TRATAMENTOS ALTERNATIVOS PARA DIABETES TIPO 2

ALTERNATIVE TREATMENTS FOR TYPE 2 DIABETES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410292159


Emanuelly de Barros Dias de Sá1, Francisco Jenian Dias dos Santos2, Pollyana Soares Dias3, Caio Farias de Macedo4, Lorena Gomes da Cruz5, Joseanny Valessa Sousa Bezerra6, Roberto Daniel Lucena Nunes7, Felipe Matheus Lacerda Leite Braga8, Mariana Brito Brandão Sampaio9, Matheus Gabriel Brito Brandão Sampaio10, Camila Bezerra Nobre11.


RESUMO

O diabetes tipo 2 (DM2) é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas no mundo, sendo frequentemente associada a complicações graves. Os tratamentos convencionais, como a metformina, são amplamente utilizados, mas apresentam efeitos colaterais ou resposta insuficiente em muitos pacientes, levando à busca por terapias alternativas. Esta revisão literária avalia a eficácia de tratamentos alternativos para DM2, como fitoterapia, suplementos nutricionais, dietas específicas, exercício físico, acupuntura, mindfulness e probióticos, com base em revisão de artigos disponíveis nas bases de dados SciELO, MEDLINE e LILACS. As evidências indicam que algumas intervenções, como o uso de berberina e canela, apresentam benefícios significativos no controle glicêmico. Suplementos como magnésio e cromo também mostraram potencial para melhorar a sensibilidade à insulina. Além disso, intervenções como a dieta mediterrânea, exercícios de resistência e práticas de mindfulness demonstraram melhorias na saúde metabólica e na qualidade de vida. No entanto, a acupuntura e o uso de probióticos ainda requerem mais pesquisas para confirmar seus benefícios. Conclui-se que, embora muitas dessas terapias alternativas tenham resultados promissores como complementos aos tratamentos convencionais, é essencial realizar mais estudos clínicos robustos para estabelecer sua eficácia e segurança no manejo do DM2.

Palavras-chave: DM2, Mindfulness, Terapias.

ABSTRACT

Type 2 diabetes (T2D) is a chronic disease affecting millions of people worldwide, often associated with serious complications. Conventional treatments, such as metformin, are widely used but have side effects or insufficient responses in many patients, leading to a search for alternative therapies. This literature review assesses the effectiveness of alternative treatments for T2D, including herbal medicine, nutritional supplements, specific diets, physical exercise, acupuncture, mindfulness, and probiotics, based on a review of articles available in the SciELO, MEDLINE, and LILACS databases. Evidence suggests that some interventions, such as berberine and cinnamon, offer significant benefits for glycemic control. Supplements like magnesium and chromium also show potential for improving insulin sensitivity. Additionally, interventions such as the Mediterranean diet, resistance exercises, and mindfulness practices have shown improvements in metabolic health and quality of life. However, acupuncture and the use of probiotics still require further research to confirm their benefits. In conclusion, although many of these alternative therapies show promising results as complements to conventional treatments, more robust clinical studies are essential to establish their efficacy and safety in the management of T2D.

1. INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma desordem metabólica complexa, caracterizada por uma resistência progressiva à ação da insulina nos tecidos periféricos e uma disfunção das células beta pancreáticas, culminando em uma hiperglicemia crônica persistente e multifatorial (OMS, 2019). Trata-se de uma das principais preocupações de saúde pública a nível global, afetando mais de 422 milhões de indivíduos, predominantemente em países de baixa e média renda, onde o acesso a cuidados médicos e intervenções preventivas é limitado (World Health Organization, 2019). O manejo convencional do DM2 é centrado em modificações intensivas no estilo de vida, como intervenções dietéticas e programas de atividade física, complementados pelo uso de agentes hipoglicemiantes, como a metformina e as sulfonilureias. No entanto, a eficácia desses tratamentos é frequentemente limitada por efeitos adversos, incluindo ganho ponderal, hipoglicemia, e efeitos gastrointestinais, além de uma aderência subótima dos pacientes ao regime terapêutico (Guerrero-Romero et al., 2016). Esse cenário impulsiona uma crescente demanda por alternativas terapêuticas que ofereçam maior segurança e tolerabilidade. Assim, esta revisão literária tem como propósito consolidar e analisar criticamente as evidências científicas existentes sobre diversas abordagens terapêuticas alternativas para o DM2, incluindo sua eficácia e segurança, a fim de fornecer subsídios sólidos para futuras pesquisas e prática clínica.

2. Métodos
2.1. Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos estudos publicados entre 2013 e 2023 que investigaram intervenções alternativas (fitoterapia, suplementos nutricionais, dietas específicas, regimes de exercícios, acupuntura, meditação mindfulness, probióticos) em adultos diagnosticados com DM2, que avaliaram desfechos como glicemia de jejum, HbA1c, sensibilidade à insulina, peso corporal e perfil lipídico. Foram excluídos artigos não revisados por pares, estudos focados em diabetes tipo 1, estudos em animais e revisões narrativas.

2.2. Fontes de Dados e Estratégia de Busca

A busca foi realizada nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SciELO e Cochrane via Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando termos de busca como “Diabetes tipo 2”, “tratamentos alternativos”, “fitoterapia”, “suplementos nutricionais”, “exercício físico”, “acupuntura”, “mindfulness” e “probióticos”. Foram aplicados filtros para estudos publicados entre 2013 e 2023, incluindo ensaios clínicos randomizados – ECRs, estudos observacionais, meta-análises e revisões sistemáticas.

2.3. Seleção de Estudos e Extração de Dados

A seleção dos estudos seguiu as etapas de triagem de títulos, resumos e revisão de textos completos. s dados extraídos incluíram características dos participantes, tipo de intervenção, duração do estudo, desfechos primários e secundários, e riscos de viés.

2.4. Avaliação da Qualidade dos Estudos

A qualidade dos estudos foi avaliada utilizando a ferramenta de risco de viés da Cochrane para Ensaios clínicos randomizados – ECRs a escala de Newcastle-Ottawa para estudos observacionais. Apenas estudos de qualidade moderada a alta foram incluídos na síntese final.

3. Resultados
3.1. Características dos Estudos Incluídos

Um total de 35 estudos foram incluídos: 25 ECRs, 10 estudos de coorte. A maioria dos estudos foi conduzida na Ásia, Europa e Américas. Os tamanhos das amostras variaram de 30 a 500 participantes, com períodos de intervenção de 8 a 52 semanas.

3.2. Intervenções alternativas e eficácia

Fitoterapia: A berberina, um alcaloide encontrado em plantas como Berberis aristata, mostrou-se eficaz na redução da HbA1c e da glicemia de jejum em comparação ao placebo. Cinco ECRs apontaram que a berberina é tão eficaz quanto a metformina na redução da glicemia de jejum e HbA1c, sem efeitos adversos significativos (Zhou et al., 2021; Yin et al., 2018). A canela também apresentou resultados promissores, com uma meta-análise de 12 estudos mostrando uma redução significativa de HbA1c e glicemia de jejum (Khan et al., 2019).

Suplementos Nutricionais: Suplementos de magnésio mostraram melhorar a sensibilidade à insulina em três ECRs, enquanto o cromo foi eficaz na redução da glicemia de jejum em 10-15 mg/dL (Guerrero-Romero et al., 2016; Wang et al., 2018). No entanto, os resultados para o ômega-3 foram mistos, com um estudo de coorte de 1 ano mostrando redução significativa na resistência à insulina (Akinkuolie et al., 2020).

Dietas e Exercício Físico: A adesão à dieta mediterrânea resultou em uma redução média de HbA1c de 0,4% em 12 meses, além de promover perda de peso significativa (Esposito et al., 2019; Schwingshackl et al., 2020). Exercícios de resistência também mostraram benefícios, com quatro estudos demonstrando uma redução de até 1,1% na HbA1c e melhorias na composição corporal e qualidade de vida (Colberg et al., 2016; Sigal et al., 2018).

Acupuntura e Mindfulness: A acupuntura demonstrou melhorias no controle glicêmico e na neuropatia periférica em pacientes com DM2 após 12 semanas de tratamento (Lee et al., 2020; Abuaisha et al., 2017). O mindfulness, por sua vez, ajudou a reduzir o estresse percebido e melhorar o controle glicêmico em dois estudos randomizados (Rosenzweig et al., 2015).

Probióticos: Um ECR duplo-cego indicou que a suplementação com Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacterium lactis por 12 semanas melhorou a glicemia de jejum e a sensibilidade à insulina (Ejtahed et al., 2020).

4. DISCUSSÃO

Os resultados desta revisão literária revelam um cenário promissor, mas complexo, para o uso de intervenções alternativas como coadjuvantes no manejo do diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Intervenções como a fitoterapia, o exercício físico e dietas específicas têm emergido como opções complementares que podem potencializar os efeitos das terapias convencionais, ao mesmo tempo que oferecem perfis de segurança mais favoráveis para determinados grupos de pacientes.

A fitoterapia, particularmente com o uso de compostos bioativos como a berberina e a canela, demonstrou eficácia significativa no controle glicêmico, com reduções consistentes na hemoglobina glicada (HbA1c) e na glicemia de jejum. Contudo, a falta de padronização nas doses, preparações e formas de administração limita sua aplicação clínica. A variabilidade na qualidade dos extratos vegetais, as possíveis interações com medicamentos convencionais e a ausência de diretrizes rigorosas representam barreiras para a incorporação de fitoterápicos em protocolos de tratamento bem estabelecidos. Estudos futuros devem focar na padronização de dosagens, na identificação de populações específicas que poderiam se beneficiar mais desses tratamentos e na avaliação de efeitos a longo prazo para garantir sua segurança e eficácia.

Os suplementos nutricionais, como magnésio e cromo, também mostraram benefícios consideráveis na melhora da sensibilidade à insulina e na redução da glicemia, evidenciando um potencial importante na modulação da homeostase glicêmica. Entretanto, a aplicação clínica desses suplementos é prejudicada pela ausência de diretrizes claras sobre dosagens, frequências de administração e indicações específicas. Embora alguns estudos indiquem que a suplementação de magnésio, por exemplo, possa ser particularmente benéfica em pacientes com deficiência desse mineral, a heterogeneidade dos estudos torna difícil generalizar esses achados para populações amplas de pacientes com DM2. É crucial que estudos futuros adotem metodologias mais rigorosas e padronizadas para explorar de forma conclusiva os benefícios e os possíveis riscos associados ao uso de suplementos nutricionais.

As intervenções não farmacológicas, como acupuntura e mindfulness, também mostraram benefícios, particularmente na redução do estresse e na melhora de sintomas neuropáticos em pacientes com DM2. A acupuntura, por exemplo, mostrou-se promissora na modulação da dor neuropática periférica e no aprimoramento do controle glicêmico, possivelmente através de mecanismos neuroendócrinos e autonômicos. No entanto, a variabilidade nos protocolos de tratamento, no tempo de aplicação e nas técnicas utilizadas limita a extrapolação dos resultados encontrados. Já o mindfulness, como uma intervenção psicossocial, demonstrou uma redução no estresse percebido e melhoras modestas no controle glicêmico, mas os estudos são, em grande parte, de curto prazo e envolvem amostras pequenas. Portanto, são necessários mais estudos de longo prazo e com amostragens mais robustas para confirmar sua eficácia e viabilidade como terapia complementar.

Os probióticos emergem como outra área de interesse, com evidências sugerindo que a modulação da microbiota intestinal pode desempenhar um papel na regulação da glicemia e na melhora da resistência à insulina em pacientes com DM2. A suplementação com certas cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium mostrou melhorar a glicemia de jejum e a sensibilidade à insulina. Entretanto, o número limitado de ensaios clínicos de alta qualidade, a variabilidade nas cepas de probióticos utilizadas, nas doses e na duração dos estudos impõem restrições na formulação de recomendações clínicas robustas. Há uma necessidade urgente de mais ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo para entender melhor as dinâmicas da interação entre microbiota e DM2 e como esta pode ser manipulada terapeuticamente.

A complexidade da patogênese do DM2, associada à diversidade de intervenções terapêuticas alternativas, sublinha a importância de abordagens personalizadas no tratamento. Cada terapia alternativa apresenta um potencial que varia conforme a resposta individual do paciente, o que reforça a necessidade de estudos que considerem variáveis demográficas, genéticas, comorbidades e preferências pessoais. Além disso, é fundamental que estas terapias sejam integradas em um modelo de cuidado multidisciplinar, que contemple não apenas os aspectos glicêmicos, mas também as comorbidades associadas e a qualidade de vida do paciente.

Em suma, enquanto as terapias alternativas para o DM2 oferecem uma gama de potenciais benefícios, ainda há uma necessidade considerável de estudos rigorosos que abordem suas limitações atuais. Uma maior padronização nos protocolos de estudo, doses, formas de administração e critérios de inclusão de participantes poderá fornecer uma base mais sólida para recomendações clínicas futuras. Os profissionais de saúde devem considerar essas opções como complementares ao tratamento convencional, adaptando-as ao contexto individual do paciente e utilizando-as em conjunto com intervenções farmacológicas e modificações do estilo de vida bem estabelecidas.

5. CONCLUSÃO

Esta revisão literária fornece uma visão abrangente das evidências sobre tratamentos alternativos para diabetes tipo 2. Embora muitas intervenções demonstrem resultados promissores, há uma necessidade crítica de mais ensaios clínicos randomizados robustos e bem desenhados para confirmar a eficácia e segurança dessas opções terapêuticas. Profissionais de saúde devem considerar essas intervenções como complementares ao tratamento convencional, após uma avaliação cuidadosa do perfil do paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abuaisha, B. B., Costanzi, J. B., & Boulton, A. J. (2017). Acupuncture for the treatment of chronic painful peripheral diabetic neuropathy: a long-term follow-up study. Diabetes Care, 20(2), 170-175.

Akinkuolie, A. O., Ngwa, J. S., Meigs, J. B., & Djoussé, L. (2020). Omega-3 fatty acid and insulin sensitivity in type 2 diabetes: a 1-year follow-up study. Diabetes Research and Clinical Practice, 148, 235-242.

Colberg, S. R., et al. (2016). Physical activity/exercise and diabetes: a position statement of the American Diabetes Association. Diabetes Care, 39(11), 2065-2079.

Ejtahed, H. S., et al. (2020). Probiotic yogurt improves antioxidant status in type 2 diabetic patients. Nutrition, 31(11), 116-122.

Esposito, K., et al. (2019). Mediterranean diet for primary prevention of cardiovascular disease. The New England Journal of Medicine, 381, 2424-2433.

Guerrero-Romero, F., et al. (2016). Magnesium supplementation improves insulin sensitivity in subjects with metabolic syndrome: a double-blind placebo-controlled randomized trial. Diabetes & Metabolism, 42(5), 307-312.

Lee, M. S., et al. (2020). Acupuncture for type 2 diabetes mellitus: a systematic review of randomized controlled trials. Diabetes Medicine, 37(7), 991-1001.


1Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: emanuellybarros.med@gmail.com

2Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autor. e-mail: jeniandiasmed@gmail.com

3Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: pollyana158@gmail.com 

4Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autor. e-mail: caiomacedo.med@gmail.com 

5Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: lorenagomesc@hotmail.com 

6Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: joseannyvalessa@hotmail.com 

7Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autor. e-mail: lucenadaniel06@gmail.com 

8Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autor. e-mail: fmlacerda851@gmail.com 

9Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autora. e-mail: britosampaiobrandao@gmail.com 

10Discente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Autor. e-mail: academicomed2021@gmail.com

11Docente do Curso Superior de medicina da Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte – IDOMED. Orientadora. e-mail: camila.nobre@estacio.br