TECNOLOGIA ASSISTIVA, ESTÉTICA E DESIGN: REVISÃO DA LITERATURA 

ASSISTIVE TECHNOLOGY, AESTHETICS AND DESIGN: LITERATURE REVIEW 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412041539


Márcia Machado França1


Resumo

Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão sobre a tecnologia assistiva, com uma abordagem interdisciplinar que estabelece uma correlação entre design, estética e inovação. Para tanto, no contexto metodológico, foram realizadas investigações bibliográficas direcionadas ao tema, utilizando plataformas de dados científicas. Os resultados destacaram que o desenvolvimento de tecnologias assistivas requer uma abordagem que integre design, funcionalidade e impacto emocional, promovendo inclusão, acessibilidade e inovação. A pesquisa abordou sobre tecnologia assistiva, considerando seu objetivo, formas de aplicação e recursos necessários para sua implementação. Além disso, constatou-se que os processos de inovação para esses produtos são desenvolvidos e analisados no campo do design.

Palavras-chave: estética, tecnologia assistiva, design, inovação 

Abstract 

This study aimed to conduct a review of assistive technology, with an interdisciplinary approach that establishes a correlation between design, aesthetics and innovation. To this end, in the methodological context, bibliographical investigations were carried out on the topic, using scientific data platforms. The results highlighted that the development of assistive technologies requires an approach that integrates design, functionality, and emotional impact, promoting inclusion, accessibility and innovation. The research addressed assistive technology, considering its objective, forms of application and resources necessary for its implementation. In addition, it was found that the innovation processes for these products are developed and analyzed in the field of design.

Keywords: aesthetics, assistive technology, design, innovation

1 INTRODUÇÃO

O conceito de tecnologia assistiva, segundo Plos (2012), refere-se a “produtos especializados que visam compensar parcialmente a perda de autonomia vivida por pessoas com deficiência”. Esses produtos atendem às necessidades específicas em um mercado segmentado e caracterizado por custos elevados restringindo sua acessibilidade a uma parcela significativa da população. Segundo com a ABNT2 (2016), o design de ambientes é definido como a área do design que se relaciona ao “planejamento, projeto e desenvolvimento aplicados a qualquer ambiente, envolvendo soluções estéticas, técnicas e funcionais voltadas para a experiência do usuário”. 

Por outro lado, o design industrial é conceituado como uma “atividade intelectual, técnica e criativa, de planejamento, projeto e desenvolvimento, que une elementos estéticos e cujo objetivo principal é criar valor e sentido, promovendo adequação, melhoria e/ou inovação” (ABNT, 2016). Ambos os conceitos estão alinhados à usabilidade e à inovação, mas possuem diferentes contextos de aplicação O objetivo deste artigo é realizar uma revisão sobre a tecnologia assistiva, com uma abordagem interdisciplinar que estabelece uma correlação entre design, estética e inovação, em conformidade com as definições contemporâneas do campo. Essa abordagem busca otimizar a interação entre as pessoas e os espaços, considerando a funcionalidade e a estética de maneira integrada. 

2 DESENVOLVIMENTO

Bennett et al. (2018), Buehler et al. (2015), Kandalan e Namuduri (2020) e Newell (2003) discutem a tecnologia assistiva (TA) a partir de diferentes perspectivas, destacando a relevância do design inclusivo, da colaboração interdisciplinar e da integração entre estética, funcionalidade e inovação como elementos fundamentais para atender às demandas da sociedade. Segundo Bennett et al. (2018) destaca a relevância da colaboração e da interdependência no desenvolvimento de tecnologias acessíveis e cita que a acessibilidade é um esforço coletivo.

O estudo evidencia que as habilidades individuais não devem ser hierarquizadas, mas complementadas por meio da colaboração, promovendo a ideia de que a inclusão é construída em equipe. Por fim, Newell (2003) argumenta que a estética e o design visual devem ser integrados ao desenvolvimento de tecnologias assistivas, promovendo um mercado mais inclusivo e abrangente, especialmente diante de mudanças demográficas e do envelhecimento populacional.

Tabela 1: Portifólio de artigos selecionados 

Fonte: Elaborado pela autora

Exploram diferentes aspectos da tecnologia assistiva, destacando a correlação entre design, estética e inovação. Para Goldberg e Pearlman (2013) enfatizam a importância da criação de protótipos funcionais como etapa fundamental no desenvolvimento de tecnologias assistivas eficazes. Plos et al. (2012) discutem a aplicação de princípios de design inclusivo, reforçando a necessidade de abordar as diversas demandas dos usuários. Sawicki et al. (2020) abordam o uso de tecnologias avançadas, como exoesqueletos, que exemplificam a integração de inovação e funcionalidade para atender às necessidades físicas dos usuários.

Além disso, outros autores ampliam a discussão ao abordar contextos mais específicos. Alabi e Mutula (2020) analisam a inclusão de tecnologias assistivas em ambientes acadêmicos, promovendo a acessibilidade educacional. Mallin e Carvalho (2015) destacam a relevância das necessidades emocionais dos usuários, reforçando que a tecnologia assistiva deve considerar não apenas a funcionalidade, mas também o impacto psicológico e social. Essas abordagens demonstram a interdisciplinaridade. 

Tabela 2: Portifólio de artigos selecionados 

Fonte: Elaborado pela autora

 Ravneberg (2012) analisa a apropriação de dispositivos de tecnologia assistiva (TA), como aparelhos auditivos, destacando a busca por autonomia e competência pelos usuários, além de identificar barreiras, motivos de desistência e o impacto funcional e social dessas tecnologias. Choi (2015) enfatiza a importância de envolver usuários no processo de design, abordando tanto necessidades funcionais quanto fatores subjetivos, como estética e satisfação, para melhorar a aceitação e reduzir o abandono de dispositivos de tecnologia assistiva (TA).

Para Parente e Scherer (2004) explora o papel da tecnologia assistiva (TA) na inclusão educacional, destacando sua capacidade de promover acessibilidade e a necessidade de superar estigmas associados, especialmente em ambientes escolares e entre idosos. Ravneberg (2009) foca na relação entre tecnologia assistiva (TA) e identidade, ilustrando como mudanças em dispositivos, como cadeiras de rodas, podem transformar a autoimagem e a percepção social de pessoas com deficiência.

Tabela 3: Portifólio de artigos selecionados 

Fonte: Elaborado pela autora

3 MÉTODO

Nesse contexto, a estética e o design associados à tecnologia assistiva foram analisados por meio de levantamento bibliográfico, abrangendo artigos, incluindo estudos de revisão, publicados em revistas internacionais. A pesquisa utilizou  as bases de dados Scopus e CAPES, considerando artigos publicados a partir de 2003, pois este reflete os avanços recentes na áreas de tecnologia assistiva. 

Os principais descritores empregados na busca foram: assistive technology, design, innovation e aesthetics. Com base nos resultados iniciais, os documentos mais relevantes foram selecionados a partir das seguintes combinações de descritores: (1) (assistive AND technology) AND (design) e foram selecionados 4 artigos; (2) (assistive AND technology) AND (design) AND (innovation) e foram selecionados 5 artigos; (3) (assistive AND technology) AND (design) AND (aesthetics) e foram selecionados 4 artigos.

A seleção dos artigos pesquisados foi realizada com base nos critérios de inclusão e exclusão apresentados na tabela 4, com o objetivo de identificar aqueles que apresentassem aderência aos temas delineados pela questão fundamental da pesquisa. Essa abordagem sistemática possibilitou a escolha de estudos, contribuindo para a análise interdisciplinar dos temas propostos.

Tabela 4: Detalhamento do método

Fonte: Elaborado pela autora

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

As análises iniciais identificaram artigos relacionados ao objetivo da pesquisa, dos quais 13 foram selecionados relevantes, com base nos descritores:  aesthetics, assistive tecnology, design, innovation. Esses artigos foram utilizados para fundamentar as discussões e análises apresentadas neste estudo. Os aspectos centrais da discussão sobre tecnologia assistiva (TA) são abordadas as perspectivas de design inclusivo, estética e inovação, elementos diretamente vinculados ao objetivo do trabalho. 

A análise com o item (assistive AND technology) AND (design), citada no objetivo, é refletida no trabalho de Bennett et al. (2018), que aborda a colaboração e a interdependência, destacando a necessidade de esforços coletivos na criação de tecnologias assistivas — um componente essencial para a interdisciplinaridade. Da mesma forma, Newell (2003) reforça a importância de integrar a estética no desenvolvimento de tecnologias assistivas, alinhando-se ao objetivo de estabelecer uma correlação entre design e inovação.

A análise do tema (assistive AND technology) AND (design) AND (innovation) evidencia abordagens que contribuem para a interdisciplinaridade e inovação no campo da tecnologia assistiva. Plos et al. (2012) reforçam a ncessidade de atender a demandas diversificadas dos usuários, conectando design e funcionalidade, enquanto Mallin e Carvalho (2015) enfatizam a relevância das necessidades emocionais dos usuários no processo de desenvolvimento. Além disso, Goldberg e Pearlman (2013) destacam a interdisciplinaridade ao integrar equipes diversificadas no design de tecnologia assistivas., um ponto que complementa a análise prática de Alabi e Mutula (2020) sobre a inclusão de tecnologias assistivas em ambientes acadêmicos, promovendo acessibilidade. Por fim, Sawicki et al. (2020) exemplificam a integração entre inovação e funcionalidade ao abordar tecnologias avançadas, como exoesqueletos, destacando sua eficiência em atender às necessidades físicas dos usuários. 

Com base neste item (assistive AND technology AND design) AND aesthetics os artigos pesquisados abordam sobre o tema. Ravneberg (2012) destaca a usabilidade e o abandono da tecnologia assistiva, enfatizando os desafios e barreiras no uso contínuo dessas ferramentas. Complementando esta perspectiva, Choi (2015) explora a inclusão do feedback dos usuários no desenvolvimento inicial de produtos, mostrando é possivel aprimorar tanto a funcionalidade quanto a experiência estética. Além disso, Ravneberg (2009) analisa a política de identidade e o design inclusivo no fornecimento de tecnologia assistiva. Por Fim, Parette E Scherer (2004) apontam como a consideração das influências sociais e psicológicas é fundamental para um design inovador e esteticamente aceitável, evidenciando que a funcionalidade deve estar alinhada às percepções e necessidades emocionais dos usuários. As palavras-chave apresentam os artigos desenvolvidos pelos autores sobre o tema de tecnologias assistivas. 

Tabela 5: Artigos selecionados e palavras-chave 

Fonte: elaborada pela autora

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tecnologias assistivas, voltadas para atender às necessidades de pessoas com deficiência e promover autonomia, destacam a importância do desenvolvimento de produtos que integrem funcionalidade, acessibilidade e estética. Assim, a adoção de equipamentos assistivos deve ser planejada e executada sob a perspectiva do design, garantindo que atendam tanto às necessidades práticas quanto às emocionais de seus usuários.

Nesse contexto, a pesquisa buscou compreender e definir o conceito de tecnologia assistiva, explorando seus objetivos, formas de aplicação e os recursos necessários para sua implementação. A análise integrada dos documentos examinados evidencia que o avanço nessa área requer uma abordagem interdisciplinar, que promova a funcionalidade e design emocional, proporcionando inclusão social, acessibilidade e um impacto transformador na sociedade. 

Essas contribuições ilustram como a interdisciplinaridade, a inovação e a estética se entrelaçam no desenvolvimento de tecnologias assistivas, respondendo ao objetivo de conectar design, funcionalidade e impacto emocional no contexto da inclusão. Essas contribuições mostram como interdisciplinaridade, inovação e estética convergem no desenvolvimento de tecnologias assistivas, alinhando design, funcionalidade e emoções à inclusão.


2ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 16516: Serviços de design Terminologia. Rio de Janeiro, 2016.

REFERÊNCIAS

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1 Discente do curso de Pós-Graduação em Design (UNESP/FAAC). Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6135656X, 
e-mail: marcia.mfr@gmail.com