TEOLOGIA DA PROSPERIDADE COMO INSTRUMENTO DE MERCANTILIZAÇÃO DA FÉ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10049599


Bismark Junior Martins Sales1
Francisco Gladson da Silva2
Mateus da Silva Texeira3


RESUMO

Esta pesquisa refere-se ao ensino da prosperidade como uma teologia, no entanto, essa definição precisa ser qualificada. Existem vários tipos de teologias, especialmente sob a marca de Teologia da Libertação. Todas essas teologias veem a libertação como um conceito-chave na Bíblia e consideram que se pode formular todo o evangelho, ou pelo menos aspectos importantes, em termos do conceito de libertação. No cenário atual, compreende-se que a teologia da prosperidade vem sofrendo grandes impactos no que se refere à mercantilização da fé. Muito foi escrito e dito sobre a Teologia da Prosperidade, no entanto, nenhum desses trabalhos foi escrito instrumento de mercantilização da fé. Nesse sentido o respectivo trabalho tem como objetivo compreender e contextualizar como a teologia da prosperidade surgiu, como ganhou espaço, e quais os fatores para tanto sucesso de aceitação no Brasil. Outro ponto essencial é ampliar a visão sobre as bases doutrinárias teologia da prosperidade e ressaltar os aspectos mais importantes no que tange à comunidade protestante. Desta forma, os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa foram o levantamento e revisão bibliográfica, através de análises de artigos, teses, livros, blogs e outras fontes primárias e secundárias. Na utilização desta metodologia foi possível constatar resultados de como se configura essa problemática nesse ambiente. 

Palavras-chaves: Teologia; Prosperidade; Mercantilização da fé.

ABSTRACT 

This research refers to the teaching of prosperity as a technology, however, this definition needs to be qualified. There are several types of technologies, especially under the brand of Liberation Theology. All of these technologies see liberation as a key concept in the Bible and consider that it can form the whole gospel, or at least important aspects, in terms of the concept of liberation. In the present scenario, it is understood that prosperity theology has been suffering major impacts, but it refers to the commodification of faith. Much has been written and mentioned about Prosperity Theology, yet none of these works have been written as an instrument of commodifying the faith. In this sense, the objective work is to understand and contextualize how a prosperity technology emerged, how to gain space, and what are the factors for such acceptance success in Brazil. Another essential point is to broaden the vision on the foundations of prosperity theological doctrines and to highlight the most important aspects that the Protestant community does not have. Thus, the methodological procedures used in the research were the survey and literature review, conversations information and participant observation and questionnaire application. Using this methodology it was possible to verify results of how to configure this problem in this environment.

Keywords: Theology; Prosperity; Commodification of the faith.

INTRODUÇÃO

O ensino da prosperidade foi incorporado às principais posições doutrinárias de algumas igrejas carismáticas e neopentecostais. Essa incorporação coloca um desafio bíblico e teológico. Assim, qualquer pessoa que suponha que a teologia da prosperidade é um erro precisa provar seu erro não por ações militantes, mas pelas Escrituras. Especialmente em um projeto seminal como este, é importante que o pesquisador comece com a atitude correta, com a esperança de que algum diálogo possa começar com aqueles que endossam essa teologia. O erro comum na polêmica e na apologética é que afastamos as pessoas a quem desejamos alcançar e depois corremos atrás delas na esperança de que escutem. 

Outro ponto essencial é ampliar a visão sobre as bases doutrinárias teologia da prosperidade e ressaltar os aspectos mais importantes no que tange à comunidade protestante. O embate da doutrina bíblica da teologia da prosperidade tem refletido sobre várias problemática e as igrejas protestantes do Brasil têm percebido isso. 

Ressalta-se a importância vital que têm, pois nos levará a refletir, e nos proporcionará uma séria autocrítica sobre essa nova teologia, que não é nova, mas que ainda tem muita coisa para ser debatida. Deste modo, está pesquisa se debruça na investigação histórico-teológica para trazer um estudo sobre essa problemática, buscando sempre a imparcialidade dos fatos narrados. Podendo assim, expor todo o contexto desde o surgimento até os dias atuais.

Dentro dessa perspectiva Mariano (2004) enfatiza que o evangelho da prosperidade é uma teodiceia, uma explicação para o problema do mal. É uma resposta para as perguntas que separam nossas vidas: Por que algumas pessoas são curadas e outras não? Por que algumas pessoas pulam e caem de pé enquanto outras caem por todo o caminho? Por que alguns bebês morrem nos berços e algumas almas amargas vivem para ver seus bisnetos? O evangelho da prosperidade olha para o mundo como ele é e promete uma solução. Garante que a fé sempre abrirá caminho. Se você acredita e pula, aterrissará de pé. Se você acredita, você será curado. 

Em relação à mercantilização da fé traz uma análise sobre como a igreja de Jesus Cristo se tornou uma burocracia corporativa sobrecarregada nos dias atuais, principalmente pela forma de como se interpreta a mercantilização da fé. Diante disso, o trabalho também propõe externar quais são as implicações para o modo como a igreja pratica a religião e para o modo como inspira a fé.

Sob esta ótica Macedo (1990) segue afirmando a obrigação que Deus tem para com seus fiéis que se comprometem em exercer o pagamento de dízimo, alegando que o termo “promessa é dívida” também se aplica no trato com Deus. O contrato estabelecido entre Deus e o homem determina que este desfrutará de todas as promessas divinas. Segundo este autor o Criador está preso às promessas que realizou. Enquanto cabe ao homem pagar o dízimo, ter fé em Deus e profetizar as bênçãos em suas vidas, o Criador fica encarregado de cumprir com tudo aquilo que prometeu; o homem tem direitos e deveres para com Deus, e Deus tem obrigações a cumprir.

A teologia contemporânea argumentada por Miller (2005), não fala sobre o que é inquestionavelmente uma das questões culturais mais importantes que enfrenta: consumismo ou “cultura de consumo”.  O consumismo e a mercantilização da cultura mostram como as crenças e práticas religiosas foram transformadas pela cultura de consumo dominante. Ele demonstra o significado dessa mudança cultural sísmica para o método teológico, doutrina, crença, comunidade e antropologia teológica. No entanto, sua complexidade analítica fornece a base para o desenvolvimento de táticas mais sofisticadas para lidar com esses problemas. 

Em contrapartida sabemos que a sociedade tem se organizado fundamentalmente em busca de melhorar essa problemática. Algumas religiões têm buscado se adaptar à “evolução” da sociedade, ditando o que é divino e o que não é, buscando respaldo nas mais diversas teorias, inclusive a do capitalismo, mas, esquecendo-se que estão apoiando e reforçando um sistema de comercialização da fé altamente predatório. 

Não há como se eximir dessa responsabilidade, afinal todos somos seres políticos e se o princípio divino passar pela união, a ética e o bem-estar de todos, como ignorar, e não questionar um sistema que também tem contribuído com a produção capitalista, fomentando assim uma espécie de desequilíbrio social. Esse ensinamento encontrou um catalisador em algumas das suposições da Ciência Cristã, por exemplo, a afirmação de que a realidade é puramente espiritual e o mundo material é uma ilusão e, além disso, que a doença é um erro mental que pode ser corrigido não necessariamente através da medicina, mas através da medicina, oração.  

O trabalho de conclusão de curso está organizado em cinco etapas. O primeiro apresenta uma breve introdução, O segundo aborda os materiais e métodos utilizados na pesquisa desvelando a realidade da pesquisa. O terceiro trata-se do desenvolvimento bibliográfico e análise e discussão dos resultados, enfocando questões norteadoras necessárias para a promoção de mudanças e comprovação das hipóteses e por fim. O quinto momento, as considerações finais enfatizando a concepção do público alvo.

2. METODOLOGIA 

Para elaboração deste trabalho bibliográfico foram definidas como fontes de pesquisas obras bibliográficas de autores das áreas das ciências teológicas, sociológicas, históricas, filosóficas, e foram usados documentos e matérias veiculados pela mídia evangélica. 

As metas definidas foram imprescindíveis a atenção de uma metodologia a ser seguida para tal compreendeu a do resultado de um projeto. A maneira como poderá ser analisado minuciosamente todo o desenvolvimento e o que se pretende alcançar nesta pesquisa. Usando como base as palavras de Carmo (2004, p. 9), “a metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda ação desenvolvida no método (caminho) do trabalho de pesquisa.”

De acordo com Gil (1994, p. 42), “a pesquisa tem um caráter pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico”. No entanto, abordagem do tema foi efetuada através de uma revisão bibliográfica, e do ponto de vista prático, foi realizado uma pesquisa de natureza qualitativa, uma vez que tem caráter exploratório, de tal forma cria-se um espaço para a interpretação e percepções com base naquilo que foi aplicado. O método é o indutivo, pois busca uma análise crítica do objeto a ser pesquisado.

As técnicas usadas nesta pesquisa foram à pesquisa bibliográfica, baseada principalmente em livros e artigos científicos, bem como manuais de mecânica, onde foram encontrados os assuntos relacionados ao tema proposto. Marconi e Lakatos (2005, p. 43) explicitam que esta “pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”.

A pesquisa dentre suas especificidades é de caráter qualitativo, onde foi possível coletar dados relevantes para pesquisa. É importante salientar que as técnicas utilizadas possibilitaram segurança e economia na pesquisa, permitindo chegar ao resultado pretendido com objetividade. De acordo com Marconi e Lakatos (2005, p. 107) as técnicas “São consideradas um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência […] na obtenção de seus propósitos. Correspondem, portanto, à parte prática de coleta de dados”.

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 CONTEXTOS HISTÓRICO SOBRE A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Em sua tese de mestrado Lemos (2017) um estudo profundo sobre esse eixo temático. Segundo esta autora a corrente denominada Teologia da Prosperidade (TP) tem origem em solo norte-americano no século XIX, sendo expandido para o Brasil a partir da década de 1970, tendo como expoente dessa disseminação no país, o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), em 1977. O ponto central da Teologia da Prosperidade compreende a comercialização da fé cristã, deturpando os ensinamentos presentes na Bíblia. Para este autor os movimentos pentecostais que começaram no século 19 evoluíram ao longo do tempo em várias vertentes que encontramos no cristianismo global no século XXI. Uma dessas vertentes é o evangelho da prosperidade. 

De fato a Teologia da Prosperidade representa um fenômeno religioso recente no interior da igreja pentecostal, que defende a crença de que o fiel está liberto dos pecados e por isso tem o direito de usufruir de saúde e prosperidade material. Nesse sentido Pieratt (1996) enfatiza que: 

O maior representante do evangelho da prosperidade, Kenneth Hagin, nasceu no Texas em 1917. De origem pobre, passou por grandes dificuldades emocionais, físicas e financeiras, sendo criado pelos avôs. Aos 15 anos de idade ficou gravemente doente e passou a relatar que possuía visões de Cristo e passagens pelo Céu e o Inferno. As viagens para o Céu o levaram a conversão, e diz receber a “verdadeira” revelação de Marcos 11: 23, 24 e da natureza cristã. Para obter as bênçãos diante de Deus, o fiel deve confessar em voz alta e nunca duvidar da sua crença. Evangélico batista, após a cura decidiu começar a pregar o evangelho associando-o à Confissão Positiva.

Como dito anteriormente a Teologia da Prosperidade dentro de aspecto teórico mostra que essa forma de evangelizar aponta que existe um erro que os cristãos podem cometer ao entender o dinheiro é pensar que a riqueza é inerentemente pecaminosa, e criar e acumular riqueza é contrário ao plano de Deus. De fato, a criação de riqueza e a administração adequada são consistentes com o florescimento humano. Um erro duplo na depreciação da riqueza é a ideia de que a fidelidade a Deus necessariamente resulta em prosperidade material. Esse segundo erro costuma ser chamado de evangelho da prosperidade ou evangelho da saúde e da riqueza.

O evangelho da prosperidade surgiu como um ramo do pentecostalismo na América pós-Segunda Guerra Mundial. Embora tenha começado em congregações locais e em avivamentos de tendas, o movimento ganhou um número maior de seguidores através do uso de rádio e televisão, e ficou firmemente entrincheirado na década de 1980 com o aumento do “televangelismo” (Gomes 1996). Para este autor, embora nem todos os pregadores do evangelho da prosperidade sejam pentecostais ou carismáticos (e a maioria dos cristãos carismáticos e pentecostais não estão associados ao evangelho da prosperidade), o movimento ainda está amplamente conectado às igrejas carismáticas e revivalistas. Isso tornou mais fácil para o movimento ganhar força na África, América do Sul e outras áreas do mundo onde o pentecostalismo está se expandindo rapidamente.

O evangelho da prosperidade às vezes é chamado de evangelho da saúde e da riqueza ou evangelho do sucesso Kent (2008). Para este autor é uma crença religiosa entre alguns cristãos que a bênção financeira é a vontade de Deus para eles, é que fé, discursos positivos e doações aumentaram a riqueza material de alguém. Embora seja impossível rastrear o evangelho da prosperidade de volta a um ponto de partida exato, há pelo menos três movimentos dos quais ele extrai suas idéias. 

O primeiro é o cristianismo centrado na experiência, que nasceu na mente do teólogo Friedrich Schleiermacher, do século XIX, e se concretizou na forma do movimento carismático do século XX. A segunda filosofia que deu origem ao evangelho da prosperidade foi a escola de “pensamento positivo” de Norman Vincent Peale. Harvey Cox escreveu sobre o evangelho da prosperidade: “isso deve muito ao” pensamento positivo “do falecido Norman Vincent Peale” O terceiro movimento moderno que influenciou o evangelho da prosperidade é simplesmente o “sonho americano”, ou materialismo.

Para Mariano (2005) o evangelho da prosperidade é um fenômeno religioso que se cristalizou a partir da década de 70, influenciado por teólogos norte-americanos, principalmente Kenneth Hagin. A doutrina da prosperidade, vinculando a crença religiosa a um retorno financeiro, foi iniciada pelo televangelista Oral Roberts, na década de 1950, quando criou a noção de “Vida Abundante”, prometendo retorno financeiro sete vezes maior do que o valor ofertado. Nos anos 70, essa doutrina ganharia maior projeção por meio do ministério de Kenneth e Gloria Copeland.

Na concepção do autor acima supracitado várias igrejas evangélicas ligadas à onda neopentecostal vêm praticando o discurso do evangelho da prosperidade, resultando em um grande aumento do número de fiéis, e constitui-se hoje em um grande movimento de massa que vem enfraquecendo a quantidade de crentes de religiões tradicionais. Em termos práticos Mariano (2005) salienta como é importante que os cristãos tenham um entendimento correto do relacionamento entre fé e prosperidade. A conexão direta entre fé e riqueza descrita pelos pregadores do evangelho da prosperidade falha em fornecer uma base adequada para entender por que os cristãos fiéis às vezes sofrem ou por que os injustos às vezes prosperam.

Lemos (2017) também esclarece que a partir do século XX, esta teologia propaga-se aceleradamente pela América Latina, África e Ásia. Mas é no século XXI que adquire expansões ainda mais significativas, em abandono aos tradicionais ensinamentos cristãos, sobretudo, protestantes. Esse período é bombardeado por reformas no plano político e econômico, em que a opção pela expansão dos ideais da TP ganha fôlego e corpo. 

Pode-se dizer então que em vez de a fé ser a confiança racional na proclamada Palavra de Deus, de acordo com as evidências disponíveis, a fé dos seguidores do evangelho da prosperidade é um pensamento positivo e uma expectativa da bênção material de Deus. O pensamento positivo, chamado fé, necessariamente resulta em bênçãos materiais, se for sincero. Esta é a simples lei da fé, de acordo com o evangelho da prosperidade.

Em contrapartida Junior (2007) diz que a Teologia da Prosperidade reinterpreta valores do Cristianismo. Ao contrário do tradicionalismo que prega a busca do paraíso para além do pós-morte, a crença da prosperidade defende a idéia de que o homem foi liberto do pecado original por meio do sacrifício de Cristo, assim pode não só usufruir dos bens terrenos, como também exigir de Deus como um direito adquirido, a saúde física e a abundância material. Por outro lado, existem correntes que afirmam que o evangelho da prosperidade, a bênção financeira é um resultado garantido da fé em Deus.  Contudo Mariano (2005) explica que, para os adeptos do evangelho da prosperidade naquela época e até hoje muitas pessoas dizem que o dinheiro serviu como um meio comum e prático de avaliar a fé.

Levando em consideração o que foi contextualizado Macedo explica que a expressão “em todas as coisas” significa abundância financeira, e para tê-las ele cita é preciso seguir alguns preceitos. 

Para receber as bênçãos materiais, pela fé, vocês devem fazer o seguinte: primeiro, acreditar que Deus quer que você prospere financeiramente; segundo, estar disposto a aceitar a responsabilidade de ser um dos sócios e administradores da Obra de Deus.101 Macedo justifica que há várias passagens, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, que demonstram a vontade de Deus para uma vida abundante: Deuteronômio 28.11, João 10.10, Eclesiastes 5.19, Salmos 112.1-3, Salmos 35.27, Salmos 84.11, Provérbios 8.21, Josué 1.7, Deuteronômio 29.9, 1 Reis 2.3, Provérbios 10.22, Salmos 23.1, Salmos 34.10, Salmos 68.19, Mateus 6.33, Josué 1.5, Joel 2.26, Salmos 36.9, Samuel 2.7, Crônicas 29.12, Salmos 104.24, 2 Crônicas 20.20, Provérbios 8.17, Êxodo 19.5, Levítico 25.23, Salmos 50.10, Deuteronômio 8.7-9, Deuteronômio 8.10-14, Deuteronômio 8.17 e Malaquias 3.10

Segundo Garrard-Burnett (2011), um dos principais patrocinadores da mensagem da TP para os países em desenvolvimento é o coreano Paul Yonggi Cho, seguido mundialmente, pastor da Yoido Full Gospel Church, de 850.000 membros, localizada em Seul, Coreia do Sul. Ele enfatiza a tríplice bênção: saúde, prosperidade e salvação. Lemos (2017) salienta que os ensinamentos da Teologia da Prosperidade são tão penetrantes e influenciadores, que em maior ou menor grau, nenhuma igreja, nem mesmo a igreja católica, deixou de ser influenciada por essa teologia. Os ideais da Teologia da Prosperidade estão tão em consonância com os horizontes de transformações econômicas, que passam a penetrar no âmago de várias denominações religiosas.

Tanto é verdade que a manifestação do interesse pelo dinheiro é realizada com muita transparência e naturalidade por parte dos pastores neopentecostais. R.R Soares (1985) afirma que no novo testamento o dinheiro é mencionado inúmeras vezes. Extensa carga horária da pregação de cultos na Universal e na Igreja Internacional da graça é reservada para a realização de abordagens atinentes ao dinheiro e à oferta, convencendo os fiéis a concretizarem o pagamento do dízimo e a realizarem oferendas em troca de prosperidade, saúde, felicidade, libertação do Diabo (MARIANO, 1996)

3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NO BRASIL

Para entendermos a teologia da prosperidade, devemos definir o que é neopentecostalismo. Devemos entender todo contexto teórico por trás desse movimento, só depois podemos entender o que é a teologia da prosperidade. Nesse contexto Mariano 2004 elucida que o neopentecostalismo ou Terceira Onda do Pentecostalismo é uma vertente do evangelicalismo, conglomerado igrejas do movimento de Renovação Cristã. Fora do Brasil, essas igrejas são chamadas também de carismáticas, aqui esse termo é reservado a um movimento da Igreja Católica.

Mariano (2010) destaca e faz um breve resumo sobre o fenômeno pentecostal no Brasil, dividido em três movimentos. O pentecostalismo clássico, que engloba as igrejas Congregação Cristã no Brasil e que teve sua fundação no ano de 1910, e também a Assembleia de Deus, fundada em 1911. 

A segunda divisão apontada por Mariano (2010) que não tem nenhuma definição por nome entre os pesquisadores, mas que mostra a Igreja do Evangelho Quadrangular, criada em 1953, O Brasil para Cristo em 1955, Deus é Amor, fundada em 1962, e em 1964 a Casa da Bênção. O neopentecostalismo foi o terceiro movimento, sendo representado pela Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, que iniciou em 1976, a Igreja Universal do Reino de Deus, em 1977, Renascer em Cristo no ano de 1986, e em 1980 a Igreja Internacional da Graça de Deus.

A Teologia da Prosperidade, quando dava seus primeiros passos, ficou conhecida como confissão positiva.

Confissão positiva é um título alternativo para a teologia da fórmula da fé ou doutrina da prosperidade promulgada por vários televangelistas contemporâneos, sob a liderança e inspiração de Essek William Kenyon. A expressão “confissão positiva” pode ser legitimamente interpretada de várias maneiras. O mais significativo de tudo é que a expressão “confissão positiva” se refere literalmente a trazer à existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão. (ROMEIRO, 1993, p. 302).

Ari Pedro Oro (1996) define neopentecostalismo como uma prática que incide na apropriação e na reelaboração dos elementos e rituais de crença judaica. Ele sustém que a prática acentuada dos elementos místicos acaba mostrando um lado que aproxima o neopentecostal as religiões africanas. O neopentecostal tem uma visão dualística do sagrado, por isso existe uma luta constante entre Deus (que representa o Bem), e Satanás (representante do Mal).

Quando Paulo Romeiro escreveu Evangélicos em Crise,  em meados dos anos 90, um livro que continua sendo um best-seller entre os evangélicos brasileiros, ele abordou apenas uma das muitas maneiras pelas quais o evangelicalismo entrou em colapso no Brasil: sua incapacidade de impedir a propagação da teologia da prosperidade. É cada vez mais claro que os evangélicos no Brasil estão hoje em meio a uma crise muito maior, começando com a dificuldade sem mencionar a impossibilidade de definir o que significa ser evangélico.

Segundo o último censo oficial, os evangélicos representam quase um quarto da população total do Brasil (22,5%). É um crescimento fenomenal, visto que apenas 40 anos atrás eles eram apenas 2,5%. Para Romeiro (2005) apesar de seu constante crescimento oficial, aclamado ao mundo como uma história de sucesso de missões e evangelismo, os evangélicos no Brasil enfrentam hoje vários desafios. Que segundo ele são :

a)Incerteza sobre sua própria direção teológica futura.

b) Multiplicidade de teologias divergentes.

c) Falta de liderança com autoridade moral e espiritual.

d) Queda doutrinária e moral dos líderes antes respeitáveis.

e) Ascensão de líderes totalitários que se chamam não apenas pastores, mas também autoproclamados bispos e apóstolos.

f) Conquista gradual das escolas de teologia pelo liberalismo teológico.

g) Falta de padrões morais que possam funcionar como ponto de partida para a disciplina eclesiástica.

h) Depreciação da doutrina e exaltação da experiência por si só.

Como resultado, mais brasileiros buscam igrejas apenas para se sentir bem, para buscar soluções imediatas para seus problemas materiais, sem sequer refletir sobre questões mais profundas sobre a existência da eternidade, e passar de uma comunidade para outra sem qualquer compromisso ou engajamento no verdadeiro cristão. Vida e testemunho. Aliás, Romero (2005) também enfatiza que o número de pessoas que professam ser evangélicas, mas raramente frequentam a igreja, cresceu de 6% para 16% de todos os evangélicos nos últimos anos.

Mendonça (1984, p.55) afirma: Durante todo o século XIX imperava a ideia de que religião e civilização estavam unidas na visão da América cristã e que Deus tem sempre agido através de povos escolhidos. Os de língua inglesa, escolhidos mais do que quaisquer outros, são obrigados a propagar as ideias cristãs e a civilização cristã.  A linguagem inovadora de ‘nomear e reivindicar’ as bênçãos divinas fundiu idéias de cura pela fé, pureza e proteção com visões de prosperidade para os que nasceram de novo. A confiança pentecostal na fé, portanto, significava um duplo evangelho da saúde e da riqueza. 

Terminologias teológicas e confissões de fé demonstraram um modo triunfante de crença ou visto de forma mais positiva calcular o resultado de uma vida bem-sucedida ‘tornando a realidade material à medida do sucesso da fé imaterial’. Nesse complexo errático de “saúde e riqueza”, o aspecto da prosperidade se fundiu com o conceito de “fé em sementes”. Romeiro (2005). De acordo com este autor a construção teológica de “semear e colher” representava uma ligação íntima entre a bênção divina e as contribuições financeiras para Deus e a igreja; quantifica as bênçãos pregando que quanto mais você semeia, mais colhe. Rituais elaborados de troca de presentes com suas posturas sobre dar e dízimos divinos caracterizaram o novo estilo de adoração pentecostal.

Para tanto Paula (2013, p.58) externa que o Brasil, por ser o maior país pentecostal do mundo, tornou-se solo fértil para a disseminação da Teologia da Prosperidade. Embora a teologia da prosperidade não tenha nascido no seio do Pentecostalismo, tendo suas raízes nas seitas metafísicas que floresceram nos Estados Unidos entre meados do século XIX e início do século XX, o Pentecostalismo inicialmente tornou-se o hospedeiro dessa teologia. Contudo, o neopentecostalismo brasileiro, é quem vai abraçar sem restrições a Teologia da Prosperidade vinda dos Estados Unidos para o Brasil.

O Brasil por ter sido colonizado por Portugal, um país católico, manteve-se nessa condição durante vários séculos, porque as tentativas de invasão de países europeus de origem protestante não tiveram êxito. As invasões francesa e holandesa, a primeira, ocorrida em 1555, com a expedição liderada por Villegaignon, e a segunda, pelos holandeses, no período entre 1630 e 1654, não deixaram grandes marcas que alterassem o cenário religioso da nação, pois logo foram apagadas pelos portugueses. É importante observar que os franceses realizaram o primeiro culto protestante em solo brasileiro, e os holandeses estabeleceram-se em Pernambuco e outras áreas do Nordeste brasileiro por quinze anos e nesse período essas localidades foram protestantes, contudo não permaneceram nessa condição após a intervenção portuguesa (PAULA, 2013. 59).

Para esta autora o debate, no entanto, sobre a aclamada variante do evangelho da prosperidade do Brasil permanece vital. É ativado por incertezas sobre o caráter transformador do capital social pentecostal africano, que tradicionalmente mantinha distância dos assuntos mundanos. Apesar dos avanços, o Brasil é definido como país católico, sendo o imperador protetor da fé; as religiões católicas são apenas toleradas. (REILY, 2003, p.48). Representando um conceito contratado de fé, a teologia da prosperidade Brasileira prospera em torno de encenações rituais de dízimos e ofertas. 

A textura ritual do Evangelho da Prosperidade causou inúmeras interpretações do caráter da agência social pentecostal. Assim, nos limites da tolerância aos cultos não católicos estabelecidos pela Constituição de 1824, instalaram-se no Brasil anglicano, episcopal (anglicanos norte-americanos) e, em número muito maior, luteranos (MENDONÇA, 2002,  p.12). Esse intenso debate é seguido em uma seção subsequente. Contudo, uma afirmação generalizada sobre o evangelho da prosperidade como o quadro de uma ética pentecostal de desenvolvimento não pode ser apoiada; precisa ser complementado em um parágrafo final por um esforço para contextualizar a práxis social das igrejas orientadas à prosperidade em diversos meios empíricos.

De acordo com Reily (2003, p.27): O protestantismo brasileiro tem profundas raízes e vínculos com a Grã-Bretanha, a Alemanha e os Estados Unidos da América‖. O ponto de referência histórico decisivo é a reinvenção pentecostal do pós-guerra ou da guerra fria na América. Essa fase crucial da história pentecostal “ganhou relativamente pouca atenção acadêmica até agora” Heuser (2015, p. 17). Em seu estudo das redes pentecostais transnacionais, este autor identifica a década de 1950 como o contexto de esforços intensificados para globalizar as versões americanas do pentecostalismo. Após sua análise, a genealogia americana do Evangelho da Prosperidade faz parte de uma era na qual o movimento pentecostal foi inventado pela segunda vez, desta vez foi aplicada diretamente no Brasil.

Bittencourt (2003, p.110) afirma que: […] somente a partir da década de 1830 é que igrejas norte-americanas começam a interessar-se pela divulgação do Protestantismo entre os brasileiros, muito embora os pastores que se dedicaram à empreitada tenham principiando pela assistência religiosa aos cidadãos norte-americanos, enquanto desenhavam a estratégia de aproximação. Na verdade, a presença protestante na América Latina ao longo da primeira metade do século XIX, com exceção do sul do Brasil pelas mãos dos imigrantes, é bastante limitada.

Fischer (2011, p. 240) destaca que as décadas de 1940 e 1950 viram o início de um movimento através das linhas denominacionais. Após o relato histórico de  diversas vertentes teológicas que variam de pentecostais, evangelismo de santidade, metodismo americano, batismo afro-americano ou calvinismo reformado holandês, fundidas no evangelho da prosperidade americana. O evangelho da prosperidade indica uma mudança decisiva, se não paradigmática, na teologização pentecostal. O paradigma consiste em duas rupturas radicais na teologia pentecostal: a primeira está ligada a uma reformulação do ser no mundo; o segundo está ligado à descoberta do valor espiritual da substância e da riqueza materiais.

Outro fator que contribuiu para a configuração do campo protestante brasileiro foi a Proclamação da República em 1889, que veio encontrar estabelecidas no país todas as denominações chamadas históricas, o que significa as oriundas diretamente da Reforma do século XVI‖ (MENDONÇA, 2003, p.149). A ideia de receber ‘bênçãos por meio de confissões positivas de fé’ refere-se ao movimento da ‘palavra de fé’. Nas décadas de 1940 e 1950, o chamado movimento evangélico da fé cunhou uma retórica religiosa explícita focada no poder da mente. Exemplificado como pensamento positivo no protestantismo dominante da época, e apelidado de ‘confissão positiva’ na recepção pentecostal, refletia a ‘palavra’ falada, a declaração de garantir as bênçãos de Deus.

A revisão histórica das transformações paradigmáticas na teologia pentecostal correlaciona o Evangelho da Prosperidade a experiências de desapropriação e desempoderamento. Com o evento da proclamação da República foi reafirmada a condição   do  Brasil  como  estado  laico.  Isso porque, mesmo  antes  da Constituição republicana, o governo provisório decretou, em janeiro de 1890, a separação da Igreja do Estado‖ (MENDONÇA, 2003, p.150). No entanto, apenas indicações tácitas da agência social pentecostal são dadas até agora. Se, como afirmado, o Evangelho da Prosperidade encontrou entrada em discursos de diversos campos nos Estudos no Brasil, as respostas para a questão de como identificar a economia religiosa pentecostal são múltiplas. Eles são enquadrados por teorias da globalização, ou por teorias de modernização e desenvolvimento, enquanto outros oferecem interpretações de perto da dinâmica ritual em igrejas africanas isoladas, ou localizam diversas teologias de prosperidade adaptadas a diferentes meios socioculturais.

Uma vertente considerável posiciona a ascensão do Evangelho da Prosperidade das economias de mercado neoliberais globais. Para Jean e John Comaroff ( 2004 ), o Prosperity Gospel expressa a reação amplamente irracional às forças invisíveis do mercado de uma economia globalizada descrita como ‘capitalismo milenar’. As forças invisíveis do mercado teriam efeitos manifestos na vida cotidiana, mas estão fora do controle pessoal, o que leva a uma exibição crescente do que eles chamam de “economias ocultas” (Comaroff & Comaroff 2004, p. 45).

Essa economia, alimentada por promessas de bem-estar material, interpretadas como um sinal externo a favor de Deus, celebra o consumo e não a produção. Para ser mais preciso, a expectativa de prosperidade elogia o imediatismo do desejo. O ganho material instantâneo torna-se “sinônimo do poder não mediado de Deus”. A acumulação de riqueza, concluem os Comaroffs, representa um ato de ‘consumo sacral’ ( 2004, p.37) Jean Comaroff redirecionou recentemente o vetor de análise do capitalismo milenar para o tradicionalismo religioso-cultural pós-secular. 

Com isso, no meu entender, ela revisita o aspecto do “consumo sacral” pentecostal como um componente do tipo ideal de uma “política de afeto” no Brasil. O pentecostalismo, ela afirma, mostra um “impulso totalizante” para incluir “facetas cada vez mais mundanas da vida cotidiana”; As igrejas evangélicas da prosperidade no Brasil ‘oferecem cardápios de serviços pragmáticos, todos os dias, todos os dias’.  

Destarte (Comaroff 2015, p. 227). afirma que esse é um retorno pentecostal pós-secular a uma mudança de vida religiosa africana tradicional, que o pentecostalismo tenta combater ferozmente. Essa visão pragmática da cultura do evangelho da prosperidade, ela afirma, ‘representa um retorno irônico e tardio ao tipo de religiosidade generalizada, praticamente integrada à vida cotidiana da maioria dos evangélicos no Brasil.

Enquanto a análise da “economia oculta” retrata o movimento pentecostal como um epifenômeno, uma resposta reativa à dinâmica do capitalismo global Romeiro (2005, p.29). Na concepção deste autor algumas dessas questões críticas estão relacionadas à teologia pentecostal do dízimo. A pregação da prosperidade identifica o dízimo como uma dimensão central na fé cristã, e os rituais do dízimo ocupam grandes e às vezes espetaculares seções de serviços. Pode-se afirmar que esse investimento no dízimo vincula grande parte da energia inovadora nas igrejas orientadas para a prosperidade.

3.3. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE DIVERSAS INTERPRETAÇÕES 

A prosperidade é um tópico quente na igreja. Deus se importa se um pastor dirige um bom carro ou mora em um bom lar. Deus ordena que todos os que o seguem façam voto de pobreza e morram de fome suas famílias em um protesto de conforto terreno. Os professores da Bíblia vendem milhões de livros e acumulam grandes quantidades de riqueza. 

Para tanto há diversas maneiras de analisarmos as formas pelas quais os indivíduos socializados expressam suas demandas na sociedade, buscam as soluções para suas necessidades ou, ainda, se relacionam entre si. Entre essas diversas maneiras, destaca-se a religião como esfera social específica, isto é, o estudo da religião permite analisar demandas e estratégias utilizadas pelos indivíduos para solucionar os diversos anseios existentes (Hervieu-Léger 2008; Berger 2016: 56-58). 

Alguns terão profundas convicções sobre atingir qualquer medida de riqueza, enquanto outros se contentam em usar sua riqueza para retribuir à igreja. Alguns usarão sua riqueza para financiar as mensalidades de uma criança na faculdade, ou até mesmo bolsas de estudos para um aluno do seminário. Outros investirão sua riqueza com o objetivo de doar ainda mais no futuro. Mordomia vem em todas as formas e tamanhos, mas uma coisa não é a capacidade de Deus de pesar o coração e os motivos de um homem. 

Logo pode dizer que a teologia da prosperidade passa, assim, por duas vias principais, a saber, a Confissão Positiva e a Reciprocidade, onde tais vias estão fundamentadas sobre uma interpretação a respeito do mundo, onde este não deve ser rejeitado, mas aceito e conquistado. A Confissão Positiva, ou o Pensamento Positivo, é a certeza que “Fé significa declarar e pensar positivamente, crendo que esta positividade fará com que o divino haja em favor do indivíduo” (Hagin 1990).

De fato existe uma variedade de possibilidades, porém é no coração do homem que Deus está mais interessado e no evangelho que um homem proclama que Deus julgará mais. Quando o sino final do Céu tocar e todo homem for recompensado de acordo com suas ações, Deus terá a palavra final. A questão não será se esse pastor levou para casa um salário de seis dígitos; a questão será o que esse homem ensinou e escreveu enquanto representava o evangelho de Jesus Cristo. Nesse sentido Hunt (2000, p. 332) postula que a teologia da prosperidade afirma que os cristãos têm direito ao bem-estar e, porque usar  físico  e   realidades espirituais  são  vistas  como  uma inextricavelmente  entrelaçam a  realidade,  isso  é  interpretado  como saúde física  e prosperidade  econômica.  

A teologia da prosperidade reinterpreta a revelação divina, a partir dessa nova interpretação, o mundo não é um lugar para ser rejeitado, mas sim conquistado (Arenari 2013). Tudo é acessível, sendo a moral cristã a regra para o impedimento da vontade. Caso o desejo “humano respeite os mandamentos cristãos, os prazeres e bens do mundo estão passíveis à conquista” (Arenari 2013). O poder de Deus está acessível aos homens para torná-los destacáveis neste mundo.

3.3.1 O que é a Teologia do Evangelho da Prosperidade?

Diariamente inúmeras portas de igrejas são abertas em cidades grandes e pequenas, em suas avenidas, ruas ou mesmo em vielas e becos de bairros menos favorecidos. Algumas dessas igrejas carregam sobre si o peso de suas nomenclaturas e tradições, estão preocupadas com a divulgação da Palavra, e com a evangelização (ROMEIRO, 2005, p.80- 81).

Obviamente, o evangelho da prosperidade não é uma “boa notícia”. Portanto, vamos entender que não é um “evangelho”. Dito isto, eu uso o termo porque é amplamente reconhecido ao discutir esses tipos de questões. Uma definição muito básica do evangelho da prosperidade pode ser descrita assim: O plano de Deus é que você viva sua melhor vida agora. Saúde, riqueza e felicidade são garantidas na Terra para todos os que seguem Jesus. O céu é simplesmente a eterna extensão de suas bênçãos temporais. O fundamento teológico do evangelho da prosperidade pode ser atribuído a pelo menos três versões distorcidas das verdades bíblicas. O pregador da prosperidade distorce isso para legitimar sua versão do evangelho.

A igreja evangélica brasileira atravessa uma crise doutrinária, essa crise está concentrada em maior grau dentro das igrejas neopentecostais. Nestas há uma adequação do cristão ao mundo moderno (ORO, 2013, p. 98), onde a postura do seguidor de Cristo não é mais vista como a sugerida por Paulo, na carta aos Romanos, onde cristãos são chamados a não se conformar com as coisas do mundo.

Oro (2013) também aponta em seu estudo que a Teologia da Prosperidade é uma heresia que ensina que quem tem fé em Deus terá muitas riquezas e sucessos materiais. Pobreza, doença e sofrimento são vistos como castigo de Deus por causa da falta de fé. A Bíblia diz que há coisas muito mais importantes que os bens materiais.

Entretanto a doutrina enfatiza a importância do empoderamento pessoal, propondo que é a vontade de Deus que seu povo seja feliz. A expiação de Jesus é interpretada para incluir o alívio da doença e da pobreza, que são vistas como maldições a serem quebradas pela fé. A doutrina enfatiza a importância do empoderamento pessoal, propondo que é a vontade de Deus que seu povo seja feliz (ROMEIRO, 2005). Para este autor a expiação de Jesus é interpretada para incluir o alívio da doença e da pobreza, que são vistas como maldições a serem quebradas pela fé. A doutrina enfatiza a importância do empoderamento pessoal, propondo que é a vontade de Deus que seu povo seja feliz. A expiação de Jesus é interpretada para incluir o alívio da doença e da pobreza, que são vistas como maldições a serem quebradas pela fé.

3.3.2. A Expiação de Cristo Agora significa Vida Abundante

A Bíblia ensina claramente que Cristo morreu para expiar nossos pecados (Isaías 53) e que, por causa do que Ele realizou por meio de Sua morte e ressurreição, experimentaremos a vida abundante que Ele veio nos dar (João 10:10 ). Embora desfrutemos agora de alguns benefícios da expiação como o perdão de nossos pecados e a garantia da salvação – Sua expiação garante promessas eternas que não serão totalmente cumpridas até o céu. Nós receberemos um corpo glorificado, não haverá morte, pecado, dor, sofrimento ou doença.

De acordo com Oyedepo (2008) com a visão de que a vontade de Deus para todos os cristãos é florescer em todas as áreas da vida. Segundo esse grupo, a pregação da prosperidade significa ter uma abordagem holística das necessidades do homem, incluindo seu bem-estar material. Uma referência a isso é deduzida no livro de David Oyedepo, que argumenta que “possuir sua possessão” faz parte do convênio de Deus e os crentes devem prosperar. Oyedepo alega que esta aliança é selada pela morte de Cristo, que todos os que crerem na mensagem do evangelho, juntamente com a salvação de suas almas, obterão todas as coisas boas deste mundo, incluindo riqueza, saúde e sucesso total.

O melhor de tudo é que desfrutamos de perfeita comunhão com nosso Deus para sempre. Os pregadores da prosperidade ensinam que a saúde e a riqueza eram “pagas” na expiação assim como o pecado Sarles (2016). Portanto, este autor salienta que essa interpretação distorcida lhes permite ensinar as pessoas a esperar cura completa, riquezas monetárias e vitória total em todas as áreas de sua vida terrena. Em vez de dizer às pessoas para confiarem em Jesus Cristo e aguardar com entusiasmo a melhor vida no céu, elas oferecem um evangelho vazio que promete às pessoas a melhor vida agora.

Diante disso Ken Sarles (2016) diz que 

O “evangelho da prosperidade alega que tanto a cura física quanto a prosperidade financeira foram previstas na Expiação.” Esta parece ser uma observação precisa à luz do comentário do professor Kenneth Copeland de que “o princípio básico da vida cristã é saber que Deus colocou nosso pecado, enfermidade, doença, tristeza, tristeza e pobreza em Jesus no Calvário ”. Esse mal-entendido da Expiação decorre de dois erros: 1) Concepção errônea fundamental da vida de Cristo; 2) A interpretação errônea de 2 Coríntios. 8: 9. Sem exceção, este é o versículo ao qual os pregadores da prosperidade apelam para apoiar sua visão da Expiação:Pois você conhece a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, embora Ele fosse rico, ainda assim por sua causa, ficou pobre, para que você, através da pobreza dele, pudesse se tornar rico-2 Coríntios. 8. Os pregadores da prosperidade interpretaram mal esse versículo como significando que Paulo estava ensinando que Cristo morreu na cruz com o objetivo de aumentar o patrimônio líquido dos crentes. Contextualmente, é claro que Paulo estava ensinando aos coríntios que, uma vez que Cristo realizou tanto por eles através da Expiação, quanto mais eles deveriam se esvaziar de suas riquezas a serviço do Salvador. Os versículos mais tarde confirmaram o significado real, quando Paulo exorta os coríntios a doarem suas riquezas a seus irmãos necessitados “para que agora neste momento a sua abundância supra a falta deles”. – 2 Cor. 8:14 

Logo, compreende-se que uma das características mais marcantes dos teólogos da prosperidade é sua aparente fixação pelo ato de dar. Os seguidores dos pregadores da prosperidade são incentivados a dar generosamente e lhes dizem que: “A verdadeira prosperidade é a capacidade de usar o poder de Deus para atender às necessidades da humanidade em qualquer esfera da vida”.

A Bíblia ensina que os cristãos são justificados pela fé (Romanos 5: 1), que os cristãos vencem o mundo pela fé (1 João 5: 5), e que os cristãos vivem pela fé por causa do que Cristo fez (Gálatas 2:20) A lista de versículos sobre as bênçãos da fé é interminável! A fé agrada a Deus, está diretamente relacionada à salvação e é a evidência de confiança em Deus para o crente. Os pregadores do evangelho da prosperidade se afastam desse ensino ortodoxo sobre fé quando frequentemente acrescentam os ensinamentos da “Palavra de Fé” ao seu discurso de vendas. Eles ensinam que a fé é uma força que você pode usar para obter o que deseja de Deus. 

Em outras palavras, você foi capaz de obter salvação e justificação pela fé; então, por que você não pode obter uma Ferrari da mesma maneira? A teologia da prosperidade está centrada na noção de que a vontade de Deus é salvar você e enriquecer. Nesse sistema teológico, a crença correta, o pensamento correto e a fala correta estão todos ligados à fé, a fim de criar bênçãos físicas. É aqui que o movimento da palavra de fé muitas vezes combina com o evangelho da prosperidade.

Do ponto de vista da Confissão Positiva, […] ao morrer na cruz, Jesus recebeu uma natureza satânica, foi feito pecado, desceu ao inferno em nosso lugar e lá foi atormentado três dias e três noites pelo diabo. Jesus teve que morrer espiritualmente para pagar pelos pecados do homem no inferno, pois sua morte física e seu sangue derramado na cruz foram insuficientes para fazer a expiação. Depois de três dias no inferno, Jesus nasce de novo e derrota os poderes das trevas, completando no inferno a expiação que havia começado na cruz. O Jesus nascido de novo ressuscita e é levado à mão direita do Pai. Hoje ele tem poder para devolver à Igreja tudo o que ele havia perdido para o diabo através da queda de Adão e Eva. (ROMEIRO, 1999, p. 48-49)

É um fato comprovado que a melhor maneira de identificar dinheiro falso é se tornar um especialista em como é o dinheiro real (e até parece). Saber as coisas certas sobre a coisa real protege você de ser enganado. A melhor maneira de um pastor fortalecer seu rebanho e protegê-lo de ser enganado é ensiná-lo fielmente sobre a verdade. Qualquer seminário, série ou conferência sobre falso ensino deve sempre ser combinado com uma clara verdade bíblica, não apenas um protesto a respeito de erros. 

Para Silva (2014, p. 168), a presença do sincretismo “é fruto de um vazio espiritual, do sentimento de que algo está incompleto, ainda por vir”. Assim é possível afirmar que em igrejas que fazem utilização do sincretismo religioso existe um buraco espiritual, práticas religiosas se misturam para ocultar tal vazio, o que é relativamente perigoso e inadequado para o cristianismo. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É óbvio que o povo de Deus precisa conhecer e entender que a prosperidade não valida a salvação de uma pessoa. Nenhuma quantia em dinheiro, prêmios de um empregador ou herança de parentes pode atuar como um “sinal” de que a mão de Deus está na vida de alguém.. Eu não coloco meus olhos nos homens, mas em Deus, que me dá o poder de obter riqueza.  Segundo este autor a bênção da salvação pode repousar sobre um órfão tanto quanto um rei. Deus não faz acepção de pessoas. A seguir, uma visão bíblica da prosperidade ensinará às pessoas que a mensagem do pregador não é validada por sua própria riqueza. Por exemplo, muitos pregadores da prosperidade usarão seu próprio patrimônio como prova de que Deus os está abençoando e, portanto, sua mensagem é confiável. Isso é inaceitável. Finalmente, a prosperidade não valida a doutrina de uma igreja. Assim como a mensagem do pastor, uma igreja pode pensar que grandes ofertas e grandes multidões são evidências de que Deus está satisfeito com seu ministério. Sem dúvida.

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1bismark.admbc@gmail.com, Licenciatura em Biologia e Química, Pós graduação em Recursos Humanos
2gagaubc548@gmail.com, Bacharel em Direito pela Universidade do Norte – UNINORTE, Especialista em Direito Educacional, Especialista em Direito Administrativo e a nova Leis de Licitação.
3Graduado em Geografia pela UEA, Especialização em Docência no Ensino Superior (FUNIP). Especialização em Ensino de Geografia (ÚNICA) Mestre em Geografia (IFCHS-UFAM).