REVITALIZAÇÃO PAISAGÍSTICA DO PÁTIO ESCOLAR COMO FERRAMENTA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

LANDSCAPE REVITALIZATION OF THE SCHOOL COMMON SPACE AS AN ENVIRONMENTAL EDUCATION TOOL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10795169


Claudemar Brandão de Oliveira1
Andreia Cristina Peres Rodrigues da Costa2
Norma Barbado3


Resumo: A educação ambiental no ensino formal deve ser permanente, com ações que possam promover mudanças para além dos muros da escola. Assim, o objetivo principal desse estudo foi promover uma composição paisagística, por meio da reutilização de resíduos sólidos, no Colégio Estadual Nestor Victor, em Pérola – PR, como ferramenta de Educação Ambiental. Para tanto, utilizou-se a pesquisa de caráter funcionalista, com a interação entre todos os indivíduos envolvidos no processo, além do método dialético. Inicialmente, os estudantes do 3o ano do Ensino Médio foram orientados a respeito da importância do gerenciamento dos resíduos sólidos e realizaram uma campanha de coleta dos resíduos dispostos inadequadamente no entorno da instituição. A partir da dinâmica “Brainstorming Ambiental”, do inglês, chuva de ideias ou tempestade de ideias, os participantes definiram os objetos que seriam construídos a partir dos resíduos coletados. O material foi preparado pelo professor e os estudantes construíram suas obras de arte. Por fim, o pátio do colégio foi revitalizado, tornando-se mais harmonioso. Esta atividade despertou a reflexão da comunidade escolar sobre atitudes de respeito em relação à preservação do seu próprio ambiente, o que pode provocar mudanças significativas em relação aos aspectos sociais, econômicos e ambientais.

Palavras-chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos; Reutilização de Resíduos; Sensibilização.

Abstract: Environmental education in formal education must be permanent, with actions that promote changes beyond the school walls. Thus, the main objective of this study was to promote the composition of the landscape, through the reuse of solid residues, at the Colégio Estadual Nestor Victor, in Pérola – PR, as an Environmental Education tool. For that, we used the research of functionalist character, with the interaction between all the individuals involved in the process, in addition to the dialectical method. Initially, students in the 3rd year of high school were instructed about the importance of solid waste management and carried out a campaign to collect waste that was improperly disposed around the institution. Based on the dynamic “Environmental Brainstorming”, from English, rain of ideas or storm of ideas, the participants defined the objects that would be built from the collected waste. The material was prepared by the teacher and the students built their works of art. Finally, the schoolyard was revitalized, becoming more harmonious. This activity aroused the reflection of the school community on attitudes of respect in relation to the preservation of their own environment, which can cause significant changes in relation to social, economic and environmental aspects.

Keywords: Solid Waste Management; Waste reuse; Awareness.

INTRODUÇÃO

A partir da década de 60, com a crise ambiental, intensificaram-se as reflexões sobre a degradação e o uso irracional dos recursos naturais. Tais reflexões críticas e éticas, impulsionadoras de mudanças, são mecanismos provocados pelo exercício da cidadania, quando o indivíduo é capaz de considerar as consequências dos impactos causados pelas suas ações e de propor estratégias e soluções para o enfrentamento das crises e desafios que a vida em sociedade impõe. Trata-se de uma produção de bens e consumo que geram uma quantidade de resíduos maior que a capacidade do planeta em absorvê-los. Essa capacidade de suporte é medida conforme a probabilidade de o meio ambiente fazer a reposição dos recursos naturais extraídos para a produção, e de absorver esses produtos transformados (ROCKETT, LUNA e GUERRA, 2019).

No Brasil, segundo Sousa e Moreno (2020), com a elevada quantidade de resíduos sólidos sendo eliminados em locais inadequados, provocando danos ambientais e afetando a qualidade de vida da população, é de responsabilidade dos municípios a elaboração e implantação de um plano integrado de gerenciamento, levando em conta as estratégias baseadas nos princípios da Educação Ambiental (EA). No entanto, a partir da Lei No 12.305, de 2 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a responsabilidade da geração, acondicionamento e destinação final dos resíduos sólidos tornou-se compartilhada com seus geradores, deixando de ser apenas problemas a serem resolvidos pelo poder público (BRASIL, 2010). Nessa direção, a educação é um instrumento indispensável de sensibilização, conscientização, informação e formação de pessoas, no intuito de propiciar mudanças de atitudes, valores e comportamentos (ROCKETT, LUNA e GUERRA, 2019).

Apesar de escolas do mundo inteiro apresentarem EA como parte de sua grade curricular, é necessário criar ambientes escolares que propiciem e motivem a formação de pessoas mais conscientes em relação à sustentabilidade. Isso deve ocorrer promovendo a compreensão das atividades práticas propostas, pois normalmente o assunto sustentabilidade é tratado de forma superficial no “universo” escolar (SILVA NETO, SENA e SARAIVA, 2020). Além disso, a consolidação da EA no contexto formal ainda é uma incógnita no currículo escolar, em sua forma de abordagem identificam-se percepções, saberes e vivências diversificadas diluídas na prática pedagógica (CANDAU, 2012). Nessa direção, as questões abordadas devem transpor o mero ambientalismo, baseado em uma prática conservacionista, propondo um caminho mais denso, crítico e participativo, ampliando as possibilidades de compreensões diversificadas sobre o papel da EA e suas metodologias (SATO e CARVALHO, 2005).

Assim, como forma de promover a construção deste mundo de maneira real e sustentável, a EA pode contribuir para a definição de novos paradigmas de sustentabilidade, imprescindível para a formação de novas posturas e novas práticas do homem para com o meio ambiente (BRANCO, LINARD e SOUSA, 2011). De acordo com Muzolon, Dias e Furuta (2019, p. 4), a EA “está relacionada à prática de tomadas de decisões e ética para melhoria da qualidade de vida, devendo atingir pessoas de todas as idades e de todos os níveis sociais, seja através do ensino formal ou não formal, de contínua e permanente”. Dessa forma, a EA favorece a reflexão do sujeito com sua realidade socioecológica, estimulando a tomada de consciência de sua inserção nos discursos dominantes, com pensamento crítico e ético (SAUVÉ, 2013).

Nesse contexto, Silva Neto, Sena e Saraiva (2020) destacam a importância da EA transformadora, estimulando a reflexão a respeito das consequências das atitudes não sustentáveis em termos econômicos, sociais, políticos e ambientais. Vale ressaltar que a inclusão da EA no ensino regular apoia-se na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que em seu Art. 2o dispõe “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999). Além disso, em seu Art. 9o, a lei determina que a EA deve ser trabalhada em todos os níveis de ensino, na educação básica, educação superior, educação especial, educação profissional e na educação de jovens e adultos (BRASIL, 1999).

Nessa direção, Gouveia (2012) sugere a proposição de campanhas educativas com o objetivo de atingir a mudança de comportamento da população para um consumo mais consciente. Essas campanhas podem ocorrer no próprio ambiente escolar, alertando sobre as responsabilidades ambientais, de extrema importância para a formação cidadã do indivíduo, tornando-o responsável por seu posicionamento crítico e reflexivo mediante essas questões. Além disso, tais campanhas podem resultar na transformação de espaços escolares, com a participação da comunidade escolar, ultrapassando os muros da escola e sensibilizando a população local. Para Mello (2017), esse processo deve ser participativo e contínuo, buscando-se alcançar um equilíbrio entre a relação homem X natureza, procurando alternativas sustentáveis e promovendo mudança de comportamento. Ressalta-se que a escola possui responsabilidade sobre os indivíduos e o privilégio de poder modificar atitudes e comportamentos dos discentes (FERREIRA, 2017).

Diante do exposto, este trabalho se justifica na necessidade da realização de uma campanha de coleta de materiais dispostos inadequadamente no entorno de uma escola da cidade de Pérola – PR, estimulando a reutilização desses resíduos em composições artísticas. Assim, o objetivo principal desse estudo foi promover uma composição paisagística por meio da reutilização de resíduos sólidos no Colégio Estadual Nestor Victor, em Pérola – PR, como ferramenta de Educação Ambiental. Os objetivos específicos foram: proporcionar à comunidade escolar um ambiente agradável e atrativo em sua área comum; promover o sentido de pertencimento dos estudantes, estimulando a permanência na escola; promover reflexões sobre problemáticas ambientais relacionadas aos resíduos sólidos; desenvolver a criatividade por meio de preservação e revitalização do seu próprio espaço.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado no Colégio Estadual Nestor Victor – Ensino Fundamental, Médio e Normal, situado na Avenida Passos, nº 188, zona urbana, município do Pérola, Estado do Paraná. Essa instituição contava com um amplo espaço externo, sem nenhuma composição artística e diversos resíduos sólidos dispostos de forma inadequada no seu entorno. Diante disso, esse estudo foi proposto no intuito de recolher o material e, por meio da reutilização, confeccionar obras de arte para decoração do pátio escolar. Para tanto, quarenta alunos do 3º ano do Ensino Médio, participaram da proposta voluntariamente.

Trata-se de uma pesquisa de caráter funcionalista, realizada por meio de estruturação e organização do desenvolvimento do trabalho proposto, havendo interação entre todos os indivíduos envolvidos no processo (MARCONI e LAKATOS, 2017). Além disso, utilizou-se o método dialético, com a promoção de reflexões e debates durante a revitalização paisagística do local. Por meio da dialética, Marconi e Lakatos (2017) citam que um processo sempre é o início de outro e que a natureza e a sociedade estão ligadas entre si, uma dependendo da outra e condicionando-se reciprocamente.

Para iniciar o trabalho realizou-se uma discussão sobre a importância da conservação do meio ambiente e da destinação correta dos resíduos sólidos de acordo com a legislação vigente. Nesta etapa, lançou-se uma campanha de coleta dos resíduos sólidos encontrados no entorno do colégio, dispostos inadequadamente, com duração de uma semana. Durante o processo de coleta, os estudantes discutiam as causas e consequências do mau gerenciamento dos resíduos sólidos, de forma espontânea e descontraída. A partir dessa reflexão, um novo olhar era lançado aos resíduos coletados, deixando de serem considerados apenas como “lixo” e tornando-se material reutilizável. Essas reflexões eram orientadas nos eixos da sustentabilidade, observando quais os fatores econômicos, sociais e ambientais poderiam estar envolvidos na destinação final correta dos resíduos encontrados.

Na sequência, os participantes assistiram a diversos tutoriais de produção de peças de decoração a partir de subprodutos, conforme o Quadro 1.

TutorialLink para acesso
Sapos com pneus.https://www.youtube.com/watch?v=OX5Y9A8sqio&feature=youtu.be
Artesanato com pneus velhos.https://www.youtube.com/watch?v=QlpaPn8rmDs&feature=youtu.be
A arte de reutilizarhttps://www.youtube.com/watch?v=P7RJNKAUIBY&feature=youtu.be
Trenzinho de caixotehttps://images.app.goo.gl/6e4i5y9gSpse3Cg1A
Como reciclar pneuhttps://images.app.goo.gl/PZcbZvz3PyLtspGc9
Por que a reciclagem é tão importante?https://youtu.be/ZcymnW5NRYQ

Quadro 1: Tutoriais assistidos pelos estudantes do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Nestor Victor, em Pérola – PR. Fonte: Autores, 2024.

Na sequência, os estudantes foram organizados em dez grupos com quatro integrantes cada e, em reuniões, foram definidos os objetos decorativos que seriam construídos a partir dos resíduos recolhidos no entorno da instituição de ensino. Nessa direção, o diálogo foi utilizado para a construção das propostas que contribuíram para a melhoria da paisagem escolar, utilizando-se a dinâmica do “Brainstorming Ambiental”, do inglês, chuva de ideias ou tempestade de ideias. Por meio dessa prática pedagógica, os estudantes foram estimulados a explorar suas habilidades, potencialidades e a criatividade.

Após a definição dos objetos a serem construídos, verificou-se a necessidade da utilização de alguns materiais cortantes para o preparo do material, ficando a cargo do professor pesquisador (com experiência nesta atividade) para evitar riscos de acidentes com os discentes. Para melhor decorar os objetos construídos nesta proposta, foram utilizadas plantas provenientes de doações da comunidade. Ao final das atividades, os grupos instalaram suas obras de arte elaboradas a partir dos resíduos sólidos recolhidos na campanha, reorganizando o ambiente escolar externo.

Por fim, promoveu-se uma discussão sobre a importância da preservação do ambiente escolar e do seu entorno, além de uma reflexão a respeito de pequenas ações que podem contribuir para alcançar grandes objetivos. A partir disso, os estudantes envolvidos apresentaram o novo pátio escolar às demais turmas, sensibilizando-os quanto à importância da preservação do seu próprio ambiente contemplando o tripé da sustentabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na campanha de coleta dos resíduos sólidos encontrados no entorno do colégio, dispostos inadequadamente, foram recolhidos os seguintes materiais:

  • 5 caixas de madeira (verduras/legumes);
  • 2 toras de madeira, com aproximadamente 1 m comprimento e 0,60 m de circunferência;
  • 2 toras de madeira, com aproximadamente 0,80 m de comprimento e 0,30 m de circunferência;
  • 18 rolos de madeira com 04 cm de comprimento e 12 cm de circunferência;
  • 1 bacia de alumínio;
  • 6 pneus de carro;
  • 2 pneus de caminhão;
  • 1 metro de tábua de construção;
  • 2 latas de achocolatado;
  • 4 metros de mangueira de jardim.

Além do material recolhido, foram utilizadas tintas de cores diversas, serra mármore, martelo e prego fornecidos pelo professor pesquisador. Durante a coleta, surgiram vários questionamentos sobre a quantidade e os tipos de resíduos encontrados, além de suas características e propriedades. Estes fatores são extremamente relevantes para determinar a forma e os atributos de sua destinação final (reciclagem, reutilização, inertização). De acordo com Ribeiro e Santos (2013), essas preocupações são crescentes, principalmente, em função dos impactos ambientais provocados por ações antrópicas e suas consequências, como o aquecimento global e a exploração dos recursos naturais finitos.

Nesse contexto, foi citada a Lei No 12.305 (2010), que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), considerada um marco regulatório no país (MARCHESE, KONRAD e CALDERAN, 2011). Ela é muito relevante ao se considerar a estimativa de que o volume de resíduos gerados cresce mais do que a própria população mundial. Além disso, o descarte inadequado desses resíduos pode provocar graves consequências à saúde pública e ao meio ambiente (MMA, 2016). Essa discussão tornou-se esclarecedora no sentido do reconhecimento da responsabilidade de todos no gerenciamento dos resíduos, além das possíveis vantagens econômicas, sociais e ambientais na destinação final correta de cada material.

Cabe destacar a importância do docente como mediador na construção do conhecimento. De acordo com Brito et al. (2020), ele é o responsável pelo planejamento do processo de ensino e aprendizagem, inserindo as temáticas relacionadas ao ambiente no contexto local e global, a vivência e realidade dos alunos. Dessa forma, permite-se a aproximação entre o conhecimento científico e as experiências concretas dos discentes, propiciando um saber integral, em vez de fragmentado. Quando os conhecimentos ambientais se encontram fragmentados em várias disciplinas, os discentes aprendem de forma separada (teoria e realidade), dificultando a relação entre sua realidade e os conteúdos do ensino formal (LEFF, 2009).

Nessa direção, todas as atividades realizadas nesta proposta foram contextualizadas e discutidas, promovendo-se a reflexão. A reutilização dos pneus inservíveis abandonados, por exemplo, pode ser considerada uma ação relevante na questão da saúde pública. Eles podem servir como criadouros de diversos vetores de doenças, como insetos e roedores (MANO, PACHECO e BONELLI, 2010). Nesse sentido, a água acumulada no interior dos pneus foi eliminada por meio de perfuração, contribuindo também para a formação de um ambiente arejado propício para o desenvolvimento das plantas inseridas nos objetos confeccionados.

Para este trabalho, os pneus recolhidos foram cortados com serra mármore no formato de arara (Figura 1 A) e tucano (Figura 1 B). Os grupos 1 e 2 receberam 3 modelos preparados e finalizaram o objeto com a pintura e o plantio de mudas de flores e folhagens.

Figura 1: A. Arara produzida com pneus perfurados para escoar água e manter a sobrevivência das plantas. B. Tucano produzido com pneus descartados no meio ambiente.

O grupo 3 foi responsável pela construção de uma tartaruga (Figura 2 A). O pesquisador realizou o corte da cabeça e das patas do animal, utilizando partes de pneus e, com uma bacia de alumínio, os estudantes construíram o casco. Enquanto isso, o grupo 4 desenvolveu um vaso, com formato de sapo (Figura 2 B), utilizando pneus. O professor pesquisador também forneceu as patas do animal feitas em madeira e os discentes realizaram a pintura e montaram os olhos do réptil com latas de chocolate.  Apesar das problemáticas evidentes enfrentadas pelos docentes para trabalhar as temáticas ambientais locais, ressalta-se a importância da transversalidade na EA. Em meio à carência de recursos e estrutura, aos conteúdos curriculares e suas práxis pedagógicas, acredita-se que esta iniciativa contribuiu para a formação cidadã do estudante, bem como com a melhoria da relação entre professor e aluno, diante da organização e divisão das tarefas. Nessa perspectiva, Brito et al. (2020) afirmam que o professor deve se aprofundar no conhecimento da realidade espacial de seus alunos com abordagens adequadas, usando a transversalidade da EA para relacionar as questões ambientais em diversas escalas.

Figura 2: A. Tartaruga construída a partir de pneus inservíveis e uma bacia, colocada sobre um suporte feito com Pallets. B. Sapo produzido com pneus de caminhão.

Diante do exposto, os pneus inservíveis para o consumidor que, na maioria das vezes, ficam dispostos em locais inadequados pela dificuldade em seu descarte (MOTTA, 2008) foram utilizados para decoração, despertando criatividade, arte e responsabilidade ambiental (Figuras 1 A e B, 2 A e B). Estas atividades corroboram com o pensamento de Silva Neto, Sena e Saraiva (2020) quando citam que reutilizar e reciclar são dois processos que se encaixam no conceito de sustentabilidade, pois possuem o objetivo final de combater o desperdício de materiais e contribuir para a redução do uso de recursos naturais. Além disso, promoveu-se uma reflexão a respeito dos impactos ambientais e financeiros, já que materiais foram tirados de lugares inadequados e objetos de decoração podem confeccionados para comércio, gerando emprego e renda.

Assim, este estudo contribuiu para identificar como medidas socioambientais simples podem minimizar os efeitos causados no ambiente pela má gestão dos resíduos sólidos. Essa preocupação é mundial, já que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), propõe tais mudanças de atitudes nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Vale destacar que no objetivo 11, meta 11.6 o programa propõe que, até 2030, ocorra a redução do impacto ambiental negativo per capita das cidades, com atenção especial aos resíduos sólidos (PNUD, 2016). Já em seu objetivo 12, meta 12.5, propõe a redução substancial da geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso (PNUD, 2016).

Além dos pneus, também foram recolhidos resíduos obtidos nas podas das árvores. Tais resíduos podem ser aproveitados na geração de energia térmica (SANTOS e RUGGIERO, 2019), nos processos de compostagem (GARCIA et al., 2019; MIGOT et al., 2019), entre outras finalidades sustentáveis. No entanto, no município de Pérola – PR, local deste estudo, ainda não há relatos dessas atividades. Conforme Silva (2009), a poda de árvores apresenta consideráveis custos desde o processo de corte até a remoção dos galhos para destinação. Porém, essas podas podem evitar acidentes graves, sendo uma medida de segurança. Assim, em Pérola – PR, a Prefeitura Municipal, em parceria com a Copel e Secretaria de Meio Ambiente, realiza esse trabalho no intuito de proteger os fios de energia elétrica e retirar galhos ou árvores condenadas que colocam em risco a vida da população.

A partir dessas observações, uma ideia foi definida para os grupos 5 e 6, que trabalharam com os resíduos das podas de árvores. Eles foram aproveitados como vasos para o plantio de mudas de flores (Figura 3). Os troncos foram moldados pelo professor pesquisador em formato de cochos e os estudantes fizeram o plantio e realizaram os tratos culturais, acompanhando o estabelecimento e desenvolvimento das plantas (Figura 3).

Figura 3: Cocho montado a partir de tronco de poda de árvore.

Além do exposto, o comércio madeireiro também proporciona um considerável impacto ambiental, desde o momento da remoção da madeira, até o destino final. O problema ambiental também inclui a Construção Civil e a Indústria Moveleira com seus resíduos gerados. Por ser de baixo custo (praticamente sem valor) geralmente os restos de madeira são encaminhados aos aterros sanitários, diminuindo sua vida útil. Um exemplo são os pallets, que podem ser construídos a partir da madeira ou também podem ser feitos de metal, plástico, fibra entre outros materiais. Eles servem como plataforma para que produtos sejam empilhados, a fim de facilitar o transporte por guindastes ou empilhadeiras (MATOS, 2015). É muito comum encontrar pallets quebrados e descartados em ambientes inadequados, não havendo preocupação com o material e a constante retirada de recursos naturais para sua fabricação. Nesse sentido, muitas indústrias retiram da natureza grandes quantidades de recursos naturais, além de produzirem maior quantidade de resíduos, visto que esses são relativos aos restos de matérias-primas e outros produtos que fazem parte do processo produtivo (SILVA e CERVIERI, 2015).

A partir desta reflexão, os estudantes foram estimulados à reutilização dos pallets recolhidos no entorno escolar. Assim, os grupos 7 e 8 realizaram a pintura do material que serviu de base para o grupo 3 fixar a tartaruga confeccionada (Figura 2 A), não colocando a mesma diretamente no solo. A trajetória dessas embalagens de madeira, saindo do produtor e chegando ao consumidor, é de extrema importância para proteção e conservação da qualidade dos produtos. No Brasil, geralmente elas são fabricadas com madeira de reflorestamento (pinus e eucalipto), com tábuas pregadas ou grampeadas (BORDIN, 2000). Vale ressaltar que na maioria das vezes, tanto o produtor quanto o consumidor, ainda não perceberam sua responsabilidade com relação ao resíduo gerado, conforme disposto no Art. 30 da PNRS, promulgada em 2010:

Art 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, consoante as atribuições e procedimentos previstos nesta Seção (BRASIL, 2010).

Além disso, o Art. 32, da mesma Lei, determina que as embalagens devam ser fabricadas a partir de material que propicie sua reutilização de maneira tecnicamente viável ou reciclável, caso a reutilização não seja possível. Essa responsabilidade fica estabelecida tanto aos fabricantes das embalagens quanto aos que as colocam em circulação (BRASIL, 2010). Nesse sentido, Bordin (2000) sugere que as caixas de madeira sejam revendidas ou reutilizadas. Porém, apesar delas possuírem resistência considerável, o valor comercial é baixo, além dos custos com transporte. Dessa forma, geralmente encontram-se empilhadas em frente de frutarias, mercearias e supermercados.

Neste estudo, as caixas de madeira recolhidas em Pérola – PR foram entregues aos discentes dos grupos 9 e 10, que realizaram a pintura e a fixação de uma caixa a outra com arame, construindo um trenzinho (Figura 4 A). Para melhor decorar o trem, os estudantes realizaram o plantio de diversas espécies em cada vagão. Assim, o pátio do Colégio Estadual Nestor Victor foi revitalizado (Figura 4 B), servindo de modelo de estratégia sustentável desenvolvida com apoio dos discentes, como uma prática de Educação Ambiental transformadora.

Figura 4: A. Trenzinho construído a partir de caixas de madeira. B. Pátio revitalizado.

A partir desta proposta, a comunidade escolar teve a oportunidade de usufruir de um espaço físico com o ambiente mais agradável. Os discentes puderam apropriar-se de conhecimentos em relação à importância do gerenciamento de resíduos sólidos, tornando-se agentes multiplicadores de boas iniciativas.  Além disso, vivenciaram a importância da cooperação em atividades em grupo e foram sensibilizados quanto à importância de preservar seu próprio espaço. Dessa forma, a revitalização do pátio do Colégio Estadual Nestor Victor corrobora com as premissas da Carta da Terra (2000), que em seu 14º princípio cita a importância de integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida mais sustentável. A Carta da Terra ressalta, ainda, a contribuição das artes na educação para a sustentabilidade.

A partir da apresentação do novo pátio à comunidade escolar, verificou-se que a compreensão dessas atividades também propicia a reflexão sobre os benefícios financeiros de uma prática socioambiental. Essa motivação pode resultar em continuidade às ações, gerando emprego e renda, incrementando receitas (CLARO e CLARO, 2014). Além disso, Brito et al. (2020, p. 120) afirmam que:

[…] as práticas de EA nas instituições de ensino nos seus diversos níveis e modalidades são fundamentais para a construção de sociedades justas, bem como com sustentabilidade dos recursos naturais, buscando despertar valores, baseados na liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, sustentabilidade, justiça social, e responsabilidade.

Este saber ambiental, descrito por Leff (2009) como um plano de reconstrução do conhecimento, favorece a restauração das identidades dos povos (indivíduos e comunidades), proporcionando uma nova adequação da condição humana e de conservação do ambiente global. O autor relata que esse aprendizado ambiental tem o poder de transformar o saber e o querer saber pelo processo da educação.

De acordo com Lima (2004), para despertar a reflexão e concepções ambientais, a EA deve ser desenvolvida nas escolas estabelecendo-se a contextualização das questões ambientais relacionadas ao espaço de vivência do aluno. Nesse contexto, corroborando com as recomendações de Lima (2004), este estudo contribuiu para que os estudantes percebessem sua realidade, aproximando-os do seu ambiente, propiciando o engajamento nas questões do seu cotidiano, possibilitando uma postura crítica da sua realidade. Além disso, a troca de informações ocorridas neste trabalho serviu de estímulo para que a comunidade escolar pense e desenvolva postura cidadã, com vistas a aumentar a responsabilidade com o meio em que vive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como ponto principal a necessidade de proporcionar aos estudantes do Colégio Estadual Nestor Victor (Pérola-PR) opções para a transformação do seu ambiente escolar externo com a reutilização de resíduos sólidos. Este espaço tornou-se um ambiente harmonioso, propício para aulas ao ar livre, leituras, descanso, diálogos e reflexões. Outrossim, essa ferramenta de Educação Ambiental pode resultar em mudanças de atitudes para além dos muros da escola, provocando maior responsabilidade ambiental com a disseminação de boas práticas relacionadas ao gerenciamento de resíduos sólidos.

Espera-se que, a partir deste trabalho, a comunidade escolar seja inspirada a reduzir a quantidade de resíduos sólidos dispostos em locais inadequados, reutilizando os materiais gerados com criatividade. Assim, além de melhorar sua qualidade de vida por meio de ações que envolvem o tripé da sustentabilidade, os cidadãos estarão comprometidos com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, assumindo a responsabilidade compartilhada no gerenciamento dos resíduos.

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1 ID (Orcid):   https://orcid.org/0000-0003-4127-3366
Lattes:   https://lattes.cnpq.br/3143954823657833
email: clauclaubrandao@gmail.com
LICENCIADO: 1- Ciências Biológicas – INSTITUTO  FEDERAL  DO PARANÁ
2- Educação Física – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE
3- Artes Visuais – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
PÓS GRADUADO: 1 – Gestão do Trabalho Pedagógico
(Inspeção, Orientação, Supervisão e Admistração Escolar) FACULDADE FUTURA
2- Docência do Ensino Superior e Alfabetização de Jovens e Adultos – EJA. – FACULDADE FUTURA
3- Educação Especial e Inclusiva – Ênfase na atuação do Pedagogo na Avaliação Diagnóstica – FACULDADE FUTURA
MESTRANDO EM SUSTENTABILIDADE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ/ INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ

2 ID Lattes: 0745540078227078
https://orcid.org/0000-0001-8700-5960
EMAIL: andreia.costa3@unioeste.br // acprcosta@uem.br
Docente do programa de Pós graduação em Sustentabilidade – (PSU) Universidade Estadual de Maringá e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UEM-UNIOESTE)
Doutorado em Agronomia.Faculdade de Ciências Agronômicas, FCA / Unesp, Brasil.
Mestrado em Agronomia (Agricultura).Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Graduação em Agronomia.Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Livre-docência.Universidade Estadual de Maringá, UEM, Brasil.
Pós-Doutorado.Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, Brasil.

3 https://orcid.org/0000-0002-0562-3958
http://lattes.cnpq.br/8503890458095202
EMAIL: norma.barbado@ifpr.edu.br
Docente no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal do Paraná;
Docente no Programa de Mestrado em Sustentabilidade (PSU) Instituto Federal do Paraná e Universidade Estadual do Paraná (IFPR-UEM); Coordenadora do Programa de Mestrado e Sustentabilidade (PSU).
Doutorado em Agronomia.Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, Brasil.
Mestrado em Educação.Universidade do Oeste Paulista, UNOESTE, Brasil.
Especialização em Ecoturismo.Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana, FECEA, Brasil.
Graduação em Biologia.Universidade do Oeste Paulista, UNOESTE, Brasil.
Graduação em Ciências Exatas.Associação Paranaense de Ensino e Cultura, APEC, Brasil.
Pós-Doutorado.Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.