SEMIÓTICA APLICADA E OS MULTILETRAMENTOS: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE PARA SE TRABALHAR NA DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7724015


Maria Alvina Ferreira de Moura1
Eliane Marquez da Fonseca Fernandes2


Resumo: Este artigo científico, aplicado ao ensino de Língua Portuguesa nas  escolas, buscou analisar alguns signos presentes na animação japonesa “Death  Note” com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de leitura que enfoque a  noção e as vantagens do estudo semiótico às práticas de multiletramentos. 

Utilizamos como pressupostos teóricos o conceito de Semiótica e dos  multiletramentos a partir dos estudos de Peirce (1839-1914), Moura (2020), Santaella (2018), Santaella (2002), Sousa e Teixeira (2019) e do Grupo Nova  Londres, além de alguns outros autores que contribuíram para a discussão teórica e  análise do objeto. Quanto aos procedimentos técnicos, parte deste trabalho se  dedicará a uma pesquisa bibliográfica, baseada na discussão de conceitos  referentes aos estudos semióticos e aos multiletramentos, e outra à proposta de análise de três signos, extraídos da animação japonesa Death Note, correlacionando  com a visão teórica abordada ao longo da primeira parte do trabalho. Quanto à  abordagem, essa é uma pesquisa qualitativa que busca observar, compreender e  descrever o fenômeno da representação. 

Palavras-Chave: Multiletramentos. Semiótica. Death Note. Animação Japonesa. 

Abstract: This scientific article, applied to the teaching of Portuguese in schools,  sought to analyze some signs present in the Japanese animation “Death Note” with  the objective of contributing to the development of reading that focuses on the notion  and advantages of semiotic study to the practices of multiliteracies. We use as  theoretical assumptions the concept of Semiotics and multiliteracies from the studies  of Peirce (1839-1914), Moura (2020), Santaella (2018), Santaella (2002), Sousa and  Teixeira (2019) and the Nova Londres Group, in addition to some other authors who  contributed to the theoretical discussion and analysis of the object. As for the  technical procedures, part of this work will be dedicated to a bibliographic research,  based on the discussion of concepts related to semiotic studies and multiliteracies,  and another to the proposal of analysis of three signs, extracted from the Japanese  animation Death Note, correlating with the theoretical vision addressed in the first  part of the work. As for the approach, this is a qualitative research that seeks to  observe, understand and describe the phenomenon of representation. 

Key-words: Multiliteracies. Semiotics. Death Note. Japanese animation.

O universo que conhecemos não existe senão por meio das representações. Isso porque elas estão intrínsecas as nossas vivências, a nossa cultura, à maneira  como agimos, falamos, escrevemos, sentimos e, sobretudo, à maneira como  atribuímos significados e interpretamos o mundo. De mesmo modo, “todos os dias,  deparamo-nos com textos que mesclam palavras, cores, desenhos e – no caso de  textos veiculados em meios digitais – sons, vídeos e hipertextos, que nos levam a  outros textos e mais outros e mais outros, em um processo que parece não ter fim” (BATISTA, 2021), o que influencia diretamente na criação de novas formas de  representação. Mas qual seria o sentido dessa multiplicidade? E, principalmente, por  que seu estudo é tão importante para as aulas de Língua Portuguesa? 

A princípio, cabe destacar que a busca por sentidos tem se intensificado à  medida que eles vêm surgindo e, de mesmo modo, cede-se cada vez mais espaço  para a ocorrência e existência de novos deles. Todavia, é possível questionar se as  escolas têm estimulado as diferentes formas de construção de sentidos em um texto,  ou mesmo se elas têm incentivado a análise de signos presentes em textos  multissemióticos, tendo em vista as possíveis contribuições que um estudo  crítico/analítico da construção de significados possa gerar.  

Por Semiótica, compreende-se que é, de forma não limitada a esse conceito, o estudo dos signos, isto é, daquilo que está sendo representado (SANTAELLA,  2005). Assim, concluímos que a Semiótica pode estudar representações e efeitos de sentido de qualquer universo, seja ele real ou imaginário. Diante disso, este estudo  tem caráter teórico-propositivo, uma vez que discutiremos os conceitos de Semiótica  e dos multiletramentos a partir dos estudos de Charles Sanders Peirce (1839-1914),  Lúcia Santaella (2002), Sousa e Teixeira (2019) e do Grupo Nova Londres,  estabelecendo a relação desses conceitos com a compreensão de textos. Também,  proporemos uma análise descritiva – Semiótica aplicada – de uma animação  japonesa bastante popularizada entre os estudantes brasileiros, de modo que sirva  de modelo de análise para a as aulas de compreensão de texto.  

Como justificativa para a escolha do objeto de análise, tomamos como base o  fato de que Death Note, um mangá produzido por Tsugumi Ohba, é considerado um  dos animes de maiores sucessos até hoje entre o público jovem brasileiro, como foi  revelado em 2020 pela plataforma de streaming, Crunchyroll (CRUNCHYROLL, acesso em jul. 2022). Além disso, a animação apresenta temas relativos ao  Cristianismo, à visão de justiça, poder, entre outros, os quais geram efeitos de  sentido que pretendemos observar e que certamente contribuirão com nossa  pesquisa. Além disso, a obra fictícia é carregada de signos que só serão percebidos  pelos estudantes caso seja realizado um procedimento de análise que os estimule a  compreender a construção de sentidos da animação, isto é, uma Semiótica aplicada. 

A respeito dos signos, Santaella (2005, p. 2) afirma: “Ora, a proliferação  ininterrupta de signos vem criando cada vez mais a necessidade de que possamos  lê-los, dialogar com eles em um nível um pouco mais profundo do que aquele que  nasce da mera convivência e familiaridade.” Sendo assim, utilizar como objeto de  estudo o elemento de uma cultura crescente no Brasil, como é o caso das  animações japonesas disponibilizadas nas mais diversas plataformas de streaming – além de inseri-las no ensino básico – poderá proporcionar grandes vantagens que  pretendemos deixar claras no decorrer desta pesquisa, bem como promover um  assunto que vem se popularizando e fazendo com que os professores reinventem  suas metodologias: os multiletramentos. Por esse motivo, pretendemos não somente  apreender o que há de simbólico no objeto em estudo, como também identificar as  capacidades lógicas com as quais os estudantes poderão adquirir ao aplicarem o  estudo dos signos no que lhes cerca e esperamos, por fim, contribuir para o  desenvolvimento da leitura crítica e para as práticas de multiletramentos nas  escolas. 

Multiletramentos na aula de Língua Portuguesa 

Uma pedagogia dos multiletramentos foi anteriormente discutida por autoras  como Coscarelli e Kersch, ao destacarem a necessidade de investir na qualificação  dos professores com o objetivo de promover a formação de leitores de hipertextos e  de textos multimodais. Elas argumentam que a leitura desses textos requer uma boa  navegação e boas estratégias de compreensão, além de proporcionar a seleção das  informações pertinentes, separando o que é confiável do que é suspeito. Assim, elas  questionam se a escola tem corroborado com o desenvolvimento, em seus alunos,  de habilidades demandadas pela comunicação digital, como o uso de (novas)  tecnologias e a diversidade linguística e cultural, que é o que nos leva a repensar  estratégias para o ensino de Língua Portuguesa. Para elas:

É preciso que os leitores saibam enveredar pelos inúmeros sites, blogs, propagandas, programas, aplicativos e ambientes, de forma a cumprir seu objetivo. Eles precisam compreender os textos, selecionando as informações pertinentes, separando o que é confiável do que é suspeito ou não parece seguro. Precisam compreender e analisar com profundidade e senso crítico as informações que encontram. Mais do que nunca, portanto,  precisa-se investir na qualificação elos professores para promover a formação desses leitores. (COSCARELLI; KERSCH, 2016, p. 7) 

Além de fazerem reflexões, sobretudo, críticas às escolas brasileiras, as  autoras enfatizam a necessidade de mudanças nas práticas escolares para que haja  um aprimoramento das leituras e produções textuais feitas pelos alunos, levando-se  em conta as tecnologias e os múltiplos modos com que os textos se apresentam no  mundo contemporâneo. Como justificativa para essa preocupação, Rojo e Moura  apontam que, para os pesquisadores do Grupo Nova Londres: 

os textos, em parte devido ao impacto das novas mídias digitais, estavam mudando e se compunham de uma pluralidade de linguagens, que eles denominaram multimodalidade. Para eles, o mundo estava mudando  aceleradamente na globalização: explosão das mídias, diversidade étnica e  social das populações em trânsito, multiculturalidade. Isso tinha impacto não somente nos textos, que se tornavam cada vez mais multimodais, mas  também na diversidade cultural e linguística das populações, o que  implicaria mudanças necessárias na educação para o que chamaram de multiletramentos. (ROJO; MOURA, 2019, p. 19) 

Em outro artigo publicado por esse grupo, os autores defendem que há uma  conexão entre o ambiente de mudanças sociais que professores e alunos vivenciam  e a abordagem dos multiletramentos. Nesse viés, eles afirmam que “a diversidade  cultural e linguística é uma ferramenta tão poderosa na sala de aula quanto uma  ferramenta social na formação de novos espaços cívicos e novos conceitos de  cidadania” (GRUPO NOVA LONDRES, 2021). É por esse motivo que a noção anterior, também chamada de letramento, precisou passar por muitas reformulações, uma vez que, segundo Oliveira e Szundy (2014), percebe-se que os elementos que  compõem os textos que circulam, principalmente, por meios digitais, apresentam  elementos que vão muito além dos modos verbal e visual – como é o caso do nosso  objeto de análise. E, assim, passamos a usar o conceito de multiletramentos

Diante disso, para Nascimento, Bezerra e Heberle (2011), devemos refletir  sobre necessidade de se incluir atividades que envolvam os multiletramentos nos  programas escolares e de se considerar o modo como outros recursos semióticos, além da linguagem verbal, se inter-relacionam em textos, visto que a realidade  vivenciada por nossos alunos na sociedade contemporânea exige ações imediatas, isto é, faz-se necessário viabilizar ações pedagógicas que estimulem o  desenvolvimento da competência comunicativa multimodal. 

Diante disso, pensando em uma proposta que contemple essas noções,  pretendemos analisar a construção de significados de três signos extraídos de nosso  objeto na terceira parte deste trabalho. Passemos a compreender, portanto, a base  teórica de aplicação que usamos para desenvolver a análise dos signos de Death  Note e quais contribuições esse estudo pode gerar na contemporaneidade sobre o uso dos diversos tipos de linguagem. 

Semiótica aplicada ao ensino de Língua Portuguesa 

Falar de Semiótica, como explica Santaella (2005) em O que é Semiótica,  requer compreender o que vem a ser signo. A autora, com base nos estudos de  Charles Sanders Peirce (2005, p. 58), esclarece que o signo “é uma coisa que  representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se  carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele”. A  Semiótica seria, portanto, “a teoria de todos os tipos de signos, códigos, sinais e  linguagens”. “A Semiótica é o campo de estudo que se dedica a elucidar aspectos  centrais da linguagem e da comunicação. Consequentemente, seu enfoque principal  recai sobre a noção de signo, seja ele linguístico ou não” (COSTA. DIAS, 2019, p. 8 apud Batista, 2021). A respeito do que o signo pode representar, Santaella diz: 

“Um signo intenta representar, em parte, pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira, determine naquela mente algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo, e da qual a causa mediata é o objeto, pode ser chamada de o Interpretante.” (SANTAELLA, 1983, p. 31 apud MOURA, 2020, p. 16) 

Tendo isso em mente, faz-se necessário enfatizar que o crescente estudo de  linguagem se deve exclusivamente ao surgimento de uma variedade enorme e cada  vez mais constante de outras linguagens além das verbais, que se constituem em  “sistemas sociais e históricos de representação no mundo” (SANTAELLA, 2005, p.  4). Para Batista (2021):

A importância dos estudos realizados por semioticistas como Peirce e  Santaella é muito grande, pois, conforme nos informam Lopes e Hernandes (2005), os conceitos de textos na atualidade extrapolam a ideia de composição verbal-visual (palavra-imagem), e as estratégias de leitura estão constantemente sendo reformuladas, pois sons, gestos, expressões faciais, layout, cor, volume, textura, entre outros, passaram a ser vistos  como elementos semióticos, ou seja, geradores de sentidos. 

Assim, a fim de que possamos entender esses conceitos de um modo prático,  passemos a detalhar como funciona o método de análise dos signos proposto por  Peirce (2000), a partir da monografia produzida por Moura (2020). 

Primeiridade, Secundidade e Terceiridade 

Segundo as explicações de Moura (2020, p. 15), ao que está de algum modo  e em qualquer sentido presente na mente, independentemente do que seja,  entende-se por fenômeno. Portanto, para Peirce, a descrição do que está em aberto  em nossa mente trata-se da Fenomenologia, e para concluir tal tarefa é preciso  desenvolver uma capacidade contemplativa, isto é, ver o que está diante dos olhos.  De mesmo modo, seria necessário desenvolver a capacidade de distinguir,  discriminar diferenças nessas observações e, por último, desenvolver a capacidade  de generalizar as observações em classes ou categorias mais abrangentes,  conforme veremos de modo prático na análise do nosso objeto. Tais capacidades  foram renomeadas pelo autor alguns anos depois como Primeiridade, Secundidade  e Terceiridade. 

Ainda segundo Moura (2020), e baseando-se nas explicações de Peirce  (2000), Primeiridade trata-se de uma consciência imediata tal qual é, tendo como  qualidade da consciência imediata uma impressão. Tomemos como exemplo o ato  de pesquisar por uma obra literária no site da Amazon. Ao encontrarmos um livro  qualquer sugerido pelo site, contemplamos, na imediaticidade da leitura, cores e formas daquele objeto, que se traduzem em uma impressão inicial, seja ela  agradável ou não e até mesmo neutra. 

Já na Secundidade, que atuaria como um segundo momento de  contemplação do leitor com o objeto, compreende-se o pensamento como matéria  da existência. Em outras palavras, é o que nos faz perceber que aquilo que está sendo observado é um livro literário e não outra coisa, configurando sua existência  no mundo.  

Por último, a Terceiridade é resultado das duas etapas anteriores,  correspondendo à representação e interpretação do objeto do mundo. Por meio  dessa categoria, podemos compreender, por exemplo, o que a obra representa  estando presente em uma estante virtual, o que ela representaria caso estivesse no  carrinho de compras, entre outras situações possíveis. 

Essas três categorias, conforme veremos posteriormente, nos darão base  para que consigamos compreender alguns signos e seus referidos objetos, ou seja,  aquilo que estão representando, considerando-se as diferentes perspectivas de  contemplação. Peirce precisou ser categórico ao descrever experiências minuciosas  pelas quais passamos diante do contato com os signos. Assim, não só podemos ser  capazes de percebê-los como também pensar sobre eles, usando-os, conforme  estamos fazendo neste exato momento. Cada palavra que está sendo digitada está  apta a representar alguma coisa, mas os sentidos só serão revelados se houver uma  capacidade contemplativa capaz de compreender e interpretar o que está sendo dito e dentro do contexto em que essas palavras estão sendo escritas. Reiteramos aqui,  portanto, a importância de nosso estudo para que os alunos consigam desenvolver essa capacidade e possam atingir a Terceiridade, considerado o nível mais profundo de contemplação, de modo que possam evitar compreensões superficiais dos textos  e signos que cerceiam suas vivências. 

Quali-signo, Sin-signo, Legi-signo 

Vinculadas às três categorias anteriores, Peirce descreveu quais  propriedades dão fundamento ao signo. A primeira, conforme vemos em Moura  (2020, p. 17) é chamada de Quali-signo e refere-se à qualidade, isto é, uma  sensação, e, portanto, está vincula à Primeiridade. Já Sin-signo, estando vinculada à  Secundidade, refere-se a algo existente na atualidade, como um objeto qualquer  (uma cadeira, por exemplo). Por último, Legi-signo, vinculada à Terceiridade,  consiste em um signo que “descreve inúmeros objetos havendo, portanto,  concordância sobre o que e como representa (como, por exemplo, considerar que  jogo é toda atividade cuja natureza ou finalidade é a diversão, sendo assim aceito e reconhecido por um grupo)” (MOURA, 2020, p. 18). Santaella também relaciona as  três categorias a todas as coisas: 

“Na base do signo, estão, como se pode ver, as três categorias fenomenológicas. Ora, essas três propriedades são comuns a todas as  coisas. Pela qualidade, tudo pode ser signo, pela existência, tudo é signo, e  pela lei, tudo deve ser signo. É por isso que tudo pode ser signo, sem deixar de ter suas outras propriedades.” (SANTAELLA, 2005, p. 12 apud MOURA,  2020, p. 18) 

Há uma outra tricotomia pertinente à análise do nosso objeto que diz respeito ao signo em relação ao objeto, nas palavras de Peirce. Estando ligado ao  fundamento de qualidade, ícone é um tipo de signo que faz relação com o objeto por  meio da representação por semelhança, “como seria o caso de um desenho de um  pássaro, assemelhando-se a ave” (MOURA, 2020, p. 18). Em outra situação, em que  o signo faz relação com o objeto segundo o fundamento da existência, ele atua um  índice, marcado pela representação através do rastro ou de uma indicação deixada,  como fumaça indica a presença do fogo ou uma pegada indica a existência de um  animal. “Por último, caso o signo faça relação com o objeto segundo o fundamento  de lei, ele será um símbolo, que é a representação convencionada culturalmente,  assim como uma pomba simboliza a paz ou uma cruz representa o Cristianismo”  (MOURA 2020, p. 18). 

Há uma terceira tricotomia deixada por Peirce, em que podemos analisar a  “relação do signo com o interpretante” (MOURA, 2020, p. 18) Para nós, entretanto, as duas tricotomias explicitadas são suficientes para elaborar extensas análises  acerca dos signos presentes na animação japonesa. 

Em suma, nossa pesquisa ganha importância no sentido de que, com base  nas explicações anteriores, podemos investigar quais recursos semióticos estão  presentes na criação do roteirista Tsugumi Ohba, além explorar o que representam,  como representam e que sentidos esses elementos criam no desenho para aqueles  que o assistem. Escolhemos atuar no campo da animação japonesa porque sua  popularidade tem aumentado significativamente entre os jovens do mundo todo e  isso se deve, em grande parte, à possibilidade ilimitada de criação de novos signos  dentro desses universos, como é o caso de jogos eletrônicos sobre a mesma  temática das animações ou mesmos personagens, festividades temáticas, criação  de fanfics, entre outras adaptações que definitivamente deveriam fazer parte das discussões em sala de aula. É por essa razão que os animes possuem uma  singularidade digna de ser investigada, uma vez que os diversos signos criados nas  animações são trazidos e recriados na realidade palpável desses jovens,  possibilitando a existência de novas representações no mundo e para o mundo. 

A ideia de que estão cercados por signos, no entanto, parece ainda não ser  uma realidade de muitos consumidores das animações japonesas. Aqui surge,  portanto, outro objetivo para o nosso trabalho, que é mostrar a esses jovens como  alguns desses elementos podem ser identificados e compreendidos, e mostrar como  isso poderá torná-los capazes de investigar com o mesmo olhar semiótico outros  textos multissemióticos. Além disso, é preciso fomentar a discussão desses textos  no ambiente escolar, que é justamente o local onde trabalhos com a linguagem  ganham importância pelo fato de possibilitar aos estudantes uma melhoria  significativa das suas capacidades de leitura e interpretação no mundo. Essa  perspectiva, por consequência, dá sentido à nossa pesquisa (MOURA, 2020). 

A relação entre a Semiótica e a compreensão de textos 

Ao propormos que a Semiótica efetua o desenvolvimento dos  multiletramentos, queremos dizer que uma profunda análise dos elementos sígnicos  de qualquer objeto torna possível ao analista observar qualquer outro objeto,  pertença ele a algo cotidiano ou do universo fictício, com a mesma profundidade.  Nesse sentido, e conforme afirma Moura (2020), a Semiótica pode ajudar toda e  qualquer pessoa que se propõe a ler os signos e compreendê-los numa perspectiva  mais abrangente, além de possibilitar a capacidade de produzir seus próprios signos  com o efeito e forma que desejar e de maneira mais eficiente. 

Isso ocorre, segundo a autora, porque as leituras ampliam nosso  entendimento dos textos, fornecem maior contato com outros tipos de linguagem e  ficam registrados na nossa mente de modo que possamos internalizar suas  propriedades e utilizá-las quando for preciso. Assim, a pessoa que se propõe a  praticar esse tipo de atividade poderá analisar, sobretudo criticamente, todas as  outras produções de linguagem, resultando em possíveis intervenções no mundo,  como, por exemplo, atribuir novos sentidos, adaptar produções e dialogar com a  própria realidade.

Para facilitar esse processo é preciso pensar em linguagem, conforme o  próprio Peirce buscava afirmar, como uma teia lógica unida por semelhanças,  diferenças e interconexões que dão sentido, por fim, às coisas (MOURA, 2020, p.  23). A respeito dessa relação, Nara Maria Fiel de Quevedo Sgarbi traz em seu artigo  um comentário de Arlindo Machado, da PUC-SP: 

“As três matrizes básicas do signo – o ícone, o índice e o símbolo estão presentes em todos os níveis da classificação das linguagens, dessa maneira nos permitem olhar para o imenso e aparentemente caótico labirinto das linguagens como uma rede absolutamente lógica de diferenças, similitudes e interconexões.” (MACHADO apud FIEL, 2006, p. 1,  apud MOURA, 2020, p. 23) 

Ao aprofundarmos nessas três matrizes, conforme vimos também com as  outras categorias, é possível alcançar níveis mais profundos de compreensão de textos. Isso porque ao assumir o olhar de um semioticista, o leitor ou intérprete  passa a tratar de modo automático e quase que inconsciente a busca por recursos  em suas leituras que provocam efeitos e dão sentido ao texto (MOURA, 2020, p. 24) A efetuação dessa atividade, por fim, servirá de prática para o desenvolvimento  dessa e de novas habilidades, gerando, portanto, competências às práticas de  multiletramentos. 

A multiplicidade de linguagens produzidas a partir de Death Note 

Diante de uma quantidade enorme de signos produzidos todos os dias, assim  como outras formas de linguagem, torna-se imprescindível que na  contemporaneidade repensemos o ensino de modo que os estudantes se tornem  aptos a lidar com todas essas informações. Mais importante que isso, é preciso que  professores e alunos se tornem multiletrados no mundo em que vivem. 

Diante de uma quantidade enorme de signos produzidos todos os dias, assim  como outras formas de linguagem, torna-se imprescindível que na  contemporaneidade repensemos o ensino de modo que os estudantes se tornem  aptos a lidar com todas essas informações. Mais importante que isso, é preciso que  professores e alunos se tornem multiletrados no mundo em que vivem, uma vez que  há uma demanda cada vez mais acentuada por abordagens que englobam signos  novos surgidos nas criações contemporâneas. A exemplo disso, Moura (2020, p. 25) menciona a popularização dos eventos de cultura pop/geek no Brasil após o  sucesso das animações como Death Note

farei menção a um conhecido evento entre os jovens que assistem e leem  os desenhos japoneses: os festivais de anime. Para quem não conhece, são eventos de cultura pop/geek, destinados ao comércio e à cultura de  tudo que for relacionado ao universo anime, geek, cultura pop japonesa e  afins. Nesses ambientes, é comum notar as formas de representação por meio cosplays, venda de objetos, camisetas com estampas, bijuterias, entre outros produtos próprios de quem conhece ou se identifica com os  universos que costumam assistir, ler, ouvir e jogar. Ora, se para os jovens os eventos significam estar mais próximos a algo palpável do tipo de conteúdo que consomem, e se nestes locais encontram sentido para estarem usando tais figurinos, fazerem encenações e dublagens próprias  dos personagens que admiram ou julgam ter personalidades e estilos semelhantes aos seus, mais sentidos estão sendo criados e, mais ainda,  sendo recriados, desde que são trazidos para a realidade e cotidiano desse  público. 

Sendo assim, é importante que os professores percebam a necessidade de  trazer esses recursos para a sala de aula e incentivem o estudo desse universo  como uma forma de fomentar a leitura crítica. 

Como modelo que pretendemos deixar aos professores, a análise que seguirá  o próximo item compreende quatro elementos sígnicos – signos – extraídos da obra  criada pelo escritor japonês, Ohba, que serão analisados por meio da mesma linha  de pesquisa adotada por Moura (2020) em sua monografia e Santaella, em sua  Semiótica Aplicada (2002), ambas seguindo os princípios e as tricotomias da  Semiótica de Peirce (2000), uma vez que estes foram devidamente discutidos  anteriormente.  

A escolha do objeto, conforme esclarecemos, tem como principal razão os diversos recursos semióticos presentes em Death Note e que são trazidos para  outros contextos em nosso mundo, fazendo surgir novos recursos semióticos, isto é,  novas formas de linguagem (MOURA, 2020). Pretendemos, portanto, contribuir com  o ensino e fazer com que o grande número de telespectadores da animação, caso  entre em contato com nosso trabalho, se interesse pela busca desses e de outros  elementos, possibilitando experiências que desenvolvam a habilidade de analisar  com a mesma profundidade outros tipos de textos (MOURA, 2020). Esperamos, por  fim, que todas as representações captadas sejam suficientes para que professores e  alunos se sintam motivados a continuar com as leituras semióticas.

Death Note 

Ao entrarmos em contato com o signo “caderno”, traduzido do inglês “note”,  uma possível primeira impressão, isto é, o que vem primeiro à mente – contemplação da Primeiridade – é a imagem de um caderno qualquer, de nossos  mundos. Quando vemos a representação do caderno na animação, entretanto,  notamos que algumas características o diferenciam dos outros cadernos – contemplação da Secundidade –, conforme podemos ver na Figura 1, a seguir: 

Figura 1: Caderno de Light Yagami 

Fonte: <https://www.jbox.com.br/2022/06/09/death-note-serie-ganha-canal 24h-na-plutotv/> Acesso em 13. Jul. 2022. 

Em primeiro lugar, trata-se de um caderno de cor preta com as seguintes  inscrições na capa: “Death Note”, que significa “caderno da morte”. O caderno, entretanto, não é usado pelo personagem como um objeto destinado a anotações. É  pela terceira experiência com esse signo (Terceiridade), que compreendemos sua  função para o contexto fictício. Na contracapa, o personagem encontra algumas  orientações escritas pelo dono do caderno, um shinigami, as quais indicam que o  nome da pessoa que for escrito no caderno, morrerá. Sendo assim, é preciso juntar  todas essas informações para compreender o signo

Para além dessa representação, a indústria criou réplicas do caderno, que  são vendidas em feiras de anime e em sites de compras online. Sendo assim, a indústria recriou esse mesmo signo, mas atribuiu-lhe um novo sentido, desta vez, voltado ao lucro com o item, contemplando-se a visão capitalista. De mesmo modo,  o caderno pode ser usado em outros contextos, como em peças teatrais, fazendo-se  o uso da intertextualidade com a animação para atribuir novos sentidos ao caderno. 

Como vemos, as reflexões materializadas pela Primeiridade, Secundidade e  Terceiridade rendem discussões bastante pertinentes em sala de aula, uma vez que  esse tipo de abordagem poderia alertar os alunos a respeito da existência de uma  visão capitalista para a venda desses produtos, por exemplo, ou mesmo abriria  portas para novas possibilidades de uso desse signo, o que também é um de nossos  objetivos. 

Além disso, como Death Note também envolve a temática de investigação  policial, um jogo eletrônico foi desenvolvido e publicado pela Konami para Nintendo  DS, como prova concreta que ilustra como a multiplicidade de linguagens são  capazes de criar novos signos e atribuir-lhes novos significados. 

Maçã 

Uma maçã pode ser um simples alimento ou até representar uma empresa  multinacional norte-americana, como é o caso da “Apple”. Neste caso, a figura da  marca assemelha-se ao objeto que intenta representar e trata-se, portanto, de um  ícone. De outro modo, quando a fruta é inserida em Death Note, devemos considerar  a possibilidade de que ela irá representar uma outra coisa. Para os telespectadores  que não estiverem atentos à simbologia, é possível que a maçã não represente algo  fora do comum. Todavia, o leitor crítico observa os possíveis sentidos que podem  estar sendo trabalhados de modo implícito na animação. 

Logo nas cenas de abertura, assim como em diversas cenas envolvendo o  shinigami Ryuk, a maçã está presente. Segundo algumas crendices populares, a  maçã estaria ligada à tentação, ao fruto proibido e amaldiçoado. Para os povos  germânicos, a maçã é o símbolo da imortalidade. Para os antigos gregos,  a maçã era considerada o símbolo do amor. Portanto, aqui conseguimos descrever  como os símbolos se formam, pois todas essas representações atribuídas foram  convencionadas culturalmente, conforme vimos em Peirce (2000). 

Em se tratando da fruta, há dois tipos de maçãs que aparecem na animação.  Uma no mundo dos humanos, que se apresenta de forma suculenta e saborosa, e outra no mundo dos shinigamis, sem cor e cujo sabor foi descrito por um dos  personagens como “gosto de areia”. A aparência da fruta influi decisivamente no  sentido que se atribui a ela, uma vez que a humanidade, como vemos em Death  Note, é cheia de tentações, como foi quando o protagonista obteve em suas mãos, por meio de um “caderno da morte”, o poder de decidir o destino de toda a  humanidade, que era o que ele mais almejava. Sendo assim, as lacunas vão sendo  preenchidas pelo que Peirce (2000) descreve como uma “teia lógica de signos e  significados.” 

Além do caráter de símbolo da maçã, um tipo de índice pode ser relacionado  a esse signo. Como dissemos anteriormente, um índice é definido pelo rastro  deixado, o que indica a presença do objeto. Em algumas cenas, o shinigami come  as maçãs que o protagonista lhe oferece, deixando apenas o cabinho da fruta ou o  sinal de sua mordida, conforme podemos observar na figura 2: 

Figura 2: Mordida como caráter de índice 

Fonte: <https://aminoapps.com/c/academiakuoh/page/item/ryuuki shinigami/Kn3B_keFKI0xVx4EKXljWXBW44lQXwZmxYum> Acesso em: 13 de jul.  2022.

Cenário 

Muito se pode apreender da iluminação e do sombreamento de filmes e séries, portanto, não seria diferente com o anime em estudo. Sendo um signo  correspondente da Primeiridade, a iluminação pode ser evidenciada nas cenas que  envolvem maior movimentação dos personagens, isto é, mais ação. Por outro lado, o  uso do sombreamento pode revelar maior tensão, que serve para atribuir um ar mais  sombrio e pessimista à cena, conforme vemos na figura 3, a seguir: 

Figura 3: Cena em que ocorre o sombreamento 

Fonte: < https://cadernodamorte.fandom.com/pt-br/wiki/L_Lawliet> Acesso em:  13 jul. 2022. 

Para Moura (2020), cabe acrescentar que esses signos, como havia notado  Santaella (2002), “intentam representar, em parte, pelo menos, um objeto que é,  portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo.” No caso da  iluminação e do sombreamento, os signos também podem representar “heroísmo, a  reviravolta, o medo, a angústia”, o que revela uma outra função para o signo, que é  a potencialização dos efeitos de sentido gerados na mente do telespectador.

É por esse motivo, ainda segundo Moura (2020), que aspectos como  iluminação e sombra podem ser explorados em diversas produções textuais.  Santaella (2002) mostra como a iluminação é capaz de evidenciar um produto de um  anúncio, por exemplo, e potencializar o sentido atribuído à “limpeza”, no caso dos  anúncios de materiais de limpeza. A sombra também pode ser usada em certos  pontos do anúncio, buscando trazer a sensação de profundidade, ou mesmo a  sensação de que o leitor está dentro do anúncio.  

Moura (2020) acrescenta que os alunos do curso de Computação e/ou  Sistemas de Informação estão frequentemente lidando com trabalhos de elaboração  de um programa, sites, aplicativos, entre outros, e que poderiam fazer uso das técnicas de iluminação e sombreamento para criar interfaces de programas.  

Em outras produções visuais, como é o caso de a produção independente de  uma animação, desenho ou anúncio, o mesmo poderia ser feito com o fito de  provocar sensações no leitor. “Além desses exemplos, produções escritas que  trabalham com o campo imagético e a criação de cenários também podem se  apropriar de elementos da Primeiridade e Secundidade a fim de vincular sentidos e  sensações a essas imagens criadas” (MOURA, 2020, p. 66). 

Ressaltamos, portanto, que esse estudo seria muito produtivo caso as  escolas incentivassem o estudo e uso dos signos de modo que eles possam atuar  efetivamente nas produções de outras áreas do conhecimento.  

Considerações finais 

Apesar de não termos explorado todos os recursos e símbolos existentes em  Death Note, esperamos ter contribuído para as práticas escolares através de nossa  discussão teórico-propositiva, pois, conforme Moura (2020) diante de uma crescente  discussão sobre a inserção de multiletramentos nas escolas, fica evidente a  necessidade de estimular análises que compreendam os textos em um nível bem  mais profundo. Apesar de os animes por serem mais populares entre o público  jovem no Brasil, é preciso que sejam explorados em sala de aula. Por esse motivo,  esperamos que as discussões propostas e a breve análise possam motivar outros professores a realizar atividades de análise como essa em sala de aula.

Além disso, qualquer que seja o texto, a Semiótica pode atuar como teoria  para embasar a análise, pois, como vimos, descreve experiências primárias,  secundárias e terciárias ao nos depararmos com um signo. Tendo isso em mente,  “representações e interpretações mais válidas podem ser captadas pelos alunos que  estão em constante contato com signos nas escolas e no mundo” (MOURA, 2020), possibilitando-os desenvolver a compreensão de textos. Portanto, “as leituras, em  seu mais amplo sentido, tornam-se facilmente apreendidas, sobretudo, com a prática  constante dessas análises” (MOURA, 2020). 

Referências 

BATISTA, Joana D’Arc da Penha. Semiótica aplicada ao ensino de língua  portuguesa. Disponível em: <https://anhembi.blackboard.com/webapps/late course_content_soapBBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_666474_> Acesso  em: 11 jul. 2022. 

CASCARELI, C. V.; RIBEIRO, A. E. (org.). Letramento digital: aspectos sociais e  possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2014. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/36662>. Acesso em: 11 jul. 2022. 

GRUPO NOVA LONDRES. Uma Pedagogia dos Multiletramentos: Projetando  Futuros Sociais. Tradução de Deise Nancy de Morais, Gabriela Claudino Grande,  Rafaela Salemme Bolsarin Biazotti, Roziane Keila Grando. Revista Linguagem em  Foco, v.13, n.2, 2021. p. 101-145. Disponível em: <https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/5578> Acesso em  jul. 2022.  

MOURA, Maria Alvina Ferreira de. Semiótica Aplicada: algumas formas de  representação no mundo ninja. Orientadora: Edilene Maria de Oliveira. 2020. 85 f.  TCC (Graduação) – Curso de Letras, Formação de Professores e Humanidades, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2021. 

NASCIMENTO, R. G.; BEZERRA, S. A.; HEBERLE, V. M. Multiletramentos:  iniciação à análise de imagens. Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n.2, p. 529-552,  jul./dez. 2011. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15403. Acesso em: 13  jul. 2022. 

OLIVEIRA, M. B. F.; SZUNDY, P. T. C. Práticas de multiletramentos na escola:  por uma educação responsiva à contemporaneidade. Revista Bakhtiniana, São  Paulo, p. 184-205, 2014. Disponível em:  https://www.scielo.br/pdf/bak/v9n2/a12v9n2.pdf. Acesso em: 12 jul. 2022. 

PEIRCE, Charles. S. Semiótica. São Paulo: 3ª ed., Perspectiva, 2000. 

ROJO e MOURA. Letramentos. In:______. Letramentos, mídias, linguagens. São  Paulo: Parábola, 2019. p. 11-27. Digitalizado. 

SANTAELLA, L. O que é Semiótica? São Paulo: Brasiliense, 2005. 

SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2002.


1Universidade Federal de Goiás – GO

2Universidade Federal de Goiás – GO