TRATAMENTO ORTODÔNTICO ESTÉTICO, DA MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II COM ANCORAGEM ESQUELÉTICA: RELATO DE CASO.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11351317


Guaracy Lyra da Fonseca Júnior1; Ney Tavares Lima Neto2; Gurgiane Rodrigues Gurgel Lessa3; Caroline Brandão Brasileiro4; Nivaldo Antônio Bernardo de Oliveira5; Kátia Betânia Miranda de Farias6.


RESUMO

O aumento da exigência estética tem levado os pacientes a buscarem por tratamentos ortodônticos mais discretos, uma vez que o foco passa a ser não apenas a resolução da má oclusão, mas também o bem-estar durante o tratamento. Por conta disso, a técnica 3D BRACKETLESS ORTHODONTICS TREATMEANT (3DBOT), que tem conquistado espaço entre os que desejam um tratamento imperceptível e rápido. Além da estética, essa técnica proporciona uma previsibilidade maior devido ao planejamento e a construção de um set up em 3D, que permite a melhor visuaslização dos movimentos dentária. O objetivo desse trabalho é relatar um caso clínico de classe II utilizando a técnica híbrida 3DBOT e alinhadores, associada a placa versátil de ancoragem esquelética. Essa combinação apresentou-se como uma opção viável para a correção estética da classe II.

Palavras-chaves: Ortodontia estética, ortodontia sem bráquetes, má oclusão de classe II, ancoragem esquelética.

ABSTRACT

The increase in aesthetic demands has led patients to seek more discreet orthodontic treatments, as the focus becomes not only the resolution of the malocclusion, but also the well-being during treatment. Because of this, the 3D BRACKETLESS ORTHODONTICS TREATMENT (3DBOT) technique, which has gained popularity among those who want an imperceptible and quick treatment. In addition to aesthetics, this technique provides greater predictability due to the planning and construction of a 3D set-up, which allows better visualization of tooth movements. The objective of this work is to report a class clinical case Il using the 3DBOT hybrid technique and aligners, associated with a versatile skeletal anchorage plate. This combination presented itself as a viable option for the aesthetic correction of the class II.

Keywords: Cosmetic orthodontics, Orthodontics without brackets, Class II maloclusion, skeletal anchorage.

1 INTRODUÇÃO

O tratamento ortodôntico tem sido cada vez mais procurado por adultos, que costumam apresentar maiores queixas estéticas, optando por técnicas mais discretas. Para que fosse possível atender a essa demanda, o desenvolvimento de aparelhos imperceptíveis tornou-se uma necessidade crescente (LIN, E. et al., 2022).

Em meio aos problemas bucais encontrados, a má oclusão de classe II é predominante nas terapias ortodônticas (DAHHAS, F.Y. et al., 2023), chegando a afetar cerca de um terço da população (CACCIATORE, G. et al., 2019). Para corrigir essa má oclusão o uso de mini implantes vem se tornando uma prática padrão por se tratar de um dispositivo de ancoragem temporária, de baixo custo, tamanho reduzido e com a capacidade de ser inserido em diferentes localizações no osso (LOMBARDO, L. et al., 2020; ZAGO, H. et al., 2021). A possibilidade de distalizar os molares para realizar tratamentos compensatórios da classe II reduziu a necessidade de extrações, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento(SKAF, Z.; NABBOUT, F, 2022; VILLELA, H.M, 2020; BECHTOLD T.E., et al., 2020).

Dispositivos que permanecem estáticos sob a aplicação de forças ortodônticas, minimizando os efeitos de ação e reação, vem sendo desenvolvidos. A placa versátil de ancoragem esquelética (PVAE) tem se destacado pela fácil instalação e por proporcionar um tratamento menos dependente da colaboração do paciente. É utilizada em conjunto com mini implantes instalados na sutura palatina, podendo ser empregada para intruir, mesializar, distalizar, corrigir mordida cruzada, desvio de linha média e fechamento de diastemas (FONSECA, G., et al., 2022).

A correção ortodôntica estética da classe II pode ser realizada utilizando a técnica 3DBOT ou 3D – Bracketless Orthodontic Treatment (Tratamento Tridimensional Ortodôntico sem Bráquetes), que recebe esse nome por produzir movimentos nos três planos, sendo necessário um set up de alta precisão em 3D. Trata-se de uma técnica híbrida que utiliza alinhadores (in office) na etapa final do tratamento para realizar o controle de torque (FONSECA JUNIOR, G., et al., 2020). A associação do 3DBOT com a ancoragem esquelética promove um tratamento seguro e previsível, encurtando o tempo de tratamento e proporcionando um tratamento ortodôntico discreto que atende às necessidades estéticas do paciente (LIMA NETO, N.T., et al., 2022).

O objetivo deste artigo é relatar um tratamento ortodôntico estético de correção da classe II com o aparelho 3DBOT, alinhadores e ancoragem esquelética.

2 RELATO DE CASO

Paciente C.B.B., 29 anos, gênero feminino, procurou atendimento no Centro de Pós-graduação em Ortodontia (CPGO), no Recife, para realizar tratamento ortodôntico. Apresentava como queixa principal o apinhamento dentário e buscava sanar essa questão com um tratamento ortodôntico discreto.

Após os exames clínico e radiográfico foi possível constatar a maloclusão de classe II de 4mm do lado esquerdo e 5mm do lado direito, desvio de linha média inferior de 2mm para a direita, sobressaliência aumentada e apinhamento leve de 2mm superior e inferior (Figuras 1 e 2). A paciente apresentou uma suave classe II esquelética e ausência dos terceiros molares.

Figura 1 (A-C) – Fotografias extrabucais iniciais: A) lateral, B) frontal e C) sorriso.
Figura 3 (A-B) – Telerradiografias iniciais: A) perfil e B)panorâmica.
Figura 4- Análise USP

O planejamento ortodôntico teve como objetivos a correção da classe II com a distalização nos lados direito e esquerdo com o aparelho 3DBOT, ancoragem no palato com dois mini-implantes e a placa versátil (PVAE), acerto da linha média e encaixe bilateral em classe I.

Iniciou-se o alinhamento e o nivelamento no arco superior com o fio 0.12″ níquel-titânio e no mês seguinte foi realizada a instalação do aparelho no arco inferior com o fio 0.14″ níquel-titânio. Na terceira consulta foram colocados na sutura palatina os mini-implantes de titânio com 8mm de comprimento, 1,5mm de diâmetro e 2mm de perfil transmucoso, e foi feita a moldagem para a confecção da PVAE.

Em seguida, instalou-se a PVAE e dois botões linguais nos caninos, iniciando a distalização com elástico corrente preso nestes dois. Também foram colados botões cerâmicos na vestibular dos primeiros pré-molares para permitir o uso de elásticos de classe II 1/8 médio, auxiliando na correção da maloclusão (Figura 4).

Figura 5 (A-D) –A) lateral direita mostrando botões no primeiro pré-molar superior e molar inferior, B) lateral esquerda com elástico de classe II, C) oclusal superior com elástico corrente da placa versátil para o botão lingual no canino D) oclusal inferior.

Devido a rotação ocasionada nos caninos, foram colados ganchos bola nos primeiros pré-molares para prender o elástico corrente e dar continuidade na distalização, deixando os caninos livres para realinharem. Na consulta seguinte, foram colocados nos caninos ganchos mais longos feitos com fio de aço 0.8mm para que a força pudesse ser aplicada mais próxima ao centro de resistência destes dentes, possibilitando a continuação do alinhamento (Figura 5).

Figura 6 (A-B) – Mudança na aplicação de força para a distalização: A) Ganchos mais longos nos caninos, B) Ganchos bola colocados nos primeiros pré-molares.

Os fios foram evoluídos até o 0.16″ níquel-titânio e o elástico de classe II foi mantido até a obtenção do encaixe em classe I. Posteriormente, foram utilizados 18 alinhadores digitais In-Office superiores, 16 inferiores, com espessura de 0,75mm para a finalização, sendo realizada a troca de placas a cada 7 dias (Figura 6). Ao concluir a correção dos torques, os arcos foram escaneados para a confecção das contenções móveis.

Ao término do tratamento, no período de 24 meses, a paciente apresentava os dentes alinhados e nivelados, o apinhamento dissolvido, em relação de classe I bilateral, com correção da linha mediana e da sobressaliência.

Figura 8 (A-C) – Fotografias extrabucais finais: A) lateral, B) frontal e C) sorriso.
Figura 8 (A-E) – Fotografias intraorais finais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, oclusal D) superior, E) inferior e F) sorrindo.
Figura 9 (A-B) – Telerradiografias finais: A) perfil e B)panorâmica.
Figura 10- Análise USP
Figura 11- Telerradiografia inicial e final
Figura 12- Sobreposição de imagens

3 DISCUSSÃO

A decisão dos pacientes que optam por um tratamento estético baseia-se não apenas nos efeitos, mas também na qualidade de vida que terão durante o processo terapêutico (LIAO, T.H., et al., 2022).  Pensando nisso, os tratamentos ortodônticos mais discretos têm possibilitado tanto a correção das más oclusões como a otimização da higiene bucal e do conforto durante a movimentação dentária (SHIMIZU, R.H., et al., 2023).

A técnica 3DBOT é uma opção de ortodontia imperceptível, previsível (devido ao set up realizado previamente) e confortável que atende à demanda estética por ter o fio fixado na lingual/palatina dos dentes, não interferindo na dicção (FONSECA JUNIOR, G.L., et al., 2022).Também traz como vantagens o controle da forma do arco e da expansão planejada. Não interfere na higienização e nem depende da colaboração do paciente, pois se trata de um sistema fixo, autoligado e que permite o deslize (OLIVEIRA N.A.B., et al., 2021). A associação dessa técnica com a ancoragem esquelética propicia resultados positivos na correção da má oclusão de classe II, conforme o resultado apresentado no relato de caso.

Os mini-implantes são dispositivos de ancoragem temporária que vêm se popularizando na correção da classe II por meio da distalização de molares. Destacam-se devido a eficácia e a menor propensão ao surgimento de efeitos indesejados, como a protrusão dos incisivos superiores, uma consequência evidenciada em outros dispositivos de distalização que provocam o aumento da sobressaliência (RITCHIE, C.; MCGREGOR, S.; BEARN, D.R., 2023).

A preferência pela abordagem palatina, juntamente com a PVAE, deve-se a boa espessura óssea encontrada na região entre os pré-molares (UMALKAR S.S., et al., 2022).A sutura palatina mediana possui quantidades adequadas de tecidos queratinizado e ósseo denso. Ademais, não há raízes dentárias nem vasos e nervos significativos, o que torna essa localidade um importante sítio de eleição para a inserção de mini implantes, favorecendo a mecânica ortodôntica de classe II (KHANEHMASJEDI, M. et al., 2020), como observado no presente trabalho.

4 CONCLUSÃO

O uso concomitante do aparelho 3DBOT com os dispositivos de ANCORAGEM ESQUELÉTICA, seguido de alinhadores digitais para a finalização. Esta abordagem se mostrou efetiva na correção da má oclusão de classe II, apresentando-se como uma opção viável para um tratamento ortodôntico estético.

REFERENCIAS

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¹Doutor em Ortodontia, Mestre em Ortodontia, SL Mandic-SP, Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela Sociedade Paulista de Ortodontia SPO-SP, Professor e Coordenador dos cursos de Especialização em Ortodontia – FACSETE-PE.
²Doutor em Ortodontia – SL Mandic, Mestre em Ortodontia – SL Mandic- SP, Especialista em Ortodontia pela FACSETE-PE, Professor e Coordenador dos cursos de Especialização em Ortodontia – FACSETE-RN, CPGO Recife.
³Especialista em Ortodontia, Mestre em ciências Odontológicas, professora do curso de especialização em Odontopediatria- FACSETE-RN
4Especialista em Ortodontia-FACSETE, CPGO Recife.
5Mestre em Ortodontia SL Mandic- SP, Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial FOP- UPE, Professor do curso de especialização em ortodontia – FACSETE-CPGO Recife.
6Mestre em Ortodontia, Especialista em Ortodontia pela FACSETE-PE. Professora do aperfeiçoamento e especialização em Ortodontia do CPGO-Recife.