REVISÃO INTEGRATIVA: O USO DA VALERIANA OFFICINALIS NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7369655


Isrávane Cristine Rodrigues Diniz 1
Prof. Dr. Matheus Silva Alves 2


RESUMO

INTRODUÇÃO: O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é caracterizado por excessiva ansiedade e preocupações, com diversas queixas somáticas, que afeta o paciente em vários aspectos da vida, interferindo significativamente no seu funcionamento psicossocial. Estudos apontam que a valeriana pode auxiliar no tratamento de doenças como transtorno de ansiedade generalizada, sendo uma planta medicinal rica em propriedades sedativas, relaxantes e calmantes. Alguns ácidos como o valerênico e isovalérico presentes na valeriana aumentam a atividade de neurotransmissores no cérebro, como o ácido gama-aminobutírico (GABA), que age diretamente no sistema nervoso central (SNC) aumentando a sensação de relaxamento do corpo e diminuindo os sintomas de ansiedade.

OBJETIVOS: Descrever a atividade biológica da Valeriana officinalis no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada, podendo assim, ser usada como uma alternativa fitoterápica para essa patologia.

MÉTODOS: Foi feito uma revisão de literatura em torno do assunto tratado em um intervalo de ano de 2012 a 2022, identificando publicações para o tratamento do TAG através da Valeriana officinalis, usando como buscas a plataforma Google Acadêmico. Foram utilizados para a busca dos artigos, os seguintes descritores “valeriana”, “transtorno de ansiedade generalizada”, “fitoterápicos” e “ansiedade”.

RESULTADOS: De acordo com a pesquisa bibliográfica, foram encontrados 218 artigos, e após a aplicação prévia dos critérios de inclusão, 53 artigos foram pré-selecionados para leitura de título. No entanto, conforme os critérios de exclusão citados na metodologia estabelecida, foram excluídos 23 artigos, restando apenas 11 para leitura na íntegra. Os demais, apesar de trazerem informações relevantes, fugiram do objetivo do trabalho, uma vez que abordou outros aspectos.

CONCLUSÃO: Com isso, a Valeriana officinalis tem se mostrado uma alternativa eficaz para o tratamento do TAG, principalmente em relação aos benzodiazepínicos, pois é uma planta que contêm compostos com propriedades sedativas e ansiolíticas que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC), e mesmo que por possuir menos efeitos colaterais e não causar dependência é necessário o desenvolvimento de mais estudos clínicos e experimentais para analisar possíveis efeitos adversos não identificados e garantir o seu uso.

Palavra-chave: Valerênico. Fitoterápicos. Ácido gama-aminobutírico. 

ABSTRACT

INTRODUCTION: Generalized Anxiety Disorder (GAD) is characterized by anxiety and excessive worries, with several somatic complaints, which affects the patient in various aspects of life, significantly interfering with his psychosocial functioning. Studies point out that valerian can help in the treatment of diseases such as generalized anxiety disorder, being a medicinal plant rich in sedative, relaxing and calming properties. Some acids such as valerenic and isovaleric present in valerian increase the activity of neurotransmitters in the brain, such as gamma-aminobutyric acid (GABA), which acts directly on the central nervous system (CNS), increasing the feeling of relaxation in the body and reducing anxiety symptoms.

PURPOSE: To describe the biological activity of Valeriana officinalis in the treatment of generalized anxiety disorder, thus being able to be used as a herbal alternative for this pathology.

METHODS: A literature review was carried out around the subject addressed in a year range from 2012 to 2022, identifying publications for the treatment of GAD through Valeriana officinalis, using the Google Scholar platform as searches. The following descriptors were used to search for articles: “valerian”, “generalized anxiety disorder”, “herbal medicines” and “anxiety”.

RESULTS: According to the bibliographical research, 218 articles were found, and after the previous application of the inclusion criteria, 53 articles were pre-selected for reading the title. However, according to the exclusion criteria mentioned in the established methodology, 23 articles were excluded, leaving only 11 for full reading. The others, despite bringing relevant information, escaped the objective of the work, since it addressed other aspects.

CONCLUSION: As a result, Valeriana officinalis has proven to be an effective alternative for the treatment of GAD, especially in relation to benzodiazepines, as it is a plant that contains compounds with sedative and anxiolytic properties that act on the Central Nervous System (CNS), and even if having fewer side effects and not causing dependence, it is necessary to develop more clinical and experimental studies to analyze possible unidentified adverse effects and guarantee its use.

Keywords: Valerenic. Phytotherapy. Gamma-aminobutyric acid.

1. INTRODUÇÃO

Na atualidade, o aumento de transtornos como a ansiedade, insônia, depressão ou outros distúrbios têm se tornado cada vez mais presente na sociedade, devido a diversos fatores como estresse, fatores ambientais, genética e etc. Nesse sentido também, tem aumentado a procura por tratamentos farmacológicos como psicotrópicos e os não farmacológicos, comos os fitoterápicos (VIDAL, R.J.L.; TOLEDO, C.E.M.D., 2014).

Entre esses transtornos, a ansiedade é um dos mais frequentes em todo o mundo, podendo se manifestar de varias formas como síndrome do pânico, fobia social, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós traumático (TEPT) e transtorno de ansiedade generalizada (TAG).  Dentre eles está o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) que pode se desenvolver durante a infância, e se não for tratada se prolonga até a vida adulta apresentando prejuízos funcionais em diversos aspectos da vida (VIDAL, R.J.L.; TOLEDO, C.E.M.D., 2014).

Assim, o estado de preocupação gerada pelo Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é difícil de ser controlada, pois se trata de um transtorno que se apresenta com preocupações excessivas de acontecimentos que podem ou não acontecer futuramente, podendo favorecer o aparecimento de sintomas como: cefaleia, pânico, insônia, náuseas e vômitos, taquicardia, sudorese, dores musculares, o que se torna bem marcante no TAG (FILHO, O.C.D.S.; DA SILVA, M.P., 2013).

Tendo em visto o elevado crescimento de casos de transtornos de ansiedade a solução farmacológica mais utilizada são os medicamentos benzodiazepínicos e seu consumo tem se tornado muito frequente. A classe de medicamentos benzodiazepínicos tem apresentado eficácia significante no tratamento destes distúrbios, porém, eles podem apresentar efeitos colaterais indesejados como tontura, confusão mental, dores de cabeça, sudorese, insônia, fadiga, sonolência, diminuição da atividade psicomotora, falta de memória, tolerância entre outros (NUNES, B. S., BASTOS, F. M., 2016).

Esses efeitos colaterais indesejáveis dificultam a continuidade do tratamento farmacológico propiciando a busca por terapias alternativas, dentre essas terapias encontramos os fitoterápicos, que são conceituados como medicamentos constituídos de compostos ativos vegetais, como suco, óleo, tintura, extrato, entre outras formas, e que demonstram serem boas opções terapêuticas para o tratamento de transtornos de ansiedade (SOUZA, M.R. et al., 2015).

Diante do todo o arsenal de fitoterápicos utilizados, a valeriana é descrita como um fitoterápico que pode ajudar no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. O seu uso está associado à presença de princípios ativos capazes de diminuir o nervosismo, estresse, cansaço mental e outros sintomas causados por esse distúrbio, pois aumenta à atividade do neurotransmissor do cérebro, ácido gama-aminobutírico conhecido como GABA. Esse princípio ativo é o ácido valerênico, sendo sua ação relacionada com sensibilização dos receptores do GABA, produzindo efeitos hipnóticos e ansiolíticos (CARDOSO, C. M. Z. et al, 2009).

A valeriana é uma planta medicinal da espécie Valeriana officinalis, que pertence à família Caprifoliaceae, conhecida como Erva-dos-gatos, nativa da Europa e da Ásia, e naturalizada na América do Norte, possuindo efeitos hipnóticos e sedativos, podendo ser encontrada em lugares úmidos e secos (AZEVEDO, S.G.D. et al., 2016).

A valeriana é caracterizada por ter um dos maiores mecanismos de cooperação no reino vegetal, ou seja, por possuir ativos que agem no Sitema Nervoso Central (SNC), como a atuação das lignanas, que são agonistas parciais dos receptores de adenosina. Apesar de anos de estudos e de experiência com preparação da raiz da valeriana, não há evidências de que a droga cause dependência e é bastante acessível a população (VIDAL, R.J.L.; TOLEDO, C.E.M.D., 2014).

Em decorrência da pandemia da COVID-19, foi observado um aumento de casos de pessoas diagnosticadas com ansiedade, expandindo assim, a procura por benzodiazepínicos, porém o uso contínuo desses medicamentos pode causar dependência e gerar um efeito rebote, cessando o efeito do fármaco e diminuindo a atividade do neurotransmissor GABA, sendo necessárias doses maiores do medicamento, causando diversos prejuízos para a saúde do paciente, além de dependência. Sendo assim, os medicamentos fitoterápicos se tornam uma alternativa para a redução abusiva desses fármacos que estão entre os mais prescritos e utilizados no mundo (ROLIM, J A.; DE OLIVEIRA, A.R.; BATISTA, E.C. 2020).

Assim, este trabalho tem como objetivo principal descrever a atividade biológica da Valeriana officinalis no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada, podendo assim, ser usada como uma alternativa fitoterápica para essa patologia.

2. MÉTODOS

2.1 Critérios para Levantamento de Artigos

O presente trabalho se trata de uma revisão integrativa de caráter qualitativo e descritivo, baseados na busca de artigos científicos publicados entre os anos de 2012 a 2022, identificando publicações sobre o tratamento da valeriana para o transtorno de ansiedade generalizada, e como ela pode se tornar uma alternativa para a sociedade diagnosticada com o este transtorno.

O levantamento de dados ocorreu no período de setembro a novembro de 2022. Para a realização da busca dos artigos foi utilizado a plataforma de busca: Google Acadêmico. Os descritores utilizados foram: “valeriana”, “transtorno de ansiedade generalizada”, “fitoterápicos” e “ansiedade”.  Todos os artigos selecionados foram de língua portuguesa.

Como critérios de inclusão, utilizamos artigos que atendam aos objetivos da revisão integrativa e disponibilizados na íntegra, artigos de revistas, ensaios clínicos e artigos dentro do período redigido. Já como critérios de exclusão, foram: artigos não disponibilizados na íntegra, resumos, resenhas, os artigos que estavam fora do período redigido, artigos duplicados e que não respondiam o tema proposto da revisão.

Após a coleta de dados foi efetuada a leitura dos artigos selecionados, e em seguida os dados mais relevantes ao assunto foram organizados no quadro 1, e em seguida discutido em uma revisão integrativa. Essa pesquisa, segundo a resolução do comitê de ética, não é necessário a sua submissão ao comitê.

3. RESULTADOS

Inicialmente, conforme foi descrito na metodologia, foram encontrados 218 artigos na base de dados Google Acadêmico, publicados no período descrito. Após a aplicação prévia dos critérios de inclusão, 53 artigos foram pré-selecionados para leitura de título. No entanto, depois de serem avaliados foram selecionados 23 artigos, e após a leitura apenas 11 foram selecionados, pois contribuíram para a discussão na revisão integrativa. Os demais, apesar de trazerem informações relevantes, fugiram do objetivo do trabalho, uma vez que abordou outros aspectos. As etapas de identificação, seleção e elegibilidade realizadas para esta revisão estão descritas na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma dos artigos incluídos na revisão.

Os dados principais dos artigos selecionados para fazer parte deste estudo estão evidenciados no Quadro 1.

Quadro 1: Artigos utilizados nesta revisão integrativa.

ProcedênciaTítulo do TrabalhoAutoresPeriódicoConsiderações relevantes do trabalho
Google ScholarTratamento do transtorno de ansiedade numa perspectiva da fitoterapia.ARAUJO, L.F et al.Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, v. 33, n. 64, p. 95-104, 2018.Uma paciente relatou uma evolução clinica no quadro de transtorno de ansiedade generalizada crônico e insônia. A paciente demonstrou que ao associar a uma medicação fitoterápica extraída da valeriana com medicação sintética houve melhoras acentuadas no quadro de TAG e insônia.
Google ScholarAplicação de plantas medicinais no tratamento da ansiedade: uma revisão da literaturaSANTOS, R.S et al.Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 5, p. 52060-52074, 2021.As propriedades sedativas da valeriana são intensificadas quando aplicadas com benzodiazepínicos, barbitúricos, narcóticos, alguns antidepressivos, álcool e anestésicos, proporcionando uma longa duração sedativa.
Google ScholarEfeitos farmacológicos do fitoterápico valeriana no tratamento da ansiedade e no distúrbio do sonoRODRIGUES, J.J.C et al.Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 4, p. 41827-41840, 2021.A Valeriana Officinalis L. é um fitoterápico pertencente à família Valerianaceae, que tem propriedades ansiolíticas e sedativas e seus efeitos farmacológicos ajudam no controle da ansiedade.
Google ScholarO uso da valeriana officinalis no tratamento de transtornos de ansiedadeSANTI, Renata Ferreira ESQUIVI, Eli CésarRevista Científica, v. 1, n. 1, 2021.O uso de Valeriana officinalis não pode ultrapassar o tratamento de dois meses. Em casos de doses excessivas pode causar bradicardia, arritmias, e problemas intestinais.
Google ScholarFitoterapia no auxílio ao controle e tratamento da ansiedadeRODRIGUES, Antonio Rony da Silva PereiraRevista de Casos e Consultoria, v. 13, n. 1, 2022.Muitas são as enfermidades que podem ser tratadas com a utilização de plantas medicinais, entre elas se  encontram  os  transtornos  psiquiátricos,  de  sono  e comportamentais, que se encaixam o transtorno de pânico, esquizofrenia, depressão e ansiedade.
Google ScholarO uso da valeriana officinalis como alternativa no tratamento dos transtornos da ansiedade: uma revisãoDA SILVA, Rodrigo SalustoUniversidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, 2021.Analisa os compostos e extratos de Valeriana officinalis que exibiram um amplo espectro de atividades farmacológicas, incluindo antioxidante, antimicrobiana, antiinflamatório, sedativo, anti-reumático, ansiolítico, tranquilizante, atividades espasmolíticas, anticonvulsivantes e neuroprotetoras.
Google ScholarO conhecimento dos profissionais de saúde a respeito da indicação do fitoterápico Valeriana officinalis L.em pacientes com ansiedadeFARIAS, W.S et al.Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 11, p. 108904-108916, 2021.Analisou o conhecimento dos profissionais de saúde a respeito da indicação do fitoterápico Valeriana officinalis L em pacientes com ansiedade.
Google ScholarUtilização da fitoterapia para   redução da ansiedade frente a pandemia por SARS-COV-2SILVA, F.T.M et al.Revista Fitos, 2022.Trata-se de um ensaio clínico, realizado em humanos portadores de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), um comparativo usando extrato de valeriana, placebo e diazepam.  Após o término do presente todos os pacientes apresentaram melhora relevante da ansiedade, porém, o placebo e o diazepam também apresentaram respostas psíquicas.
Google ScholarAspectos químicos e farmacológicos do medicamento fitoterápico Valeriana officinalis l.BISSOLI, Jaqueline RibeiroFaculdade de Educação e Meio Ambiente, 2013.Os medicamentos fitoterápicos à base de valeriana podem interagir com barbitúricos e benzodiazepínicos, provocando aumento dos efeitos terapêuticos desses fármacos e potencializando a depressão do Sistema Nervoso Central (SNC).
Google ScholarPotencial fitoterápico da valeriana officinalis aplicada à odontologiaMAIA L.S et al.Journal of Medicine and Health Promotion, v. 4, n. 4, 2019.Os metabólitos sesquiterpenóides são designados, normalmente, como os possíveis responsáveis pela maioria dos efeitos principais da valeriana, ou seja, pelas propriedades sedativas e ansiolíticas.
Google Scholar Avaliação do perfil de produção de fitoterápicos para o tratamento de ansiedade e depressão pelas indústrias farmacêuticas brasileirasSILVA, E.L.P. et al.Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 1, p. 3119-3135, 2020.A Valeriana officinalis é bastante eficaz no tratamento do Transtorno Ansiedade Generalizada (TAG), atuando em leves desequilíbrios do sistema nervoso, por meio do aumento na concentração do GABA nas fendas sinápticas após a administração da mesma.
Fonte: Autor, 2022.

4. REVISÃO INTEGRATIVA

A partir dos resultados encontrados, Rodrigues (2022) comenta serem muitas as enfermidades que podem ser tratadas com a utilização de plantas medicinais, e dentre essas enfermidades se encontram os transtornos psiquiátricos, de sono e comportamentais, que se encaixam o transtorno de pânico, esquizofrenia, depressão e ansiedade, tendo o último como um dos mais comuns na população brasileira e, segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), 18,6 milhões de brasileiros sofrem de algum transtorno de ansiedade. Rodrigues (2022) também cita que a ansiedade é uma resposta comum que pode ocasionar medo, apreensão, dúvida, causando assim, sintomas como dores no peito, fadiga, palpitações e distúrbio do sono.

Segundo Santos (2021), a ansiedade é uma resposta natural do corpo ao estresse, uma das emoções humanas básicas. Ela é uma reação que faz parte do estado emocional e fisiológico do ser humano, responsável por alertar, por meio do organismo, quando há perigo iminente. No entanto, quando é descrita como um estado emocional desencadeado por eventos futuros, a ansiedade torna-se patológica, sobre o qual é difícil a projeção de resultados, não tendo necessariamente um agente causador específico.

Silva (2021) mostra que em 2020 o Brasil se estabeleceu o país mais ansioso do mundo e conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) a predominância mundial do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é de 3,6%. No continente americano esse transtorno mental alcança maiores proporções e atinge 5,6% da população, com destaque para o Brasil, onde o TAG está presente em 9,3% da população, possuindo o maior número de casos de ansiedade entre todos os países do mundo. E de acordo com a OMS, quase 20 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade.

Com isso, as plantas medicinais são opções para tratamento desse transtorno, e Rodrigues (2021) explica que a Valeriana Officinalis L. é um fitoterápico da família Caprifoleaceae (Valerianaceae) com propriedades ansiolíticas e sedativas e sua ação farmacológica auxilia no controle da ansiedade e da insônia. A raiz de Valeriana contém mais de 150 metabólitos secundários, entre eles estão os monoterpenosbicíclicos (valpotriatos, valtrato e dihidrovaltrato), óleos voláteis (valeranona, valerenal e ácidos valerênicos), sesquiterpenos, lignanas e alcalóides, contendo também aminoácidos livres, como o ácido gama-aminobutírico (GABA), tirosina, arginina e glutamina.

Segundo Silva (2021), os compostos e extratos da valeriana apresentaram uma ampla variedade de atividades farmacológicas como antiinflamatória, antioxidantes, sedativas, ansiolíticas, anticonvulsivantes, antimicrobiana, anti-reumático, tranquilizante, atividades espasmolíticas, anticonvulsivantes e neuroprotetoras, sendo a raiz e o rizoma as partes mais utilizadas para o consumo humano. Dessas partes da planta que são feitos chás, comprimidos e cápsulas.

Para Maia et al. (2019) os metabólitos sesquiterpenóides são os possíveis responsáveis pela maioria dos principais efeitos da Valeriana officinalis, pelas suas  propriedades sedativas e ansiolíticas que possuem uma ação combinada dos três princípios ativos responsáveis pelo seu efeito farmacológico, os quais são: 1) Valpotriatos: atuam na formação reticular por meio de um efeito estabilizante sobre os centros vegetativos e emocionais, restaurando o equilíbrio autônomo-fisiológico; 2) Sesquiterpenos: incluem os ácidos valerênicos e seus derivados. Inibindo a enzima que metaboliza o GABA (GABA transaminase), aumentando os níveis desse mediador no sistema nervoso central. Não apresentam efeitos citotóxicos com boas propriedades sedativas e tranquilizantes; 3) Lignanas: induzem à sedação.

De acordo com os dados de anteriormente, Rodrigues (2021) comenta que a eficácia da Valeriana officinalis tem sido comprovada por diversos estudos, porém ainda há muito a se descobrir sobre o fitoterápico, desde suas ações farmacológicas até as suas interações medicamentosas, pois mesmo sendo uma planta, possui ação sob o Sistema Nervoso Central (SNC) e pode potencializar outros fármacos. A Valeriana é um fitoterápico que tem seus efeitos farmacológicos com maior eficácia de acordo com seu uso prolongado, podendo ser administrado até 600 mg em doses diárias divididas em 4 vezes por dia.

Bissoli (2013) e Santos (2021) mostraram que os medicamentos fitoterápicos a base da valeriana contém o mecanismo sedativo que pode ser potencializado quando administrada com algumas classes de medicamentos como os benzodiazepínicos, narcóticos, barbitúricos, alguns antidepressivos, e álcool, com isso aumentando os efeitos terapêuticos desses fármacos, aumetando também o seu tempo de sedação e potencializando a depressão do Sistema Nervoso Central (SNC).

Bissoli (2013) aponta ainda, que em uma pesquisa realizada que buscava comparar a atividade ansiolítica da Valeriana Oficinallis L. e do Diazepam, os resultados comportamentais mostraram um efeito ansiolítico e hipnótico da Valeriana Oficinallis L., observando a acentuada atividade ansiolítica em todos os testes se assemelhando ou até algumas vezes superando os efeitos do padrão Diazepam, sendo a dose mais eficaz a de 200 mg/kg. Essa ação pôde ser confirmada pela sua depressão do Sistema Nervoso Central (SNC).

Bissoli (2013) também apresenta alguns dos principais nomes comerciais e fabricantes de medicamentos a base de valeriana que são Valeriane: extrato seco de Valeriana officinalis 50 mg, padronizado a 0,4 mg (0,8%) de ácidos valerênicos. As drágeas Sonhare, Valerix e Sonoripam compostas por extrato seco de Valeriana officinalis, cada uma com 50 mg, 0,8% de ácidos valerênicos (0,4 mg) e 50 mg, respectivamente.

Araújo (2018) mostrou um estudo que embora ainda não existam ensaios clínicos sobre a Valeriana officinalis que comprovem as ações terapêuticas para o uso clínico, na prática, constatou uma evolução clínica de uma paciente com quadro de transtorno de ansiedade generalizada crônico e insônia. A paciente demonstrou que ao associar a uma medicação fitoterápica extraída da valeriana com medicação sintética houve melhoras acentuadas no quadro do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e insônia.

Silva (2022) relata que em um ensaio clínico realizado em humanos portadores do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), foi feito um comparativo usando extrato da valeriana, placebo e diazepam. Após o término do presente estudo, todos os pacientes apresentaram melhora relevante da ansiedade, porém, o placebo e o diazepam também apresentaram respostas psíquicas. Dessa forma, o estudo não foi totalmente conclusivo, já que a exclusão do grupo placebo levaria a concluir que há eficácia no extrato testado, apresentando semelhança a droga padrão (diazepam), apresentando efeito ansiolítico. Por isso, a importância da inclusão dos três grupos, pois, a ausência do grupo placebo poderia levar à conclusão da eficácia do extrato testado ser similar à droga padrão.

Segundo Silva (2020), a Valeriana officinalis é bastante eficaz não só no tratamento de Transtorno Ansiedade Generalizada (TAG), mas também no Transtorno de Ansiedade Social (TAS) e insônia, agindo em leves desequilíbrios do sistema nervoso, por meio do aumento na concentração do GABA nas fendas sinápticas após a administração da mesma. Porém, seu uso em doses altas e por períodos prolongados, pode levar a alguns efeitos colaterais indesejáveis como excitabilidade, náuseas, diarreia, cefaleia, tonturas, obstipação intestinal, bradicardia, sonolência, desaparecendo apenas com a suspensão do tratamento.

Para Santi e Esquivi (2021), o uso de Valeriana officinalis não pode ultrapassar o tratamento de dois meses, e em casos de doses excessivas pode causar bradicardia, arritmias, e problemas intestinais, podendo também apresentar efeito rebote, causando agitação e insônia, e por isso deve ser evitado o uso imediatamente ao deitar. Por ser utilizado na extração de substâncias alcoólicas, quando administradas simultaneamente com Metronidazol ou dissulfiram, também podem causar vômitos e náuseas.

Farias (2021), buscou em sua pesquisa, analisar o conhecimento de 40 profissionais de saúde a respeito da indicação do fitoterápico Valeria officinalis L. em pacientes com ansiedade, e mostrou que 62% apontam que a Valeriana officinalis L. possui indicação para tratamento de ansiedade e 38% respondeu que não sabe. Mesmo com um número menor, a pesquisa mostra que os profissionais da saúde conseguem identificar a indicação terapêutica da valeriana, e 50% dos participantes apontam efeito da valeriana como ansiolítico, 37% como efeito de sedação, 5% não sabe seu efeito, 3% antiespasmódico, 3% hipnótico e 2% para induzir fome. Metade dos participantes conhece o efeito de forma isolada da valeriana, como apontado o efeito ansiolítico.

5. CONCLUSÃO

Diante dos resultados encontrados na literatura, a Valeriana officinalis tem se mostrado uma alternativa eficaz para o tratamento do TAG, principalmente em relação aos benzodiazepínicos, pois é uma planta que contêm compostos com propriedades sedativas e ansiolíticas que atuam diretamente no Sistema Nervoso Central (SNC), e possuem menos efeitos colaterais e não causa dependência, tornando-se uma opção muito atrativa para pessoas com esta patologia. 

Por fim, conclui-se que a Valeriana officinalis auxilia no quadro de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), e apesar de seu uso popular, o desenvolvimento de mais estudos clínicos e experimentais são necessários para analisar possíveis efeitos adversos não identificados da planta medicinal para garantir o seu uso.

REFERÊNCIAS

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1Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
Artigo científico apresentado à Universidade CEUMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia

2Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA