REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11426295
Andréia Aparecida Fávero
Orientador(a): Profa. Dra. Dabna Hellen Tomim
RESUMO
A atenção primária é considerada como porta de entrada para os demais níveis de atenção à saúde, contudo, os homens buscam principalmente os serviços especializados ou de urgência, principalmente quando já se encontram com alguma doença. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo identificar qual a procura aos serviços de saúde por homens e analisar as dificuldades, barreiras e resistências associadas à saúde do homem. Esta é uma revisão bibliográfica, de uma abordagem qualitativa e um caráter exploratório que combina principais produções científicas sobre o tema, baseadas especialmente ao acessar artigos. Os resultados demonstram que as principais dificuldades são fatores culturais, machismo, falta de conhecimento e o horário de atendimento das unidades de saúde. Ampliar o conhecimento sobre as dificuldades que o enfermeiro enfrenta para incluir o homem nas ações de saúde da atenção básica é de suma importância, pois esse profissional estando ciente das implicações estará preparado para superar as principais barreiras que distanciam esse público de ações preventivas e educativas de saúde. Conclui-se que a atuação do enfermeiro é fundamental para o trabalho de promoção à saúde e consequentemente conseguir uma maior adesão por parte dos homens aos serviços preventivos de saúde.
Palavras-chave: Saúde do Homem. Prevenção Primária. Centros de Saúde.
ABSTRACT
Primary care is considered the gateway to other levels of health care, however, men mainly seek specialized or emergency services, especially when they already have an illness. In this sense, this work aims to identify the demand for health services by men and analyze the difficulties, barriers and resistance associated with men’s health. This is a bibliographical review, with a qualitative approach and an exploratory nature that combines main scientific productions on the topic, based especially on accessing articles. The results demonstrate that the main difficulties are cultural factors, machismo, lack of knowledge and the opening hours of the health units. Expanding knowledge about the difficulties that nurses face in including men in primary care health actions is of paramount importance, as this professional, being aware of the implications, will be prepared to overcome the main barriers that distance this public from preventive and educational actions of health. It is concluded that the role of nurses is fundamental to the work of promoting health and consequently achieving greater adherence by men to preventive health services.
Keyword: Men’s Health. Primary Prevention. Health centers.
1 INTRODUÇÃO
No Brasil os serviços e estratégias de saúde pública concentram-se em medidas de saúde para a criança, adolescentes, mulheres e idosos. Nos últimos anos, esta comprovação despertou o interesse por parte do Ministério da Saúde (MS) em discutir e promover o cuidado entre homens e serviços da atenção primária, uma vez que são difíceis de iniciar procedimentos de prevenção e apoio à saúde do homem (SILVA JÚNIOR et al., 2022).
Os homens precisam de incentivo para se sentirem mais motivados a frequentar Unidades de Saúde da Família (USF), ou seja, é importante desenvolver ações específicas focadas na saúde do homem, individualmente ou em grupo; estabelecer horários alternativos para atender esse público de forma que facilite e possibilite o acesso aos serviços de saúde. Entende-se que a partir do momento em que o profissional procura entender melhor as perspectivas dos usuários, cria-se um vínculo de confiança e assim maior valorização da figura masculina nos cuidados de saúde (COELHO; MELO, 2018).
Dessa forma, é essencial que toda a equipe de saúde esteja envolvida nesse processo de acolhimento, por isso é necessário estabelecer estratégias que promovem a diferenciação masculina, em relação aos seus cuidados de saúde, em nível de cuidados básicos. Para se construir projetos de vida, voltados à promoção da saúde, deve-se considerar as individualidades de cada pessoa, incluindo as necessidades daqueles que não participam de serviços de saúde regularmente. Esses espaços públicos de cuidados à saúde devem ter uma equipe treinada para criar um ambiente agradável a fim de aumentar a sensibilidade a respeito da saúde do homem, sendo eles os protagonistas nos projetos de vida mais importantes, os que proporcionam estilos de vida mais saudáveis (PEREIRA et al., 2015).
Nesse sentido, a atuação do enfermeiro é de fundamental importância, pois por meio de um trabalho promocional é possível conseguir maior adesão aos serviços preventivos por parte dos homens (AGUIAR; SANTANA; SANTANA, 2015). Para isso, é necessário que o profissional de enfermagem tenha conhecimento das possíveis causas que podem interferir na adequada atenção à saúde do homem, identificando quais as dificuldades e principais barreiras que podem influenciar na baixa procura aos serviços da atenção primária à saúde.
Dentro desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo identificar quais as prováveis barreiras encontradas pelos homens que prejudicam sua procura aos serviços de saúde para conseguir ter uma melhor qualidade de vida, ter mais informações em prevenções de doenças e viver bem e melhor consigo mesmo.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Uma das principais causas da falta de adesão desse público aos serviços de saúde consiste no desânimo em procurar serviços de prevenção de doenças, devido às longas esperas pelo atendimento. Esse fato pode acarretar em evasão nesses serviços primários de saúde, bem como a ausência de retorno dos homens para atendimento, demonstrando a dificuldade da população masculina em entrar nos serviços primários de saúde (CAVALCANTI et al., 2014).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), instituída pela Portaria nº 1.944, de 27 de agosto de 2009, tem como principal diretriz a integralidade da atenção à saúde da população masculina, considerando dois principais aspectos: (1) a integralidade do homem no sentido de atender as necessidades de saúde, formulando os níveis primário, secundário e terciário de atenção, e assim garantir a continuidade das ações do Sistema Único de Saúde (SUS); e (2) entender que muitos problemas que afetam a saúde humana devem ser considerados em seu âmbito social e cultural, não apenas biológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
O objetivo da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) é, portanto, promover a melhoria das condições da saúde dos homens de 20 a 59 anos, contribuindo para a redução da morbimortalidade masculina. Para isso é possível desenvolver ações que facilitem o acesso a serviços de saúde, oferecê-los de forma igualitária e integral, primar pela humanização e atenção. Assim, é possível promover a mudança de paradigmas na percepção dos homens em relação à sua saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).
Destaca-se então a necessidade de um programa mais ativo para a saúde do homem nas unidades de saúde, bem como a intensificação de atividades de orientação aos usuários para que garantam melhores autocuidados e práticas saudáveis. Portanto, devem ser realizadas ações e atividades de promoção da saúde do homem tanto para uma educação em saúde para população como também facilitar e ampliar seu acesso aos serviços de saúde (ROCHA; ARAUJO; NUNES, 2018).
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
Uma das principais causas da falta de adesão desse público aos serviços de saúde consiste no desânimo em procurar serviços de prevenção de doenças, devido às longas esperas pelo atendimento. Esse fato pode acarretar em evasão nesses serviços primários de saúde, bem como a ausência de retorno dos homens para atendimento, demonstrando a dificuldade da população masculina em entrar nos serviços primários de saúde.
Diante deste cenário a questão de estudo desta pesquisa é: quais são os fatores contribuintes para a baixa adesão da população masculina ao acesso aos serviços de atenção primária a saúde?
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Analisar e entender as dificuldades, barreiras e resistências associadas à saúde do homem na procura de atendimento aos serviços de atenção primária à saúde, a partir de uma revisão bibliográfica que aborda este tema.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Identificar, por meio de pesquisas, como os homens procedem em relação ao atendimento na atenção primária a saúde e quais as possíveis causas que contribuem para a baixa procura nos serviços de saúde;
b) Analisar qual o conhecimento dos homens quanto aos serviços disponíveis pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; e
c) Avaliar planos inclusivos voltados para a saúde masculina.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA QUANTO A SAÚDE DO HOMEM
No Brasil, a partir do final da década 1980, estudos sobre gênero masculino e saúde que retratam os perfis demográfico e epidemiológico atinentes às diferenças entre os gêneros masculino e feminino, os quais distinguem o adoecer e o morrer entre homens e mulheres. Indivíduos do sexo masculino são mais predispostos a desenvolver doenças crônicas, além da expectativa de vida inferior, comparando-se com o público feminino. O número de hospitalizações por distintas patologias graves, nas diversas faixas etárias, aumenta com o avanço da idade. Verifica-se, apesar disso, falta de iniciativa em apresentar-se às consultas periódicas e baixa adesão às ações de cuidado com a saúde (ALMEIDA; HEMMI, 2018; OLIVEIRA et al., 2020).
A política de saúde pública no Brasil desenvolvida durante a década de 1990 expõe como principal característica, a ênfase na Atenção Básica, AB, entre o conjunto de ações e serviços desenvolvidos pelo Sistema Único de Saúde, SUS. A ênfase na atenção básica constitui em possibilitar que o conjunto da população seja alcançado de forma integral por esse nível de atenção (COELHO; MELO, 2018).
Ao longo da história das políticas de saúde no Brasil, verifica-se que o direito à saúde está relacionado principalmente aos públicos feminino e infantil. Compreende-se que tenha sido tema de diversos governos passados, pela necessidade de redução da mortalidade infantil e direcionamento da atenção, além dos públicos feminino e infantil, ao adolescente e ao idoso. Portanto, o público masculino foi desviado das políticas públicas e à margem de cuidados em saúde e, apenas em 2009, foram considerados com a instituição de uma política pública específica (SOLANO et al., 2017; OLIVEIRA et al., 2020; CARNEIRO et al., 2016; RIBEIRO; GOMES; MOREIRA, 2017).
Atualmente tem sido de elevado interesse para a saúde pública debater acerca das políticas direcionadas ao homem, haja vista a necessidade de aproximar esse público aos serviços de saúde. É notório que, por se tratar de um tema pouco debatido cientificamente e possuir dados limitados, torna-se pertinente a elaboração de novos estudos como forma de se subsidiar informações para o planejamento e implantação de estratégias que possam promover o acesso dessa clientela às ações e aos serviços de proteção integral à saúde (PEREIRA et al., 2015).
3.2 MOTIVOS DA PROCURA DO HOMEM AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Com relação a participação do homem no “cuidar de si”, a promoção em saúde é requisito importante e tal nível de atenção permite a quebra de paradigmas que limitam à mulher o papel de dialogar sobre o cuidado com elas próprias e, delas, para com os homens. É notória a influência de modelos socioculturais de gênero, instituídos na sociedade, que colaboram para a construção estereotipada de ser homem e influenciam a sua percepção quanto ao cuidar de si. Dessa forma, torna-se imperioso romper com o estereótipo de que o cuidado com a saúde é uma prática específica do sexo feminino ao se ponderar que, também, pode ser masculina. É necessário superar a ideologia hegemônica, repensar novos modelos referenciais e superar impedimentos no processo de mudança (MOURA; GOMES; PEREIRA, 2017; ÁVILA et al., 2020).
Pereira et al (2015) ao realizarem um estudo para identificar o perfil sociodemográfico dos usuários do sexo masculino atendidos em uma Unidade de Saúde da Família de João Pessoa, Pernambuco, concluíram que os homens que mais procuram os serviços de saúde têm idade superior aos 50 anos, casados, com baixo grau de escolaridade e que apresentam renda familiar média de um salário mínimo. Ao mesmo tempo, o principal motivo de procura pelo serviço de saúde foi devido à hipertensão, além de comportamentos do cotidiano que influenciam nas condições de saúde, a ingestão de álcool foi apontada por todos os entrevistados, mesmo que tenha se observado uma baixa frequência no seu consumo. E dentre os procedimentos habituais para prevenção de agravos à saúde foram mencionados o uso de medicação regular e, ainda, a prática de algum tipo de atividade física.
De acordo com Coelho e Melo (2018), outro motivo que reforça a ausência dos homens ao serviço de saúde seria o receio da descoberta de uma doença grave, portanto, não saber pode ser considerado um motivo de “proteção”. Outra dificuldade para o acesso dos homens aos serviços de saúde é a timidez da exposição do seu corpo ao profissional de saúde, principalmente da região anal, no caso da prevenção ao câncer de próstata.
Ainda de acordo com Pereira et al (2015), no que se refere à prática de hábitos saudáveis, os pesquisados indicam o uso regular de medicamentos entre as escolhas para controle e prevenção das complicações inerentes às doenças crônicas, reflexo das políticas públicas vigentes no Brasil que estimulam a prevenção e o tratamento de complicações de doenças crônicas, a exemplo da hipertensão arterial.
Os fatores que mais colaboram para invisibilidade dos homens na atenção primária são: poucos profissionais atuando na ESF; filas extensas; horário de funcionamento das instituições de saúde incompatível com a jornada de trabalho; demora em conseguir consulta médica e exames laboratoriais; ausência de especialidades médicas; poucos programas voltados para a saúde masculina; timidez; preconceito e medo (COELHO; MELO, 2018).
Além destes, outros aspectos influenciam o distanciamento dos homens em atendimentos com profissionais de saúde, o que dificulta o processo de implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde, PNAISH, em sua integralidade, a saber: falta de tempo e a incapacidade de se ausentar de suas atividades laborais, machismo, preconceito. Alguns problemas que já existiam antes da implantação da referida política, continuam a se estabelecer fatores desencadeadores das ausências percebidas nos serviços de atenção primária à saúde (APS) (ALMEIDA; HEMMI, 2018; MOURA et al., 2017).
3.3 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM
Em consonância com os princípios e diretrizes do SUS, o Ministério da Saúde, MS, instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, a partir da Portaria nº 1.944, de 27 de agosto de 2009, com o objetivo de orientar e garantir a prevenção e a promoção de saúde, com integridade e equidade, primando pela humanização da atenção à saúde da população masculina, visando estimular o autocuidado e o reconhecimento que a saúde é um direito social básico e de cidadania de todos os brasileiros (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
Para Coelho e Melo (2018), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, vem nortear ações de atenção integral à saúde do homem, visando estimular o autocuidado e, principalmente, o reconhecimento de que a saúde é um direito social básico e de cidadania de todos os homens brasileiros e fortalecer ações e serviços em redes, privilegiando a Estratégia Saúde da Família, ESF, impedindo assim, a setorialização de serviços ou a segmentação de estruturas.
Mesmo com a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, os indivíduos do sexo masculino estão pouco presentes na Estratégia Saúde da Família, ESF, procurando este serviço somente quando já apresentam sintomas ou quando já estão com alguma doença. É necessário a conscientização de que a prevenção é a melhor solução. Para isto, é de fundamental importância investir em palestras educativas e intervencionistas, de acordo com a realidade da comunidade, priorizando a prevenção e promoção da saúde, para garantir atrair e inserir os homens nesse novo paradigma de saúde (PEREIRA et al., 2015).
Segundo Silveira, Melo e Barreto (2017), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, estabelece mudanças de paradigmas acerca da percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua família. Ela foi designada para implementar as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças atinentes a esse público específico, de forma coletiva e, ao mesmo tempo, individualizada. Afirma-se ser possível alcançar a especificidade do indivíduo como um todo em sua própria realidade de vida.
Apesar de publicada há mais de uma década, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, pouco avançou em sua implementação e articulação com a Atenção Primária a Saúde, APS. Seu objetivo seria inserir a população masculina nas ações e serviços de saúde, em rede, incentivá-la a ser protagonista do seu próprio cuidado, gerando transformações nos padrões de percepção desse cuidado e, como provocação, mobilizar os homens para luta pelos direitos à saúde. Contudo, não foi o que se observou ao longo do tempo, o que corrobora a necessidade de estratégias que contribuam, efetivamente, para sua implementação e para o reconhecimento do homem como um sujeito de direitos (SILVA JÚNIOR et al., 2022).
Concomitantemente, apesar da instituição da política específica para tal público, os profissionais de saúde da Atenção Primária a Saúde, APS, não dispõem de todo conhecimento para aplicá-la na prática. É possível supor que a implementação de uma política específica a um determinado público, fosse suficiente para atingir os objetivos descritos, desde que amplamente divulgada e executada em todas as suas dimensões. Entretanto, soma-se a falta de estratégias específicas que orientem ações de cuidado voltadas para saúde do homem. São lacunas no conhecimento tanto o conhecimento da PNAISH pelos usuários e por uma parte dos trabalhadores, quanto os motivos que possam dificultar a demanda pelo cuidado em saúde (SILVEIRA; MELO; BARRETO, 2017; OLIVEIRA et al., 2020; BRAGA; SARAIVA, 2020).
3.4 O PAPEL DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DO HOMEM
Coelho e Melo (2018) explicam que os profissionais de saúde podem desenvolver diversas estratégias para estimular os homens a cuidarem de sua saúde. Assim sendo, podem se qualificar cada vez mais para melhor atender a população masculina; gerenciar a demanda para que não haja grandes filas, criar espaço para os usuários do sexo masculino e um grupo específico para discussão da Saúde do Homem; realizar visitas domiciliárias e promover uma assistência íntegra.
Nesse contexto, verifica-se que há carência de capacitação dos profissionais em relação às questões inerentes ao público masculino, em especial com relação às diferenças sobre os riscos de adoecer e morrer, à situação de sua vulnerabilidade, à construção social da masculinidade e sua percepção quanto à saúde e seu cuidado. Além disso, destaca-se, a importância da organização dos serviços, da sensibilização e da capacitação dos trabalhadores para maior divulgação da política e para atender as demandas específicas (SOLANO et al., 2017; OLIVEIRA et al., 2020; CARNEIRO et al., 2016).
A responsabilidade de recrutar os homens para à Atenção Primária à Saúde, APS, não é tarefa específica dos profissionais de saúde que trabalham na unidade, mas também dos homens, que reportam um pensamento mágico de que não adoecem, distanciando-se cada vez mais de práticas de promoção e prevenção. Ao mesmo tempo, as instâncias de saúde pouco estimulam a realização de campanhas e outras formas de disseminar informações aos homens (COELHO; MELO, 2018).
Destarte, estratégias de superação têm sido propostas e incluem promover o atendimento no local de trabalho, reconhecer as necessidades diferenciadas, construir relações de confiança, empáticas e francas, e usar ferramentas específicas para o gênero e faixas etárias, além de garantir privacidade e primar por decisões compartilhadas (ROSU; OLIFFE; KELLY, 2017).
As ações do profissional enfermeiro na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, devem estar ajustadas aos objetivos e na nova visão de atendimento ao novo modelo emergente que é proporcionar cuidados ao homem a partir da atenção básica, num modelo de promoção e prevenção a este grupo. São objetivos da PNAISH promover melhores condições de saúde à população masculina do país (COELHO; MELO, 2018).
4 METODOLOGIA
O presente trabalho delineia-se por meio de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo que busca categorizar e sumarizar as pesquisas encontradas elaborando as considerações finais baseadas nos diferentes estudos analisados nesta revisão.
A pesquisa exploratória visa proporcionar maiores informações sobre um assunto investigado, familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão desses, a fim de poder formular um problema mais preciso de pesquisas ou criar novas hipóteses. Pode ser também o passo inicial em um processo de pesquisa (LEÃO, 2017).
Para Gil (2002, pg. 44), pesquisa bibliográfica “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” e complementa dizendo que toda pesquisa busca uma contribuição ou uma resposta ao problema proposto por meio da pesquisa bibliográfica.
Para alcançar os objetivos deste estudo, realizou-se uma revisão narrativa. A revisão narrativa possui como objetivo sintetizar os conhecimentos mais relevantes a respeito de algum tema na literatura cientifica.
Esta revisão foi composta pelas seguintes etapas:
1) Seleção dos temas e também das palavras-chave a serem utilizadas na pesquisa;
2) Definição das bases de dados utilizadas para a pesquisa;
3) Seleção dos critérios de inclusão e também de exclusão desta pesquisa, para que os artigos selecionados sejam coerentes e objetivos, mantendo a qualidade da pesquisa;
4) Após a seleção, o material encontrado foi categorizado, a partir de uma avaliação minuciosa dos artigos encontrados. Esta avaliação inclui a leitura dos procedimentos adotados na pesquisa, leitura dos objetivos e resultados e também a qualidade das evidências encontradas;
Foi realizado uma pesquisa em base de dados (Google acadêmico, Biblioteca Digital, Scientific Electronic, Library Online, BVS (biblioteca virtual da saúde), Lilacs e Scielo) que tratam sobre o assunto, no período de novembro de 2023 a abril de 2024. Os descritores foram: saúde do homem; atenção primária a saúde. Foram utilizados artigos científicos nos idiomas: inglês, português e espanhol publicados no período entre 2014 e 2023.
Foram excluídos sites sem embasamento teórico e científico, publicações em blogs não confiáveis, artigos em outros idiomas, não sendo português inglês e espanhol. Ainda foram suprimidos dessa pesquisa bibliográfica artigos fora do período estipulado, documentários e filmes, pesquisas sem referencial teórico.
Após a identificação dos artigos, pela leitura do título, das palavras-chave e dos resumos, foram selecionadas as publicações que atenderam ao objetivo deste estudo, e posteriormente realizada a leitura na íntegra. A partir disso foi realizada uma análise de forma descritiva, possibilitando observar, contar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema explorado na revisão.
Assim, foram revisados 179 artigos referentes ao tema. Na literatura completa dos textos foram descartados 149 manuscritos por estarem fora do período 2014-2023, por fugir do tema pesquisado e por abordar o assunto de forma similar ou no contexto sem contribuir ao assunto em questão. Ao final foram utilizados 30 documentos para a presente revisão narrativa. Um fator que contribuiu para a exclusão de muitos artigos foi o ano de publicação, que de acordo com critério de inclusão do estudo foi delimitado um período de dez anos (2014 – 2023), o que mostra a escassez de trabalhos atuais publicados em português. Vários estudos foram pré-selecionados por título, mas após a leitura do resumo verificou-se que os mesmos não se enquadravam nos objetivos do presente estudo. E ainda, seis trabalhos publicados se repetiram entre as bases, o que também levou à exclusão dos mesmos.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A obtenção de informações realizada neste estudo foi fundamental para abordar o tema da saúde masculina. Entende-se que segundo os dados analisados, as publicações sobre o referido tema aumentaram nos últimos anos, sendo que cinco concentram as publicações até 2016. Entre os anos de 2017 e 2023, foram 25, o que condiz com a autenticidade, uma vez que, o homem precisa de incentivo para se sentir mais motivado a comparecer nas Unidades de Saúde da Família, USF. Atualmente, a pesquisa sobre a saúde dos homens é um campo em crescimento, focado em entender as variadas razões por trás dos elevados índices de doenças e mortes entre o sexo masculino.
Ribeiro et al (2023) ao realizarem um estudo com o objetivo de identificar as atividades realizadas pela atenção primária a saúde voltada à saúde do homem, na perspectiva do usuário, identificaram que dos participantes, 37,9% responderam que procuravam as unidades para prevenção à saúde, mas não conseguiram especificar quais seriam tais ações preventivas. 8,62% realizam exames de rotina como procedimento de prevenção. Em relação ao Programa Saúde do Homem, 70,7%, assegurou não possuir conhecimento. Para 12,06% dos entrevistados, a falta de tempo é o fator para não cuidar da saúde.
Há nítida dificuldade de adesão para que os homens possam participar mais ativamente nos cuidados pela própria saúde, uma vez que se habituam a rejeitar o adoecimento, a fim de sustentar a imagem de provedor e herói. Promover esta participação já é uma sugestão antiga, contudo, atualmente há a acepção de que a participação da família e do enfermeiro podem ser importantes como estímulo (BALBINO et al., 2020).
Silva et al (2022), ao realizarem um estudo para analisar os desafios que os enfermeiros enfrentam para inserir o homem na atenção básica, concluíram que os principais fatores que interferem o homem para o acesso na atenção básica são: a preferência por se automedicar, associado à falta de tempo do mesmo, o horário de funcionamento da UBS e o desconforto dentro da unidade. Além disso, os Enfermeiros confiam na importância da assistência à saúde do homem, apesar de encontrarem dificuldades na inserção do mesmo na atenção básica. Evidenciou-se que é necessária a intervenção e o recrutamento da equipe de saúde para que busquem ações a fim de melhorar a busca pela assistência.
Teixeira (2016), ao realizar um estudo cujo objetivo foi identificar as causas que levam os homens a desenvolverem resistência no cuidado da sua saúde, e saber se as concepções de gênero trazem obstáculos à procura aos serviços de saúde, constatou que os homens são resistentes no cuidado da sua saúde ao demonstrar sentimentos de medo, vergonha, e por motivos comportamentais como a impaciência, prioridades de vida, o descuido, e ainda com as questões pertinentes com a forma de organização dos serviços de saúde. Fatores ligados ao gênero também desempenham forte influência, muitas vezes até como impedimento.
Para os enfermeiros, na percepção masculina, a estrutura de atendimento dos serviços de atenção primária à saúde é proposta para crianças, mulheres e idosos. Estudos demonstram que os serviços de saúde geralmente possuem espaços mais voltados ao público feminino, com cartazes sobre amamentação, câncer de colo de útero e de mama, além da própria equipe ser comumente composta por mulheres. Além disso, existem poucas campanhas voltadas ao público masculino, colaborando para que o homem não se sinta pertencente àquele espaço e por conseguinte, não o frequente, distanciando-o cada vez mais dos cuidados preventivos de saúde (CARNEIRO et al., 2019).
A baixa participação nos serviços de atenção primária colabora para uma baixa qualidade de vida dos homens, acréscimo do índice de morbimortalidade, além de sobrecarregar os serviços de média e alta complexidade, promovendo ainda sofrimento para o indivíduo e seus familiares (GARCIA; CARDOSO; BERNARDI, 2019). A Estratégia de Saúde da Família, ESF, é a abertura para o Sistema Único de Saúde, SUS, e tem o enfermeiro como ator principal na assistência e nas ações preventivas de promoção à saúde, cabendo-lhe motivar a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, na unidade básica (ALVES et al., 2017).
Torna-se indispensável que os profissionais que trabalham no cuidado ao público masculino, tenha sua assistência fundamentada nos eixos da política, pois são estes que orientarão sua prática de trabalho (GARCIA et al., 2019). Para os enfermeiros conseguirem diminuir a aversão dos homens ao cuidado preventivo consigo mesmo, é necessário compreender a política de forma integral, para por meio dela, alcançar ações de prevenção e promoção da saúde (ASSIS et al., 2018).
Para que este paradigma seja superado, o planejamento da assistência deve priorizar ações que sensibilizem os homens com relação aos problemas de saúde, destacando a importância do autocuidado, dando-lhes orientações a partir do que é proposto pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH (FREITAS et al., 2021). Estratégias para atingir esse público devem ser planejadas e implementadas, como visitas domiciliares, nos locais de trabalho dos homens e nos ambientes mais frequentados por eles, realização de ações com ênfase na prevenção e promoção da saúde na comunidade, como sindicatos e estádios (ALVES et al., 2017).
Em relação à metodologia utilizada, a maioria dos trabalhos utiliza o método descritivo e exploratório como ferramenta de trabalho. Com vista à faixa etária da população estudada, verifica-se predominância de homens mais velhos acima de 30 anos, sendo que grande parte dos estudos analisou um grupo com média de idade de 20 a 59 anos de idade, o que condiz com a realidade, uma vez que, QUEIROZ et al (2020) em Desafios do enfermeiro da atenção básica na saúde do homem explica que, ao contrário das mulheres, idosos e crianças, os homens afastam-se cada vez mais de ações de prevenção, sendo que existem fatores contribuinte, como os fatores sociais, estruturais, pessoais e culturais. Esta perspectiva é reforçada pela influência da virilidade, da figura do que se é considerada a masculinidade, especificamente os aspectos relacionados a sexualidade e ao gênero, o que ajuda em uma estruturação cultural e social de que ser forte e viril é estar ausente dos cuidados e despreocupado o autocuidado. Em contrapartida, os indivíduos com mais de 59 anos estão desassistidos, pois os cuidados de saúde são direcionados principalmente para programas voltados à terceira idade, muitas vezes negligenciando as necessidades específicas da saúde masculina. Assim, as pesquisas apontam a importância de investigar essa faixa etária, visto que, com o envelhecimento da população, há um aumento significativo nesse grupo de pessoas.
O assunto relacionado às problemáticas do universo masculino é o ponto central entre as diversas fontes analisadas, estando presente na maioria dos textos de maneira implícita ou explícita. As pesquisas destacam um padrão de masculinidade dominante no qual o homem é visto como provedor, dominador e heterossexual, relacionando as questões de saúde à demonstração de fragilidade. A masculinidade dominante é composta por uma série de elementos interligados, como crenças, atitudes e práticas, que servem como base para definir o que é ser homem em um determinado contexto. Ser homem significa não ter medo, não demonstrar emoções, arriscar-se diante do perigo, mostrar coragem e ser ativo.
As expressões culturais podem causar danos à saúde, uma vez que estimulam o indivíduo a adotar comportamentos pouco saudáveis, de alto risco. A baixa procura por serviços de saúde evidencia a grande influência do imaginário masculino. A falta de adesão da população masculina pode ser explicada por fatores culturais, sem pormenorizar, o cuidado com a saúde não é um problema visto como uma característica pela população masculina.
O temor em encontrar uma doença também é exposta como uma dificuldade na busca pelo atendimento. Os usuários temem que, ao procurarem o serviço para realizar medidas preventivas, possam descobrir alguma doença, o que pode resultar em tratamento. A falta de confiança em um profissional também é mencionada como uma das razões para não aderir aos serviços de saúde. Essa vergonha pode estar ligada à falta de hábito de se expor ao médico; ao contrário da mulher, que, ao se socializar, já entende que é um método de prevenção.
A crença dominante é de que os homens raramente ficam doentes e, por isso, quando enfrentam algum problema de saúde, costumam reclamar menos e só procuram ajuda quando não conseguem mais realizar suas atividades diárias. Para compreendermos os comportamentos danosos à saúde dos homens, devemos levar em conta aspectos de poder e parcialidade, englobando formas de limitação das necessidades de saúde dos homens e funções de controlar os seus estados físicos e mentais, pois para a maioria dos homens, pensam que sentir dor e até mesmo sofrimento é normal devido aos padrões masculinidade.
O enfermeiro, acima de tudo, precisa estar familiarizado com as ideias sociais e culturais que foram incorporadas ao longo dos séculos e aproveitar a oportunidade que cada geração tem para reformular o que foi implantado. Atualmente, a questão de gênero e a técnica têm grande influência na formação do ser humano, sendo fundamentada de forma sistemática em cada realidade. É importante destacar a capacidade de integração dessas questões no contexto da saudação. É recomendável indicar atividades e práticas que incentivem a participação masculina, sendo este exercício um dos mais importantes. Além da disponibilidade profissional e da capacitação constante para a modernização de conceitos, questões sociais e técnicas inerentes, é preciso que se criem vínculos para que sejam ampliados os produtos de reverência para a saudação masculina.
O desconhecimento em relação às ações de saúde específicas, em virtude da carência de ações concretas direcionadas ao homem na Atenção Primária à Saúde, APS, demonstra a não implementação efetiva da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH. A procura dos homens aos serviços de saúde ocorre, principalmente, em casos agudos, o que expõe a dificuldade de adesão às práticas e cuidados com a saúde, embora os relatos apontarem outros empecilhos, como falta de manejo dos profissionais sobre as questões de saúde dos homens, horário de atendimento e deficiência na abordagem do profissional de saúde, a inexistência de ações de saúde atrativas ao público específico, a precária infraestrutura e a desigualdade no tratamento entre homens e mulheres, foram descritos pelos homens como fatores que impactam negativamente na busca pelos serviços de saúde (SILVA JÚNIOR et al., 2022).
Assim sendo, cabe ao enfermeiro, sobretudo, como componente da ESF, organizar, planejar e desenvolver ações individuais e coletivas com uma visão que possa colaborar para diminuir os potenciais agravos à saúde dos homens, por meio da oferta de uma atenção eficiente, estratégica e eficaz. A Estratégia Saúde da Família, ESF, demanda organizar a atenção primária de acordo com os princípios organizacionais e doutrinários do SUS. Entretanto, para que se alcance tais princípios, a assistência ofertada à comunidade necessita ser desempenhada não apenas pelo enfermeiro, mas também, pela equipe multiprofissional (AGUIAR, SANTANA; SANTANA, 2015; CARVALHO, 2020).
Os homens estão predispostos a situações de vulnerabilidade que afetam diretamente sua vida, para se encaixar na sociedade, de modo que isto colabora de forma negativa para a sua saúde, resultando em condutas de risco (KOREN et al., 2017).
Mattos e Balsanelli (2019), evidenciaram que os profissionais de enfermagem podem vincular em seu trabalho as práticas de educação em saúde, agenciando ações que sensibilizam a população a adotar um estilo de vida saudável pautado na prevenção. Nesse contexto, deve-se compreender a figura do enfermeiro como líder da equipe, o que pode ser fator primordial na consolidação da PNAISH nos cenários de APS.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A população masculina procura sobretudo os serviços especializados ou de urgência, principalmente quando já se encontram com alguma patologia. Dessa forma, a inclusão do público do sexo masculino na atenção básica constitui-se um grande desafio.
Embora os enfermeiros tenham conhecimento a respeito da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, PNAISH, é necessário o fortalecimento com relação a sua implementação na prática de trabalho. Observa-se que por inúmeros fatores, os homens não procuram os serviços de atenção básica, sendo o principal deles, a partir da vivência dos enfermeiros, a incompatibilidade do horário disposto na unidade de saúde.
A desse estudo é nítida a necessidade de capacitação da equipe de saúde acerca da PNAISH, por meio da educação continuada, fazendo com que exista melhorias na assistência ao homem e implementação efetiva da política.
As dificuldades principais dificuldades evidenciadas da resistência do homem a procura por serviços de saúde são: a falta de tempo, o medo e o comportamento machista. De acordo com profissionais de enfermagem, as estratégias de controle para reduzir a evasão e a intensificação da inserção do homem aos serviços, podem ser palestras educativas, com o intuito de incluir o público masculino nas medidas preventivas e a busca ativa nos locais de trabalho deles. O enfermeiro deve ser um elo para permitir a minimização de dificuldades da inserção do homem nos serviços de saúde, atuando em ações educativas para a população masculina no âmbito da promoção da saúde, envolvendo a família e a sociedade.
É notável a necessidade de estudos que identifiquem as ações efetivas que estão sendo alcançadas na atenção à saúde do homem para que possam auxiliar nas estratégias que estimulem profissionais e gestores a melhorarem a atenção primária como ambiente de produção de cuidado integral a saúde do homem.
Faz-se necessário que a Política de Saúde do homem seja repensada e melhor trabalhada quanto aos processos envolvidos na doença desse público e que os profissionais compreendam as suas singularidades.
Este estudo contribuiu para que outras reflexões sejam feitas com a finalidade de proporcionar meios para a compreensão e adoção de estratégias que objetivem a implementação efetiva desta Política.
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