SERÁ QUE PODEMOS CONFIAR EM TUDO O QUE LEMBRAMOS? IMPACTOS DA REALIDADE VIRTUAL, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, DEEPFAKES E FAKE NEWS

CAN WE TRUST EVERYTHING WE REMEMBER? THE IMPACTS OF VIRTUAL REALITY, ARTIFICIAL INTELLIGENCE, DEEPFAKES, AND FAKE NEWS.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202509101407


Wladimir Jatobá de Menezes1


RESUMO

Este ensaio teórico-argumentativo investiga como tecnologias digitais emergentes — como realidade virtual, inteligência artificial, deepfakes e fake news — influenciam a formação de falsas memórias. Baseando-se em revisão interdisciplinar nas áreas da psicologia cognitiva, neurociência e estudos da informação, discute-se como experiências altamente imersivas e conteúdos simulados impactam os processos de codificação, consolidação e recuperação da memória. Evidências indicam que ambientes digitais verossímeis e algoritmicamente manipulados não apenas intensificam a sugestionabilidade, como comprometem a distinção entre memórias autênticas e induzidas. O ensaio ressalta os riscos éticos e sociais dessas tecnologias, defendendo a necessidade de políticas públicas voltadas à alfabetização midiática e à promoção da metacognição e do pensamento crítico.

Palavras-chave: Falsas memórias; Realidade virtual; Inteligência artificial; Deepfakes; Fake news

False memories: impacts of virtual reality, artificial intelligence, deepfakes and fake news

False Memories: VR, AI, Deepfakes, and Fake News

ABSTRACT

This theoretical-argumentative essay explores how emerging digital technologies—such as virtual reality, artificial intelligence, deepfakes, and fake news—influence the formation of false memories. Drawing on an interdisciplinary literature review in cognitive psychology, neuroscience, and information science, it analyzes how immersive experiences and simulated content affect memory encoding, consolidation, and retrieval. Evidence suggests that algorithmically manipulated and realistic digital environments increase suggestibility and blur the line between authentic and induced memories. The essay highlights ethical and social concerns, advocating for public policies that promote media literacy, critical thinking, and metacognitive awareness.

Keywords: False memories; Virtual reality; Artificial intelligence; Deepfakes; Fake news

Falsos recuerdos: impactos de la realidad virtual, la inteligencia artificial, los deepfakes y las fake news

Falsos recuerdos: RV, IA, deepfakes y noticias falsas

RESUMEN

Este ensayo teórico-argumentativo investiga cómo las tecnologías digitales emergentes —como la realidad virtual, la inteligencia artificial, los deepfakes y las fake news— influyen en la formación de recuerdos falsos. A partir de una revisión interdisciplinaria en los campos de la psicología cognitiva, la neurociencia y los estudios de la información, se analiza cómo las experiencias inmersivas y los contenidos simulados afectan la codificación, consolidación y recuperación de la memoria. La evidencia indica que los entornos digitales realistas y manipulados algorítmicamente aumentan la sugestionabilidad y dificultan la distinción entre recuerdos auténticos e inducidos. El ensayo señala riesgos éticos y sociales, y defiende políticas públicas que fomenten la alfabetización mediática, el pensamiento crítico y la metacognición.

Palabras clave: Falsos recuerdos; Realidad virtual; Inteligência artificial; Deepfakes; Noticias falsas

Introdução

Nas últimas décadas, ferramentas como a realidade virtual, a inteligência artificial e a propagação massiva de fake news e deepfakes vêm alterando profundamente a forma como percebemos, interagimos e registramos experiências. A exposição constante a ambientes simulados e conteúdos fabricados por máquinas, muitas vezes apresentados por meio de narrativas enganosas, tem se mostrado tão realista (e.g., seja na linguagem, na aparência ou no contexto) que facilmente podem ser aceitos como reais (Tas, 2023).

Nesse cenário, esse ferramental de tecnologias imersivas e a disseminação acelerada de fake news e deepfakes têm inundado o mundo moderno, potencializando processos de desinformação de forma exponencial (Pacheco, 2023; Silva, 2023). Elas impactam não apenas a maneira como os indivíduos consomem e interpretam informações, mas também interferem diretamente nos processos cognitivos de construção das memórias (Baumann et al., 2020). Essa distorção da percepção imediata da realidade, pode comprometer a fidelidade das memórias formadas a partir dessas vivências. Diante da crescente verossimilhança dos simulacros digitais (e. g., para Baudrillard (2002), simulacro é uma cópia da realidade que acaba substituindo a própria realidade) e das narrativas artificiais, torna-se urgente investigar até que ponto essas experiências podem comprometer a fidelidade das lembranças e favorecer a construção de falsas memórias, especialmente em contextos marcados por alta imersão, exposição repetida ou baixa verificação das fontes (Frenda et al., 2011). Para Nami e Baitello Junior (2025) essa interação contínua entre o cérebro e os algoritmos, redefine o real, afeta a memória e distorce narrativas pessoais e coletivas.

A memória humana é constantemente reconstruída a partir de fragmentos e pistas contextuais, estando sujeita a distorções, omissões e inserções falsas (Schacter et al., 2011). Esse caráter maleável da memória se acentua em ambientes mediados por tecnologias digitais altamente sofisticadas, como a realidade virtual e inteligência virtual na forma de deepfakes, que podem alterar a percepção e a lembrança dos eventos (Alanazi & Asif, 2024; Liv & Greenbaum, 2020; Petiot et al., 2025).

Bartlett (1932) já alertava para o papel ativo do sujeito na reconstrução das memórias, um ponto que foi ampliado por Schacter (1996) ao sistematizar os “pecados da memória”, entre eles a sugestionabilidade e a persistência. Em tempos recentes, com a ascensão da inteligência artificial generativa (e. g., IA criadora de novos conteúdos) e de sistemas capazes de produzir imagens, vozes e vídeos sintéticos altamente convincentes, esses riscos tornam-se mais exponenciais (Bonnail et al., 2022; Murphy et al., 2023).

Chan et al. (2024) demonstraram que a interação com agentes artificiais pode levar à distorção de eventos previamente lembrados com precisão, principalmente quando esses sistemas oferecem informações verossímeis, mas falsas. O mesmo ocorre com os conteúdos fabricados por deepfakes e fake news, pois a sua repetição e qualidade estética reforçam a sensação de familiaridade, ativando o chamado “efeito da verdade ilusória” (e.g., fenômeno pelo qual informações repetidas são percebidas como mais verdadeiras) (Fazio et al., 2015; Hassan & Barber, 2021). Mesmo quando uma afirmação é falsa, sua repetição pode aumentar sua credibilidade percebida, o que a torna mais propensa a ser compartilhada, reforçando um ciclo de desinformação (Vellani et al., 2023).

Esses fenômenos sinalizam uma crise epistemológica contemporânea, em que a verdade deixa de ser um dado objetivo e passa a ser determinada por fatores como emoção, identidade e reforço algorítmico (Baudrillard, 2002; Williamson & Prybutok, 2024). A simulação passa a operar como substituto do real, dificultando a diferenciação entre lembrança legítima e construção induzida (Schacter & Addis, 2007).

A partir dessa contextualização, o presente ensaio busca argumentar como as tecnologias imersivas e algoritmicamente manipuladas, como a realidade virtual, a inteligência artificial e a disseminação de fake news (texto, imagem e manchete falsas) e deepfakes (vídeo ou áudio criadas por IA), não apenas transformam a forma como os indivíduos experienciam e interpretam o mundo, mas também interferem de maneira significativa nos processos mnemônicos, favorecendo a formação de falsas memórias e comprometendo a distinção entre lembranças autênticas e memórias induzidas em contextos digitalmente mediados.

Quanto ao objetivo geral, o ensaio busca investigar como a exposição a ambientes simulados por tecnologias, conteúdos gerados por inteligência artificial e narrativas verossímeis de desinformação podem influenciar a codificação, consolidação e recuperação de memórias, contribuindo para a formação de falsas memórias em contextos de alta imersão e baixa checagem da realidade. Como objetivos específicos busca-se: (1) analisar de que forma a verossimilhança de conteúdos digitais artificiais afeta a percepção de veracidade e a confiança subjetiva na memória; (2) explorar os mecanismos cognitivos envolvidos na formação de falsas memórias em contextos mediados por realidade virtual e inteligência artificial; (3) avaliar os efeitos da exposição repetida a fake news e deepfakes sobre a reconstrução e distorção de lembranças; (4) examinar as diferenças entre lembranças originadas em experiências reais e aquelas formadas a partir de interações com ambientes virtuais ou conteúdos manipulados.

A realização deste ensaio justifica-se pela necessidade de compreender os impactos provocados pelos avanços nas tecnologias digitais, que, nas últimas décadas, têm transformado significativamente a forma como os indivíduos percebem, experienciam e registram eventos. Ferramentas como a realidade virtual imersiva, os sistemas baseados em inteligência artificial e a disseminação massiva de conteúdos falsos, como as chamadas fake news, têm contribuído para um cenário em que as fronteiras entre realidade e simulação se tornam cada vez mais tênues.

Essa transformação não afeta apenas a circulação da informação, mas também a maneira como a memória humana é estruturada e atualizada, considerando seu caráter reconstrutivo e altamente influenciado por contextos externos (Bartlett, 1932; Schacter, 1996). A presença de imagens hiper-realistas geradas por inteligência artificial, deepfakes e simulações digitais complexas tem o potencial de produzir interferências profundas na codificação e recuperação de memórias autobiográficas e coletivas (Chan et al., 2024; Murphy & Flynn, 2022).

Tais alterações demandam uma revisão dos próprios critérios de verdade, autenticidade e verificação, especialmente em tempos de excesso informacional e pós-verdade (Quintana, 2023; Williamson & Prybutok, 2024). Assim, torna-se relevante compreender de que forma essas tecnologias impactam os processos de construção da verdade subjetiva, da memória e da percepção do real, especialmente no que se refere ao modo como indivíduos experimentam e validam suas vivências.

A partir da contextualização apresentada, que evidencia os impactos das tecnologias digitais, como a realidade virtual imersiva, a inteligência artificial e a disseminação de fake news sobre os processos cognitivos e a memória, este estudo se estrutura em torno de algumas questões norteadoras fundamentais que, juntamente com os objetivos, orientam o desenvolvimento do ensaio:

  1. Diante da proliferação de realidades virtuais imersivas, narrativas artificiais e conteúdos gerados por inteligência artificial, como determinar se uma lembrança é de fato autêntica ou resultado de uma experiência simulada ou manipulada?
  2. As tecnologias digitais contemporâneas estão apenas ampliando nossa capacidade de vivenciar e registrar o mundo, ou também estariam alterando, de forma sutil e cumulativa, os processos cognitivos de formação e recuperação da memória?
  3. Até que ponto experiências mediadas por ambientes virtuais e desinformação podem induzir a formação de memórias falsas, especialmente quando essas experiências são altamente verossímeis e emocionalmente envolventes?
  4. Em que medida as tecnologias emergentes, como a realidade virtual, a inteligência artificial e as fake news, funcionam como novos vetores de sugestão capazes de induzir falsas memórias, à semelhança dos mecanismos observados no paradigma DRM?

Quanto ao método o ensaio adota uma abordagem teórico-argumentativa com base em uma análise crítica interdisciplinar entre os campos da psicologia cognitiva, das ciências da informação e dos estudos sobre tecnologia. A partir de uma revisão narrativa da literatura científica e estudos contemporâneos sobre memória, realidades virtuais, inteligência artificial e desinformação, busca-se compreender como esses elementos interagem e potencialmente interferem nos processos de formação de memórias, especialmente na indução de falsas memórias. A argumentação é construída por meio da articulação entre conceitos como simulacro (Baudrillard, 2002), reconstrução da memória (Loftus, 1997), paradigma DRM de Deese (1959) e Roediger-McDermott (2000), verossimilhança narrativa e cognição imersiva, visando propor reflexões críticas sobre os impactos cognitivos das tecnologias emergentes na atualidade.

A fragilidade da memória humana e as falsas memórias

Ao considerar a memória não como um repositório fiel dos fatos, mas como um sistema ativo e altamente suscetível a influências externas, torna-se evidente que essas tecnologias emergentes podem facilitar a formação de memórias falsas (e. g., lembranças de eventos que jamais ocorreram ou que ocorreram de maneira distinta) (Loftus, 1997; Segovia &  Bailenson, 2009; Wachendörfer & Oeberst, 2023). A compreensão dos processos pelos quais adquirimos, codificamos, armazenamos, consolidamos, evocamos e utilizamos informações tornou-se o objeto de pesquisa para muitas gerações de cientistas provenientes de diversas disciplinas. Esses esforços corroboraram e culminaram em um extenso conhecimento sobre os sistemas, funções e características singulares da memória, proporcionando uma visão abrangente dessa complexa dimensão da mente humana. As memórias desempenham um papel fundamental na existência humana, sendo reservatórios de experiências diárias, diversos conhecimentos e um fator de construção da identidade do ser (Mourão & Faria, 2015).

Entretanto, a memória, em diferentes contextos, pode revelar-se imperfeita, suscetível a distorções, podendo causar impactos negativos na vida cotidiana. Torna-se pertinente questionar se todas as recordações foram genuinamente vivenciadas e se correspondem à realidade (Eisenkraemer, 2006; Laney & Loftus, 2013; Loftus, 1997; Lopes & Rossini, 2020; Schacter, 2003; Stein & Neufeld, 2001). Nesse campo das distorções da memória, as falsas memórias ganham destaque devido à sua relevância nos acontecimentos cotidianos e nas pesquisas experimentais (Lopes & Rossini, 2018; Stein, 2010).

A memória humana é, por natureza, falível e maleável. Diferentemente do que se imaginava durante séculos, hoje se sabe que lembrar não é um processo de reprodução, mas de reconstrução. A psicóloga cognitiva Elizabeth Loftus, uma das maiores autoridades no estudo das falsas memórias, demonstrou ao longo de décadas que informações falsas inseridas após um evento podem alterar significativamente o modo como ele é lembrado. Em suas palavras, “a mente humana não funciona como uma fita de vídeo que pode ser rebobinada e reproduzida” (Loftus, 2005). Em vez disso, as memórias podem ser manipuladas, distorcidas ou até mesmo completamente fabricadas.

Esse fenômeno foi demonstrado experimentalmente por Roediger e McDermott (1995), que criaram uma técnica para induzir lembranças de palavras nunca apresentadas, apenas com base em listas semanticamente associadas. O experimento revelou que participantes frequentemente “lembravam” palavras ausentes com o mesmo nível de confiança das palavras realmente apresentadas — um exemplo direto de como nossa memória pode ser enganada.

Ao longo das décadas, observa-se um crescente interesse na investigação das chamadas falsas memórias, as quais se referem à capacidade de se recordar eventos ou informações que nunca ocorreram, não foram experimentadas, ou que não aconteceram da forma como são relatadas (Alves & Lopes, 2007; Mazzoni & Scoboria, 2007; Lopes & Rossini, 2018; Oliveira et al., 2018).

Os estudos sobre falsas memórias têm uma história rica e diversificada, remontando ao final do século XIX e início do século XX. Pesquisadores como Binet (1900); Kirkpatrick (1894) e Stern (1910) foram pioneiros nesse campo, investigando como sugestões externas podem distorcer a recordação, especialmente em crianças. Suas pesquisas iniciais destacaram a fragilidade da memória e sua suscetibilidade à influência de sugestões externas.

Bartlett (1932) contribuiu significativamente para a compreensão das falsas memórias em adultos ao propor que o processo de lembrar é construtivo, influenciado por esquemas cognitivos individuais e experiências passadas. Esse insight fundamental foi posteriormente explorado por Loftus e Palmer (1974), cujo trabalho sobre o efeito da falsa informação na recordação de testemunhas oculares evidenciou como informações enganosas podem distorcer significativamente a memória de eventos passados.

O desenvolvimento do paradigma DRM por Roediger e McDermott (1995) representou um marco importante no estudo das falsas memórias, fornecendo um método eficaz para induzir e investigar esse fenômeno. O procedimento DRM, baseado na apresentação de listas de palavras semanticamente associadas, revelou a propensão das pessoas a produzirem memórias falsas durante testes de recordação (Roediger & McDermott, 1995).

Além disso, os “sete pecados da memória” identificados por Schacter (2003) oferecem insights valiosos sobre as diferentes maneiras pelas quais a memória pode falhar, incluindo distorções decorrentes de atribuições erradas, sugestionabilidade e viés. Essas transgressões fundamentais fornecem uma compreensão mais profunda de como as memórias podem ser influenciadas por fatores externos e internos, levando a distorções e reconstruções errôneas dos eventos passados.

A influência das emoções na formação e distorção da memória é outro aspecto crucial a ser considerado. Estudos mostram que eventos traumáticos podem não apenas levar à formação de memórias vívidas e detalhadas, mas também à distorção dessas memórias ao longo do tempo (Figueiredo, 2017). A interação complexa entre emoção e recordação é exemplificada pelas “memórias de flash” de Brown e Kulick (1977), destacando como as experiências emocionais podem influenciar significativamente a forma como lembramos eventos passados.

Portanto, os estudos sobre falsas memórias oferecem uma visão fascinante da natureza dinâmica e maleável da recordação humana, destacando não apenas sua falibilidade inerente, mas também sua complexidade e adaptabilidade em face de influências externas e internas. Essas pesquisas têm implicações significativas não apenas para a compreensão dos mecanismos subjacentes à memória humana, mas também para áreas como o direito, onde a confiabilidade dos testemunhos é crucial.

Os estudos sobre falsas memórias não apenas exploram os aspectos comportamentais, mas também investigam suas bases neurais, proporcionando uma compreensão mais abrangente desse fenômeno complexo. A pesquisa nesse campo revela que as falsas memórias não são meramente falhas cognitivas, mas também têm fundamentos neurobiológicos.

A partir de estudos de neuroimagem funcional, como ressonância magnética funcional (fMRI), pesquisadores identificaram padrões de ativação cerebral associados à formação e recuperação de falsas memórias. Por exemplo, durante a indução de falsas memórias em paradigmas experimentais, áreas do córtex pré-frontal, hipocampo e córtex parietal estão frequentemente envolvidas (Okado & Stark, 2003). Essas regiões desempenham papéis cruciais na codificação, armazenamento e recuperação de memórias, sugerindo que as falsas memórias podem surgir de processos alterados nesses sistemas de memória.

Além disso, estudos sobre a plasticidade neural indicam que a repetição de informações falsas pode levar à consolidação e integração dessas informações nas redes neurais subjacentes à memória (Schacter et al., 2011). Essa plasticidade pode resultar em memórias distorcidas que se tornam mais resistentes à correção posterior, contribuindo para a persistência das falsas memórias ao longo do tempo.

A compreensão das bases neurais das falsas memórias não apenas amplia o conhecimento sobre os mecanismos subjacentes à memória humana, mas também tem implicações importantes para aplicações clínicas e legais. Por exemplo, intervenções direcionadas para modular a atividade cerebral durante a formação de memórias podem ser exploradas como estratégias potenciais para reduzir a ocorrência de falsas memórias em contextos clínicos, como o tratamento de transtornos de estresse pós-traumático (Peres & Nasello, 2005). A integração das perspectivas comportamentais e neurais nos estudos sobre falsas memórias oferece uma visão mais completa e detalhada desse fenômeno complexo, destacando sua natureza multifacetada e as interações dinâmicas entre processos cognitivos e sistemas neurais. Essa abordagem integrativa é fundamental para avançar o entendimento das falsas memórias e suas implicações em diferentes domínios da ciência e da prática.

É importante, também, considerar o papel cada vez mais presentes no cotidiano das tecnologias da realidade virtual (RV) e da inteligência artificial (IA) na formação e manipulação de memórias. A RV oferece ambientes imersivos que podem influenciar a codificação e recuperação de memórias de maneiras sutis. Por exemplo, estudos têm mostrado que experiências vivenciadas em ambientes virtuais podem gerar memórias tão vívidas e convincentes quanto aquelas vivenciadas no mundo real, podendo facilmente ser confundidas com eventos reais (Scearce-Miles, 2015).

Da mesma forma, a IA desempenha um papel crucial na manipulação de informações e na personalização de experiências, o que pode impactar a formação de memórias. Algoritmos de IA são capazes de analisar grandes quantidades de dados sobre indivíduos e criar narrativas personalizadas que se alinham com suas experiências e crenças, aumentando assim a suscetibilidade a falsas memórias (Gallo, 2010; Lee, 2019).

Portanto, a integração das perspectivas comportamentais, neurais, de realidade virtual e inteligência artificial nos estudos sobre falsas memórias é essencial para uma compreensão abrangente desse fenômeno complexo. Essa abordagem holística não apenas nos ajuda a entender melhor como as falsas memórias são formadas e mantidas, mas também nos capacita a desenvolver estratégias mais eficazes para lidar com suas implicações em diversas áreas, como justiça criminal, terapia psicológica e educação.

Além das influências externas, evidências neurocientíficas também mostram que memórias falsas podem ativar padrões cerebrais semelhantes aos de memórias verdadeiras, o que reforça sua verossimilhança subjetiva. Estudos de neuroimagem demonstram que o córtex pré-frontal e o hipocampo, áreas essenciais na consolidação e evocação de memórias, são ativados tanto durante o resgate de memórias reais quanto de memórias falsas (Okado & Stark, 2003; Lentoor, 2023).

A autenticidade da memória, em um mundo saturado por realidades simuladas e conteúdos gerados por inteligência artificial, torna-se uma questão crítica. Freitas et al. (2015) apontam que a memória é influenciada por fatores contextuais, culturais e corporais, sendo constantemente reconstruída. Essa reconstrução se torna ainda mais suscetível quando vivências artificiais imitam com precisão experiências reais. Peters (2023), por sua vez, indicam a necessidade de a psicologia rever suas categorias diante das transformações tecnológicas, o que inclui questionar os limites entre vivência, simulação e manipulação da experiência. Do ponto de vista epistemológico, Name e Baitello Junior (2025), reforçam que a própria percepção do real é uma construção mediada por nossa interação com o ambiente — o que abre margem para experiências artificiais serem internalizadas como verdadeiras. Nesse contexto, distinguir entre lembrança autêntica e simulação exige mais do que introspecção: exige novos critérios teóricos e metodológicos para compreender a memória humana na era digital.

Por fim, Wang et al. (2023) investigam se falsas memórias associadas a experiências recompensadoras podem influenciar a tomada de decisão em situações inéditas. A partir da perspectiva de que a memória é construtiva e suscetível a distorções, os autores propõem a hipótese da associação construtiva, sugerindo que falsas memórias podem ser criadas por meio da coativação de representações mentais durante o aprendizado e que essas memórias falsas podem afetar escolhas futuras, mesmo que os estímulos nunca tenham sido experienciados diretamente. Tal proposição reforça a ideia de que nossas decisões não dependem apenas de registros fiéis do passado, mas também de reconstruções que podem ser enviesadas por expectativas, contextos emocionais e associações aprendidas. Rubo et al. (2023) corroboram com essa perspectiva ao demonstrar que experiências imersivas em realidade virtual podem gerar memórias com elevado grau de realismo subjetivo, dificultando o monitoramento da origem dessas lembranças e ampliando a probabilidade de que memórias artificiais sejam integradas ao repertório de experiências usadas para decisões futuras. Além disso, Romeo et al. (2019) demonstram que a própria manipulação consciente da memória, como ocorre na negação falsa de eventos traumáticos vivenciados em realidade virtual  (e. g., negações falsas consistem em negar deliberadamente a ocorrência de eventos que a pessoa sabe que realmente aconteceram), pode reduzir a precisão da recordação, comprometendo tanto o conteúdo visual quanto os elementos discutidos sobre a experiência. Esses achados apontam que, em ambientes simulados de alta carga emocional, tanto os processos internos (como o esquecimento induzido por negação) quanto os externos (como a imersão virtual) podem interagir para gerar memórias falsas ou distorcidas. Assim, ao considerar o papel das memórias falsas na cognição, amplia-se a compreensão sobre os mecanismos que modulam a tomada de decisão em ambientes incertos e complexos. Essa reflexão torna-se especialmente relevante diante do avanço da realidade virtual e da inteligência artificial, tecnologias que não apenas simulam experiências com alto grau de realismo, mas também têm o potencial de influenciar a formação de memórias e decisões futuras com base em vivências artificiais (Name & Baitello Júnior, 2025).

O papel da realidade virtual e das simulações imersivas

A distinção entre realidade, virtualidade e inteligência artificial constitui uma problemática multifacetada que atravessa diferentes domínios das ciências cognitivas, da filosofia da tecnologia e da comunicação contemporânea. A realidade é geralmente compreendida como o mundo tangível, acessado por meio da experiência sensorial direta. Já a virtualidade, por sua vez, refere-se a ambientes mediados tecnologicamente, frequentemente imersivos e interativos, que ampliam ou simulam aspectos do real (Lévy, 1996). Segundo Pierre Lévy, o virtual não é o oposto do real, mas do atual, representando um campo de possibilidades que se atualizam por meio da mediação técnica.

Baudrillard (2002) radicaliza essa distinção ao propor que, na era das simulações, os signos passam a substituir o real, instaurando uma hiper-realidade em que a diferença entre o que é verdadeiro e o que é simulado torna-se irreconhecível. Esse colapso das fronteiras entre real e representação é intensificado com o avanço das tecnologias digitais e da inteligência artificial.

A inteligência artificial (IA), nesse contexto, adiciona uma camada adicional de complexidade, pois envolve a capacidade de sistemas computacionais executarem tarefas tradicionalmente associadas à cognição humana, como reconhecimento de padrões, tomada de decisão e interação simbólica. Para Turkle (2011), a presença de agentes artificiais no cotidiano e a imersão constante em interfaces digitais transformam não apenas as relações humanas, mas também a forma como se compreende a própria identidade e presença no mundo. Floridi (2014) aprofunda esse argumento ao sugerir que a sociedade atual está imersa em uma infosfera, ou seja, um ambiente híbrido em que o físico, o virtual e o informacional se entrelaçam, dissolvendo dicotomias tradicionais como natural/artificial e humano/máquina.

Dessa forma, compreender as relações entre realidade, virtualidade e inteligência artificial exige uma abordagem transdisciplinar que considere os aspectos filosóficos, técnicos e socioculturais dessas transformações.

De qualquer forma, de acordo com Chocholácková et al. (2023), as tecnologias de Realidade Virtual (RV) proporcionam a oportunidade de investigar fenômenos cognitivos em ambientes virtualmente realistas e altamente controlados. Isso se dá pela capacidade dessas tecnologias em estimular a ativação de mecanismos cognitivos que se assemelham aos observados no mundo real.

É comum associar a IA à virtualidade, uma vez que muitas aplicações de IA operam em ambientes virtuais, como assistentes virtuais (e. g. Cortana da Microsoft, Siri da Apple), jogos de computador e simulações. No entanto, a IA também desempenha um papel significativo na interação entre o mundo virtual e o mundo real, influenciando a forma como experimentamos e compreendemos a realidade (Carmo & Sampaio, 2022; Carvalho Júnior, 2018).

Por exemplo, na área da realidade aumentada (RA), a IA é frequentemente utilizada para sobrepor elementos virtuais ao mundo real, permitindo interações mais sofisticadas e adaptativas (Tori, 2022). Da mesma forma, na realidade virtual (RV), algoritmos de IA são empregados para criar ambientes imersivos e responsivos, ajustando-se às ações e preferências do usuário em tempo real. Exemplo disso são os chatbots, programas de computador feito para interação com pessoas, por meio de linguagem natural, simulando um humano (Junior & Carvalho, 2018).

As interfaces virtuais modernas têm se destacado ao oferecer aos usuários uma experiência envolvente e imersiva, caracterizada por uma intensa sensação de presença e um feedback sensorial ágil e confiável em diferentes graus de interação. Esse avanço tecnológico busca especialmente aprimorar atividades cognitivas complexas, como o processo de aprendizagem (Lee, 2019). Ao permitir uma imersão mais profunda nos conteúdos e ambientes virtuais, essas interfaces oferecem uma plataforma mais eficaz para a compreensão e assimilação de conceitos abstratos. Dessa forma, a busca pela maior imersividade não apenas transforma a maneira como interagimos com a tecnologia, mas também redefine o potencial para o desenvolvimento intelectual e educacional (Chocholácková et al., 2023; Verroulx, 2018).

Além disso, a IA também pode afetar a percepção da realidade ao filtrar e moldar as informações que recebemos, seja por meio de algoritmos de recomendação em plataformas de mídia social ou sistemas de busca na internet. Isso levanta questões sobre como a IA pode influenciar e até mesmo distorcer nossa compreensão da realidade, suscitando debates éticos e sociais sobre o poder e os limites da tecnologia. Exemplo disso são as fake news, as quais se referem a postagens virais baseadas em contas fictícias feitas para se parecerem com notícias ou artigos de notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsos, e podem enganar as pessoas. Como também as deepfakes, que podem ser entendidas como o produto de aplicativos de inteligência artificial que fundem, combinam, substituem e sobrepõem imagens e vídeo clipes para criar vídeos falsos que parecem autênticos (Souza, 2023).

Um fator que deve ser considerado em nosso cotidiano atual é a rápida evolução das tecnologias emergentes, como a realidade virtual (RV) e a inteligência artificial (IA), isso tem gerado impactos significativos em diversos aspectos da vida moderna (Floridi, 2014). A realidade virtual imersiva consiste na criação de um ambiente digital que simula o mundo real de maneira tão realista que permite aos usuários esquecerem temporariamente o ambiente físico ao seu redor e se engajarem plenamente na experiência (Hoffman et al., 2001). Essa tecnologia oferece um espaço virtual interativo, no qual é possível explorar, ver e ouvir elementos visuais e sonoros enquanto o usuário se desloca por cenários simulados (Robinson & Wigmore, 2023). Já a Inteligência Artificial (IA), por sua vez, refere-se à capacidade das máquinas de imitar a inteligência humana, processando dados e tomando decisões de maneira autônoma (McCarthy, et al. 1955; Russell & Norvig, 2016).

Para Tori (2022), a capacidade dessas tecnologias em criar ambientes imersivos e experiências altamente persuasivas, podem influenciar significativamente a maneira como as memórias são codificadas e relembradas, podendo intensificar a formação e recuperação das falsas memórias. Os ambientes virtuais, onde os limites entre o real e o imaginário se tornam tênues, os indivíduos podem ser mais suscetíveis a confundir eventos simulados com experiências reais, resultando na formação dessas distorções. Além disso, algoritmos de inteligência artificial, ao personalizarem conteúdos e interações com base em dados comportamentais, podem inadvertidamente sugerir a reconstrução incorreta de eventos passados, contribuindo para a distorção da memória (Kaufman & Santaella, 2020). De maneira a orientar o leitor, os algoritmos referem-se a um conjunto finito de instruções passo a passo não ambíguas no qual os sistemas de IA coletam informações sobre o comportamento dos usuários e utilizam esses dados para adaptar de forma personalizada a experiência de cada usuário (Damaceno & Vasconcelos, 2018). Portanto, é essencial compreender e atenuar os efeitos potencialmente negativos dessas tecnologias na integridade da memória humana.

Com os avanços da realidade virtual, tornou-se possível criar experiências sensoriais altamente convincentes que, em alguns casos, não apenas imitam, mas substituem a experiência do mundo real. Slater e Sanchez-Vives (2016) apontam que experiências em ambientes virtuais imersivos têm a capacidade de induzir reações fisiológicas e emocionais genuínas nos usuários, mesmo quando eles sabem que estão interagindo com simulações. Essas experiências podem ser tão vívidas que acabam sendo incorporadas à memória como se fossem eventos reais.

Pesquisas em neurociência indicam que, ao reviver uma experiência em realidade virtual, áreas do cérebro associadas à memória episódica são ativadas de forma similar à ativação provocada por experiências reais (Rolls, 2024; Slater & Sanchez-Vives, 2016). Isso significa que, do ponto de vista cerebral, o cérebro pode não distinguir claramente entre realidade e simulação, o que aumenta o risco da criação de memórias falsas.

            A sensação de presença (presence), característica central em experiências de realidade virtual, aumenta a imersão e pode intensificar a formação de memórias falsas. Bailey et al. (2012) demonstraram que ambientes imersivos aumentam significativamente o recall de informações sugeridas, mesmo quando estas não foram apresentadas originalmente.

O contato frequente com ambientes digitais imersivos e algoritmos de recomendação pode, ao longo do tempo, moldar padrões cognitivos de atenção, codificação e evocação da memória (Schacter, 2003). Como destacam Kaufman e Santaella (2020), a personalização algorítmica (e. g., quando um algoritmo “aprende” sobre você por meio de dados, como o histórico de navegação, localização, cliques, curtidas, tempo de visualização, entre outros e usa essas informações para oferecer conteúdo “personalizado) contribui para a reorganização seletiva das memórias, promovendo uma ‘curadoria da recordação’ cada vez mais automatizada. A exposição repetida a conteúdos fabricados ou personalizados não apenas distorce episódios isolados, mas pode reconfigurar de forma cumulativa os modos pelos quais lembramos, interpretamos e confiamos nas nossas memórias.

Inteligência artificial e manipulação de conteúdo

A inteligência artificial, ao ser usada para gerar deepfakes, como vídeos e imagens hiper-realistas de eventos que nunca aconteceram, eleva a manipulação da realidade a um novo patamar. Essa tecnologia pode gerar conteúdos altamente convincentes de discursos, testemunhos ou acontecimentos falsos, levando o público a crer que viu ou ouviu algo real. Quando a memória é reforçada por uma evidência visual aparentemente confiável, torna-se ainda mais difícil distinguir o verdadeiro do falso (frenda et al., 2011; Loftus & Palmer, 1974; Schacter, 2003).

A pesquisadora Susan Frenda e colaboradores (2011) argumentam que a exposição repetida a desinformação pode não apenas distorcer memórias anteriores, mas também formar novas memórias totalmente inventadas. Esse efeito é agravado pelas redes sociais, que facilitam a propagação acelerada de conteúdos enganosos com aparência de verdade.

A manipulação algorítmica por IA já foi demonstrada como influente na formação de falsas memórias em contextos experimentais. Chan et al. (2024) apontam que modelos de linguagem generativa aumentam significativamente a chance de indivíduos se recordarem de eventos nunca ocorridos quando expostos a entrevistas automatizadas com IA. Além disso, a técnica de deepfakes é cada vez mais reconhecida como capaz de induzir falsas memórias. Alanazi e Asif (2024) alertam que a qualidade hiper-realista de imagens e vídeos pode comprometer os mecanismos de verificação da realidade.

Fake News e o efeito da repetição

O fenômeno conhecido como illusory truth effect, ou “efeito da verdade ilusória”, descreve como a repetição de uma mentira pode aumentar sua aceitação como verdade. De acordo com Fazio et al. (2015), mesmo quando os indivíduos sabem que uma informação é falsa, a mera repetição aumenta a sensação de familiaridade e veracidade. Esse efeito pode fazer com que as pessoas “lembrem” de eventos com base em fake news, criando memórias que jamais existiram.

Esse funcionamento sugestivo operado por narrativas digitais e ambientes hiper-realistas pode ser compreendido à luz do paradigma DRM (Roediger & McDermott, 1995), no qual lista de palavras semanticamente associadas frequentemente levam à recordação de um item crítico não apresentado. De modo análogo, ambientes imersivos de realidade virtual (Madary & Metzinger, 2016), tecnologias baseadas em inteligência artificial (Frenda et al., 2011; Lazer et al., 2018) e a repetição sistemática de informações em redes sociais (Lewandowsky et al., 2012) funcionam como vetores de sugestão, reativando redes associativas e induzindo à construção de memórias falsas. A exposição contínua a deepfakes e simulações algoritmicamente mediados pode reforçar tais distorções, especialmente quando não há mecanismos metacognitivos suficientemente fortes para distinguir entre eventos experienciados e representações simuladas (Schacter & Loftus, 2013; Slotnick & Schacter, 2004). Assim, tecnologias emergentes não apenas sugerem, mas também moldam ativamente as representações mnêmicas, gerando falsas memórias com aparência vívida e autêntica, muitas vezes sem que o indivíduo perceba o limite entre simulação e vivência real.

O perigo, aqui, não está apenas na distorção individual das lembranças, mas também na formação de memórias coletivas falsas, que podem influenciar decisões políticas, comportamentos sociais e interpretações históricas (Aggio et al., 2017).

Corneille et al. (2020) observaram que a repetição de informações falsas aumenta tanto a percepção de veracidade quanto de falsidade, revelando um efeito ambíguo da exposição repetida que pode afetar diferentes públicos de formas distintas.

Torna-se urgente o investimento em educação midiática, pensamento crítico e regulamentação tecnológica. Proteger a integridade da memória humana é proteger também a autonomia individual e a verdade coletiva. Como ressaltam Schacter e Loftus (2013), a fragilidade das memórias podem ser exploradas para manipulação social, o que demanda maior consciência crítica sobre o papel da tecnologia na formação e recuperação da memória.

Diante das consequências sociais da manipulação da memória, Morrow (2021) destaca os riscos éticos da implantação deliberada de memórias falsas em contextos legais e educacionais, alertando para o uso de tecnologias de simulação como instrumentos de controle ideológico ou político. Além disso, Pacheco (2023) e Lewandowsky et al. (2012) enfatizam que a disseminação rápida de desinformação via redes sociais não apenas distorce percepções individuais, mas pode fragilizar a confiança social e minar a coesão comunitária, gerando impactos psicológicos coletivos que extrapolam o âmbito pessoal.

Portanto, o debate ético e social devem caminhar juntos aos avanços técnicos, promovendo políticas públicas que assegurem transparência, responsabilidade e mecanismos de proteção ao indivíduo frente a manipulações cognitivo-mnêmicas induzidas por tecnologias emergentes.

Considerações Finais

Este ensaio partiu da indagação “podemos confiar em tudo o que lembramos?” e demonstrou, com base em ampla revisão interdisciplinar, que a resposta é negativa. A memória humana, longe de ser um registro fiel da realidade, constitui-se como processo reconstrutivo, sujeito a distorções, omissões e interferências — aspectos que se intensificam no contexto de tecnologias imersivas e narrativas digitais manipuladas.

A exposição a ambientes virtuais, conteúdos produzidos por inteligência artificial e informações verossímeis, porém falsas, compromete a distinção entre lembranças autênticas e memórias induzidas. As evidências discutidas confirmam os objetivos propostos: explorar os efeitos da simulação e da desinformação sobre os processos de codificação e evocação mnêmica; identificar os mecanismos cognitivos e neurais associados à formação de falsas memórias; e refletir sobre os riscos éticos e sociais dessa manipulação.

As questões norteadoras, especialmente sobre a autenticidade da memória em tempos de pós-verdade, foram enfrentadas de forma crítica e fundamentada. Conclui-se que a proliferação de simulacros digitais não apenas distorce vivências individuais, mas também ameaça a construção da memória coletiva.

Diante desse cenário, torna-se imperativo o investimento em políticas públicas voltadas à regulação tecnológica, à promoção da alfabetização midiática e ao fortalecimento de práticas educativas que estimulem a metacognição — entendida como a capacidade de refletir sobre os próprios processos mentais, tais como perceber, lembrar, decidir, aprender e julgar — bem como o pensamento crítico. Preservar a memória como território da autonomia subjetiva constitui um desafio premente em tempos de manipulação algorítmica da realidade.

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1Doutorando em Cognição e Neurociências do Comportamento – UnB