TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM MULHERES PORTADORAS DE VAGINISMO: REVISÃO DE LITERATURA

PHYSIOTHERAPEUTIC TREATMENT IN WOMEN WITH VAGINISM: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW.


CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE – UNINORTE
ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO SUPERIOR DE FISIOTERAPIA


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Autoras:
Keliane de Souza Lima;
Thyneska Belacy Queiroz Da Conceição;
Orientadora:
Prof. Dra. Thaiana Bezerra Duarte;


RESUMO

Introdução: O vaginismo é caracterizado como contrações involuntárias que ocorrem no terço externo da vagina de maneira recorrente ou persistente, interferindo de forma negativa na qualidade de vida e durante o ato sexual. O tratamento fisioterapêutico visa prevenir e tratar limitações, incapacidades físicas, busca restaurar funções, mobilidade e promover a redução do quadro álgico. Objetivo: verificar os efeitos do tratamento fisioterapêutico em mulheres com vaginismo. Materiais e Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura na qual as pesquisas foram realizadas nas bases de dados Pubmed, Scielo, Bireme, Springer Link e Elsevier. Resultados: Foram incluídos 4 estudos, totalizando 264 mulheres com vaginismo, com média de idade entre 18 e 40 anos. As condutas propostas consistiram em exercícios de relaxamento, massagem perineal, técnica de dessensibilização, dilatadores vaginais, exercícios de fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico (MAP) e exercícios respiratórios. Verificou-se que as condutas fisioterapêuticas apresentam resultados importantes no tratamento perante a redução das dores, além de promover o fortalecimento dos MAP, consciência corporal, reduzindo também picos de ansiedade e medo. Conclusão: A utilização das técnicas supracitadas são eficazes quando utilizadas em pacientes com vaginismo.

Palavras-Chaves: Vaginismo; Reabilitação; Fisioterapia

ABSTRACT

Introduction: Vaginismus is characterized as involuntary contractions that occur in the outer third of the vagina recurrently or persistently, negatively interfering with quality of life and during sexual intercourse. Physical therapy treatment aims to prevent and treat limitations, physical disabilities, seeks to restore functions, mobility and promote pain reduction. Objective: to verify the effects of physical therapy treatment in women with vaginismus. Materials and Methods: This is a literature review in which searches were performed in Pubmed, Scielo, Bireme, Springer Link and Elsevier databases. Results: Four studies were included, totaling 264 women with vaginismus, with a mean age between 18 and 40 years. The proposed approaches consisted of relaxation exercises, perineal massage, desensitization technique, vaginal dilators, pelvic floor muscle (PF) strengthening exercises and breathing exercises. It was found that physical therapy approaches present important results in the treatment of pain reduction, in addition to promoting PFM strengthening, body awareness, also reducing anxiety and fear peaks. Conclusion: The use of the aforementioned techniques are effective when used in patients with vaginismus.

Key-words: Vaginismus; Rehabilitation; Physyoterapy.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com (MOREIRA, 2013) o vaginismo é caraterizado como contrações involuntárias que ocorrem no terço externo da vagina, ocorrendo de maneira recorrente, persistente e em casos extremos, impossibilitando a penetração vaginal, interferindo de forma negativa na qualidade de vida e durante o ato sexual. A contração desses músculos pode variar na sua intensidade, desde moderada a intensa. Em alguns casos pode haver a penetração, e, em outros, é impossível realizar a relação sexual com penetração devido à intensa contração dos músculos perineais e elevadores do ânus (AVEIRO; et al, 2009)

Em estudos realizados, estima-se que 1 à 6% das mulheres com vida sexualmente em atividade sofre da condição com vaginismo, mais em alguns casos, essas mulheres, por medo ou vergonha não relatam sua condição (AVEIRO; et al, 2009)

As disfunções sexuais são caracterizadas pela diminuição ou perda do desejo sexual durante as relações, incluindo a frigidez, aversão sexual e a falta de prazer, falha na resposta genital incluindo, o vaginismo não orgânico (espasmo da musculatura que circunda a região da vagina, gerando uma oclusão da abertura do canal vaginal), o vaginismo secundário que também é denominado como dispaurenia não orgânica (dor durante o ato sexual) e vaginismo situacional que ocorre em determinadas posições e com determinados parceiros  (FLORENTINO, 2015)

Não existe uma real definição da etiologia do vaginismo, mas é de suma importância ressaltar os fatores psicológicos e sociais da mulher portadora desta condição. Além disso, grandes causadores deste problema em questão geralmente são fatores psicológicos, sociais, emocionais, as questões da homossexualidade feminina, da violência doméstica e até mesmo traumas desenvolvidos durante a realização de atos sexuais (AVEIRO; et al, 2009).

O vaginismo afeta de maneira negativa a qualidade de vida, gerando um comprometimento na vida sexual ou conjugal da mulher, comprometendo o bem-estar desses casais e levando a um declínio gradativo da autoestima da parceira em si, o que acaba interferindo de maneira direta e negativa na vida social e psicoafetiva (TRINDADE; FERREIRA, 2008).

As consequências que o vaginismo pode acarretar negativamente afetam tanto a saúde física quanto mental, gerando também condições como: anorgasmia (dificuldade ou incapacidade de chegar ao orgasmo), problemas ginecológicos, que ocorrem devido à fraqueza dos músculos do assoalho pélvico, dores extremas durante a relação sexual e contração involuntária. Consequentemente, o vaginismo também acaba predispondo a paciente aos sintomas como: taquicardia, sudorese e náuseas que ocorrem de forma súbita (TOMEN; et al, 2016).

O vaginismo pode não ser diagnosticado facilmente, pois, o número de mulheres que tem certo constrangimento e se sentem oprimidas mediantes ao seu caso, ainda é elevado e, isso gera atraso no inicio de seu tratamento (BATISTA, MIRCA, 2017).

A fisioterapia busca propor e realizar exercícios físicos, que tem por finalidade proporcionar o relaxamento da musculatura e também a redução dos pontos de gatilho na região em tratamento (MENDONÇA; AMARAL, 2011).

O tratamento fisioterapêutico, em geral, visa prevenir e tratar de limitações, incapacidades físicas, busca restaurar funções, mobilidade e promover a redução do quadro álgico. Estudos sugerem que a fisioterapia é capaz de promover uma alteração muscular por reduzir o medo e a ansiedade da exposição durante a palpação vaginal, promover a diminuição da proteção muscular de reação, normalizar o tônus dos músculos da região do assoalho pélvico e aliviar as dores. Além disso, condutas como dessensibilizarão; treinamento dos músculos do assoalho pélvico, exercícios na região vaginal com dilatadores de tamanhos variados, utilização de eletroterapia realizada com recursos como o biofeedback e TENS, também são citados na literatura (PEIXOTO; et al, 2020).

Diante do impacto negativo que o vaginismo acarreta na vida dessa paciente e no intuito de informar a importância dos cuidados que as mulheres devem obter devido a sua condição, este estudo objetiva verificar os efeitos do tratamento fisioterapêutico em mulheres com vaginismo.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura. Realizaram-se pesquisas nas bases de dados Pubmed, Scielo, Bireme, Springer Link e Elsevier. A seleção dos artigos ocorreu no período do mês de agosto ao mês de outubro utilizando as seguintes palavras-chaves: Vaginismo (Vaginismus), Tratamento Fisioterapêutico (Physioterapeutic Treatment), Reabilitação (Rehabilitation) e Fisioterapia (Physyoterapy).

Foram utilizadas na construção do trabalho publicações cientificas nos idiomas em português, inglês e espanhol disponíveis nas plataformas mencionadas. Os critérios de inclusão foram: ensaios clínicos randomizados ou não, estudos observacionais, estudos retrospectivos ou qualitativos que utilizaram tratamento fisioterapêutico em mulheres portadoras de vaginismo. Foram excluídos artigos não disponíveis na íntegra e os que não trouxessem desfechos relacionados ao efeito do tratamento fisioterapêutico.

Primeiramente, as palavras-chaves foram inseridas nas bases de dados com o propósito de realizar uma busca plausível sobre o tema em questão. Após inserção das palavras-chaves, houve exclusão das publicações duplicadas. Depois, leitura do título e resumo dos artigos na íntegra aplicando critérios de inclusão e exclusão.

3 RESULTADOS

Após o período de busca nas bases de dados sobre o tema em questão, os achados consistiram em 20 publicações, sendo que 2 artigos estavam duplicados. Após a exclusão desses artigos, 18 foram analisados mediante ao título e resumo. No entanto, os 14 excluídos foram devido não retratarem sobre o efeito do tratamento fisioterapêutico em mulheres portadoras de vaginismo. Diante disso, 4 estudos foram incluídos nesta revisão (Figura 1). Figura1. Fluxograma do estudo.

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Fonte: Dados da pesquisa (2021)

O quadro 1 apresenta e descreve em ordem cronológica, os estudos incluídos nesta revisão de literatura sobre tratamento fisioterapêutico em mulheres portadoras de vaginismo.

Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados para a revisão.

Autor e AnoTipo de EstudoObjetivo do EstudoInstrumento da coleta de dados/ IntervençãoResultados
YARAGHI et al. (2018)Ensaio Clínico RandomizadoComparar a eficácia da fisioterapia dos músculos do assoalho pélvico como tratamento padrão e injeção local de toxina botulínica no funcionamento sexual de pacientes com vaginismo primário.No grupo tratado com fisioterapia, foram realizados exercícios de relaxamento, eletroterapia, dessenssibilização e foco de sensação. Aplicado por 12 semanas. Autoconhecimento, instrução do assoalho pélvico, massagens perineais, exercícios de relaxamento muscular do assoalho pélvico e exercícios respiratórios, exercícios para realizar em casa. O Terapeuta começou a inserir gradualmente um dedo, após dilatadores vaginas prescritos para utilização três vezes o dia em suas residências. Novamente se tolerado pela paciente, utilização de eletroterapia, por 15 minutos, com frequências analgésicas. Após a conclusão dos tratamentos de ambos os grupos, um dos membros da pesquisa era responsável por gerenciar e supervisionar o processo de trabalho e colher informações sobre funcionamento sexual das pacientes.
A fisioterapia, junto com outras medidas, como estimulação elétrica funcional e dessensibilização melhoraram efetivamente o Índice de Função Sexual Feminina dos pacientes em comparação com o tratamento com botulino. No final do estudo, verificou-se que 20 e 26 pacientes dos 30 e 28 pacientes nos grupos de intervenção e controle conseguiram ter relações sexuais bem-sucedidas, respectivamente (P = 0,014). Além disso, as frequências de disfunção sexual diminuíram em 26,6% e 50% nos grupos mencionados, respectivamente (p = 0,008 e p < 0,001).
Zarski et al. (2017)Ensaio Clínico controlado RandomizadoAvaliar a eficácia de uma intervenção de autoajuda guiada baseada na Internet para o vaginismo em um ensaio piloto randomizado controlado.A intervenção consistiu em 10 sessões e incluiu módulos de psicoeducação (sessões 1 e 2), exercícios de relaxamento (sessão 3), reestruturação cognitiva (sessão 4), exposição corporal (sessão 5), exercícios de concentração sensorial (sessão 6), exposição gradual usando exercícios de inserção com dedos e dilatadores (sessões 7 e 8) e exercícios de preparação para a relação sexual com o parceiro (sessões 9 e 10). Os processos fisiológicos durante a excitação e a relação sexual também foram explicados. Durante os exercícios, os participantes foram convidados a explorar sua vagina na frente de um espelho. Durante o treinamento, o parceiro participou dos exercícios de foco sensorial e dos exercícios de exposição gradual em que o parceiro inseriu, orientado pela mulher, pelo menos um dedo ou um dilatador.Mais participantes do (IG- grupo intervenção) tiveram relações sexuais em comparação com aquelas do (WCG – grupo controle), pelo menos uma vez em 10 semanas ou 6 meses (odds ratio ¼ 2.02). Houve um aumento significativo na penetração da relação sexual desde o início até 6 meses. Esse aumento não foi encontrado no (WCG – grupo controle de lista de espera). Houve efeitos significativos entre os grupos em relação à penetração não sexual (autoinserção de um dedo ou dilatador ou inserção pelo parceiro) em favor do (IG – grupo intervenção). O medo do coito e do enfrentamento diádico diminuiu significativamente no (IG – grupo intervenção). A satisfação geral com o treinamento foi alta.
MUAMMAR et al. (2015)Estudo RetrospectivoAvaliar a resposta de mulheres e de seus maridos a uma avaliação e tratamento multidisciplinar individualizado para a resolução desse problema.
As pacientes foram avaliadas por uma ginecologista em clínicas ambulatoriais. Os dados foram coletados por meio de revisão de prontuários e entrevistas por telefone. A análise final foi realizada em 100 casais. O tratamento combinou educação sexual com dessensibilização sistemática, visando o medo e a ansiedade associados à penetração vagina.A medida bruta da taxa de sucesso foi de 96% e 87% de sucesso completo. Após a terapia, 93,3% das mulheres vaginísmicas foram tratadas com sucesso e 83,3% tiveram relações sexuais regulares com orgasmo.
MACEY et al. (2015)Estudo QualitativoExplorar as experiências de mulheres no tratamento do vaginismo com treinadores vaginais e usar suas vozes para propor diretrizes para melhorar o tratamento13 mulheres que usaram treinadores vaginais para dificuldades de penetração vaginal diagnosticadas como vaginismo foram recrutadas. As mulheres participaram de entrevistas individuais semiestruturadas (face a face / telefone / Skype), as quais foram gravadas em áudio, transcritas na íntegra e analisadas por meio da Análise TemáticaDe 13 pacientes, 7 foram encaminhadas para fisioterapia, ou clínicas especializadas, 5 pacientes que começaram o tratamento após o encaminhamento, relataram progresso, porém de maneira lenta, 1 paciente relatou esperança na resolução do vaginismo e 1 paciente relatou não realizar fisioterapia devido ao custo e 1 paciente aguardava encaminhamento para fisioterapia. As pacientes que relataram começar a fisioterapia ou que tiveram acesso à clínica especializada tiveram progresso. As mulheres valorizavam o conhecimento especializado e os profissionais que ofereciam conselhos específicos sobre exercícios, treinamento em técnicas de relaxamento e conheciam tratamentos eficazes.
Fonte: Dados da pesquisa (2021)

O estudo de Mansooreh et al. (2018) consistiu em um ensaio clínico randomizado no qual foram subdivididos em dois grupos, sendo eles: grupo controle onde as pacientes foram selecionadas para o tratamento fisioterapêutico convencional e o grupo intervenção no qual foi feito a aplicação da injeção botulínica. O presente estudo selecionou 74 pacientes com idade entre 20-40 anos que apresentavam a condição de vaginismo de caráter primário com grau III e IV, baseado na categorização de Lamont. As pacientes que foram selecionados ao grupo intervenção receberam o total de 500 unidades de botulino de forma diluída em 1,5cc juntamente com a solução salina normal, sendo associada a uma dosagem na qual consistiu em 150-400 unidades que foram injetadas na musculatura de levantores do ânus, especificamente no puborretal. Além disso, foi feita a aplicação da injeção em três pontos específicos nos dois lados em tratamento na região do músculo puborretal. No grupo em tratamento com a fisioterapia convencional, no qual foi proposto a essas pacientes pelo período de 12 semanas os exercícios de relaxamento, na parte de recursos elétricos, o FES, técnica de dessenssibilização e foco de sensação. Inicialmente durante as sessões, essas mulheres recebiam uma aula sobre a anatomia do assoalho pélvico, durante o seu atendimento quando profissional fisioterapeuta realizava as técnicas na musculatura na região pélvica da paciente na posição de litotomia associado ao equipamento infravermelho utilizado para potencializar o aumento de aporte sangíneo na região. Em outros momentos as pacientes receberam orientações de alguns exercícios de relaxamento da musculatura pélvica associado aos exercícios respiratórios para serem feitas em suas residências. Além disso, foram utilizados eletrodos vaginais com ondas de frequências analgésicas pelo período de 15 minutos cada sessão. Os resultados descritos mostram que a utilização do método fisioterapêutico e as técnicas de FES e dessensibilização apresentou uma taxa de sucesso bem mais efetiva do que as injeções de toxina botulínica nas regiões tratadas. Ao final, realizou-se um comparativo do antes e depois dos diferentes grupos com seus respectivos tratamentos e constatou-se que a lubrificação e o desejo sexual não obtiveram melhora positiva no grupo intervenção.

No estudo de Zarski et al. (2016) com um total de 77 mulheres portadoras de vaginismo foram designadas para dois grupos distintos. Nessa pesquisa se fez necessário a elaboração de um critério de inclusão na qual as participantes do grupo intervenção (GI) precisariam estar sem realizar as atividades sexuais durante o período de 6 meses e um grupo controle (WCG). A intervenção e tratamento em questão foram relizados em 10 sessões e separadas em módulos, buscando envolver técnicas como psicoeducação, exercícios de relaxamento, reestruturação cognitiva, exercício de concentração sensorial, exposição gradual associado aos dilatadores vaginais e por fim, foco sensorial. No modulo inicial voltado para a reestruturação cognitiva as pacientes tinham que relatar e conversar sobre questões de crenças distorcidas sobre o ato sexual, dor na região genital, sexualidade, visando o entendimento de como essas crenças acabam afetando as questões emocionais e comportamentais. Além disso, as pacientes receberam uma aula explicativa sobre a anatomia do assoalho pélvico, dos órgãos genitais femininos e os processos de excitação durante as relações com seus parceiros. No módulo seguinte, os parceiros das pacientes se fizeram presentes nos exercícios de foco sensorial e de exposição gradual, no qual, mediante a orientação de sua esposa, o marido realizou a colocação do dedo ou do dilatador no canal vaginal. Nos exercícios de relação sexual, o parceiro realizou o toque na região vaginal com a ponta do pênis ereto sem se mover e sem realizar a introdução por completo. Entretanto, uma das principais questões da intervenção consistiu em métodos lúdicos como a utilização de estratégias e técnicas voltadas para as situações do dia-a-dia das pacientes em tratamento. Ao final, os resultados obtidos apresentaram-se de maneira positiva, pois, 34% dos participantes do GI relataram que tiveram sucesso nas relações sexuais quando comparados com 21% do grupo WCG. No entanto, a questão afetiva, o quesito comunicação e a intimidade entre o casal também foi constatado a evolução nessa questão.

No estudo de Muammar et al. (2015) foram selecionados um total de 100 casais árabes com idade entre 18 e 30 anos, onde após anos de casamento, o casal relatou não ter tido relações sexuais, ou casamento não consumado, mediante ao problema de fobia de penetração vaginal da esposa. O tratamento utilizado nos pacientes consistiu em técnicas associadas como, combinação de educação sexual, aconselhamento, exercícios de fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico juntamente com a técnica de foco sensorial, aplicação de dilatadores vaginais e terapia manual (utilizando os dedos) sendo empregados de maneira gradativa nessas pacientes. Além disso, se fez necessário a utilização de anestesias aplicadas de forma local e lubrificantes vaginais para potencializar a efetividade do tratamento durante os atendimentos. A terapia comportamental psicossexual ocorreu em dias diferenciados das sessões voltadas para a realização de exercícios, cujos atendimentos decorreram no período de 45 minutos. Na questão da ansiedade se fez importante o emprego de exercícios respiratórios, exercício educacional utilizando a terapia com espelho, questões emocionais como empatia e paciência também foram abordadas no tratamento. Entretanto, em alguns casos mais delicados algumas pacientes que não conseguiram atingir o pico de relaxamento, e que não permitiam a inserção de cones vaginais, se tornou necessário a terapia com aplicação de SSRI (inibidor seletivo de recaptação de serotonina) como o escitalopam para proporcionar a redução das reações de fobia das pacientes mais graves pelo período de 3 semanas. Mais adiante as pacientes também foram instruídas a realizar exercícios voltados para o treinamento vaginal, na qual inicialmente começaram a técnica introduzindo os dedos na região intima e com a sua melhora gradativa, fizeram a utilização de objetos cilíndricos de variados tamanhos. O resultado do estudo demonstrou que, 96% dos casais após 4 sessões já relataram melhora gradativa no quesito relação sexual, redução da aversão ao ato de manter relações com os seus respectivos maridos, na questão da consumação do casamento e gravidez.

No estudo de Macey et al. (2015), foram selecionadas 13 mulheres com diagnóstico de vaginismo, algumas já vinham realizando o tratamento e outras ainda a procura do mesmo. Todas as pacientes relataram os mesmos sintomas de dor e dificuldade mediante a penetração. As entrevistas eram realizadas através de critérios pré-existentes, como por exemplo, o grau da dificuldade durante a tentativa de penetração. Além disso, durante as respectivas entrevistas, as pacientes selecionadas descreveram suas experiências com o uso dos dilatadores vaginais, suas expectativas, suas melhoras e dificuldades encontradas durante o período de tratamento. Entretanto, o uso dos dilatadores vaginais para algumas dessas mulheres foi de suma importância para o seu tratamento autodirigido (tratamento realizado em casa pela paciente). Para outras mulheres, fez-se necessário a presença e o acompanhamento do profissional fisioterapeuta especializado. Os resultados mostraram que nessas últimas mulheres, houve uma melhora significativa durante o ato sexual.

Os quatro estudos utilizados nesta revisão incluíram a análise de 264 mulheres com vaginismo, com média de idade entre 18 e 40 anos, nas quais a maioria teve seu diagnóstico somente após três anos de casamento. As técnicas fisioterapêuticas utilizadas consistiram na utilização de exercícios de relaxamento, massagem perineal, técnica de dessensibilização, exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico, exercícios respiratórios e dilatadores vaginais. Ao final, os resultados registrados foram bastante positivos, pois, por meio deles, essas mulheres obtiveram a redução das dores, uma relação sexual com penetração efetiva, redução do medo, ansiedade e até mesmo algumas pacientes conseguiram engravidar.

4. DISCUSSÃO

Com base nos estudos incluídos nesta revisão, foi possível verificar que a literatura sustenta que o tratamento fisioterapêutico adequado em mulheres portadoras de vaginismo gera a essas pacientes uma melhora gradativa quando as mesmas realizam o protocolo proposto de maneira correta.

Segundo Mansooreh et al. (2015), pesquisas mostram que a eficácia das técnicas de fisioterapia se tornou indispensável nos últimos anos, pois, o tratamento fisioterapêutico tem sido considerado extremamente importante e de primeira linha devido aos seus resultados em variados centros de saúde gerando resultados satisfatórios. Além disso, o suporte profissional consta como um grande aliado ao decorrer do tratamento de vaginismo proporcionando uma boa relação interpessoal e uma boa comunicação com o profissional gerando benefícios gratificantes para essas pacientes (MACEY; et al, 2015). Cabe ressaltar que uma avaliação detalhada das pacientes em tratamento, consiste no diferencial do profissional para a elaboração de um protocolo adequado. Antes de iniciar as condutas propostas, é de suma importância deixar a paciente ciente de tudo que será realizado, explicando de forma clara e com a riqueza de detalhes as técnicas que precisarão ser utilizadas, de acordo com a necessidade de cada pessoa (MATHIAS; et al, 2016).

Para HAS et al. (2018) antes de iniciar qualquer tratamento, utilizam-se escalas e questionários direcionados às pacientes, como exemplo: a Escala Visual Analógica de Dor (EVA), Questionário de Dor McGill (MPQ). Avalia-se também o índice referente à Função Sexual Feminina (FSFI) e em alguns casos aplica-se a Escala Hospitalar de Ansiedade (HADS-A) e Depressão (HADS-D) para saber o nível dessas alterações, e o quanto elas afetam negativamente cada paciente. Entretanto, é de fundamental importância o conhecimento referente aos graus de vaginismo para realizar a elaboração do protocolo de tratamento conforme a paciente necessita. Esses graus são classificados perante a categorização de Lamont. O vaginismo grau I apresenta a presença de espasmos da musculatura levantador do ânus e perineais, o grau II ocorre como um espasmo de forma generalizada dos MAP que tem por definição ser uma musculatura bastante dolorida e altamente contraída durante a palpação. No grau III a paciente apresenta um espasmo de maneira severa dos MAP compensando na elevação da região glútea durante a avaliação, por fim, o grau IV também definido como um espasmo severo, mais diferente do grau III durante a avaliação, a paciente gera uma compensação na região glútea e no movimento de contração de adutores do quadril (MANSOOREH; et al, 2015).

Em relação aos recursos fisioterapêuticos utilizados na paciente com vaginismo, o estudo de HAS et al. (2018) ressaltou que a técnica de massagem perineal (intravaginal) associada aos exercícios respiratórios, alongamentos passivos não só promoveram o alongamento da região dos músculos do assoalho pélvico, mas também o seu relaxamento, a redução de pontos gatilhos e redução da dor durante os momentos íntimos. Mansooreh et al. (2015) relatam que quando a região dos músculos do assoalho pélvico é massageada, ocorre um aumento do aporte sanguíneo, potencializando assim, a redução do quadro álgico.

Macey et al. (2015) destacam a importância do conhecimento quanto ao uso de dilatadores, e que, na maioria das vezes, a falta da prática de como manusear esses equipamentos ocasiona, em determinadas mulheres, frustações, tensões, medo, dor e incômodos, negatividade em não realizar o sexo natural (aquele sem a utilização de vibradores, brinquedos eróticos, ocorrendo somente o sexo com penetração), ou o auto julgamento, por se sentirem incapazes. Os mesmos autores ressaltaram também que a falta do autoconhecimento implica na possibilidade de não haver relação sexual. É importante destacar que quando as pacientes de certa maneira se tornam toleráveis aos dilatadores, o tamanhos dos mesmos devem ser aumentados para potencializar ainda mais a redução do medo via penetração e o alongamento da musculatura do assoalho pélvico (SEO; et al, 2005).

Cullen et al. (2012) em suas pesquisas, relatam o uso do dilatador vaginal como um reabilitador para disfunções sexuais. Perante suas entrevistas, grande dificuldade é encontrada, pois, a maior parte das mulheres não sabe fazer o manuseio desse recurso e, por falta de conhecimento na utilização do dilatador, apresentam dor e desconforto na região onde ele é inserido. Essa dor também pode estar relacionada ao medo, preconceito ao uso do mesmo. Relatam que a comunicação, explicação de como manuseá-lo e para qual finalidade estão sendo utilizados é importante. Os autores mostram que o uso do dilatador, não deve ser visto como um objeto sexual, pois o mesmo faz parte da reabilitação, o que é um ponto importante, podendo fazer sua aplicação com lubrificante para facilitar a penetração vaginal, encorajando a mulher a usá-lo, mostrando à paciente que o objetivo é principalmente o alongamento dos músculos vaginais.

Mansooreh et al. (2018) propuseram em seu estudo a utilização do FES, que consiste em uma técnica na qual utiliza pulsos elétricos com intuito de realizar estímulos diretamente no sistema nervoso central para potencializar a eficiência contrátil da musculatura em tratamento, na realização do ato sexual por completo e de maneira satisfatória. A técnica de FES gera na paciente a reeducação e reativação das musculaturas que estavam com seu funcionamento anormal (SEO; et al, 2005).

Outras técnicas utilizadas para o fortalecimento dos MAP são os exercícios de treinamento dos músculos do assoalho pélvico e a inserção de maneira gradativa dos dedos ou de treinadores vaginais no canal vaginal (MUAMMAR; et al, 20015). Os exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico ajudam de maneira gradativa no controle da musculatura do pubococcígeo, e, associada juntamente com a inserção dos dedos no canal vaginal, proporcionam, além da dessensibilização, redução do medo, reeducação muscular durante a penetração no introito vaginal e, por fim, o fortalecimento muscular por meio de exercícios de contração e relaxamento dos MAP (THIPPESWAMY et al., 2011).

Sacomori e Cardoso (2015) utilizaram em seu estudo, exercícios para os músculos do assoalho pélvico em diferentes posições, exercícios respiratórios e consciência corporal. Com auxilio do biofeedback-eletromiográfico a contração dos MAP, exercícios de respiração diafragmática e a técnica de KNACK, verificaram aumento na força muscular, resistência muscular e coordenação durante as contrações dos músculos do assoalho pélvico.

Verificou-se que a fisioterapia dispõe de vários métodos direcionados ao tratamento de mulheres com vaginismo, na qual é possível verificar sua eficácia. Dessa forma, o tratamento busca proporcionar a essas pacientes uma melhora na percepção corporal utilizando os dilatadores vaginais e exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico. Podem-se utilizar também outros recursos para realizar a modulação do tônus, melhorar a contração dos músculos do assoalho pélvico, fortalecer essa musculatura e principalmente, reduzir quadros de dor. Em alguns casos, realizar uma manipulação dos tecidos da região visceral e urogenital para melhorar sua mobilidade é um recuso eficaz. A utilização de todas essas técnicas se torna importantes porque elas geram estímulos nas terminações nervosas, causando a liberação de endorfinas que são responsáveis pela sensação de prazer, e, além de reduzir as dores intensas, desencadeiam também o aumento do aporte sanguíneo na região e potencializam a remoção de metabólicos celulares (HAS et al., 2018).

Nesta revisão, verificou-se que a maioria das pacientes obteve sucesso mediante as técnicas realizadas. No entanto, é importante ressaltar que o tratamento do vaginismo ocorre de maneira gradativa e conjunta, onde a participação e o comprometimento da paciente são de extrema importância para a taxa de sucesso perante o tratamento.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se nesta revisão que a utilização de técnicas como massagem perineal, dilatadores vaginais e treinamento dos músculos do assoalho pélvico têm sua eficácia quando utilizados em pacientes com vaginismo.

Os exercícios melhoram a resistência muscular da região perineal, proporcionam aumento da circulação sanguínea, promovem redução das dores, redução do medo durante a penetração e fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico. Diante disso, promovem melhora na qualidade de vida dessas mulheres, sem dores e frustrações.

A fisioterapia para o tratamento do vaginismo busca solicitar das pacientes sua dedicação e compromisso perante o tratamento. Portanto, é aceitável supor que os protocolos de tratamento terão sua efetividade se os mesmos estiverem baseados em princípios fisiológicos confiáveis, tendo em vista, a capacidade de garantir um resultado eficaz aos músculos do assoalho pélvico. Vale ressaltar que o tratamento deve sempre estar sobe supervisão do profissional fisioterapeuta para desencadear e manter o sucesso do mesmo.

Dessa forma, o tratamento fisioterapêutico na região do assoalho pélvico de mulheres com vaginismo tem sua eficácia quando realizado de maneira correta, por um profissional que tenha conhecimento sobre o vaginismo, juntamente na utilização de técnicas e recursos terapêuticos quais irão potencializar a melhora na qualidade de vida da paciente.

6 REFERÊNCIAS

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