RESPOSTA PATOLÓGICA COMPLETA (pCR) DO CÂNCER DE MAMA TRIPLO NEGATIVO APÓS QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202510281804


Ana Galdina Dias Guerra Ferreira1
Izadora Luz Santos2
Thiago Pereira Diniz3


RESUMO  

O número absoluto de casos de câncer de mama tem aumentado tanto no Brasil  quanto no mundo. O câncer de mama triplo negativo (CMTN) é um subtipo muito  agressivo e de alto grau, caracterizado por evolução rápida, alta taxa de recidiva  precoce e tendência a formar metástases. Esse estudo objetivou identificar  publicações que descrevam a resposta patológica completa (pCR) do câncer de  mama triplo negativo após quimioterapia neoadjuvante (QTNEO). Foi realizada uma  revisão integrativa através da busca de artigos de 2020 a 2024 nas bases de dados  SciELO, LILACS e Medline via BVS. A busca resultou em 7 artigos, que convergem  para a conclusão de que, no caso específico do CMTN, a QTNEO tem sido indicada  precocemente devido ao seu prognóstico desfavorável, oferecendo benefícios  relevantes, como a possibilidade de cirurgias menos mutilantes, a conversão de  tumores inicialmente inoperáveis em operáveis, a obtenção de informações sobre o  comportamento biológico do tumor in vivo, o monitoramento da resposta tumoral aos  fármacos utilizados e a avaliação de possíveis terapias adjuvantes. Alguns estudos  constataram que entre 40% e 60% das pacientes com câncer de mama triplo  negativo (CMTN) submetidas à QTNEO atingem a pCR, o que se associa a menores  taxas de recidiva e maior sobrevida global. Diante da maior agressividade e do  prognóstico desfavorável característicos do CMTN, torna-se evidente a necessidade  de explorar alternativas terapêuticas além da quimioterapia convencional. 

Palavras-chave: Resposta patológica completa. Câncer de mama triplo negativo.  Quimioterapia neoadjuvante. 

ABSTRACT  

The absolute number of breast cancer cases has increased both in Brazil and  worldwide. Triple-negative breast cancer (TNBC) is a very aggressive and high-grade  subtype, characterized by rapid progression, a high rate of early recurrence, and a  tendency to form metastases. This study aimed to identify publications that describe  the complete pathological response (pCR) of triple-negative breast cancer after  neoadjuvant chemotherapy (NAC). An integrative review was conducted through a  search for articles from 2020 to 2024 in the SciELO, LILACS, and Medline databases  via BVS. The search resulted in 7 articles, which converge on the conclusion that, in the specific case of TNBC, NACT has been indicated early due to its unfavorable  prognosis, offering significant benefits such as the possibility of less mutilating  surgeries, the conversion of initially inoperable tumors into operable ones, obtaining  information about the biological behavior of the tumor in vivo, monitoring tumor  response to the drugs used, and evaluating possible adjuvant therapies. Some  studies have found that between 40% and 60% of patients with triple-negative breast  cancer (TNBC) undergoing NACT achieve pCR, which is associated with lower  recurrence rates and higher overall survival. Given the greater aggressiveness and  unfavorable prognosis characteristic of TNBC, it becomes evident that it is necessary  to explore therapeutic alternatives beyond conventional chemotherapy.  

Keywords: Complete pathological response. Triple-negative breast cancer.  Neoadjuvant chemotherapy.  

1. INTRODUÇÃO  

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2020a), estima-se que o Brasil  registre aproximadamente 704 mil novos casos de câncer em 2025. Esse  crescimento está relacionado tanto ao envelhecimento populacional quanto à  permanência de fatores de risco ligados ao estilo de vida, como o consumo  excessivo de álcool, o tabagismo, o sedentarismo, a obesidade e uma alimentação  inadequada. Entre as mulheres, o câncer de mama é a principal causa de morte por  essa doença no país, apresentando uma taxa de mortalidade ajustada por idade,  considerando a população mundial, de 11,71 casos por 100 mil habitantes em 2021,  totalizando 18.139 óbitos (ONCOGUIA, 2020).  

O câncer de mama é uma condição altamente heterogênea e complexa,  influenciada por diversos fatores de risco, como idade, etnia, predisposição genética,  presença de doenças benignas mamárias, exposição prévia à radioterapia na região  torácica, obesidade, hábitos reprodutivos, tabagismo, consumo de álcool e  sedentarismo. Alguns desses fatores têm um impacto maior sobre o risco da doença  do que outros, e esse risco pode variar ao longo do tempo, influenciado pelo  envelhecimento e pelo estilo de vida (Singletary; Connolly, 2006).  

Os tumores de mama apresentam diversos tipos histológicos, segundo Lima e  Lima (2022), sendo o carcinoma ductal infiltrante o mais prevalente, correspondendo  a aproximadamente 70 a 80% dos casos. Em seguida, o carcinoma lobular infiltrante  representa cerca de 5 a 15%, enquanto o restante dos diagnósticos se distribui entre  outros tipos histológicos específicos. A análise imunohistoquímica dos receptores  hormonais e do HER2 permite a classificação dos pacientes em subtipos moleculares, incluindo aqueles com receptores hormonais positivos (RE e/ou RP  positivo), HER2 positivo (RE e/ou RP positivo e HER2 positivo) e triplo negativo (RH  negativos e HER2 negativo). Essa classificação desempenha um papel essencial no  prognóstico e na predição de resposta ao tratamento (Asleh et al., 2020).  

Coelho et al., (2017) explica que a abordagem terapêutica do câncer de  mama deve considerar fatores como prognóstico, resposta ao tratamento e  acompanhamento das pacientes, classificando-as com base no estadiamento da  doença.  

Os tumores triplo negativos (TNBC) têm sido objeto de estudos que indicam  um aumento significativo na taxa de resposta patológica completa (pRC) quando  tratados com esquemas terapêuticos baseados em platina associada a taxanos.  Segundo revisão realizada por Von Mickwitz et al., em 2012, essa abordagem pode  elevar a taxa de pRC de 30% para 55%, podendo alcançar até 77%. No entanto,  grande parte dos estudos foi conduzida com um número reduzido de pacientes,  utilizando modelos de análise de braço único e diferentes critérios de avaliação da  pRC, considerando a presença do tumor apenas na mama, na mama e na axila, ou  sua associação com carcinoma ductal in situ (Von Minckwitz et al., 2012).  

O câncer de mama triplo negativo é um subtipo molecular caracterizado por  sua heterogeneidade tanto na manifestação clínica quanto no prognóstico das  pacientes (Tavares et al., 2021). Diante dessa complexidade, torna-se fundamental  avaliar os casos submetidos à quimioterapia neoadjuvante, quantificando a taxa de  pRC e analisando, de forma secundária, a sobrevida livre de doença, a sobrevida  global e os fatores clínicos que possam impactar a resposta patológica completa e o  desfecho clínico das pacientes. Avanços nesse campo podem contribuir para  aprimorar os protocolos terapêuticos e possibilitar uma abordagem mais eficaz no  tratamento do câncer de mama triplo negativo.  

Dessa forma, esse estudo se propõe a correlacionar, a partir da literatura  associada, a resposta patológica completa para o câncer de mama triplo negativo  após quimioterapia neoadjuvante. Os objetivos dessa pesquisa foram: identificar  publicações que descrevam a resposta patológica completa (pCR) do câncer de  mama triplo negativo após quimioterapia neoadjuvante; descrever a associação  entre a resposta patológica e a sobrevida livre de doença (SLD) e a sobrevida global  (SG) dos pacientes com câncer de mama triplo negativo submetidos à quimioterapia neoadjuvante; identificar o índice de pacientes que apresentaram resposta  patológica completa (pCR) após terem feito a utilização de quimioterapia  neoadjuvante; e avaliar o prognóstico de pacientes com câncer de mama triplo  negativo submetidos à quimioterapia neoadjuvante.  

2. METODOLOGIA  

Esse estudo consistiu de uma revisão integrativa da literatura que teve como  questão norteadora: qual a descrição da ocorrência da resposta patológica completa  (pCR) do câncer de mama triplo negativo após quimioterapia neoadjuvante? Foi feita  uma busca na literatura científica nas bases: Literatura Latino-Americana e do  Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medline via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).  

Esse levantamento foi realizado seguindo a utilização dos seguintes  descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Resposta patológica completa (pCR)”;  and “Câncer de mama triplo negativo”; and “Quimioterapia neoadjuvante”. No  levantamento dos dados foram considerados os seguintes critérios de inclusão:  artigos realizados e publicados no período de 2020 a 2024, completos publicados  em português, inglês e espanhol, artigos que abordem a temática da resposta  patológica completa (pCR) do câncer de mama triplo negativo após quimioterapia  neoadjuvante, e artigos disponibilizados na íntegra. Como critérios de exclusão dos  artigos foram descartados: estudos de revisão de literatura, estudos incompletos,  artigos indisponíveis na íntegra.  

Os resultados e discussão foram feitos de forma descritiva, com a  categorização dos resultados de cada artigo selecionado, baseando-se na  similaridade de conteúdo. Com base nisso, foram elaboradas categorias analíticas  conforme os conteúdos encontrados nos resultados dos artigos, que foram  agrupados segundo a semelhança entre os temas abordados.  

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO  

Realizando o cruzamento de todos os dados, essa busca retornou um total de  sete artigos como amostra final atendendo a todos os critérios de inclusão do presente estudo. A análise dos achados foi conduzida com base em um diálogo  crítico com os autores que abordam essa temática.  

A análise dos estudos incluídos na amostra dessa revisão integrativa aponta  para a relevância do tema, uma vez que entender a relação entre a resposta  patológica e o câncer de mama triplo negativo submetido à quimioterapia  neoadjuvante, pode apontar caminhos para a condução do tratamento para esse tipo  de câncer tão agressivo. A discussão dos estudos selecionados como amostra está  estruturada em categorias baseadas nos aspectos centrais dessa temática e alinhadas  com os objetivos do presente estudo.  

3.1 Relação entre resposta patológica e sobrevida livre de doença e global de  pacientes com câncer de mama triplo negativo submetidos à quimioterapia  neoadjuvante  

O câncer de mama triplo negativo (CMTN) é classificado como um tumor  agressivo e de alto grau, caracterizado por evolução rápida, alta taxa de recidiva  precoce e tendência a formar metástases, especialmente em órgãos viscerais como  o cérebro e o pulmão. O tratamento geralmente baseia-se em esquemas  quimioterápicos utilizados na neoadjuvância, que incluem classes de fármacos como  antraciclinas, ciclofosfamidas, taxanos e carboplatinas. Esses agentes atuam  promovendo a morte das células tumorais, além de estimularem respostas  imunológicas e reduzirem a imunossupressão associada às células neoplásicas  (LOPES, 2020).  

No caso específico do CMTN, a QTNEO tem sido indicada precocemente,  inclusive para tumores superiores a 1 cm ou com linfonodos positivos, devido ao seu  prognóstico desfavorável. Como esses casos inevitavelmente requerem  quimioterapia adjuvante, a administração prévia do tratamento possibilita avaliar a  sensibilidade do tumor aos medicamentos utilizados. O resultado patológico obtido  após a cirurgia orienta, então, as condutas terapêuticas subsequentes (GAUI, 2023).  

A indicação do uso da quimioterapia neoadjuvante (QTNEO) em casos de  câncer de mama triplo negativo (CMTN) é igualmente sustentada por Anunciação  (2020), que destaca em seu estudo que pacientes com tumores localmente  avançados iniciam o tratamento por meio de terapias sistêmicas administradas antes da cirurgia definitiva, como quimioterápicos, bloqueadores hormonais ou terapias alvo. Segundo o autor, a abordagem neoadjuvante oferece benefícios relevantes,  como a possibilidade de realizar cirurgias menos mutilantes, a conversão de tumores  inicialmente inoperáveis em operáveis, a obtenção de informações sobre o  comportamento biológico do tumor in vivo, o monitoramento da resposta tumoral aos  fármacos utilizados e a avaliação de possíveis terapias adjuvantes. Após essa etapa,  as pacientes seguem para o tratamento cirúrgico — seja por mastectomia ou cirurgia  conservadora —, além da radioterapia e da terapia sistêmica adjuvante, conforme os  protocolos estabelecidos.  

O emprego da QTNEO no manejo do CMTN é igualmente respaldado por  Brito (2022), que define essa modalidade terapêutica como um tratamento sistêmico  administrado antes da intervenção loco-regional do tumor primário. Também  conhecida como quimioterapia primária, pré-operatória ou de indução, essa  estratégia foi inicialmente indicada para pacientes com doença loco-regional  avançada ou metastática, sendo posteriormente estendida a casos em estágios mais  precoces, à medida que sua eficácia foi comprovada.  

Conforme relatado por Negrão et al. (2020), a QTNEO, que originalmente  surgiu como alternativa terapêutica para tumores inoperáveis, demonstrou avanços  significativos ao longo do tempo. Além de apresentar eficácia equivalente à  quimioterapia adjuvante, mostrou vantagens como a redução do tamanho tumoral,  possibilitando cirurgias conservadoras em pacientes que antes seriam candidatas à  mastectomia. Outras contribuições incluem o tratamento dos linfonodos axilares,  permitindo a substituição do esvaziamento axilar pela biópsia do linfonodo sentinela,  bem como a avaliação in vivo da resposta tumoral e a identificação de resposta  patológica completa (pCR) após o tratamento.  

Nesse mesmo contexto, Gaui (2023) reforça a importância da pCR como um  parâmetro essencial na avaliação da eficácia da QTNEO em pacientes com CMTN.  A pCR, definida pela ausência de células tumorais residuais na mama e nos  linfonodos axilares, é considerada o principal indicador de resposta terapêutica,  estando associada a melhores taxas de sobrevida global e livre de doença. Dessa  forma, a obtenção da pCR tem sido utilizada como um desfecho substituto para a  previsão do benefício clínico em longo prazo, apresentando maior valor prognóstico  especialmente em subtipos tumorais de comportamento agressivo, como o CMTN. 

A eficácia da quimioterapia neoadjuvante (QTNEO) é avaliada por meio do  exame anatomopatológico da peça cirúrgica. Nessa análise, a resposta pode ser  classificada em três categorias principais. A resposta patológica completa (pCR)  ocorre quando não há evidência de tumor invasivo no tecido mamário nem nos  linfonodos regionais. Já a resposta parcial (RP) é observada quando persiste tumor  residual invasivo na mama e/ou na axila. Por outro lado, considera-se ausência de  resposta quando não se identificam alterações na celularidade da parede torácica  (T) ou dos linfonodos regionais (N), ou ainda quando há aumento desses parâmetros  em relação ao estadiamento inicial (Negrão et al., 2020).  

Lopes (2020) constatou que entre 40% e 60% das pacientes com câncer de  mama triplo negativo (CMTN) submetidas à QTNEO atingem a pCR, o que se  associa a menores taxas de recidiva e maior sobrevida global. No entanto, a maioria  das pacientes que não respondem de forma satisfatória à terapia tende a  desenvolver metástases, resultando em prognóstico desfavorável e pior desfecho  clínico.  

Resultados semelhantes foram descritos por Gaui (2023), que identificou  elevadas taxas de resposta patológica completa em pacientes com CMTN tratadas  com QTNEO, variando entre 26% e 64%, conforme os protocolos terapêuticos e  populações avaliadas. Segundo o autor, determinados fatores prognósticos estão  associados a uma melhor resposta à quimioterapia, incluindo menor tamanho  tumoral, alto grau histológico e presença de infiltrados linfocitários tumorais (TILs).  Além disso, estudos recentes apontam que a assinatura imune tumoral tem se  destacado como um importante preditor de resposta à quimioterapia, especialmente  em tumores com receptores hormonais negativos (LOPES, 2020; NEGRÃO et al.,  2020; CASSIANO, 2022; ROSSONI et al., 2020).  

Cassiano (2022) corrobora essas observações ao destacar que os tumores  triplo negativos não dispõem de terapias-alvo específicas, sendo a quimioterapia a  principal estratégia de tratamento. Quando administrada no contexto neoadjuvante,  essa modalidade atua como um teste in vivo de sensibilidade tumoral aos agentes  quimioterápicos. O autor relata que aproximadamente 20% a 30% das pacientes  com CMTN alcançam resposta patológica completa (pCR) após o uso da  quimioterapia neoadjuvante, resultado que se associa a taxas mais elevadas de sobrevida. No entanto, o mecanismo exato que determina a sensibilidade desses  tumores ao tratamento quimioterápico ainda não está totalmente elucidado.  A análise da resposta à QTNEO é geralmente realizada por meio da  combinação entre avaliação clínica e exames de imagem. Entre as diferentes  modalidades disponíveis, a ressonância magnética (RM) tem se mostrado a mais  sensível para acompanhar a evolução da resposta tumoral durante o tratamento. A  análise dinâmica com contraste na RM permite identificar a angiogênese tumoral,  alterações na microcirculação e o aumento da permeabilidade dos vasos  neoformados. Dessa forma, essa técnica fornece uma compreensão mais detalhada  da fisiopatologia da resposta tumoral à QTNEO, permitindo uma detecção mais  precoce e precisa da eficácia terapêutica quando comparada às avaliações  anatômicas convencionais realizadas por mamografia e ultrassonografia (Negrão et  al., 2020).  

3.2 Prognóstico de pacientes com câncer de mama triplo negativo submetidos  à quimioterapia neoadjuvante  

Rossoni et al. (2020) definem os fatores prognósticos como características  clínicas, patológicas e biológicas associadas ao câncer e ao perfil tumoral do  paciente, capazes de prever o desfecho clínico da doença — como a probabilidade  de recidiva ou de sobrevida — mesmo na ausência de tratamento. Um marcador  prognóstico é, portanto, qualquer parâmetro que, no momento do diagnóstico,  forneça informações sobre a evolução clínica da neoplasia, desde que esteja  relacionado a mecanismos biológicos envolvidos na transformação celular, no  crescimento tumoral ou na cascata metastática. Quando, além disso, o marcador  auxilia na seleção de pacientes que podem responder melhor a uma terapia  específica, ele também pode ser classificado como marcador preditivo.  

A influência do microambiente tumoral e das células imunológicas sobre o  comportamento das células neoplásicas tem sido amplamente reconhecida,  especialmente no câncer de mama triplo negativo (CMTN). Contudo, a literatura  ainda apresenta divergências e lacunas sobre como essa interação afeta a  progressão tumoral e a resposta ao tratamento. 

Em um estudo sobre a relação entre resposta patológica e sobrevida em  pacientes com câncer de mama tratadas com QTNEO, Brito (2022) observou que as  alterações histológicas e macroscópicas pós-tratamento — incluindo o  desaparecimento total de alguns tumores — motivaram o desenvolvimento de  sistemas de classificação da resposta patológica, a fim de tornar essa avaliação  mais objetiva e correlacioná-la a fatores prognósticos e preditivos de resposta à  quimioterapia neoadjuvante.  

De acordo com Anunciação (2020), pacientes com câncer de mama  localmente avançado iniciam o tratamento com terapia neoadjuvante, que consiste  na administração prévia de agentes sistêmicos — como quimioterápicos,  bloqueadores hormonais ou terapias-alvo — antes da cirurgia definitiva. Essa  estratégia proporciona benefícios como a realização de cirurgias menos invasivas, a  conversão de tumores inicialmente inoperáveis em operáveis, a observação in vivo  do comportamento biológico tumoral, o monitoramento da resposta à droga utilizada  e a avaliação de possíveis terapias adjuvantes. Após essa etapa, as pacientes  seguem para tratamento cirúrgico (mastectomia ou cirurgia conservadora),  radioterapia e quimioterapia adjuvante, conforme protocolos clínicos estabelecidos.  

A resposta patológica completa (pCR), segundo Brito (2022), está diretamente  relacionada a melhores taxas de sobrevida global e sobrevida livre de doença,  variando conforme o subtipo molecular do câncer de mama. Embora a taxa geral de  resposta à QTNEO seja elevada — entre 60% e 90% — a pCR ocorre em cerca de  20% dos casos. O uso de compostos à base de platina tem demonstrado potencial  para elevar essa taxa, embora apresente maior toxicidade hematológica, sendo uma  alternativa relevante para pacientes com CMTN submetidas à QTNEO.  

Em seu estudo, Anunciação (2020) reforça que o tipo de resposta ao  tratamento neoadjuvante é um dos principais determinantes de prognóstico,  sobretudo no CMTN, e destaca a necessidade de biomarcadores que permitam  prever a evolução e a resposta ao tratamento.  

Nessa mesma linha, Gaui (2023) apresenta evidências sobre a importância  dos biomarcadores no contexto do CMTN, destacando o papel fundamental do  microambiente tumoral (TME) na modulação do comportamento neoplásico. Embora  o câncer de mama não seja classicamente considerado uma neoplasia imunogênica, é possível identificar infiltrados imunológicos — compostos por células da resposta  imune inata e adaptativa — em amostras tumorais, principalmente nos subtipos triplo  negativos. Esses infiltrados são observados em até 75% dos casos, e  aproximadamente 20% dos tumores apresentam uma infiltração imune  particularmente densa.  

O infiltrado linfocitário tumoral (TILs) constitui a principal fração das células  imunes presentes no microambiente do tumor mamário. Evidências crescentes  apontam correlação positiva entre níveis elevados de TILs e maior sobrevida,  especialmente em casos de CMTN. Ensaios clínicos randomizados que compararam  diferentes protocolos de quimioterapia neoadjuvante em tumores triplo negativos  demonstraram que a presença de TILs nas biópsias está associada à melhor  resposta patológica. Dessa forma, os TILs têm se consolidado como biomarcadores  promissores de resposta à quimioterapia e de prognóstico clínico favorável (GAUI,  2023).  

O mesmo autor ressalta que a interação entre o tumor, o microambiente e o  hospedeiro é um fenômeno dinâmico, podendo variar conforme o estágio da doença,  o tipo de neoplasia, o perfil imunológico do paciente e as metodologias de análise  empregadas. Assim, estudos que busquem compreender a composição e o papel  funcional dos TILs em diferentes protocolos terapêuticos são essenciais para o  avanço do conhecimento sobre o CMTN.  

O CMTN distingue-se molecularmente pela ausência de receptores hormonais  de estrogênio, progesterona e HER-2, o que o torna um subtipo altamente agressivo  e com opções terapêuticas limitadas. Diante disso, torna-se urgente o  desenvolvimento de pesquisas voltadas ao mapeamento biomolecular desses  tumores, com o objetivo de identificar vulnerabilidades estruturais que possam  comprometer sua proliferação e induzir a apoptose celular (ROSSONI et al., 2020).  

Em análise complementar, Rossoni et al. (2020) destacam que a identificação  das vias moleculares envolvidas no desenvolvimento e na progressão do CMTN é  fundamental para individualizar o tratamento e aprimorar o prognóstico. Os autores  enfatizam a importância de investimentos em tecnologias e metodologias  padronizadas que possibilitem estudos mais precisos e replicáveis sobre o tema,  especialmente considerando que, embora o CMTN represente cerca de 15% a 20% dos casos de câncer de mama, ele está entre os subtipos com prognóstico mais  desfavorável. 

4. CONCLUSÃO  

O aprimoramento das estratégias terapêuticas voltadas ao câncer de mama,  especialmente na forma metastática, continua sendo um dos principais objetivos da  oncologia moderna. O avanço nessa área não apenas contribui para o aumento da  sobrevida das pacientes, mas também para a melhoria de sua qualidade de vida. O  desenvolvimento acelerado do conhecimento em biologia molecular tem  transformado constantemente o cenário das pesquisas terapêuticas, redefinindo os  desafios e as possibilidades de tratamento. Tradicionalmente, as abordagens  terapêuticas eram baseadas principalmente em aspectos histológicos do tumor. No  entanto, com o progresso dos estudos genômicos, novos alvos moleculares foram  identificados, permitindo o surgimento de terapias mais direcionadas e  potencialmente mais eficazes.  

Diante da maior agressividade e do prognóstico desfavorável característicos  do CMTN, torna-se evidente a necessidade de explorar alternativas terapêuticas  além da quimioterapia convencional, que, na maioria dos casos, ainda constitui o  tratamento padrão. Assim, a compreensão aprofundada das interações entre o  sistema imunológico e o microambiente tumoral pode abrir caminho para o  desenvolvimento de novas abordagens imunoterápicas, capazes de proporcionar  desfechos clínicos mais favoráveis, especialmente para pacientes com doença em  estágio avançado. 

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1Graduanda em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: anagaldinadias@gmail.com

2Graduanda em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: izadoraaluz@hotmail.com

3Docente do curso de Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: thiagopereiradiniz@yahoo.com.br