REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248191607
Leonardo Sampaio Baleeiro Santana[1]
Neila Barbosa Osório[2]
George França dos Santos[3]
Djanires Lageano Neto de Jesus[4]
Luciane Silva de Souza[5]
Armando Sopre Xerente[6]
Adriana da Costa Pereira Aguiar[7]
Silvio Inácio Moreira[8]
Silvinia Pereira de Sousa Pires[9]
Samuel Marques Borges[10]
Fabiana Fonseca Morais Dias dos Santos[11]
Juscimar Arruda Silva[12]
Maria do Socorro Saturno da Silva [13]
Rozilene Martins Louzeira [14]
Laura Stukrepre de Souza[15]
resumo
Este artigo explora a sabedoria ancestral e o papel dos anciãos na cultura Xerente, destacando a importância da preservação e transmissão intergeracional dos conhecimentos tradicionais. A introdução contextualiza a cultura Xerente, enfatizando o papel central dos anciãos como guardiões do conhecimento e a ameaça representada pela modernidade e tecnologia. O objetivo do estudo é compreender a sabedoria ancestral e o papel dos anciãos, utilizando uma abordagem qualitativa e bibliográfica para compreender as experiências e perspectivas dos mais velhos e investigar como a modernidade impacta a continuidade das tradições culturais. A metodologia qualitativa permite uma compreensão aprofundada das experiências dos anciãos, enquanto a revisão bibliográfica fornece um embasamento teórico fundamentado em estudos e relatos sobre a cultura Xerente. A relevância do estudo reside na necessidade urgente de documentar e valorizar a sabedoria ancestral dos anciãos Xerente, especialmente em um mundo dominado pela tecnologia e globalização. Na discussão, são destacados os múltiplos papéis dos anciãos, desde a transmissão de conhecimentos até a mediação de conflitos e liderança política. A estrutura social e familiar dos Xerente, que valoriza profundamente os anciãos, é fundamental para a preservação da cultura. A modernidade e a tecnologia apresentam desafios significativos, mas a inclusão de práticas culturais no currículo escolar pode ser uma estratégia eficaz para reverter a desconexão dos jovens com suas raízes culturais. A conclusão ressalta a importância de fortalecer os laços intergeracionais e promover o respeito e a valorização dos conhecimentos ancestrais. Sensibilizar a comunidade e os formuladores de políticas para proteger os anciãos como guardiões da cultura é crucial para que as futuras gerações possam continuar a se beneficiar da sabedoria acumulada ao longo dos séculos, assegurando a sobrevivência e a vitalidade da cultura Xerente em um mundo em constante mudança.
Palavras-chave: Cultura Xerente, Sabedoria Ancestral, Anciãos. Idosos.
1 – introdução
A cultura Xerente, um dos povos indígenas do Brasil, é profundamente marcada pela sabedoria ancestral e pelo papel central dos idosos na preservação das tradições culturais. Os anciãos são considerados verdadeiras bibliotecas vivas, guardiões dos conhecimentos tradicionais e responsáveis pela transmissão intergeracional desses saberes. No coração dessa transmissão está o Warã (Pátio), um espaço sagrado onde os conhecimentos são passados para adultos, jovens e crianças. A culminância desses ensinamentos ocorre durante o Dasīpê (A Grande Festa), um evento de grande significado cultural e espiritual para a comunidade.
Os anciãos Xerente enfrentam, porém, desafios significativos. A modernidade e a tecnologia, especialmente a disseminação dos celulares, festas não culturais e o futebol, têm atraído a juventude, desviando-a da busca pela sabedoria dos mais velhos. Esse afastamento cultural representa uma ameaça à preservação das tradições e ao fortalecimento da identidade Xerente, colocando em risco a continuidade dos conhecimentos ancestrais.
Além disso, a estrutura social e familiar dos Xerente valoriza e apoia os seus idosos de maneira única. O respeito aos seis clãs, onde cada uma dessas metades, por sua vez, subdivide-se em três clãs. A metade Doí inclui os clãs: kuzã, kubazi e kritó; e a metade Wahirê: krozaké, kreprehí e wahirê, uma característica marcante do povo Xerente, permeia todos os aspectos da vida, desde os nomes, casamentos até os sepultamentos. Essa estrutura de clãs reforça o respeito e o valor atribuídos aos anciãos, assegurando que sua voz continue a ser uma parte essencial da vida comunitária.
Este artigo adota uma abordagem qualitativa e bibliográfica para explorar a sabedoria ancestral e o papel dos idosos na cultura Xerente. A metodologia qualitativa permitirá uma compreensão aprofundada das experiências e perspectivas dos anciãos, enquanto a revisão bibliográfica fornecerá um embasamento teórico, sustentado por estudos e relatos anteriores sobre a cultura Xerente.
A realização deste estudo se justifica pela necessidade urgente de documentar e valorizar a sabedoria ancestral dos anciãos Xerente. Em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela globalização, é crucial compreender como as tradições culturais podem ser preservadas e transmitidas para as futuras gerações. Os anciãos Xerente não são apenas portadores de conhecimento, mas também símbolos de resistência cultural e identidade.
Ao explorar as contribuições dos idosos para a preservação das tradições culturais, este artigo pretende destacar a importância de fortalecer os laços intergeracionais e promover o respeito e a valorização dos conhecimentos ancestrais. Além disso, ao abordar os desafios enfrentados pelos anciãos no contexto atual, busca-se sensibilizar a comunidade e os formuladores de políticas sobre a necessidade de apoiar e proteger esses guardiões da cultura Xerente.
Este estudo é mais um passo para garantir que a riqueza cultural dos Xerente não se perca e que as futuras gerações possam continuar a se beneficiar da sabedoria acumulada ao longo dos séculos.
1.1 – Proposição
Este artigo propõe compreender a sabedoria ancestral e do papel dos anciãos na cultura Xerente, enfatizando a importância da preservação e transmissão intergeracional dos conhecimentos tradicionais. Com base em uma abordagem qualitativa e bibliográfica, busca-se compreender as experiências e perspectivas dos anciãos, além de investigar como a modernidade e a tecnologia impactam a continuidade das tradições culturais.
Objetiva-se também destacar a estrutura social e familiar dos Xerente, que valoriza e apoia seus idosos de maneira única, reforçando o respeito e o valor atribuídos aos anciãos. Ao explorar as contribuições dos idosos para a preservação das tradições culturais, o artigo pretende promover a importância de fortalecer os laços intergeracionais e sensibilizar a comunidade e os formuladores de políticas sobre a necessidade de apoiar e proteger esses guardiões da cultura Xerente.
2 – revisão da literatura
Vale aqui a VIDA, sem regateios e apreçamentos; e a luta contra toda a morte. Talvez se devesse desordenar o já feito cada dia para assim antecipar a festa como resultado de um novo mundo em parto. Marx e Engels, no Manifesto, quando disseram que tudo o que é sólido se desmancha no ar, talvez não soubessem que um desses ares que oxida, que muda, que acrisola, e que faz por isso reluzir a ganga impura de nossa sofrida e artificiosa humanidade, no Brasil e no continente latino- americano se chama cultura(s) indígena(s) (Grando; Passos, 2010)
O relato de Grando e Passos (2010) nos oferece uma reflexão profunda sobre a vida, a morte e a importância da cultura indígena na resistência e transformação da sociedade. Quando se afirma que “vale aqui a VIDA, sem regateios e apreçamentos; e a luta contra toda a morte”, há um chamado para valorizar a vida em sua plenitude, sem concessões ou desvalorização, e para combater todas as formas de morte, seja ela física, cultural ou espiritual.
Para os idosos Xerente, esta luta pela vida se manifesta na preservação e transmissão da sabedoria ancestral. Os anciãos são os guardiões de conhecimentos profundos, adquiridos ao longo de gerações, que são essenciais para a sobrevivência e a identidade cultural do povo Xerente. No Warã, espaço sagrado onde se dá a transmissão de saberes, os anciãos compartilham seus conhecimentos de forma intergeracional, garantindo que crianças, jovens e adultos tenham acesso às tradições, histórias e valores que formam a base da cultura Xerente. Este processo é vital para manter viva a cultura e resistir à “morte” representada pela perda de identidade e assimilação forçada às influências externas.
A citação também menciona a necessidade de “desordenar o já feito cada dia para assim antecipar a festa como resultado de um novo mundo em parto”. Para os Xerente, a Grande Festa, ou Dasīpê, é um momento de renovação cultural e espiritual. Este evento é um exemplo concreto de como a cultura indígena pode “desordenar” as práticas cotidianas para celebrar e reafirmar a identidade coletiva. Os anciãos desempenham um papel crucial nesse processo, pois é através deles que os conhecimentos e as práticas culturais são renovados e adaptados às novas realidades, permitindo que a cultura Xerente continue a florescer mesmo diante das mudanças sociais e tecnológicas.
A referência ao Manifesto de Marx e Engels, onde “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, pode ser interpretada como uma metáfora para a impermanência e a constante transformação das estruturas sociais. No contexto dos Xerente, essa transformação é mediada pela cultura indígena, que Grando e Passos descrevem como um dos “ares que oxida, que muda, que acrisola, e que faz por isso reluzir a ganga impura de nossa sofrida e artificiosa humanidade”. A cultura indígena, portanto, é vista como um agente de mudança e purificação, capaz de revelar e renovar a essência da humanidade.
Os idosos Xerente, como portadores desta cultura, estão na linha de frente dessa transformação. Eles enfrentam o desafio de manter vivas as tradições em um mundo em constante mudança, onde a juventude muitas vezes é atraída por elementos externos que podem ameaçar a continuidade dos saberes ancestrais. No entanto, é justamente essa capacidade de adaptação e renovação que permite à cultura Xerente não apenas sobreviver, mas também enriquecer e transformar a sociedade mais ampla.
2.1 – Os Anciãos Xerente: Guardiões da Sabedoria, Mediadores Culturais e Líderes Políticos
O papel dos anciãos na cultura Xerente é também uma expressão do ócio criativo, conforme discutido por Baptista e Ventura (2014). No Warã, o tempo dedicado à transmissão de saberes é um momento de desconexão das atividades produtivas imediatas, permitindo um espaço de reflexão, aprendizado e preservação cultural. Esse ócio não é ocioso no sentido negativo, mas sim um tempo necessário para a manutenção da identidade cultural e comunitária dos Xerente.
Por conseguinte, a dinâmica faccional dentro da sociedade Xerente, como abordada por De Paula (2000), reflete como os anciãos navegam entre as esferas locais e os processos sociopolíticos nacionais e internacionais. Os anciãos não apenas transmitem saberes, mas também mediam conflitos e decisões importantes que afetam toda a comunidade. Sua posição de liderança é importante para manter a coesão social e adaptar as tradições aos novos desafios.
E sobre estes desafios, os anciãos atuam como intermediários entre as esferas locais e os processos sociopolíticos nacionais e internacionais. A sua liderança é essencial para manter a coesão social dentro da comunidade Xerente, especialmente em um contexto de constante mudança e desafios externos. Eles utilizam seu profundo conhecimento das tradições e da estrutura social para navegar pelos complexos processos políticos e sociais, garantindo que os interesses da comunidade sejam representados e protegidos (De Paula, 2000).
Essa mediação é especialmente importante em um cenário onde as influências externas, como políticas governamentais e pressões econômicas, podem ameaçar a integridade cultural e territorial dos Xerente. Os anciãos desempenham um papel vital na negociação com autoridades externas, utilizando seu prestígio e sabedoria para defender os direitos e a autonomia da comunidade. Eles servem como pontes entre o passado e o presente, ajudando a comunidade a se adaptar às novas realidades sem perder de vista suas raízes culturais (De Paula, 2000).
A posição de liderança dos anciãos também se manifesta na forma como eles mediam conflitos internos. Dentro da estrutura de clãs, os anciãos são respeitados por sua experiência e capacidade de julgar com sabedoria e imparcialidade. Quando surgem disputas, são eles que orientam as negociações e as resoluções, utilizando os conhecimentos tradicionais e as normas culturais para restaurar a harmonia. Essa função de mediação é fundamental para a manutenção da paz e da coesão social, reforçando a importância dos anciãos como líderes e guardiões da estabilidade comunitária (De Paula, 2000).
A adaptação das tradições aos novos desafios é outro aspecto crítico do papel dos anciãos. Eles são responsáveis por interpretar e, quando necessário, modificar as práticas culturais para que permaneçam relevantes e aplicáveis no contexto contemporâneo. Essa capacidade de adaptação é crucial para a sobrevivência cultural dos Xerente, permitindo que a comunidade mantenha sua identidade e coesão mesmo diante das mudanças. Os anciãos garantem que as tradições sejam passadas de forma que continuem a ter significado e valor para as novas gerações (De Paula, 2000).
A organização social dos Xerente, conforme descrita por Farias (1990), é fortemente influenciada pela transmissão intergeracional de conhecimentos. A estrutura de clãs reforça a importância dos anciãos, que atuam como pilares dessa organização. Cada clã tem suas responsabilidades e rituais específicos, e os anciãos garantem que essas práticas sejam mantidas e respeitadas, fortalecendo a identidade coletiva dos Xerente.
A luta contra a assimilação e a perda cultural é um tema recorrente na literatura sobre os Xerente. Grando e Passos (2010) destacam a importância de incluir a história e a cultura dos povos indígenas na educação escolar para combater essa tendência. No contexto dos Xerente, a inclusão dessas práticas no currículo escolar poderia ajudar a reverter a desconexão dos jovens com suas raízes culturais, incentivando um maior envolvimento com os conhecimentos dos anciãos.
Lima (2013, 2016) discute o processo de conquista do território dos Akwe-Xerente e as questões socioambientais que emergem dessa conquista. Os anciãos desempenham um papel fundamental na proteção do território e na defesa dos direitos socioambientais da comunidade. Eles utilizam seu conhecimento tradicional para gerir os recursos naturais de maneira sustentável, garantindo a sobrevivência e o bem-estar das futuras gerações.
A cosmologia e o xamanismo entre os Akwẽ-Xerente, como explorado por Melo (2016), são áreas onde os anciãos têm um papel insubstituível. Eles são os guardiões dos conhecimentos espirituais e xamânicos que conectam a comunidade com o mundo espiritual e natural. A prática do xamanismo é transmitida de geração em geração, e os anciãos garantem que essas práticas sejam realizadas com respeito e autenticidade.
A estrutura social dos Xerente também valoriza e apoia seus anciãos através do parentesco e das relações políticas, conforme observado por Schroeder (2006). O respeito aos clãs e às posições de liderança dos anciãos é fundamental para a estabilidade social. As decisões importantes são frequentemente discutidas e validadas pelos anciãos, cuja experiência e sabedoria são reconhecidas e valorizadas por toda a comunidade.
Os clãs Xerente são a espinha dorsal da organização social. Cada clã possui seus próprios nomes, que são respeitadas e mantidas através das gerações. Os anciãos, como líderes de clã, são os guardiões dessas tradições, garantindo que as normas e práticas culturais sejam observadas e transmitidas. Este sistema de clãs reforça o respeito intergeracional, pois os anciãos são vistos como fontes de conhecimento e experiência, cuja orientação é essencial para a continuidade e a harmonia social (Schroeder, 2006).
Nas relações políticas, os anciãos desempenham um papel crucial. Eles são os principais consultores em questões que afetam a comunidade, desde decisões cotidianas até questões de maior impacto, como negociações territoriais e conflitos internos. As decisões importantes são frequentemente discutidas em assembleias, onde a voz dos anciãos tem um peso significativo. Sua experiência acumulada e sabedoria são consideradas indispensáveis para a validação e implementação de qualquer decisão, garantindo que estas estejam alinhadas com os valores e interesses da comunidade (Schroeder, 2006).
A valorização dos anciãos também se manifesta no apoio que recebem para manter suas funções e bem-estar. A comunidade Xerente reconhece a importância de cuidar de seus anciãos, assegurando que eles tenham os recursos necessários para viver com dignidade e continuar sua missão de transmitir conhecimentos. Este apoio pode incluir assistência física, emocional e social, reforçando a ideia de que os anciãos são um patrimônio vivo, cuja preservação é de interesse coletivo (Schroeder, 2006).
A língua Akwẽ-Xerente é outro aspecto crucial da identidade cultural, e os anciãos são os principais guardiões desse conhecimento linguístico. Souza Filho (2007) destaca a importância da preservação da língua como um meio de manutenção cultural. Os anciãos ensinam a língua às novas gerações, garantindo que o idioma não se perca e que continue a ser uma parte viva da identidade Xerente.
Por fim, Wewering (2012) ressalta a vida, cultura e identidade do povo Akwẽ-Xerente. A obra sublinha a centralidade dos anciãos na vida cultural e social da comunidade, destacando como eles são essenciais para a continuidade e a adaptação das tradições às novas realidades. Eles representam a conexão viva com o passado e a chave para um futuro culturalmente enriquecido e sustentável.
3 – discussão
A cultura Xerente é um exemplo impressionante de como a sabedoria ancestral e o papel dos idosos são fundamentais para a preservação e transmissão das tradições culturais. Esta discussão visa sintetizar os principais achados da pesquisa, ressaltando a importância dos anciãos como guardiões do conhecimento e mediadores culturais, e refletir sobre os desafios e estratégias para manter viva essa rica herança cultural no contexto contemporâneo.
Os anciãos Xerente são verdadeiros pilares de sua comunidade, desempenhando múltiplos papéis que vão desde a transmissão de conhecimentos tradicionais até a mediação de conflitos e liderança política. A importância dos anciãos é destacada pela estrutura de clãs dos Xerente, onde cada clã tem responsabilidades e rituais específicos, garantidos e preservados pelos mais velhos. Estes líderes comunitários não apenas mantêm viva a tradição, mas também adaptam e renovam práticas culturais para que permaneçam relevantes no mundo moderno.
O Warã, espaço sagrado de transmissão de saberes, simboliza a centralidade dos anciãos na vida cultural dos Xerente. É nesse espaço que os conhecimentos são passados intergeracionalmente, garantindo que crianças, jovens e adultos tenham acesso às tradições, histórias e valores que formam a base da cultura Xerente. A culminância desses ensinamentos ocorre durante o Dasīpê, um evento de grande significado cultural e espiritual para a comunidade. No entanto, a modernidade e a tecnologia, especialmente a disseminação dos celulares, festas não culturais e o futebol, têm atraído a juventude, desviando-a da busca pela sabedoria dos mais velhos. Esse afastamento cultural representa uma ameaça à preservação das tradições e ao fortalecimento da identidade Xerente, colocando em risco a continuidade dos conhecimentos ancestrais.
Além de seu papel cultural, os anciãos Xerente são mediadores fundamentais dentro da comunidade. Eles não apenas transmitem saberes, mas também mediam conflitos e tomam decisões importantes que afetam toda a comunidade. Sua posição de liderança é crucial para manter a coesão social e adaptar as tradições aos novos desafios. Eles utilizam seu profundo conhecimento das tradições e da estrutura social para navegar pelos complexos processos políticos e sociais, garantindo que os interesses da comunidade sejam representados e protegidos.
Os desafios enfrentados pelos anciãos no contexto atual são significativos. A modernização e a pressão para a assimilação cultural ameaçam a continuidade das tradições Xerente. No entanto, é justamente essa capacidade de adaptação e renovação que permite à cultura Xerente não apenas sobreviver, mas também enriquecer e transformar a sociedade mais ampla. Os anciãos enfrentam o desafio de manter vivas as tradições em um mundo em constante mudança, onde a juventude muitas vezes é atraída por elementos externos que podem ameaçar a continuidade dos saberes ancestrais.
A estrutura social e familiar dos Xerente valoriza e apoia os seus idosos de maneira única. O respeito aos seis clãs, uma característica marcante do povo Xerente, permeia todos os aspectos da vida, desde os nomes, casamentos até os sepultamentos. Essa estrutura de clãs reforça o respeito e o valor atribuídos aos anciãos, assegurando que sua voz continue a ser uma parte essencial da vida comunitária. A valorização dos anciãos também se manifesta no apoio que recebem para manter suas funções e bem-estar. A comunidade Xerente reconhece a importância de cuidar de seus anciãos, assegurando que eles tenham os recursos necessários para viver com dignidade e continuar sua missão de transmitir conhecimentos.
Os anciãos também desempenham um papel crucial na proteção do território e na defesa dos direitos socioambientais da comunidade. Eles utilizam seu conhecimento tradicional para gerir os recursos naturais de maneira sustentável, garantindo a sobrevivência e o bem-estar das futuras gerações. No contexto dos Xerente, a inclusão das práticas culturais no currículo escolar poderia ajudar a reverter a desconexão dos jovens com suas raízes culturais, incentivando um maior envolvimento com os conhecimentos dos anciãos.
4 – conCLUSÃO
A cultura Xerente exemplifica a importância vital da sabedoria ancestral e do papel central dos anciãos na preservação e transmissão das tradições culturais. Os anciãos, atuando como guardiões de conhecimento, desempenham funções multifacetadas que incluem a mediação de conflitos, a liderança política e a transmissão de práticas culturais essenciais. Através de espaços sagrados como o Warã e eventos significativos como o Dasīpê, esses conhecimentos são passados de geração em geração, assegurando a continuidade da identidade cultural dos Xerente.
Contudo, a modernidade e a tecnologia apresentam desafios significativos para a preservação dessas tradições. A atração da juventude por elementos externos, como celulares e festas não culturais, ameaça a continuidade do conhecimento ancestral. A estrutura social e familiar dos Xerente, que valoriza profundamente os anciãos, deve adaptar-se e encontrar maneiras de integrar essas novas influências sem perder suas raízes culturais. A inclusão de práticas culturais no currículo escolar pode ser uma estratégia eficaz para reverter essa desconexão e fortalecer o envolvimento dos jovens com suas tradições.
Para garantir que a riqueza cultural dos Xerente não se perca, é crucial fortalecer os laços intergeracionais e promover o respeito e a valorização dos conhecimentos ancestrais. Este estudo destaca a necessidade urgente de documentar e apoiar os anciãos como símbolos de resistência cultural e identidade. Sensibilizar a comunidade e os formuladores de políticas para proteger esses guardiões da cultura é fundamental para que as futuras gerações possam continuar a se beneficiar da sabedoria acumulada ao longo dos séculos, assegurando a sobrevivência e a vitalidade da cultura Xerente em um mundo em constante mudança.
4.1 – Perspectivas para Pesquisas Futuras
A investigação da sabedoria ancestral e do papel dos idosos na cultura Xerente abre várias possibilidades para pesquisas futuras, que podem aprofundar e expandir o conhecimento sobre esta rica tradição cultural. Uma área promissora para futuras pesquisas é a documentação e análise das práticas específicas de transmissão de conhecimento realizadas pelos anciãos. Estudos etnográficos podem fornecer insights sobre os métodos pedagógicos utilizados no Warã e durante o Dasīpê, revelando como esses processos são adaptados para diferentes faixas etárias e contextos sociais.
Uma outra linha de pesquisa importante envolve a integração da cultura Xerente no sistema educacional formal. Pesquisas que investiguem a eficácia de currículos escolares que incorporam elementos da tradição Xerente podem ser valiosas. Estudos comparativos entre escolas que adotam esses currículos e aquelas que seguem modelos convencionais poderiam mostrar o impacto da educação culturalmente relevante na preservação da identidade e no engajamento dos jovens Xerente com suas raízes culturais.
Há uma necessidade urgente de explorar as dinâmicas contemporâneas que afetam a juventude Xerente, especialmente no contexto da globalização e da tecnologia. Pesquisas que analisem como a juventude navega entre as influências externas e as expectativas culturais internas podem oferecer estratégias para reforçar a transmissão de conhecimentos tradicionais. Estudos sobre o papel das novas tecnologias na vida dos jovens Xerente e como essas podem ser usadas de maneira positiva para fortalecer a cultura indígena também são essenciais. Ao direcionar a pesquisa para essas áreas, podemos contribuir significativamente para a preservação e revitalização da cultura Xerente, assegurando que ela prospere em um mundo em constante mudança.
referencias
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[1] Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: leonardosbsantana@gmail.com
[2] Pós-Doutora em Educação. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: neilaosorio@uft.edu.br
[3] Doutor em Educação. Universidade Federal do Tocantins e-mail: george.f@uft.edu.br
[4] Pós-Doutor em Educação. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e-mail: netoms@uems.br
[5] Doutora em Educação. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: souza.luciane@uft.edu.br
[6] Doutorando em Educação na Amazônia. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: soprexerente10@gmail.com
[7] Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: adriana.cpa@hotmail.com
[8] Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: silvioinacio33@hotmail.com
[9] Mestranda em Governança e Transformação Digital. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: silvania.pires@gmail.com
[10] Mestrando em Educação. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: samuelbiologo11@gmail.com
[11] Especialista em Gestão Municipal. Universidade Federal do Tocantins.
e-mail: luisfilipe190899@gmail.com
[12] Especialista em Docência na Educação Profissional e Tecnológica. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: juscimarads@gmail.com
[13] Especialista em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: socorro.saturno@gmail.com
[14]Especialista em Especialista em Gestão, Orientação e Supervisão. UNITINS – Fundação Universidade do Tocantins. e-mail: louzeira13@gmail.com
[15] Graduada em Licenciatura Intercultural. Universidade Federal de Goiás. e-mail: laurastukreprexerente@gmail.com