REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506141645
Vinícius Augusto da Silva1
Orientador: Gustavo Tonon Lopes2
Resumo
O presente trabalho visa com uma análise exploratória das principais ações sauditas no mundo do futebol, demonstrando desde cifras esplendorosas até dinâmicas suspeitas entre as entidades máximas do futebol. Passando pelo conceito de Soft Power, no trabalho é explicado o esforço do pais árabe em se colocar como uma potência cultural, utilizando os largos investimentos no futebol para transformar a imagem internacional, prática cunhada de sportwhashing. A diplomacia acontece em edifícios formais, como no edifício do secretariado das Nações Unidas em Nova York, mas também em lugares informais, como nas quatro linhas de um campo de futebol. A diplomacia esportiva vem se tornando um relevante meio não institucional de discussões globais.
Palavras-chave: Soft power. Sportwashing. Arábia Saudita. Diplomacia esportiva. Imagem internacional.
Abstract
This study aims to provide an exploratory analysis of Saudi Arabia’s main actions in the world of football, highlighting both impressive financial figures and suspicious dynamics involving the sport’s top governing bodies. Through the concept of soft power, the paper explains the Arab country’s efforts to position itself as a cultural power, using large-scale investments in football to reshape its international image — a practice commonly referred to as sportwashing. Diplomacy may take place in formal settings, such as the United Nations Secretariat building in New York, but it also unfolds in informal arenas — like the four lines of a football pitch. Sports diplomacy has increasingly become a relevant non-institutional means of global dialogue.
Keywords: Soft power. Sportwashing. Saudi Arabia. Sports diplomacy. International image.
1 Introdução
Recentemente, a relação entre diplomacia e eventos esportivos de âmbito global tem se estreitado, e países emergentes, ou até os mais consolidados na comunidade internacional, vem medindo esforços para protagonizar eventos de grande amplitude. A Arábia Saudita vem investindo largamente no cenário futebolístico, como a compra do clube Newcastle do Reino Unido por 300 milhões de libras, aproximadamente 2,2 bilhões de reais (GEGlobo,21) pela PIF Fundo de Investimento Público do governo Saudita. Com esse notório exemplo, destaca-se o conceito de Sportswhashing advindo das palavras “Sport” esporte e “Whasing” e Lavagem, sobre reconfiguração da impressão que um país possui, utilizando o esporte para muitas vezes esconder realidades são indesejadas de serem mostradas.
A Arábia Saudita possuindo relevante poder financeiro derivado da exportação de petróleo, aliado a uma administração centralizada e personalista do príncipe saudita Mohammed bin Salman; a aliança entre recursos abundantes e a centralização, permite ao governante investir extensas cifras no futebol, sem receio de opositores questionar a sua utilidade, prática tão comum à democráticos.
Com a intenção fazer da Arábia Saudita, um dos destinos mais desejados de turismo, destaca-se o termo soft power (poder suave). Segundo Nye (2004, p. 5), “soft power é a capacidade de conseguir o que se quer por meio da atração em vez da coerção ou do pagamento. Ele surge da atratividade da cultura, dos ideais políticos e das políticas de um país.” O governo saudita possui a missão de “encantar” mundo ao mesmo tempo que esconde a realidade conflitosa com o progresso. Por exemplo, a pena de morte para homossexuais segundo a diretora executiva da ILGA World, Julia Ehrt (BBC,23); Pena por apedrejamento em caso de adultério ainda ser permitida, apesar de ser aplicada em casos raros (G1Globo 2010); Mulheres precisarem de tutela masculina para se casar ou se divorciar (HRW,2019).
Diante desse cenário, os objetivos específicos serão: De que maneira a Arábia Saudita tem usado as estratégias de soft power e SPORTSWHASING; Quais são os impactos na receita de turismo e quais foram os principais feitos sauditas no terreno futebolísticos
O objetivo geral do trabalho é discorrer sobre a estratégia saudita e seus expressivos investimentos no futebol. A relevância do tema se dá aos eventos futebolísticos de grande amplitude acontecendo no pais árabe, tais como a Copa do mundo de 2034; Copa Intercontinental de clubes em 2025; Copa da Ásia de 2027; Supercopa da Espanha de 2024 e Supercopa da Itália em 2024.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 DEFINIÇÃO SOFT POWER
O futebol, sendo o esporte mais popular do mundo, com milhões de entusiastas por tudo o globo. Segundo a FIFA, a final da copa do mundo de 2022 entre Argentina e França foi assistida por 1,12 bilhão de pessoas. Sua natureza espetacular e o apego emocional que os torcedores tem ao presenciar o evento, torna o pais anfitrião como o porta voz dessa história. De acordo com Grix e Houlihan (2014), “os eventos esportivos internacionais são arenas nas quais as nações competem não apenas por medalhas, mas também por prestígio e influência política”.
O esporte serve como ponte cultural e instrumento informal de diplomacia Um dos exemplos mais emblemáticos do uso diplomático do futebol é o chamado “Jogo da Paz” entre as Coreias, ocorrido em 2002, durante a Copa do Mundo FIFA sediada conjuntamente por Coreia do Sul e Japão. Naquele ano, Coreia do Sul e Coreia do Norte, países oficialmente em estado de guerra desde 1953, realizaram partidas amistosas e ações simbólicas em conjunto — como o desfile sob uma bandeira unificada nas Olimpíadas de Sydney (2000) e novamente nos Jogos Asiáticos (2002).
Soft power é um conceito desenvolvido pelo cientista político norte-americano Joseph Nye, que se refere à capacidade de um país exercer influência sobre outros não por meio da força ou coerção (hard power), mas através da atração, persuasão e legitimidade de seus valores, cultura e políticas.
Segundo Nye (2004, p. 5), “soft power é a capacidade de conseguir o que se quer por meio da atração em vez da coerção ou do pagamento. Ele surge da atratividade da cultura, dos ideais políticos e das políticas de um país.” Em outras palavras, um país exerce soft power quando convence outros a quererem o que ele quer, influenciando comportamentos e decisões de forma indireta e voluntária. Os principais pilares do soft power são: Cultura: expressa em arte, música, cinema, esportes e estilo de vida; Valores políticos: como democracia, liberdade e direitos humanos; Política externa: percebida como legítima e moralmente autoritária.
O EUA beneficiou com o ideal de sucesso do American way of life, um idealismo dos países europeus da nação americana; O Reino Unido utiliza a monarquia britânica para funções diplomáticas como a criação e manutenção do Commonwealth; O Japão muitas vezes associado a disciplina, progresso e tecnologia acompanhado de empresas de globais como Toyota, Mitsubishi, grupo Sony entre outras. Os países tido como desenvolvidos, ativamente ou consequentemente, impactam o mundo com a sua cultura. Assim como os EUA utilizaram o modo de vida, o Reino Unido a monarquia e o Japão a disciplina, a Arábia pretende utilizar o futebol como ferramenta de soft power.
2.2 O SPORTWASHING E NA CONSTRUÇÃO DE IMAGEM DO FUTEBOL
A prática de sportwashing tem encontrado no futebol um dos seus terrenos mais férteis, dada a popularidade global da modalidade, sua ampla cobertura midiática e seu potencial simbólico como vetor de identidade nacional e projeção internacional. A Arábia Saudita tem explorado esse cenário de forma estratégica, realizando uma série de ações voltadas ao uso do futebol como instrumento de construção de imagem positiva no exterior. Um dos marcos mais emblemáticos dessa estratégia foi a aquisição do clube inglês Newcastle United, em 2021, por um consórcio liderado pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF). A transação, estimada em cerca de 300 milhões de libras, gerou intensos debates na mídia internacional e entre organizações de direitos humanos. A Anistia Internacional alertou que a compra visava “limpar a imagem da Arábia Saudita por meio do prestígio do futebol europeu” e desviar a atenção de questões como o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi e a repressão a dissidentes (AMNESTY INTERNATIONAL, 2021).
Além disso, o país tem atraído estrelas do futebol internacional para a Saudi Pro League, oferecendo salários milionários para jogadores renomados como Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e Neymar Jr. Essas contratações fazem parte de um plano ambicioso de transformar a liga local em uma das mais competitivas do mundo, aumentando a visibilidade do futebol saudita e promovendo uma imagem de modernização e progresso. Segundo Reiche (2021), tais investimentos não são meramente esportivos, mas cumprem uma função diplomática ao “reposicionar o país como um ator legítimo e atraente no cenário esportivo global” (REICHE, 2021, p. 7).
Outro exemplo relevante é a organização de partidas da Supercopa da Espanha e da Supercopa da Itália em solo saudita, por meio de acordos com as respectivas federações nacionais. Esses eventos, transmitidos para audiências internacionais, integram o esforço de consolidar a Arábia Saudita como sede de grandes competições, ao mesmo tempo em que se procura dissociar o país das críticas sobre repressão política e desigualdade de gênero. Essas ações, embora eficazes em termos de marketing esportivo e visibilidade internacional, têm levantado questionamentos sobre sua legitimidade ética. Para Boykoff (2016), “o esporte pode ser manipulado por regimes autoritários como uma vitrine que oculta violações sistemáticas” (BOYKOFF, 2016, p. 15). No caso saudita, o futebol serve tanto como um espelho de prestígio quanto como uma cortina de fumaça para problemas estruturais internos.
2.3 IMPACTOS NA PERCEPÇÃO GLOBAL
A eficácia do SPORTSWHASING como mudança da percepção é questionada. Embora seja verdadeiro que o investimento no esporte aumentou a visibilidade e melhoraram a imagem em curto prazo, críticos como o professor universitário de Roger Levermore “o esporte pode auxiliar na diplomacia, mas não substitui compromissos reais com valores universais.
No caso saudita, os indícios são claro de como as práticas de sportswhashing ajudaram para atrair negócios, turismo e repercussão global. Porém, mantém-se o debate se os largos investimentos são usados para ocultar repressões.
Apesar dos esforços para modernizar sua imagem internacional por meio de estratégias de soft power, a Arábia Saudita enfrenta grandes dificuldades para incorporar plenamente práticas e valores ocidentais, sobretudo no que diz respeito aos direitos humanos, à liberdade de expressão e à igualdade de gênero. O país opera sob uma monarquia absoluta com forte influência da tradição islâmica wahhabita, que restringe diversos aspectos da vida civil, como a participação política, o direito à dissidência e a liberdade individual das mulheres. Isso cria uma tensão evidente entre a imagem progressista que o governo tenta projetar ao exterior — com megaeventos esportivos, turismo de luxo e reformas econômicas — e a realidade interna marcada por repressão e censura. A tentativa de adotar símbolos do Ocidente, como o futebol de elite e o entretenimento globalizado, esbarra em contradições culturais e políticas que limitam a eficácia de sua estratégia de soft power, revelando que a modernização simbólica nem sempre está acompanhada de transformações estruturais reais.
2.4 O PAPEL DO FUNDO DE INVESTIMENTO PÚBLICO (PIF)
O Fundo de Investimento Público (PIF) são recursos públicos da Arábia Saudita destinados ao futebol, “Com ativos estimados em mais de US$ 500 bilhões, o PIF tem investido massivamente em clubes de futebol, infraestrutura esportiva e eventos internacionais” disse Yasir Al-Rumayyan, representante do Fundo de Investimentos Público em uma entrevista para a CNN Brasil em 2024.
O Papel da PIF é crucial para o desenvolvimento esportivo do pais, porém a distribuição dos recursos são extremamente desiguais, com 75% dos recursos, destinados a somente 4 clubes Al-Nassr, Al-Hilal, Al-Ittihad e Al-Ahli, segundo a IndianExpress. A enorme desigualdade de distribuição de recursos, prejudica a competição pelo campeonato tornando fácil a missão de prever os possíveis novos campeões.
A concentração de investimentos nos principais clubes também levanta questões sobre a sustentabilidade a longo prazo do futebol saudita, enquanto alguns clubes possuem orçamento comparativamente baixos, outros clubes do mesmo campeonato esbanjam enormes cifras, por exemplo, o clube Al-Raed possui uma folha salarial dos atletas de aproximadamente 13.4 milhões de Euros (OGOL,2025), enquanto o Al-Nassr possui 175 milhões de Euros (TRANSFERMARKT,2025).
2.5 CONTRATAÇÃO DE CRISTIANO RONALDO
A con tratação de Cristiano Ronaldo pelo clube saudita Al-Nassr, oficializada em dezembro de 2022, representou uma nova guinada na estratégia saudita, a contratação de grandes estrelas, tendo fato norteador a fama do atleta do que propriamente a habilidade esportiva. No caso Cristiano Ronaldo sacia ambas necessidades, em 2023 o futebolista português foi o atleta mais pesquisado no Google (CNN,2023) e premiado com honraria máxima do futebol individual, a bola de ouro, nos anos de 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017. O salário anual do jogador ficou estimado em €200 milhões anuais, 1,5 bilhão de reais (PODER360,2025), sendo até o momento presente desse artigo, o atleta mais bem pago do mundo de todos os esportes. A presença midiática do atleta foi imediata em 24 horas depois do anúncio, a página de Instagram do Al-Nassr possuía aproximadamente 725 mil seguidores, depois de anunciado saltou para 6 milhões de seguidores (MKT Esportivo,) e hoje o clube se encontra com 27 milhões de seguidores.
Mesmo aos 40 anos, Cristiano Ronaldo continua praticando o futebol com excelência, lidera acumulou 90 gols em 99 partidas pelo Al-Nassr desde da sua estreia em janeiro de 2023 (ESPN, 2025). Sua consistência e longevidade alimentam discussões sobre a possibilidade de alcançar a marca de 1.000 gols na carreira, um feito inédito no futebol moderno. (THE GUARDIAN, 2025). Com 934 gols oficiais, estimativas projetam que o astro português atingirá a marca de 1.000 por volta de 2028, com 43 anos. O atleta expressou confiança em atingir a marca afirmando: “Sou o maior goleador da história do futebol. Mas vou subir o sarrafo. Em breve, vou marcar 900 gols, mas quero chegar aos 1000” (ODIA,2024).
Além de suas contribuições em campo, Ronaldo desempenha um papel estratégico fora das quatro linhas. Seu contrato inclui cláusulas que o tornam embaixador da candidatura saudita para sediar a Copa do Mundo de 2034, reforçando a utilização do esporte como ferramenta de diplomacia e projeção internacional. Portanto, a contratação de Cristiano Ronaldo transcende o aspecto esportivo, sendo uma peça central na estratégia da Arábia Saudita de utilizar o futebol como meio de alcançar objetivos econômicos e políticos mais amplos.
2.6 COPA DO MUNDO DE 2034: CONTROVÉRSIAS
A escolha da Arábia Saudita como sede para a Copa do Mundo de 2034 gerou polêmica e suspeitas de favorecimento por parte da FIFA. A organização utiliza o rodízio continental para as escolhas das sedes, para evitar que uma mesma confederação sedie o evento várias vezes. As confederações continentais são AFC (Ásia); CAF (África), CONCACAF (América do Norte), CONMEBOL (América do Sul); OFC (Oceania) e UEFA (Europa)
Os EUA, Canadá e México se preparam para sediar a mais recente Copa do Mundo de 2026, a decisão de “dividir” a sede evento acontece graças a um salto expressivo de nações participantes, o que antes eram 64 para 104 países. A Confederação da América do Norte fica indisponível de sediar o evento até a finalização do torneio de 2034.
No entanto, a decisão mais polêmica foi de realizar a Copa de 2030 em três continentes, América do Sul (CONMEBOL), Europa (UEFA), África (CAF), algo inédito. No início terá jogos inaugurais na parte sul da América em comemoração de 100 anos do torneio que se iniciou em 1930. O torneio de 2030 terá jogos na Argentina, Paraguai e Uruguai. A seguir o campeonato avança para a península ibérica e o continente africano, sendo Portugal, Espanha e Marrocos os países responsáveis por finalizar o evento. As entidades CAF, CONMEBOL e UEFA não poderão sediar o evento até 2038.
De acordo com a FIFA, essa prática visa garantir que a Copa do Mundo seja realizada em diferentes regiões do mundo, com o objetivo de alcançar um público mais amplo e diversificado. Com isso as entidades restantes serão a Ásia (AFC) e a Oceania (OFC) como únicas elegíveis para sediar o torneio de 2034.
Observadores apontam que essa decisão beneficiou diretamente a Arábia Saudita, membro da AFC, que acabou sendo a única candidata após a desistência de outros países interessados, como Austrália e Indonésia. Além disso, a FIFA acelerou inesperadamente o cronograma de candidatura em pelo menos três anos, dificultando a preparação de propostas concorrentes.
Críticos, incluindo ONGs de direitos humanos como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch argumentam que essas ações foram deliberadas para garantir a escolha da Arábia Saudita como sede, apesar das preocupações com direitos humanos e das limitações logísticas do país, as organizações expressaram preocupações sobre a possibilidade de a Arábia Saudita utilizar o evento para desviar a atenção de questões internas, como restrições à liberdade de expressão e violações dos direitos das mulheres.
A FIFA, por sua vez, enfrenta o desafio de garantir transparência e integridade no processo de seleção, especialmente após escândalos anteriores envolvendo corrupção em escolhas de sedes de Copas do Mundo. A entidade máxima do futebol mundial precisa assegurar que a escolha da sede de 2034 seja baseada em critérios objetivos e justos, evitando repetir erros do passado.
Assim, a candidatura da Arábia Saudita à Copa de 2034 destaca a complexa interseção entre esporte, política e direitos humanos, exigindo uma análise cuidadosa por parte da comunidade internacional.
3 RESULTADO DOS INVESTIMENTOS EM TURISMO
Como demonstrado durante todo o desenvolvimento, o substancioso investimento no futebol tem funções de colocar a Arábia Saudita como um grande player global. Sua importância no fornecimento de petróleo ao mundo é notória, assim como sua postura de liderança entre a OPEP (Organização dos Países Exportadores Petróleo). Porém, a nova ambição saudita está em ter uma relevância semelhante no setor de turismo e suavizando a sua percepção mundial que foi tão durante muito tempo associada a retrocessos e violações de direitos humanos.
Figura 1 – Gráfico de Receita de turismo

Fonte: WorldData.info e CEIC Data
Nota: Os valores para 2024 e 2025 são estimativas baseadas em projeções de crescimento do setor turístico na Arábia Saudita.
4 Metodologia
O trabalho utiliza um caráter exploratório e analítico com a função de compreender de que maneira a Arábia Saudita vem utilizando o esporte, principalmente o futebol, como instrumento de soft power utilizando a estratégia de SPORTSWHASING. A metodologia qualitativa escolhida para a elaboração desse trabalho se dá pela necessidade de estudar eventos sociais, políticos e culturais.
A pesquisa foi desenvolvida por uma revisão bibliográfica dos principais autores sobre o tema, entre eles o Joseph Nye divulgador científico responsável pelo termo “soft power”; Relatórios da Brand Finance (Global Soft Power Index); dados da Saudi Tourism Authority, documentos da FIFA e registros de imprensa especializada (The Guardian, France Football, Sky Sports, entre outros) que forneceram informações sobre investimentos no esporte, receitas do turismo, eventos internacionais sediados, percepção global e controvérsias envolvendo a candidatura saudita à Copa do Mundo de 2034.
Além disso, foram utilizados dados advindos do CEIC Data, World Data.info para o auxílio de gráfico para a conclusão do trabalho.
5 RESULTADO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação da Arábia Saudita no campo esportivo internacional, especialmente por meio do futebol, revela uma estratégia sofisticada de projeção de soft power baseada no fenômeno conhecido como sportswashing. Ao investir bilhões em clubes, eventos esportivos e jogadores de renome — como Cristiano Ronaldo, que se tornou símbolo dessa política ao assinar com o Al-Nassr e possivelmente alcançar a marca de 1.000 gols atuando no país — o governo saudita busca reformular sua imagem diante da opinião pública global.
Essas ações têm trazido resultados concretos, principalmente no setor do turismo. A receita turística, que em 2010 era de aproximadamente US$ 6,8 bilhões, saltou para mais de US$ 37 bilhões em 2023, de acordo com dados da Saudi Tourism Authority. Esse crescimento está diretamente relacionado à realização de grandes eventos esportivos e ao afrouxamento de restrições para visitantes internacionais. Além disso, a percepção internacional sobre a Arábia Saudita também apresentou avanços: o país subiu 13 posições no Global Soft Power Index de 2024, refletindo maior visibilidade e influência, apesar de manter um histórico problemático em direitos humanos.
No entanto, essa ascensão tem sido acompanhada por controvérsias. O processo de escolha da Arábia Saudita como sede da Copa do Mundo de 2034 está envolto em fortes suspeitas de manipulação. A FIFA quebrou um padrão tradicional ao permitir que a Copa de 2030 fosse sediada por três confederações diferentes (UEFA, CONMEBOL e CAF), o que automaticamente excluiu essas regiões da disputa seguinte. Isso abriu caminho para uma candidatura única saudita, levantando críticas sobre o favorecimento político e possíveis acordos informais entre a FIFA e o governo saudita, práticas que lembram escândalos de corrupção anteriores envolvendo a entidade máxima do futebol.
Em síntese, a Arábia Saudita colhe frutos econômicos e reputacionais com sua estratégia esportiva, mas o custo ético dessa projeção ainda é altamente debatido. A instrumentalização do esporte para fins de imagem, sem compromisso efetivo com os valores que o esporte representa, impõe sérios desafios à integridade das instituições internacionais.
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1Autor
2Professor de Relações Internacionais da FATEC ZONA LESTE