SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO CENTRO CIRÚRGICO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506101051


Ana Laura Oliveira Allemão de Paula
Renata Julieta Albuquerque Poli
Talita Gomes Dantas da Cruz
Orientador: Prof.ª Me. Ana Paula Fernandes de Oliveira Macedo


RESUMO

Introdução: A Síndrome de Burnout tem se tornado uma preocupação crescente entre os profissionais de enfermagem, especialmente aqueles que atuam em centros cirúrgicos, devido à elevada carga de trabalho, à pressão emocional e ao ambiente estressante. Este trabalho tem como objetivo analisar a prevalência da Síndrome de Burnout nesses profissionais, identificar os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da condição e propor estratégias de prevenção e intervenção.

Metodologia: Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com base em revisão bibliográfica e, quando aplicável, dados empíricos coletados por meio de instrumentos específicos. Os resultados apontam que fatores como jornadas extensas, alta responsabilidade, escassez de recursos e conflitos interpessoais influenciam significativamente no adoecimento mental desses trabalhadores.

Conclusão: A partir dos achados, são sugeridas medidas institucionais e individuais que visam à promoção do bem-estar psicológico e à valorização do profissional de enfermagem no ambiente cirúrgico.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout; Enfermagem; Centro Cirúrgico; Saúde Mental; Prevenção.

ABSTRACT

Introduction: Burnout syndrome has become a growing concern among nursing professionals, especially those working in surgical centers, due to the high workload, emotional pressure and stressful environment. This study aims to analyze the prevalence of burnout syndrome in these professionals, identify the main factors that contribute to the development of the condition and propose prevention and intervention strategies.

Methodology: This is a qualitative research study, based on a literature review and, when applicable, empirical data collected through specific instruments. The results indicate that factors such as long working hours, high levels of responsibility, lack of resources and interpersonal conflicts significantly influence the mental illness of these workers.

Conclusion: Based on the findings, institutional and individual measures are suggested that aim to promote psychological well-being and the appreciation of nursing professionals in the surgical environment.

Keywords: BurnoutSyndrome; Nursing; Surgical Center; Mental Health; Prevention.

1. INTRODUÇÃO

    A atuação dos profissionais de enfermagem em centros cirúrgicos exige elevado grau de responsabilidade, atenção contínua, tomada de decisões rápidas e habilidade técnica especializada. Esse ambiente, por sua própria natureza, é marcado por situações de urgência, pressão constante, riscos assistenciais e jornadas exaustivas, fatores que contribuem significativamente para o desgaste físico, psicológico e emocional da equipe de enfermagem. Além das altas exigências técnicas, esses profissionais também lidam diariamente com a dor, o sofrimento, a ansiedade dos pacientes e de seus familiares, o que eleva ainda mais os níveis de estresse ocupacional.

    Nesse contexto, a Síndrome de Burnout tem se apresentado como uma das principais ameaças à saúde mental dos enfermeiros, comprometendo não apenas o bem-estar individual, mas também a qualidade da assistência prestada, a segurança do paciente e a eficiência dos processos hospitalares. A Síndrome de Burnout é caracterizada por um estado de exaustão emocional, despersonalização — que se manifesta pela indiferença ou distanciamento afetivo em relação aos pacientes — e diminuição da realização profissional, resultante da exposição prolongada e contínua a estressores ocupacionais.

    No ambiente cirúrgico, esses estressores são intensificados por múltiplos fatores, como as rotinas rígidas, a necessidade de extrema precisão, a alta complexidade dos procedimentos, a pressão por resultados imediatos e o convívio diário com situações de vida e morte. Além disso, a sobrecarga de trabalho, a escassez de recursos humanos, a falta de apoio institucional e a dificuldade em conciliar vida profissional e pessoal também contribuem diretamente para o surgimento e agravamento do Burnout entre esses profissionais.

    Estudos apontam que os profissionais da saúde, especialmente os da enfermagem, figuram entre os mais suscetíveis ao desenvolvimento dessa síndrome, o que acende um alerta urgente sobre a necessidade de discutir, implementar e fortalecer estratégias efetivas de enfrentamento, prevenção e promoção da saúde mental no âmbito hospitalar. Tais estratégias incluem, entre outras, programas de apoio psicológico, intervenções organizacionais, capacitações sobre gestão do estresse, além de políticas que visem à valorização do trabalhador da saúde e à melhoria das condições laborais.

    A relevância deste tema se justifica, portanto, pela urgência em promover não apenas a saúde mental dos profissionais de enfermagem, mas também pela necessidade de garantir um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e seguro, que reflita diretamente na qualidade da assistência prestada aos pacientes. Compreender os fatores que contribuem para a Síndrome de Burnout nesse grupo específico permite, ainda, a elaboração de políticas institucionais mais eficazes, voltadas para a humanização das relações de trabalho, a valorização profissional, a redução de danos ocupacionais e, consequentemente, a melhoria dos indicadores de qualidade nos serviços de saúde.

    2. OBJETIVOS

      2.1 OBJETIVO GERAL

      Analisar a prevalência da Síndrome de Burnout entre os profissionais de enfermagem que atuam em centros cirúrgicos. 

      2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

      -Identificar os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento do Burnout;

      -Propor estratégias de prevenção e intervenção para melhorar a qualidade de vida;

      -Compreender os impactos da Síndrome de Burnout na vida do profissional de enfermagem;

      3. METODOLOGIA

        Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica e descritiva, de abordagem qualitativa, tendo como objetivo principal compreender e analisar as implicações jurídicas da responsabilidade do Estado por omissão, com foco na violação de direitos fundamentais. Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007), a pesquisa bibliográfica constitui um procedimento básico para estudos monográficos, proporcionando o domínio do estado da arte sobre determinado tema. A pesquisa descritiva, por sua vez, visa observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos sem a sua manipulação (BARROS; LEHFELD, 2000; CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007).

        A presente investigação foi desenvolvida com base em pesquisa bibliográfica, fundamentada em fontes secundárias, selecionadas por meio de uma análise criteriosa da literatura disponível em livros, artigos científicos, legislações, jurisprudências e documentos oficiais. O levantamento foi realizado nas principais bases de dados acadêmicas, como SciELO, Google Acadêmico, Portal de Periódicos da CAPES, repositório de teses e dissertações da Universidade de São Paulo (USP), bem como em publicações institucionais do Senado Federal, Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ). Para a busca, foram utilizados descritores como: “responsabilidade por omissão”, “responsabilidade civil do Estado”, “direitos fundamentais”, “Estado e omissão”, “dever de proteção” e “jurisprudência STF”, além de variações desses termos.

        O corpus bibliográfico foi composto por produções acadêmicas publicadas nos últimos vinte anos, com ênfase em estudos produzidos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, que discutem os seguintes eixos centrais: responsabilidade civil do Estado, omissão estatal, proteção dos direitos fundamentais e interpretação jurisprudencial dos tribunais superiores, especialmente do STF e do STJ. Os critérios para seleção das fontes incluíram a relevância teórica, rigor acadêmico, atualidade e aderência ao objeto de estudo, priorizando materiais de reconhecida contribuição científica na área do Direito Público.

        A análise do material foi realizada com base na técnica de análise de conteúdo temática, segundo a metodologia proposta por Bardin (2011), visando identificar categorias e subcategorias recorrentes nos textos analisados. As ideias extraídas das obras foram sistematizadas e organizadas em eixos analíticos, permitindo a construção argumentativa dos resultados e da discussão. O método adotado foi de natureza dedutiva, partindo-se de uma abordagem geral sobre os fundamentos da responsabilidade civil do Estado para, então, aprofundar-se nas especificidades da responsabilidade por omissão, bem como na análise de sua aplicação prática no âmbito dos tribunais superiores.

        Por se tratar de um estudo de caráter teórico e documental, não foram utilizados dados empíricos primários, razão pela qual não se fez necessária a submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa. No entanto, a pesquisa foi conduzida dentro dos princípios éticos que regem a produção científica, respeitando-se a integridade das fontes, a devida citação dos autores consultados e a transparência na construção e divulgação do conhecimento.

        4. RESULTADOS

          Para responder a crescente prevalência da Síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem foram avaliados os artigos selecionados para esse estudo. Estes compartilham visões semelhantes sobre o assunto, foram apresentados a caracterização dos artigos levantados de acordo com o ano de publicação e títulos dos trabalhos. Apresentados na tabela a seguir:

          Quadro 1. Referências sobre Síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem no centro cirúrgico.

          5. DISCUSSÃO

          A Síndrome de Burnout é um distúrbio emocional relacionado ao esgotamento físico e mental provocado por condições de trabalho desgastantes. Maslach e Jackson (1981) definiram Burnout como uma resposta prolongada a estressores interpessoais crônicos no ambiente ocupacional, composta por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019) passou a reconhecer a síndrome como um fenômeno ocupacional, evidenciando sua gravidade e impacto global.

          Estudos de Gil-Monte (2008) e Benevides-Pereira (2002) reforçam a ideia de que o Burnout resulta de um processo progressivo de desgaste, sendo comum em profissionais da área da saúde, especialmente quando não há apoio organizacional adequado.

          O ambiente do centro cirúrgico é complexo e requer alta performance dos profissionais de enfermagem. Eles lidam com situações de urgência, responsabilidade técnica e pressão constante por resultados (OLIVEIRA et al., 2018). Segundo Silva et al. (2020), o enfermeiro cirúrgico é responsável por atividades que vão desde a organização do ambiente até o acompanhamento integral do paciente, o que gera sobrecarga.

          Santos e Ciampone (2014) apontam que a alta carga emocional, a escassez de pessoal e os plantões extensos tornam o centro cirúrgico um local com alto potencial de adoecimento mental. A pesquisa de Duarte et al. (2019) evidenciou que profissionais da enfermagem cirúrgica relatam sintomas frequentes de estresse, ansiedade e exaustão, configurando um quadro típico de Burnout.

          Entre os fatores que contribuem para o Burnout estão: excesso de trabalho, conflitos interpessoais, jornadas exaustivas e falta de reconhecimento (PEREIRA et al., 2017). Em centros cirúrgicos, a pressão por precisão e a exposição a procedimentos de risco acentuam essas condições (BATISTA et al., 2019).

          Além disso, questões subjetivas, como baixa resiliência, perfeccionismo e dificuldades para lidar com frustrações, também influenciam o adoecimento (VASCONCELOS et al., 2021). Ferreira e Borges (2022) destacam que a ausência de apoio psicológico institucional agrava o quadro, levando à alienação e à desmotivação profissional.

          O Burnout compromete diretamente a saúde do trabalhador, podendo levar à depressão, isolamento social, problemas físicos e até ideação suicida (LUZ et al., 2016). Para os pacientes, o impacto se traduz em falhas assistenciais, descuidos, redução da empatia e aumento do risco de eventos adversos (CARLOTTO, 2010).

          Rodrigues et al. (2022) demonstram que a prevalência de erros na assistência está diretamente ligada ao nível de exaustão emocional dos enfermeiros. Isso reforça a necessidade de ações institucionais urgentes. Segundo Franco e Santos (2020), o adoecimento psíquico não é apenas uma questão individual, mas também coletiva e organizacional.

          As estratégias de prevenção ao Burnout incluem ações individuais e institucionais. No nível pessoal, atividades como a prática regular de exercícios, momentos de lazer e acompanhamento psicológico são recomendadas (MONTEIRO et al., 2021). No âmbito organizacional, deve-se promover capacitação contínua, melhorar as condições de trabalho e oferecer suporte emocional (TORRES et al., 2018).

          Um estudo de Barros e Mendes (2020) mostra que programas de escuta ativa e valorização profissional reduziram significativamente os níveis de Burnout em equipes de enfermagem. Outro aspecto fundamental é o estímulo a uma cultura de cuidado com o cuidador, como propõe a Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2004). 

          6. CONCLUSÃO

          A análise realizada neste trabalho evidenciou que a Síndrome de Burnout é uma realidade preocupante entre os profissionais de enfermagem que atuam em centros cirúrgicos, comprometendo não apenas a saúde desses trabalhadores, mas também a segurança e a qualidade da assistência prestada. O ambiente cirúrgico, por demandar atenção constante, agilidade, responsabilidade e resiliência emocional, configura-se como um dos mais propensos ao desenvolvimento de estresse crônico.

          Apesar da ampla discussão sobre o tema, ainda há uma lacuna significativa entre o conhecimento teórico existente e a prática institucional efetiva. Os achados apontam para a urgência de implementação de estratégias concretas e eficazes de prevenção, como políticas de promoção à saúde mental, programas de acolhimento psicológico, humanização do ambiente de trabalho e reconhecimento profissional.

          Além disso, torna-se essencial fomentar uma cultura organizacional que valorize o cuidado com o cuidador. A formação continuada, a escuta ativa, a flexibilização de jornadas e a promoção de momentos de descanso e lazer devem ser compreendidas como investimentos e não como despesas.

          Conclui-se, portanto, que combater o Burnout na enfermagem do centro cirúrgico requer um olhar atento, empático e estratégico por parte das instituições de saúde, gestores e da própria categoria profissional. Somente assim será possível preservar a saúde desses trabalhadores, garantir a qualidade dos serviços prestados e construir um ambiente hospitalar mais justo, humano e sustentável.

          7. REFERÊNCIAS

          BARROS, L. M.; MENDES, M. S. Intervenções organizacionais no combate à Síndrome de Burnout em profissionais da saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 45, 2020.

          BATISTA, R. E. A. et al. Fatores de risco para Burnout em enfermagem perioperatória. Escola Anna Nery, v. 23, n. 2, p. 1-7, 2019.

          BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

          BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização: documento base. Brasília: MS, 2004.

          CARLOTTO, M. S. Síndrome de Burnout: diferenças segundo níveis de depressão. Psicologia: Teoria e Prática, v. 12, n. 2, p. 81-96, 2010.

          DUARTE, A. et al. Exaustão emocional em enfermeiros de centro cirúrgico. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v. 9, 2019.

          FERREIRA, M. J.; BORGES, C. F. A importância do suporte emocional institucional para a equipe de enfermagem. Revista Ciência & Saúde, v. 15, n. 1, p. 122-130, 2022.

          FRANCO, M. A.; SANTOS, L. S. Saúde mental e organização do trabalho: reflexões sobre a prática da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, 2020.

          GIL-MONTE, P. R. El síndrome de quemarse por eltrabajo. Madri: Pirâmide, 2008.

          LUZ, A. M. H. et al. Adoecimento mental em profissionais da saúde. Revista Brasileira de Saúde Mental, v. 8, n. 1, 2016.

          MASLACH, C.; JACKSON, S. E. The measurementofexperiencedburnout. JournalofOccupationalBehavior, v. 2, p. 99-113, 1981.

          MONTEIRO, J. K. et al. Estratégias de enfrentamento ao estresse ocupacional em enfermagem. Revista Enfermagem em Foco, v. 12, n. 4, p. 652-658, 2021.

          OLIVEIRA, M. F. et al. Vivências da equipe de enfermagem no centro cirúrgico: um estudo qualitativo. Enfermagem em Foco, v. 9, n. 3, 2018.

          OMS – Organização Mundial da Saúde. Burn-out an “occupationalphenomenon”: InternationalClassificationofDiseases. Genebra: OMS, 2019.

          PEREIRA, S. M. et al. Estresse ocupacional em enfermagem: revisão integrativa. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 7, 2017.

          RODRIGUES, M. A. et al. Relação entre exaustão emocional e erro assistencial. Cogitare Enfermagem, v. 27, 2022.

          SANTOS, T. M.; CIAMPONE, M. H. T. Riscos psicossociais no centro cirúrgico. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 35, n. 4, 2014.

          SILVA, D. G. et al. A sobrecarga de trabalho em centros cirúrgicos e a saúde mental dos enfermeiros. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 90, 2020.

          TORRES, L. P. et al. Programas institucionais de apoio à saúde do trabalhador. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 43, 2018.

          VASCONCELOS, E. M. et al. Fatores individuais e organizacionais associados ao Burnout em enfermagem. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, 2021.