TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM: DISLEXIA, DISGRAFIA, DISORTOGRAFIA E DISCALCULIA EM FOCO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411172003


Patrícia Solange Rodrigues Monteiro1


RESUMO

A legislação educacional enfatiza a necessidade de promover o pleno desenvolvimento das competências de leitura, escrita e cálculo, destacando essas habilidades como essenciais para a inserção e atuação significativa do indivíduo na sociedade. No entanto, não são raros os casos de alunos que concluem o Ensino Fundamental sem dominar essas competências essenciais para a vida profissional. O presente artigo tem como objetivo investigar as dificuldades enfrentadas por alguns alunos no processo de aprendizagem da leitura, escrita e habilidades matemáticas. Embasado em pesquisa de caráter teórico, o artigo aborda os Transtornos Funcionais Específicos da Aprendizagem — Dislexia, Disgrafia, Disortografia e Discalculia — como possíveis fatores que interferem negativamente no desenvolvimento acadêmico desses estudantes. Apresentar uma fundamentação teórica sobre o tema contribui para a revisão da prática pedagógica, sugerindo a necessidade de um trabalho coletivo na busca de recursos e procedimentos que promovam a proficiência dos alunos tanto na leitura e escrita quanto na aprendizagem de conceitos e operações matemáticas.

Palavras-chave: Aprendizagem, Dislexia, Disgrafia, Disortografia, Discalculia.

ABSTRACT

Educational legislation emphasizes the need to promote the full development of reading, writing and calculation skills, highlighting these skills as essential for the individual’s insertion and meaningful action in society. However, it is not uncommon for students to complete elementary school without mastering these essential skills for professional life. This article aims to investigate the difficulties faced by some students in the process of learning reading, writing and mathematical skills. Based on theoretical research, the article addresses Specific Functional Learning Disorders — Dyslexia, Dysgraphia, Dysorthography and Dyscalculia — as possible factors that negatively interfere with the academic development of these students. Presenting a theoretical foundation on the topic contributes to the review of pedagogical practice, suggesting the need for collective work in the search for resources and procedures that promote students’ proficiency both in reading and writing and in learning mathematical concepts and operations.

Keywords: Learning, Dyslexia, Dysgraphia, Dysorthography, Dyscalculia.

1 INTRODUÇÃO

A temática dos Transtornos Funcionais Específicos da Aprendizagem, em especial as dificuldades relacionadas à aquisição das habilidades de leitura, escrita e raciocínio matemático, tem sido uma preocupação constante no campo educacional. A falta de orientação, informação e formação específica para os professores contribui para o agravamento desse cenário, pois muitos educadores encontram dificuldades em lidar com alunos que apresentam esses transtornos, frequentemente sem saber como identificar e intervir adequadamente.

Os desafios se tornam ainda mais evidentes quando se observa a frustração dos professores diante das dificuldades de alunos que não conseguem aprender a ler, escrever ou realizar operações matemáticas básicas. Muitos educadores, por não possuírem o conhecimento necessário para compreender esses distúrbios, acabam por não implementar práticas pedagógicas adequadas, o que compromete o processo de ensino- aprendizagem e a promoção de uma aprendizagem significativa para esses estudantes.

É importante destacar que as dificuldades de aprendizagem podem ter início no processo de alfabetização e persistir ao longo de toda a vida acadêmica do indivíduo. Considerava- se que a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, a partir da Lei nº 11.274 de 2006, visando proporcionar mais tempo de escolarização para as crianças, favorecesse efetivamente a minimizar ou até mesmo sanar as dificuldades tão presente no processo de escolarização das crianças. No entanto, apesar dessa ampliação, não se observa, em muitos casos, o pleno domínio das habilidades de leitura, escrita e cálculo, como estabelecido pelo art. 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN).

A Lei nº 11.274/2006, ao alterar o art. 32 da LDBEN, propõe uma educação obrigatória e gratuita de nove anos, com o objetivo de promover a formação básica do cidadão, e de garantir, entre outras metas, o desenvolvimento da capacidade de aprender, com pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo. No entanto, é fundamental questionar por que algumas crianças ainda não conseguem dominar essas competências, apesar de estarem em processo de escolarização por um período mais longo. Esse é o cerne da questão que este artigo busca abordar: identificar os fatores que comprometem a aprendizagem da leitura, escrita e cálculo, com ênfase nos Transtornos Funcionais Específicos da Aprendizagem.

Este artigo visa oferecer subsídios teóricos aos educadores para que possam identificar e compreender os transtornos funcionais específicos da aprendizagem, promovendo, assim, uma prática pedagógica mais eficaz. A estrutura deste artigo é organizada em tópicos. Após esta introdução, será abordada a importância da leitura e da escrita no processo de aprendizagem. Em seguida, cada um dos transtornos será analisado: dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia. Por fim, as considerações finais apresentarão possíveis encaminhamentos para a prática pedagógica e a promoção do sucesso acadêmico dos alunos afetados por esses transtornos.

2. LEITURA E ESCRITA

2.1 Concepção de Leitura e Escrita

A leitura e a escrita desempenham papéis fundamentais no processo de aprendizagem e no desenvolvimento humano, sendo essenciais para ampliar as possibilidades de pensamento, conhecimento e registro do mundo. Ambas têm múltiplos significados e funções, permitindo que o indivíduo se conecte com a sociedade e a cultura de maneiras profundas e significativas.

Segundo Goodman (2003, p. 13), “a leitura e a escrita possuem a mesma gramática subjacente e utilizam as mesmas regras para relacionar sua estrutura com a representação superficial, seja oral ou escrita”. O que diferencia as duas formas de linguagem são, principalmente, as circunstâncias de seu uso. A língua oral é utilizada para a comunicação imediata, face a face, enquanto a língua escrita serve para a comunicação através do tempo e do espaço.

A aprendizagem da leitura e da escrita é crucial para o desenvolvimento da criança, permitindo-lhe adquirir conhecimentos mais significativos e estabelecer uma base sólida para o seu aprendizado futuro. Fonseca (1995, p. 321) destaca que “ler, entendido como a capacidade de extrair significações de símbolos linguísticos arbitrários e visuais, é a habilidade de atribuir sentido a qualquer tipo de representação visual”, como grafemas, hieróglifos, sinais ideográficos e até mesmo gestos, como na linguagem dos deficientes auditivos. A escrita, por sua vez, seria a representação gráfica de tais símbolos, permitindo ao indivíduo visualizá-los e interpretá-los.

Ferreiro (1990, p. 10) também contribui com uma reflexão importante sobre a escrita, afirmando que ela pode ser vista de duas formas distintas: “como uma representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras”. Quando considerada como representação da linguagem, a criança escreve o que fala à sua maneira. Já, na concepção de código, a escrita se limita à reprodução das palavras ou frases que lhe são solicitadas. Nesse sentido, a autora destaca a natureza construtiva da escrita, na qual a criança elabora hipóteses sobre a língua e vai testando essas hipóteses até atingir a alfabetização formal.

Vygotsky (2003) também reconhece a importância da intervenção pedagógica no processo de alfabetização, apontando que a aprendizagem da leitura e da escrita não ocorre de forma espontânea, mas sim como resultado de um processo social mediado pelo ensino. Para ele, a escrita é um processo de construção contínua, no qual a criança vai reformulando suas ideias e estratégias à medida que adquire maior domínio do sistema de escrita.

2.2  A Importância da Leitura e da Escrita

A leitura e a escrita são elementos essenciais para a aquisição do conhecimento sistematizado pela humanidade, transmitido de geração a geração. Essas habilidades são fundamentais para o desenvolvimento intelectual e para a participação ativa do indivíduo na sociedade. Elas permitem que a criança compreenda melhor o mundo ao seu redor, ao mesmo tempo que facilitam sua inserção na sociedade, uma vez que são por meio delas que a comunicação se dá, as informações são acessadas e os pontos de vista são expressos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1997, p. 15) destacam a importância do domínio da língua, oral e escrita, para a participação social efetiva, afirmando que “é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento”. Nesse contexto, o ensino da leitura e da escrita nas escolas é fundamental para garantir o exercício da cidadania, direito inalienável de todos os indivíduos.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), elaborada em 2017, tem como objetivo estabelecer as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas a todos os estudantes da educação básica no Brasil, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Desenvolvida pelo Ministério da Educação (MEC), a BNCC busca promover a equidade educacional, garantir uma educação de qualidade e fornecer diretrizes para que as escolas construam currículos que atendam às necessidades de aprendizagem dos alunos, respeitando as diversidades culturais, sociais e regionais do país.

A BNCC determina que a criança será considerada alfabetizada quando, ao longo de seu processo de aprendizagem, for capaz de desenvolver as competências fundamentais de leitura e escrita. Isso inclui o reconhecimento das letras e seus sons, a formação de palavras, a fluência na leitura e na escrita, e a capacidade de utilizar essas habilidades de maneira funcional para se comunicar e resolver situações do cotidiano. Além disso, espera-se que, gradualmente, a criança demonstre maior autonomia na leitura e na produção de textos. A base estabelece que uma criança será considerada alfabetizada quando, ao longo do processo, desenvolver as seguintes habilidades:

Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas (outros sistemas de representação); Dominar as convenções gráficas (letras maiúsculas e minúsculas, cursiva e script); Conhecer o alfabeto; Compreender a natureza alfabética do nosso sistema de escrita; Dominar as relações entre grafemas e fonemas; Saber decodificar palavras e textos escritos; Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras; Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvendo assim fluência e rapidez de leitura (fatiamento). (Brasil, 2019: 93).

Assim, aprender a ler e a escrever é, sem dúvida, um dos principais objetivos nos primeiros anos de escolarização. Essa aprendizagem não só favorece o desenvolvimento intelectual, mas também contribui para a construção de uma cidadania plena, permitindo ao indivíduo uma vida mais autônoma e participativa. Entretanto, apesar da leitura e da escrita serem direitos garantidos pela legislação, é crescente o número de crianças que apresentam dificuldades no processo de aprendizagem dessas habilidades.

Para muitas crianças, aprender a ler e escrever é um desafio que pode ser superado ao longo do tempo. No entanto, para algumas, esse processo é mais lento e apresenta barreiras significativas, o que pode resultar em um insucesso escolar contínuo. Isso traz consequências sérias para o futuro dessas crianças, pois, na escola e na vida cotidiana, a leitura é uma habilidade constantemente exigida.

O insucesso escolar, muitas vezes, é visto como um “passaporte” para a delinquência e para problemas psicológicos e sociais. Fonseca (1995, p. 242) argumenta que a falta de êxito escolar pode levar a uma série de consequências negativas, incluindo a exclusão social e dificuldades emocionais. A adaptação escolar, ou a falta dela, é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de distúrbios mentais e sociais. Por isso, garantir o sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita é um passo essencial para o bem-estar social e emocional do indivíduo.

As dificuldades que as crianças enfrentam na aprendizagem da leitura e da escrita são comuns e frequentemente observadas pelos educadores, que muitas vezes se sentem inseguros diante dessas questões. Muitos professores não conseguem identificar as causas subjacentes dessas dificuldades e, consequentemente, não sabem como intervir de forma eficaz. Essas questões são complexas e podem gerar grande preocupação entre os educadores, que, muitas vezes, se veem sem recursos para lidar com as dificuldades que seus alunos enfrentam.

Mesmo que os docentes reconheçam que algo está impedindo a aprendizagem da leitura e da escrita, a falta de conhecimento sobre os Transtornos Funcionais Específicos da Aprendizagem dificulta a identificação de soluções adequadas. Sem um diagnóstico preciso, a intervenção pedagógica pode ser ineficaz, e os alunos podem continuar a enfrentar dificuldades. A conscientização sobre esses transtornos e a busca por um acompanhamento especializado são fundamentais para garantir que as crianças que enfrentam esses desafios possam superá-los e alcançar o sucesso acadêmico e pessoal.

3- DISLEXIA: DIFICULDADE NA LEITURA E NA ESCRITA

Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV-TR, 2003), a palavra “dislexia” tem origem grega, derivando das raízes “dis” (distúrbio ou disfunção) e “lexis” (palavra ou leitura), indicando um transtorno que afeta o processo de aquisição da leitura e da escrita. Este distúrbio se manifesta principalmente em dificuldades de reconhecimento de palavras e compreensão da leitura.

De acordo com a Associação Internacional de Dislexia (2003), a dislexia se caracteriza por problemas na leitura de palavras, comprometendo tanto a fluência quanto a ortografia. Tais dificuldades são frequentemente causadas por um déficit na componente fonológica da linguagem, que ocorre de maneira inesperada, ou seja, não está relacionado a outras capacidades cognitivas ou a fatores ambientais. Como consequência, podem surgir também problemas de compreensão de textos e uma experiência de leitura limitada, que dificulta o desenvolvimento do vocabulário e o conhecimento geral.

A Associação Brasileira de Dislexia (ABD, 2008) esclarece que a dislexia não é resultado de falhas no processo de alfabetização, nem de fatores como desatenção, desmotivação ou condições socioeconômicas. Trata-se de um distúrbio neurológico, de origem genética, e com alto índice de hereditariedade. De acordo com Caldeira e Cumiotto (2004), a dislexia pode se apresentar de diversas formas, com diferentes tipos de dificuldades na linguagem, sendo as mais comuns:

  • Dislexia acústica: Dificuldade em diferenciar sons, resultando em distorções, transposições ou substituições de fonemas.
  • Dislexia visual: Confusão de letras com características visuais semelhantes.
  • Dislexia motriz: Dificuldade no controle visual, causando retrocessos e intervalos silenciosos durante a leitura.

Fonseca (1995) descreve características comuns de crianças disléxicas, como:

  • Percepção visual normal;
  • Melhor desempenho na leitura de textos invertidos ou espelhados;
  • Tendência à ambidestria e à gagueira;
  • Predisposição a dificuldades psicomotoras;
  • Dificuldade em escrever ditados, mas sem problemas significativos com a leitura;
  • Talento para habilidades espaciais;
  • Tendência a problemas emocionais, não como consequência direta das dificuldades de aprendizagem, mas devido a mudanças cerebrais associadas ao distúrbio.

O início da escolarização é um período crucial, exigindo atenção especial por parte dos pais e educadores, já que é nesse contexto que as dificuldades de leitura e escrita se tornam mais evidentes. De acordo com Leal e Nogueira (2012, p. 80), o tratamento da dislexia envolve a reeducação da linguagem escrita, com o psicopedagogo realizando um planejamento individualizado. Além disso, é essencial que a escola ofereça adaptações pedagógicas para que a criança com dislexia tenha a chance de se desenvolver da melhor forma possível.

A intervenção precoce é considerada um dos fatores mais importantes para o sucesso do tratamento da dislexia. O contínuo aprimoramento profissional dos educadores é um desafio importante, pois é a escola que deve se adaptar às necessidades do aluno para promover um aprendizado mais eficaz.

4. DISGRAFIA: PRINCIPAL DIFICULDADE DE ESCRITA MANUAL

A disgrafia, palavra que combina “dis” (desvio) e “grafia” (escrita), refere-se a um transtorno que afeta a qualidade da escrita, seja no traçado das letras ou na codificação das palavras. Ela se manifesta principalmente por dificuldades na execução gráfica da escrita, que resultam em um traçado irregular ou impreciso (Torres & Fernandez, 2001).

De acordo com Ciasca (2009), a disgrafia é reconhecida como uma falha no processo de aquisição da escrita, relacionada a uma disfunção na interação entre os sistemas cerebrais responsáveis pela transformação da atividade mental em linguagem escrita. Ellis (1995) classifica a disgrafia em diferentes tipos:

Disgrafia de superfície: Dificuldade em escrever corretamente palavras já aprendidas, resultando em erros ortográficos frequentes.

Disgrafia fonológica: Dificuldade em escrever palavras menos familiares, com a ausência de consciência fonológica ao lidar com palavras não usuais.

Disgrafia profunda: Problema mais grave que afeta a escrita de palavras abstratas ou ditadas, resultando em trocas ou substituições.

As dificuldades relacionadas à disgrafia, como a forma incorreta das letras ou a dificuldade em produzir texto de forma legível, são frequentemente identificadas nas fases iniciais da escolarização. Como a escrita é uma habilidade essencial, o apoio psicopedagógico e a adaptação pedagógica tornam-se imprescindíveis para garantir o desenvolvimento pleno da criança.

5. DISORTOGRAFIA: DIFICULDADE NA ORTOGRAFIA

A disortografia refere-se à dificuldade persistente na escrita ortográfica, manifestando-se por trocas, omissões ou inversões de letras. Ao contrário da disgrafia, que afeta o traçado das letras, a disortografia compromete exclusivamente a estrutura das palavras, sem afetar a caligrafia (Vidal, 1989, citado por Torres & Fernandez, 2001). A principal característica da disortografia é a confusão ortográfica persistente, especialmente nas trocas de letras que têm sons ou formas semelhantes.

Segundo Crenitte e Gonçalves (2009), a disortografia se distingue da disgrafia, pois não envolve falhas na execução gráfica, mas sim na codificação das palavras de acordo com a ortografia. Características comuns incluem trocas de letras ou sílabas, omissões, adições ou inversões, como em “faca/vaca” ou “chinelo/jinelo”. O distúrbio se torna um sinal de alerta caso esses erros persistam após os primeiros anos de escolarização, sendo crucial que o educador esteja atento para oferecer o suporte adequado.

6. DISCALCULIA: UM TRANSTORNO   DE APRENDIZAGEM POUCO CONHECIDO

A discalculia, um distúrbio pouco explorado em comparação com a dislexia, envolve dificuldades no aprendizado de conceitos matemáticos. Esse transtorno afeta especialmente a capacidade de compreender operações matemáticas básicas, como adição, subtração, multiplicação e divisão, assim como a interpretação de problemas. Embora a Matemática seja essencial para a formação intelectual e a resolução de problemas cotidianos, a discalculia prejudica significativamente o desempenho acadêmico e as atividades diárias de crianças afetadas (Leal & Makeliny, 2011).

Segundo Rebelo (1998), a discalculia envolve dificuldades para entender conceitos matemáticos e para realizar cálculos, mesmo em indivíduos com outras habilidades cognitivas preservadas. Características típicas incluem confusão com os sinais matemáticos (+, -, ×, ÷), dificuldades de lateralidade, problemas para entender o conceito de tempo ou de direção, além de dificuldades em tarefas cotidianas como estimar distâncias ou calcular valores.

O papel do educador é crucial para a identificação precoce e o encaminhamento adequado da criança com discalculia. Estratégias pedagógicas que considerem as dificuldades específicas dos alunos podem ajudar a mitigar os efeitos desse transtorno, promovendo uma aprendizagem mais eficaz.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo percorreu diferentes abordagens teóricas que contribuíram para a compreensão de características relacionadas aos transtornos específicos de aprendizagem, como dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia. A partir dessa análise, foi possível identificar fatores que dificultam a aquisição de habilidades essenciais, como a leitura, a escrita e a capacidade de realizar operações matemáticas. Tais dificuldades, quando persistentes, podem comprometer o desenvolvimento acadêmico e pessoal dos alunos.

Essas informações são fundamentais para que os professores adquiram conhecimentos especializados, seja por meio de cursos de aperfeiçoamento ou através da inclusão de temas relacionados aos transtornos de aprendizagem na grade curricular dos cursos de formação docente. O objetivo é que os educadores ensinem com mais responsabilidade e comprometimento, utilizando metodologias e estratégias que favoreçam a aprendizagem e não a frustração, evitando que os alunos vivenciem experiências negativas. Infelizmente, muitos estudiosos apontam que as dificuldades não resolvidas durante a escolarização podem resultar em um fracasso escolar que, em muitos casos, ultrapassa os muros da escola, afetando a vida social e profissional do indivíduo ao longo de sua trajetória.

É importante destacar que, ao se observar comportamentos ou características que indiquem possíveis transtornos de aprendizagem, a criança deve ser encaminhada para uma avaliação multidisciplinar. Profissionais como neurologistas, fonoaudiólogos, psicopedagogos e psicólogos devem atuar conjuntamente para fornecer um diagnóstico preciso, garantindo um acompanhamento adequado ao desenvolvimento da aprendizagem.

Embora toda criança possa enfrentar dificuldades temporárias em determinadas áreas, quando essas dificuldades se tornam constantes e afetam a proficiência nas habilidades essenciais — como a leitura, a escrita ou as competências matemáticas — é necessário que a escola e os educadores estejam atentos a esses sinais. A leitura, a escrita e as habilidades matemáticas são fundamentais para o aprendizado e desempenham papel central no processo educacional, por isso devem ser tratadas com prioridade.

O principal não é que os professores se tornem especialistas em todas as teorias, mas sim que saibam utilizar esses conhecimentos de forma prática, para identificar as causas subjacentes das dificuldades dos alunos e determinar as intervenções mais eficazes. Nesse sentido, o desenvolvimento contínuo da prática pedagógica é essencial, e o foco deve estar sempre no aluno e nas suas necessidades de aprendizagem.

Por fim, é imprescindível que as escolas ofereçam um ambiente que favoreça o aprendizado da leitura, da escrita e da matemática. Como destaca Kohl (2003), ao se referir à teoria de Vygotsky, a escola tem um papel crucial no desenvolvimento das crianças, pois é por meio do ensino e da aprendizagem que elas são desafiadas a expandir suas capacidades cognitivas. Espero que este trabalho possa contribuir para aprofundar os estudos sobre esses transtornos, buscando soluções que minimizem suas consequências e melhorem a qualidade da aprendizagem, sempre com o foco na criança, que é o verdadeiro centro da educação.

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1Pedagoga formada pela Universidade de Taubaté (UNITAU), com licenciaturas em Letras pela Universidade de Jales (UNIJALES) e em História pelo Centro Universitário Internacional Uninter (UNINTER). Possui diversas especializações, incluindo Psicopedagogia e Docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ambas pela UNITAU; Psicopedagogia pela UNITAU; Gestão Escolar pela Faculdade Brasil (FAB); Supervisão, Orientação e Gestão Escolar pelo Centro Universitário Internacional Uninter (UNINTER); além de Educação Especial e Inclusiva, também pelo UNINTER.