;
*Assegurar os direitos de políticas públicas específicas para essa população;
*Diminuir os impactos com avanços da idade,
*Espaço e amostral pequeno;
*Falta de conhecimento sobre AF;
*Necessidade de instrumentos de avaliação; 
*Necessidade de aumentar a conscientização sobre a doença.
Nascimento et al. (2023)Repercussões da anemia falciforme e das úlceras falcêmicas para homens inseridos no mundo do trabalho. *Crises de dor intensa devido à vaso-oclusão;
*A destruição prematura das células falciformes leva à anemia, fadiga, palidez e mal-estar;
*Infecções maior risco de infecções, na infância;
*Síndrome Torácica Aguda, levando a quadros de dor no peito;
*Febre e dificuldade respiratória;Infecção ou obstrução dos vasos sanguíneos nos pulmões;
*Icterícia e destruição acelerada das células vermelhas;
*Úlceras – feridas crônicas;
*Priapismo;Complicações Renais hematúria e síndrome nefrótica;
*Acidente Vascular Cerebral (AVC) em crianças e adultos;
*Retardo no Crescimento e no desenvolvimento.
*Compreensão das interações complexas entre saúde e situações de vulnerabilidade,
*Prática clínica, investigaçãoDesenvolvimento de políticas públicas;
*Análise das repercussões da AF;
*Identificação de desafios no ambiente laboral;
*Perfil dos participantes aspectos demográficos, socioeconômicos e de saúde, vulnerabilidade social e econômica.
*Necessidade de abordagens abrangentes que considerem tanto os aspectos clínicos quanto os sociais da doença falciforme;
*Melhorar o acesso ao tratamento, combater o preconceito e a discriminação, e promover uma maior qualidade de vida para os pacientes;
*Impacto Negativo na qualidade de Vida;Barreiras na busca por assistência médica;
*Preconceito discriminação no Cuidado à Saúde;
*Vulnerabilidade econômica dos indivíduos com DF;
*Falta de acesso adequado ao tratamento para dor.
Miranda (2021)Prevalência da anemia falciforme em crianças no Brasil.*Morbidade e mortalidade, especialmente em crianças;
*Crises vaso-oclusivas, dor, infarto pulmonar, priapismo, surdez, anemia aguda, infecção bacteriana e acidente vascular encefálico;
*Os sintomas crônicos incluem anemia, dor crônica e disfunção de órgãos vitais, complicações iatrogênicas;
*Crises de sequestros esplênicos;
*Úlceras de membros inferiores;
*Edema: Inchaço devido à acumulação de líquido em pés e mãos;
*Palidez: Pele pálida devido à anemia.
*Icterícia.
*Conscientização sobre a Anemia Falciforme e sobre a alta prevalência no Brasil;
*Ajudar profissionais de saúde a identificar e tratar os pacientes de forma mais eficaz;
*Necessidade de abordagem Preventiva. Reduzir as complicações associadas à doença;
*Perfil Comportamental de crianças com Anemia Falciforme: identificar e abordar desafios emocionais e comportamentais associados à doença.
*Foco em Literatura Recente de 2016 a 2021; Limitação Geográfica somente no Brasil;
*Amostra Reduzida; *Método de coleta de dados validação dos resultados;
*Falta de dados de implementação e utilidade prática das recomendações.
*Falta de Participação de pacientes e cuidadores;
*Falta de dados sobre outros fatores sociais e econômicos.

Stock (2022); Yusri (2020)
A importância da triagem neonatal para a detecção precoce da anemia falciforme*Anemia;
*Úlceras na perna
*;Presença de hemácias em formato de foice no sangue;
*Dores abdominais;
*Hemólise do sangue (destruição de hemácias);
*Inflamações;Infecções;
*Úlceras de perna;
*Febre;
*Crises dolorosas;
*Síndrome torácica aguda;
*Acidente vascular cerebral (sendo este o mais grave desta patologia).
*Diagnóstico Precoce;Complicações da Anemia Falciforme;
*Contribuição para a Saúde Pública: estratégia de saúde pública, como o Teste do Pezinho, para a detecção precoce de doenças tratáveis, incluindo a anemia falciforme;
*Base para futuras pesquisas Aumenta a conscientização sobre a AF;
*ser utilizado como material educativo para estudantes e profissionais da saúde.
*Teste de Solubilidade:  indicado para a caracterização dos genótipos da AF devido à baixa sensibilidade;
*O tempo necessário para obter resultados, pode ser de até 24 horas. Este teste também não é capaz de identificar especificamente os diferentes genótipos;
*Necessidade de Técnicas de Biologia Molecular.
Faleiros et al. (2023)Febre e doença falciforme: avaliação clínica e epidemiológica de pacientes atendidos em um hospital terciário de referência*Complicações, agudas e crônicas;
*Maior propensão a infecções: Devido à disfunção esplênica, imunidade adaptativa prejudicada e depuração ineficaz;
*Síndrome torácica aguda (STA):  dispnéia e infiltrados pulmonares;
*Crises álgicas: As crises vaso-oclusivas dolorosas são episódios de dor intensa;
*Sequestro hepático: é uma complicação aguda da doença falciforme em que há acúmulo de sangue no fígado;
*Colelitíase:  formação de cálculos biliares.
*O conhecimento do perfil epidemiológico dos pacientes com doença falciforme;
*Manejo clínico desses pacientes com doença falciforme; 
*Orientar estratégias de prevenção;
*Identificação precoce de sintomas;
*Orientar estratégias de prevenção, como a antibioticoterapia profilática e esquemas especiais de vacinação, incluindo;
*Relevância clínica: Identificação de sintomas e diagnósticos frequentes;
*Enfoque na importância do tratamento oportuno;
*Base para futuras pesquisas.
*Tamanho da amostra limitado: O estudo avaliou 231 pacientes;
*Natureza retrospectiva: O estudo foi realizado através de busca em prontuário;
*Falta de acompanhamento a longo prazo: não ter avaliado a evolução dos pacientes Limitações na avaliação de complicações: limitando a compreensão abrangente dos desafios clínicos enfrentados por esses pacientes.
*Ausência de grupo controle: A falta de um grupo controle pode dificultar a comparação dos resultados.
Araújo et al. (2023)Conhecimento e prática de enfermagem no atendimento à doença falciforme e hemoglobinopatias na atenção primária*Neste trabalho foi relatado o Alto riscos de infecções respiratórias, afastamentos das famílias e do convívio social, principalmente escola, visto que os mais afetados são na fase pré-escolar. *Já os facilitadores foram: a facilidade de acesso dos usuários às unidades, a possibilidade de criação de grupos com pacientes para conversas e trocas de experiências, a aceitação dos pacientes em relação à patologia, a identificação dos pacientes na área de abrangência e o diagnóstico precoce através da triagem neonatal.*Os dificultadores identificados no trabalho foram: a ausência de endereço físico, a falta de treinamento dos profissionais, o fato dos usuários não procurarem a unidade, e a falta de comunicação entre diferentes áreas de atendimento. 
Marques (2022)Ser adolescente apesar das restrições e da discriminação impostas pela doença falciforme.*Deformação dos Glóbulos Vermelhos; 
*A mutação genética na cadeia beta-globina isquemia por episódios vaso-oclusivos; 
*A deformação dos glóbulos vermelhos contribui para episódios vaso-oclusivos; 
*Inflamação Crônica: A doença falciforme pode induzir um estado de inflamação crônica no corpo;
*Hemólise: A fragilidade aumentada dos glóbulos vermelhos falciformes leva à sua ruptura prematura; 
*Inchaço das mãos e dos pés;
*Sintomas de anemia, incluindo fadiga ou cansaço extremo;
*Icterícia.
*Visibilidade à Experiência dos Adolescentes: O trabalho oferece uma visão profunda sobre como os adolescentes vivem e lidam com a doença falciforme; 
*Conscientização sobre a Doença Falciforme: Ao detalhar os desafios enfrentados por esses jovens, o estudo aumenta a conscientização sobre a doença falciforme;
*Base para Intervenções futuras no desenvolvimento de intervenções específicas;
*Contribuição Acadêmica e Clínica: O estudo adiciona valor à literatura existente Desvantagens do Trabalho.
*Amostra Limitada: A pesquisa pode ter sido realizada com uma amostra limitada; 
*Foco Qualitativo: Embora a abordagem qualitativa forneça insights profundos sobre as experiências dos participantes; 
*As percepções e experiências relatadas pelos adolescentes são subjetivas;
*Atualização dos Dados: Dependendo de quando o estudo foi realizado.
Antônio (2022) Análise da tendência temporal da mortalidade por anemia falciforme no BrasilAnalysis*Os sinais e sintomas comuns da anemia falciforme incluem:Dor intensa, devido a crises de dor (crises vaso-oclusivas);
*Fadiga e fraqueza;
*Palidez;Icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos);
*Inchaço nas mãos e nos pés;
*Infecções frequentes;
*Atraso no crescimento das crianças;
*Úlceras nas pernas;
*Acidente vascular cerebral (AVC) em casos graves.
*Aumentar a visibilidade da anemia falciforme como uma condição de extrema necessidade; 
*Além disso, ressalta a importância de realizar ações que visem a conscientização sobre a doença, com o objetivo de promover novas;
*Propostas de capacitação das equipes de saúde;
*Essas ações podem resultar em melhorias nas intervenções para o público afetado pela anemia falciforme, contribuindo para uma abordagem mais eficaz e adequada.
*Utilização de dados de fontes secundárias com registros de baixa qualidade, o que pode comprometer em parte a base de dados. Não foi possível utilizar dados de mortalidade por todas as hemoglobinopatias falciformes devido à impossibilidade de estratificação desses dados pelo banco de dados do SIM/DATASUS;
*Impacto na precisão e abrangência dos resultados obtidos na análise da tendência temporal da mortalidade por anemia falciforme no Brasil.

Fonte: Próprio autor, 2024.

A estrutura da hemoglobina (Hb) do ser humano é composta por quatro cadeias de globina: duas cadeias α e duas cadeias β. Quando as cadeias α e β estão normais, isso é representado como Hb A. No entanto, quando apresentam alguma anormalidade, são identificadas de acordo com o tipo de problema na cadeia de globina. Um exemplo disso é quando há a presença de uma cadeia β com células falciformes (S) e uma cadeia C β, que é conhecida como Hb SC A condição de homozigose para a doença falciforme é conhecida como Hb SS. A presença de hemoglobina anormal, como a Hb SS, geralmente está relacionada a uma alteração nas cadeias β. Essas cadeias β globina são controladas pelo cromossomo 11, em sua porção curta. A hemoglobina falciforme (Hb S) surge quando há a troca do aminoácido valina pelo ácido glutâmico na sexta posição da cadeia β. Essa mutação pontual no gene responsável pela síntese da β globina gera alterações significativas nas propriedades da hemoglobina, na forma das hemácias e na circulação (Henrique et al., 2021).

Segundo Nascimento et al. (2023), relata que, por se tratar de uma doença crônica sem cura, com vários distúrbios que afetam diversos sistemas do corpo e causam sofrimento físico, mental e social, o tratamento da DF requer cuidados ao longo da vida. Para garantir que seja eficaz, é essencial que os pacientes e seus familiares reconheçam os sinais e sintomas da doença e saibam como agir antecipadamente diante de possíveis complicações.

Já Henrique et al. (2021) relata que a falcemia é uma condição genética crônica que afeta o sangue, com índices mais elevados de casos no Brasil. Ela ocorre devido a uma alteração no gene responsável pela produção da β-globina, resultando na formação de glóbulos vermelhos em formato de foice devido à falta de oxigênio em seu estado normal.

Já para Miranda (2021), a anemia falciforme é um conjunto de problemas genéticos que estão relacionados ao gene da globina beta S. É a doença falciforme mais comum e séria, e uma das condições de sangue que mais afeta as crianças.

A primeira questão a ser destacada, e possivelmente a mais crucial, refere-se ao diagnóstico tardio de uma condição genética. Ao analisar a idade dos pacientes em relação ao momento em que o diagnóstico é feito, é evidente que a maioria deles só foi identificada na adolescência ou no início da vida adulta (Stock, 2022).

Muitas dessas doenças são condições potencialmente fatais, mas todas são assintomáticas no nascimento. Embora a incidência de algumas dessas doenças seja extremamente rara na população de recém-nascidos, quando uma dessas condições não é encontrada e tratada, ela pode afetar o desenvolvimento físico e mental normal de uma criança (Stock, 2022)

Leão et al. (2019) descreveu que a predominância era de mulheres nos dois conjuntos analisados, e os indivíduos com fibrose cística apresentavam níveis de escolaridade mais baixos em comparação com o grupo de controle.

A anemia é uma das principais manifestações clínicas da doença falciforme, identificada através da redução da hemoglobina e do aumento dos reticulócitos no hemograma normalmente, os sintomas da AF costumam surgir na fase inicial da infância, causando impactos significativos tanto na nutrição quanto no bem-estar psicológico da criança (Henrique et al., 2021).

Portanto (Miranda, 2021)  corrobora que as maiores taxas de mortalidade por AF, estão registradas nos primeiros dois anos de vida.

A disfunção homeostática causada pela AF, é uma condição patológica que leva a complicações agudas e crônicas, que afetam diversos órgãos e sistemas do corpo humano, resultando em e redução da qualidade de vida e morte precoce, essas condições propicia uma vulnerabilidade a infecções por bactérias encapsuladas, como Streptococcus pneumoniae, haemophilus influenzae, Salmonella typhi e não-typhi e espécies meningocócicas, é mais elevada, associada ou não a outros sintomas como: febre que também costuma ser o sintoma inicial de infecções bacterianas que podem ser perigosas (Faleiros et al., 2023).

Entre as complicações estão as odontológicas e são frequentes em pacientes com AF e se manifesta entre os principais problemas em pacientes com a doença falciforme, a mais frequente foi relatado a hipomineralização do esmalte e da dentina, além das alterações ósseas na maxila, podem ocorrer erupção tardia dos dentes, palidez na mucosa bucal, necrose pulpar devido à falta de oxigênio e danos no sistema de vasos sanguíneos dos dentes, incluem também protrusão da maxila, atrofia das papilas linguais, neuropatia dos nervos da mandíbula e facial, sempre acompanhada de dor  (Grossi et al., 2023).

Estes sinais e sintomas são desconhecidos ou mesmo ignorados por muitos profissionais de saúde bem como familiares. E por isso a DF é tardiamente diagnosticada, interferindo diretamente em aspectos psicossociais, como:  casamento, relações familiares, educação e trabalho, emprego e outros (Nascimento et al., 2023).

A AF é considerada grave e pode rapidamente se tornar crônica, por isso a uma grande necessidade de um diagnóstico precoce, para evitar que o paciente passe por um acompanhamento médico constante e rigoroso, e submissão de processamentos médicos com internações hospitalares de repetição, propiciando um alto riscos de infecções respiratórias, afastamentos das famílias e do convívio social, principalmente escola, vistos que os mais afetados são na fase pré-escolar (Araújo et al., 2023).

Os principais sintomas da AF na fase aguda são: crise falciforme aguda; disfunção hepática aguda, colestase intra-hepática aguda. São clinicamente caracterizadas por início súbito de dor no quadrante superior direito do abdome, dor de hepatomegalia, icterícia e febre (Friggi, 2022) 

A AF afeta o crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, e que difere estes os adolescentes da mesma faixa etária, diferença de tamanho, postes físicos e força muscular você percebe que eventos importantes em sua vida estão diferenciando os eventos da adolescência. As doenças crônicas também causam alterações físicas diretas e indiretas, como úlceras nas pernas e icterícia que afetam diretamente a imagem corporal e levam à ansiedade, tristeza, isolamento e depressão (Nascimento et al., 2023).

Entre os vários sintomas clínicos da anemia falciforme, a causa mais comum é são as complicações incluem crises febris dolorosas devido a hipóxia e obstrução e Infecções cardiovasculares e do trato respiratório inferior devido à deficiência imunológica (Pereira, 2022).

Os principais sinais e sintomas clínicos dados apresentados pelos pacientes nas AF doença aguda nota-se as alterações orais, hipomineralização do esmalte dos dentes; alterações ósseas, Palidez das mucosas, alteração anatômica da linguagem, infecções fúngicas oportunistas, erupção dentária retardada, neuropatia dos nervos mentonianos e necrose pulpar assintomática (Ribeiro et al., 2023).

Em relação à variável “raça/cor”, as taxas de mortalidade foram maiores em pessoas pardas com AF na maioria das regiões do Brasil, confirmando estudos brasileiros, sabe-se que a AF afeta principalmente crianças e adultos de ascendência africana. No caso do Brasil, essas características populacionais estão relacionadas ao processo histórico da doença que ocorreu durante a divisão racial e foram consideradas a principal causa da dinâmica da doença no Brasil (Marques, 2022). O que foi contrariado pelo censo do IBGE, de 2010, segundo com (Mota et al., 2022) a população branca é maior no Sul e no Sudeste. Mudanças frequentes na história migratória tornaram a população brasileira mais homogênea na maioria das regiões (Antônio, 2022).

3. CONCLUSÃO

Conclui-se que a anemia falciforme é uma doença genética, hereditária e suas manifestações estão entre os primeiros anos de vida. Devido ao impacto social, percebe-se a importância de políticas públicas que invistam em programas de triagem neonatal, como forma de promover estratégias de retardo ou de interrupção de manifestações durante toda a vida. Dessa forma, irá promover saúde e bem-estar aos portadores dos traços falciformes.

Em suma, o trabalho contribui significativamente para a prática clínica ao fornecer percepções importantes para o manejo e cuidado de pacientes com doença falciforme, destacando a importância da abordagem multidisciplinar, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para melhorar a qualidade de vida e reduzir as complicações associadas a essa condição médica complexa.

Compreende que o conhecimento das manifestações clínicas dessa doença e de seus sinais favorece que os profissionais de saúde possam identificar, diagnosticar e tratar precocemente os portadores de doenças falciformes. Essa compreensão e preparo de manejo irá possibilitar uma prática médica capaz de minimizar complicações e de reduzir os índices de morbimortalidade, principalmente entre as crianças em idade escolar, que foi crescente nos últimos 21 anos no brasil, bem como de elaborar estratégias de saúde e manutenção de um bem-estar físico, psicossocial e socioeconômico. 

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1 Dicente do Curso Superior em Medicina do Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser – UNIFAN, e-mail: osnivieira@gmail.com;
2 Docente da Faculdade de Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser – UNIFAN, Mestre em Assistencia e Avaliação em Saúde – PPGAAS UFG, e-mail: murillopinto@unifan.edu.br