Seeds of Trema micrantha (L.) Blume (Crindiúva) subjected to heating and in different substrates, for the purpose of recovering degraded spring areas
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412092335
Paulo Rogério Soares de Oliveira1
Rodrigo de Freitas Amorim2
Brisa Alves Soares de Oliveira3
Ricardo de Oliveira Gaspar4
Silvio Braz de Sousa5
RESUMO
A recuperação de áreas degradadas por meio do uso de espécies nativas é uma estratégia fundamental para promover a conservação ambiental e o equilíbrio dos ecossistemas. A Trema micranta uma espécie pioneira, com grande potencial para ocupação de terrenos degradados, a exemplo das áreas de nascentes que são objeto das ações do “Projeto Nascentes: Recuperação de nascentes e segurança hídrica em bacias estratégicas para o abastecimento urbano e industrial no Nordeste do Brasil”, e pode ser utilizada tanto na produção e plantio de mudas, como na semeadura direta. O Objetivo foi avaliar a germinação de sementes de Trema Micrantha em dois diferentes substratos (areia e terra vegetal), com a ausência e a presença de tratamento térmico nas sementes (imersão por 1 minuto em água à 50°C). Os dados apresentaram distribuição normal e com homogeneidade de variância. Não houve diferença significativa do tratamento das sementes de Trema micrantha em 1 minuto na água a 50°C. Para este caso, o substrato mostrou ter maior influência na germinação. Como os melhores valores de obtenção de plântulas foi observado na terra vegetal, recomenda-se que para a recuperação de áreas degradadas, ocorrendo via produção das mudas e posterior plantio, ou pela semeadura direta, o teor de matéria orgânica seja considerado, pois favorece o teor de umidade.
Palavras-chave: germinação, recuperação de nascentes, área degradada
SUMMARY
The recovery of degraded areas through the use of native species is a fundamental strategy to promote environmental conservation and ecosystem balance. Trema micranta is a pioneering species, with great potential for occupying degraded land, such as the spring areas that are the object of the actions of the “Springs Project: Recovery of springs and water security in strategic basins for urban and industrial supply in the Northeast of Brazil”, and can be used both in the production and planting of seedlings, and in direct sowing. The objective was to evaluate the germination of Trema Micrantha seeds in two different substrates (sand and vegetable land), with the absence and presence of heat treatment on the seeds (immersion for 1 minute in water at 50°C). The data presented a normal distribution and homogeneity of variance. There was no significant difference in the treatment of Trema micrantha seeds in 1 minute in water at 50°C. In this case, the substrate proved to have a greater influence on germination. As the best values for obtaining seedlings were observed in vegetable land, it is recommended that for the recovery of degraded areas, occurring via the production of seedlings and subsequent planting, or by direct sowing, the organic matter content be considered, as it favors the level of humidity.
Keywords: germination, recovery of springs, degraded area
INTRODUÇÃO
Uma área degradada é aquela em que foram afetadas suas propriedades ambientais, tanto bióticas como abióticas. A recuperação de áreas degradadas por meio do uso de espécies nativas é uma estratégia fundamental para promover a conservação ambiental e o equilíbrio dos ecossistemas.
Nas áreas de nascentes que apresentam algum grau de degradação, há potencial para ocorrer processos que podem ocasionar uma menor disponibilidade de água. A questão da escassez hídrica tem despertado preocupações e estimulado novas discussões em âmbito mundial, pois os impactos ambientais sobre os recursos hídricos comprometem a sua disponibilidade para os diversos usos, em especial para o consumo direto.
Segundo Valente (2011), o problema da escassez hídrica segue em um crescente em diversas regiões brasileiras, já que ocorre um grande desperdício e irracionalidade no consumo.
Com foco na recuperação de áreas de nascentes, verifica-se que as plantas auxiliam no processo de recuperação de áreas degradadas, neutralizando processos erosivos, recobrindo o solo, facilitando a infiltração de água e contribuindo para a recarga do lençol freático (ALMEIDA, 2017).
Nessa abordagem, dentre outras práticas, ocorre a reintrodução de plantas nativas em áreas que foram prejudicadas por atividades humanas, como desmatamento, agricultura intensiva ou extração mineral. Segundo EA (2024), o plantio de árvores realizado com mudas de espécies nativas garante altos índices de crescimento. Como uma série delas estão ameaçadas de extinção, ao reintroduzi-las nessas áreas em processo de degradação ocorre também um grande favorecimento para sua conservação e preservação genética.
Há também o uso da semeadura direta, que é uma técnica de plantio que pode ser usada para recuperar áreas degradadas, como nascentes, e tem respaldo científico nacional e internacional (BONILLA-MOHENO e HOLL, 2010). A semeadura direta para recuperação florestal pode ser viável quando se conhece os aspectos ecológicos e silviculturais das espécies (Ferreira et al. 2007). Trata-se de uma técnica de plantio que consiste em colocar sementes diretamente no solo, sem revolvê-lo, para recuperar áreas degradadas e restaurar a vegetação nativa
A Trema micrantha é considerada uma espécie pioneira, semidecídua (com perda parcial das folhas), com altura que pode variar de 4 a 20 m e diâmetro à altura do peito de 20 a 40 cm (LORENZI, 1998; CARVALHO, 2003; BACKES et al., 2004). Sendo uma espécie pioneira, com grande potencial para ocupação de terrenos degradados ocorreu a motivação para aplicar um tratamento para potencializar a porcentagem de germinação da mesma e ter maior sucesso, tanto na produção e plantio de mudas, como na semeadura direta.
Em ambas as situações na produção de plantas de Trema micrantha, o interesse em particular foi seu aproveitamento no sentido de favorecer as ações no “Projeto Nascentes: Recuperação de nascentes e segurança hídrica em bacias estratégicas para o abastecimento urbano e industrial no Nordeste do Brasil”, citado por Amorim et al. (2023), e que visa implementar ações de recuperação em áreas de nascentes com algum grau de degradação.
Assim, neste trabalho foi observada a germinação de sementes de Crindíuva (Trema micrantha) em areia e em terra vegetal, submetidas à imersão por 1 minuto em água à 50°C, e cujos resultados podem ser destinados para obter plantas com potencial uso na recuperação de áreas degradadas, em especial nas áreas de nascentes, seja pela produção de mudas para plantio, ou pela semeadura direta.
OBJETIVO
Avaliar a germinação de sementes de Trema Micrantha em 2 diferentes substratos (areia e terra vegetal), com a ausência e presença de tratamento térmico nas sementes (imersão por 1 minuto em água à 50°C).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Área de Produção Vegetal II, em seu viveiro de mudas multiuso, localizado na Escola Agrícola de Jundiaí, conhecida como Campus Macaíba da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EAJ-UFRN).
Foi utilizada a espécie Trema micrantha, que é uma ótima opção de espécie para recuperação de áreas degradadas. Como indica IBF (2020), trata-se de uma árvore nativa brasileira, pertencente ao gênero Trema. Segundo Carvalho (2003) e Lubke et al. (2021), é popularmente também conhecida por pau-pólvora, periquiteiro, candiúva, candiúba, taleira, motamba, gurindiba, crindiúva, curindiba ou seriúva. E pertencente à família Cannabaceae.
As sementes foram coletadas de uma única árvore no mês de março de 2024, no município de Natal – RN. Todas as sementes estavam maduras, apresentando coloração avermelhada (conforme Figura 1). A semeadura ocorreu também em março de 2024.
As sementes foram todas despolpadas (Figura 2), sendo que uma parte passou por tratamento térmico com imersão por 1 minuto em água à 50°C e a outra parte não recebeu o tratamento térmico.
Figura 1 – Sementes coletadas de Trema micrantha
Figura 2 – Sementes de Trema micrantha despolpadas
O substrato variou em areia lavada e terra vegetal. Foi utilizada uma bandeja de isopor para semeadura, onde foram semeadas 7 sementes por célula, totalizando 112 sementes plantadas em 16 células de plantio.
O experimento foi montado conforme o DIC (delineamento inteiramente casualizado) e o sorteio para os diferentes tratamentos foi feito em planilha eletrônica, utilizando o comando “aleatório entre” 1 e 4 sendo que foram montadas 4 repetições para cada tratamento (Figura 3 e Figura 4). São eles:
T1 – Tratamento térmico (semente em água a 50°C por 1 min) e plantio na areia
T2 – Tratamento térmico (semente em água a 50°C por 1 min) e plantio na terra vegetal
T3 – sem tratamento térmico e plantio na areia
T4 – sem tratamento térmico e plantio na terra vegetal
Para evitar que as sementes fossem arrancadas de suas células de plantio pela força da água de irrigação, o experimento foi regularmente irrigado de forma manual, com o uso de spray em névoa. Os resultados foram coletados após 80 dias de instalação do DIC, sendo verificada a quantidade de sementes que germinaram por tratamento. A formação de plântulas foi o critério escolhido para a contagem das sementes que germinaram. Os dados obtidos foram processados no software Statsoft (2004).
Figura 3 – Montagem do DIC (delineamento inteiramente casualizado).
Figura 4 – Esquema da distribuição dos tratamentos no DIC (delineamento inteiramente casualizado).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observada a germinação epígea com plântulas cujos cotilédones são expostos ao ambiente, ou seja, fanerocotiledonares, como identificado por Silva et al. (2020). A germinação começou a ocorrer com 17 dias após a instalação do experimento e durou mais 55 dias após ter iniciada a germinação, o que se aproxima muito das observações de Lubke (2016). Como observado na Tabela 1, houve considerável quantidade de sementes que, dentro do prazo do experimento (80 dias), não germinaram.
A esse fato, Castellani et al., (1997) apontam que a germinação pode se iniciar a partir de 12 dias e se estender até 180 dias. Assim, é possível que houvesse uma maior porcentagem de germinação caso o experimento se estendesse. De modo geral foi possível observar, com o resultado das repetições por tratamento, que as maiores taxas de germinação ocorreram para o tratamento 2.
Na Tabela 1 abaixo é possível observar as quantidades de sementes germinadas para cada tratamento, com todas as repetições agrupadas:
Tabela 1 – Quantidades e porcentagem de germinação em sementes de Trema micrantha, conforme os tratamentos.
Para os resultados obtidos sobre as porcentagens totais de germinação por tratamento realizado, foram aplicados os teste de Kolmorov-Smirnov, o teste de Lilliefors e o teste de Shapiro Wilk. Tomando-se por base um nível de significância de 0,05, constatou-se que todos os testes indicaram que ocorre uma distribuição normal. No teste de Shapiro Wilk o valor de p= 0,111630 e valor de p em Lilliefors e Kolmorov foi > 0.20 (Tabela 2).
Tabela 2 – Resultados dos testes de normalidade para a germinação de sementes de Trema micrantha, conforme os tratamentos.
Da mesma forma, os resultados de germinação, por célula de plantio e por tratamento, agora mostrando o resultado por repetição, são descritos na Tabela 3:
Tabela 3 – porcentagens de germinação por tratamento e por repetição, para as sementes de Trema micrantha
Nessa forma de visualização, por célula de plantio e por repetição de cada tratamento, foram novamente aplicados os teste de Kolmorov-Smirnov, o teste de Lilliefors e teste de Shapiro Wilk. Em todos eles, constatou-se que possuem distribuição normal, conforme Tabela 4.
Tabela 4 – Resultados dos testes de normalidade para a germinação de sementes de Trema micrantha, conforme os tratamentos e por repetição.
Atendido o primeiro pressuposto, foi então realizado o teste de homoscedasticidade nos dados, através do teste de Cochran. Conforme a Tabela 5, é possível observar que existe homogeneidade entre as variâncias.
Tabela 5 – Resultados dos testes de normalidade para a germinação de sementes de Trema micrantha, conforme os tratamentos e por repetição.
Foi verificado, pela aplicação do Teste F, que pelo menos um dos tratamentos se mostrou diferentes dos demais, conforme observado na Tabela 6 abaixo:
Tabela 6 – Resultado do teste F na análise da porcentagem de germinação de sementes de Trema micrantha, conforme os tratamentos e por repetição.
Por fim, foi realizado o Teste de Tukey, para verificar se houve diferença significativa entre os tratamentos, ou seja, se a imersão em água teve efeito. Na Tabela 7 é possível observar que tal influência não ocorreu, mostrando que houve maior influência do substrato utilizado do que pela imersão em água quente a 50°C por 1 minuto, já que para um mesmo substrato, com e sem imersão em água quente, os valores não se mostraram com diferença significativa.
Tabela 7 – Resultado do teste de Tukey (alfa =0,05), na análise da germinação de sementes de Trema micrantha, conforme os tratamentos e por repetição.
A germinação pode ser influenciada pelo substrato, pois fatores como aeração, estrutura, capacidade de retenção de água, grau de infestação de patógenos, entre outros, podem variar de acordo com o material utilizado, favorecendo ou prejudicando a germinação das sementes (WAGNER JR. et al., 2006). Conforme observado por Floriano (2004) e IPEF (1997) para tempos maiores das sementes em imersão na água a 50°C (5 minutos), há melhores desempenhos na germinação.
Percebe-se que não houve diferença significativa no tratamento das sementes de Trema micrantha imersas por em 1 minuto na água a 50°C. Para este caso, o substrato mostrou ter maior influência na germinação.
Como os melhores valores de obtenção de plântulas foi observado na terra vegetal, recomenda-se que para a recuperação de áreas degradadas, ocorrendo via produção de mudas ou pela semeadura direta, a matéria orgânica seja considerada, pois favorece o teor de umidade.
CONCLUSÃO
Como os melhores valores de obtenção de plântulas foi observado na terra vegetal, recomenda-se que para a recuperação de áreas degradadas, ocorrendo via produção de mudas ou pela semeadura direta, a matéria orgânica seja considerada, pois favorece o teor de umidade.
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1Docente do curso Eng. Florestal EAJ – UFRN
2Docente do curso Geografia – UFRN
3Graduanda Eng. Florestal UFRN – Bolsista do projeto Nascentes
4Docente do curso Eng. Florestal – UnB
5 Docente do curso Geografia – UFRN