SISTEMA DE GESTÃO E O SOLUCIONISMO TECNOLÓGICO: USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TDICS)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202502191518


Higyno Martins de Freitas1


Resumo

O presente artigo realiza uma investigação aprofundada sobre os resultados das políticas públicas educacionais implementadas no Brasil durante o período da COVID-19. A pesquisa tem como foco principal os educadores brasileiros e a utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), que se tornaram essenciais diante das inúmeras dificuldades enfrentadas por todos os participantes do processo educacional, incluindo alunos, professores e gestores. Além disso, o estudo busca evidenciar a defasagem tecnológica presente nesses sistemas educacionais, que se tornou mais evidente durante a pandemia. A metodologia utilizada incluiu levantamentos bibliográficos e documentais comparativos, servindo como base para a afirmação de uma alteração abrupta e significativa em todos os segmentos sociais, especialmente na educação. Essas mudanças refletiram a necessidade urgente de adaptação a novas realidades, mostrando tanto os desafios quanto às oportunidades que surgiram nesse contexto. O artigo, portanto, não apenas analisa os impactos imediatos da pandemia, mas também propõe reflexões sobre o futuro da educação brasileira, considerando a importância de integrar efetivamente as TDICs ao cotidiano escolar.

Palavras-chave: Sistema de Gestão; Políticas Públicas Educacionais; TDICs; Ensino Remoto; Covid-19.

Resumen

Este artículo realiza una investigación en profundidad sobre los resultados de las políticas públicas educativas implementadas en Brasil durante el período COVID-19. La investigación se centra principalmente en los educadores brasileños y el uso de las tecnologías digitales de la información y la comunicación (TID), que se han vuelto esenciales dadas las innumerables dificultades que enfrentan todos los participantes en el proceso educativo, incluidos estudiantes, profesores y gestores. Además, el estudio busca resaltar la brecha tecnológica presente en estos sistemas educativos, que se hizo más evidente durante la pandemia. La metodología utilizada incluyó levantamientos bibliográficos y documentales comparativos, sirviendo de base para afirmar un cambio abrupto y significativo en todos los segmentos sociales, especialmente en el educativo. Estos cambios reflejaron la urgente necesidad de adaptarse a las nuevas realidades, mostrando tanto los desafíos como las oportunidades que surgieron en este contexto. El artículo, por lo tanto, no sólo analiza los impactos inmediatos de la pandemia, sino que también propone reflexiones sobre el futuro de la educación brasileña, considerando la importancia de integrar efectivamente las TDIC en la vida escolar cotidiana.

Palabras- Clave: Sistema de Gestión; Políticas Públicas Educativas; TDICs; Enseñanza remota; COVID-19.

Introdução

O Mundo globalizado está debruçado sobre as expectativas apregoadas por uma ideologia, denominada de “solucionismo tecnológico”, os discursos políticos travados em torno dessa ideologia, manifestam a crença que a tecnologia aplicada em larga escala trará melhorias significativas, e que os algoritmos envolvidos na crescente evolução tecnológica serão capazes de solucionar problemas de diversas naturezas, sejam eles; sociais, econômicos, ambientais em especial na qualidade da educação, utilizando-se apenas a Tecnologia Digital da Informação e Comunicação/TDIC. Como se os problemas da educação na presente era dependesse única e exclusivamente de soluções tecnológicas. 

O avanço das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação/TDICs, carreadas pelos efeitos da globalização no período de Pandemia de COVID-19, atingiram diretamente o desenvolvimento educacional/social, causando alterações significativas no processo de ensino e aprendizagem, acelerando a mudança do modelo tradicional de ensino e atrelando-o ao uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação/TDICs. Em meio a tudo isso, dados do Informe publicado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, 2021), sobre as novas demandas trazidas pela pandemia no ano de 2020, em relação ao uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação/TDICs, encontraram um corpo docente com baixíssima formação e recursos tecnológicos insuficientes ao estabelecimento de ações pedagógicas. Dificultando a continuidade do processo educacional no período de distanciamento social.

Sutilmente, essa ideologia que promete resolver problemas sociais, ganhou terreno no extenso mercado global, graças à exposição sistemática dos notáveis avanços obtidos em algumas áreas. Na saúde, o “solucionismo” com base em tecnologias busca a prestação célere de diagnósticos, protagonizando um relevante papel social. No sistema financeiro, desenvolve uma contribuição enorme, enquanto a educação, a tecnologia aplicada até o momento é insuficiente para consolidar a proposta educacional emanada das legislações vigentes no território brasileiro.

Dados do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA), através da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (2020), por meio da Nota Técnica nº 88, apontarem que 5,8 milhões dos estudantes de instituições públicas (da pré-escola à pós-graduação) não tinham acesso domiciliar à internet em banda larga ou 3G/4G para participar efetivamente dessas atividades escolares. Sendo que este universo de estudantes, apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, afirma que quase 14% do total de estudantes de instituições públicas de ensino. Para 15% do total de 5,8 milhões de estudantes, a distribuição de um chip de dados seria suficiente para se conectar à internet, mas, para 55%, nem a distribuição de um equipamento com chip resolveria o problema da conectividade, já que não havia sinal de celular em suas residências.

Com este cenário, aliados a necessidade de utilização das tecnologias digitais como ferramentas impostas pela pandemia da COVID-19, docentes, discentes e gestores educacionais, ainda hoje estão vivenciando momentos marcados pela virada de chave na educação e essa virada é instituída pelo surgimento de demandas de maior utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação em todos os segmentos sociais, em especial na educação, ocasionando mudanças expressivas nos campos sociais, econômicos e culturais.

Embora as tecnologias digitais possam ser ferramentas valiosas segundo (CASTELLS, 1999), O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. (…). As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa se entrelaçando em variedade, permitindo o processamento de sons, dados, textos e imagens, não se restringindo ao uso de máquinas.

Segundo Pozo (2002, p30), ao falar de uma nova cultura de aprendizagem, afirma que existe uma busca para atender as premissas de uma sociedade altamente conectada,  considera ainda que: “a deterioração sofrida pela aprendizagem ocorre por causa dos desajustes crescentes entre o que a sociedade pretende que seus cidadãos aprendam e os processos que são utilizados para consegui-los”, onde o domínio das tecnologias é significativo para o desenvolvimento pessoal tanto quanto o domínio da escrita e leitura, é necessário saber usar as tecnologias existentes, internet, computadores, periféricos, softwares e outras tecnologias presentes nas vida escolar. Segundo Curto (2009, p.02), “a utilização do computador em sala de aula configura-se um instrumento valioso para o tratamento da diversidade constitutiva da realidade em que vivemos.”

A apropriação digital necessária, considerando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018), se refere ao uso e acesso às tecnologias digitais, como dispositivos eletrônicos, redes sociais, aplicativos, entre outros. É um termo amplo que abrange desde a utilização básica dessas ferramentas até o domínio avançado das habilidades digitais. Ainda de acordo com a (BNCC, 2018) a apropriação digital envolve a capacidade de navegar na internet, buscar informações, se comunicar, criar conteúdo e utilizar recursos tecnológicos de forma eficiente e responsável. É uma habilidade importante nos dias de hoje, considerando a crescente dependência da sociedade em relação à tecnologia e às ferramentas digitais.

Existem evidências que permitem observar os impactos negativos na educação formal no período pandêmico, enfrentado no biênio 2020/2021. Ficou visível a lacuna socioeducacional exposta mundialmente, resultado das consequências das ações do ensino dentro do mercado capitalista/globalizado. De um lado a necessidade de financiamento de políticas públicas, visando estimular e aprofundar os diferentes contextos tecnológicos, a fim de promover o ensino/aprendizagem, promovendo a integração dos espaços, ampliando o modelo “enxuto” de ensino atual, convertendo-o em um modelo híbrido, tecnológico realizando a chamada interligação simbiótica, entendendo que a educação deve ser ampliada para além dos espaços físicos tradicionais.

A UNESCO (2018), reconheceu em documento anterior a pandemia da COVID-19, os apontamentos quanto às muitas falhas do corpo docente inerente a inclusão digital, constatando-se que houve pouco ou nenhum treinamento relacionado à parte tecnológica como recurso metodológico atrelado ao trabalho docente e que hoje está ainda mais acentuado no contexto de alunos menos favorecido. Isso nos leva a compreender a necessidade de uma opção de tecnologia educacional que proporcione a inclusão do cidadão no processo de formação intelectual, onde seja permitido ao educando a capacidade de planejar, de inferir, de participar socialmente.

Corroborando tais argumentos:

Há indicadores que nos permitem argumentar a favor do currículo por projetos como uma matriz de mudança em potencial para aqueles segmentos da educação que entendem ser necessário recuperar a totalidade do conhecimento e romper com o conservadorismo das práticas pedagógicas repetitivas e acríticas. (KELLER-FRANCO; MASSETTO, 2012, p. 12).

Na expectativa de preencher os espaços expostos pelo distanciamento social causado pela COVID-19, foram necessárias abordagens e estratégias, informais e formais, buscando novas experiências que pudessem melhorar o desenvolvimento das crianças. Como Jerome Bruner (1996, p. 146) sinalizou, aprendizagem “não é apenas um negócio técnico de processamento de informação bem gerido”. Haja visto que até alguns anos atrás, não faz muito tempo, o uso das tecnologias era visto como algo complicado dentro de uma organização de estruturas físicas e pouco difundida, com o passar dos anos, o modelo tradicional sofreu mudanças relevantes até a sua chegada ao período contemporâneo, logicamente, esse processo de mudança ampliou a participação de profissionais, obrigando gestores de modelos tradicionais a migrarem para um outro perfil, tecnológico e híbrido, alinhado ao processo de ensino e aprendizagem.

A aprendizagem precisa ser concebida como algo que transforma o ser, auxiliando-o a pensar por si só, com capacidades intelectuais do mundo globalizado em que vive, dentro de um processo em uma constante e acelerada marcha.

Aporte teórico

Bases teóricas 

Está em curso um processo de travessia, partindo de uma rede de estruturas físicas e estáticas para um novo modelo de ensino e aprendizagem. Existe uma distância considerável entre o entorno digital e suas ferramentas nos dias de hoje em relação a duas décadas. Não é preciso um olhar técnico quanto ao avanço das tecnologias digitais, para detectar o “delay” – atraso, no domínio das tecnologias digitais.

Na era da tecnologia e comunicação, Edvinsson e Malone (1975), argumentam que a educação deve ser tida como um pilar, essencial, um instrumento da sociedade para que haja a promoção do desenvolvimento humano. As tecnologias digitais assumiram importante papel na formação social, extremamente útil à vida moderna. Nessa vertente, surge uma necessidade de incorporar as tecnologias digitais no processo educacional. 

Pierre Lévy, em seu livro “O Que é Virtual?”, explora o conceito de cibercultura e discute como as tecnologias digitais têm o potencial de transformar a sociedade e a forma como nos relacionamos com o conhecimento. Lévy argumenta que a apropriação das tecnologias digitais vai além do mero uso técnico. Ele enfatiza a importância de desenvolver competências cognitivas e sociais para lidar com a vasta quantidade de informações disponíveis na era digital. Para ele, a apropriação das tecnologias digitais implica em uma mudança na forma como pensamos, aprendemos e nos comunicamos. Além de Lévy, outro teórico, Manuel Castells também aborda a apropriação das tecnologias digitais em seus trabalhos. Castells analisa os efeitos das tecnologias de comunicação na sociedade em rede, destacando o poder e a influência dessas tecnologias na vida cotidiana. 

Em outro destaque, Seymour Papert mudou a forma do mundo pensar a educação e o processo de aprendizagem ao desenvolver o “Construcionismo”. Esta teoria de Papert trata-se de um ponto de inflexão para o pensamento sobre o aprendizado. Nela, o aprendizado acontece pelo processo de fazer, de colocar a mão na massa; e o aluno constrói a partir de seu interesse, portanto, motivado a aprender. “É o aprender fazendo e o pensar sobre o que está fazendo”, assumindo o protagonismo no processo de aprendizagem.

Esses teóricos ofereceram perspectivas importantes para entender como as tecnologias digitais são apropriadas e moldadas pelos indivíduos e pela sociedade, e como essa apropriação afeta nossa forma de aprender, comunicar e interagir no mundo contemporâneo. 

O contexto da educação brasileira em meio a pandemia da COVID-19, destacou a falta de políticas públicas, revelando a descontinuidade de políticas educacionais, influenciando diretamente e negativamente na formação de docentes e discentes para o uso das tecnologias digitais existentes, retardando avanço requerido no campo da educação híbrida.

O avanço das tecnologias digitais na educação, redesenharam às diferenças existentes quando da apropriação tecnológica no meio educacional, percorrendo estágios. Enquanto as ocorrências que implicam a utilização das TDICs, devem ser delineadas por propostas de mudanças significativas, observando os campos sociais, econômicos e culturais.

Embora não seja um teórico exclusivamente focado em tecnologia, Freire discute a importância de uma pedagogia crítica e participativa, que pode ser amplamente aplicada no contexto das TIC na educação. Argumentando, Freire (2004), destaca: que a educação deve ir além da simples transmissão de conhecimento, promovendo a participação ativa dos estudantes em seu próprio processo de aprendizagem. Ele defende a importância do diálogo e do engajamento dos estudantes como agentes ativos na construção do conhecimento. Para Freire, “Educar é substancialmente formar. Divinizar ou “diabolizar” a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado”. Não há dúvidas quanto à tecnologia, favorecem a educação a distância, e a cada dia mais abrangente, envolvente, ao alcance das pessoas nas diferentes classes sociais e regiões do País.

Antecedentes

Historicamente, o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação é insuficiente para fazer frente aos inúmeros problemas relacionados à educação. O aumento significativo destas tecnologias promoveu mudanças no modelo metodológico de ensino. Dada a importância ao assunto relacionado à apropriação das tecnologias digitais por professores, os pesquisadores: TEODORO, GOMES (2020), redigiram a investigação “Percepciones de los profesores sobre el uso de las TIC en la educación de emergencia a distancia”. Este artigo, versou sobre a importância da apropriação das tecnologias digitais por professores, subsidiando o avanço no trato das novas demandas digitais estabelecidas no contexto pós-pandemia.

Os autores TEODORO, GOMES (2020), analisaram a dificuldade enfrentada pelos professores ao integrar o ensino remoto como uma nova dinâmica escolar durante a pandemia de COVID-19. Eles conduziram um estudo exploratório, coletando dados sobre experiências prévias em outros países. Utilizando a etnografia virtual, eles buscaram compreender a narrativa dos professores em relação às dificuldades enfrentadas no contexto da educação remota.

Um total de 26 professores participaram do estudo, sendo igualmente divididos entre 13 do sexo feminino e 13 do sexo masculino. Esses professores foram selecionados de 5 estados diferentes (BA, DF, MG, SC, SP), incluindo 2 de escolas públicas e 8 de escolas particulares. Essa seleção foi relevante para o objeto de pesquisa, que aborda a comunicação mediada por tecnologia e a superação das barreiras geográficas.

Dos 26 profissionais, apenas um informou ter menos de cinco anos de experiência na área educacional, enquanto os demais possuem mais de 10 anos de experiência no magistério. Além disso, muitos deles exercem cargos de direção, vice-direção, supervisão e/ou coordenação pedagógica. A maioria (70%) atua exclusivamente no Ensino Fundamental.

Apenas um dos participantes afirmou não ter experiência prévia com o uso de tecnologia no ambiente educacional. Os entrevistados que trabalham em escolas particulares destacaram que já estavam familiarizados com a tecnologia antes mesmo da pandemia de COVID-19. Por outro lado, os professores da rede pública utilizam principalmente equipamentos próprios para desenvolver suas atividades online, mesmo antes da implementação do ensino remoto.

O estudo desenvolvido pelas pesquisadoras COUTO, COELHO (2019), “Apropriação tecnológica na formação de professores: entre aprender e conectar”, é resultado de uma pesquisa de natureza qualitativa, que levou em conta as particularidades do processo de apropriação tecnológica por 133 alunos/futuros professores do curso de graduação em licenciatura. Os dados obtidos revelaram que as relações estabelecidas com as tecnologias digitais influenciaram os docentes no processo formativo pessoal. Essa abordagem é descrita por Creswel (2010, p. 209) como “interpretativa” na qual os pesquisadores confrontam as expectativas apregoadas por ideologias e tecnologias digitais do mundo globalizado, e interpretam o que veem, ouvem e compreendem. Levando em conta que apropriação tecnológica é um processo, implementado a partir de uma política pública, dadas as especificidades e habilidades necessárias a ambientação.

O elo de encadeamento entre ensinar e aprender está diretamente relacionado aos níveis de apropriação das tecnologias digitais, os dados apresentados pela pesquisadora LIMA (2019) “Níveis de apropriação das TDIC pelos professores”, descreve que a escalada no níveis de apropriação das tecnologias digitais passam pela porta de entrada “iniciação”, “adoção”, “adaptação” e consequente apropriação.

A ligação entre educação e tecnologia suscita uma série de reflexões importantes para o tema apropriação digital. Nesta abordagem, devemos considerar o acesso equitativo às tecnologias de informação e comunicação (TIC). Isto significa garantir que todos os alunos e professores tenham acesso a dispositivos e conectividade fiáveis, independentemente da sua localização geográfica ou estado socioeconómico. Este modelo, está descrito BEHRENDER (2022) “Educación e inclusión. Los procesos de enseñanza aprendizaje en la educación primaria y la inclusión digital. Un estudio de casos en Uruguay”. Em ordem de marcha, a integração efetiva das TICs na educação requer uma sólida formação de professores. Os professores devem receber formação adequada para desenvolverem as competências digitais e pedagógicas necessárias para utilizar eficazmente as TIC na sala de aula. 

Ressalvadas as devidas considerações apontadas acima, merece destaque o trabalho apresentado por HUEPE, PALMA, TRUCCO (2022) “Educación en tiempos de pandemia. Una oportunidad para transformar los sistemas educativos em América Latina y el Caribe” que afirmam, que a incorporação das TIC no campo educativo não deve limitar-se a uma utilização superficial ou como ferramenta adicional. É essencial repensar a abordagem pedagógica para aproveitar ao máximo o potencial das TIC e promover métodos de ensino mais participativos, colaborativos e interativos. Isto envolve promover o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas através do uso de tecnologias.

Além disso, é importante incentivar uma abordagem de desenvolvimento profissional contínuo para se manter atualizado sobre as últimas tendências e ferramentas tecnológicas.

Gestão administrativa

No Brasil, o termo “gestão administrativa” é um conceito relativamente utilizado por alguns órgãos administrativos das esferas federal, estadual e municipal. No entanto, considera-se que o processo de gestão precisa desempenhar um papel transformador, devendo ser entendido como algo afirmativo. O funcionamento dos subsistemas integrados à gestão, devem possuir colaboração com outros sistemas, comunicação direta com a administração, os usuários e as escolas. Essa organização do trabalho de gestão na escola, garante principalmente a autonomia do projeto político pedagógico. Nesse artigo, não estamos falando exclusivamente de alguns atores sociais, versamos sobre o organismo composto; sociedade, pais, alunos e profissionais. Todos os envolvidos necessitam estar integrados à discussão e participar de forma constante do processo democrático de gestão.

Para que um sistema de gestão do sistema educativo colha resultados, se faz necessário o ancoramento em alguns pilares sociais. Para um perfeito funcionamento do sistema de gestão administrativa funcione na prática, é preciso entender que a sociedade deve ser participada de algumas políticas públicas, os governantes não podem decidir os rumos da educação sem antes consultar os interessados. Na educação, observamos que os sinais, como: Falta de investimento, falta de qualificação dos profissionais envolvidos na educação como um todo, deixa um rastro de defasagem educacional. 

A gestão do sistema educativo enfrenta um grande problema, cujo o principal desafio é elevar a qualidade da educação básica, saindo do patamar de baixo de aprendizagem para um outro patamar de aprendizagem que realmente propicie a emancipação de jovens ao final da educação básica. Possibilitando uma vida autônoma, a colocação em prática do projeto de vida. 

Pensar no tema gestão escolar, é compreender quais são os fatores necessários para que a escola possa realizar de forma adequada o seu trabalho com qualidade, frente às necessidades da sociedade. No histórico processo de organização e reorganização da sociedade brasileira, as relações de poder dão o tom do avanço ou do retrocesso da democratização da gestão educacional. (MELO, 2004).

As legislações em vigor estão alinhadas contextualmente, e são de anos anteriores, mas, temos reflexos de políticas que deixaram de alinhar a educação em camadas, estimulando a competitividade individual como forma de manutenção no poder hierárquico, autoritários e centralizadores. Construir uma gestão democrática não é algo que temos muita experiência, por isso, precisamos estar focados e dedicados, na busca da escola cidadã, única capaz de possibilitar às garantias na educação.

A gestão do sistema educacional necessita de construção contínua, dentro do cotidiano, aumentando progressivamente os objetivos que constituem a gestão democrática, relacionando os preceitos da democracia do ambiente escolar com a articulação necessária em busca da autonomia. Entendendo que a dita autonomia é para ser conquistada, construída dentro de um contexto amplo e irrestrito. Vamos olhar o que preceitua o Art 206 da Constituição Federal de 1988, “o ensino será ministrado com os seguintes princípios: VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei”, 

Precisamos resolver com urgência a virada da chave, virar a história com um olhar específico para educação, entendo que a educação não é um atendimento por via de regra como é a política pública atende o cidadão. Devemos olhar a educação como algo muito maior, algo que defina o futuro. Esse é o desafio do Brasil, educação básica de qualidade de alta qualidade para todos os brasileiros.

Políticas públicas educacionais

A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional/LDBEN, articula: “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (BRASIL, 1988). As políticas públicas afetam a todos os cidadãos, de todas as escolaridades, independente de sexo, raça, religião ou nível social e correspondem a direitos assegurados na Constituição Brasileira. As políticas educacionais de respostas ao novo modelo educacional imposto pela pandemia, necessita da participação efetiva de todos os atores educacionais e sociedade organizada para fazer frente às novas modalidades de políticas públicas sociais do país, visando continuamente o aperfeiçoamento e garantia do nobre direito universal à educação de qualidade e o pleno desenvolvimento do educando.

No Brasil, o conjunto de normas, leis e regulamentos, federais, estaduais e municipais, ligados diretamente ao setor socioeducacional, contemplam na redação dada pela Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 205 – “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (CRFB, 1988).

Essas normas, legislações reguladoras dizem respeito à democratização do ensino, do desenvolvimento do aluno, da profissão de professor, da acessibilidade a novas tecnologias, dos investimentos públicos e constituem o embasamento legal das ações e metas governamentais no atendimento aos interesses públicos, buscando o nivelamento dos direitos e das igualdades sociais. As políticas públicas nacionais são norteadoras das ações do poder público e envolvem aplicação de diversos recursos na esfera da educação. Em contrapartida, as políticas educacionais buscam percorrer um caminho que vai da residência familiar, passando pela sala de aula até os programas de educação de larga escala.

Entretanto, a educação não deve ser tratada única e exclusivamente como benefício social, garantido por lei, como obrigação estatal de acesso da população e não cabe única e exclusivamente aos gestores dirigirem e coordenarem as políticas públicas, pois é necessário ultrapassarmos à educação básica. A escola é a instituição responsável pela socialização do saber que é essencial para a construção da cidadania, ampliação de oportunidades e consequente a redução das desigualdades sociais, ainda tão presente na sociedade brasileira.

A adoção de novas tecnologias leva tempo, pois requer mudanças nas infraestruturas, nas habilidades das pessoas e nas práticas pedagógicas. Além disso, a resistência à mudança e a falta de conhecimento podem contribuir para o atraso na apropriação das tecnologias digitais. Os grandes desafios de lidar com o novo modelo de ensino e a utilização das Tecnologias Digitais está no viés social. Segundo dados do Informe da Comissão Econômica para a América Latina e UNESCO (2020), as novas demandas trazidas pela pandemia no ano de 2020, em relação ao uso das Tecnologias Digitais, encontraram um corpo docente com baixíssima formação e recursos tecnológicos insuficientes ao estabelecimento para as ações pedagógicas, considerando ainda os ambientes de ensino/aprendizagem (AVA) altamente desfavorecidos.

Com o advento da pandemia, ficou evidente que o sistema educacional brasileiro em termos de tecnologia digital é frágil, sendo necessário e urgente, readequar o modelo tradicional de ensino, modernizando o sistema educacional para preparar melhor a sociedade, dentro deste grande sistema globalizado exigente, onde cada vez mais se exige o domínio da língua falada e escrita, raciocínio formal e abstrato e apropriação da informação e outras. No contexto da educação brasileira em meio a pandemia da COVID-19, destacou-se pela falta de políticas públicas, revelando a descontinuidade de políticas educacionais, influenciando diretamente e negativamente na apropriação para o uso das tecnologias digitais existentes, retardando avanço requerido no campo da educação híbrida.

Uma análise detalhada dos impactos na educação no ano da pandemia de COVID – 19, revelou a falta de políticas públicas. No ano de 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, através do censo, mapeou os recursos tecnológicos disponíveis na infraestrutura das escolas federais, estaduais e municipais. Segundo o censo 2020, das escolas pesquisadas, que disponibilizam internet para o ensino e aprendizagem, o resultado ficou assim: escolas estaduais 84,8%, escolas municipais 33,7%. Os números levantados, revelam uma defasagem tecnológica, criando um abismo na relação ensino aprendizado com o uso de ferramentas tecnológicas.

Desafios trazidos pela pandemia de COVID-19

A imprevisibilidade da crise sanitária afetou todos os setores, e, por conseguinte, adaptar-se a essa nova realidade tornou-se uma constante para todos. Durante o ano de 2020, detectamos a real necessidade de adequação das condições para a educação remota. No Brasil, houve dificuldades de adaptação, pois não houve tempo hábil para criar um (re)planejamento para essa nova forma de ensino, prejudicando tanto os alunos quanto os pais e professores. Além da obrigação e adaptação a um novo método de ensino, há ainda o estresse gerado pelo distanciamento social durante a quarentena. A palavra de ordem para o momento era paciência e consistência, trabalhando de forma contínua para entender as necessidades de alunos e professores, que também foram pegos de surpresa por uma pandemia mundial, tendo ainda que lidar com a ansiedade e o medo, decorrentes desse momento de incerteza, configurando-se como enormes desafios para o ensino. 

No entanto, esse objetivo esbarrou na falta de planejamento, na infraestrutura tecnológica adequada e na formação de profissionais, além do tempo de resposta necessário para a implantação do ensino emergencial. Nessa batalha para acelerar a conversão do modelo tradicional de ensino, merece destaque um outro elemento dificultador: o acesso a um computador e/ou internet. Grande parte dos alunos brasileiros de escolas públicas não têm acesso à internet, o que prejudicou ainda mais seu aprendizado. Segundo dados da UNICEF (2020), cerca de “4,8 milhões de crianças e adolescentes, de 9 a 17 anos, não têm acesso à internet em casa, o que corresponde a cerca de 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária”. 

Existem lacunas no processo e no trato do conjunto a ser observado frente às demandas de utilização das tecnologias digitais que aumentaram significativamente o tempo de trabalho. Esse modelo “híbrido” de ensino demandou dos profissionais de educação uma grande quantidade de horas extras para preparar as aulas, garantir conexões adequadas e monitorar os alunos neste novo formato. Professores e gestores escolares tiveram que adaptar o currículo e as atividades presenciais para o ensino online de forma imediata. Neste novo formato, muitas escolas passaram a utilizar ferramentas digitais como Zoom, Skype e Google Meet, sendo que muitos professores jamais tiveram contato prévio com essas tecnologias. Ademais, os docentes também precisaram aprender a gravar e editar vídeos, além de compreender a melhor maneira de transmitir seu conteúdo e manter a atenção de seus alunos. 

A educação é um processo de ensino e desenvolvimento potencial que amplia oportunidades nas esferas sociais e no convívio humano. Abrangendo processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, e nas manifestações culturais. 

Dentre os inúmeros desafios trazidos pela pandemia, é latente a necessidade de inclusão digital e o combate à desigualdade educacional, uma vez que a educação remota expôs e ampliou as disparidades existentes. Neste norte, alguns autores acreditam que o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) no mundo globalizado ultrapassa os limites dos méritos propostos e adentra outros campos de interesse, funcionando exclusivamente sob o prisma econômico e de controle, descuidando das singularidades necessárias à educação e deixando um rastro de pessoas desassistidas. 

O grande desafio senão o maior dentro do processo educativo, está diretamente ligado a organização do processo de aprendizagem, que requer antes da sua concepção um planejamento que ocupe diversas esferas da administração: conectividade, logística, relações interpessoais, gestão, plano pedagógico. Na sequência podemos enumerar o desenvolvimento e a evolução dos dispositivos e seus diferenciais. Considerando fortemente a necessidade de envolver os alunos em suas aprendizagens, instituir o trabalho em equipe, envolver os pais no enfrentamento dos dilemas do cotidiano.

Certamente, o Brasil, um país de dimensões continentais, enfrenta o desafio de melhorar a qualidade do ensino. Apesar da expansão do ensino básico ter alcançado praticamente a universalização e a educação superior ter crescido, o atraso na educação básica ainda é gravíssimo. É fundamental que políticas públicas sejam implementadas para garantir que todos os alunos, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica, tenham acesso a recursos educacionais adequados e à tecnologia necessária para participar plenamente do ambiente de aprendizagem, levando em conta a função social, difundida em vários documentos e órgãos internacionais, garantindo a importância que lhe é devida, oferecendo educação de qualidade para todos os seus cidadãos. 

As TDICs podem ser descritas como as novas tecnologias que estão surgindo. Elas são caracterizadas, no segmento educacional estatal, como um braço de política pública necessária à vida moderna. Sabemos que o uso dessas tecnologias durante a pandemia de COVID-19 obrigou professores e diretores da educação a um replanejamento, orientando-os a se adaptar aos novos processos educacionais e promovendo ajustes metodológicos. 

Com isso, o “solucionismo tecnológico” exclui a parcela social de desinteressados no modelo tecnológico proposto, abrindo a porta para um atraso social evidente, gerando riqueza, oportunidades de negócios e miséria.

Por fim, a ordem é investir em qualidade, buscando melhorar a qualificação dos professores, a infraestrutura de ensino e a motivação dos profissionais; com prioridades como melhorar a qualidade e expandir ainda mais o ensino médio. O grande desafio, senão o maior, dentro do processo educativo, está diretamente ligado à organização do processo de aprendizagem, que requer, antes de sua concepção, um planejamento que considere diversas esferas da administração: conectividade, logística, relações interpessoais, gestão e plano pedagógico. 

A pandemia de COVID-19 trouxe uma virada de chave na educação, instituindo demandas de maior utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação em todos os segmentos sociais, especialmente na educação, ocasionando mudanças significativas nos campos sociais, econômicos e culturais. Por exemplo, um aluno da zona rural, sem acesso à internet, fica em desvantagem. Como deve ser assistido? O que são as TDICs? Quais são as reais mudanças provocadas por elas? Quais suas consequências para a sociedade em geral? 

O contexto da educação brasileira em meio à pandemia de COVID-19 destaca a necessidade de que escolas e professores recebam educação contínua para lidarem com essas urgências, compreendendo-as como recursos e ferramentas pedagógicas que favoreçam o processo de ensino/aprendizagem de alunos, professores e gestores. Sem dúvida, estamos diante de um grande desafio para os docentes; é urgente a necessidade de desenvolver novas habilidades e competências para dominarem e utilizarem as TDICs em suas práticas pedagógicas e educacionais. 

Considerações

O momento atual da educação, está marcado por uma profunda reflexão, bem como de experiências pedagógicas que claramente estão reconstruindo o modelo do processo de ensino e aprendizagem ainda que a passos lentos, resultados da descontinuidade de medidas educacionais implantadas, agravadas e realçadas pela crise sanitária estabelecida no período pandêmico e o outro grande problema é o tratamento dado aos profissionais de educação, uma vez que os governantes lançam mão de efetivarem políticas educacionais em detrimento da falta de recursos financeiros. 

A educação está em marcha, devendo ser tratada com um olhar voltado exclusivamente para a aprendizagem, o papel do gestor deve transcender os aspectos burocráticos, sempre levando em conta itens fundamentais, objetivo claro, metas, gestão participativa, sem a perspectiva ultrapassada do líder personificado de outrora. No Brasil, precisamos entender a transformação da educação, reconhecendo-a como é, tirando a mão política de cima da educação para que a mesma possa empenhar seu papel, cuja essência da escola é transformar, formar.

O avanço social na área educacional é uma das maneiras de mostrar se as políticas públicas implementadas estão realmente sendo eficazes. Tendo em vista os modelos híbridos de ensino, fica evidente que a educação não deve seguir os modelos preexistentes, já crivados por comparações sistemáticas. Portanto, devem ser capazes de analisar e remir suas necessidades desafiantes quanto os países necessitam investir em Educação. Através dessa comparação será possível averiguar onde cada nação deve melhorar para atingir uma educação de qualidade.

Em contrapartida, o “solucionismo tecnológico” sempre apresenta uma resposta rápida e genérica para qualquer tipo de problema: precisamos de mais tecnologia. Nessa busca insaciável por poder e domínio sobre as maiorias, assistimos à pressão sufocante do desenvolvimento social. Sabemos que, para que uma tecnologia ofereça soluções aos problemas da vida moderna, é necessário que a sociedade esteja organizada. No entanto, o modelo de solucionismo tecnológico é fortemente impulsionado pelo motor do capitalismo, sendo essencial dentro do processo de globalização e focando única e exclusivamente na criação de ativos. Isso resulta em uma sociedade desinformada, sem educação e sem transformação. 

A influência capitalista na educação se manifesta quando as pessoas permitem pensar apenas por um único prisma, acreditando que a tecnologia pode resolver problemas. Assim, elas se tornam potenciais clientes ou investidores. Por sua vez, a tecnologia entra no mercado como um produto ou serviço. Enquanto essa ideologia estimula o empreendedorismo e a atividade econômica, por outro lado, oculta custos sociais, como mortes, desemprego, miséria e danos ambientais. 

No Brasil, o conjunto de normas, leis e regulamentos, federais, estaduais e municipais, que estão diretamente ligados ao setor socioeducacional, é contemplado na redação da Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (CRFB, 1988). Essas normas e legislações reguladoras dizem respeito à democratização do ensino, ao desenvolvimento do aluno, à profissão de professor, à acessibilidade a novas tecnologias e aos investimentos públicos, constituindo a base legal das ações e metas governamentais voltadas para atender aos interesses públicos, buscando nivelar os direitos e as igualdades sociais. 

Entretanto, a educação não deve ser encarada única e exclusivamente como um benefício social garantido por lei, como uma obrigação estatal de acesso da população. Não cabe apenas aos gestores dirigir e coordenar as políticas públicas, pois é necessário ir além da educação básica. A escola é a instituição responsável pela socialização do saber, essencial para a construção da cidadania, ampliação de oportunidades e consequente redução das desigualdades sociais, que ainda estão tão presentes na sociedade brasileira. O avanço social na área educacional é uma das maneiras de avaliar se as políticas públicas implementadas estão realmente sendo eficazes. 

Considerando os modelos híbridos de ensino, fica evidente que a educação não deve seguir os modelos preexistentes, já moldados por comparações sistemáticas. Portanto, é preciso que sejam capazes de analisar e atender às suas necessidades desafiadoras, assim como os países devem investir em educação. Através dessa comparação, será possível identificar onde cada nação deve melhorar para alcançar uma educação de qualidade. 

Enfim, precisamos encurtar o tempo de resposta essencial ao ensino, fortalecer as ações pedagógicas e apoiar continuamente o corpo docente, por meio de ações pontuais e criativas, permitindo uma maior interação entre os usuários da educação e os profissionais, ampliando a participação social da escola. Sem dúvida, este é um momento que requer atenção redobrada em torno do ensino, evitando um deslocamento irreversível e desastroso que impactará as próximas gerações, caso continuemos com essa marcha sem replanejar o acesso à educação. Precisamos resolver com urgência essa virada de chave e reescrever a história com um olhar específico para a educação, entendendo que ela não deve ser vista apenas como um atendimento padrão, como ocorre com as políticas públicas que atendem o cidadão. 

Devemos encarar a educação como algo muito maior, que define o futuro. Este é o desafio do Brasil: oferecer educação básica de alta qualidade para todos os brasileiros. A gestão do sistema educacional necessita de uma construção contínua, no cotidiano, aumentando progressivamente os objetivos que constituem a gestão democrática, relacionando os preceitos da democracia no ambiente escolar com a articulação necessária em busca da autonomia. É importante entender que a autonomia deve ser conquistada e construída dentro de um contexto amplo e irrestrito. 

O que preceitua o Art. 206 da Constituição Federal de 1988 é claro: “o ensino será ministrado com os seguintes princípios: VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei”. As legislações em vigor estão contextualizadas e são de anos anteriores, mas refletem políticas que deixaram de alinhar a educação em camadas, estimulando a competitividade individual como forma de manutenção do poder hierárquico, autoritário e centralizador. Construir uma gestão democrática não é algo com o qual temos muita experiência; portanto, precisamos estar focados e dedicados na busca pela escola cidadã, que é capaz de garantir a educação. É importante ressaltar que, ao questionar as pessoas, elas podem se sentir pertencentes, pois muitas vezes nunca foram ouvidas. Nunca olhamos para esses profissionais como parte importante e valiosa do processo. Isso precisa ser cuidado e avançado em termos de inclusão, pois a autonomia é a base de uma gestão democrática; elas estão interligadas. 

A gestão democrática não faz parte da própria natureza do voto pedagógico e será uma exigência do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, que também deve ser construído de forma democrática. Quais seriam, então, os mecanismos para construir a autonomia da gestão escolar? Um deles é a eleição de diretores, embora saibamos que apenas isso não garantirá uma gestão democrática, mas é um passo necessário. No entanto, ainda é cedo para glorificar o solucionismo tecnológico, que tenta, a todo momento, desvincular-se do capitalismo. Por outro lado, o mercado mundial busca criar ativos, utilizando para isso a mão de obra de trabalhadores que, há pouco tempo, estavam isolados no processo educacional. No Brasil, o termo “gestão administrativa” é utilizado por alguns órgãos administrativos nas esferas federal, estadual e municipal. No entanto, considera-se que o processo de gestão precisa desempenhar um papel transformador, devendo ser compreendido como algo afirmativo. O funcionamento dos subsistemas integrados à gestão deve contar com a colaboração de outros sistemas, mantendo comunicação direta com a administração, os usuários e as escolas. Essa organização do trabalho de gestão na escola garante, principalmente, a autonomia do projeto político pedagógico. Neste artigo, não estamos falando exclusivamente de alguns atores sociais, mas do organismo composto pela sociedade, pais, alunos e profissionais. Todos os envolvidos precisam estar integrados à discussão e participar constantemente do processo democrático de gestão. 

Para que um sistema de gestão educacional colha resultados, é necessário ancorar-se em alguns pilares sociais. Para que o sistema de gestão administrativa funcione na prática, é preciso entender que a sociedade deve participar de algumas políticas públicas. Os governantes não podem decidir os rumos da educação sem antes consultar os interessados. Na educação, observamos sinais de falta de investimento e de qualificação dos profissionais envolvidos, o que deixa um rastro de defasagem educacional. 

Pensar sobre gestão escolar é compreender quais fatores são necessários para que a escola possa realizar seu trabalho de forma adequada e com qualidade, diante das necessidades da sociedade. No histórico processo de organização e reorganização da sociedade brasileira, as relações de poder definem o avanço ou o retrocesso da democratização da gestão educacional (MELO, 2004). 

A gestão do sistema educativo enfrenta um grande desafio: elevar a qualidade da educação básica, saindo de um patamar insatisfatório de aprendizagem para um nível que realmente propicie a emancipação dos jovens ao final da educação básica, possibilitando uma vida autônoma e a concretização de seus projetos de vida. 

Enfim, precisamos encurtar o tempo de resposta, essencial ao ensino, fortalecer as ações pedagógicas, apoiando de forma contínua o corpo docente, com ações pontuais e criativas, permitindo uma interação maior entre usuários da educação e profissionais, ampliando a participação social da escola. Sem dúvida, o momento requer um trato de atenção redobrada em torno do ensino, evitando um deslocamento irreversível e desastroso que ocorrerá às próximas gerações, caso continuemos a marcha, sem replanejar o acesso à educação.

Referências

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1Mestrando pela Faculdade de Ciencias de la Educación UDE – Universidad de La Empresa – Montevidéu/UR. Bacharel em Ciências Contábeis e MBA em Gestão Financeira e Controladoria. E-mail:higynodefreitas@gmail.com