REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11318340
Debora dos Reis Nantal¹;
Cleomar Reginatto².
Resumo
O presente trabalho aborda o relato de experiência do Projeto Conectar, realizado por seis estudantes voluntários de uma universidade comunitária no norte do Rio Grande do Sul, teve como foco a conscientização ambiental em uma Organização Não Governamental (ONG) local. Durante um semestre, o projeto utilizou metodologias interativas para educar crianças, adolescentes e suas famílias sobre sustentabilidade e preservação ambiental. As atividades incluíram temas como reciclagem, gestão de resíduos e produção de sabão a partir de óleo usado, promovendo práticas sustentáveis. Os resultados obtidos evidenciaram a importância de promover reflexões mais profundas sobre questões ambientais, visando desenvolver uma consciência aguçada sobre a necessidade de adotar práticas sustentáveis. O projeto Conectar demonstrou que a educação ambiental é essencial para cultivar cidadãos conscientes e responsáveis, contribuindo para a construção de um futuro mais limpo e promissor para as gerações futuras.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Educação Ambiental. Trabalho voluntário.
1 INTRODUÇÃO
Hoje em dia, as questões socioambientais estão em evidência não apenas por sua importância sanitária, mas também pelo impacto que causam no cenário econômico e político global. A busca por um equilíbrio entre o desenvolvimento e a sustentabilidade, aliada ao cumprimento das leis, leva a uma constante revisão dos processos com o objetivo de obter certificações. Nesse contexto, a educação ambiental desempenha um papel crucial ao promover debates e incentivar a consciência ambiental nas crianças, contribuindo para a formação de cidadãos e profissionais mais conscientes dos desafios emergentes.
A educação ambiental pode ser vista como um processo de aprendizado cujo objetivo principal é cultivar cidadãos com uma consciência aguçada sobre o meio ambiente. Isso é feito para auxiliar na conservação e no uso adequado dos recursos naturais, visando alcançar o desenvolvimento sustentável e garantir que as gerações futuras tenham acesso a recursos naturais em quantidade e qualidade adequadas. (FERREIRA et al, 2019).
Este trabalho propõe um relato das experiências adquiridas durante atividades com crianças, adolescentes e familiares, bem como funcionários de uma Organização Não Governamental localizada no norte do estado do Rio Grande do Sul. Essas experiências são resultado de um projeto intitulado “Conecta” desenvolvido de forma voluntária por um grupo de seis estudantes de uma universidade comunitária que durou um semestre. O objetivo principal deste projeto era promover a conscientização sobre questões ambientais por meio da educação ambiental.
Após a ONG aceitar o convite para participar do projeto, foram feitas reuniões para apresentação e alinhamentos e estabelecimento de cronograma. As atividades realizadas começaram com a seleção do tema, seguida por estudo e, posteriormente, organizadas pelos membros do projeto com o objetivo de conscientizar o público-alvo sobre a relevância das questões relacionadas aos temas escolhidos.
O objetivo deste relato é oferecer suporte a todos os interessados no tema que desejam realizar projetos de educação ambiental com públicos variados. Ele fornece tanto ideias de tópicos quanto de atividades que podem ser implementadas na comunidade. Além disso, pode servir como estímulo para professores e outros profissionais da área a se engajarem na educação ambiental, demonstrando que sua prática pode ser simples, proporcionar experiências valiosas para todos os envolvidos e ser aplicada em diversas situações.
O principal obstáculo no processo de educação ambiental é a capacidade de direcionar energia para a compreensão de conceitos fundamentais relacionados ao meio ambiente e à sociedade. Isso permite que eles ampliem sua compreensão das diferenças existentes no meio urbano em que vivem e se tornem participativos e ativos na construção de melhorias em seu ambiente. Tudo isso está associado ao desenvolvimento de atividades práticas que permitem o exercício de sua cidadania. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência aplicada em uma Organização Não Governamental (ONG), abordando temas que impactam positivamente a comunidade por meio da educação ambiental, a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável local.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A sociedade tem passado por transformações significativas, especialmente após a revolução industrial, que têm tido um grande impacto no meio ambiente. Este período é marcado pela exploração de recursos naturais e pelo extrativismo intenso, associados ao crescimento de áreas urbanas, muitas vezes sem o devido planejamento por parte das autoridades públicas. Isso tem consequências diretas na qualidade do meio ambiente. De acordo com a Resolução n°001/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), no artigo 1°, impacto ambiental é definido como qualquer mudança nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada pelas atividades humanas, que afeta direta ou indiretamente a saúde, segurança, bem-estar da população, qualidade de vida, atividades socioeconômicas, condições estéticas e sanitárias do meio ambiente.
Entre os danos ambientais negativos provocados pela ação humana, destacam-se a poluição e a degradação do meio ambiente. Esses fatores resultam na redução da qualidade de vida das pessoas, tornando essencial o desenvolvimento de uma nova consciência voltada para a preservação e conservação dos recursos naturais. Conforme estabelecido no Artigo 1° da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/1999):
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Segundo Bentes e Silva (2007), as questões ambientais têm ganhado cada vez mais atenção da sociedade nos últimos anos, devido aos inúmeros impactos que afetam a qualidade socioambiental e causam danos ao meio ambiente, impactando os recursos naturais vitais para a vida. Portanto, é essencial adotar medidas que minimizem e corrijam esses impactos. Nesse contexto, as atividades de engenharia estão intimamente ligadas ao meio ambiente. Os engenheiros, em suas diversas especialidades, tornam-se responsáveis pelas mudanças no meio ambiente natural e pelos impactos negativos que essas mudanças podem causar, caso não haja um projeto adequado, implementação e controle (HORI; RENÓFIO, 2008).
Neste cenário, a escola se torna um elemento essencial e indispensável, considerando que há muitas crianças e adolescentes em uma fase ideal para a aprendizagem, conforme mencionado por Bueno e De Arruda (2013).
a escola poderá vir a ser um espaço gerador de uma nova mentalidade na relação ser humano com meio natural; pode contribuir para a construção da cidadania ambiental, pois ao se trabalhar os problemas e as possíveis soluções todos terão oportunidades para refletir sobre a sua realidade, propondo um ambiente equilibrado e consequentemente uma melhor qualidade de vida a todos.
Portanto, a escola que se dedica à educação ambiental visa incentivar práticas que melhorem a interação entre o ser humano e o meio ambiente. A questão dos resíduos produzidos é um exemplo disso, pois é uma responsabilidade compartilhada. Afinal, mesmo após serem coletados pelo caminhão de lixo, esses resíduos continuam existindo.
A trajetória brasileira em relação à questão ambiental teve seu início com a participação na Conferência de Estocolmo, em 1972. Durante o evento, o Brasil se comprometeu de maneira inabalável com a Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano. O principal objetivo era a criação de princípios universalmente aceitos para promover e orientar a preservação do meio ambiente humano.
Como reflexo desses compromissos, em 1973, foi estabelecida a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), que se tornou o primeiro órgão ambiental nacional. A SEMA prosperou e desempenhou um papel crucial no desenvolvimento de várias normas e legislações ambientais, bem como na criação de Estações Ecológicas em todo o país (BRASIL, 1973)
Em 1981, a Lei 6.902 foi instituída, uma legislação significativa que aborda a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental. Esta lei não apenas estabeleceu diretrizes para a proteção de áreas naturais, mas também enfatizou a importância da conservação da biodiversidade e do equilíbrio ecológico.
Além disso, no mesmo ano, foi implementada a Política Nacional do Meio Ambiente. Esta política foi construída sobre os pilares fundamentais da conservação, preservação e recuperação do meio ambiente. Ela reconheceu a necessidade de proteger o meio ambiente para as gerações presentes e futuras, e enfatizou a responsabilidade compartilhada de indivíduos, comunidades e governos na gestão ambiental (BRASIL, 1981).
Em 1988, a Constituição Federal do Brasil estabeleceu um marco importante na história da educação ambiental do país. Com um capítulo robusto dedicado ao meio ambiente, a Constituição permitiu um avanço significativo na abordagem da educação ambiental.
A Constituição tornou a educação ambiental obrigatória em todos os níveis de ensino, embora de maneira opcional como uma disciplina específica. Isso significa que, embora não seja necessariamente uma matéria separada, a educação ambiental deve ser integrada em todas as disciplinas e aspectos do currículo escolar. Isso reflete a compreensão de que a educação ambiental é uma questão interdisciplinar que permeia todas as áreas do conhecimento.
Além disso, a inclusão da educação ambiental na Constituição alinha-se às recomendações da UNESCO e à Agenda 21, um plano de ação para o desenvolvimento sustentável adotado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992. A Agenda 21 enfatiza a importância da educação ambiental como uma ferramenta essencial para alcançar a sustentabilidade (SILVA, 2013)
Durante a Conferência Rio-92, que ocorreu em 1992, foi enfatizada a importância do papel do cidadão na proteção do meio ambiente, sem qualquer tipo de discriminação. A conferência destacou a necessidade de utilizar a educação ambiental como uma ferramenta para disseminar a responsabilidade ambiental, tanto dentro quanto fora das escolas (LAYRARGUES, 2012).
Em 1999, foi publicada a Lei 9.795, que estabelece diretrizes para a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Este foi um marco legislativo significativo, pois formalizou o compromisso do Brasil com a educação ambiental. No entanto, ao analisar o passado, é possível observar que muitos dos conceitos utilizados eram bastante generalistas (CONAMA, 1999).
Dez anos após a Rio-92, em 2002, ocorreu o evento conhecido como Rio+10. Durante este evento, representantes de diversos países se reuniram para discutir o “futuro do planeta”. No entanto, apesar das discussões, pouco progresso foi feito em termos de ações concretas para a proteção ambiental (LAYRARGUES, 2012).
De acordo com Carvalho (2006), a introdução da educação ambiental deve ser, acima de tudo, um ato político com o poder de transformar e criar novos hábitos. Através de uma ética que promove a conscientização, é possível integrar a relação entre o ser humano, a sociedade e a natureza, buscando um equilíbrio entre os três e melhorando a qualidade de vida de todos os seres vivos.
A importância de incluir a educação ambiental nos primeiros anos de escolaridade é crucial, pois é nessa fase que os indivíduos são mais curiosos e receptivos ao aprendizado. Além disso, eles tendem a compartilhar o que aprenderam com aqueles ao seu redor, criando uma espécie de efeito dominó de conscientização.
Conforme Dias (2004), é essencial que as questões ambientais sejam inicialmente compreendidas em relação aos problemas e ao contexto local. Isso facilita a identificação, pois abrange um espaço familiar. Somente depois disso, abre-se a possibilidade de abordar o contexto global. Isso destaca a importância de uma abordagem gradual e contextualizada para a educação ambiental.
Colombo (2014) argumenta que, ao começar com um problema específico, é possível criar projetos educativos nos quais os alunos são o foco principal. Eles estão no centro do processo de encontrar uma solução para um problema coletivo. Um exemplo prático citado pelo autor é a correta destinação dos resíduos sólidos. Se reciclados adequadamente, haverá uma redução na quantidade de lixo enviado aos aterros sanitários. Ao abordar a educação ambiental a partir de uma perspectiva local, a população pode se concentrar nos problemas mais próximos. Isso permite que esses problemas sejam atenuados mais rapidamente por meio da participação direta da comunidade. Como resultado, problemas considerados globais, como o efeito estufa e o aquecimento global, também começam a ser amenizados. Portanto, a abordagem local tem um impacto direto na solução de problemas ambientais globais (COLOMBO, 2014).
Ferreira, Costa e Silva (2017) destacam que, tanto entre jovens quanto adultos, persistem práticas prejudiciais ao meio ambiente. Isso inclui o descarte inadequado de lixo, a falta de conscientização sobre a importância da reutilização e reciclagem de produtos, e o uso descontrolado de recursos cada vez mais escassos, como água e energia elétrica.
Tavares e Da Silva (2019) observam que, apesar da gravidade da situação socioambiental, parece haver uma lacuna na busca por soluções efetivas. As decisões tendem a ser reativas, tomadas em resposta a desastres ambientais e perdas de vidas, em vez de proativas, buscando prevenir tais desastres. Nesse contexto, a educação ambiental surge como uma ferramenta crucial para mudar essas práticas. Ela tem o potencial de transformar hábitos e comportamentos, promovendo uma relação mais sustentável e respeitosa com o meio ambiente (Ferreira; Costa; Silva, 2017).
Além disso, é importante ressaltar que a educação ambiental está intrinsecamente ligada a leis e documentos que orientam seu ensino. Portanto, é essencial que aqueles que estão na posição de mediadores entre o conhecimento e a sala de aula estejam familiarizados com esses regulamentos. Nesse sentido, a conexão entre o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e as escolas discutidas neste artigo desempenhou um papel importante. Essa interação permitiu a troca de conhecimentos entre todos os envolvidos, enriquecendo o processo educativo e contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis em relação ao meio ambiente.
3 METODOLOGIA
O município de Passo Fundo está localizado na região sul do Brasil, no interior do estado do Rio Grande do Sul, com área total de aproximadamente 783,421 km², e população aproximada de 206.215 pessoas em 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentro deste cenário, encontra-se o Campus I da Universidade de Passo Fundo (UPF), onde pelo curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, pôde-se desenvolver um projeto de educação ambiental.
Inicialmente foi feita a escolha da instituição para realização das atividades, e em grupo decidiu-se apresentar e oferecer o projeto Conectar para a ONG Amor. A ONG Amor, localizada em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, é uma organização filantrópica de assistência social fundada em 2011. Ela se dedica a promover o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida de crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade social. A ONG realiza várias ações, incluindo o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, que oferece atividades lúdicas, recreativas, culturais, esportivas, solidárias e pedagógicas para crianças e adolescentes. Além disso, fornece alimentação e cestas de alimentos para as famílias cadastradas
A Instituição também realiza oficinas de artes, música, teatro, dança e esportes, além de passeios, grupos de pais e eventos. Essas atividades visam construir um mundo onde os valores da Responsabilidade, Respeito, Afetividade, Honestidade e Solidariedade permeiam todas as relações.
A ONG Amor possui uma infraestrutura de 2.000 m² de área, bastante arborizada, com grama, calçadas, parquinho de brinquedos e 480 m² de área construída. Ela mantém vários projetos sociais, como o Projeto Crescer e o Projeto Pequeno Cidadão, que atendem crianças e adolescentes de diferentes faixas etárias, oferecendo atividades de convivência, fortalecimento de vínculos e socialização.
Após o primeiro contato, a coordenação da ONG demonstrou interesse e disponibilidade em participar do projeto. Em seguida ocorreu uma visita técnica, para que se fosse possível conhecer melhor a realidade da ONG e o público atendido, bem como fazer um diagnóstico das principais necessidades em relação ao tema ambiental.
O projeto voltado para a educação ambiental teve início em agosto de 2022, com um portifólio de atividades que abrangesse diversas faixas etárias e necessidades da instituição. Os tópicos abordados foram cuidadosamente selecionados pelos participantes do estudo. De acordo com Oliveira e colaboradores (2012), a educação ambiental deve ser estruturada levando em conta as experiências diárias de cada aluno, facilitando assim a conexão entre teoria e prática.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Levando em conta que a maioria do público atendido pela ONG são de famílias de catadores, e residem em área urbana, onde o descarte inadequado de resíduos sólidos é um dos principais problemas ambientais atuais, o primeiro tópico abordado foi “Resíduos Sólidos”. O objetivo era conscientizá-los sobre a classificação e a destinação correta dos resíduos.
Inicialmente, foram apresentados os conceitos básicos sobre resíduos sólidos. O tema foi abordado de forma lúdica e personalizada para grupos de diferentes faixas etárias sobre coleta seletiva, seguindo o código de cores estabelecido pela resolução CONAMA nº 275. Além disso, foi realizada uma oficina de reciclagem de papel, e feito um treinamento com a equipe de limpeza para a correta separação dos resíduos.
Foi realizada ainda, oficina para confecção de sabão, a partir de óleo de cozinha usado, tendo como público as mães das crianças atendidas pela ONG. A confecção de sabão a partir de óleo de cozinha usado tem uma importância significativa tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.
Do ponto de vista ambiental, o descarte inadequado de óleo de cozinha usado pode causar sérios danos ao meio ambiente. Quando despejado na pia ou no vaso sanitário, o óleo pode se acumular nos encanamentos, causando entupimentos. Além disso, quando chega aos rios e mares, o óleo forma uma camada na superfície da água que impede a passagem de luz e oxigênio, prejudicando a vida aquática. Ao reciclar o óleo de cozinha usado para fazer sabão, evitamos esses problemas ambientais (CASTELLANELLI et al. 2007).
Do ponto de vista econômico, a produção de sabão a partir de óleo de cozinha usado pode ser uma excelente fonte de renda. O processo de fabricação do sabão é relativamente simples e requer poucos insumos além do próprio óleo. Além disso, há uma demanda constante por produtos de limpeza, como o sabão. Portanto, essa atividade pode gerar uma renda extra para famílias, comunidades ou mesmo pequenas empresas.
Além disso, a produção de sabão a partir de óleo de cozinha usado também tem um aspecto educacional. Ela pode ser usada para ensinar conceitos de química, economia e sustentabilidade, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis.
Portanto, a confecção de sabão a partir de óleo de cozinha usado é uma prática que traz benefícios ambientais, econômicos e educacionais. É uma maneira eficaz de transformar um resíduo que poderia ser prejudicial ao meio ambiente em um produto útil, gerando renda e promovendo a educação ambiental.
Por fim, executou-se uma horta, para promover a aproximação das crianças com a natureza, e foi explicado o processo de compostagem, e confeccionou-se uma composteira a partir de baldes reutilizados. A compostagem é uma prática ambiental extremamente valiosa que transforma resíduos orgânicos em adubo, reduzindo a quantidade de lixo enviada para aterros sanitários e diminuindo a produção de gases de efeito estufa. É um processo natural de reciclagem que contribui significativamente para a saúde do solo, aumentando sua fertilidade e capacidade de retenção de água (UNEP).
Na educação ambiental, a compostagem serve como uma ferramenta poderosa para ensinar sobre sustentabilidade e responsabilidade ecológica. Ela permite que estudantes e comunidades aprendam sobre o ciclo de vida dos materiais orgânicos e a importância de reduzir o desperdício. Projetos de compostagem em escolas podem fomentar discussões sobre sustentabilidade, incentivar a alimentação saudável e promover a colaboração entre alunos, professores e comunidade. Além disso, a compostagem pode ser utilizada para:
Educar sobre a separação correta dos resíduos e a valorização dos resíduos orgânicos; iniciar projetos de compostagem em escolas ou comunidades, ensinando como selecionar materiais adequados e cuidados importantes no processo; contribuir para a economia circular, ao transformar resíduos em recursos; incluir em políticas públicas de gestão de resíduos, promovendo práticas sustentáveis.
O projeto apresentou resultados encorajadores; no entanto, é evidente que o processo educativo, que visa facilitar o aprendizado, não é uma tarefa trivial. A chave para despertar um interesse mais profundo e promover a aprendizagem efetiva entre as crianças reside na seleção de temas que sejam envolventes e capazes de capturar sua atenção. Dias (2004) argumenta que as questões ambientais devem ser primeiramente compreendidas no âmbito dos problemas e do contexto local, a fim de que o conhecimento adquirido seja duradouro. Colombo (2014) acrescenta que ao focar nos problemas imediatos, a comunidade pode resolvê-los mais rapidamente, o que, por sua vez, contribui para a atenuação dos problemas percebidos como globais.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto foi concebido com o objetivo primordial de despertar e intensificar a consciência do público-alvo sobre atividades e temas que exercem um impacto benéfico na comunidade e no meio ambiente. Através da implementação de programas de educação ambiental em uma instituição não governamental de Passo Fundo, o projeto aspirava a fomentar o desenvolvimento de uma mentalidade ecológica nos participantes, ancorada nos princípios da sustentabilidade.
A metodologia empregada revelou-se eficaz e adaptável, embora tenha sido notado, desde o início das atividades, a necessidade de ajustes e modificações personalizadas de acordo com as características específicas de cada grupo. Essa abordagem flexível permitiu que os as crianças, adolescentes e familiares, adquirissem um entendimento mais profundo sobre o ambiente em que estão inseridos, bem como sobre os desafios e estratégias relacionados à preservação ambiental. O projeto teve como meta transformar o método tradicional de ensino em uma experiência de aprendizado mais envolvente e gratificante, incentivando as crianças a desenvolverem um raciocínio crítico e uma postura proativa diante das questões ambientais.
Entre os desafios identificados durante a execução do projeto, um dos mais notáveis foi o aparente desinteresse manifestado por um grupo de adolescentes. Este comportamento foi observado não apenas nas atividades relacionadas ao projeto em questão, mas também em uma ampla gama de outras iniciativas promovidas tanto pelas coordenadoras quanto pela instituição como um todo. Outro desafio foi que algumas sugestões para melhorias relacionados a infraestrutura da instituição, dependiam de aporte financeiro. Considerando que é uma ONG que se mantém de doações, fica muito difícil priorizar recursos financeiros para tais questões.
Por outro lado, é digno de nota que a grande maioria do público, das crianças, demonstrou uma atitude bastante positiva, participando ativamente e mostrando entusiasmo pelas tarefas propostas. Esse comportamento engajado pode estar intrinsecamente ligado ao interesse despertado pelos temas abordados no projeto, sugerindo que a escolha de conteúdos relevantes e estimulantes pode ser um fator crucial para capturar e manter a atenção dos envolvidos.
A partir dessas observações, torna-se evidente a importância de promover reflexões mais profundas sobre os assuntos tratados, especialmente aqueles relacionados à sustentabilidade. É essencial que os indivíduos desenvolvam uma consciência mais aguçada sobre questões ambientais e compreendam a necessidade urgente de adotar práticas sustentáveis. Ao fazer isso, não apenas contribuímos para a construção de um futuro mais limpo e promissor para as gerações vindouras, mas também nos transformamos em cidadãos mais responsáveis e conscientes do nosso impacto no planeta.
O projeto Conectar não apenas ofereceu contribuições significativas para a comunidade externa, mas também desempenha um papel fundamental no enriquecimento da experiência educacional dos estudantes bolsistas e voluntários que participam. Ao envolver esses acadêmicos em iniciativas de extensão vinculadas ao Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, o projeto promove a integração de conhecimentos práticos e teóricos. Isso é alcançado através da adoção de métodos didáticos e pedagógicos inovadores, que estimulam uma abordagem mais interativa e reflexiva ao aprendizado. Além disso, o projeto facilita um intercâmbio valioso de experiências, permitindo que os alunos compartilhem insights e aprendizados com a sociedade como um todo.
Nos encontros realizados, vários voluntários expressaram como o projeto impactou suas trajetórias acadêmicas e pessoais de maneira única. Embora essas influências sejam profundas, elas são de natureza qualitativa e, portanto, desafiam a quantificação tradicional. No entanto, reconhece-se a importância de medir esses efeitos de forma mais objetiva. Por isso, sugere-se que pesquisas futuras incluam a implementação de questionários estruturados que possam fornecer dados quantitativos. Esses dados ajudariam a avaliar o alcance e a profundidade do impacto do projeto nos participantes, oferecendo uma perspectiva mais abrangente sobre a transformação vivenciada pelo público envolvido.
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¹Discente do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade de Passo Fundo Campus I Passo Fundo. e-mail: 169096@upf.br
²Docente do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade de Passo Fundo Campus I Passo Fundo. Doutor em Engenharia (CNPq/UFRGS). e-mail: cleomar@upf.br