TEORIA FUNDAMENTADA EM DADOS E O CIBERESPAÇO COMO CAMPO DE COLETA: O PERCURSO METODOLÓGICO DIANTE DA ABORDAGEM DOS DILEMAS DA TRAJETÓRIA CONCEPTIVA E DAS NOVAS TECNOLOGIAS REPRODUTIVAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506131735


Laura Monteiro Lubanco1
 Maressa Tavares Pessanha2


RESUMO 

O presente artigo tem como objetivo discutir a aplicação da Teoria Fundamentada em  Dados (Grounded Theory) como estratégia metodológica na investigação de dilemas  contemporâneos relacionados à trajetória conceptiva e às novas tecnologias  reprodutivas, com ênfase no ciberespaço como campo legítimo de coleta de dados. A  pesquisa parte do reconhecimento de que os espaços digitais — redes sociais, fóruns,  blogs e plataformas de compartilhamento — configuram novos territórios de produção  discursiva e interação social, onde sujeitos compartilham experiências, dúvidas e  posicionamentos sobre reprodução assistida, maternidade, bioética e decisões  reprodutivas. O estudo detalha o percurso metodológico adotado, desde a definição  do problema e construção teórica inicial até os processos de codificação aberta, axial  e seletiva, ressaltando os desafios éticos e epistêmicos envolvidos na coleta e análise  de dados em ambientes virtuais. Conclui-se que a articulação entre a Grounded  Theory e o ciberespaço como locus de investigação oferece caminhos inovadores  para a compreensão da complexidade dos dilemas conceptivos em tempos de  medicalização e digitalização da vida reprodutiva, permitindo uma abordagem  sensível às construções sociais emergentes e às múltiplas vozes que habitam o  universo online. 

Palavras-chave: Teoria fundamentada em dados; ciberespaço; dilemas conceptivos

1. INTRODUÇÃO 

A metodologia é um caminho possível para a pesquisa científica, uma forma de  pensar sobre a realidade social e estudá-la, sendo o fator determinante do trajeto o  problema a ser trabalhado: só se escolhe o percurso a ser seguido quando se sabe  aonde quer chegar. Assim, torna-se imprescindível a definição, num primeiro  momento, daquilo que será estudado – objeto de estudo – para posteriormente optar se pela abordagem metodológica.  

A partir das questões sociais, psicológicas e emocionais que englobam a  infertilidade, como a quebra das expectativas socialmente construídas relacionadas  aos referenciais de masculinidade e feminilidade, as limitações ao que concerne à  ideia de dar uma continuidade à própria existência através de um filho biológico e a  impossibilidade de exercer os papeis de pai e mãe através de métodos naturais (Oria;  Ximenes, 2004; Montagnini, 2009; Leite e Henriques, 2014), concatenadas aos  dilemas que permeiam a busca e a submissão às tecnologias conceptivas como meio  de realizar o desejo de conceber, vislumbrou-se um relevante objeto a ser investigado  com maior profundidade. 

Importante ressaltar que o processo de reprodução assistida pode apresentar grande impacto na vida da mulher, não apenas ao que tange à instabilidade de ordem  psicossocial relacionada à própria necessidade de passar pelo tratamento conceptivo  na tentativa de contornar o diagnóstico temporário ou definitivo de infertilidade  (Montagnini, 2009), mas também ao que se refere à manipulação médico-cirúrgica e  medicamentosa que recai essencialmente sobre o corpo feminino (Batista et al, 2016).  Os traumas físicos que fazem parte do processo da FIV levantam questões críticas  sobre o controle do corpo feminino e as relações de poder no contexto da reprodução  assistida. 

Nesse cenário, optamos pela abordagem do tema a partir de um enfoque  feminino, sob a perspectiva de mulheres que tentam ter filhos com a ajuda de novas  tecnologias reprodutivas e vivenciam os dilemas de passar pelos processos da  fertilização in vitro.  

Paralelamente, o espaço virtual tem se apresentado como um campo seguro  em que mulheres, com a identidade preservada, relatam sua trajetória conceptiva  através da fertilização in vitro e fornecem informações que dificilmente seriam  compartilhadas no espaço offline. Elas têm encontrado nas redes virtuais um espaço  para buscar informações, compartilhar experiências, dividir angústias e segredos,  além de quebrar o silêncio que permeia a infertilidade e o uso de reprodução assistida,  demandas inseridas em uma esfera íntima e, por vezes, secreta. Portanto, estender a  investigação para o ciberespaço se faz necessário.  

Os espaços online emergiram como locais de comunicação e troca para  mulheres que passam pelo processo de FIV. Fóruns, redes sociais e blogs se tornaram  plataformas importantes onde essas mulheres compartilham suas experiências,  desafios e conquistas, formando comunidades de apoio virtual. A interseção entre esses espaços virtuais e o campo da pesquisa sociológica oferecem uma oportunidade  fascinante para explorar como as tecnologias digitais estão moldando as narrativas e  as redes de apoio das mulheres que vivenciam a FIV, assim como para compreender  os desdobramentos sociais, psicológicos e culturais desse fenômeno em evolução. 

Nesse cenário, para a condução do estudo adotou-se uma abordagem  metodológica que busca compreender as experiências de mulheres que passaram  pelo processo de fertilização in vitro (FIV) sob uma ótica sociológica. Nosso principal  ponto de observação consiste em relatos disponíveis em um blog online no qual mulheres compartilharam suas experiências pessoais com a FIV. O uso de relatos de  mulheres em um blog como fonte de dados é uma escolha metodológica  fundamentada na ideia de que esses espaços virtuais fornecem uma plataforma na qual as pessoas podem expressar livremente suas vivências, sentimentos e  percepções sobre questões que englobam um processo de reprodução humana  assistida. 

Assim, delimitamos como objeto de observação as trajetórias conceptivas  compartilhadas no ambiente web, sendo a trajetória conceptiva compreendida aqui  pelas experiências vivenciadas por mulheres que tentam engravidar através da  reprodução assistida, mais especificamente por meio de técnicas de fertilização in  vitro, e relatam suas vivências de maneira livre e espontânea, compartilhando-as em  um blog. 

A escolha de relatos de trajetórias de fertilização in vitro compartilhados em um  blog como objeto de pesquisa é justificada pela oportunidade de explorar suas  dimensões discursivas. Ao investigar a forma como as histórias são construídas e  compartilhadas, poderemos compreender como a linguagem é usada para comunicar  e processar as experiências com a FIV. Isso nos permitirá analisar como os  significados são atribuídos à infertilidade e a diversas questões que englobam o  processo de reprodução humana assistida, bem como examinar as implicações  sociais e culturais associadas a essas construções narrativas. 

Sob essa ótica, insights valiosos podem ser obtidos a partir dessas narrativas  pessoais, fornecendo um olhar aprofundado sobre as experiências individuais e  coletivas da FIV, permitindo uma compreensão mais abrangente dos desafios  emocionais, psicológicos e sociais enfrentados por aqueles que se submetem a esse  tratamento. Ao analisar esses relatos, poderemos contribuir para o conhecimento  acadêmico, clínico e sociológico relacionado à FIV.

Ademais, os relatos da trajetória com a FIV disponibilizados em um blog  representam uma forma de conhecimento compartilhado, permitindo que outras  pessoas em situações semelhantes se identifiquem, encontrem apoio e troquem  informações. Ao analisar esses relatos, temos a oportunidade de entender melhor  como os indivíduos constroem significados em torno da experiência com o  procedimento, quais estratégias de enfrentamento são adotadas e como as interações  sociais influenciam nessa jornada. A escolha de um blog como campo de coleta de  dados apresenta vantagens significativas para investigar o tema à medida que esses  espaços virtuais oferecem acesso a experiências autênticas e diversificadas,  permitindo uma compreensão mais aprofundada dos aspectos que envolvem a  jornada com a fertilização in vitro. 

Este trabalho busca identificar métodos capazes de analisar e contextualizar  essas questões complexas, oferecendo uma visão abrangente da relação entre a  fertilização in vitro, a maternidade sob uma ótica sociológica e os espaços online como  locais de interação e pesquisa para mulheres que enfrentam esse desafio singular. 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

Por definição, a grounded theory é uma metodologia geral usada no  desenvolvimento de uma teoria fundada em dados sistematicamente coletados e  analisados. É o campo e sua observação que vão fornecer as hipóteses e auxiliar na  delimitação do problema e construção da teorização. Assim, é o objeto empírico que  possibilita a criação da teoria.  

Essa abordagem é interessante porque permite focar inicialmente nos dados,  libertando da necessidade de criar um referencial teórico a priori e da obrigação de  criar hipóteses e questões de pesquisa antes de ir a campo. Dessa forma, apresenta  um modo de iniciar um trabalho de pesquisa a partir de uma questão fundamental,  com uma abordagem indutiva, que busca deixar que os dados “falem por si” (Fragoso  et al, 2011).  

A proposta da teoria fundamentada valoriza a experiência empírica e, por  conseguinte, proporciona uma forma única de perceber a emergência da teoria a partir  dos dados. Adotar a grounded theory é se permitir construir ciência a partir do desejo  de explorar, em sua complexidade, uma área ou objeto empírico desconhecido, sem  se restringir a poucas variáveis ou a uma pergunta de pesquisa preestabelecida. 

É uma metodologia que propõe ir a campo sem uma hipótese fixa preliminar.  Os problemas de pesquisa e as hipóteses decorrem do empírico, e as questões focam  na compreensão de como os indivíduos experimentam o processo e na identificação dos passos no processo (Creswell, 2014).  

Na mesma esteira, a amostra observada não se forma a priori, mas no decorrer  da pesquisa, seguindo as lacunas da teoria emergente, recolhendo informações dos  sujeitos e do contexto. A amostragem teórica depende dos problemas analíticos  enfrentados e a percepção do que é mais importante emerge do contato com o campo,  reforçando a coleta e a análise de dados como alicerces (Tarozzi, 2020). 

A compreensão da ação no empírico se dá através da experiência de indivíduos  sobre um determinado fenômeno, assim, interpretações teóricas são buscadas a partir  da perspectiva do próprio agente. Todos os participantes do estudo devem ter  experimentado o processo, ou seja, o desenvolvimento da teoria é gerado ou  “fundamentado” em dados dos participantes que vivenciaram o fenômeno (Creswell,  2014).  

Importante salientar que para a construção da teoria fundamentada não há  restrição de métodos de captação de informações. Um processo com diferentes fases  é observado a partir de métodos variados e busca-se compreender e interpretar a  realidade dos sujeitos que o vivenciam. Para tanto, a grounded theory abarca diversas  técnicas de coleta de dados, como observações, entrevistas, documentos e o que  mais permitir reunir informações suficientes para desenvolver integralmente, ou  saturar, o modelo (Strauss; Corbin, 1997).  

A teoria fundamentada abarca também a ação do pesquisador como parte do  processo de formação da teoria, pois é a partir de sua percepção subjetiva que os  dados são coletados e emergem, além de deter a responsabilidade ulterior de  interpretar aquilo que é observado. O pesquisador vai a campo sempre aberto e atento  ao que virá, coleta os dados, codifica, estabelece categorias, interpreta e relata o  processo, até que o problema seja saturado. Tudo isso de forma circular, não  necessariamente obedecendo a essa ordem e podendo retornar ao passo anterior  quantas vezes forem necessárias (Bittencourt, 2017). Não existem percursos  metodológicos prontos, sendo a individualidade do pesquisador elemento importante  a ser considerado na produção da pesquisa.  

A coleta bem como a constante comparação e análise sistemáticas dos dados  permitem, ao final do processo, desenvolver a teoria. Este trabalho interpretativo fundamenta-se nas concepções dos sujeitos da pesquisa. Portanto, ao adotar a  grounded theory como abordagem metodológica e ao construir a teoria com base no  empírico, estamos dando voz aos agentes estudados e identificando seus anseios. 

Assim, a adoção da Teoria Fundamentada em Dados como abordagem  metodológica se revela como um arcabouço analítico apropriado para a compreensão  aprofundada das experiências de mulheres que compartilham seus relatos sobre  fertilização in vitro (FIV) em um blog e justifica-se pela sua capacidade de fornecer  uma estrutura flexível e orientada pelos dados, permitindo que os temas e conceitos  emergentes sejam desenvolvidos a partir dos próprios relatos das mulheres, em vez  de serem impostos de antemão pela teoria existente. 

Tal questão é particularmente relevante, dado que as experiências com a  fertilização in vitro são multifacetadas e podem variar significativamente de uma  pessoa para outra. O uso da Grounded Theory se alinha com os objetivos desta  pesquisa de explorar as narrativas das mulheres e entender os significados atribuídos  a suas experiências, destacando suas preocupações, expectativas, desafios e  emoções em relação à trajetória da fertilização in vitro. A abordagem da TFD, portanto,  se mostra adequada para capturar a complexidade e a riqueza das narrativas das  mulheres sobre a FIV, contribuindo assim para uma compreensão mais aprofundada  das dimensões sociológicas envolvidas nesse contexto. 

Em resumo, a teoria fundamentada em dados configura-se como uma  abordagem valiosa para analisar e compreender questões que englobam a  experiência de tentar engravidar com o auxílio de novas tecnologias reprodutivas,  mais especificamente o procedimento de fertilização in vitro, contribuindo para o  avanço do conhecimento multidisciplinar nessa área.  

3. RESULTADOS 

Um estudo teórico fundamentado acerca de relatos de trajetórias pessoais que  englobam a vivência com a fertilização in vitro demanda uma intensa sistematização  da coleta, análise e interpretação dos dados, que envolve a aplicação de técnicas e  estratégias pré-estabelecidas que atuam como um norte analítico, como a codificação  das informações, a redação de memorandos e organização dos dados observados  segundo um conjunto específico de propriedades e dimensões.

Ao estudar os primeiros relatos foi dado início a um processo de separação,  classificação e sintetização por meio da codificação qualitativa, em que marcos  relevantes foram delimitados e refinados para assim estabelecermos comparações  com outros segmentos. Esses códigos e as ideias acerca deles indicam áreas a serem  investigadas durante a coleta de dados subsequente (Charmaz, 2009).  

A redação de anotações analíticas preliminares sobre os códigos e  comparações estabelecidos bem como outras informações que se deram sobre os  dados deram origem aos chamados memorandos. A partir do estudo e comparação  dos dados e da redação dos memorandos, é possível definir ideias que melhor se  ajustam e interpretam informações como categorias analíticas provisórias (Charmaz,  2009).  

Vale ressaltar que a produção de memorandos é um estágio intermediário  essencial durante a coleta de dados e o desenvolvimento dos relatos de pesquisa na  teoria fundamentada, pois proporciona o envolvimento na análise e o exame contínuo  de códigos, que ao serem visualizados, podem destacar-se e assumirem a forma de  categorias. Os memorandos captam pensamentos e conexões e apontam para  questões a serem buscadas e direções a serem seguidas, estabelecendo a próxima  etapa lógica depois de definir as categorias. Sua elaboração não requer métodos  rigorosos e normas precisas. A partir deles, as categorias são fragmentadas e  reorganizadas e ajudam a esclarecer e a direcionar a codificação subsequente  (Charmaz, 2009). 

Durante essa etapa, surgem ideias novas e novos insights no ato da escrita,  que facilitam a elaboração de códigos focais e notas analíticas que explicam e  preenchem categorias. Tais estratégias permitem uma maior concentração na análise  das experiências e o desenvolvimento de uma teoria original que interpreta os dados  ao entrar na esfera de vida das mulheres que relatam sua experiência acerca da  trajetória da fertilização in vitro. 

A observação dos dados demonstra sua relevância à medida que apresenta  informações acerca dos sujeitos e dos processos que envolvem a reprodução humana assistida, além de descrições detalhadas das ações dos atores, revelando aquilo que  existe sob a superfície e apresentando as mudanças ao longo do tempo. 

A abordagem da teoria fundamentada enfatiza a simultânea coleta e análise de  dados, o que nos propicia flexibilidade para adaptar e remodelar a coleta de dados à  medida que novas informações vão surgindo. Desse modo, o estudo dos dados instiga a descobertas de novas nuances e significados de experiências, ações e interações  dos atores da pesquisa, bem como determina as direções que devemos seguir. A análise de dados não é um procedimento estruturado, estático ou rígido, mas  sim um processo fluido e dinâmico, num complexo movimento de ir e vir. Há uma  constante interação entre os dados e a pesquisadora, que está a todo o momento  trabalhando e reagindo às informações. Os fatos, ações e resultados são  conceituados e classificados, sendo as categorias que surgem as bases para o  desenvolvimento da teoria. 

O primeiro passo aplicado para a construção da teoria é a  conceitualização/codificação, ou seja, a rotulação de um fenômeno, fato, experiência,  ação/interação. Para que conceitos fossem revelados, nomeados e desenvolvidos, foi  imprescindível abrir o texto e expor pensamentos, ideias e significados que ele  contém. O objetivo da codificação do fenômeno é permitir que o pesquisador agrupe  objetos similares, sob um único tópico ou classificação comum. Os fenômenos com  características comuns foram agrupados sob um mesmo conceito, permitindo que  eventos diversos com propriedades reconhecíveis recebessem uma codificação  comum.  

À medida que começam a se acumular, experiências, acontecimentos,  ações/interações conceitualmente similares em natureza ou significado podem ser  agrupados ainda sob conceitos mais abstratos, as categorias. Agrupar conceitos em  categorias é importante porque permite reduzir o número de unidades trabalhadas.  

As categorias são descobertas nos dados e desenvolvidas em termos de  propriedades e dimensões que representam os fenômenos, e foram aqui nomeadas  como aquilo que parece ser o descritor mais lógico do que está acontecendo (Strauss;  Corbin, 2008).  

As categorias analíticas e as relações delas extraídas fornecem um instrumento  conceitual sobre a experiência estudada e nos leva a uma “teoria fundamentada”, ou  seja, uma compreensão teórica sobre o processo percorrido durante a trajetória  conceptiva com a fertilização in vitro e os sentimentos e impressões das mulheres que  relataram suas vivências. 

Os dados passam também por um processo de codificação axial, que consiste  no reagrupamento dos dados que foram divididos. “É chamado de axial o processo de  relacionar categorias e subcategorias” (Strauss; Corbin, 2008, p. 123). Conforme  Charmaz (2009), a codificação axial específica as propriedades e as dimensões de uma categoria e tem como objetivo a classificação, síntese e organização de grandes  montantes de dados, reagrupando-os de novas formas. Ao passo que a codificação  inicial fragmenta os dados, a codificação axial os recompõe de forma coerente,  refletindo suas conexões. Strauss e Corbin (2008) preconizam que, apesar da  codificação axial ser o meio que auxilia o pesquisador a realizar a integração das  categorias, sua finalidade não é obter termos, mas sim explicar e entender fenômenos  experimentados pelos atores estudados. 

Por fim, as categorias sofrem ainda um processo de codificação seletiva,  processo de integrar e refinar as categorias, em que o elemento essencial é a  interrelação das categorias em um esquema teórico maior. Foram realizadas  codificações seletivas a fim de representar o conjunto de ideias, valores e sentimentos  manifestados nos relatos, que contribuem para compreender melhor o que  expressaram e para permitir a visualização dos elementos analíticos com que se  trabalha. Aqui se concentra parte do trabalho criativo de pesquisa, fundamentado em  conhecimento envolvendo raciocínios indutivos: parte-se do particular (um ou vários  enunciados) e chega-se a algo mais abstrato e geral (a nominação/codificação deste  conjunto).  

Essa integração é um processo contínuo que ocorre ao longo da interação entre  análise e dado. É a fase em que os dados começam a “tomar forma” de teoria. Após  serem reduzidos a conceitos e categorias, são utilizados para explicar como se dá um  determinado fenômeno (Cassiani et al, 1996).  

A partir do conhecimento das operações básicas apresentadas e do conjunto  de ferramentas analíticas oferecidas é possível iniciarmos o processo de construção  da teoria fundamentada, um conglomerado de categorias bem elaboradas a partir de  dados coletados, analisados e interpretados, que são sistematicamente  interrelacionadas e formam uma estrutura teórica capaz explicar fenômenos  relevantes, fornecendo, assim, diretrizes para ação. As etapas são flexíveis, dinâmicas  e simultâneas, postas em prática a partir da entrada no campo investigado. 

Para a escolha do campo inicialmente foram estabelecidos critérios de seleção  estratégicos a fim de identificar os blogs mais adequados para o estudo. Foram  identificados, com o auxílio de mecanismos de busca e redes sociais, blogs contendo  relatos de mulheres que passaram pelo processo de FIV.  

Frequência de postagem, maior detalhamento das experiências, variedade de  tópicos abordados e autenticidade dos relatos, além de uma amostra diversificada em termos de idade, classe social, e localização geográfica das autoras foram os fatores  preponderantemente considerados. Blogs com atualizações constantes também  foram priorizados a fim de obter informações mais recentes e relevantes. Assim,  chegamos ao nosso campo de coleta. 

Nestes termos, de modo mais específico, o campo de coleta dos relatos de  trajetórias conceptivas que vêm a ser o objeto de análise, é o blog FIVA, mais  precisamente a seção Navegar nas histórias, onde é possível compartilhar e ler sobre  experiências de mulheres que tentam engravidar e se submetem a procedimentos de  reprodução humana assistida.  

O espaço foi criado por uma mulher que se descreve como uma tentante de 38  anos que caiu de paraquedas no mundo da fertilização in vitro e durante o processo,  repleta de dúvidas, emoções e altos e baixos, pesquisava muito online buscando  informações sobre clínicas, custos, etapas, orientações sobre o que fazer, o que não  fazer, o que evitar e como proceder. Assim, a Fiva nasce da vontade de compartilhar  tudo isso com outras e novas tentantes, formando uma rede de apoio e comunicação3.  

Nesse ambiente, há uma coleção de relatos pessoais de mulheres que se  submeteram ao procedimento da fertilização in vitro. O primeiro compartilhamento de  relato da vivência com a FIV se deu em 23 de julho de 2022. Foi identificado até o  mês de abril de 2023 um total de 173 relatos pessoais de trajetórias conceptivas  disponíveis para acesso na seção Navegar nas histórias no blog FIVA, que foram  sistematicamente arquivados a fim de evitar a perda de informações em razão de  eventual impossibilidade de acesso ao ambiente virtual em que se encontram.  

Ademais, o blog atua, ainda, como uma fonte de informações que objetiva  garantir o acesso ao conhecimento acerca da reprodução assistida e sobre métodos  conceptivos a partir de artigos desenvolvidos por especialistas4.  

Logo, tem-se que a relevância do blog FIVA, o volume de depoimentos das  trajetórias conceptivas e a riqueza de dados e detalhes descritos nos relatos foram  fatores decisivos para a escolha do campo. No blog FIVA foram encontrados 173 relatos de trajetórias conceptivas e  experiências com o processo de fertilização in vitro que datam de julho de 2022 a abril de 2023. Todos os 173 relatos acerca da trajetória conceptiva foram sistematicamente  armazenados a fim de serem analisados e individualmente explorados. O arquivamento dos dados foi realizado por meio do mecanismo de “copiar e  colar” o conteúdo do site em um processador de textos. O processo de arquivamento se deu até o dia 10 de abril de 2023. A partir desse momento, os dados começaram a  ser coletados e analisados simultaneamente.

Os relatos coletados foram lidos, relidos e submetidos a uma análise temática,  que envolveu a identificação de padrões, categorias e relações entre os dados,  permitindo um exame aprofundado das complexas interações socioculturais  envolvidas na experiência da FIV, em que temas e padrões emergentes foram  identificados. Tais temas e padrões incluíam questões de acesso aos tratamentos de  FIV, as implicações psicossociais da terapêutica, as percepções sociais sobre a  infertilidade, bem como as dinâmicas de gênero e poder envolvidas nos processos de  tratamento. 

A partir dessa primeira avaliação, os dados foram submetidos a um exame  qualitativo utilizando métodos de codificação e categorização, observando pré categorias analíticas estabelecidas bem como formulando novas categorias quando  necessário. Em seguida, foram agrupados de acordo com as experiências  compartilhadas, possibilitando a identificação de fatores comuns que influenciaram a  jornada da FIV. Então, foi possível definir uma amostra em que foram selecionados 40 relatos para serem explorados com maior profundidade, descartando os demais. 

Algumas estratégias utilizadas na escolha dos relatos a serem analisados com  maior profundidade incluem a variedade de experiências, com o intuito de obter uma  compreensão abrangente da diversidade de vivências na fertilização in vitro; a  cobertura das categorias e subcategorias, a fim de garantir que os relatos escolhidos  englobem as diferentes nuances identificadas acerca do tema durante a análise,  incluindo a seleção de relatos que exemplificam os principais questões e padrões  emergentes, fornecendo uma compreensão aprofundada das diversas dimensões da  experiência de fertilização in vitro; bem como a relevância e a representatividade da  amostra, optando por nos aprofundar naqueles relatos considerados expressivos ao  que tange à capacidade de ilustrar as principais demandas e desafios enfrentados  pelos participantes.  

A interrupção do processamento de novas observações e o recrutamento de  novos participantes aqui é dado pelo mecanismo de amostragem por saturação teórica: interrompe-se a coleta de dados quando se constata que elementos novos  para subsidiar a teorização almejada (ou possível naquelas circunstâncias) não são  mais depreendidos a partir do campo de observação. 

A saturação teórica é um conceito utilizado na metodologia da teoria  fundamentada em dados (Grounded Theory) para determinar a adequação e a  completude das categorias teóricas. No contexto dos relatos de fertilização in vitro, a  saturação teórica ocorre quando não surgem mais informações ou novos insights  relevantes a partir da análise dos relatos, indicando que as categorias emergentes  foram suficientemente exploradas. 

Tal técnica pode ser compreendida como a fase ou ponto da análise de dados  qualitativos em que o investigador, decorrente da amostragem e análise de dados,  constata que não surgem fatos novos e que todos os conceitos da teoria estão bem  desenvolvidos (Ribeiro et al, 2018). Conceitos que formam a teoria são identificados  e delineados até o momento em que não é mais necessário qualquer dado adicional.  Bem como, casos negativos são identificados, verificados, saturados e incorporados  ao esquema teórico (Morse, 2004). O ponto em que não surgem novas informações,  categorias ou temas finda o ciclo de recolha e análise de dados. Portanto, o fechamento  amostral por saturação teórica corresponde à suspensão da inclusão de novos dados  quando as informações coletadas passam a apresentar, na avaliação do pesquisador,  certa redundância ou repetição. 

Há um debate de que os dados nunca alcancem uma saturação real, seja  porque há sempre algo novo a ser interpretado por diferentes investigadores, seja  porque podem existir novas dimensionalidades teóricas que remetem para diferentes perspectivas e utilidade da análise (Ribeiro et al, 2018). No entanto, é necessário que  haja um marco para a finalização da coleta e análise de dados da pesquisa à medida  que existem limites inerentes ao trabalho que precisam ser respeitados, sendo a  redundância e a repetição fatores que podem balizar o período final de tais processos  e que foram aqui aplicados, interrompendo a coleta e a análise de informações. 

No caso dos relatos de fertilização in vitro aqui analisados, a saturação teórica  é alcançada quando as categorias e subcategorias emergentes capturam de forma  abrangente os principais aspectos da experiência dos participantes. Isso significa que  as categorias identificadas abordam os principais temas emocionais, financeiros,  físicos e sociais relatados pelos participantes, e não há novas informações substanciais sendo adicionadas ao entendimento geral da experiência de fertilização  in vitro. 

É importante ressaltar que a saturação teórica não implica que não haja mais  informações a serem obtidas, mas sim que a análise atingiu um nível de profundidade  e abrangência satisfatório para o objetivo do estudo. A saturação teórica indica que as  categorias emergentes foram fundamentadas nos dados e fornecem uma base sólida  para a compreensão da experiência de fertilização in vitro, permitindo a generalização  dos resultados para a população estudada. 

Desse modo, em suma, do total dos 173 relatos identificados e explorados no  blog FIVA, durante o período da coleta de dados, que se deu entre julho de 2022 a  abril de 2023, foram selecionados 40 trajetórias compartilhadas para serem  analisadas com maior profundidade, tendo em vista que tal contingente foi capaz de  capturar de forma abrangente os principais aspectos da experiência dos participantes,  alcançando a saturação teórica, à medida que a análise dos relatos já não resulta em  novas ideias ou informações, e as categorias identificadas estão consolidadas e  abrangem a gama de experiências relatadas. 

Ao atingir a saturação teórica, os relatos foram revisados, sendo identificados  e escolhidos aqueles que melhor ilustram as categorias e subcategorias emergentes,  buscando incluir uma variedade de trajetórias que representam diferentes  perspectivas envolvidas no processo e na vivência da FIV, como experiências  emocionais, desafios financeiros, impactos físicos, psicológicas e interações sociais. 

Nessa esteira, a seleção da amostra representativa abrange a diversidade das  experiências relatadas pelos participantes, enquanto leva em consideração a  adequação e a completude das categorias teóricas identificadas. Assim, os relatos podem refletir as experiências compartilhadas de forma clara e significativa. 

Os relatos, minuciosamente selecionados, abordam os principais temas  emocionais, financeiros, físicos e sociais vivenciados pelos participantes, e não há  novas informações substanciais sendo adicionadas ao entendimento geral da  experiência de fertilização in vitro, permitindo o fornecimento uma base sólida para a  compreensão da experiência de fertilização in vitro, permitindo, portanto, a  generalização dos resultados para a população estudada. 

4. DISCUSSÃO

O conhecimento científico é uma busca de articulação entre a realidade  empírica e a teoria, sendo a técnica empregada o fio condutor para se formular esta  articulação. Para Creswell (2021), a escolha da técnica utilizada deve basear-se no  problema de pesquisa e no nível de aprofundamento demandado por ele.  Considerando a profundidade demandada pela problemática estabelecida, a opção  por uma estratégia de investigação predominantemente qualitativa mostra-se  adequada como meio de alcançar o fim almejado pela pesquisa em voga: capturar o  significado dos eventos da vida real, na perspectiva dos atores do estudo, dando-lhes  voz. 

Na técnica qualitativa o pesquisador tenta estabelecer o significado de um fato  ou experiência a partir do ponto de vista dos participantes, sendo sua preocupação  não com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o  aprofundamento necessário para a compreensão do fenômeno (Goldenberg, 2011). 

A pesquisa qualitativa envolve o estudo do significado das vidas das pessoas  nas condições em que realmente vivem, desempenhando seus papéis cotidianos ou  se expressando por meio de seus próprios diários, registros, textos e até fotografias,  e não sendo representadas por médias estatísticas. É uma atividade que localiza o  observador no espaço e consiste em um conjunto de práticas materiais e  interpretativas que transformam o universo visível em uma série de representações e  constrói uma realidade a partir da percepção de diferentes atores (YIN, 2016). 

Assim, aqui a ênfase encontra-se na compreensão das perspectivas,  significados e emoções dos participantes que vivenciaram experiências com a  fertilização in vitro. 

Os dados qualitativos são classificados por temas, conceitos, e/ou teorias,  identificados e sintetizados a partir das descrições detalhadas de experiências e  processos sociais compartilhados pelos participantes, selecionados propositalmente  pelas suas experiências com relação ao fenômeno de interesse (Driessnack et al,  2007). 

Nessa configuração, envolve uma abordagem interpretativa do mundo. Isso  significa que os pesquisadores qualitativos estudam acontecimentos dentro dos seus  contextos naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos  significados que as pessoas lhes atribuem (Creswell, 2014). 

Assim, tem-se que o processo de pesquisa é indutivo ao invés de dedutivo, e  começa com objetivos exploratórios mais amplos que fornecem foco para o estudo sem esvaziar prematuramente aspectos da experiência que possam ser relevantes  (Gil, 2002). 

Os relatos de trajetórias conceptivas através da fertilização in vitro  compartilhados no blog FIVA Web são o ponto de partida para a observação e coleta dos dados. 

Por serem relativamente novas, pesquisas no ambiente virtual ainda carecem  de teorias que consigam compreendê-las em sua amplitude e diversidade. No entanto,  as possibilidades de abordagens metodológicas são potencializadas, revelando uma  fonte privilegiada para coleta e construção dos dados. Neste processo, considerar as  subjetividades e as perspectivas culturais possibilita a profundidade da análise. 

Inquietações surgem da observação do campo, não sendo diferente ao  observar um blog enquanto espaço de pesquisa. Esse aspecto torna a teoria  fundamentada particularmente interessante como conduta metodológica para  observação de um locus onde há uma profusão de dados para coleta e um pequeno  corpo teórico (Bittencourt, 2017).  

Ademais, a abordagem qualitativa exige a utilização de uma metodologia  sistemática, e “os métodos da teoria fundamentada têm a vantagem adicional de  conter diretrizes explícitas, as quais nos indicam a forma como devemos proceder”  (Charmaz, 2009, p. 15).  

À medida que a grounded theory propõe a simultaneidade entre os processos  de coleta e análise das informações, permite que a teoria emerja do empírico. Dessa  forma, configura-se como um aporte metodológico capaz de servir aos anseios de  quem deseja desenvolver estudos a partir de dados advindos do espaço virtual,  sendo, assim, a abordagem de escolha para o desenvolvimento do estudo em voga. 

A teoria fundamentada em dados (ou Grounded Theory) é uma abordagem de  pesquisa qualitativa que visa desenvolver teorias com base nos dados coletados e  analisados de forma sistemática. Essa abordagem é amplamente utilizada em várias  áreas, incluindo as ciências sociais e a saúde. 

Tal proposta metodológica nasceu de uma forma indutiva de realizar pesquisa,  procurando diretamente no campo empírico as bases para a teorização, que emergem  a partir de observações e classificações sistemáticas dos dados. Assim, a grounded  theory contribui, segundo Glaser e Strauss (1967), para fechar a embaraçosa fenda  entre teoria e pesquisa empírica.

5. CONCLUSÃO 

A fertilização in vitro é um processo complexo e emocionalmente intenso para  os casais que estão passando por ele (Montagnini et al., 2009). Muitos indivíduos  encontram conforto e suporte ao se conectar com outros que compartilham  experiências semelhantes. 

Nesse contexto, com o avanço da tecnologia e o acesso generalizado à  internet, a presença online se tornou uma parte significativa da vida cotidiana das  pessoas. O ciberespaço configura-se como um importante sítio de organização de  grupos sociais e vem sendo utilizado como um local de confissões e debates de  questões vivenciadas no “mundo real”, como é o caso da tentativa de engravidar com  o auxílio de métodos de reprodução assistida (Moedas et al., 2010).  

Os blogs, em particular, surgiram como uma forma popular de compartilhar  experiências pessoais, fornecer informações e buscar apoio e informações em  comunidades virtuais. Assim, os blogs que abordam a fertilização in vitro se tornaram  um espaço valioso para que pessoas, sobremaneira mulheres, que estão vivenciando  essa jornada expressem suas emoções, compartilhem suas histórias e obtenham  informações e acolhimento, representando uma fonte rica e acessível de narrativas  pessoais, onde é possível expressar vivências, emoções e desafios ao que concerne  à FIV. 

A partir desse modelo de plataforma on-line é possível ter acesso a uma ampla  variedade de histórias e perspectivas relacionadas à FIV e obter uma amostra  diversificada de relatos, abrangendo diferentes contextos socioculturais, idades,  orientações sexuais e experiências médicas. Essa autenticidade e riqueza de  informações a partir do compartilhamento de emoções vivenciadas, desafios  enfrentados e estratégias de enfrentamento adotadas oferecem insights valiosos para  a pesquisa. 

A opção por um ambiente virtual como locus da pesquisa se deu pelo fato das  interações mediadas por computador oferecem novas oportunidades para expressar  comportamentos não tão facilmente revelados por interações face a face, ainda que  um dos fatores fundamentais que encoraje essa espécie de confissão seja o  anonimato proporcionado pelo meio online (Kozinets, 2014). 

Ao relatarem suas experiências em blogs, os autores têm a opção de  permanecerem anônimos ou usarem pseudônimos. Isso permite que eles se sintam protegidos e seguros ao compartilharem detalhes íntimos. Além disso, assegurar a  confidencialidade dos dados coletados é uma consideração ética importante. No entanto, é imprescindível a observação de desafios inerentes à opção por  tal modelo de campo de coleta de dados. É importante considerar a validade dos  relatos encontrados nos blogs. Como as informações são baseadas nas percepções  e memórias dos autores, pode haver variações na precisão e na objetividade dos  relatos. A triangulação de dados e a busca por consistências entre diferentes fontes  podem ajudar a mitigar essa limitação. 

Ademais, embora os blogs ofereçam uma ampla gama de histórias, é  necessário reconhecer que nem todos os indivíduos afetados pela FIV podem estar  representados nesse ambiente online. Existem barreiras de acesso à tecnologia,  preferências pessoais por não compartilhar publicamente ou limitações linguísticas  que podem afetar a representatividade da amostra. 

Ao abordar essas questões com cuidado, identificando e mitigando tais  desafios, as vantagens da escolha do blog como campo de pesquisa se sobrepõem  aos seus obstáculos, à medida que esse cenário possibilita expressões de  sentimentos e troca de informações ao que tange à tentativa de engravidar com o  auxílio de tecnologias de reprodução assistida. Assim, os blogs podem ser utilizados  como uma valiosa fonte de dados e permite que as vozes de mulheres que vivenciam  a experiência de se submeter aos procedimentos de fertilização in vitro sejam ouvidas. 

A delimitação e aplicação das estratégias de coleta e análise de dados resultou  na identificação de diversos códigos que representam aspectos significativos das  experiências dos participantes.  

A análise dos dados utilizando a teoria fundamentada pode proporcionar uma  compreensão abrangente das experiências dos indivíduos com a fertilização in vitro,  destacando múltiplos fatores que influenciam suas trajetórias e oferecendo insights  valiosos para a sociologia política e da saúde. 


3Informação coletada no blog FIVA, disponível em https://fiva.com.br/#sobre. Acesso em 05/03/2023.

4Informação coletada no blog FIVA, disponível em https://fiva.com.br/blog/. Acesso em 05/03/2023

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1Doutora pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia Política da Universidade Estadual do Norte  Fluminense Darcy Ribeiro. Email: lauralubanco@pq.uenf.br 

2Pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário UNIFECAF. Email:  maressat@gmail.com