SAÚDE MENTAL DOS PACIENTES ONCOLÓGICOS

MENTAL HEALTH OF CANCER PATIENTS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11397578


Cássia Regina De Oliveira Leal; Marcela Orlando Nunes; Millene Ibiapino Coelho Moura; Teruã Borges de Oliveira


RESUMO: Introdução: No contexto biopsicossocial, o doente com câncer se depara com desafios, como a evolução da doença, os tratamentos dolorosos, a dependência de terceiros para a realização dos seus cuidados pessoais, dentre outros, que podem causar grande sofrimento psicológico ao indivíduo, sendo manifestado por meio de incertezas, medo, ansiedade e depressão. Objetivos: Analisar a condição de saúde mental de pacientes oncológicos, assim como descrever os principais fatores determinantes de saúde mental  em pacientes com câncer e analisar as desordens mentais que mais acometem  pacientes oncológicos, e as terapêuticas disponíveis. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. Foram identificadas 213 publicações potencialmente elegíveis para participarem do presente estudo, sendo excluídos 133 artigos por estarem fora dos últimos cinco anos, 9 por serem revisão de literatura, 57 por não abordarem a temática e 3 artigos por estarem duplicados. Resultados: A amostra ficou composta por onze estudos que avaliaram a condição de saúde mental de pacientes oncológicos. Considerações Finais: Certifica-se que pacientes oncológicos apresentam prejuízo no bem-estar psicológico, destacando ansiedade e depressão. Devido a evolução do câncer, os pacientes não apresentam nenhuma perspectiva de cura, onde o impacto emocional é muito grande e, consequentemente, ocorre redução da qualidade de vida.

Palavras-chave: Câncer. Oncológico. Transtornos psiquiátricos. Saúde mental.

1 INTRODUÇÃO

O mundo contemporâneo vivencia uma tendência global de transição demográfica e epidemiológica. Esta mudança é ocasionada pelo envelhecimento da população e consequente aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), dentre as quais se destaca o câncer (Ladeira; Grincenkov, 2020).

O câncer é uma doença crônico-degenerativa não transmissível, registrada desde séculos antes de Cristo. Seu histórico está associado ao sofrimento e à morte (Corbo et al., 2020). Ainda conforme Corbo et al. (2020), atualmente os avanços no tratamento do câncer ajudam no aumento do tempo de vida dos pacientes e na melhora da qualidade de vida. Porém, mesmo com todos estes avanços ainda existem dificuldades em lidar com a doença devido à grande ameaça à vida, à integridade física e mental.

Segundo Cordeiro, Santos e Orlandi (2021), o câncer interfere no bem-estar psicológico dos pacientes, deixando-os angustiados ou deprimidos. Com a evolução da doença para estágios mais avançados, sem nenhuma perspectiva de cura, o impacto emocional ao paciente é muito grande.

Nessa mesma vertente, no contexto biopsicossocial, o doente se depara com desafios diversos, tais como a evolução da doença, os tratamentos dolorosos, a mudança em sua rotina e a dependência de terceiros para a realização dos seus cuidados pessoais (Corbo et al., 2020). Esses desafios, conforme os autores destacaram, podem causar grande sofrimento psicológico ao indivíduo, sendo manifestado por meio de incertezas, medo, ansiedade e depressão.

Oliveira et al (2018) complementam que os tratamentos oncológicos compreendem intervenções cirúrgicas, farmacológicas e a radioterapia. No entanto, mesmo com incontestáveis avanços terapêuticos, que fizeram reduzir significativamente os impactos deletérios na qualidade de vida de pacientes, ainda existem importantes efeitos decorrentes do próprio tratamento, da falta de apoio ou mesmo da condição de saúde enfrentada diariamente, que afetam negativamente aspectos mentais desses pacientes.

Nesse sentindo, é necessário compreender a problemática do câncer para além dos aspectos físicos somente. A saúde mental e o câncer são temáticas interligadas e precisam compor o conhecimento médico com objetivo de contribuir para uma abordagem mais integralizada desses doentes.

Assim, o objetivo desse estudo foi analisar a condição de saúde mental de pacientes oncológicos, assim como descrever os principais fatores determinantes de saúde mental  em pacientes com câncer e analisar as desordens mentais que mais acometem  pacientes oncológicos, e as terapêuticas disponíveis.

2 METODOLOGIA

O artigo propõe-se como uma revisão integrativa de literatura, em que se refere a um método que analisa e sintetiza as pesquisas de maneira sistematizada, e contribui para aprofundamento do tema investigado, e a partir dos estudos realizados separadamente e possível construir uma única conclusão, pois foram investigados problemas idênticos ou parecidos (Mendes et al., 2008).

Os critérios de inclusão foram artigos que abordam a saúde mental em pacientes oncológicos e outras informações específicas correlacionadas ao assunto; artigos publicados no período de 2019 a 2024; artigos em inglês, português ou espanhol disponíveis eletronicamente. 

Optou-se por esse recorte cronológico em razão de se buscarem análises mais atuais sobre o tema em questão. A questão norteadora do estudo foi: Qual é a condição da saúde mental de pacientes oncológicos? Os critérios de exclusão foram cartas, dissertações, monografias, manuais, resumos de congressos sobre a temática; artigos sem acesso ao texto na íntegra e artigos duplicados foram contabilizados apenas uma vez.

As referências utilizadas foram coletadas a partir das bases eletrônicas de dados: United States National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em virtude da qualidade apresentada nos trabalhos dessas plataformas, em língua portuguesa e inglesa, incluídas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e o Medical Subject Headings (MeSH), foram utilizadas nas seguintes combinações: “câncer”, “oncológico”, “transtornos psiquiátricos” “saúde mental” e seus equivalentes em inglês.

Em primeira análise, buscou-se um estudo para o entendimento do tema, identificando nas leituras uma abordagem relativa à condição de saúde mental de pacientes oncológicos. No segundo momento foi realizada uma busca nas principais plataformas acadêmicas disponíveis, PubMed eBVS, utilizando-se critério de inclusão artigos publicados no período de 2019 a 2024, que respondem à questão norteadora com textos gratuitos e disponíveis em inglês e português.

Os artigos analisados foram selecionados com base no título e no objetivo dos trabalhos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram escolhidos onze artigos para compor o material para a revisão bibliográfica. Em seguida, houve a leitura e debate crítico dos artigos selecionados, priorizando sempre o alinhamento com o presente trabalho científico.

Visto que os dados coletados nos artigos se tratam de informações públicas e de livre acesso, não foi necessária a submissão a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Como apresentado no fluxograma na Figura 1, inicialmente, foram identificadas 213 publicações potencialmente elegíveis para participarem do presente estudo. Foram excluídos 133 artigos por estarem fora dos últimos cinco anos, 9 por serem revisão de literatura, 57 por não abordarem a temática e 3 artigos por estarem duplicados.

Figura 1: Fluxograma do estudo.

Fonte: Autores (2024).

3 RESULTADOS

A amostra ficou composta por onze estudos que avaliaram a condição de saúde mental de pacientes oncológicos apresentados na Tabela 1, em ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo, com dados sobre autores, periódico, ano de publicação, amostra, principais achados e desfecho.

Tabela 1: Detalhamento dos artigos incluídos no estudo.

Autor (es)Objetivo do estudoNo de participantesResultados do estudoConclusões dos estudos
DEODHAR; SONKUSARE; GOSWAMI, 2024Avaliar a prevalência e fatores associados a transtornos psiquiátricos na saúde mental em idosos com câncer encaminhados a um serviço de psico-oncologia em um instituto indiano de atendimento terciário de câncer.763Um diagnóstico psiquiátrico atual foi observado em 556 pacientes (72,9%) na apresentação inicial, dos quais transtornos de ajustamento, delirium, depressão e transtornos de ansiedade foram mais frequentemente observados em 25,2%, 21% e 11,1%, respectivamente. Um histórico de transtornos psiquiátricos, menor malignidade hematolinfóide aumentou significativamente o risco de doença atual. diagnóstico psiquiátrico.Idosos com câncer encaminhados para serviços de psico-oncologia apresentam altas taxas de transtornos psiquiátricos na sua apresentação inicial, principalmente transtornos de ajustamento, delirium e depressão e ansiedade. Equipes multidisciplinares de psico-oncologia, incluindo um psiquiatra, devem ser integradas no cuidado integral deste grupo de pacientes.
VU et al., 2023Avaliar a prevalência e gravidade da sintomatologia de depressão e ansiedade, barreiras de acesso à saúde mental e correlatos de comprometimento funcional entre pacientes oncológicos internados.300Aproximadamente 46,3% e 27,0% apresentaram alguma sintomatologia de depressão e ansiedade, enquanto 8,0% e 3,0% apresentaram sintomas depressivos e ansiosos maiores, respectivamente. Relatos de melhor estado geral de saúde foram associados negativamente ao comprometimento funcional. Os pacientes relataram extensas barreiras percebidas para procurar atendimento psiquiátrico, incluindo não saber onde obter apoio de saúde mental (86,7%), querer administrar a saúde mental de forma independente (73,7%), pensar que a saúde mental se resolverá sozinha (73,7%) e negando preocupações de saúde mental (61,0%). A elevada frequência e gravidade da sintomatologia de depressão e ansiedade sublinham a importância da integração dos serviços de saúde mental nos protocolos de tratamento oncológico existentes. Aumentar a literatura em saúde mental e a oferta de psicoeducação é fundamental para enfrentar as barreiras ao acesso aos serviços de saúde mental. 
SHIN et al., 2022Identificar subgrupos de pacientes com piores perfis de dor distintos e avaliar as diferenças entre os subgrupos nas características demográficas e clínicas, bem como nos escores de estresse e sintomas1.305A pior intensidade da dor foi avaliada 6 vezes ao longo de 2 ciclos de quimioterapia usando uma escala numérica de 0 a 10. Os 371 pacientes (28,4%) que tiveram ≤1 ocorrência de dor nas 6 avaliações foram classificados na classe nenhuma. Para os restantes 934 pacientes cujos dados foram inseridos na análise do perfil latente, foram identificados 3 perfis distintos de pior dor (ou seja, Leve [12,5%], Moderada [28,6%], Grave [30,5%]). Ainda, níveis mais elevados de estresse geral, específico da doença e cumulativo, níveis mais baixos de resiliência, bem como níveis mais elevados de sintomas depressivos, ansiedade, fadiga, distúrbios do sono e disfunção cognitiva foram observados. A dor não aliviada continua sendo um problema significativo para pacientes oncológicos que recebem quimioterapia. Altos níveis de estresse e sintomas concomitantes contribuem para um perfil de dor mais intenso nesses pacientes.
VUCIC et al., 2021Pesquisar a associação do câncer com a presença de sintomas de depressão e ansiedade em pacientes da atenção primária à saúde.250A maior porcentagem de pacientes apresentou sintomas de depressão leve (27,2%) ou moderada (22%), enquanto 18% relataram sintomas de depressão. Todos os sujeitos foram caracterizados como pessoas com ansiedade grave. O nível de ansiedade foi maior nos entrevistados mais velhos, na presença de doenças de longa duração, com maiores limitações de atividades e dificuldades na realização das atividades diárias, com influência mais pronunciada da dor na realização das atividades e influência da mídia.O cuidado com a saúde mental dos pacientes oncológicos deve ocupar uma parte significativa da política nacional de saúde de cada país.
UNSELD et al., 2021Investigar a prevalência da dor e sua correlação com sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, ansiedade e sofrimento psicológico em pacientes com câncer.846Dos 846 pacientes com câncer incluídos no estudo, 63,5% sentiram dor. Cerca de um terço (31,2%) do total da amostra apresentou sintomas significativos de TEPT. Sintomas significativos de depressão, ansiedade e angústia estiveram presentes em 13,9%, 15,1% e 25,3%, respectivamente. As mulheres relataram com mais frequência sintomas de TEPT, ansiedade e angústia. Os resultados mostram uma elevada prevalência de dor sentida e indicam uma clara associação de níveis elevados de dor com sintomas psiquiátricos em pacientes oncológicos numa grande amostra austríaca. Para diminuir a dor sentida e permitir um melhor tratamento dos problemas de saúde mental em pacientes com câncer, é necessário intensificar os procedimentos de diagnóstico e as intervenções baseadas num modelo biopsicossocial.
KANG et al., 2020Identificar os fatores que estão associados a uma triagem positiva de sintomas depressivos avaliados pelo PHQ-8 em pacientes afro-americanos tratados para dor oncológica.121A idade média dos pacientes foi de 55,6 anos e quase 38% tiveram uma pontuação no PHQ-8> 10, indicando presença de sintomas depressivos moderados a graves. Os participantes com sintomas depressivos apresentaram médias significativamente maiores de ansiedade e interferência da dor no humor do que aqueles sem sintomas depressivos. Os fatores significativamente associados aos sintomas depressivos foram ansiedade, dor que interfere no humor e falta de envolvimento com uma congregação religiosa.As descobertas deste estudo ajudam a identificar pacientes com câncer em risco de depressão e demonstram a necessidade de aumentar o rastreamento da depressão nesta população carente.
MCFARLAND et al., 2020Alertar os médicos para a possibilidade e probabilidade de sintomas psicológicos adicionais e implicações de sobrevivência.116Fadiga, sono, dor e problemas respiratórios foram os mais comuns. A carga de sintomas físicos foi associada ao status de não casado/parceiro e à depressão na análise multivariada, representando 43% da variância da carga de sintomas físicos. Maior número de sintomas físicos e menor índice de massa corporal foram associados à piora da sobrevida. Os sintomas físicos individuais foram mais frequentemente associados à depressão.A carga de sintomas físicos detecta uma carga de sintomas físicos mal controlada entre pacientes com câncer e pode ser útil para determinar quem pode se beneficiar de um melhor gerenciamento dos sintomas. Os pacientes que notaram um grande grau de carga de sintomas físicos devem ser avaliados de perto quanto à depressão concomitante ou outros problemas psicológicos. Os pacientes solteiros/parceiros com depressão ou outros sintomas psicológicos devem ser acompanhados de perto para o manejo sintomático dos sintomas físicos.
NIAZI et al., 2020Avaliar o impacto das comorbidades psiquiátricas preexistentes no custo total dos cuidados durante 6 meses após o diagnóstico de câncer.6.598698 (10,6%) dos 6.598 pacientes elegíveis tinham pelo menos uma comorbidade psiquiátrica. Esses pacientes tinham mais comorbidades não psiquiátricas de Elixhauser (média 4 vs. 3). Modelos de regressão quantílica demonstraram que a comorbidade psiquiátrica teve efeitos incrementais significativos em níveis mais elevados de custo: 75º percentil $ 8.629.As comorbidades psiquiátricas estão associadas ao aumento dos custos totais do câncer, especialmente em pacientes com custos muito elevados de tratamento do câncer, representando uma oportunidade para desenvolver estratégias de mitigação.
PARÁS-BRAVO et al., 2020Aprofundar a compreensão do processo oncológico e da presença de sintomas de ansiedade, numa perspetiva de gênero.402Foram coletadas variáveis ​​psiquiátricas e sociodemográficas, bem como variáveis ​​de dor e informações referentes ao processo oncológico. As mulheres com câncer sofrem mais sintomas de ansiedade do que os homens com câncer. Mulheres com sintomas de ansiedade representaram 76,5% de todos os pacientes com ansiedade.Foi encontrada maior incidência de sintomas de ansiedade em pacientes com dor oncológica e em tratamento oncológico com terapia biológica. Os resultados sugerem que a perspectiva de gênero é necessária na gestão da saúde mental em pacientes com câncer.
TRUONG et al., 2019Determinar o nível de ansiedade em pacientes com câncer e explorar fatores sociodemográficos, relacionados à doença e à ansiedade nesses pacientes.510Os dados foram coletados de formulários de questionário autoaplicável sobre depressão, ansiedade-A hospitalar, entrevistas com pacientes e prontuários médicos dos pacientes. O escore médio de ansiedade dos pacientes foi de 7,22; 27,6% dos pacientes apresentaram escore de ansiedade entre 8 e 10 pontos e 15,5% apresentaram escore de ansiedade ≥11 pontos. em estágios mais avançados do câncer, os pacientes com metástase tinham maior probabilidade de apresentar níveis mais elevados de ansiedade do que aqueles que não apresentavam sinais de metástase. Quanto mais tempo os pacientes tinham câncer, menos ansiosos eles ficavam. Níveis mais baixos de ansiedade foram observados em pacientes que afirmaram que as instalações hospitalares eram adequadas ou que confiavam nos profissionais de saúde. Os pacientes com câncer precisam receber apoio psicológico na fase inicial da detecção do câncer e quando se formam metástases. Uma forte relação entre o paciente e o prestador de cuidados de saúde após o diagnóstico pode ajudar a reduzir o sofrimento entre os pacientes com câncer com níveis mais elevados de desconfiança médica.
HORSBOEL et al., 2019Investigar o risco de depressão entre as mulheres com câncer em comparação com mulheres sem histórico de câncer.155.721Há um risco aumentado de uso de antidepressivos entre mulheres tratadas para câncer de ovário, endometrial e cervical um ano após o diagnóstico. Este risco aumentado persistiu anos após o diagnóstico em todos os três grupos, com o maior risco (até oito anos) encontrado para o câncer do ovário. A doença avançada foi fortemente associada ao uso de antidepressivos, seguido de escolaridade curta e comorbidade.Mulheres diagnosticadas com câncer ginecológico apresentam um risco aumentado de depressão em comparação com mulheres de sem câncer. O risco permanece aumentado durante anos após o diagnóstico, durante e após o acompanhamento oncológico padrão. Doença avançada, escolaridade curta e comorbidade são fatores associados ao uso de antidepressivos neste grupo de pacientes.
Fonte: Autores (2024).

4 DISCUSSÃO

Pacientes com doenças oncológicas comumente possuem transtornos mentais, onde os sintomas depressivos e ansiosos são os mais frequentes. Os transtornos de saúde mental estão ligados diretamente à tristeza devido as perdas atuais e esperadas, ao medo de procedimentos diagnósticos e terapêuticos e ao medo do óbito. Ainda, os transtornos mentais são capazes de serem desenvolvidos a partir das doenças oncológicas e de sua vivência, sendo capaz de abranger e causar reduzida adesão aos tratamentos terapêuticos prescritos, piora da qualidade de vida e alta mortalidade (Vucic et al., 2021).

De acordo com Vu et al. (2023), cerca de 46,3% e 27,0% dos pacientes de seu estudo exibiram algum sintoma de depressão e ansiedade, no tempo em que 8,0% e 3,0% possuíram sintomas depressivos e ansiosos maiores, respectivamente. Parás-Bravo et al. (2020) e Horsboel et al. (2019) ressaltam que as pacientes do sexo feminino com câncer sofrem mais de ansiedade do que os homens com a doença ou mulheres de referência, representando 76,5% de todos os pacientes com esse sintoma (Parás-Bravo et al., 2020).

Apesar de a depressão ser conhecida como um preditivo de mortalidade no câncer, a apuração da depressão ainda apresenta limitação. Pacientes com câncer apresentam dores e isso pode prejudicar em sua capacidade de lidar com os sintomas depressivos. O fardo da depressão é capaz de aumentar as dificuldades e as discrepâncias de tratamento. Ainda, verifica-se que os pacientes possuem alta probabilidade de depressão durante o diagnóstico e em todo o tratamento. Além da dor, sintomas como inapetência e dispneia podem expandir o risco de depressão (Kang et al., 2020).

Corroborando, Shin et al. (2022) observaram níveis altos de estresse, característico do câncer, e níveis reduzidos de resiliência, além de níveis elevados de sintomas depressivos, fadiga, ansiedade, alterações do sono e disfunção cognitiva. 

Para McFarland et al. (2020), a carga de sintomas físicos pode variar com base no paciente, na patologia, na intervenção terapêutica e nas características clínicas correlacionadas, tais como presença de angústia, ansiedade ou depressão. Além disso, a presença de depressão ou ansiedade e os sintomas físicos necessitam de tratamento concomitante, a fim de desenvolver corretamente a carga dos sintomas físicos. 

Truong et al. (2019) ressaltam diversos fatores ligados à ansiedade nos pacientes com câncer, tais como dados sociodemográficos, estado funcional e apoio social. Os pacientes com estágios avançados da doença e com metástase apresentam maior probabilidade de níveis superiores de ansiedade do que aqueles que não possuem metástase. Além disso, os autores verificaram relação inversa entre o tempo da doença com a ansiedade. Verifica-se, assim, níveis reduzidos de ansiedade em pacientes que informaram adequadas instalações hospitalares ou experiências positivas dos profissionais de saúde.

Deodhar, Sonkusare & Goswami (2024) ressaltam que transtornos de ajustamento, delirium, depressão e transtornos de ansiedade foram mais comumente evidenciados em seu estudo. Além disso, obseva-se que as comorbidades psiquiátricas possuem associação quanto a ampliação dos custos totais do câncer, sobretudo os pacientes com altos custos de tratamento, caracterizando uma perspectiva no desenvolvimento de estratégias de mitigação (Niazi et al., 2020).

No estudo de Unseld et al. (2021), foi possível observar uma alta prevalência de dor, indicando clara ligação de elevados níveis de dor com sintomas psiquiátricos em pacientes oncológicos. Para reduzir a dor e permitir uma melhor terapêutica da saúde mental, o ideal é intensificar os procedimentos de diagnóstico e as intervenções de acordo com o modelo biopsicossocial.

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das evidências obtidas no presente estudo, certifica-se que pacientes oncológicos apresentam prejuízo no bem-estar psicológico, destacando ansiedade e depressão. Devido a evolução do câncer, observa-se que os pacientes não apresentam nenhuma perspectiva de cura, onde o impacto emocional é muito grande e, consequentemente, ocorre redução da qualidade de vida.

Desse modo,  espera-se que os resultados deste trabalho em associação a outros estudos científicos, possibilitam maior compreensão da saúde mental dos pacientes oncológicos. Logo, contribui para ações de tratamento, prevenção e controle orientados para os pacientes mais afetados.

REFERÊNCIAS

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