SER NO MUNDO DRAG QUEEN: UM OLHAR FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL 

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10108215


Daniel Marcos Pereira


RESUMO 

O presente trabalho refere-se a uma pesquisa bibliográfica cuja abordagem foca o sentido de ser-no-mundo acerca da performance Drag Queen. Buscou-se com base na Psicologia Fenomenológica Existencial compreender esse fenômeno como forma de existência do ser. Para tanto, foi necessário descrever o fenômeno Drag, conhecendo suas origens e um pouco da sua história, para então relacionar à mesma com tal abordagem. A Fenomenologia Existencial estabelece que o homem é um ser-mundo e isso apresenta uma ideia de que o homem se constrói nas suas relações sociais e com o mundo, sem no entanto, ser determinado por eles. Essa ótica permite a compreensão de que não é possível uma classificação patológica do homem que o aprisiona em comportamentos ou atitudes. Há uma busca de si mesmo, porquanto tal vazio não significa um vazio da pessoa, mas um vazio de sentido. Tendo essa teoria como sustentáculo, ateve-se à compreensão dos sentidos que a performance Drag traz na construção desse ser no mundo. 

Palavras-chave: Drag Queen; Psicologia Existencial; Ser-no-mundo.

ABSTRACT 

The present work refers to a bibliographical research that addresses the meaning of the world on the performance of Drag Queen. Based on Existential Phenomenological Psychology, we sought to understand this phenomenon as a form of existence of being. Therefore, it was necessary to describe the Drag phenomenon, knowing its origins and history, and then relate to the same approach. Existential Phenomenology establishes that man is a being-world and presents an idea of who man is in his social relations and with the world, however, is determined by them. This view allows the understanding that a pathological classification of the man who approves the execution or attitudes is not possible. There is a search in it, why such emptiness does not mean a emptiness of the person, but a void of meaning. Having this theory as a support, reach the understanding of the senses of performance Drag brings the construction of this being in the world. 

Keywords: Drag Queen; Existential Psychology; To be in the world.

INTRODUÇÃO 

Condragulations! O interesse pela leitura deste artigo, demonstra o quanto a Drag Queen, esse fenômeno forte,, dono de uma estranheza enigmática, presente hoje na contemporaneidade, que chama atenção, desperta curiosidade, arranca risos e gargalhadas por onde passa e isso não é novo. A discussão apresentada neste estudo, em linhas gerais, busca refletir um pouco da história por trás desse fenômeno, os diferentes significados e posicionamentos que essa arte trouxe com o tempo, a etimologia da palavra Drag Queen, o estigma por trás do entendimento dessa arte e a compreensão do ser no mundo da Drag sob o olhar da Psicologia Fenomenológico Existencial. A Drag Queen exibe não apenas características físicas e psicológicas distintas, mas também atitudes que definem sua singularidade. É como se esse personagem criasse uma nova dimensão de existência, situada na fronteira entre os gêneros, proporcionando ao indivíduo benefícios sociais e pessoais. 

Inicialmente, é crucial compreender a essência por trás do termo – Drag Queen, de onde vem esse termo, qual o significado deste nome. Assim, em seu sentido literal a etimologia da palavra Drag tem significado de roupa própria de pessoas de um sexo, usadas por pessoas de outro. É denominado de Drag o homem que se veste de mulher para fins de entretenimento. Com o intuito de diferenciar o personagem da mulher real, nasce a sigla DRAG acrônimo de DRessed As Girl (vestido como uma garota). (AMANJÁS, 2015) 

Este fenômeno da “transformação” da aparência teve início na história da arte, desde a Grécia clássica. Os gregos “meio que sem querer” criaram a Drag, isso em função do uso de máscaras e de homens mais jovens em apresentações de danças ritualísticas naquela época. O surgimento da máscara já demonstrava para o homem a necessidade de transformar sua aparência nesse contexto cênico e é importante ressaltar que não somente máscaras eram usadas, mas também vestimentas e enchimento, tal como reflete Amanjás (2015). 

Ainda no cenário teatral, um pouco adiante na história (século XVI), é possível ver essa atuação de forma cênica, visto que os homens também representavam os papéis femininos, já que as mulheres eram proibidas de se apresentar nos palcos e precisavam se contentar como espectadoras. O mesmo autor ainda cita que um exemplo desse fenômeno pode ser visto nas peças “Shakespearianas”, visto que os papéis femininos são representados por homens (JESUS, 2012). 

De acordo com Jesus (2012) a associação entre as duas palavras “Drag Queen”, vem desde o século XVIII, sendo que neste período o termo era utilizado de maneira pejorativa para descrever homossexuais, tendo em vista que a mulher nessa época começara a assumir novos espaços, inclusive no teatro. 

Cabe ressaltar que conforme as pesquisas realizadas no desenvolvimento deste estudo, identificou-se que as Drags Queens são artistas performáticos que se travestem apenas com intuito profissional e artístico. Jesus (2012) reflete que elas (as Drag) trabalham com o exagero da caricatura feminina para representar seus personagens, bem como se correlaciona a mania de riqueza, extravaganza e o glamour oriundos da palavra Queen, sendo que o autor ainda aponta que “a princípio, sua personagem não tem relação com sua identidade de gênero” (JESUS, 2012, p.10). 

Da mesma forma, Mahawasala (2016) apresenta que o século XX também foi marcado por diversas situações em que esses personagens deixam os palcos, ambiente até então comum para seu aparecimento e começam a andar nas ruas causando o que foi chamado naquela época de “choque”. A mesma autora ainda afirma que em Londres, Frederick Park e Ernest Boulton foram os primeiros homens a sair nas ruas vestidos de suas personagens Fanny e Stella. A atitude foi uma ousadia tamanha que a polícia da época resolveu abrir uma investigação, como feita em grandes casos criminais daquele tempo, e resolveram averiguar o disfarce. Como mais homens foram tendo o mesmo comportamento e saindo de casa vestido de mulher, muitos foram presos, acusados de crime de prostituição e sodomia, um abominável crime de cunho religioso da época. Com o passar do tempo é possível perceber que em diversos momentos, o se vestir de mulher, passa a ser não somente entendido como uma manifestação artística ou manifestação política e sim coloca a Drag no cenário LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), carregando consigo o estigma do preconceito (MAHAWASALA,2016). 

A partir de tais apontamentos nota-se que as Drags passam a atuar em ambientes mais subterrâneos para evitar o aparecimento e a intervenção da polícia. Outro ponto que merece observação na história desse fenômeno é perceber o quanto a ideia de Drag Queen se transformou ao longo do tempo sem perder seu objetivo: a arte do estranhamento. 

De tal feita Louro (2008), em seus estudos, reflete que quando se fala de arte do estranho, remete-se diretamente a uma teoria chamada de Teoria Queer. A qual se opõe à heteronomartividade, e sua não aceitação e entendimento daqueles que fogem aos padrões sociais, os ditos estranhos da sociedade, essa teoria também vem explicar a diferença entre sexo e gênero. 

Queer é tudo isso: é estranho, raro, esquisito. Queer é, também, o sujeito da sexualidade desviante – homossexuais, bissexuais, transexuais, travestis e Drags. É o excêntrico que não deseja ser “integrado” e muito menos “tolerado”. Queer é um jeito de pensar que desafia as normas regulatórias da sociedade, que assume o desconforto da ambiguidade, do “entre lugares”, do indecível. Queer é um corpo estranho, que incomoda, perturba, provoca e fascina (LOURO, 2008, p.8)

Por meio de estudos na sociologia e teoria sociosexuais é possível compreender essas expressões de existência. De acordo com Salih (2016) a Teoria Queer teve origem nos Estados Unidos em meados de 1980, a partir das áreas de estudos gays, lésbicos e feministas, fortemente influenciada pela obra de Michel Foucault, História da Sexualidade. É uma teoria sobre gênero que afirma a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos como resultado de um construto social e que, portanto, não existem papéis sexuais ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes de formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais (SALIH, 2016). 

Conforme Chidiac e Oltramari (2004), pode se considerar que o fenômeno Drag Queen que existe hoje, surgiu nesse período. Porém, só se tornou mais expressivo nos anos 80 e 90, considerando o desenvolvimento da chamada cultura gay. Pode se dizer também, que a popularização desse fenômeno foi influenciada pelo filme Priscila, Rainha do Deserto, produção australiana de Stephan Elliot, do ano de 1994. Ele foi um marco, tanto na luta gay por direitos iguais e pelo fim do preconceito, quanto para colocar a Drag Queen em um cenário político e de protesto para essa classe. Desde então esse fenômeno vem crescendo e tomando espaço em novos locais fora do contexto LGBT, como programas de televisão, rádio, festas importantes, teatros e grandes desfiles de grifes famosas, saindo dos lugares ditos undergrounds (MAHAWASALA,2016). 

Outra responsável pelo crescimento do fenômeno, foi a Drag Rul Paul, conhecida no meio Drag como: “Mama Rul”, uma das maiores celebridades Drags que surgiu durante a década de 90 e, hoje, dona do reality show americano RuPaul’s Drags Race. Este tem por objetivo revelar grandes Drags e descobrir a “America’s next drag superstar” (DOS SANTOS, 2015). Foi possível observar que o propósito desse programa não é apenas revelar a TOP Drag, mas visa muito mais que isso, pois o programa traz a história de vida de cada indivíduo, dificuldades encontradas pelos mesmos ao assumir essa possibilidade de existência, preconceito e não aceitação familiar e social do seu trabalho. A visibilidade dada pelo programa a esses artistas tem mostrado para a sociedade o outro lado da Drag Queen: A condição humana por trás da “montaria”.

RulPaul é um espetacular ato de auto-reinvenção e reivindicação Drag. Ele criou uma personagem – atrevida, forte, linda e negra – mas argumenta que sua performance é de um personificador feminino, alegando que ele não se parece com uma mulher, e sim com uma Drag Queen: “Eu penso que eu poderia nunca me assemelhar com uma mulher. Elas não se vestem dessa forma. Somente Drag Queens se vestem assim. […] Tudo é Drag. Só que a minha é mais glammurosa” (BAKER, 1994, p. 258 apud MIRANDA, 2017, p. 25)

Uma confusão muito comum no entendimento do que é uma Drag pelas pessoas é em relação a Travestilidade1, a pouco tempo conhecida como “travestismo” (o sufixo ISMO aqui, pois era considerada doença, situação revista na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5). Ainda de acordo com o DSM, APA (2014) a diferença é que os travestis consideram que são mulheres, e podem fazer intervenções no seu corpo com hormônios e próteses para viver como uma mulher durante todo o tempo. Diferente da Drag que só se monta para finalidade artística e não se considera uma mulher, trabalha com o exagero e a caricatura feminina, mas não está presa a essa identidade, pode se apresentar também de forma andrógina. 

Outro ponto relevante é o quanto essa forma de arte também tem permitido com que indivíduos busquem sua forma de existência, de ser-no-mundo, nessa “ponte” entre um gênero e outro. Louro (2008) esclarece que a Drag Queen ou Drag Kings (mulheres que se vestem de Drags), junto com todas as outras categorias faladas são os diferentes, extravagantes e buscam assim sua forma de existência no meio social. Elas não querem ser vistas como iguais a todo mundo, buscam um sentido diferente, pois pensam de forma diferente, e por isso acabam sofrendo consequências pelas escolhas desviantes. Entende-se então que o Ser Drag Queen traz uma ambiguidade entre sujeito e personagem e vem contrapor a ideia de identidade como algo fixo em conformidade com autores da Psicologia Social, como aponta Louro (2008). 

Destaca-se que o intuito dessa pesquisa não é entrar em questões relacionadas a gênero, uma vez, que a Drag não faz parte desse contexto. Mesmo estando presente e com forte atuação em ambientes de cultura LGBT, precisa-se desassociar a Drag Queen das questões sexuais de um indivíduo, visto que sua forma artística não correlaciona com questões de gênero. Embora em sua maioria seja representada por indivíduos que se reconhecem como homossexuais (DOS SANTOS, 2015). 

De acordo com Jesus (2012), em seu guia intitulado “Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos”, o gênero consiste na denominação de homem e mulher em seus papéis atribuídos pela sociedade, não estando relacionado com o fator biológico determinado por macho e fêmea. Logo a identidade de gênero seria:

Gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento. Diferente da sexualidade da pessoa. Identidade de gênero e orientação sexual são dimensões diferentes e que não se confundem. Pessoas transexuais podem ser heterossexuais, lésbicas, gays ou bissexuais, tanto quanto as pessoas cisgênero (JESUS, 2012, p.14).

Embora seja preciso entender a etimologia da palavra, significado do nome, um pouco da história desses performers, identidade de gênero e teoria Queer, o foco deste estudo será voltado para a compreensão do fenômeno Drag Queen sob um viés fenomenológico existencial. 

Percebe-se pelas pesquisas, que a Drag Queen possui características físicas e psicológicas também como atitudes próprias que se diferenciam do indivíduo. Rodrigues (2005) argumenta que é como se o personagem se tornasse um novo meio de existência daquele indivíduo na fronteira entre um gênero e outro e trouxesse ao mesmo, ganhos sociais e pessoais. Para responder essas questões a Fenomenologia Existencial será utilizada no estudo do ser (ontologia), do fenômeno Drag Queen. 

A relevância científica desta pesquisa do assunto em questão, deu-se ao perceber a pluralidade por trás do fenômeno Drag Queen. Uma vez que tal pluralidade nos permite dialogar com os gêneros e questionar os padrões normativos presentes em questões de identidade. Tal como, compreender que esse fenômeno está sempre se reinventando, passando por mutações e estéticas diferentes, e se construindo na medida que vai se permitindo SER no mundo através da sua arte (RODRIGUES,2005). 

Para a realização da pesquisa pretende-se recorrer a pesquisas bibliográficas, com o auxílio de artigos relacionados ao assunto Drag Queen, bem como serão referenciados seriados televisivos os quais Drag Queens são protagonistas, com a finalidade de se melhor explicar e exemplificar o mesmo. Também serão utilizados livros e artigos científicos voltados para a temática da Psicologia Fenomenológico Existencial, examinando e correlacionado o SER NO MUNDO com o fenômeno Drag Queen, com o objetivo de fomentar uma melhor compreensão sobre tal na contemporaneidade. Pretende-se também observar a importância que essa arte tem para inúmeros indivíduos, que encontram nela uma forma de se construir e assumir seu projeto original. Para atingir os objetivos, pretende-se logo no desenvolvimento descrever o fenômeno e analisar sua existência sob um olhar fenomenológico e existencial. 

2 OBJETIVOS 

2.1 Objetivo Geral 

Compreender a construção de ser-no-mundo, através do fenômeno Drag Queen, a partir da teoria fenomenológica existencial. 

2.2 Objetivos Específicos 

1. Descrever o fenômeno Drag Queen para entendimento da sua representação no contexto social e artístico; 

2. Apresentar a existência humana na perspectiva Fenomenológica Existencial;

3. Compreender o fenômeno Drag no âmbito Fenomenológico Existencial como possibilidade de SER-NO-MUNDO.

3 METODOLOGIA 

Para realização deste estudo optou-se pelo método de pesquisa bibliográfica, o qual consiste na realização de uma busca por determinado tema ou assunto. A escolha do tema geralmente é originada por “experiência pessoal ou profissional, de estudos e leituras, da observação, […], ou da analogia com temas de estudos de outras disciplinas ou áreas científicas”, tal como apontam Lakatos e Marconi (2003, p.44). Para tanto é necessário, após a escolha do tema, estabelecer uma delimitação para a pesquisa, evitando assuntos muito amplos ou que levam a divagação, formando assim os critérios de escolha e de exclusão dos materiais para que seja realizada a delimitação da temática do trabalho. (LAKATOS e MARCONI, 2003). 

Já de acordo com Gil (2010) existem inúmeras razões que determinam a realização de uma pesquisa, e independentemente de qual seja a exata razão, é imprescindível que o pesquisador possua características tais como: a familiaridade com o tema pesquisado, a curiosidade em descobrir mais sobre o assunto e a perseverança na busca de informações. 

Desta maneira, compreende-se que a pesquisa bibliográfica apresenta como um dos seus maiores benefícios o fato de que é permitido ao pesquisador amparar-se em outros estudos de uma maneira mais abrangente do que se este enveredasse numa pesquisa de tema inédito. O que por sua vez mostrou-se consideravelmente vantajoso para a escrita deste estudo, visto que o tema trabalhado tem dados relevantes em vários momentos da história. (GIL, 2010). 

A pesquisa bibliográfica realizada neste estudo baseia-se na utilização de artigos acadêmicos e científicos, monografias de especialização, dissertações de mestrado e teses de doutorado pesquisados nas bases de dados Scielo, PePsic, Lilacs e Google Acadêmico, bem como livros e/ou capítulos de livros que fazem referência ao tema proposto. 

Para a realização desta pesquisa, foram realizadas buscas na base de dados supracitadas entre o período de 2000 a 2017, tal período foi escolhido em virtude de se tratar do apogeu de estudos sobre o tema. Sendo utilizados seguintes critérios de inclusão, artigos, teses e dissertações em português, periódicos científicos, referentes ao período acima citado, que atenderam aos objetivos desta pesquisa e continham os seguintes descritores: Drag Queen, Psicologia Fenomenológica Existencial e Ser-no-mundo. No que se refere aos critérios de exclusão, foram excluídos documentos que não estavam disponíveis na íntegra e referenciais de língua estrangeira. Há de se ressaltar que apenas um material fugiu ao critério de tempo de publicação estabelecido, tendo em vista que é um artigo clássico que diversos autores indicavam a leitura do mesmo. 

Posteriormente, foram realizados fichamentos para a concretização desta pesquisa. Visto que partindo de um fichamento bem realizado há uma maior qualidade e ganho expressivo para a pesquisa, impedindo o esquecimento da autoria das citações de maior relevância para o trabalho, bem como as referências bibliográficas de algum material que porventura pode não estar mais disponível (GIL, 2010). 

Partindo do fichamento iniciou-se uma análise para averiguar se a hipótese levantada foi confirmada, assim como a concretização dos objetivos. A técnica de tratamento dos dados utilizada foi a análise de conteúdo, que segundo Bardin (1977, p. 42) consiste em: 

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção […] destas mensagens.

Assim sendo, durante a pesquisa foram tomados todos os cuidados éticos, conforme as exigências de direitos autorais que são regidos pela legislação específica a Lei nº. 9610/98, a qual garante ao autor integridade total da obra e seu direito de autoria, e determina que a reprodução não autorizada de uma obra constitui-se em contrafação, sendo que os infratores estão sujeitos às sanções civis e penais cabíveis.

4 RESULTADOS E DISCUSSĀO 

No total foram encontrados 45 materiais nas bases de dados da PEPSIC, SCIELO, LILAC e Google Acadêmico. Destes, foram eliminados 19 que não estavam relacionados aos objetivos da pesquisa, ou não atendiam os critérios de seleção (estar na íntegra ou em outro idioma), restando por fim 26 para serem analisados de maneira minuciosa. 

A partir deste levantamento de dados foi feita a leitura dos artigos selecionados com a finalidade de realizar a análise de conteúdo, buscando cumprir com os objetivos da pesquisa. Desta forma, foram levantadas duas categorias principais para investigação, sendo estas: o Fenômeno Drag Queen, e o Ser-no-mundo pelo viés Fenomenológico Existencial. 

Partindo das buscas realizadas nas bases de dados supracitadas, foram selecionados 26 materiais que servirão de base teórica para escrita deste estudo, sendo que estes variam entre livros e artigos científicos, publicados no período já descrito como 2000 a 2017, que apontam referências ao fenômeno Drag Queen e ao olhar, compreender a construção do ser-no-mundo. Pesquisas essas, mais atuais sobre o objeto de pesquisa nas seguintes áreas: Psicologia Social, Psicanálise, História da arte e Publicidade. 

O tema, Drag Queen como possibilidade de ser-no-mundo, que é o objeto de pesquisa deste estudo, vêm consolidando-se como um fenômeno crescente na contemporaneidade e que constantemente aparece em diversos contextos sociais e políticos. Contudo, percebeu-se, com a pesquisa acima elencada um número pequeno de trabalhos relacionados a esse tema. Cabe ressaltar ainda que foram utilizados livros como fonte teórica em virtude da baixa quantidade de publicações a respeito deste tema, bem como na inserção do referencial teórico Fenomenológico Existencial, em virtude de se preferir consultar as fontes originais da teoria. 

Conforme demonstrado no Quadro 1 foram localizados nove estudos correlatos ao Fenômeno Drag Queen e apenas um estudo correlato à compreensão de SER-NO-MUNDO pelo viés Fenomenológico Existencial. Reafirmando que neste quadro não constaram os livros utilizados como fonte teórica. Já no que se refere ao uso de livros quanto à temática Fenômeno Drag Queen foram utilizados três livros, visto que diversos autores dos artigos os citaram em suas obras, e assim preferiu-se fazer uma compreensão sobre os textos originais. Já com relação ao Ser-no-mundo pelo viés Fenomenológico Existencial, a predominância de livros é maior, tendo em vista que os escritos originais estão disponíveis em versões traduzidas ao português, tal escolha é justificada pela compreensão do referencial teórico partindo de sua fonte original. Há de se destacar que apenas os estudos localizados por vias virtuais foram descritos no quadro. 

Quadro 1: Levantamento Bibliográfico – O Fenômeno Drag Queen

Ano e autor(es)Título e base de pesquisa
1994 
MOREIRA
Título: Ser e estar Drag Queen: um estudo sobre aconfiguração da identidade queer. 
Base de Pesquisa: PePsic
2001 
JAYME
Título: Travestis, transformistas, drag-queens, transexuais:personagens e máscaras no cotidiano de Belo Horizonte e Lisboa Base de Pesquisa: SCIELO
2002 
VENCANTO
Título: Fora do armário, dentro do closet: o camarim como espaço de transformação. 
Base de Pesquisa: PePsic
2004 
CHIDIAC & OLTRAMARI
Título: Ser e estar Drag Queen: um estudo sobre a configuração da identidade queer. 
Base de Pesquisa: PePsic
2005 
RODRIGUES
Título: Butler e a desconstrução do gênero. 
Base de pesquisa: Scielo
2012 
JESUS
Título: Orientações sobre identidade de gênero: conceitos etermos. 
Base de pesquisa: Site UFG
2015
AMANJÁS
Título: Drag Queen: Um percurso histórico pela arte dos atores transformistas. 
Base de Pesquisa: Scielo
2015 
DOS SANTOS
Título: Calling All The Queens! Visibilidades de gênero no programa de TV RuPaul’s Drag Race 
Base de Pesquisa: Scielo
2016 
MAHAWASALA
Título: A História das Drag Queens 
Base de Pesquisa: Scielo
2017 
MOREIRA
Título: Psicoterapia Fenomenológica Existencial: AspectosTeóricos da Prática Clínica com Foco nas Competências Base de Pesquisa: PePsic
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados coletados

De acordo com os dados demonstrados no quadro 1, o tema Drag Queen, ainda é um tema pouco estudado e abordado por pesquisadores. No entanto, percebe-se que existem interesses pontuais sobre o fenômeno, abordando como temas sobre corporeidade, transformação, teatro, identidade de gênero e análise de filmes e programas de televisão onde o fenômeno se faz presente. Analisando os artigos e pesquisas apresentados no quadro 1, juntamente com os livros clássicos sobre a Fenomenologia Existencial, foi possível cumprir com os objetivos traçados anteriormente. 

O fenômeno Drag Queen: Sua representação no contexto social e artístico 

Diante das pesquisas e das leituras realizadas e descritas acima, pode-se compreender que o fenômeno Drag Queen sempre esteve presente em vários contextos sociais e em tempos diversos. Sendo que esta consolidou-se como uma figura espetacular e passou por diversas mutações em sua forma de ser e em suas funções ao longo da história. 

Inicialmente, é primordial dissertar sobre as várias definições e descrições do termo Drag Queen, o qual basicamente pode ser descrito por meio da tradução ao pé da letra como “rainha dragão” ou pelo contexto histórico como um homem que se veste de mulher. Separando as palavras, chega-se a significados que levam à leitura e representatividade que é dada hoje, tal como apontam Jesus (2012) e Amanjás (2015). Em meio às mudanças ocorridas com o passar do tempo, um significado que nunca mudou é que a Drag vem para desconstruir, confundir, causar estranhamento e para deixar a “coisa” ambígua, levar à reflexão sobre sua forma de ser e existir. 

Ao observar a história desse fenômeno, entende-se que as Drag Queens representam a ambiguidade de gênero e, também, de orientação sexual. Podendo ter mais de um sentido em sua existência, são vistas como a androginia e como anfíbios, podendo “transitar” nos dois mundos, aqui se referindo, ao masculino e feminino (JESUS, 2012). 

Amanjás (2015) reflete que em seu sentido literal, a etimologia da palavra Drag significa roupa própria de pessoas de um sexo, usadas por pessoas de outro. Já a palavra Queen tem origem inglesa que significa Rainha, que inclusive é utilizada para nomear um dos mais importantes títulos conferidos à nobreza da sociedade monárquica. O mesmo autor ainda reflete que as Drags Queens são artistas performáticos que se travestem com intuito profissional e artístico. Utilizando-se do exagero caricato feminino para representar seus personagens, denotando uma mania de riqueza e o glamour oriundos da palavra Queen. As Drags são personagens descontraídas, bem humoradas, preocupam-se com a moda e valorizam o estético. É através dessa estética da existência dândi2, que o objetivo se mostra como a elaboração da sua própria vida como uma obra de arte pessoal (FOUCAULT,2006, p.290). 

Jesus (2012) aponta que o trabalho das Drags é totalmente artístico e não altera seu modo de vida no seu dia a dia, nem sua sexualidade. Uma vez que elas podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou mulheres, contudo, quando são mulheres, estas são denominadas de Drag Kings. Comumente sua apresentações são realizadas em boates e bares LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais e travestis), mas também atuam para animação em festas, algumas são cantoras, , atuam em telegramas animados, peças teatrais, e outras ainda se destacam nos meios de comunicação. “A princípio, sua personagem não tem relação com sua identidade de gênero” (JESUS, 2012, p.10). Um grande exemplo de mulher com a estética Drag no Brasil, foi a atriz e cantora Elke Maravilha, com suas maquiagens carregadas, vestimentas inusitadas, acessórios excessivos e uma imagem completamente estranha ao contexto da mulher na sociedade. Observa-se que o movimento Drag feminino ainda é pequeno se comparado aos performers masculinos. Para descrever esse fenômeno, no primeiro momento, é preciso desassociar a Drag das questões sexuais de um indivíduo, e entender que sua atuação é vista de forma artística e a mesma não se relaciona com as questões sexuais do mesmo. De acordo com Jesus (2012), o gênero consiste na denominação de homem e mulher em seus papéis atribuídos pela sociedade, não estando relacionado com o fator biológico determinado por macho e fêmea. Logo, identidade de gênero seria:

Gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento. Diferente da sexualidade da pessoa. Identidade de gênero e orientação sexual são dimensões diferentes e que não se confundem. Pessoas transexuais podem ser heterossexuais, lésbicas, gays ou bissexuais, tanto quanto as pessoas cisgênero (JESUS, 2012, p.14).

Há de se abrir um parêntese para discorrer que a identidade de gênero ainda é muito mal compreendida pela sociedade. Jesus (2012) reflete que esta se trata de como os seres humanos se percebem e se reconhecem dentro dos modelos de gênero estabelecidos socialmente. Sendo que o aspecto que gera maior “confusão” é quando se diz sobre identidade de gênero e orientação sexual, uma vez que não existe uma relação mútua entre ambas, elas podem coexistir, mas também podem existir uma sem a presença da outra. Fica mais claro o entendimento conforme descrito por Jesus abaixo: 

Sexo é biológico, gênero é social, construídos pelas diferentes culturas. E o gênero vai além do sexo: O que importa, na definição do que é ser homem ou mulher, não são os cromossomos ou a conformação digital, mas a autopercepção e a forma como a pessoa se expressa socialmente. (JESUS, 2012, p.8).

Ademais, é importante relatar ainda que brevemente o percurso histórico do fenômeno Drag Queen. Mahawasala (2016) descreve que na história do teatro, era mais aceitável que um homem se vestisse de mulher do que as próprias mulheres subirem aos palcos para atuar. Com isso, no século XIX, a performance Drag se torna um fenômeno próprio no teatro e ganha espaço na Europa com grandes nomes de atores e suas personagens Drags. Entendia-se que a Drag poderia caracterizar um território muito mais dramático e cheio de possibilidades para o ator. 

Ainda de acordo com a mesma autora, no final das primeiras décadas do século XX, esse fenômeno começa a evoluir novamente, e esses homens percebem que é preciso acompanhar também a evolução da mulher, tanto em termos de vestimentas, maquiagens, cabelos, acessórios e etc., coisas que até então não foram valorizadas nas primeiras Drags, em que o personagem estava presente, mas tinha ainda muito do homem visível, tendo em vista que manter-se como Drag Queen era um investimento alto, ou seja, era uma carreira cara. 

Conforme os estudos de Mahawasala (2016), esse mesmo período histórico foi marcado por diversas ocorrências em que esses personagens deixam os palcos e começam a andar nas ruas causando o que chamamos de choque na população. Em Londres, Fredrick Park e Ernest Boulton são os primeiros homens a sair às ruas vestidos de suas personagens Fanny e Stella. A atitude foi de uma ousadia tamanha que a polícia da época optou por iniciar uma investigação, tal como faziam em grandes casos criminais daquele tempo, com a finalidade de averiguar o disfarce de ambos. Em virtude de outros homens adotarem o mesmo comportamento e sairem de casa vestidos de mulher varios foram os desdobramentos ocorridos na época, dos quais se destacam que diversos homens foram presos, acusados de crime de prostituição e de sodomia3, um abominável crime de cunho religioso da época. Com o passar do tempo tornou-se possível perceber que em diversos momentos o vestir-se como uma mulher passa a ser compreendido não só como uma forma de manifestação artística, brincadeira ou manifestação política, mas tornou-se ainda, uma forma pejorativa para descrever homossexuais. 

Tanto Mahawasala (2016) quanto Jesus (2012) refletem que em meados da década de 1960, a Drag fora do contexto teatral e de entretenimento, ainda lutava para encontrar seu lugar ao sol na sociedade, pois nessa época aqueles que não usavam seus personagens somente como atores eram presos. A homossexualidade crescia, e era vista como uma ameaça para a sociedade e, assim, a Drag Queen abraçou-se a uma nova causa. No contexto LGBT, passa a atuar em cenários mais subterrâneos para evitar o aparecimento e a intervenção da polícia. Há de se evidenciar que ao se estudar a história deste fenômeno é indispensável perceber que a ideia Drag Queen se transformou ao longo do tempo e ainda hoje vem se adaptando aos contextos sociais e políticos, se posicionando frente a esses contextos e se tornando verdadeiros artistas vivos sem perder seu objetivo: a arte do estranhamento. Quando se fala de arte do estranhamento, remete-se diretamente a uma teoria chamada de Teoria Queer. Essa por sua vez, tal com afirmam Chidiac e Oltromari (2004), Louro (2008) e Salih (2016), e se opõe à heteronormatividade, e sua não aceitação e entendimento daqueles que fogem aos padrões sociais, os ditos estranhos da sociedade, essa teoria vem explicar a diferença entre sexo e gênero.

Queer é tudo isso: é estranho, raro, esquisito. Queer é, também, o sujeito da sexualidade desviante – homossexuais, bissexuais, transexuais, travestis e drags. É o excêntrico que não deseja ser ‘integrado’ e muito menos ‘tolerado’. Queer é um jeito de pensar e de ser que não aspira ao centro nem o quer como referência; um jeito de pensar que desafia as normas regulatórias da sociedade, que assume o desconforto da ambiguidade, do ‘entre lugares’, do indecível. Queer é um corpo estranho, que incomoda, perturba, provoca e fascina (LOURO, 2008, p.8).

Certamente, pode se considerar que o fenômeno Drag Queen que existe hoje, surgiu nesse período acima descrito. Porém, só se tornou mais expressivo nos anos 80 e 90, coincidindo com o desenvolvimento da cultura gay

Salih (2016) aponta que a popularização desse fenômeno foi influenciada pelo filme Priscilla, Rainha do Deserto, produção australiana de Stephan Elliott, do ano de 1994. Ele foi um marco, tanto na luta gay por direitos iguais e pelo fim do preconceito, quanto para colocar a Drag Queen em um cenário político e de protesto para essa classe. Desde então esse fenômeno vem crescendo e tomando espaço em novos locais fora do contexto LGBT, como programas de televisão, rádio, festas importantes, teatro e grandes desfiles de grifes famosas. 

Já Dos Santos (2015) descreve que outra responsável pelo crescimento desse fenômeno foi a Drag Queen RuPaul4, conhecida como Mama Rul, a mãe das Drags, uma das maiores celebridades Drags que surgiu durante a década de 90 e, hoje, dona do reality show americano RuPaul’s Drags Race. Este tem por objetivo descobrir grandes estrelas Drags – World next drag superstar. 

A este respeito Miranda (2017) discorre e reflete que se percebe que o propósito por trás desse Reality Show não está somente vinculado a descobrir a TOP Drag, mas visa muito mais que isso, trazendo a história de vida de cada indivíduo, dificuldades encontradas ao longo de sua atuação, preconceitos e não aceitação familiar e social do seu trabalho, tal como a descoberta dessa forma de existir no mundo. A visibilidade dada pelo programa a esses artistas tem mostrado para a sociedade o outro lado da Drag Queen: a condição humana por trás da “montaria”. 

RuPaul é um espetacular ato de auto-reinvenção e reivindicação Drag. Ele criou uma personagem – atrevida, forte, linda e negra – mas argumenta que sua performance é de um personificador feminino, alegando que ele não se parece com uma mulher, e sim com uma Drag Queen: ‘Eu não penso que eu poderia nunca me assemelhar com uma mulher. Elas não se vestem dessa forma. Somente Drag Queens se vestem assim. […] Tudo é Drag. Só que a minha é mais glamurosa’ (BAKER, 1994, p. 258 apud MIRANDA, 2017, p. 25).

Há de se destacar que existe uma confusão dos termos relacionados à Drag Queen, e que também referem-se aos Transformistas e os Transexuais. Abre-se um parêntese para resumidamente elucidar tal confusão. De acordo com Vencato (2002) transexuais são aqueles que consideram que nasceram em um ‘”corpo errado”, ou seja, são pessoas que não se reconhecem no corpo que possuem, e, consequentemente, visualizam no sexo oposto as suas características e a forma como deveriam se relacionar com o mundo. Tais sujeitos buscam transformar seu corpo naquele com o qual se identificam, podendo realizar a cirurgia de mudança de sexo, por não encontrarem sentido em possuir o órgão genital com o qual nasceram. Acerca da transexualidade, discorre-se:

[…] transexualismo é uma desordem pouco comum, na qual uma pessoa anatomicamente normal sente-se como membro do sexo oposto e, consequentemente, deseja trocar seu sexo, embora suficientemente consciente de seu verdadeiro sexo biológico. A condição é rara, embora não se saiba o quanto, em parte por não haver unanimidade sobre o que deva ser chamado transexual (STOLER, 1982, p. 3 apud VENCATO, 2002, p. 15).5 

O transformista, por sua vez, tenta transformar seu corpo de forma temporária utilizando recursos como espuma, roupas e maquiagens, diz ser mulher à noite. O tempo o define e quando montada o que se vê é uma mulher, sem distinção de qualquer outra classificação, isto é, homem, mulher, transexual ou travesti. Há uma ocultação completa dos traços masculinos, uma vez que a intenção e o prazer está em vestir-se e parecer uma mulher. (Vencato, 2002) 

Em consonância com os apontamentos de Vencato, Jayme (2001) aponta que a junção de todas essas categorias resulta no termo Transgênero. O qual se trata de uma definição de pessoas cuja expressão social ou identidade de gênero difere daquela identidade atribuída no nascimento. Assim o termo transgender/transgênero passou a ser utilizado em textos internacionais para definir, de modo geral, travestis, transexuais, transformistas, drags e andróginos, levando em conta que há particularidades entre esses sujeitos, conforme esboçado nos parágrafos anteriores. 

Jayme (2001) ainda reflete que é possível compreender essas expressões e categorias de outras formas através de estudos na sociologia e teorias sociosexuais. Que nos retoma a teoria Queer já citada anteriormente, originada nos Estados Unidos em meados da década de 1980, a partir das áreas de estudos gays, lésbicos e feministas, fortemente influenciada pela obra de Michel Foucault “História da Sexualidade”. Esta é uma teoria sobre o gênero que afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos são o resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes de formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais. 

Em outra vertente, Louro (2008) esclarece que a Drag Queen ou Drag Kings (mulheres que se vestem de Drags), junto com todas as outras categorias já citadas são consideradas como os diferentes, extravagantes e que buscam por meio destas características validar sua forma de existência no meio social. Elas não querem ser vistas como iguais a todo mundo, buscam um sentido diferente, pois pensam de forma diferente, e por isso acabam sofrendo as consequências pelas escolhas desviantes. Entende-se, então, que o Ser Drag Queen traz uma ambiguidade entre sujeito e personagem e vem contrapor a ideia de identidade como algo fixo em conformidade com autores da Psicologia Social, ainda como aponta Louro (2008). 

Desta feita, compreende-se que a Drag Queen, enquanto personagem, se torna um novo meio de existência do ser na fronteira entre um gênero e outro, possibilitando tanto ganhos sociais, quanto pessoais. No intuito de compreender esta maneira de existir do fenômeno Drag Queen, utilizou-se da Fenomenologia Existencial como embasamento, assim valorizando o estudo do ser (ontologia). 

A existência humana na perspectiva fenomenológico existencial 

A existência na perspectiva Fenomenológico Existencial é compreendida de forma bastante particular. Tendo em vista que a Fenomenologia Existencial estabelece que o homem é um ser-no-mundo e isso nos apresenta a ideia de que o homem se constitui por meio de suas relações sociais e com o mundo, sem, no entanto, ser determinado por eles. Essa ótica permite a compreensão de que não é possível uma classificação patológica do homem que o aprisione em comportamentos ou atitudes. Ou seja, isso não significa uma oposição reativa ao saber científico, mas “chegar a uma relação refletida com a ciência podendo de verdade meditar com seus limites”. (HEIDEGGER, 2001, p.45) 

De acordo com Moreira (1994) no existencialismo atos são escolhas, e toda escolha aparece no sentido de confirmar ou não a condição da pré-existência que determinou a inserção desse homem no mundo. A cada escolha, implica-se na perda de outra, ou seja, deixar de lado diversas outras possibilidades, à medida que escolhas são feitas, se deixam de lado outras e, assim, vai-se constituindo, tornando-se algo e deixando de ser outras diversas. Moreira (1994) ainda aponta para um sujeito mundano, pois compreende, tendo como base os estudos de Merleau-Ponty, que o homem se faz na relação que estabelece com o mundo e com os que o compõem, resgatando sua historicidade, sendo autônomo de sua vida e arquiteto de sua própria existência, responsável por tudo que faz (escolhe), em meio às contingências de sua situação existencial. 

De acordo com os ensinamentos de Heidegger (1997) o homem é um projeto em construção, é sua própria criação, isto é, sua existência não é sobre se descobrir e sim sobre se construir. É um eterno vir-a-ser, é um conjunto de possibilidades que ele próprio como sujeito vai se atualizando enquanto vai existindo e vivenciando a intencionalidade da sua consciência. Sendo que o mesmo autor ainda afirma que o entendimento do ser humano só se dá como não estático, o homem é muito mais que um simples ser racional. 

E assim começa-se a compreender o Dasein (ser-aí), o qual é uma forma especial de compreender o Ser ensinado por Heidegger. O Dasein é um poder-ser sempre, e a existência do Dasein não se trata de algo já feito, ele está sempre em construção, pois é projeto para seu futuro, e por isso vai estar sempre inacabado e com várias possibilidades de vir-a-ser. Este é marcado pela abertura inerente à existência, isto é, um ser que só alcança sentido na vivência com o outro e com o mundo. Este inclui o outro e o marca como um ser-para-a-morte, tal como afirma Heidegger (1997). 

A existência do ser humano está atrelada à relação deste com sua liberdade. Suas escolhas e decisões modificam a todo o momento o rumo da sua vida. Jean Paul Sartre (1998) considera que a existência precede a essência. Ele estabelece que primeiro o homem existe no mundo e depois se realiza, e se define por meio de suas ações e pelo que faz com sua vida. Pode-se entender que o homem é o único responsável pelo que é e que não existe uma natureza humana ou um Deus que me quer assim como sou. 

Ainda de acordo com Sartre (1998) o ser humano está condenado à liberdade e é a partir dela que ele se constrói. Não existe nada que o obrigue a agir de determinada forma, pois existe uma liberdade nas ações do ato de escolher. A escolha revela para o homem a responsabilidade e, ao mesmo tempo, o apresenta à angústia, e “é na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade, ou, se se prefere, a angústia é o modo de ser da liberdade como consciência de ser; é na angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesmo em questão”. (SARTRE, 1998, p.72). 

Ainda sobre a angústia discorre-se: 

A angústia se faz presente em ter que optar por alternativas. Escolher ameaça a mudança de algo, e, ao eleger, estabelece-se a insegurança por aquilo que não foi escolhido. O homem, frente a uma escolha, se sente ameaçado por saber que esta pode modificar a sua vida, por isso se angustia. Assim ele se torna responsável por tudo que escolhe, pois não há escolha que não exerça a liberdade. A escolha é possível num sentido, mas o que não é possível é não escolher (SARTRE, 1973, p. 23)

Ou seja, o homem age intencionalmente, planeja suas ações e utiliza de sua liberdade, o que torna primordial compreender que a liberdade não é uma conquista e sim uma condição da existência humana. Assim como afirma: 

Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade […] Assim, minha liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser […] (SARTRE, 1998, p. 542-543). 

Desta feita, Sartre (1998) ainda reflete que o homem é livre por escolher, por ser um SER de consciência, e esta gera a intencionalidade em suas ações de forma a envolver também a sociedade, pois a liberdade carrega consigo uma obrigação com tamanho peso, por responsabilizá-lo pelo seu destino e pelo dos outros que estão a sua volta. 

Ao analisar o homem enquanto um ser livre e como ele desfruta essa liberdade precisa-se entender que ele será aquilo que fizer de si mesmo e esta compreensão obteve-se por meio da Fenomenologia Existencial. 

De acordo com Husserl (1986), para compreender um fenômeno pela Fenomenologia, torna-se necessário considerá-lo em sua facticidade antes de qualquer reflexão e não submetê-lo a leis universais, sem passar por uma experiência com o mesmo. Para isso é necessário despir-se de quaisquer pré-noções ou ideias pré-concebidas sobre tal fenômeno. É preciso, então, considerar a redução fenomenológica, pois ela ajudará na tomada de consciência do fenômeno, em que é preciso concentrar exclusivamente na experiência com o mesmo e não como ele se apresenta. 

A fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Porém, a fenomenologia é também uma filosofia que repõe as essências na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de sua “facticidade”. É uma filosofia transcendental que coloca em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da atitude natural, mas é também uma filosofia para a qual o mundo já está sempre “ali”, antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço todo consiste em reencontrar este contato ingênuo com o mundo, para dar lhe enfim um estatuto filosófico (MERLEAU-PONTY, 2006). 

Analisando o homem na perspectiva apresentada, deve se levar em consideração como este habita o mundo e sua relação com o tempo e também com o espaço. É importante compreender o sentido de ser, construído por cada um, levando-se em conta a subjetividade e a intersubjetividade. Ou seja, deve-se buscar localizá-lo em seu modo de ser-no-mundo. Para essa compreensão são relevantes três percepções de mundo existentes: umwelt, mitwelt e eigenwelt, chamados também de pilares de formação do Dasein apresentada por Heidegger (1997). Entende-se através da abordagem fenomenológico existencial,que o homem existe na dinâmica com esses três mundos, interpretando-se e na relação com os mesmos, de forma a influenciar-se simultaneamente, pois a vivência desses mundos pode acontecer ao mesmo tempo, mesmo sendo diferentes, está neles os seus modos de existência. 

Heidegger (1997) aponta que em Umwelt, tem-se o mundo da natureza e das leis naturais. É o mundo perceptível por meio da observação e do contato do sujeito com as coisas ao seu redor, além disso “Na vivência imediata irreflexiva nada subsiste do fato de que necessito de olhos para ver…simplesmente aparecem-me coisas que estão aí…” (BERG VAN DEN, 1972, p. 126).É literalmente conhecida como o mundo ao redor, é o mundo biológico, também podendo ser chamado de ambiente. Umwelt é onde se encontram os impulsos, instintos, os ciclos naturais como dormir e acordar, nascer ou morrer. Umwelt é o mundo imposto ao homem e esse homem vai se adaptando ao meio e se ajustando aos contextos que aparecem.

Porém, embora sofra limitações de seu ambiente e de sua corporeidade e necessite de uma adaptação, o homem possui a capacidade de transcendê-lo por ter consciência das situações (BERG VAN DEN, 1972). O homem não está nesse mundo como objeto, existe uma relação dialética entre ambos, que permite mesmo nessa adaptação com o mundo circundante, exercer uma ação sobre a natureza e seu próprio corpo, lembrando que essa ação de controle sobre o mundo acontece de uma forma temporária e relativa, pois a natureza como seu próprio corpo pode se impor ao homem, uma vez que existem acontecimentos sobre os quais o homem nada pode fazer, como é exemplo da morte, assim os limites da sua capacidade coincidem com os limites da sua abertura para o mundo, tal como afirma Heidegger (1997). 

Por sua vez o mundo em Mitwelt, nos permite entender como se dão as relações interpessoais, isto é, a relação do Ser com o outro, seu respeito e consideração pelo ser-no-mundo, pode-se ser chamado também de um mundo social, onde o sujeito está em relação com o mundo, é o mundo dos semelhantes, dos seres de um mesmo tipo, é o mundo compartilhado com outras pessoas. Existir é estar inevitavelmente situado no, e projetado para o mundo. Como este mundo é composto, entre outras coisas, e por outros sujeitos, o dasein é igualmente ser com (mitsein). O entendimento de si como ser humano, só se dá na convivência com o outro. É nessa relação que o ser se mostra e se conhece, em meio às situações que acontecem e como se comunica com o mesmo. Essa relação e comunicação pode ser feita tanto por via da linguagem, quanto por via do corpo e expressões corporais. Essa comunicação entre os seres humanos é a forma original do seu ser-com e de existir em relação às coisas e às pessoas (FIGUEIREDO, 1993). 

De acordo com May (1988) Eigenwelt, possibilita o entendimento do homem na relação consigo mesmo, com seu Eu, é o mundo interno, mundo próprio. O mundo próprio diz dos significados que as experiências têm para o homem e do conhecimento deste para com o mundo. Este último mundo abrange os outros dois mundos citados, uma vez que quando se toma consciência de si mesmo, amplia-se a possibilidade em relação aos outros e à natureza. Ainda segundo May (1988), a consciência de si como um ser, pode levar ao medo de chegarmos a não ser, o estado subjetivo de conscientização por parte do indivíduo de que sua existência pode ser destruída, de que ele pode perder o próprio ser e seu mundo, e transformar-se em nada. A compreensão do existir pode levar também ao entendimento de limitação da existência e isso faz uma relação com a morte, tal compreensão por parte do sujeito pode angústiá-lo e vir abalar os pilares de formação do Dasein. 

Heidegger (1978) afirma que o Dasein, quando lançado para o mundo, vai conferindo sentido à sua existência, isso devido às escolhas que estão sendo feitas por ele. Essas escolhas apresentam ao Dasein inúmeras possibilidades, para que ele venha a ser, porém, dentre todas essas possibilidades, existe uma em que o ele não pode optar, que é em relação à morte,assim o homem pode fazer qualquer escolha, exceto escolher não morrer. O autor supracitado reafirma a importância de compreender que ao falar da morte, ou de um ser lançado para morte, não se diz somente da morte quanto óbito do corpo, mas também da morte enquanto projetos, restrição das possibilidades de ser-no-mundo e de ser-com-outro, de um ser que possui finitude em relação com o sentido de ser em geral, poderia se dizer do fim do Dasein. 

Conforme os estudos de Augras (1986) o homem em sua estrutura existencial é visto como inautêntico, e por sua vez se angustia ao contemplá-la, estrutura essa, que além de temporal é de ser-para-morte. A temporalidade é revelada para o homem na mortalidade, algo inevitável, uma condição da existência que não há como evitar. O tempo surge, então, não como dimensão do mundo, mas como orientação significativa do ser. Diante da possibilidade do fim, o homem angustiado é colocado frente ao não sentido da sua vida e isso permite ao mesmo, nesse momento viver de forma autêntica, tomar as rédeas da vida, uma vez que a qualquer momento pode-se morrer, deixar de ser. 

A vivência do tempo biológico envolve, portanto, a de um presente que encerra as implicações passadas e futuras. O indivíduo é uma seta apontada numa só direção através do tempo, e a espécie também é orientada do passado para o futuro. O futuro é assim, uma esperança ou receio. Percebe-se, então, que não é o passado que determina o presente, nem o futuro, mas sim o trajeto deste ser, o sentido que este tem dado para sua existência e é nessa experiência que se modifica o significado do passado e do presente (FORGHIERI, 1993). 

Em consonância ao exposto Doubois (2004) reitera que a percepção de limite existencial por parte do Dasein, permite ao mesmo enxergar a totalidade do seu ser.

Sustentando também que a finitude é a finitização, existir como finito, e a apropriação de si é essa finitização, que mergulha no possível não ser mais, compreendendo seu ser a partir daí, como limitado, vindo à existência desde seu limite. 

Para tanto, o entendimento do homem na perspectiva fenomenológico existencial, deixa claro que o homem é percebido por sua própria existência e que a mesma se constrói através da experiência que esse homem vai tendo no mundo, com o outro e consigo mesmo. Esse entendimento se dá ao perceber o homem frente às escolhas que faz e à capacidade do mesmo assumir suas consequências. Também da forma, como este vivencia sua liberdade e experiências angustiantes que passa na vida e que estas o movimentam para superação de si mesmo. É diante da não negação de si e a busca pela autenticidade do ser, e entendimento de ser um ser de finitude que essa compreensão o ajuda a ser ao invés de simplesmente existir. 

O fenômeno Drag como possibilidade de Ser-No-Mundo 

Ao buscar a compreensão do fenômeno Drag Queen sob uma perspectiva fenomenológico existencial, primeiramente há um convite para despir-se de quaisquer pré-noções, valores, convicções e significados oriundos do senso comum sobre tal fenômeno. Em outras palavras, há um chamado para realizar um epoché, redução fenomenológica apresentada por Husserl (1986), que nada mais é do que colocar em suspensão os juízos sobre o que não é evidente, a fim de alcançar o que está para além, o que está ao fundo da consciência. Esse alcance se dá no momento em que se é capaz de explorar o mundo e tomar-se a consciência pura dos fenômenos que aparecem não mais se orientando por como eles se apresentam em uma evidência originária. Orientados por tal método, é preciso buscar o entendimento da Drag, como uma possibilidade de existência para o sujeito ao qual ela habita. 

Sabe-se que o homem, na sua busca por ser alguém, se lança para um mundo de possibilidades e a Drag Queen, como uma forma de apresentar-se pelo Dasein, também vivencia este poder ser, reinventando-se e construindo quem se é no mundo. As razões atribuídas a essa forma, em que o sujeito encontrou para sua existência, aponta que é preciso se atentar aos significados. Já defendia Kierkegaard (2010) a ideia de que existe uma verdade subjetiva: uma verdade que seja para eu encontrar uma ideia pela qual eu possa viver ou morrer. Seria essa uma busca de sentido para a existência, uma tomada de consciência feita a qualquer pessoa que queira viver uma existência em sua autenticidade. Com essa ótica acerca dos pensamentos de Heidegger, pode-se dizer que existir é angustiante, uma vez que o fato de se angustiar abre, de maneira originária e direta, o mundo como mundo, isto é, como decadência que remete a presença para aquilo por que a angústia se angustia, para o seu próprio poder-ser-no-mundo (HEIDEGGER, 2008). 

Ao analisar o fenômeno Drag em consonância com o Ser, é possível constatar que ambos se opõem à ideia de que o sujeito é objeto para si mesmo, deixando de existir como pessoa, pois a Drag e o sujeito são partes de uma mesma estrutura, isto é, sujeito e objeto são uma coisa só. Sobre esta afirmação Kierkegaard (1983) discorre que a relação entre sujeito e objeto está na própria existência. Logo, pode-se afirmar que a Drag existe para o sujeito da mesma forma que por ação, ele a produz, bem como passa a ser uma extensão do corpo do sujeito e da sua consciência de mundo, logo uma maneira de existir. 

A Drag em relação ao mundo circundante – Umwelt, se relaciona com o ambiente, suas leis naturais e com tudo que está ao seu redor, porém, a mesma, na sua forma de existência não está fechada, presa nas contingências que a envolvem. Tal como aponta Heidegger (1997) ela existe na relação significativa que tem com a vida do sujeito, adaptando-se ao contexto e buscando exercer algum controle sobre o mesmo, sabendo que esse controle não acontece durante todo o tempo. É no ato de montar-se e desmontar-se, isto é, fazer-se pelo corpo que, ela se adapta e se impõe ao ambiente e, assim, vai buscando sua forma de existência, pois entende que precisa dessa relação sujeito, personagem, para existir. “A ideia fundamental de meu pensamento é precisamente que a evidência do ser precisa do homem e que, vice-versa, o homem só é homem na medida em que está dentro da evidência do ser” (Heidegger,1997, p.25) 

Ao buscar a compreensão da existência do fenômeno Drag Queen, e se deparar com o posicionamento deste sujeito frente a sua forma de vir-a-ser, é possível dizer que parece existir uma ponte entre a existência e a transcendência. A transcendência neste caso, auxilia o sujeito a passar todos os limites dessa representação social, dentro da identidade apropriada por ele em sua relação com o mundo e com o outro no mundo dos iguais, dos semelhantes – Mitwelt. O ser desmontado, ou seja, sem estar vestido de sua personagem, entende que só é possível saber quem é em relação com seus iguais. É nesse momento que compreende o significado dado ao montar-se de Drag, ou seja, essa ação o possibilita também se comunicar com o mundo e com o outro de outra maneira por meio de um grito de existência que o ajuda em suas relações interpessoais, sendo que a representação é a marca, ou o traço visível e exterior (FORGHIERI, 1993). 

Segundo Augras (1986), a existência não está fechada em si mesma, ela se projeta no sentido de impulsionar-se para algo ou para além de si. A transcendência estabelece na vida do existente como um ato de escolha e de convicção própria que se efetiva à medida que ele percebe em si a possibilidade de superação de si próprio e compreende os significados que as experiências em sua vida têm para ele, ajudando-o a se perceber no mundo. 

Entende-se que a Drag em seu mundo próprio – Eigenwelt, seria a forma de se superar deste sujeito, volta-se a dizer que seria a extensão desse ser. Visto que o corpo do sujeito é para Drag como seu espaço, sua morada e nele ela vai construindo e arquitetando sua existência, poderia se dizer também que é como uma tela, onde a Drag começa a existir enquanto monta sua arte; com suas roupas extravagantes, maquiagens excessivas e perucas de diversas cores e formas, ela vai fazendo desse corpo seu mundo interno, seu ninho, espaço de vida, mundo que vai se organizando conforme o espaço privado da Drag e do sujeito, o espaço aqui, é como uma parte do ser. De forma que existir tanto inclui o espaço, quanto inclui o mundo, sendo que o espaço só pode ser compreendido a partir do mundo. E o mundo é entendido exclusivamente como sítio humano, orientado e dimensionado pelo homem, ou seja, caracterizado como um momento estrutural do ser no mundo. (AUGRAS, 1986) 

Augras (1986) ainda reflete sobre a capacidade de decisão da sua existência significa poder-ser autenticamente diante da transcendência, enquanto que a criação de si mesmo, a partir do nada da arbitrariedade e da exatidão geral, se mostra de forma fantástica. A partir desta reflexão é possível dizer, que a compreensão da Drag por parte do próprio sujeito é transcender. Pois o sujeito é capaz de separar cada coisa no seu lugar, sabendo os motivos e significados da sua existência tanto quanto sujeito, tanto quanto Drag. É nessa sua forma peculiar de existir que ele é não sendo a si mesmo. Nesse momento é capaz de identificar os significados de ambas as existências sujeito e personagem, e assim demonstrar, na sua vivência performática, o dilema sobre o homem e a busca de si mesmo. Essa compreensão é fundamentada ao reconhecer que existe uma relação de coexistência na vivência Drag e sujeito e isso possibilita um entendimento do outro dentro de si. É nessa integração que se identificam as diferenças de ambos, e o que é desconhecido para o sujeito. 

Já de acordo com Forghieri (1993), o outro fornece um modelo para a construção da imagem de si. Por ser outro, contudo ele também revela que a imagem de si comporta uma parte igual de alteridade. Eventualmente, o fenômeno Drag Queen trouxe em sua relação com o tempo muitas transformações. Mudanças de sentido, significado e propósitos para esses sujeitos alinhados a sua forma de vir a ser. É relevante entender que a relação com o tempo proporcionou a esse fenômeno trazer seu passado de construção para os tempos de hoje, permitindo evoluções consideráveis em sua forma de ser-no-mundo e do entendimento desses sujeitos em sua relação com o outro e com o mundo, tal como a projeção desse fenômeno lançado para um futuro de possibilidades apresentado para o ser no mundo. Assim a Drag por meio da relação e histórico do ser, ajuda-o em uma nova interpretação da sua existência, buscando novos sentidos e orientando-o, em sua forma de ser. 

Segundo Heidegger (2007), o tempo surge como um horizonte da compreensão do ser, a partir da temporalidade como componente do ser, que o homem se constrói nessa relação, essa seria uma explicação autêntica do tempo. O que permite a interpretação de que a Drag Queen está, de certa forma, lançada para as questões temporais, e esse sujeito, na sua busca por totalidade de existência e pela não garantia de permanência no mundo, por entender que é ser lançado para a morte e na sua negação da mesma, se reinventa a todo o momento. Está sempre sendo de forma diferente e se montando com novas características, novas aparências, novas performances, saindo de si mesmo. E isso dá a ela possibilidades de ressuscitar frente à consciência que se tem do que é eterno, ainda como afirma Heidegger (2007, p.256) “o seu ser total é ser em relação à morte”.

Compreende-se que o sujeito em sua liberdade de ser, e ao criar a Drag, só demonstra o quanto essa liberdade proporciona ao mesmo a sua vivência do Dasein, pois, é nessa experiência que ele se depara com a gama de possibilidades de ser e criar seus projetos de vida, instituindo o mundo a sua existência. Consegue a partir daí transcender-se frente à negação do ser-para-a-morte, frente às angústias e conflitos, buscando alternativas. Pela liberdade, aprende a fazer escolhas mais condizentes com o que quer para sua vida, e é por isso que a liberdade é considerada como origem do fundamento em geral como a condição de possibilidade da compreensão do sentido do ser que sustenta a abertura do Dasein ao mundo (HEIDEGGER, 2007). 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Lip Sinc For You Life – Dont Fuck it Up 

Os dados demonstram um aumento nas pesquisas para um melhor entendimento sobre o fenômeno em questão. Espera-se que esse trabalho possa contribuir para o melhor entendimento do fenômeno Drag Queen nos dias atuais e as formas que esses sujeitos têm encontrado para sua existência em relação com o mundo e consigo mesmos. Para a compreensão do fenômeno Drag Queen, com base na fenomenologia existencial, buscou-se percebê-lo em seu mundo de dentro para fora. Foi preciso compreender essa forma de existência que o sujeito encontrou para ser-no-mundo, suspendendo as pré-noções e preconceitos advindos da sociedade diante de tal performance. 

Quando se utiliza a palavra Drag, logo é possível lembrar-se de algumas questões relacionadas à identidade e de como esse sujeito chega a essa construção. É aí, que se torna passível de compreensão que o homem é um ser social e que desenvolve essa identidade na interação que mantém com o meio em que vive. A construção da sua identidade sofre interferência de vários fatores como a cultura, as experiências de vida e como esse sujeito se porta frente ao ambiente, ou seja, sua identidade é construto de uma relação biopsicossocial, é ser com o mundo, com o outro e consigo próprio. 

É pertinente observar que, em meio a tantos significados por trás dessa construção de identidade e da performance artística que a montaria Drag traz consigo, se ressalta a facilidade com que o sujeito transita no mundo do masculino e do feminino. Nesse contexto, ainda consegue construir um mundo particular intergênero, uma vez que a Drag não é nem homem, nem mulher e sim a mistura dos dois e de referências ao seu redor. É esse excesso entre ambos que a permite ser várias coisas ou pessoas. 

A Drag com sua performance expõe para a sociedade o quão livre cada pessoa pode ser diante de sua própria existência. Elas são o que querem ser de fato e não vivem buscando ser os padrões que a sociedade espera das pessoas em sua forma de se posicionar no mundo. São o que a sociedade diz que não podem ser na vida real: são a ilusão de gênero, a abertura para um mundo particular, com inúmeras possibilidades e em constante relação com os demais. Carregam por trás da montaria Drag, isto é, das vestimentas, maquiagens e adereços excessivos, a escolha pela autenticidade de ser o que querem, assumindo a responsabilidade e as consequências desta eleição. 

Ser Drag está atrelado ao mundo próprio, onde os significados e as experiências do montar-se, dizem de um autoconhecimento que este tem de si. Por isso, cada pessoa encontra de forma peculiar o sentido para sua própria existência. Não é possível dizer aqui, de uma explicação ou de um significado geral que responda sobre esse fenômeno para todos os performers e sim que cada sujeito possui, então, uma experiência única com a sua montaria e o seu projeto pessoal de vida. 

É importante compreender que o papel da Drag na vida do sujeito não é ser o mais forte ou ser visto como uma forma que ele encontra para se esconder. Até mesmo, porque a Drag só existe por causa deste que a criou e o possibilita uma nova maneira de ser-no-mundo. Frente a uma sociedade permeada de valores e preconceitos, essa forma de ser demonstra uma coragem e uma luta pela liberdade a qual o homem está condenado. Nessa posição, acaba por demonstrar sua autenticidade e vontade de poder mudar sempre, se construir e reconstruir. Nessa maneira de existir “vestindo-se”, assume situações que possibilitam algum sentido à sua existência, tais como o engajamento em atos políticos e humanitários. Lutam por aquilo que querem vislumbrando as relações e os direitos iguais aos seus semelhantes. 

A Drag não teme a exposição, pois se lança frente a sua liberdade. Assume a responsabilidade de ser diferente, estranha e enigmática diante de uma sociedade que tem dificuldade em lidar com o que não é convencional diante das suas expectativas. Apesar de todas as causas que motivam este Ser neste projeto de vida, o mesmo passa por dificuldades de aceitação no contexto familiar e social, pela incompreensão desta manifestação artística com a qual ele escolheu para comunicar e se relacionar com o mundo. 

Diante de situações adversas, a Drag pode ocupar o lugar do cômico e, consequentemente, arrancar gargalhadas com suas performances. Pode ser comparada a um palhaço de luxo que busca extrair a alegria das pessoas e transmitir mensagens de maneira divertida e, às vezes, de forma áspera, com o uso de palavrões em suas apresentações. 

A Drag e aquele que se monta são uma só pessoa. Há neste Ser a construção de um corpo e um espaço na busca por si mesmo por meio da arte performática. 

Diante do exposto neste trabalho, torna-se importante atentar para a existência das Drag Queens. O exagero delas nos coloca frente ao empobrecimento da sociedade que, durante séculos, enrijeceu-se nos seus valores e preconceitos. Antes consideradas como necessidade para o entretenimento, hoje as Drag’s estabelecem a possibilidade para tal. Escancaram para todos que podem ser aquilo que querem ser. Assumem a sua angústia frente à liberdade e buscam transcender em sua existência. Em contrapartida, a sociedade, na qual estão inseridas, angustiam-se pela negação da liberdade de ser e, consequentemente, minimiza as possibilidades do Dasein, limitando a sua própria existência. 

Enquanto ser-no-mundo, é possível perceber a multiplicidade de significados que cada performer traz consigo na sua relação sujeito e personagem. Nesse sentido, não é possível fechar neste trabalho, uma definição do que é SER DRAG. Isto é, esta pesquisa não esgota a possibilidade de voltar a discutir e tentar compreender tal fenômeno por outros olhares e experiências. Neste entendimento, Binswarger (1973) pontua que “a vida é e continuará sendo um mistério. Podemos apenas vivê-la em sua total plenitude, mas não conseguimos captá-la completamente de forma racional.”

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1Travestismo: Definição apresentada no item Trastorno Transvéstico 302.3 correspondente à CID-10 F65.1). APA (2014, p. 703).
2 De acordo com o dicionário Aurélio (2002): Aquele que se veste elegante e requintadamente. Quem se veste ou tem um comportamento afetado e excessivamente delicado. Já conforme Amanjás (2015) trata-se de um homem de bom gosto e fantástico senso estético, mas que não necessariamente pertence à nobreza. O qual escolhe viver a vida de maneira leviana e superficial, utilizado como uma máscara ou um símbolo, ou ainda pode ser considerado uma subespécie de intelectual que dá um enorme valor e atenção ao esteticismo e à beleza dos pormenores, visto também como um pensador, contudo diletante, ocupando o seu tempo com lazer, atividades lúdicas e ociosas.
3 Palavra de origem Bíblica para designar atos praticados pelos moradores da cidade de Sodoma. Por anos atos de sodomia vem sendo vistos pelo segmento religioso como perversões sexuais (AURÉLIO, 2002).
4 Rupaul Andre Charles nasceu em San Diego – Califórnia, no dia 17 de novembro de 1960, é um ator, cantor e drag queen americano que alcançou reconhecimento mundial pelo seu trabalho como drag. Na década de oitenta participou ativamente dos movimentos que questionavam o gênero e quebravam barreiras do binarismo americano. (MIRANDA, 2017, p. 25)
5 No entanto, em 2014, com o lançamento da 5ª edição do DSM, a transexualidade foi retirada dos manuais psiquiátricos e, consequentemente, a ideia de transtorno psíquico foi deixada de lado.