BLOOM’S TAXONOMY: AN EVALUATION TOOL FOR THE TEACHING LEARNING PROCESS IN TIME I EDUCATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505081158
Selma Estevam da Silva1
Resumo
Este trabalho explora a utilização da Taxonomia de Bloom como um instrumento de avaliação no processo de ensino-aprendizagem na educação em tempo integral. Desenvolvida por Benjamin Bloom e seus colaboradores, a taxonomia categoriza os objetivos educacionais em uma hierarquia que inclui os níveis de lembrar, compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar. Estrutura robusta que dá suporte para a criação de avaliações, que devem ir além da mera memorização de informações e promover o aprendizado efetivo. Nesse contexto temático, a Taxonomia de Bloom ao circundar os procedimentos avaliativos na educação em tempo integral revela especial destaque no que se refere à capacidade de diversificar e de enriquecer as estratégias avaliativas. A fundamentação teórica do estudo tem como base o diálogo entre alguns autores, Bloom, Hastings e Madaus (1983), Ferraz e Belhot (2010), Rocha (2013), Oliveira, Pontes e Marques (2016), e observa o que está descrito na legislação educacional brasileira ao incluir a Lei de Diretrizes e Bases e a Base Nacional Comum Curricular. Ao final, tece considerações quanto à integração da Taxonomia de Bloom nas práticas avaliativas da educação em tempo integral, fator que contribui significativamente para um ensino mais eficaz e um aprendizado mais abrangente, que prepara o alunado para o enfrentamento de diversos desafios acadêmicos e pessoais.
Palavras-chave: taxonomia; avaliação; ensino-aprendizagem; tempo integral.
Abstract
This paper explores the use of Bloom’s Taxonomy as an evaluation tool in the teaching-learning process in full-time education. Developed by Benjamin Bloom and his collaborators, the taxonomy categorizes educational goals into a hierarchy that includes the levels of remembering, understanding, applying, analysing, evaluating, and creating. A robust structure that supports the creation of evaluations, which should go beyond merely memorizing information and promoting effective learning. In this thematic context, Bloom’s Taxonomy in circumventing evaluative procedures in full-time education shows special emphasis in terms of the ability to diversify and enrich evaluative strategies. The theoretical basis of the study is based on the dialogue between some authors, Bloom, Hastings and Madaus (1983), Ferraz and Belhot (2010), Rocha (2013), Oliveira, Pontes and Marques (2016), and observes what is described in Brazilian educational legislation by including the Law of Guidelines and Bases and the Common National Curricular Base. In conclusion, he makes considerations regarding the integration of Bloom’s Taxonomy into the evaluative practices of full-time education, a factor that significantly contributes to more effective teaching and more comprehensive learning, which prepares the student for the face of various academic and personal challenges.
Keywords: taxonomy; evaluation; teaching-learning; full-time.
INTRODUÇÃO
Ao se reportar acerca da definição do que seria taxonomia cabe informar que esse termo bastante usado em diferentes áreas e, segundo Ferraz e Belhot (2010), condizente à ciência de classificação, denominação e organização de um sistema pré-determinado, tem como resultante um framework conceitual para discussões, análises e/ou recuperação de informação.
Enquanto instrumento, a taxonomia é amplamente empregada na educação, uma vez que proporciona possibilidades de uso para estruturar e avaliar o processo de aprendizagem dos alunos. Percebe-se, então, que a taxonomia tem poder de classificar os objetivos educacionais em níveis de complexidade e especificidade, mostrando-se como um guia para a criação de avaliações e atividades de ensino-aprendizagem. Assim, diante do cenário educacional contemporâneo, compreende-se que essa avaliação eficaz do aprendizado dos estudantes é um componente essencial para garantir a qualidade do ensino.
E, no tocante à Taxonomia de Bloom, desenvolvida por Benjamin Bloom em conjunto com outros pesquisadores na década de 1950, observa-se a classificação hierárquica dos objetivos de aprendizagem, um instrumento valioso e amplamente empregado para estruturar e avaliar os objetivos educacionais mais significativos (Ferraz; Belhot, 2010).
Nessa condição, nota-se que a educação básica do Brasil, tanto no tempo regular como no tempo ampliado (denominado tempo integral), foi originalmente concebida para categorizar objetivos de aprendizagem em uma hierarquia de complexidade crescente. Visto que, a legislação brasileira que rege esse nível educacional, a educação básica, encontra-se adaptada e expandida para atender às necessidades dos educadores modernos em muitos quesitos, inclusive no que diz respeito à avaliação.
Logo, em referência à educação em tempo integral, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece em seu artigo 34 que “a jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola‘’ (Brasil, 1996). A legislação enfatiza, assim, a importância de se criar programas que possam aumentar as chances educativas e formativas dos estudantes. Uma indicação de que a educação em tempo integral abrange necessidades até então não escalonadas.
Em momento mais recente, tal fato foi evidenciado pelo legislador brasileiro, que, ao perceber que o aluno da educação em tempo integral passa um período maior na escola, se preocupou em proporcionar a este maior envolvimento relacionado à sua formação e à sua avaliação. Assim, nesse cenário, a Lei nº 14.640, de 31 de julho de 2023, instituidora do Programa Escola em Tempo Integral, observa um acréscimo considerável de atividades, tendo em vista que, na perspectiva da educação de tempo integral há a ampliação da jornada de tempo, a qual pode ser igual ou superior a 7 horas diárias ou 35 horas semanais.
Diante desse cenário educacional, a taxonomia pode ser vista como uma estrutura sistemática que permite aos professores a definição clara do que esperam que os alunos aprendam e demonstrem nesse longo espaço de tempo no chão da escola. Assim sendo, ao organizar os objetivos educacionais em níveis de conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação, a Taxonomia de Bloom proporciona uma base sólida para criar avaliações que, além de observarem questões de retenção de informações, também enlaçam a capacidade dos alunos de aplicar, analisar e criar conhecimentos acerca da construção de identidade, que perpassa a ampliação do saber desenvolvido a cada ano de vida escolar.
A jornada escolar se estende para além do tradicional nesse contexto da educação em tempo integral. Consequentemente, a necessidade de avaliações abrangentes e significativas torna-se ainda mais evidente. Perspectiva que revela a Taxonomia de Bloom como um instrumento poderoso para desenvolver avaliações que promovam um aprendizado profundo e expressivo.
A Taxonomia de Bloom “facilita a criação de atividades e avaliações diversificadas, que englobam desde tarefas de memorização até projetos complexos que exigem pensamento crítico e criatividade” (Oliveira; Pontes; Marques, 2016, p. 13). Dessa forma, esse instrumento pode influenciar a composição de propostas inovadoras e projetos, bem como intensificar participações no ambiente escolar e contribuir para fatores significativos do desenvolvimento da pessoa humana. Contudo, faz-se necessário que o monitoramento contínuo das promoções diversificadas das práticas pedagógicas, especialmente porque no escopo da educação básica em tempo integral também há a consideração da base comum e da base diversificada do currículo escolar.
O pensamento preponderante é de que quando se fala em avaliação, remete-se à educação, isto porque o termo avaliar está diretamente relacionado ao processo de aprendizagem. Pois, o ato de avaliar envolve várias percepções, dentre elas crenças, valores, princípios e meta.
À vista disso, a pesquisa aqui apresentada busca examinar a contribuição da Taxonomia de Bloom enquanto instrumento de avaliação no processo de ensino-aprendizagem na educação em tempo integral. E, a partir de uma análise das suas aplicações práticas, destaca-se como essa taxonomia pode ser utilizada para desenvolver avaliações que não só medem o aprendizado, mas também fomentam o desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI.
1. A Taxonomia de Bloom e suas contribuições para procedimentos avaliativos em educação em tempo integral
A Taxonomia de Bloom consiste basicamente em seis níveis hierárquicos de habilidades cognitivas, sendo elas: “Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação” (Rocha, 2013, p. 22). Ou seja, um modelo em várias camadas que organiza o pensamento conforme a complexidade cognitiva. Ademais, Rocha (2013) aponta que o conhecimento envolve a recordação de fatos, termos, conceitos básicos e respostas; a compreensão inclui a habilidade de explicar ideias ou conceitos; a aplicação faz jus ao uso de informações em novas situações; o nível de análise trata da decomposição da informação em partes e inclui o entendimento de sua estrutura; a síntese entrelaça e combina elementos para formar um todo coeso e original; enquanto a avaliação se refere ao julgamento, que toma como base alguns critérios e padrões.
De acordo com Ferraz e Belhot (2010), entre os anos de 1999 e 2001, trabalhos de revisão e atualização da Taxonomia de Bloom foram apresentados à comunidade acadêmico-científica, com destaque para Lorin Anderson e grupo de pesquisadores liderado por David Krathwohl, ex-aluno de Bloom. Seus estudos buscavam equilibrar a estrutura da taxonomia original e os novos desenvolvimentos incorporados à educação no decorrer de quarenta anos. Proporcionaram, assim, a inclusão de mudanças nas categorias e no foco, que gerou como resultado uma versão mais dinâmica da taxonomia. Reconhecida por categorias como: Lembrar, Entender, Aplicar, Analisar, Avaliar, Criar. Mais pertinentes ao processo de aprendizagem colaborativa.
Com efeito, as categorias mais recentes da taxonomia se referem a uma progressão de habilidades cognitivas, a qual tem início com uma simples lembrança de fatos e se estende até a capacidade de criar algo tendo por base o conhecimento adquirido.
A aplicação da Taxonomia de Bloom, inclusive com esta complementação de categorias, mostra-se um instrumento valioso no quesito avaliação na educação em tempo integral por oferecer uma estrutura clara quanto à percepção do desenvolvimento cognitivo dos alunos. Diante disso, as formas de aplicar a taxonomia na avaliação podem ser postas em prática a partir do adequado planejamento de aulas e atividades que requerem ações como: lembrar; entender; discutir em grupo; fazer perguntas abertas que exigem explicações e/ou descrições pormenorizadas; aplicar estudos de caso; desenvolver projetos que impliquem o uso de conceitos em situações novas e reais; analisar criticamente textos; produzir experimentos; criar projetos e apresentações que incentivam a inovação e a síntese de várias ideias e conceitos. Isto significa envolver os alunos em situações que buscam incentivá-los a identificar padrões e relações, reconhecer a criação de instrumentos de avaliação.
As rubricas baseadas nos níveis da taxonomia para avaliar o desempenho dos alunos de maneira consistente e objetiva apontam as provas e os testes que estruturam e incluem questões de diferentes. Todavia, no que se refere ao ato de avaliar, os níveis da taxonomia de avaliação proporcionam uma gama repleta de habilidades cognitivas, sendo possível fazer uso de debates e ensaios, métodos que exigem julgamento crítico baseado em critérios claros.
Quanto ao processo de feedback, torna-se pertinente elencar guias para os alunos com base nos diferentes níveis de pensamento, de modo a ajudá-los a identificar suas forças e suas áreas de melhoria e para que o desenvolvimento de competências promova ampliações referentes à criticidade e à criatividade. Assim, é por meio de atividades que envolvem os níveis mais altos da taxonomia – como análise, avaliação e criação – que se incentiva a autonomia e a responsabilidade dos alunos pelo seu próprio aprendizado, e fornece também oportunidades para autoavaliação e reflexão.
No que diz respeito à dimensão do conhecimento, e conforme objetivos dispostos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (2018), percebe-se o quão fundamental é para o desenvolvimento de alunos – principalmente da educação em tempo integral – promover uma formação plena, que prepara estudantes não apenas para o mercado de trabalho, mas também para a vida em sociedade e a cidadania participativa.
Sob esse olhar, a Taxonomia de Bloom é um instrumento que gera reais efeitos no campo de ensino-aprendizagem, especialmente porque:
Duas das inúmeras vantagens de se utilizar a taxonomia no contexto educacional são: • Oferecer a base para o desenvolvimento de instrumentos de avaliação e utilização de estratégias diferenciadas para facilitar, avaliar e estimular o desempenho dos alunos em diferentes níveis de aquisição de conhecimento; e • Estimular os educadores a auxiliarem seus discentes, de forma estruturada e consciente, a adquirirem competências específicas a partir da percepção da necessidade de dominar habilidades mais simples (fatos) para, posteriormente, dominar as mais complexas (conceitos) (Ferraz; Belhot, 2010, p. 422).
Sendo assim, a Taxonomia de Bloom pode gerir domínio das categorias relacionadas a: conhecimento; compreensão; aplicação; análise; síntese; e avaliação. Além disso, a Taxonomia de Bloom está vinculada ao domínio cognitivo, que mantém estreita relação com a aprendizagem, domínio categórico de determinados conhecimentos, que, segundo Ferraz e Belhot (2010, p. 422), “envolve a aquisição de um novo conhecimento, do desenvolvimento intelectual, de habilidade e de atitudes”. Inerente a esse domínio, é imprescindível fazer um adendo à BNCC, em especial no que se refere à contemplação de diversas competências, favorecida pelos componentes curriculares de cada ano escolar.
Na percepção de Ferraz e Belhot (2010), a Taxonomia de Bloom apresenta outra grande influência, a qual desponta para o lado afetivo, que tem relação com sentimentos e posturas, assim abarca “categorias relacionadas ao desenvolvimento da área emocional e afetiva, que incluem comportamento, atitude, responsabilidade, respeito, emoção e valores” (p. 423). E, no tocante à própria construção de identidade linguística, étnica e cultural, corrobora para uma visão altruísta de si mesmo e de sua realidade, que pode estar em constante movimento, envolver autogestão e autonomia, manter vínculo com a construção de valores, atitudes, habilidades, comportamento, responsabilidade, respeito e emoção.
No que tange ao domínio psicomotor, Ferraz e Belhot (2010, p. 423) explicam quanto à relação direta existente entre os reflexos, a percepção, as habilidades físicas, os movimentos aperfeiçoados e a comunicação não verbal contribuem para ampliar a capacidade humana acerca da imitação; manipulação; articulação; e naturalização. Igualmente, em referência à BNCC (2018), o processo poderia ser identificado a partir das práticas corporais, do uso, da apropriação, do saber fazer e da fruição e reflexão sobre a ação, análise e compreensão.
1.1 A TAXONOMIA DE BLOOM E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL
Atendendo à perspectiva do desenvolvimento da educação em tempo integral do Brasil, a Taxonomia de Bloom revisada usada conjuntamente à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pode ser percebida como suporte material essencial, visto que o processo educativo contemporâneo requer a observação de parâmetros. Este deve oferecer ao educador um quadro robusto para o seu planejamento de ensino e para a elaboração da avaliação que deve ser adequada ao contexto da educação em tempo integral.
Nesse cenário, a Taxonomia de Bloom pós-revisão, que buscou organizar os objetivos educacionais em uma hierarquia de complexidade cognitiva e inclui as categorias: lembrar, entender, aplicar, analisar, avaliar e criar, expõe uma estrutura que permite aos educadores o planejamento e a avaliação do progresso dos alunos de forma sistemática e progressiva.
No linear da questão, a Base Nacional Comum Curricular firma-se como documento normativo que define as aprendizagens essenciais que os alunos da educação básica brasileira devem desenvolver ao longo da vida escolar. Conforme a BNCC (Brasil, 2018), o ensino-aprendizagem deve alinhar possibilidades comuns aos estudantes brasileiros. Desse modo, a Base Nacional Comum Curricular organiza o currículo em áreas do conhecimento e componentes curriculares, bem como estabelece quais as principais competências e habilidades que a escola deve buscar desenvolver nos seus alunos.
E no que se refere às interfaces de integração da Taxonomia de Bloom com a BNCC, compreende-se que no contexto de planejamento curricular isso possibilita que educadores desenvolvam planos de aula que não atendam apenas aos objetivos de aprendizagem específicos, mas também promovam o adequado desenvolvimento cognitivo progressivo e avaliativo. A exemplo, tem-se as ações de: lembrar, que está relacionada a fatos e conceitos básicos, como datas importantes na história; entender, que ocorre ao se explicar conceitos; discutir, que proporciona abordagem de contextos; aplicar, que remete ao uso de conhecimentos em situações reais, vivências; analisar, que examina, investiga, explora informações, comparando-as e contrastando-as com diferentes visões ou períodos históricos.
Nesse raciocínio, entende-se que essa aproximação da Taxonomia de Bloom à BNCC considera a relevância do avaliar dos alunos, que deveriam compreender e julgar a importância desse evento que deve ser solidificado a partir de critérios previamente estabelecidos. Estes, por sua vez, proporcionam margem ao ato de criar, capaz de sintetizar diversas aprendizagens, transpondo-se em projetos e/ou apresentações de impacto.
Ressalta-se que a Taxonomia de Bloom revisada oferece proposta para avaliar o aprendizado de maneira formativa e somativa, assim abrange avaliações que mantêm conformidade com as diretrizes da BNCC (Brasil, 2018). Um fator especialmente relevante para a educação em tempo integral, modalidade da educação brasileira em que o foco está no desenvolvimento holístico do aluno, o qual deve ser avaliado levando em conta o pensar, o sentir, o se relacionar e o solucionar problemas. Em vez de se concentrar apenas em aspectos específicos.
Entretanto, destaca-se que,
[…] na maioria das vezes, é impossível distinguir as definições de objetivos formativos das definições de objetivos somativos a curto prazo. A época estabelecida para a avaliação (enquanto a instrução está em processo, e não após seu término) e o motivo da avaliação (diagnóstico, recuperação e planejamento, em vez de classificação ou julgamento) devem ser bem conhecidos para que possamos classificar uma definição como sendo de natureza formativa ou somativa a curto prazo (Bloom; Hastings; Madaus, 1983, p. 41).
Desse modo, no que tange às avaliações formativas, Bloom, Hastings e Madaus (1983) apontam a necessidade de se ter em vista instrumentais de usos contínuos, como questionários, debates e atividades práticas – ferramentas capazes de examinar o entendimento dos alunos no decorrer do processo de ensinoa-prendizagem. Já nas avaliações somativas, Bloom, Hastings e Madaus (1983) indicam que a materialidade dos saberes se reconhece com base nas provas e nos projetos que classificam o aprendizado dos alunos conforme níveis de desempenho previamente definidos. Isto é, métodos que têm o objetivo avaliar o estudante de forma abrangente, identificando os resultados mais amplos que foram atingidos principalmente ao final de um curso, aferições que investigam a competência dos alunos em todos os níveis cognitivos estabelecidos pela Taxonomia de Bloom, percebidos tanto na educação de tempo regular como na educação em tempo integral.
Outro ponto relevante enfatizado pela BNCC se refere ao desenvolvimento de competências socioemocionais, características essenciais para o sucesso escolar, pessoal e social do estudante (Brasil, 2018). Isto posto, é importante esclarecer que a Taxonomia de Bloom pode ser utilizada em observância ao desenvolvimento de competências socioemocionais, de modo que o educador pode planejar atividades que não apenas desenvolvam habilidades cognitivas, mas também abarquem competências como empatia, colaboração e resiliência. Como exemplo disso, o desenvolvimento de competências socioemocionais pode ser compreendido a partir do emprego de ações colaborativas em sala de aula, a saber: os projetos em grupo, que incentivam a comunicação e a cooperação entre os alunos; e as atividades de reflexão crítica, que fazem uso de debates e discussões. Ou seja, o educador pode incentivar a reflexão dos alunos sobre si e sobre o outro, bem como avaliar os atributos referentes à compreensão e ao uso das emoções.
No contexto da educação em tempo integral, em que os alunos passam mais tempo na escola, a Taxonomia de Bloom e a BNCC juntas permitem a criação de um currículo mais equilibrado e dinâmico. Isso facilita a inclusão de atividades extracurriculares, oficinas e projetos interdisciplinares que promovem o aprendizado ativo e contínuo. Logo, para corroborar com essa competência, o educador deve optar por ações proativas, que podem ser desenvolvidas através de oficinas temáticas, atividades extracurriculares, estudos que visam aprofundar os conhecimentos adquiridos em sala de aula – projetos que sejam práticos, mas também criativos.
Além disso, não se pode esquecer da interdisciplinaridade, eixo integrador de várias áreas do conhecimento. Assim, aquilo que se apresenta como projeto único do ambiente escolar, muitas vezes, é capaz de exigir habilidades múltiplas e de diferentes níveis de conhecimento. Consequentemente, requer uma avaliação integrada, que oferece uma abordagem contemporânea e eficaz para o ensino e abrange o contexto da educação em tempo integral, seguindo, também, o currículo definido pela Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018). Esta integração permite um planejamento curricular mais completo, avaliações mais precisas e um desenvolvimento holístico dos alunos, pois se alinha aos objetivos da BNCC que objetiva a formação de cidadãos críticos, participativos e preparados para os desafios do século XXI (Brasil, 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Taxonomia de Bloom, especialmente em sua versão revisada, é um instrumento necessário ao campo educacional, visto que proporciona uma estrutura organizada para a definição de objetivos educacionais, bem como para o desenvolvimento de currículos e de procedimentos avaliativos. Assim, no contexto da educação em tempo integral, quando a Taxonomia de Bloom é aplicada, o ensino-aprendizagem pode se tornar ainda mais eficaz devido essa modalidade educacional possibilitar maior disponibilidade de tempo para o desenvolvimento e para a avaliação de competências.
Dessa maneira, os benefícios da Taxonomia de Bloom para a educação em tempo integral podem ser compreendidos especialmente na estruturação do currículo escolar que, decorrente da extensão da jornada ampliada, permite que o educador proponha planos de ensino mais detalhados e estruturados. Estes devem garantir que os alunos passem por todas as etapas de desenvolvimento cognitivo, percorrendo desde a lembrança de informações e alcançando a criação de novos conhecimentos.
Sabendo que a educação em tempo integral exige abordagens pedagógicas inovadoras, e que os diferentes níveis da Taxonomia de Bloom permitem a utilização de uma variedade de métodos avaliativos, que vão desde testes de memória até projetos de criação, considera-se que o uso dessas ferramentas avaliativas é particularmente útil no contexto educacional de tempo integral brasileiro. Para tanto, ressalta-se que a avaliação contínua e diversificada é essencial para acompanhar o progresso dos alunos de forma abrangente.
Quanto ideia de que a educação em tempo integral não se limita apenas ao desenvolvimento escolar, destaca-se que a Taxonomia de Bloom, ao incluir habilidades como análise, avaliação e criação, também promove o desenvolvimento de competências socioemocionais, como o pensamento crítico, a resolução de problemas e ampliação da criatividade, preparando os alunos para desafios futuros.
Também é importante despertar para o fato de que a aplicação prática dos níveis mais altos da Taxonomia de Bloom (analisar, avaliar e criar) incentiva a aprendizagem ativa do aluno. Assim, vale salientar que, na educação em tempo integral, o desenvolvimento de projetos interdisciplinares e de oficinas temáticas, bem como atividades extracurriculares que envolvem os alunos de maneira mais profunda e significativa, proporcionam experiências relevantes ao envolver os alunos no processo de aprendizagem.
No quesito da personalização do ensino, a Taxonomia de Bloom permite certa particularização no que concerne a adaptação de atividades e avaliações às necessidades e aos níveis individuais dos alunos. Isso é, bastante considerável na da educação em tempo integral, em que os educadores têm mais tempo para conhecer e atender às particularidades de cada aluno, e nessa perspectiva promover uma educação mais inclusiva e equitativa.
Quanto às aplicações práticas da Taxonomia de Bloom na educação do tempo integral, tem-se aqui um compilado de toda a gama de atividades e métodos avaliativos que podem ser oferecidos, conforme os objetivos educacionais:
I) lembrar, que utiliza jogos de memória e fichas de estudo como atividades e, para avaliações, testes de múltipla escolha com perguntas diretas;
II) entender, que se apoia em atividades de discussões temáticas em grupo, elaboração de resumos e composição de paráfrases, tendo o uso de questionários descritivos e explicações/apresentações orais como formas avaliativas;
III) aplicar, que abrange projetos, atividades práticas e laboratoriais, estudos de caso e, quanto ao processo de avaliação, pode requisitar trabalhos práticos, demonstrações e relatórios de campo;
IV) analisar, que envolve atividades de análises de textos, comparação de teorias, dissecação de argumentos, tendo como possível formato de avaliação os ensaios analíticos e as discussões profundas;
V) avaliar, que ajusta atividades como debates e avaliações de pares com críticas construtivas e traz como critério avaliativo as apresentações e o uso de portfólios;
VI) criar, que é favorecido por atividades de desenvolvimento de projetos, produções artísticas, invenções e tem sua avaliação vinculada aos projetos finais e exposições de produtos originais.
À vista disso, a Taxonomia de Bloom, com sua abordagem estruturada e hierárquica, deve ser reconhecida como um instrumento essencial para o desenvolvimento de procedimentos avaliativos no contexto da educação em tempo integral. Ela facilita a criação de currículos diversificados, proporciona avaliações abrangentes e personalizadas, além de enfatizar a promoção do desenvolvimento integral dos alunos, incluindo competências cognitivas, práticas e socioemocionais. Ao utilizar a Taxonomia de Bloom, os educadores se alinham perfeitamente aos objetivos da Base Nacional Comum Curricular brasileira e, assim, podem garantir uma educação de qualidade que prepara os alunos para os desafios escolares e da vida em sociedade.
REFERÊNCIAS
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1Doutoranda em Ciências da Educação. Graduada em licenciatura plena em Artes e bacharel em serviço social, especialista em Arteterapia, Educação Inclusiva, Educação Especial e Neuropsicopedagogia, Mestra em Ciências da Educação. E-mail: selmaigre@gmail.com