TAJETÓRIA PROFISSIONAL E MEMÓRIA DOCENTE: PERCURSOS PROFISSIONAIS DE PROFESSORA APOSENTADA, (1970 -1990)                        

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411141500


                                           Arlene de Almeida Leal1
Renato Pinheiro da Costa2


                                                     Do Xingu águas verdes parece
                                                     Verde tela de verde polida
                                                     Altamira de verde se tece
                                                     Terra linda de verde vestida.

(Deoclides Almeida, melodia do hino)

Resumo: O presente trabalho tem por finalidade apresentar uma pesquisa em andamento, está inserida na linha de pesquisa história da educação básica, aborda sobre a história de educação de mulheres, sua trajetória profissional no magistério de Altamira Pará (1970-1990). A oralidade, a fonte fundamental desta pesquisa, será coletada através de entrevista gravada, que, em seguida, faremos a transcrição de acordo com metodologia da História Oral, complementada com fontes documentais como jornais e fotografias, fundamentada nas obras de Alberti, (2005). Com o objetivo; relatar a história das mulheres, com ênfase na relação entre sua formação educacional e sua inserção profissional no magistério. Com essa temática abordar no campo da investigação o debate sobre a feminização do magistério. Dar visibilidade para o trabalho desenvolvido em Altamira Pará.

Palavra-chave: Educação, Formação Educacional, Inserção no magistério.

1.INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade, relatar a história das mulheres, com ênfase na relação entre sua formação educacional e sua inserção profissional no magistério. Analisar a partir das pesquisas no campo da história da educação como se deu a atuação ao magistério nas instituições escolares altamirense, aborda sobre a história de educação de mulheres, sua trajetória profissional no magistério de Altamira Pará (1970-1990).

O texto apresenta o lócus da pesquisa, relacionado com a problematização do objeto. Detalhando o passo a passo do desenvolvimento desse trabalho, as fontes, o tratamento dado a essas fontes, através da metodologia da história oral. Delimitação do período histórico, indicando o recorte temporal e justificando esse período, fazendo uma discussão sobre o objeto da pesquisa.

  Com a discussão desta temática, pretendo trazer para o campo da investigação, o debate sobre o trabalho docente e com isso apresentar as contribuições das professoras no processo de escolarização e desenvolvimento social no município de Altamira Pará.

2. RECORTE TEMPORAL

O recorte temporal da referida pesquisa compreende os anos 1970 a 1990, e justifica se pela necessidade de destacar a contribuição da professora Ducilla Almeida do Nascimento, no cenário educacional, político e social de Altamira, principalmente no processo de escolarização. Esse recorte foi escolhido por ser uma década de grande atuação dessa educadora no processo de autorização das escolas na rodovia transamazônica.

O fato de ter escolhido esta mulher como sujeito da pesquisa se justifica pelo interesse de conhecer a sua trajetória profissional e as contribuições para o sistema educacional deste Município e por ela estar frequentando os mesmos espaços no referido recorte. A partir dessas compreensões é que foi escolhido o recorte temporal, destacando-se por ter produzido profundas transformações no setor educacional altamirense, em particular, para a história da educação.

A definição deste período histórico é fundamentada pela trajetória profissional da professora Ducilla Almeida do Nascimento de Altamira- Pará, nesse período o município estava vivenciando diversas situações no contexto social, político e educacional.

Na década de 1970, aconteceu o fenômeno da migração para a BR-230, rodovia Transamazônica Pará, a luta dos migrantes pela sobrevivência diante da falência do projeto de colonização do governo militar, o qual atraiu homens do Nordeste e Sul com a propaganda de ‘Terras sem homens para homens sem-terra, rumo a terra prometida’. (Portugal,2021).

A história oficial da abertura da Transamazônica relacionada ao Projeto de Integração Nacional, foi largamente estampada na mídia, no início da década de 1970,

[…] Art. 2.º A primeira etapa do Programa de Integração Nacional será constituída pela construção imediata das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém. § 1.º Será reservada, para colonização e reforma agrária, faixa de terra de até dez quilômetros à esquerda e à direita das novas rodovias para, com os recursos do Programa de Integração Nacional, se executar a ocupação da terra e adequada e produtiva exploração econômica. […] (PEREIRA, 1971, p. 150)

Desse modo, a questão da integração e ocupação de uma parte do território vista ao longo do tempo, contraditoriamente, como um vazio de difícil acesso, o Programa de Integração Nacional anunciado pelo governo vislumbrava resolver uma segunda questão, a situação dos nordestinos que eram fortemente castigados pela seca, e, portanto, estes seriam prioridade no movimento de migração para a colonização as margens da rodovia.

Após o anúncio da construção e colonização da rodovia Transamazônica, o governo disseminou uma forte propaganda acerca do processo, tendo como principal aliada a mídia, e muitas vezes tendo à frente o próprio general-presidente Emílio Garrastazu Médici, que esteve várias vezes in loco acompanhando as obras da estrada, como no ato simbólico da derrubada de uma enorme castanheira, que estabelecia o marco inicial dos trabalhos de construção da grande rodovia, mostrando para o mundo os heroísmos das autoridades que a propuseram, como fora noticiado na edição do dia 10 de outubro de 1970 do jornal Folha de São Paulo:

O presidente emocionado assistiu à derrubada de uma árvore de 50 metros de altura, no traçado da futura rodovia, e descerrou a placa comemorativa do início da construção. […]Descendo do carro que o conduzia, o presidente hasteou o pavilhão brasileiro em um mastro improvisado no tronco de uma árvore, enquanto uma banda militar tocava o Hino Nacional. Depois, descerrou uma placa de bronze incrustrada no tronco de uma grande castanheira com cerca de dois metros de diâmetro, na qual estava inscrito: “Nestas margens do Xingu, em plena selva amazônica, o Sr. Presidente da República dá início à construção da Transamazônica, numa arrancada histórica para a conquista deste gigantesco mundo verde” (FOLHA DE SÃO PAULO, 1970).

Pouco se mostrou da bravura e esforços dos migrantes que se empenharam para construir a rodovia, adentrar a mata e ocupar as terras. Nesta oportunidade, narramos as experiencias dos migrantes, do ponto de vista daqueles que viveram o projeto, na Amazonia.

No inverno, quando era estrada de chão, sem asfalto, quando chovia praticamente todos os dias, toda a terra virava lama e atoleiro. No verão, os moradores sofriam com a poeira. O percurso, que era realizado em cinco horas em período sem chuva, na estação chuvosa, costumava ser realizado no período de 24h, contando com os tratores que cobravam caro pelo reboque, sob muitos riscos, custo alto e dificuldades.

Uma estrada as vezes poeirenta e outras vezes coberta de lama, intrafegável, perdida no meio do nada, é a memória preponderante sobre a Transamazônica. Memória que levou ao desaparecimento da gigantesca estrada que pretendia integrar o Atlântico, em João Pessoa, na Paraíba ao Pacífico, em Lima, no Peru e preencher os chamados vazios da Amazônia com nordestinos e sulistas despossuídos. (Souza, 2019)

De acordo com Souza 2019, o programa de colonização da Transamazônica pretendia transferir populações do Nordeste para a Amazônia e ser o maior projeto de reassentamento já elaborado no mundo, com a transferência de cerca de cem mil famílias de uma região para outra do país, se tornando a expressão de uma suposta grandeza nacional.

Mas, não se tornou o maior projeto de assentamento do mundo, visto que o aumento considerável da população, se deu devido a ida de pessoas espontaneamente para a região. O projeto, apesar de ter seu foco central nos nordestinos, pretendia incluir também os sulistas sem-terra e assim aliviar as tensões no campo por todo o país e, simultaneamente, ocupar estrategicamente a Amazônia com povoamento, visto que os militares afirmavam temer perdê-la para a cobiça internacional.

A execução do projeto aconteceu em um período de regime militar no Brasil, a rodovia tornou-se a terceira maior do país, com quatro mil quilômetros, percorrendo os estados da Paraíba, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. A Transamazônica corta o Brasil no sentido Leste-Oeste, por isso é considerada uma rodovia transversal, no entanto, atualmente em grande parte, é pavimentada. Os extremos da rodovia são respectivamente em Cabedelo, Paraíba e Lábrea, Amazonas.

A Transamazônica surgia como único recurso para solucionar a crise econômica e social brasileira da época. A educação na Transamazônica passa a ser ofertada, posteriormente a inauguração da rodovia com os profissionais de educação que fizeram parte do processo de colonização, como afirma Silva (2008), em meios aos profissionais contratados para ministrar aulas, não havia docentes qualificados a assumirem as séries mais avançadas, (5° a 8°). Após a inauguração da rodovia, a Comissão Pastoral da Terra Prelazia do Xingu – CPT, em nota oficial todos os problemas da estrada estavam sendo mencionados em nível de segurança pública e a educação estava presente nas tentativas projetadas pelos governos para o assessoramento da população na Transamazônica.

Considerando que nosso povo vive sem nenhuma assistência médico-hospitalar, odontológica e sanitária por parte do Governo; Que todas as vicinais que foram construídas estão hoje abandonadas e/ ou intransitáveis; Que a educação na Transamazônica até agora não vem recebendo a devida atenção dos órgãos públicos Que a nossa agricultura é tão rudimentar por falta de recursos e créditos, e que as famílias vivem sem estrutura para produzir e morar na terra; Que os órgãos que atuam na área não têm feito nada para resolver os problemas dos trabalhadores do campo (…) (CPT, 1982, p.2).

As dificuldades atormentavam os habitantes da estrada, mesmo anos posterior a sua inauguração, muita coisa parecia não se encaixar às expectativas criadas e tomar direções favoráveis. A assistência médica, os travessões, a educação, a agricultura familiar que sofria por falta de investimento, foram problemas que tornaram desafiadora a vida das famílias assentadas. A questão educacional, assim como foi projetada, é referenciada por Silva (2008):

O INCRA construíra, às margens da rodovia, de dez em dez quilômetros, escolas que deveriam oferecer o ensino fundamental (1ª a 8ª séries) e que eram consideradas escolas-sede, devendo dar apoio às demais escolas que estivessem dentro do perímetro de dez quilômetros, inclusive àquelas dos travessões situados nos lados sul e norte da rodovia (SILVA, 2008, p. 265).

Porém, essas condições ofertadas pelo governo tenham sido em projeto satisfatórias, de acordo com os relatos dos pioneiros da Transamazônica, bem como nas demais fontes consultadas, nem tudo funcionou como o previsto. Nesse sentido, Silva (2008) descreve que na prática se via uma educação precária em que se faltava tudo, materiais escolares, giz, quadro, carteira e até mesmo professores. Em muitos casos por falta de professores os colonos aprendiam entre eles, quem sabia ler e escrever ensinava os demais.

3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS

Analisar a educação das mulheres no Brasil constitui-se uma tarefa complexa, considerando que é necessário levar em conta os fatores sociais, políticos, familiares, culturais da mulher num tempo e espaço específico da história.

Ao longo da história a mulher faz parte de um agrupamento social que sofreu e ainda vivencia diversas formas de preconceito, exclusão e submissão. Ao longo da história a mulher assumia o papel de cuidar dos filhos, enquanto os homens caçavam alimentos para subsistência.

No panorama da educação brasileira, observamos, de acordo com a história, que desde a época da colônia a educação voltada para mulheres se baseava em cuidados domésticos, sendo a instrução um privilégio de homens filhos de colonos e indígenas. Nesse sentido, (Ribeiro, 2010) destaca o período em que o Brasil foi colônia de Portugal, a educação feminina ficou geralmente restrita aos cuidados com a casa, o marido e os filhos. A instrução era reservada aos filhos/homens dos indígenas e dos colonos, ou seja, nesse período a mulher já era privada de uma educação formal voltada para leitura, escrita, cultura e arte, o que deixava a mulher ainda mais vulnerável na sociedade.

Schumaher e Brazil (2007) afirmam que:

Desde o período colonial, a educação feminina esteve voltada, na maior parte das vezes, para as funções domésticas, a aprendizagem dos cuidados com a casa, com o marido e os filhos, sendo o bordado uma das únicas “prendas” permitidas sem maiores inquietações. Nem brancas, nem negras ou indígenas eram alfabetizadas, salvo casos isolados, quando os jesuítas se interessavam pela instrução religiosa de umas poucas jovens índias, ou famílias mais abastadas mandavam suas filhas para conventos portugueses. (SCHUMAHER; BRAZIL, 2007, p. 211.

Diante do exposto, podemos identificar que a realidade das mulheres no período colonial era bem difícil, pois eram desprovidas de uma educação que a instruísse para pensar e não tinham direitos garantidos, sendo invisibilizadas dentro de um padrão patriarcal.

Com o término do nomadismo, organizaram-se em aldeias, cidades, Estados e impérios, momento em que a força física do homem foi valorizado para o trabalho. A agricultura e o sedentarismo permitiram a geração de um excedente do que era produzido para as necessidades imediatas (Saffioti, 2004). Diante do excedente, outras atividades foram se desenvolvendo como o artesanato, a religião e a política, dando continuidade ao patriarcalismo e, consequentemente, a dominação e a exploração das mulheres pelos homens. Outro fator que contribuiu para a consolidação do patriarcado foi o conhecimento de que o homem faz parte da reprodução da espécie.

Com a invenção e o aperfeiçoamento das técnicas de trabalho, os grupos foram exercendo atividades mais específicas e gradativamente se transformando, tanto economicamente, como socialmente. O surgimento da família como uma microestrutura social, contribuiu com a afirmação e consolidação da superioridade da figura do homem sob a mulher.

Ao longo do tempo a mulher precisou corresponder às exigências da sociedade no que se refere a moral e a boa conduta, sob risco de severas punições. A história feminina no Brasil foi marcada pela negação de direitos e de cidadania, bem como espaço no mercado de trabalho e no âmbito sociocultural.

A luta das mulheres contra o patriarcalismo e pela igualdade de gênero proporcionou um progresso por melhores condições de vida, de trabalho, de conquista por direitos civis e sociais, libertação sexual, construção de identidade e empoderamento feminino, no qual as mulheres iniciaram o processo de luta e reconhecimento na sociedade para que fossem reconhecidas como sujeito de direitos.

Ao reconhecer que a condição feminina passou por um processo brutal de negação e exclusão nos diferentes aspectos da vida em sociedade ao longo da história, percebemos um desafio em biografar Ducilla Almeida do Nascimento, que quebrou paradigmas socioculturais e assumiu uma função na sociedade de forma mais ativa e direta.

Os estudos sobre mulheres ganharam relevância a partir de revoluções na historiografia decorrentes do movimento de Annales. A ―Nova História é o movimento que proporcionou a ampliação de fontes para a historiografia e a possibilidade de estudos nas Ciências Sociais e Humanas, sobre o homem, as suas relações, seu cotidiano e imaginário, dentre outros aspectos da sociedade e seu comportamento. De acordo com Burke ―A nova história é a história escrita como uma reação deliberada contra o paradigma tradicional, aquele termo útil, embora impreciso (Burke 1992, p.10).

A Nova História, como abordagem atual da historiografia, também evidenciou algumas dificuldades durante sua efetivação na historiografia, sendo estas apontadas por Burke (1992, p.20) como problemas de definição, problemas de fontes, problemas de método e problemas de explicação. Isso porque essa corrente historiográfica passou a valorizar também as narrativas, as memórias (individuais e coletivas) e as produções (auto)biográficas que se relacionam com a ressignificação de conteúdos em busca de novas aprendizagens. Essa nova abordagem representa uma maneira de elaboração histórica que ultrapassa os limites na escrita tradicional da História.

Objeto de Pesquisa.

O objeto da pesquisa são as narrativas de professoras aposentadas que atuaram na educação escolar do Município de Altamira Pará.

A pesquisa narrativa nas configurações de Clandinin e Connely, consiste no exercício de conhecimento da experiência por meio do pensamento narrativo na medida em que narram as pessoas compreendem as próprias experiências. Assim os autores desenvolvem a afirmação:

Educação e estudos em Educação são formas de experiência. Para nós, narrativa é o melhor modo de representar e entender a experiência. Experiência é o que estudamos, e estudamos a experiência de forma narrativa porque o pensamento narrativo é uma forma-chave de experiência e um modo-chave de escrever e pensar sobre ela (Clandinin e Connely, 2015).

A pesquisa narrativa se configura como essencial aos pesquisadores que a utilizam. Clandinin e Connelly (2015, p 129) afirmam que “para nós, fazer pesquisa narrativa é uma forma de viver”. E, realmente, os pesquisadores narrativos enquanto articulam seus cotidianos e as circunstâncias deles advindas, encontram episódios marcantes para compartilharem suas percepções.

Narrar a trajetória profissional é descrever a história de vida de pessoas, valorizando seus percursos, suas facetas, posturas, suas experiencias e hábitos em uma conexão entre a sua época histórica, sua convicção e a sua coletividade.

Com a oportunidade de biografar uma educadora aposentada de uma imediata identificação e interesse em estudar como se deu o processo formativo educacional e a inserção da mulher Ducilla Almeida do Nascimento na história do magistério de Altamira. Apresento a seguinte problemática; quais as contribuições das mulheres professoras para a educação básica de Altamira- Pará, considerando as suas trajetórias acadêmicas e profissionais na interface com a conjuntura política, social e educacional que incidiram no magistério.

As suas práticas favoreceram o interesse nos processos educativos ao longo do tempo, nas relações do ser humano com seu contexto social e cultural. As suas contribuições acadêmicas foram relevantes para o processo de ensino, em especial acerca de sujeitos históricos e os contextos em que estes estão inseridos.

Iniciamos um trabalho de busca no Banco de Dissertações e Teses da CAPES para averiguar o que poderia ter sido produzido previamente e constatamos que não havia nenhum trabalho referente à história de vida ou ao processo educacional da professora Ducilla. Com a finalidade de uma mediação mais eficaz do processo de ensino-aprendizagem, que não se limita apenas a sala de aula, mas também aos espaços não escolares. E ante o pouco que se sabia acerca de Ducilla, parecia interessante compreender não apenas como ela se tornou educadora e constituiu suas práticas, mas também a relação da sua formação educacional com sua inserção ao magistério.

 Ela estudou no primeiro grupo escolar, tinha o nome de Grupo Escolar de Altamira, após alguns anos passou a se chamar grupo escolar Porfirio Neto, concluiu a 5° série, ao concluir a 5°série, fez um ano de admissão ao ginásio, após esse período estava capacitada para trabalhar nas escolas de 1° a 5° série. Iniciou a sua trajetória profissional no grupo escolar Porfirio Neto, logo que conseguiu concluir a admissão ao ginásio.

Ela não recorda a quanto tempo estava trabalhando como professora nesse grupo escolar quando soube da notícia que na escola Maria de Mattias estava ofertando vagas para a primeira turma de normalistas. Ducilla fez sua matrícula, a turma iniciou com mais de 50 alunas e somente dez conseguiram concluir (Mauad,2022).

Filha de professora, a sua mãe Dulcineia Almeida do Nascimento foi a primeira professora do Município de Vitória do Xingu, a qual foi homenageada com o nome de uma escola, Dulcineia teve 07 (sete) filhos, todos foram alfabetizados por ela. Os pais de Ducilla foram pioneiros que contribuíram para desbravar essas terras.

Ducilla é neta de Deoclides Almeida, seu avô sergipano era músico, autor da melodia do Hino de Altamira. No ano de 2005, foi construída uma escola no Bairro de Brasília, a qual traz o nome da professora Ducilla, a única professora homenageada em vida neste município.

A professora Ducilla, foi contratada no início da década de 1970, pela SEDUC, órgão da esfera estadual para trabalhar no processo de autorização das escolas que seria construída na rodovia transamazônica, com destino Brasil Novo, Marabá, Vitória do Xingu e na cidade de Altamira, estavam chegando muitas famílias nessas áreas de terra.

 Algumas interrogações iremos procurar responder ao longo da pesquisa. As suas práticas favoreceram o interesse nos processos educativos ao longo do tempo, nas relações do ser humano com seu contexto social e cultural. As suas contribuições acadêmicas foram fundamentais para a formação do cidadão, em especial acerca de sujeitos históricos e os contextos em que estes estão inseridos, com a finalidade de uma mediação mais eficaz do processo de ensino-aprendizagem, que não se limita apenas a sala de aula, mas também aos espaços não escolares. Na primeira conversa com a professora Ducilla, percebi a relevância da sua formação educacional com a sua inserção ao magistério, interessante compreender como ela se tornou educadora.

Com ênfase na relação entre sua formação educacional e sua inserção profissional no magistério. O interessante é conhecer o processo em que estava inserida, em especial, sua trajetória pessoal, educacional e de atuação profissional.

3. INTRODUÇÃO DA METODOLOGIA

Esta pesquisa será desenvolvida com educadoras aposentadas de Altamira Pará, que contribuíram no contexto educacional, com a finalidade de reconstituir, preservar e transmitir a história e a memória de educadoras ao apresentar a relevância de sua trajetória profissional para a educação e, consequentemente, suas contribuições para a historiografia, no âmbito individual e social, em especial, no campo da História da Educação. Essa pesquisa vai discorrer sobre a vida de educadoras, ressaltando suas trajetórias profissionais e experiencias docentes. Para isso, utiliza–se a metodologia de História Oral através das narrativas da professora Ducilla, na qual, por intermédio, da pesquisa biográfica podemos conhecer, registrar e preservar a história e as contribuições de tais personagens históricos no cenário educacional altamirense.

Com a oportunidade de biografar uma educadora aposentada de uma imediata identificação e interesse em estudar como se deu o processo formativo educacional e a inserção da mulher Ducilla Almeida do Nascimento na história do magistério de Altamira. Apresento a seguinte problemática; quais as contribuições das mulheres professoras para a educação básica de Altamira- Pará, considerando as suas trajetórias acadêmicas e profissionais na interface com a conjuntura política, social e educacional que incidiram no magistério.

 As suas práticas favoreceram o interesse nos processos educativos ao longo do tempo, nas relações do ser humano com seu contexto social e cultural. As suas contribuições acadêmicas possibilitaram novos conhecimentos no campo educacional, em especial acerca de sujeitos históricos e os contextos em que estes estão inseridos, com a finalidade de uma mediação mais eficaz do processo de ensino-aprendizagem, que não se limita apenas a sala de aula, mas também aos espaços não escolares.

  Na Antiguidade clássica os gregos Heródoto, Tucídedes e Políbio utilizaram a História Oral para narrar os acontecimentos de sua época o primeiro escreveu sobre as Guerras Médicas e sobre o mundo oriental, o segundo narrou a Guerra do Peloponeso, enquanto o terceiro escreveu sobre conquistas romanas na época (Alberti, 2005).

Na década de 1960, a História Oral alcançou um nível elevado de visibilidade, como uma metodologia, sendo recebida por historiadores e cientistas sociais. Uma metodologia que considerava interessante os indivíduos e as histórias que estes tinham para contar (Alberti, 2005). Essa característica de dar voz as minorias ainda se faz presente nos trabalhos acadêmicos atualmente, o que nos leva a concluir que a História Oral militante não foi apenas uma etapa na historiografia, já que suas características continuam sendo valorizadas nos dias de hoje.

Utilizando-se da metodologia da história oral através das narrativas das professoras, com entrevistas estruturadas e semiestruturadas feitas com as docentes aposentadas deste município. Através do apoio teórico de autores da História Oral como metodologia, (Alberti, 2005), detectamos a possibilidade de proporcionar maior visibilidade à voz, memórias e às experiências de um sujeito que participou ativamente do processo histórico-social altamirense.

‘A metodologia da história oral proporciona um reconhecimento das trajetórias dos indivíduos e dos grupos, respeitando as especificidades de cada sociedade’ (Matos, 2011).

A História Oral como metodologia e como prática de conhecimento histórico compreende que as trajetórias individuais e coletivas merecem visibilidade, tendo em vista que expõem as características de cada sociedade. A memória individual não é independente da memória grupal, pelo contrário, estas se conectam.

Com enfoque na abordagem qualitativa da história oral temática, de acordo com as orientações de Thompson (1992, p.17), que acrescenta:

[…] a história oral pode dar grande contribuição para o resgate da memória nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realização de pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos. 

Desse modo, ao utilizar a história oral como um método qualitativo de investigação, pretendemos acrescentar as vozes das professoras, a história da educação básica altamirense, destacando as suas contribuições no contexto educacional e social do Município.

 Desse modo, (Thompson ,1992) esclarece que:

A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentro da maioria desconhecida do povo. Estimula professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade.

Diante do exposto, o autor fundamenta a relevância e o caráter inovador do método da história oral em utilizar as experiencias e vivencias de pessoas pertencentes a diferentes grupos sociais.

Uma das fontes é a oralidade, será coletada através das entrevistas gravadas, complementada com fontes documentais como jornais e fotografias, fundamentada nas obras de Alberti (2005), e Thompson (1992).

 Portanto, a metodologia parte por conhecer e compreender as experiências dos participantes em articulação com o aporte teórico adotado e as percepções narrativas dos próprios pesquisadores. Neste trabalho serão apresentadas as narrativas de trajetória profissional de professoras no magistério altamirense, que se refletiam em estudos onde experiencias vividas, em diferentes contextos de formação de educadores, buscam contribuir para apontar caminhos possíveis em diferentes cenários da educação contemporânea.

4. LOCUS DA PESQUISA

Altamira fica localizada no estado do Pará, na região Norte do Brasil, em uma das áreas mais estratégias para a economia do Estado, a 740 km de Belém, a capital do Estado, o município tem seu vasto território cortado de norte a sul pelo rio Xingu, que domina sua zona fisiográfica. É o maior Município em extensão territorial do País (Santos,2022). A cidade teve origem na primeira metade do século XVIII. Sua fundação foi no dia 06 (seis) de novembro de 1911, o município comemora 113 anos de história.

O Município de Altamira pertencia a cidade de Souzel e foi fundada as margens do Igarapé dos Panelas, a cidade foi elevada à categoria de município e distrito com a denominação de Altamira, pela Lei Estadual n° 1.234, de 06-11-1911, sendo desmembrada de Souzel (Santos,2022). O território municipal é habitado, desde tempos imemoriais, por povos indígenas, nômades e seminômades.

Altamira é cidade pólo e dá suporte aos municípios de Uruará, Brasil Novo, Medicilândia, Vitória do Xingu e Senador José Porfírio em setores diversos como saúde, educação, agricultura e comércio. A história de Altamira está muito conectada aos povos indígenas que habitavam e habitam até hoje o município, além das influências dos imigrantes europeus que se estabeleceram na cidade (Altamira,2015, on-line).

Uma das belezas naturais de Altamira são os rios, é em Altamira que tem início a “volta grande do Xingu”, um trecho sinuoso e repleto de cachoeiras desse rio, é justamente no final desse trecho que fica a Hidrelétrica de Belo Monte. Por causa da beleza exuberante do rio, a cidade é chamada, de Princesinha do Xingu.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo cria oportunidades para o avanço dos conhecimentos sobre as relações entre história e memória, bem como dos imaginários e mentalidades individual e grupal, já que ambas se conectam. A metodologia da história oral proporciona um reconhecimento das trajetórias dos indivíduos e dos grupos, respeitando as especificidades de cada sociedade.

As narrativas de mulheres aqui apresentadas, não pretende reconstituir todos os fatos de sua vida, mas focar na sua formação educacional e atuação docente. Dessa forma, não se pode dar por encerrado o debate sobre o lugar histórico dessa personagem, mas a partir dos relatos dessas professoras, podemos evidenciar e imortalizar sua história e memória, o que contribui para a educação e a história social local. Consideramos pertinente a elaboração de um acervo com estudos biográficos no âmbito educacional, a produção de novas fontes e o incentivo para novas pesquisas.

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MATOS, Júlia Silveira; SENNA, Adriana Kivanski de. História Oral como fonte: problemas e métodos. Revista Historiæ, Rio Grande, RS, v. 2, n. 1, p. 95-108, 2011.

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