REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8010785
Aaron Santos Gomes1;
Ana Beatriz Inácio de Albuquerque1;
Lucas Henrique de Sousa Rabelo1;
Maria Gizely Pinheiro Antunes1
RESUMO
A pandemia da COVID-19 trouxe mudanças significativas na vida das pessoas em todo o mundo, incluindo os profissionais da educação. Os docentes foram desafiados a adaptar suas práticas de ensino ao ensino remoto, lidar com a incerteza, a ansiedade e o estresse relacionados à pandemia e enfrentar demandas adicionais de trabalho. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar o impacto da COVID-19 na saúde emocional e mental de docentes do ensino superior. Para tanto, utilizou-se de revisão integrativa da literatura, por meio das bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO), na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) nas bases Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Publisher Medline (MEDLINE/PUBMED) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Os descritores utilizados para identificação dos artigos, com combinações na língua portuguesa, foram: ansiedade; Depressão; Pandemia; Covid-19; Saúde mental; Docentes. Com recorte temporal de 2020 a abril de 2023. Foram encontrados 88 artigos, e selecionados 11 artigos que atendiam aos critérios estabelecidos. Os resultados da revisão indicaram que os docentes do ensino superior enfrentaram um aumento significativo nos níveis de ansiedade e depressão durante a pandemia da COVID-19. Os fatores contribuintes para esses problemas de saúde mental incluíram o medo da contaminação, a sobrecarga de trabalho, a falta de suporte emocional e a falta de treinamento adequado para o ensino remoto. Além disso, os docentes relataram dificuldades em conciliar o trabalho com as demandas pessoais, como o cuidado dos filhos e a preocupação com a saúde de familiares. Esses fatores combinados levaram a um aumento do estresse e do impacto negativo na saúde mental dos docentes. Com base nos resultados, os autores do estudo destacaram a importância de fornecer suporte emocional e psicológico adequado aos docentes do ensino superior durante a pandemia da COVID-19. Esses resultados destacam a necessidade de intervenções e suporte adequados para proteger a saúde mental dos professores durante períodos de crise como a pandemia.
Palavras-Chave/descritores: Ansiedade, Depressão, Docente de ensino superior.
ABSTRACT
The pandemic of COVID-19 brought significant changes in the lives of people around the world, including education professionals. Teachers have been challenged to adapt their teaching practices to remote teaching, deal with the uncertainty, anxiety, and stress related to the pandemic, and face additional work demands. Thus, the purpose of this study was to analyze the impact of COVID-19 on the emotional and mental health of higher education faculty. To do so, an integrative literature review was used, using the Scientific Electronic Library Online (SciELO), the Virtual Health Library (VHL) databases Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS), Publisher Medline (MEDLINE/PUBMED) and the Nursing Database (BDENF). The descriptors used to identify the articles, with combinations in Portuguese, were: anxiety; Depression; Pandemic; Covid-19; Mental health; Teachers. The time frame was from 2020 to April 2023. A total of 88 articles were found, and 11 articles that met the established criteria were selected. The results of the review indicated that higher education faculty faced a significant increase in anxiety and depression levels during the Covid-19 pandemic. Contributing factors to these mental health problems included fear of contamination, work overload, lack of emotional support, and lack of adequate training for remote teaching. In addition, faculty members reported difficulties in balancing work with personal demands, such as childcare and concern for the health of family members. These factors combined led to increased stress and a negative impact on the mental health of the faculty members. Based on the results, the study authors highlighted the importance of providing adequate emotional and psychological support to higher education faculty during the COVID-19 pandemic. These results highlight the need for appropriate interventions and support to protect faculty mental health during times of crisis such as the pandemic.
Keywords/descriptors: Anxiety, Depression, Higher Education Teacher.
INTRODUÇÃO
Desde a história antiga a palavra trabalho é a ressignificação do suor produzido através do esforço físico ou o desgaste intelectual para os demais, isso para ser transformado em fonte de sobrevivência, de elevação moral e espiritual. O trabalho tornou-se mais central na vida do homem após a Revolução Industrial, no capitalismo, e sua importância mostra-se crucial para a condição de saúde ou de doença do trabalhador. A expansão do modelo capitalista, na segunda metade do século XX, implicou um aumento progressivo do tempo e da dedicação ininterrupta ao trabalho e ao emprego, o que tem implicações sobre a saúde do trabalhador. Apesar disso, os fenômenos Saúde e Trabalho nem sempre foram entendidos de forma interligada (CAVALHEIRO; TOLFO, 2011).
Com o surgimento da pandemia, a presença de transtornos mentais, sofrimento psíquico e alterações do sono exercem reconhecidos efeitos negativos no cotidiano e na qualidade de saúde e de vida das pessoas, contribuindo com percentual relevante de anos vividos com incapacidades (BARROS et al., 2020). As mudanças do dia a dia, variação na rotina e a quarentena contribuíram para o desenvolvimento do transtorno de ansiedade e depressão, sobretudo, em docentes. Acredita-se que essas patologias estejam associadas às mudanças sociais e institucionais na educação (CORTEZ et al., 2017). Considerando que a precarização do trabalho docente tem se ampliado especialmente por baixos salários, aumento de tarefas, carência de políticas consistentes de formação e estrutura organizacional, situação que afeta tanto os docentes da rede pública quanto os da rede privada (IÓRIO; LELIS, 2015; BACCIN; SHIROMA, 2017).
Ainda que os professores de ambas as redes de ensino sejam afetados, há evidências de mais sintomas de estresse e ansiedade em professores da rede pública, embora sejam realizadas menos pesquisas na rede privada (DALAGASPERINA; MONTEIRO, 2014). Em razão do aumento na atividade do sistema nervoso autônomo, a ansiedade resulta em sintomas como desconforto abdominal, tremores, sensação de desmaio, agitação psicomotora, preocupação excessiva, dificuldade de concentração, tontura, palpitação e taquicardia (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). Sintomas de estresse, ansiedade e depressivos foram identificados como os mais prevalentes entre docentes, havendo alta associação entre eles. Em virtude desse quadro, o adoecimento dos educadores entrou na pauta de discussão das escolas e sindicatos e nas pesquisas dos profissionais da área de saúde (GOUVÊA, 2016).
Nesse contexto de sobrecarga direcionada ao profissional, o tema depressão e ansiedade vem à tona, pois o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgadas na data 21/05/2020, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão acomete 5,8%, ou seja, com sua prevalência nacional por volta de 12 milhões de acometidos por depressão e 19 milhões por ansiedade, logo, uma a cada onze pessoas no país possuem algum transtorno de ansiedade e uma a cada dezessetes possuem transtornos depressivos, já que a população na data deste dado estava por volta de 212 milhões.
A sociedade contemporânea enfrenta um cenário de transformações que exigem que os indivíduos se adaptem e reavaliem constantemente os padrões sociais estabelecidos. Nesse contexto, a ansiedade surge como um mecanismo de defesa. A ansiedade é descrita como uma resposta que prepara o ser humano para situações de perigo, manifestando-se por meio de alterações comportamentais, cognitivas, fisiológicas e psicológicas, impactando significativamente a relação dos indivíduos afetados com o ambiente em que estão inseridos. Essa condição pode se apresentar de forma isolada ou estar associada a outras condições clínicas (CAVALHEIRO., 2017).
A chegada da pandemia de Covid-19 trouxe consigo uma série de mudanças para a sociedade, colocando em risco tanto a saúde física quanto a saúde mental. Diante das incertezas, desesperança, medos e angústias trazidos pela situação, medidas emergenciais de proteção foram adotadas, o que impactou significativamente a vida em comunidade. O risco de contaminação reconfigurou a realidade conhecida e ressignificou diversos aspectos do cotidiano. Em 2020, o Ministério da Saúde realizou uma pesquisa que revelou o impacto da pandemia na saúde mental da população brasileira, destacando a ansiedade como o transtorno mais prevalente, atingindo 86,5% dos brasileiros (PEREIRA et al.; MACHADO; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
Segundo uma pesquisa do Banco Mundial (2020), a educação, assim como outros setores, foi afetada pela pandemia. Já no início de 2020, cerca de 1,4 bilhão de estudantes em mais de 156 países tiveram que interromper suas atividades escolares presenciais. Em todo o mundo, foi necessário reestruturar o sistema educacional e desenvolver novas estratégias para viabilizar a continuidade do ensino. O novo modelo de aulas trouxe desafios para professores e estudantes, exigindo que os educadores se adaptassem a novas tecnologias, métodos de compartilhamento de informações e formas de comunicação, buscando manter a qualidade do ensino (SILVA, 2020).
O contexto do ensino remoto também impôs aos professores a necessidade de se adaptarem ao mundo digital, modificando suas rotinas e ambiente de trabalho. Essa nova realidade trouxe uma sobrecarga para a vida dos docentes, que passaram a lidar com novas responsabilidades e pressões, ficando suscetíveis ao adoecimento emocional e mental (SILVA, 2020). Conforme apontado por Quaman et al. (2020) em seu estudo, a pandemia pode estar contribuindo para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade entre os professores. Os impactos trazidos pela Covid-19 transformaram o ambiente educacional em um lugar muitas vezes adverso, gerando sentimentos de medo, frustração, insegurança e apreensão, o que favorece o surgimento de transtornos de ansiedade (QUAMAN et al., 2020; JORGE et al., 2021).
Frente a essa problemática, é evidente a necessidade de direcionar atenção para a saúde emocional e mental dos docentes. Nesse sentido, esta pesquisa se mostra relevante ao abordar a importância de refletir sobre o adoecimento psíquico desses profissionais. A ansiedade permeia constantemente suas vidas e se manifesta de diversas formas, tornando-se especialmente presente no contexto de incertezas e desesperança vivenciado. Os educadores tiveram que enfrentar os desafios impostos pela nova realidade e se adaptar de maneira abrupta e inesperada, buscando manter a continuidade do ensino.
No entanto, ainda há uma escassez de pesquisas que se concentram na investigação dos níveis de ansiedade experimentados pelos professores devido à sobrecarga imposta pelo ensino remoto. Nesse sentido, este estudo pode contribuir para uma compreensão mais profunda do impacto causado pela pandemia e pelo ensino remoto na saúde dos docentes, preenchendo essa lacuna de conhecimento. Assim, o objetivo geral deste trabalho foi analisar o impacto da COVID-19 na saúde emocional e mental de docentes do ensino superior. Os objetivos específicos foram: caracterizar as pesquisas sobre a temática; avaliar a ansiedade e depressão em docentes do ensino superior após a pandemia; analisar a relação entre a pandemia da COVID-19 e a incidência de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior.
A depressão e a ansiedade apresentam-se claramente como um dos problemas de saúde mais incapacitantes e por isso são consideradas um dos principais problemas de saúde no mundo. Diante disto, surgiu a seguinte problemática: Existe uma relação entre a pandemia da COVID-19 e a incidência de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior?
METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma revisão integrativa com abordagem quali-quantitativa, o que de acordo com Mendes, Silveira e Galvão (2008) possibilita a sintetização de vários estudos anteriormente publicados e favorece resultados gerais de acordo com uma pequena área do estudo.
Neste tipo de pesquisa é feita a seleção de como irá elaborar e desenvolver o estudo, podendo direcioná-lo para definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos que estão inseridos em determinado tópico.
Para nortear a pesquisa foi traçada a seguinte questão norteadora: Existe uma relação entre a pandemia da COVID-19 e a incidência de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior?
A coleta de dados foi realizada por meio de consulta a publicações de autores de referência na área da saúde e posteriormente será feita a leitura crítica dos títulos e resumos. Para realizar o levantamento dos artigos na literatura, foram efetuadas buscas nas seguintes bases de dados com cobertura da America latina: Scientific Eletronic Library Online (SciELO), na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) nas bases Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Publisher Medline (MEDLINE/PUBMED) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Os descritores utilizados para identificação dos artigos, com combinações na língua portuguesa, foram: ansiedade; Depressão; Pandemia; Covid-19; Saúde mental; Docentes.
A respeito dos critérios de inclusão, foram selecionados os artigos publicados em língua portuguesa e inglesa, artigos na íntegra que atendam a temática, e artigos indexados ou publicados nos bancos de dados supracitados referente ao recorte temporal de 2020 a abril de 2023.
Foram excluídos dessa revisão toda e qualquer tese, trabalhos de conclusão de curso, artigos que não estejam dentro do tema, artigos duplicados, e todos os artigos que não contemplem os critérios de inclusão supracitados. Que não estavam dentro do recorte temporal supracitado.
Após leitura completa dos artigos, foi possível extrair as seguintes informações: número, identificação, autores, bases de dados, periódicos e resultados encontrados, que darão subsídio para responder a problemática do estudo. Os artigos foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão descritos na metodologia. O fluxograma baseado no protocolo PRISMA adaptado para revisão integrativa detalha o processo de seleção das amostras. Posteriormente realizou-se a descrição e discussão dos dados encontrados, e em seguida será obtido as considerações finais do estudo.
Levando em consideração a revisão integrativa de literatura, dividida em seis importantes partes (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011), descreve a aplicabilidade e seus critérios: Identificação do tema e seleção da questão de pesquisa: Foi realizada a identificação do tema e seleção de questão que norteou a pesquisa para a revisão integrativa, com isso o tema delimitado foi: Transtorno de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior em decorrência da pandemia da COVID-19: Revisão integrativa. Proporcionando responder a seguinte questão norteadora: Existe uma relação entre a pandemia da COVID-19 e a incidência de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior? Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura: Após a realização da primeira fase, a ação seguinte se baseia em iniciar a busca nas bases de dados a fim de selecionar os estudos que irão integrar a revisão. Para isso a internet é a principal ferramenta dessa fase, levando em consideração que as bases de dados possuem acesso eletrônico. Para obter validade interna da revisão é necessário haver uma separação dos estudos para uma seleção crítica (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Foram estabelecidos os seguintes descritores (DeCS): ansiedade; Depressão; Pandemia; Covid-19; Saúde mental; Docentes. As estratégias de busca estabelecidas são baseadas em suas combinações nas línguas portuguesa, e os operadores boolianos OR/OU. As fontes de informação estabelecidas serão: LILACS, BVS e SciELO. O recorte temporal de 2020 a abril de 2023. Os critérios de inclusão para seleção dos artigos são: publicações em língua portuguesa e inglesa, e artigos na íntegra e que retratassem a temática anteriormente definida. Como critérios de exclusão eliminaram-se as publicações que não atenderam os critérios estabelecidos na metodologia; Definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados: Dessa forma procedeu-se a definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados. Para analisar e em seguida sintetizar os artigos selecionados com base nos critérios de inclusão, serão elaboradas duas tabelas para coleta das informações, almejando auxiliar na resposta à questão norteadora dessa revisão integrativa. Para analisar e interpretar os dados de forma organizada e sintetizada os artigos foram organizados em quadro contendo o ano de publicação, identificação dos autores, título, objetivos e principais resultados, que deram subsídio para responder a problemática do estudo. Os artigos foram numerados conforme a ordem de seleção e os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, sendo utilizado a codificação (N) seguido do número correspondentes ao estudo; Avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa: Foi realizada então uma análise crítica dos artigos encontrados, observando a similaridade entre os resultados que ajudassem a responder à questão norteadora do estudo. Dessa maneira, esta análise foi realizada de maneira minuciosa, almejando encontrar respostas para os objetivos elaborados; Interpretação dos resultados: Nessa etapa a discussão dos principais resultados foi realizada. Após o estudo dos artigos através de leitura textual, será realizada uma vistoria a fim de encontrar as respostas para as dúvidas levantadas nas publicações dos artigos com corte temporal dos últimos cinco anos e; Apresentação da revisão/síntese do conhecimento: Para chegar à conclusão dessa revisão integrativa, essa etapa apresentará a síntese das evidências encontradas. Nesse estudo serão encontrados os métodos que o médico utiliza para prestar assistência aos alcoolistas na atenção primária.
Foram encontrados 88 artigos, e selecionados 11 artigos que atendiam aos critérios estabelecidos (Figura 1). Foram incluídos artigos científicos de revisão integrativa e sistemática, pesquisa de campo, relato de experiência, ensaio clínico, pesquisa epidemiológica, publicados no período de 2020 a abril de 2023, em revistas, jornais e periódicos. Foram excluídos da pesquisa: artigos duplicados, teses, dissertações e artigos que não respondam à questão norteadora apresentada.
Figura 1- Fluxograma de seleção dos estudos
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
5 RESULTADOS
Após leitura completa dos artigos, foi possível extrair as seguintes informações: ano de publicação, identificação dos autores, título, objetivos e principais resultados, que deram subsídio para responder a problemática do estudo. Os artigos foram numerados conforme a ordem de seleção e os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, sendo utilizado a codificação (N) seguido do número correspondentes ao estudo (Quadro 1).
A pesquisa de revisão integrativa foi realizada em quatro bases de dados: SciELO, PubMed, BDENF e LILACS. Após a busca nessas bases de dados e a aplicação dos critérios estabelecidos, foram selecionados um total de 11 estudos. Ao realizar a busca pelos artigos que retratassem a temática foram encontrados 7 artigos na base de dados SciELO, onde passaram por exclusão os estudos que não fossem relacionados ao tema, duplicados ou incompletos, sendo selecionados 2 artigos. Na base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) foram encontrados 81 estudos, sendo 55 na PUBMED, 22 na LILACS e 4 BDENF. Após análise do título e resumo foram selecionados 09 artigos: 05 na PUBMED, 3 na LILACS e 1 na BDENF, cujos resultados se mostraram significativos.
Quadro 1- Síntese dos principais achados sobre o tema “Transtorno de ansiedade e depressão em docentes do ensino superior em decorrência da pandemia da COVID-19: Revisão integrativa, Marabá – PA, 2023.
N | Autores (Ano) | Título | Objetivo | Principais achados |
01 | FREITAS; RAMOS; FREITAS; SOUZA; PEREIRA; LESSA, 2021. | Prevalência e fatores associados aos sintomas de depressão, ansiedade e estresse em professores universitários durante a pandemia da COVID-19. | Estimar a prevalência e os fatores associados aos sintomas da depressão, ansiedade e estresse em professores universitários da área da saúde no período da pandemia da COVID-19. | A amostra final foi composta por 150 indivíduos, sendo a média de idade de 41,4 ± 7,9 anos, e a maioria da amostra investigada é do sexo feminino (74%). Entre os professores, 50% apresentaram sintomas de depressão, 37,4% relataram sintomas de ansiedade e 47,2% apresentaram sintomas de estresse. Após análise múltipla, observou-se que os sintomas da depressão estiveram associados à variável trabalhar em mais de uma instituição de ensino superior. As variáveis que se mostraram associadas à ansiedade foram: faixa etária ≥ 40 anos e pessoas sem companheiro fixo. Já o estresse se mostrou associado à variável estado civil sem companheiro fixo. A prevalência de sintomas da depressão, ansiedade e estresse em professores universitários da área da saúde foi elevada, e fatores sociodemográficos e trabalhistas se mantiveram associados aos desfechos investigados. |
02 | MATIAS; FALCÃO; GROSSEMAN; GERMANI; SILVA, 2023. | A pandemia da COVID-19 e o trabalho docente: percepções de professores de uma universidade pública no estado de São Paulo, Brasil. | Compreender a percepção de professores universitários sobre os efeitos da pandemia da COVID-19 para a rotina de trabalho e para a saúde dos docentes de uma universidade pública no estado de São Paulo. | As percepções dos docentes entrevistados sobre as modificações da rotina de trabalho impostas pela pandemia da COVID-19, incluíram sobrecarga de trabalho, carga elevada de estresse vinculada à aquisição de novas habilidades para o processo de ensino-aprendizagem em ambiente virtual, às relações dos docentes com alunos, seus pares e com a instituição, à dificuldade de limitar horas de trabalho e de descanso, e aos medos e angústias relacionados à própria pandemia. Os resultados ressaltam a necessidade de ações direcionadas à gestão educacional, às dinâmicas comunicacionais e à saúde mental. |
03 | CAETANO; SOUZA; COSTA; SILVA; DELLAGLI, 2022. | A saúde mental dos professores: a espiritualidade como estratégia protetiva em tempos de pandemia. | Investigar se o bem-estar espiritual de professores foi fator protetivo para quadros de estresse, ansiedade e depressão durante a pandemia da COVID-19. | Os resultados revelaram que a dimensão da espiritualidade alusiva ao bem-estar existencial foi protetiva para o surgimento de sintomas de ansiedade, estresse e depressão. Por outro lado, o bem-estar religioso foi preditivo de maiores escores dos mesmos transtornos. Características como idade, gênero, renda, tipo de escola, apresentaram relação para a manifestação de sintomas psicopatológicos e o nível de espiritualidade. |
04 | SANTOS; SILVA; BELMONTE, 2021. | COVID-19: emergency remote teaching and university professor: mental health. | Refletir a respeito das experiências do ensino remoto emergencial pelo corpo docente universitário e dos impactos na saúde mental desses profissionais durante a pandemia da COVID-19. | Diante do atual contexto educacional, os docentes se depararam com novas exigências que repercutiram em sua rotina social e laboral, em virtude do aumento da carga horária, do ritmo e diversidade do trabalho. Evidenciou-se que esses profissionais foram afetados em aspectos financeiros, afetivos e motivacionais. a pandemia trouxe para o professor uma série de sentimentos e percepções, com novos desafios para a sua prática. Entretanto, é importante estimular o estabelecimento de processos reflexivos em torno do equilíbrio físico e mental no ambiente educacional e fora dele. |
05 | GOMES; CARVALHO; SILVA; MOITA; SANTOS; COUTO; CARVALHO; ALMEIDA, 2021. | Saúde mental de docentes universitários em tempos de COVID-19. | Refletir acerca dos eventos relacionados ao processo de trabalho que comprometem a saúde mental de docentes de Instituições de Ensino Superior (IES) em tempos de COVID-19. | A falta de habilidade no manuseio de tecnologias da informação e comunicação no desenvolvimento das atribuições profissionais, a autocobrança e a pressão das IES para adaptação ao novo modelo de trabalho e a necessidade de gerenciar os afazeres laborais e domésticos constituem eventos que predispõem ao sofrimento psicoemocional em docentes do ensino superior. |
06 | ABREU; ELERES; MAGALHÃES; ROLIM; CESTARI; MOREIRA, 2022. | Professor em tempos de pandemia: emoções e sentimentos do enfermeiro-professor. | Averiguar emoções e sentimentos de enfermeiros-professores universitários frente à pandemia da COVID-19. | O medo foi a emoção central, circundada por sentimentos contraditórios como: ansiedade e tranquilidade. Atrelado ao medo, destacou-se sentimentos como a preocupação, intermediada pelo cansaço. Na vertente contrária ao medo e à preocupação, destaca-se o verbo estar, o qual apresenta-se envolto por emoções associadas à felicidade, esperança, fé e crença em Deus. Considera-se relevante a atenção às emoções e sentimentos, os quais frequentemente podem interferir na qualidade de vida, na saúde mental e ocupacional do professor-enfermeiro. |
07 | SANTIAGO; SANTOS; SILVA; CAVALCANTE; JðNIOR; COSTA; CÂNDIDO, 2023. | The Impact of the COVID-19 Pandemic on the Mental Health of Teachers and Its Possible Risk Factors: a systematic review. | Analisar o desenvolvimento de patologias psiquiátricas/síndrome de burnout e seus possíveis fatores de risco em professores no contexto da pandemia de COVID-19. | As patologias psiquiátricas mais comuns foram transtornos de ansiedade generalizada e depressão. A síndrome de Burnout também foi bastante prevalente. Dos 776 artigos identificados, 42 foram selecionados após a aplicação dos critérios de elegibilidade. Embora haja variabilidade entre os estudos analisados, os fatores de risco mais correlacionados com o aumento da morbidade em professores foram: (i) ser do sexo feminino; (ii) idade inferior à quinta década de vida; (iii) preexistência de doenças crônicas ou psiquiátricas antes da pandemia; (iv) dificuldade de adaptação ao modelo de educação a distância; (v) conflitos família/trabalho; (vi) sintomas negativos causados pela pandemia. Portanto, o impacto da COVID-19 na saúde mental parece ser mais comum em professoras na quinta década de vida e com comorbidades psiquiátricas pré-existentes. |
08 | KITA; YASUDA; GHERGHEL, 2022. | Online education and the mental health of faculty during the COVID-19 pandemic in Japan | Examinar a saúde mental entre os professores japoneses que ministraram cursos online durante a pandemia de COVID-19. | Como resultado, a pontuação WHO-5 durante a pandemia de COVID-19 foi significativamente menor do que antes, e 33,5% dos membros do corpo docente foram reconhecidos como estando em risco de doença mental durante a pandemia de COVID-19. Uma análise de regressão logística binomial revelou dois fatores de risco significativos para doenças mentais – os membros do corpo docente corriam mais risco de doenças mentais quando tinham dificuldade em usar a TI para aulas online e estavam insatisfeitos com o suporte administrativo para educação online. A deterioração da saúde mental durante a COVID-19 não foi prevista pela carga de trabalho, como número de palestras online e tempo de preparação. Esses resultados sugerem a importância de melhorar os serviços de suporte no local de trabalho, especialmente o suporte de TI, para prevenir a deterioração da saúde mental entre os docentes que ensinam online. 5% dos membros do corpo docente foram reconhecidos como estando em risco de doença mental durante a pandemia de COVID-19. |
09 | ALMHDAWI; OBEIDAT; KANAAN; HAJELA; BSOUL; ARABIAT; ALAZRAI; JABER; ALRABBAIE, 2021. | Bem-estar mental e físico de professores universitários durante a pandemia de COVID-19 e o ensino a distância. | Investigar a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) e seus fatores ocupacionais e de saúde associados durante a COVID-19 entre professores universitários. | Um total de 299 professores universitários concluíram o estudo com sucesso. A pontuação do componente de saúde física do SF-12 dos participantes foi de 74,08 (±18,5) e 65,74 (±21,4) para o componente de saúde mental. Maior depressão, estresse, incapacidade do pescoço e mudança de peso foram significativamente associados com menor nível de QVRS. Enquanto maior satisfação com ensino a distância, autoavaliação de saúde e mudança de carga de trabalho foram significativamente associados a maior nível de QVRS. O modelo de regressão explicou 66,7% da variância na QVRS dos professores (r2 = 0,667, F = 82,83, P < 0,001). Os professores universitários da Jordânia demonstraram bons níveis de QVRS e saúde mental durante o bloqueio do COVID-19. Os fatores associados à QVRS dos professores devem ser considerados pelas instituições acadêmicas na determinação da melhor configuração ocupacional das atividades de ensino em futuras pandemias. |
10 | JAKUBOWSKI; SITKO-DOMINIK, 2021. | Saúde mental dos professores durante as duas primeiras ondas da pandemia de COVID-19 na Polônia. | Investigar a relação entre a educação a distância e o bem-estar dos professores, suas relações próximas e outras relações sociais durante as duas primeiras ondas da pandemia de COVID-19. | Os professores experimentaram pelo menos níveis leves de estresse, ansiedade e depressão, tanto durante a primeira quanto na segunda onda da pandemia de COVID-19 na Polônia. Confirmou-se que existe uma relação negativa entre a alteração da qualidade das relações e a alteração da qualidade das relações sociais e o stress, a ansiedade e a depressão. As variáveis consideradas na pesquisa explicaram a variação do estresse – de 6% na primeira etapa da pesquisa para 47% na segunda etapa; para a variação de ansiedade – de 21% a 31%; e para a variação da depressão – de 12% a 46%, respectivamente. Os resultados da pesquisa mostram que, devido ao trabalho à distância, a distinção entre trabalho profissional e vida familiar pode ter sido ofuscada e, como consequência, o bem-estar dos professores pode ter sido piorado. |
11 | AKOUR; AL-TAMMEMI; BARAKAT; KANJ; FAKHOURI; MALKAWI; MUSLEH, 2020. | O impacto da pandemia de COVID-19 e do ensino a distância de emergência no estado psicológico de professores universitários: um estudo transversal na Jordânia. | Avaliar 1) estado psicológico, 2) desafios do ensino a distância e 3) atividades de enfrentamento e preocupações relacionadas à pandemia entre professores universitários na Jordânia em meio às medidas de quarentena e controle relacionadas ao COVID-19. | Trezentos e oitenta e dois professores universitários devolveram os questionários preenchidos. Os resultados do K10 mostraram que 31,4% dos entrevistados tinham sofrimento grave e 38,2% tinham sofrimento leve a moderado. Enquanto o gênero não foi associado à gravidade do sofrimento, a idade teve uma correlação negativa fraca (Rho = −0,19, P < 0,0001). Curiosamente, a maioria dos professores apresentou motivação moderada a alta para o ensino a distância. O envolvimento com a família foi a atividade de autoenfrentamento mais relatada. Mais da metade dos participantes estava mais preocupada e com medo da infecção por SARS-CoV-2. Em conclusão, os professores universitários demonstraram exibir vários níveis de sofrimento psicológico e desafios durante a implementação de medidas nacionais de precaução na batalha contra o COVID-19 na Jordânia. |
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Evidencia-se a veracidade de descrever, sob várias perceptivas a representação da ansiedade, instituindo que os próprios sujeitos possam perceber os seus sintomas. Outro aspecto importante a se destacar é que o estudo carregará todo um conjunto de orientação de como o indivíduo deve lidar com este mal e como deve amenizar seus malefícios por meio de medidas pessoais e profissionais, assim como os professores possam adotar medidas pedagógicas e educacionais em favor do bem-estar, de maneira a prevenir ou minimizar os males provocados pela ansiedade e depressão.
É notório que o modo de vida dos professores é extremamente propício ao desenvolvimento da ansiedade e depressão. Isto nos obriga a repensar no sentido de fornecer meios mais humanizados, tranquilos, menos desafiadores e menos competitivos. Necessitamos garantir um futuro mais certo para aqueles que tem a finalidade de amparar e educar seus alunos, assim, é obrigatório garantir a esperança e a certeza da paz e da sobrevivência digna destes, para que assim sejam menos ansiosas e consequentemente tenham melhor qualidade de vida.
A pandemia trouxe uma série de desafios e impactos significativos na vida de professores universitários. As mudanças abruptas para o ensino remoto, a adaptação a novas tecnologias e métodos de ensino, o aumento da carga de trabalho, a preocupação com a saúde e segurança dos alunos e a incerteza em relação ao futuro foram apenas alguns dos desafios enfrentados pelos professores durante esse período.
Esses desafios podem ter consequências para a saúde mental dos professores. A pressão adicional, a sobrecarga de trabalho, a falta de interação presencial com os alunos e colegas, além das preocupações pessoais em relação à pandemia, podem contribuir para o aumento dos níveis de estresse, ansiedade e depressão entre os professores universitários.
O estudo de Freitas et al. (2021), buscou estimar a prevalência e identificar os fatores associados aos sintomas de depressão, ansiedade e estresse em professores universitários da área da saúde durante a pandemia da COVID-19 é de extrema relevância. Professores universitários, especialmente aqueles que atuam na área da saúde, desempenham um papel fundamental na formação e orientação de profissionais de saúde, e seu bem-estar mental é essencial para o ensino e o cuidado com os alunos.
Mozzato, Sgarbossa e Mozzato (2021) citam que a pandemia trouxe mudanças significativas nas rotinas e nas demandas dos professores universitários, com a transição abrupta para o ensino remoto, adaptação a novas tecnologias e preocupações com a saúde própria e dos alunos. Esses fatores podem contribuir para o aumento dos sintomas de depressão, ansiedade e estresse nesse grupo específico.
Ao estimar a prevalência desses sintomas e identificar os fatores associados, o estudo pode fornecer uma visão abrangente dos desafios enfrentados pelos professores universitários da área da saúde durante a pandemia. Isso pode ajudar na implementação de intervenções e suporte adequados, como programas de saúde mental, estratégias de gerenciamento do estresse e acesso a serviços de apoio psicológico.
Lima et al. (2020) elencam que compreender os fatores associados aos sintomas de depressão, ansiedade e estresse nesse contexto específico pode fornecer informações valiosas para instituições de ensino e formuladores de políticas no desenvolvimento de medidas de prevenção e intervenção direcionadas.
É importante que as instituições de ensino superior reconheçam esses desafios e ofereçam suporte adequado aos professores. Isso pode incluir programas de apoio psicológico, treinamento para o ensino remoto, flexibilidade nas demandas de trabalho e comunicação transparente sobre as medidas tomadas para garantir a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos.
Matias et al. (2023) abordam um tema relevante e atual, investigando as percepções dos professores universitários durante a pandemia. O trabalho destaca a importância de compreender as experiências e desafios enfrentados pelos docentes no contexto da transição para o ensino remoto e das mudanças nas rotinas e demandas de trabalho.
Ao explorar as percepções dos professores, o estudo contribui para o entendimento dos impactos emocionais, psicológicos e profissionais enfrentados nesse período. Essas percepções podem fornecer informações valiosas para a elaboração de estratégias de apoio e intervenções que promovam o bem-estar e a saúde mental dos professores universitários.
A pandemia da COVID-19 trouxe impactos significativos nos aspectos emocionais e psicológicos dos docentes do ensino superior. A transição abrupta para o ensino remoto, a necessidade de adaptação a novas tecnologias, a mudança nas dinâmicas de trabalho e a preocupação com a saúde própria e dos alunos são alguns dos fatores que contribuíram para esses impactos (CAETANO et al., 2022; SANTOS; SILVA; BELMONTE, 2021).
Em consonância com esse estudo, Silva e Alves (2021) relatam que a mudança repentina para o ensino remoto exigiu dos docentes uma rápida adaptação a novas plataformas e metodologias de ensino, o que gerou estresse e ansiedade. A falta de contato presencial com os alunos e a dificuldade em estabelecer uma conexão emocional também afetaram o bem-estar dos docentes. Além disso, a preocupação com a saúde própria e dos alunos adicionou uma carga emocional adicional aos docentes. A incerteza em relação à própria segurança, a necessidade de acompanhar o progresso acadêmico dos alunos em um ambiente virtual e a preocupação com as dificuldades enfrentadas pelos estudantes durante a pandemia foram fontes de estresse e ansiedade.
Os docentes enfrentaram desafios emocionais, como ansiedade, estresse e sobrecarga emocional, devido à necessidade de se adaptar rapidamente a um novo formato de ensino e lidar com incertezas e pressões relacionadas ao desempenho profissional. A falta de contato físico e interação presencial com os alunos também pode ter causado sentimentos de isolamento e desconexão (SANTIAGO et al., 2023; ALMHDAWI et al., 2021; JAKUBOWSKI; SITKO-DOMINIK, 2021; AKOUR et al., 2020).
Além disso, a pandemia afetou o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos docentes, uma vez que muitos enfrentaram dificuldades para separar os espaços de trabalho e de convívio familiar em casa. Isso resultou em uma sobrecarga adicional, com a necessidade de conciliar múltiplas responsabilidades, como cuidar da família, ministrar aulas online e cumprir prazos de trabalho.
A incerteza em relação ao futuro da educação e o impacto da pandemia no sistema educacional também têm contribuído para os impactos emocionais e psicológicos. A preocupação com a saúde própria e dos alunos, bem como a adaptação constante às mudanças nas políticas e diretrizes educacionais, podem gerar ansiedade e estresse adicionais.
Outro ponto que afetou os docentes foi a falta de habilidade no uso de tecnologias da informação e comunicação, juntamente com a pressão e autocobrança dos professores para se adaptarem ao novo modelo de trabalho durante a pandemia, podem contribuir para o sofrimento psicoemocional desses profissionais do ensino superior. A transição abrupta para o ensino remoto exigiu que os docentes adquirissem rapidamente novas competências tecnológicas e se adaptassem a métodos de ensino online (GOMES et al., 2021).
Além disso, a necessidade de conciliar os afazeres laborais e domésticos em um mesmo ambiente também representa um desafio adicional para os docentes. A sobrecarga de trabalho, as demandas familiares e as dificuldades de estabelecer limites entre vida profissional e pessoal podem gerar estresse, ansiedade e sentimentos de sobrecarga.
Medidas de apoio e suporte devem ser implementadas, como programas de saúde mental, acesso a serviços de aconselhamento psicológico e ações de promoção do bem-estar, visando garantir o suporte necessário aos docentes durante esse período desafiador. Além disso, a promoção de uma cultura de cuidado e respeito mútuo, o estabelecimento de comunicação clara e transparente, e a flexibilização das demandas e prazos podem ajudar a mitigar os impactos emocionais e psicológicos da pandemia nos docentes do ensino superior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu constatar a existência de evidências disponíveis na literatura científica sobre os fatores associados ao impacto da pandemia na saúde mental dos professores. Foram identificadas implicações relevantes para o campo da psicologia, incluindo o agravamento dos problemas de saúde mental entre os professores durante a pandemia. Verificou-se que os impactos psicológicos podem aumentar a vulnerabilidade dos professores, levando ao desenvolvimento de sintomas como medo, estresse, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, angústia, exaustão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno bipolar. É importante que as instituições educacionais proponham cuidados com a saúde mental dos professores, a fim de reduzir o risco de adoecimento, especialmente considerando que a pandemia da COVID-19 pode ter um impacto de longo prazo na saúde mental e no bem-estar emocional dos professores.
No entanto, é importante mencionar as principais limitações das pesquisas incluídas neste estudo. Ainda existem poucos estudos sobre a temática publicados no Brasil, o que limita a generalização dos resultados para outros contextos. Além disso, o desenho transversal utilizado nas pesquisas é considerado uma limitação, pois impede uma análise longitudinal que poderia avaliar e interpretar os resultados ao longo do tempo pós-pandemia. Portanto, é necessário que sejam realizadas mais pesquisas com um desenho longitudinal para confirmar se as hipóteses e interpretações propostas são consistentes ao longo do tempo após a pandemia.
A realidade do ambiente de ensino-aprendizagem tem se tornado cada vez mais complexa, e as limitações na utilização dos recursos digitais representam um desafio monumental para os professores. Esses desafios têm impactado significativamente a saúde mental dos professores, com maior incidência de psicopatologias, especialmente entre as mulheres, devido à predominância feminina na comunidade docente e à carga de papéis que desempenham, como professora, mãe, filha, entre outros, no contexto cultural.
Uma das principais barreiras para lidar com o adoecimento mental é a falta de informações sobre os efeitos da pandemia na saúde dos professores. Devido a preconceitos e estigmas sociais, muitos professores não têm força, motivação ou coragem para buscar ajuda. Atitudes positivas em relação a si mesmos incluem elementos que contribuem para a qualidade da saúde mental, como ações que promovem crescimento, desenvolvimento, autorrealização e apoio social, permitindo que o indivíduo se motive a prosseguir com seus projetos pessoais e compreenda a realidade de forma mais positiva.
Por fim, é importante ressaltar que os resultados apresentados nesta revisão devem ser interpretados levando em consideração suas limitações, principalmente em relação ao número restrito de estudos incluídos, principalmente no contexto brasileiro. Outras revisões futuras podem abranger outras bases de dados e descritores. Espera-se que este trabalho possa contribuir de forma significativa e levantar a importância do cuidado com a saúde mental dos professores, tanto homens quanto mulheres.
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