TRASLADO DE CADÁVERES ENTRE BRASIL E PORTUGAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8040485


1Natália Rezende Carminato;
2Giseli Passador.


RESUMO

O traslado de corpos é um processo de transferência de um cadáver ou restos mortais de um local para o outro, que pode ser de um país para outro. Os países abordados por esse estudo são Brasil e Portugal. Alguns requisitos são obrigatórios para conclusão do processo e acompanhados pelo Consulado dos países envolvidos. Dentre os documentos estão: certidão de óbito e certidão de embalsamento, além disso, o transporte internacional deve ser realizado através do modal aéreo, por ser considerado mais seguro e adequado para este tipo de procedimento. Este modal contribui para a preservação do cadáver e permite maior agilidade nos procedimentos para o acompanhamento e a liberação do cadáver por parte dos envolvidos na identificação e reconhecimento deste. Esse serviço é essencial para oferecer suporte a familiares de imigrantes que infelizmente vieram a falecer fora de sua terra natal. Essa pesquisa está baseada em pesquisa bibliográfica sobre temas específicos fundamentados em livros, teses, artigos científicos. A abordagem da pesquisa é qualitativa com a apresentação dos conceitos relevantes para o entendimento, análise e conclusão do tema desta pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Traslado. Cadáveres. Transporte.

A B S T R A C T

Body transfer is a process of transferring a dead body or remains from one place to another, which may be from one country to another. The countries covered by this study are Brazil and Portugal. Some requirements are mandatory for completion of the process and accompanied by the Consulate of the countries involved. Among the documents are: death certificate and embalming certificate, in addition, international transport must be carried out by air, as it is considered safer and more suitable for this type of procedure. This modal contributes to the preservation of the corpse and allows for greater agility in the procedures for monitoring and releasing the corpse by those involved in its identification and recognition. This service is essential to support the families of immigrants who unfortunately died outside their homeland. This research is based on bibliographic research on specific topics based on books, theses, scientific articles. The research approach is qualitative with the presentation of relevant concepts for the understanding, analysis and conclusion of the theme of this research.

Keywords: Transfer. Corpse. Transport.

1. INTRODUÇÃO

A globalização tem sido útil na ampliação de comércio internacional, na manutenção das relações e no fortalecimento de laços diplomáticos e comerciais entre os países. Os laços comerciais e diplomáticos são visíveis nos acordos comerciais, na participação dos países nos Blocos Econômicos, no aumento do volume de comércio de bens e serviços, nas relações culturais, nos eventos esportivos. Além disso, existe o traslado de cadáver entre os países, objeto deste artigo.

De acordo com Fair e Williams (1959), os transportes promovem o inter-relacionamento de diversas topografias, distribuição de recursos e também o desenvolvimento do comércio, além de ser fundamental para garantir a mobilidade social e disseminação de informações, cumprindo uma importante função social.

Contudo, o transporte de cadáveres não é algo recente, visto que, em períodos de conflito e guerra, a prática de transportar os corpos dos guerreiros mortos em combate, mesmo que rara, já existia. Durante o século XIX, a maioria dos soldados eram enterrados em campo de batalha, porém os oficiais e alguns militares eram repatriados, para que pudessem ser sepultados em sua terra natal e receber um velório digno em sua memória, para que sua família e amigos pudessem despedir-se apropriadamente. Os sepultamentos em terra natal e os velórios destinados à despedida dos entes queridos são os maiores motivadores do traslado de cadáveres.

Com o passar dos anos, as técnicas de transporte de cadáveres se aprimoraram, para que fosse possível evitar os problemas que a má execução deste tipo de serviço pudesse acarretar. Dentre esses problemas, existe a ameaça à saúde pública que pode ser criada de acordo com a decomposição do corpo. A decomposição do corpo dependerá de diversos fatores como o momento do óbito, as condições nas quais o corpo foi exposto ou até mesmo a forma e o tempo no qual ele irá ser transportado, desde o momento de sua morte até de seu sepultamento. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o órgão encarregado de garantir que o processo de transporte seja feito de forma correta e segura em solo nacional.

Devido ao contexto histórico brasileiro, perpetua-se um forte vínculo entre o Brasil e Portugal, de acordo com o Observatório de Imigração (2022), existe uma grande entrada de imigrantes portugueses em solo brasileiro. Outro ponto em que se deve ser prestado atenção é a barreira cultural presente nesse tipo de operação, tendo em vista que cada país lida com a morte de forma diferente, pois cada cultura atribui um significado para esse processo natural pelo qual todo ser vivo irá passar.

De acordo com Bowersox e Closs (2001), a logística tem como finalidade garantir o fornecimento dos produtos ou serviços solicitados no local e momento acordados com os clientes. As empresas que também oferecem este tipo de serviço demonstram grande preocupação em cumprir seu papel dentro dessa cadeia de processo. A empresa aérea Latam Cargo (2018), divisão de transportes de cargas aérea Latam Airlines, divulgou que, em média, transporta mensalmente restos mortais de mais de 135 pessoas. A empresa também segue diversas normas, tanto estabelecidas por ela quanto exigidas pela Anvisa, para que o processo ocorra da melhor forma possível.

A abrangência de pesquisas acadêmicas que abordam esse tema é quase inexistente, portanto, não existe uma grande compilação de informações sobre o assunto. Com isso em mente, as questões abordadas são: quais os entraves burocráticos e fiscais do traslado? Qual a maneira correta de executar este processo? Como este tipo de serviço pode beneficiar as pessoas ao redor do mundo, mesmo que inseridas em diferentes contextos, culturas e religiões?

2.EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 O que é traslado de corpos?

De acordo com Kovács (2008) o traslado de cadáveres baseia-se no ato de transportar o cadáver inumado ou seus restos mortais de um lugar para outro. Esse serviço é prestado por assistências funerárias, que oferecem o serviço de remoção do corpo, a transferência do corpo para o local de necropsia. A Anvisa é o órgão que regula esse tipo de processo em solo nacional, regendo o envio e entrada de corpos, para que possa apresentar o menor risco de ameaça à saúde pública.

Segundo Bays e a psicóloga Maria Júlia Kovács (2008), coordenadora do Laboratório de estudos sobre a morte do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) e estudiosa sobre a abordagem psicológica da morte afirma que este é um processo psicologicamente complexo, visto que, a morte é um processo natural da vida e o destino de todos e, ainda assim, para alguns, é um tópico difícil de lidar.

Existem dois tipos de traslado, o traslado nacional e internacional. O traslado nacional pode ser justificado de duas formas. Em casos em que o óbito se dá em território nacional seja em outra cidade (esse tipo de locomoção se categoriza como intermunicipal), estado (categorizado como interestadual), ou até mesmo dentro do mesmo município (a locomoção do corpo de um cemitério para outro, por exemplo). É importante atentar-se sobre as leis quanto a realização do transporte pois elas diferem de acordo com o Estado.

Os veículos de transporte que serão utilizados para movimentar o corpo de um local para o outro deverão obedecer às normas vigentes, o transporte só pode ser realizado nos compartimentos de cargas estabelecidos em lei e é necessário que a empresa funerária tenha um contrato social, um CNPJ válido e o alvará de funcionamento em dia.

O traslado internacional ocorre em situações onde se faz necessário o transporte do corpo de um cidadão ao seu país de origem. O processo de liberação do corpo varia de acordo com as normas do país em que ocorreu o óbito e de acordo com a causa da morte.

Este traslado é feito através do transporte aéreo, esse fator torna o processo bem mais caro, portanto, caso a família não consiga arcar com as despesas, o falecido será enterrado no local em que o óbito foi constatado.

Geralmente esse tipo de transporte envolve processos burocráticos mais intensos que no transporte nacional. Para que essa etapa seja facilitada o ideal é contratar um tradutor.

Também é interessante contratar um seguro-viagem que ofereça cobertura de traslado internacionais em caso de falecimento.

Para que ambos os traslados sejam concluídos são necessários alguns documentos. Os documentos necessários para a realização do traslado nacional são o requerimento de transferência; cópia autenticada da identidade do solicitante, do proprietário do jazigo onde será levado o corpo e do jazigo que receberá o corpo; cópia autenticada da certidão de óbito; alvará judicial e autorização da Vigilância Ambiental. Os necessários para o traslado internacional são o registro do consulado; certidão de óbito; autorização de remoção do corpo e laudo médico de embalsamamento.

O traslado internacional sofre mais passos em sua ordem burocrática, esses passos estão ilustrados na Figura 01.

Fluxograma 1 – embalagem plástica utilizada na exportação

Fonte: Adaptada de GOV.BR (2023)

2.2 Processo feito para transporte

De acordo com RODRIGUES (2002), o conceito de transporte é descrito como o deslocamento de pesos ou pessoas de uma localização para outra. Neste contexto, para que o corpo seja transportado, faz-se necessário uma série de cuidados. Dentre os processos necessários, destaca-se o processo de conservação.

Em casos em que o falecimento ocorreu a menos de 48 horas, o cadáver deverá ser submetido ao processo de formolização, dessa forma a conservação terá efeito temporário. Já em casos em que o falecimento se deu a mais de 48 horas, é necessário que o corpo seja submetido ao processo de embalsamento, para que o cadáver tenha conservação total e permanente a fim de evitar possíveis vazamentos inesperados e sua decomposição.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é realizado o controle sanitário do translado de restos mortais humanos em áreas de portos, aeroportos e fronteiras em casos de emergência em saúde pública ou situações que possam significar algum risco à saúde da população, a critério da Gerência Geral de Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegados. Ela proíbe o embarque de cadáveres em que a causa do óbito seja: encefalite espongiforme; febre hemorrágica ou outra doença infectocontagiosa desconhecida. Porém, cinzas de cremação podem ser despachadas como mercadoria normas, visto que, não apresentam riscos à saúde portanto não são consideradas objeto de fiscalização sanitária.

A LATAM Cargo explicou como funciona o processo de trajeto do corpo em sua empresa. De acordo com dados divulgados pela companhia, são transportados em média caixões com os restos mortais de 135 pessoas por mês, e sim, na maioria dos casos isso ocorre dentro de seus aviões comerciais. É necessário que o familiar ou responsável pelo processo faça a reserva de transporte do corpo junto ao call center da companhia com, no mínimo 6 horas de antecedência ao voo desejado. Após reservado o embarque, é necessário que o responsável providencie o transporte dos restos mortais até o aeroporto para que seja entregue aos cuidados da companhia, acompanhado com os documentos solicitados como por exemplo a certidão de óbito e a carteira de identidade do falecido. Caso o óbito tenha ocorrido no hospital, o transporte do corpo deve ser feito por um agente funerário devidamente credenciado nos órgãos reguladores do país.

Especificações exigidas pela empresa referentes ao caixão (urna): Sua espessura não deverá ser inferior a 30 milímetros; a urna deverá ser impermeável; seu revestimento interno deverá ser feito de zinco e é necessário que seu interior possua material absorvente; após a colocação dos restos mortais o caixão deve estar selado durante o traslado, mediante vedação por material plástico ou metal fundido. O valor do transporte pode variar de acordo com as dimensões e peso da urna e do trecho do voo.

A companhia mantém a discrição durante todo o processo, visto que, se preocupam em manter esta operação longe dos olhos dos viajantes. O embarque do esquife (esquife é nome dado ao caixão com o corpo dentro, podendo ser um corpo completo ou partes dele) é realizado por uma equipe de profissionais, onde ele será alocado no porão da nave antes de qualquer carga e até mesmo do embarque dos passageiros conforme representado na Figura 1, após essa etapa ele é isolado por uma rede do restante das bagagens conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 1. Esquife sendo transportado para o interior do porão da aeronave

Fonte: Divulgação/Latam Cargo

Figura 2. Caixão isolado com redes dentro do porão da aeronave

Fonte: Divulgação/Latam Cargo

Assim que o avião chegar ao seu destino, a remoção do esquife deve ser realizada por um agente funerário e ser entregue no local especificado pela família ou demais responsáveis.

2.3 Processo de Embalsamento

Como visto no decorrer dessa pesquisa, um procedimento que é de suma importância para o traslado de corpos é o embalsamento, que abreviadamente é um processo realizado no cadáver para mantê-lo conservado por um período, ou seja, é um tratamento para manter preservado e em condições para ser transportado e apresentado durante o velório. Este procedimento está previsto na RESOLUÇÃO- RDC N° 68, DE 10 DE OUTUBRO DE 2007 CAPÍTULO III ART 7°.

A técnica de embalsamento é praticada há mais de 4 mil anos, estima-se que ele exista e seja praticado desde 3300 a.C. pelos egípcios. Eles acreditavam que os corpos continuavam sendo utilizados mesmo após a morte, por isso era necessário conservá-lo, mas nas antiguidades se mumificava os corpos e atualmente é utilizado para traslado de corpos e para apresentação no velório. Essa modernização surgiu no século XVII, com o fisiologista Inglês William Harvey que foi o precursor nas pesquisas sobre circulação sanguínea, pesquisa essa que foi abordada em seu livro De motu cordis (1628), traduzido ao português por Regina Rebollo e publicada pela editora Unesp em 2012.

Sabendo de como surgiu e para que serve e necessário saber das etapas e de como funciona o processo de embalsamento (Funerária Santa Casa, 2021).

A primeira etapa ocorre a lavagem do corpo, o cadáver é colocado em uma mesa cirúrgica e é retirado do as roupas, depois se inicia a higienização interna e depois a externa, nessa parte se usa produtos como germicidas e outros produtos químicos específicos, com o propósito de eliminar as bactérias, que podem causar a aceleração da decomposição.

A segunda etapa realiza-se a drenagem do sangue há retirada dele é importante para impedir hematomas, dentro de um determinado limite, e a coagulação. Desse modo é realizado uma incisão de 8 cm entre o ombro e pescoço, dessa abertura é puxado a artéria carótida, onde é inserido um pequeno cano, que está ligado a uma máquina que bombeia o sangue para fora do corpo.

Na terceira etapa ocorre a injeção de solução química aproveita-se da incisão feita na etapa anterior e injeta-se um uma solução química feita por um composto de água e formaldeído, que são componentes que ajudam na conservação do cadáver.

A quarta etapa ocorre a sutura a incisão já cumpriu com o seu objetivo, e nessa etapa o embalsamador vai se encarregar de fechar o corte feito.

A quinta etapa massagem do corpo o profissional necessita fazer a massagem para retirar a dureza mortis de músculos enrijecidos, assim averigua uma apresentação, mas natura do cadáver, e evita sustos dos entes queridos ao tocar no corpo.

A sexta e última etapa ocorre a vestimenta e a necromaquiagem onde ele será vestido com as roupas que os familiares escolheram e ocorre e necromaquiagem para dar uma aparência mais natural e esconder possíveis manchas.

2.4 Cuidados Paliativos

A morte assistida é um tratamento multiprofissional que visa a melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves. O Cuidado Paliativo é um tratamento e não um diagnóstico e, portanto, isso implica no fato de que não existem “pacientes paliativos”. Essa abordagem pode ser administrada tanto em casos de pacientes terminais quanto em casos em que a doença se mostra potencialmente curável.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o cuidado paliativo trata-se de uma abordagem com a finalidade de garantir melhora na qualidade de vida de pacientes terminais e de seus familiares que os acompanham nessa jornada.

A Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, formada pela USP com residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP, pós-graduada em psicologia e especialista em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e Universidade de Oxford, aborda sobre o assunto em seu livro A morte é um dia que vale a pena viver (2019). Apesar de ser um tema que ainda é tratado como um tabu, ela lida com ele de forma empática e delicada.

A Dra. Ana Claudia Quintana Arantes (2019) explica que O tratamento tem o intuito de aliviar e prevenir o sofrimento envolvido na evolução do adoecimento (em casos terminais) ou suavizar os sintomas de desconforto que podem acompanhar o paciente potencialmente causados pela própria doença ou durante o tratamento (em casos curáveis). Através desse processo se garante o direito do paciente de viver sua vida em plenitude até sua finitude.

Os cuidados providenciados dentro de uma situação deste tratamento são multidimensionais, se estendendo pelas dimensões física, emocional, familiar, social e espiritual, administrados por uma equipe de multiprofissionais capazes e qualificados desde momento onde o paciente recebe seu diagnostico até o momento de seu falecimento e após isso também oferece suporte ao luto a família e amigos.

O Cuidado Paliativo deve ser tido como direito humano de dignidade e conforto, e não como um tratamento exclusivo de caráter elitista. O Cuidado Paliativo significa um exercício de cidadania.

Segundo a Dr. Ana Claudia Quintana Arantes (2019), fazem parte dos princípios dos cuidados paliativos: (1) respeitar a dignidade e autonomia dos pacientes; (2) honrar o direito do paciente de escolher entre os tratamentos, incluindo aqueles que podem ou não prolongar a vida; (3) comunicar-se de maneira clara e cuidadosa com os pacientes, suas famílias e seus cuidadores; (4) Identificar os principais objetivos dos cuidados de saúde a partir do ponto de vista do paciente; (5) prover o controle impecável da dor e de outros sintomas de sofrimento físico; (6) reconhecer, avaliar, discutir e oferecer acesso a serviços para o atendimento psicológico, social e questões espirituais; (7) Proporcionar o acesso ao apoio terapêutico, abrangendo o espectro de vida através de tratamentos de final de vida que proporcionem melhora na qualidade de vida percebida pelo paciente, por sua família e seus cuidadores; (8) organizar os cuidados de modo a promover a continuidade dos cuidados oferecidos ao paciente e sua família, sejam estes cuidados realizados no hospital, no consultório, em casa ou em outra instituição de saúde; (9) manter uma atitude de suporte educacional a todos os envolvidos nos cuidados diretos com o paciente.

2.5 Eutanásia

Eutanásia é o termo que denomina a conduta de provocar a morte rápida e indolor em um paciente terminal, ou portador de uma doença incurável que se encontra em sofrimento constante. Por muitos é considerado um ato misericordioso que permite dar ao paciente o poder de escolha sobre seu sofrimento e seu fim.

O assunto traz diversas reflexões em aspectos jurídicos, sociais, culturais, religiosos e antropológicos. Além da eutanásia também existem a distanásia e ortotanásia, reconhecidas no campo da bioética e do Biodireito. A distanásia caracteriza-se como o procedimento de protelação da morte, onde o médico responsável pelo procedimento utiliza tudo que estiver ao seu alcance, bem como drogas e tecnologia, a fim de prolongar a vida de seu paciente retardando sua morte, porém, tal procedimento, também conhecido como obstinação terapêutica, acaba submetendo-o a sofrimentos desnecessários. A ortotanásia, também conhecida como “morte natural com o mínimo de sofrimento”, é considerada como um meio termo entre a eutanásia e distanásia, onde o médico responsável atua de forma com que ele possa evitar ou reduzir sofrimentos durante o procedimento, ou em casos de pacientes terminais, ele não conta com nenhuma ajuda de artifícios tecnológicos para atrasar sua morte.

No Brasil, o tema ainda é tratado como tabu e é previsto em lei como crime de homicídio. Porém, em países como Portugal, Bélgica, Luxemburgo, Espanha, Austrália, Canadá, Colômbia, Uruguai, Irlanda, Índia e alguns estados dos EUA a eutanásia é permitida em sua totalidade ou condicionada.

Filmes que abordam o tema são considerados muito informativos, dentre eles, o filme Você não conhece o Jack (You don’t know Jack, 2010), a trama é baseada em fatos reais e conta a história de Jack Kervokian, um médico estado-unidense que realizava o procedimento de eutanásia em pacientes terminais que enfrentavam grande sofrimento.

Sobre a ortotanásia, existe uma resolução do CFM que permanece vigente até hoje, se trata da resolução nº 1805/06 e 1995/2012. A Resolução nº 1805/06, nela dispõe-se: 

“Artigo 1º — É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal”.

A eutanásia em si não é prevista na legislação brasileira, porém, conforme descrito no artigo 121 do decreto lei 2838/40 do Código Penal, se o paciente for acometido por mal ou doença curável, o ato de abreviar sua morte será considerado homicídio e não eutanásia.

2.6 O sentimento de morte em cada cultura

No século XVII, foi desenvolvido o paradigma do modelo de ciência hegemônico pelo filósofo Descartes. Ele visualizava a natureza como uma máquina perfeita que era governada por leis matemáticas com a finalidade de guiar ao caminho da verdade científica (Capra, 1982). Antes deste modelo desenvolvido por Descartes, a abordagem da medicina era através da interação corpo e alma, tratando as pessoas no contexto social e espiritual. Após o modelo criar uma divisão entre corpo e mente, e objetificar o corpo como uma máquina, a medicina passou a se concentrar no corpo, não prestando muita atenção nos aspectos psicológicos, sociais e culturais do indivíduo.

Em muitas culturas a morte ainda é um tabu e é sinônimo de perda e tristeza. Feifel (1959) aborda em sua obra The meaning of death, o contexto de proibição que permeia esse tema. A psiquiatra Kübler-Ross aborda em sua obra Sobre a morte e o morrer (1969), desenvolvida através de sua experiencia profissional com pacientes terminais, os estágios pelos quais as pessoas no em estágio terminal passam: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Vigotski (1996, p. 265) afirma que a compreensão do conceito da vida foi assimilada muito bem pela ciência, porém o da morte não:

A morte é interpretada somente como uma contraposição contraditória da vida, como a ausência da vida, em suma, como o não-ser. Mas a morte é um fato que tem também seu significado positivo, é um aspecto particular do ser e não só do não ser; é um certo algo e não o completo nada.

No México, a morte é vista como uma forma libertar a vida das vaidades, no país o Dia dos Finados conhecido como Dia de Los Muertos, que ocorre no dia 2 de novembro e é uma comemoração com direito a festivais e fantasias, se faz um altar ao seu ente querido e se coloca todas as coisas que ele gostava, é uma prática de origem asteca que os mexicanos praticam até os dias atuais. 

Na Alemanha, a preparação do corpo pode durar dias, logo depois da cerimônia, amigos e familiares se reúnem em um restaurante para realização de uma confraternização fúnebre, que tem o nome batizado de Leichenschamaus, o não comparecimento pode ser considerado um desrespeito.

No Japão, a cerimônia é totalmente feita em casa, onde está sujeito ao silencio e o respeito, além disso, a preparação do corpo que normalmente é feita por funerárias para o velório, no Japão normalmente é feita pelos familiares.

Atribuindo ao contexto de Portugal, é possível dizer que a maneira que eles vêm e lidam com a morte é similar à do Brasil, visto que, 95% da população deles é cristã, além deles terem sido povo colonizador do Brasil. A cultura Portuguesa segue em sua maioria os costumes de influência europeia, dentre os quais normalmente é providenciado um velório, com uma cerimônia feita pelo padre, depois se fecha o caixão e o corpo é levado ao cemitério, com uma carreata de carro dos familiares seguindo o carro que está transportado o corpo, depois os familiares levam o corpo para o lugar que será enterrado, rezam suas últimas preces e se despendem do corpo enquanto se coloca a terra sobre o caixão. Dessa forma, assim acontecem a maior parte dos enterros no Brasil.

3. desenvolvimento da temática

O trabalho foi baseado em pesquisas bibliográficas de sites, que são primordialmente dedicados a prestação de serviços funerários, mantidos por agências funerárias, algumas especificamente dedicadas ao traslado de corpos. As informações da parte da pesquisa em que foram requeridas maiores especificações do processo foram tiradas de depoimentos da companhia aérea LATAM.

As pesquisas que necessitavam informações particulares sobre a tratativa de processo dos países envolvidos, que são Brasil e Portugal, foram retiradas dos sites oficiais de seus respectivos governos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em geral, os resultados apresentados por esta pesquisa indicam que o processo de traslado de corpos se mostra indispensável para garantir uma conclusão digna tanto para os familiares e amigos quanto para o próprio falecido.

Durante a maioria das vezes um serviço especificamente direcionado a prestar esse papel se torna fundamental para facilitar o processo de luto enfrentado pelas pessoas envolvidas na situação, que muitas vezes se mostram incapazes de lidar com esse tipo de situação tão delicada, seja emocionalmente ou até mesmo por falta de conhecimento dos tramites necessários.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dessas pesquisas conclui-se que o traslado de corpos é algo mais recorrente do que parece, muitas famílias têm interesse no processo ainda que ele seja um processo pouco falado, por isso, essa pesquisa foi dedicada a fim de facilitar o acesso aos tramites do processo e expandir o alcance dessa informação para que cada vez mais pessoas tenham conhecimento sobre.

Através da pesquisa, também é possível observar como cada cultura entende a morte de formas diferentes, porém, se despedir do seu ente querido é um momento único e está presente em todas as culturas, mesmo que cada pessoa lide de uma maneira diferente.

A morte é o processo da vida ao que todos estão fadados, significando o fim de sua jornada, portanto, trabalhar para que ela seja única e especial é extremamente importante e faz toda a diferença na vida dos familiares e amigos da pessoa falecida.

REFERÊNCIAS

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RODRIGUES, P. R. A. Introdução aos Sistemas de Transporte no Brasil e à Logística Internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2002.

Vigotski, L. S. Teoria e método em psicologia. C. Berliner, Trad. São Paulo, Martins Fontes, 1996.


1NATÁLIA REZENDE CARMINATO (FATEC ZONA LESTE)
natalia.carminato@fatec.sp.gov.br

2GISELI PASSADOR (FATEC ZONA LESTE)
giseli.passador@fatec.sp.gov.br