REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10618796
Luana Mendes Amazonas1
RESUMO:
O Mutismo Seletivo é um transtorno bem aparente nas crianças, percebido mais no início da sua idade escolar, podendo ser comprometedor tanto na escola quanto na sua vida pessoal. O MS as vezes é passado despercebido por profissionais das instituições e até pela família por em se preocupar e se atentarem mais às crianças inquietas devido essas crianças interferirem dentro do ambiente escolar no rendimento dos colegas. Assim este artigo vem mostrar como entender as crianças que possuem o MS procurando compreender que o silêncio dessas crianças não é uma afronta aos adultos , não é contestação da sua autoridade não é uma recusa em falar apenas por birra ou por teimosia é um comportamento altamente disfuncional , na tentativa de combater uma ansiedade sentida como paralisante ao ponto de evitar contato social.
Palavras Chave: Mutismo, seletivo, Criança, Escola
ABSTRACT:
Selective Mutism is a very apparent disorder in children, noticed more at the beginning of their school age, and it can be compromising both at school and in their personal life. The MS is sometimes passed unnoticed by professionals from institutions and even by the family for worrying and paying more attention to restless children because these children interfere within the school environment in the performance of colleagues. So this article shows how to understand children who have MS trying to understand that the silence of these children is not an affront to adults , it is not a contestation of their authority is not a refusal to speak just out of temper or stubbornness it is a highly dysfunctional behavior , in an attempt to combat an anxiety felt as paralyzing to the point of avoiding social contact.
Keyword: Selective Mutism, Child, School
1 INTRODUÇÃO
Mutismo seletivo é um transtorno infantil que se caracteriza pela recusa da criança em falar em determinados locais fora de casa , principalmente na escola , e na presença de pessoas estranhas, embora comunique e fale normalmente em casa com pessoas do seu núcleo familiar . O primeiro caso de MS relatado na literatura foi descrito em 1877, por Kussmauk, médico Alemã que se deparou com pacientes que não falava.
Compreendemos que todos os transtornos, afeta o desenvolvimento da criança principalmente na sua vida inicial da sua escolar, impactando negativamente ao desenvolvimento escolar e pessoal, suas manifestações podem passar pela infância, adolescência e atingir a fase adulta. Se não forem diagnosticadas e tratadas, podem tornar-se fatores de risco para o surgimento de patologias como depressão, transtornos do humor, transtornos de conduta e sentimentos que podem levar as tentativas ao suicídio.
Observações clínicas indicam que pais de crianças com mutismo seletivo reforçam o comportamento da criança ao apoiarem quando os filhos não respondem aos outros. Além disso, alguns estudos evidenciam que parte das crianças com este quadro apresentam comportamentos desafiadores e agressivos. As crianças são frequentemente definidas pelos pais como tímidas e socialmente equitativas.
É mais frequente no sexo feminino, tem início antes dos 5 anos de idade (geralmente aos 3 anos de idade, quando se espera que a criança já tenha desenvolvido a linguagem adequadamente), podendo persistir até a idade adulta. Estima-se que mais de 90% das crianças com mutismo também sofram de fobia social ou ansiedade.
Crianças com mutismo seletivo podem apresentar transtorno do processamento sensorial. (APA) Atualmente, através da possibilidade de maior divulgação do Mutismo Seletivo, muitos meninos têm chegado à clínica, o que coloca em discussão o ponto apresentado acima. maioria destas crianças tem uma predisposição genética a experimentar sintomas de ansiedade, que são exacerbados por condições hostis ou estressantes”.
O objetivo deste artigo é esclarecer, orientar e difundir esse tema “Mutismo Seletivo”, que ainda é pouco conhecido e compreendido para estudantes, professores, profissionais da educação e demais pessoas que possam precisar lidar ou encaminhar crianças nestas condições e desta forma contribuir para a inclusão escolar.
Assim, a questão norteadora do artigo é : falar das características de um criança com mutismo seletivo , Os fatores que leva uma criança adquirir o MS , Formas de tratamento-cognitivo do MS .
2 CARACTERÍSTICA DE UMA CRIANÇA COM MUTISMO SELETIVO
As causas do mutismo seletivo são variadas, mas o que se pode afirmar é que este transtorno “é entendido como o resultado de conflitos psíquicos não resolvidos, no qual a criança atribui um significado inconsciente para o ato de falar” (YANOF, 1996, apud CAMPOS E ARRUDA, 2014, p. 18). Assim, é importante destacar, que a criança não deixa de falar por opção, mas porque não se sente segura para se comunicar em determinados espaços e situações. Peixoto e Campos (2013) apontam que as causas do mutismo seletivo podem ser classificadas em três pilares, assim descritas:
∙ Herança genética: grande parte das crianças com este transtorno apresenta uma predisposição genética, com histórico de problemas emocionais e de ansiedade exacerbada.
∙ Traços de temperamento: vergonha, timidez, preocupações excessivas, isolamento social, medo apego e negativismo.
∙ Interações familiares: relações simbióticas, dependentes e controladoras entre mãe e filho, mães passivas ou superprotetoras.
Os autores utilizados nesta pesquisa, ainda apontam outras causas possíveis do desenvolvimento do mutismo seletivo, em geral ligados a algum trauma, como: morte, início escolar, sequestro, violência. Levando em consideração as variadas causas deste transtorno, fez-se necessário pensar o diagnóstico, como fundamental, para que um tratamento precoce e adequado seja desenvolvido e a criança possa ter uma vida social normal.
Segundo observações clínicas, a incidência do mutismo seletivo, é cada vez maior no Brasil, entretanto a prevalência é de 1 em cada 1.000 crianças, ou seja, pode ser encontrado em menos de 1% da população. A maioria das crianças, não recebe o diagnóstico precoce, pois muitas vezes, os pais acreditam que a ausência da fala se deve simplesmente à timidez, mas com o tempo eles percebem que não é somente uma dificuldade de comunicação. (DSMIV-TR, 2002, p.149) Em alguns casos, quando não diagnosticado e tratado, o mutismo seletivo, pode se tornar crônico. Embora a perturbação em geral dure apenas alguns meses, às vezes pode persistir por vários anos, tornando-se uma fobia social grave na adolescência. (DSM-IV-TR, 2002).
O DSM-IV-TR (2002) traz um quadro de critérios diagnósticos para mutismo seletivo (DSM-IV-TR, 2002, p.149): A. Fracasso persistente para falar em situações sociais específicos (nas quais existem a expectativas para falar, p. ex., na escola), apesar de falar em outras situações. B. A perturbação interfere na realização educacional ou ocupacional ou na comunicação social. C. Duração mínima de 1 mês ( não limitada ao primeiro mês na escola). D.
O fracasso para falar não se deve a um desconhecido ou desconforto com o idioma exigido pela situação social. E. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno da comunicação (p. ex. transtorno da fluência com início na infância), nem ocorre exclusivamente durante o curso de transtorno do espectro autista, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
O DSM-IV-TR (2002) traz um quadro de critérios diagnósticos para mutismo seletivo (DSM-IV-TR, 2002, p.149): A. Fracasso persistente para falar em situações sociais específicos (nas quais existem a expectativas para falar, p. ex., na escola), apesar de falar em outras situações. B. A perturbação interfere na realização educacional ou ocupacional ou na comunicação social. C. Duração mínima de 1 mês ( não limitada ao primeiro mês na escola). D.
O fracasso para falar não se deve a um desconhecido ou desconforto com o idioma exigido pela situação social. E. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno da comunicação (p. ex. transtorno da fluência com início na infância), nem ocorre exclusivamente durante o curso de transtorno do espectro autista, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
Percebe-se que os termos ansiedade e fobia social estão estreitamente interligados entre si e com as características do Mutismo Seletivo. Pode-se dizer que as crianças com este transtorno sofrem de altos níveis de ansiedade social e de timidez, manifestando com frequência sintomas de fobia social em comorbidade. Para tanto, “a duração dos sintomas é essencial para distinguir entre uma disfunção psicológica e uma timidez transitória”. (RIBEIRO, 2012, p.19)
3 OS FATORES QUE LEVAM UMA CRIANÇA ADQUIRIR O MS
Tendo como base os critérios do DSM-IV-TR (2002), para o diagnóstico do mutismo seletivo, percebe-se que estes, são essencialmente baseados na história de vida da criança, e podem ser materializados, em observações e registros dos seus comportamentos em momentos verbais e comunicativos com pessoas de dentro ou de fora do seu círculo de confiança.
Desse modo, o mutismo seletivo pode ser caracterizado como uma consequência, um sintoma, gerado por problemas na interação familiar, produzindo uma ansiedade depositada pela família na criança, como apontam os autores Serretti e Costa-Júnior (2010).
É sabido, ao se tratar da etiologia do mutismo seletivo, que o mesmo, pode ter (existindo ainda, uma série de outros fatores incluindo características orgânicas e ambientais) suas origens ligadas a contextos familiares e situações traumáticas, que foram vividas pela criança, podendo estas, ser de ordem psicológica ou física. Em pesquisas realizadas pelos autores acima citados, percebe-se de forma clara que as interações familiares são a base para a construção do caráter, da personalidade de cada sujeito, neste caso da criança observa-se que:
Em relação ao contexto familiar, Kolvin e Fundudis (1981) reportaram que mais da metade de crianças com mutismo seletivo possuem combinações com patologia paterno-materna e discordância entre os pais. Estudos indicam que o histórico familiar e os comportamentos de ansiedade dessas crianças apontam para preocupações excessivas, problemas de separação, relação de dependência entre mãe e filho/a, além de superproteção materna, na qual a relação entre mãe/pai e filho/a era considerada como fechada, dependente e controladora.
Nestes estudos as mães são descritas como solitárias, deprimidas, hostis na relação com o marido, passivas, socialmente isoladas e desconfiadas em relação a pessoas fora de seu ambiente familiar próximo (PEIXOTO, 2006, apud SERRETTI E COSTA-JÚNIOR 2010, p. 145).
O comportamento inibitório definido como uma tendência habitual em demonstrar um medo persistente em comunicar e evitar confrontos com pessoas familiares e desconhecidas, é um dos principais fatores de manutenção do MS. Estudos demonstram que crianças com este comportamento têm dificuldades em responder a novas situações e as mudanças. São descritas como tendo um historial de timidez ou um temperamento mais lento envolvendo a fobia social (Ford et al., 1998).
O MS pode manifestar-se de diversas formas nas diferentes etapas do desenvolvimento da criança, e normalmente acontece pela entrada da pré-escola quando as crianças demonstram dificuldades em expressar-se verbalmente na presença de pessoas desconhecidas. A ocorrência do MS e da ansiedade no meio familiar sugere uma possível vulnerabilidade genética/familiar.
Em estudo realizado por Remschmidt et al. (2001) em uma amostra de 45 crianças com MS, concluíram que 9% dos pais, 18% das mães e 18% dos irmãos apresentavam histórico de MS e que 51% dos pais e 44% das mães mostraram sinais de extrema resistência. Recentemente, alguns estudos têm demonstrado pequenas mudanças na visão etiológica do MS, na medida em que se está a dar menos ênfase aos fatores psicodinâmicos.
Os investigadores dinâmicos defendem que o MS é uma manifestação de conflitos internos não resolvidos. Por exemplo, uma criança que está fixa na fase oral e anal e como deseja castigar os pais opta por não falar em determinadas situações. Poderá também manter um segredo familiar, deslocando a raiva para um dos pais ou revertendo para um etapa não-verbal do seu desenvolvimento (Giddan et al., 1997). Segundo os investigadores dinâmicos, o mutismo é uma forma de lidar com a raiva/ansiedade ou com o objetivo de punir os pais.
Apesar da hipótese psicodinâmica ainda estar em estudo, os tratamentos cognitivo-comportamentais têm ganhado cada vez mais notoriedade do que os métodos tradicionais. Os investigadores comportamentalistas defendem que o MS é uma longa série de padrões de reforço mal adaptativos ou uma resposta aprendida em que a recusa em não comunicar é uma forma de manipular o ambiente (Krysanski, 2003).
O MS existe pela interação entre a criança e o ambiente, sendo esse comportamento visto pelos comportamentalistas como adaptativo e não patológico. Algumas crianças ansiosas tendem a não interagir com outras, o que acaba por ter influência nas suas aptidões sociais quando confrontadas com determinadas situações. Sendo as crianças com MS tímidas, evitam confrontos sociais quando se sentem desconfortáveis verbalmente. Sem o uso da comunicação, as relações interpessoais são limitadas levando a que a criança esteja sempre desconfiada relativamente às pessoas que a rodeiam (Anstendig, 1999).
4. FORMAS DE TRATAMENTO DO MUTISMO SELETIVO
Não existe uma forma única de como tratar este transtorno, existe a disponibilidade do terapeuta em usar sua criatividade para conseguir de alguma forma se comunicar com esta criança.
De acordo com as obras e autores pesquisados, observou-se que não existem orientações específicas para o tratamento do mutismo seletivo, pois, trata-se de um transtorno pouco conhecido, o que dificulta não só o diagnóstico, mas também a definição de estratégias para um tratamento. Porém, entende-se que uma proposta de intervenção é necessária e essencial no tratamento deste transtorno causador de tanta angústia e sofrimento na criança.
É preciso fortalecer a estrutura de personalidade da criança com mutismo seletivo, desenvolvendo e/ou melhorando suas condições pessoais, familiares e sociais, adotando medidas específicas relacionadas com as dificuldades de comunicação oral da criança nas situações e contextos sociais concretos, com o objetivo de minimizar as dificuldades. Desta forma, torna-se extremamente importante que se desenvolvam propostas com objetivo fim de tornar a criança capaz de interagir verbalmente de forma espontânea com adultos e crianças, na escola e no entorno social e familiar.
Cabe ainda, ressaltar que até então, não foram encontrados registros de um tratamento específico para o mutismo seletivo. O que se tem, são relatos de experiências realizadas utilizando-se várias estratégias alternativas, como formas possíveis de se obter sucesso no tratamento. Deste modo, as principais estratégias utilizadas são:
∙ Terapia Comportamental A terapia comportamental concentra-se em fatores presentes e na relação entre a pessoa e o meio, com o objetivo fim de induzir o indivíduo a promover mudanças para superar as suas dificuldades, neste caso a superação do mutismo seletivo. Ou seja, como expõe Ribeiro (2012), este tratamento consiste numa mudança do ambiente, treinando sistematicamente novos comportamentos, e também identificando os fatores que mantém o comportamento de evitação. Ao se partir do princípio de que o mutismo seletivo está associado à ansiedade, relacionar o tratamento à teoria comportamental, faz todo sentido e tem sido amplamente usada.
∙ Terapia Ludo pedagógica/Ludo terapia Em relação à conceptualização do termo terapia ludo pedagógica/ludo terapia, pode-se afirmar que: A ludo terapia é a psicoterapia adaptada ao tratamento infantil. De acordo com Pregnolato (2006), o objetivo desta modalidade de análise é ajudar a criança, através da brincadeira, a expressar com maior facilidade os seus conflitos e dificuldades, ajudando-a a conseguir uma melhor integração e adaptação social, tanto no âmbito da família como da sociedade em geral. (RIBEIRO, 2012, p. 33).
Acredita-se, que atividades ludopedagógicas são essenciais na busca do tratamento da criança com mutismo seletivo, pois dessa forma o profissional da educação, por meio de atividades mais atrativas, buscará uma maior proximidade com a criança, fazendo com que ela se sinta segura e confiante. Entende-se que, depois do contexto familiar, o âmbito escolar é o local adequado para a criança se socializar, onde irá experimentar uma diversidade de interações afetivas, para que desenvolva suas habilidades cognitivas e comportamentais e sinta-se segura para se expressar oralmente.
4.1 BRINCAR E JOGAR:
Jogo e brincadeira por vezes são entendidos como uma mesma situação. Embora estes termos sejam frequentemente intercambiáveis, não são idênticos no significado, uma vez que se relacionam com diferentes estágios do desenvolvimento infantil; a brincadeira refere-se ao estágio mais primitivo, enquanto que o jogo à uma etapa mais amadurecida.
Sabe-se que o brincar está diretamente vinculado ao mundo infantil, investindo a criança, no seu dia a dia, grande parte de sua energia na atividade lúdica. Quando se fala em brincadeira infantil esta se referindo a uma atividade muito ampla, envolvendo níveis diversos que vão desde o brincar com o próprio corpo, passando pelo brinquedo livre, até chegar ao jogo estruturado.
Para Bettelheim (1979), a distinção entre o jogo e a brincadeira é de grande importância. Embora ambos sejam utilizados num mesmo contexto, seus significados não são os mesmos. A brincadeira está diretamente vinculada às atividades da criança onde as únicas regras existentes são aquelas criadas por ela mesma, flexíveis, e evidenciando um solto envolvimento da fantasia; não existem objetivos fora da atividade em si.
Já os jogos trazem consigo o componente competitivo e exigem a utilização se seu material de um modo predeterminado pelas regras, excluindo a ação livre da imaginação, no sentido de que a criança não pode inventar coisas. Isso se refere, principalmente, à possibilidade de sucessivas associações que o brinquedo livre propicia e que o jogo, em função de suas características preestabelecidas de funcionamento acaba limitando a criança. Os jogos apresentam o objetivo externo à atividade em si que é de vencer. As regras servem para restringir a descarga dos impulsos (atuação). Elas entram em cena como uma representação, uma imposição da realidade incluindo o outro.
O jogo faz com que a criança admita a presença do outro, da realidade, e a assumir as consequências da jogada. Outro aspecto importante para Bettelheim em relação ao jogo é o brincar em conjunto. Somente brincando com os outros é que se experimenta uma das maiores satisfações da vida: funcionar bem com os outros. À medida que a criança adquire um certo nível da amadurecimento e passa a desfrutar da relação com o outro ( o companheiro), desperta o seu interesse pelos jogos. Enquanto que no brinquedo a satisfação encontrada está ligada à expressão das fantasias e dos desejos surgidos do mundo interno, no jogo prevalece a relação com o outro e com a realidade ( que esta implícita nas regras).
Como em todo atendimento com criança, deve-se fazer uma anamnese com os pais, para saber ao certo se esta criança apresenta o diagnóstico de mutismo seletivo. Este transtorno vem sempre acompanhado por um trauma emocional muito forte para a criança, algo que o abalou. Depois observar esta criança, suas brincadeiras, se for possível, ( ela pode não se envolver com o psicoterapeuta inicialmente), tentar sentir o paciente, mostrar cumplicidade, para enfim conquistar sua confiança
4.2 MEDIDAS EFICAZES PARA ESTIMULAR A FALAR
Segundo Ribeiro (2013), as estratégias para estimular a fala, em casos de MS, são: Ensinar comportamentos apropriados de interação social não verbal e verbal (como saudar, pedir para jogar, como aproximar-se; Agir como mediador com outras crianças (iniciar um jogo com a criança e colegas para facilitar a interação entre eles); Jogar com a criança e outros colegas a jogos que exijam uma limitada produção verbal (dominós, jogos de cartas, quem é quem);
Planificar situações que facilitem a comunicação verbal com outros (convidar criança para casa, fazer recados, compras); Reforçar todas as aproximações verbais e não verbais da criança com outros colegas (comentar com ela como é agradável estar com os outros, ter amigos, convidar amigos para casa); Expandir progressivamente o círculo de amigos com os quais começa a falar (repetir as situações de êxito com frequência e introduzir pouco a pouco as novas relações); Eliminar comentários que façam menção à fala (perguntar se falou na sala de aula, se cantou na música) quando começar a falar; Não lembrar nem antecipar consequências negativas (não ameaçar com possíveis castigos, repetir o ano); Evitar as comparações com outros irmãos, colegas ou outras crianças (assinalar que há outras crianças que falam mais e melhor, que são mais simpáticas); comentários que sugiram quando pode começar a falar, quando é o momento apropriado, como pode fazê-lo (indicar o momento próprio para falar ou como o deve fazer); Nunca forçar a criança a falar em situações sociais em que se observe ansiedade excessiva (não insistir que responda à saudação ou perguntas de amigos ou conhecidos).
4.3 NA ESCOLA DENTRO DA SALA DE AULA
Para Mello (2017), as atividades deverão ser graduadas em função da fala que se solicita na situação comunicativa, tendo para tal que considerar aspectos como o tamanho da frase, a entoação, o número de pessoas presentes e a elaboração do conteúdo. Deve-se realizar medidas para melhorar as características/ competências pessoais e sociais, implementar na dinâmica da aula o desenvolvimento de atividades de grupo (jogo social e trabalho cooperativo).
De acordo com Pires et al. (2017) e Ribeiro (2013), deve-se evitar a superproteção, não fazendo as tarefas que a criança pode fazer, ensinar pequenas tarefas de responsabilidade dentro da sala de aula e na escola ajustadas à idade (fazer recados, distribuir/recolher material, arrumar a mesa, pedir fotocópias à funcionária); aumentar o controle do adulto na interação escolar com o fim de evitar o retraimento do aluno e a existência de tempos em que a atividade depende da sua própria iniciativa; conceber na programação da aula atividades que impliquem o contato físico entre as crianças (dar abraço); criar um clima de segurança, aceitação e confiança na aula favorável à comunicação verbal; introduzir atividades de relação de forma habitual tanto com o aluno como com o grupo; programar tempos de coordenação com todos os técnicos que intervêm na ação educativa do grupo a que pertence a criança; manter uma estreita relação com a família para a passagem de informação e o ajuste de critérios e estratégias a implementar no contexto familiar.
4.4 MEDIDAS ESPECÍFICAS PARA ESTIMULAR A COMUNICAÇÃO/INTERAÇÃO
Segundo Ribeiro (2013), para estimular a comunicação/interação, precisa-se implementar e compartilhar momentos de comunicação com o aluno para o desenvolvimento de uma vinculação afetiva e comunicativa; realizar jogos em que o professor participa com o aluno (de movimento, de mímica, verbais, de troca de papéis); planificar e implementar objetos e jogos de preparação da fala que não exijam interação verbal, mas comunicação corporal e produção de sons, como jogos de movimento corporal, jogos de produção de sons corporais e jogos com sons articulados ou não; tomar em atenção, ao planificar as atividades de jogo, do número de participantes, começando com grupos muito reduzidos (2 ou 3) e aumentando progressivamente o número; oferecer ajudas à criança no início da atividade através do colega ou do próprio professor, para o incorporar no grupo e evitar a tendência ao retraimento e a não participar; realizar atividades e jogos de fala, onde a criança não vê a cara enquanto fala (marionetes, falar ao telefone dentro de uma casinha, máscaras, jogos de falar ao ouvido).
É importante que os grupos sejam estabelecidos previamente pelo professor, cuidando especialmente da composição dos grupos (inicialmente com os colegas que tem melhor relação). Partir sempre do que a criança é capaz de fazer em cada momento, planificando e levando a termo, sempre de forma progressiva, atividades de maior complexidade. Reforçar sempre qualquer aproximação da criança à resposta exigida. Não manter a aplicação de uma estratégia durante mais que duas semanas, se esta não produzir progressos na criança.
Quando tal ocorrer, planificar-se-á outro tipo de estratégias. Ir aumentando a exigência e as situações de inter-relação comunicativa, evitando assim a acomodação da criança ao contexto e nível alcançado.
Sabe-se que desenvolver um tratamento para alguém que sofre de mutismo seletivo consiste em um olhar amplo e abrangente da compreensão do ser humano, além de um diagnóstico preciso, para que seja possível dar início a um tratamento eficaz. E isso não se faz sozinho.
Como muito bem apontam Souza e Lambach (2013, p. 34) os “profissionais precisam unir forças, competências, habilidades e dentro de suas possibilidades, ou seja, o que estiver ao alcance, desenvolver a melhor maneira de devolver a esta criança a possibilidade de estar com o outro de maneira saudável”.
Sendo assim, torna-se essencial que o psicólogo trabalhe em conjunto com terapeuta, ou outro profissional envolvido no tratamento da criança com mutismo seletivo, para que o processo seja efetivado com sucesso.
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que o mutismo seletivo é um transtorno que de acordo com – DSM IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais é uma fobia caracterizado por um medo de falar com pessoas que não são do seu convívio ocorrido em crianças percebidas na sua vida inicial de escola. Durante os estudos, percebe-se que o MS se caracteriza por crianças tímidas deixando passar despercebido e podendo agravar na vida adulta.
Podendo destacar, também, que poucas pessoas faz o conhecimento deste transtorno podendo se tornar uma séria barreira para o desenvolvimento do diagnóstico e consequentemente o tratamento destas crianças. Ressaltando que durante o estudo , não há um tratamento específico , mas existem várias terapias para se evitar esse tipo de transtorno dependendo do desenvolvimento de cada criança. Lembrando que é um transtorno de ansiedade , podendo afetar seu desenvolvimento escolar.
Contudo, uma terapia muito importante de acordo com alguns teóricos foi a Ludo terapia ela permite observar esta criança e começar a perceber em que ‘mundo’ ela está vivendo, conhecendo suas limitações, suas dificuldades, seus interesses e principalmente uma abertura deste ‘mundinho’. Mundo do qual o psicoterapeuta deve fazer parte para ajudar a criança a trabalhar psiquicamente todas as suas angústias e a produção da fala.
Assim, o papel de todos é fundamental enquanto ao tratamento, e quando se tem um bom acompanhamento se tornam quantitativo e genuíno, sabendo que cada criança tem seu desenvolvimento a qual deve ser respeitado. Sabemos que a interação é um papel essencial na vida do indivíduo. Dessa forma a comunicação é o meio, o veículo que promove o envolvimento, as trocas de experiências, os aprendizados entre as pessoas, de diferentes ou iguais culturas.
Diante do contexto tratado, se faz necessário começar pelas as escolas onde percebe-se mais o MS , políticas de conscientização da importância do tratamento do Mutismo Seletivo , revelando que uma criança com comportamentos isolados e sem interação seja tímida mas procurando solucionar e diagnosticar seu problema.
6 REFERÊNCIA
– BALDWIN, S.,& CLINE, T.(1991). Helping children who are selectively mute. Educacional and Child Psychology –
BETTELHEIM, B. Uma vida para seu filho. (1979). Rio de Janeiro: Ed. Campus Ltda.
– CID – 10 – Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento. (1993) Coor. Organiz. Mundial da Saúde. Trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas.
– DSM IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. (1995) Trad. Dayse Batista – 4.º edição. Porto Alegre; Artes Médicas.
Peixoto, A. C. A., Caroli, A. L. G. & Mariama, S. R. (2017). Mutismo seletivo: estudo de caso com tratamento interdisciplinar. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 13(1), 5-11. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtc/v13n1/v13n1a03.pdf>
Pires, T. S. J., Palitot, M. D., Alves, G. A. S., Silva, H. M. L. & Éneas, E.L.S. (2017). Reflexões da mediação escolar para uma criança com mutismo seletivo. Revista Psicopedagogia. 34(104), 180-188. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v34n104/08.pdf>
Teixeira, J. N. & Alvarenga, P. (2016). Relações entre controle psicológico e comportamental materno e ansiedade infantil. Arquivos Brasileiros de Psicologia. 68 (3), 145-160. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v68n3/11.pdf>
TANCER, N. K. (1992). Elective mutism: A review of the literature. In B. B. Lahey & A. E. Kazdin.
Beck, J. S. (2013). Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. (2ª Ed.) Porto Alegre: ArtMed.
Clark, D. A. & Beck, A. T. (2014). Vencendo a ansiedade e a preocupação com a terapia cognitivo-comportamental: manual do paciente. Porto Alegre: Artmed.
Silveira, P. S., Silva, R. R., Caneta, C. N. & Ciccone, S. D. (2017). Desenvolvimento de uma relação facilitadora na comunicação com uma criança com características de mutismo seletivo. Psicologia.PT – O Portal Dos Psicólogos. Disponível em: <https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0402.pdf>
Petersen, C. S., & Wainer, R. (2011). Terapias cognitivo-comportamentais para crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed.
Mello, C. D. (2016). Transtorno do mutismo seletivo: algumas considerações sobre a recusa da fala. Formação de Professores: Contextos, Sentidos e Práticas. Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/23683_11709.pdf>
SERRETTI, Amine Nassif M.; COSTA-JÚNIOR, Florêncio M. da. Mutismo seletivo infantil: avaliação e intervenção em ludoterapia comportamental. Mimesis, Bauru, v. 32, n. 2, p. 141-166, 2010
1Pós graduanda em Psicopedagogia