REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504141630
Mauro de Souza Tenente1
Jesiel de Menezes Cruz2
Resumo
O presente artigo científico aborda a temática da resiliência empresarial, com foco nos princípios que norteiam a gestão de organizações em um ambiente de negócios em constante transformação. Trata-se de uma revisão de literatura que visa compreender os princípios da gestão estratégica em tempos de crise e mudança. Inicialmente, discute-se o conceito de resiliência empresarial, aprofundando a temática por meio de questionamentos sobre a responsabilidade institucional no estabelecimento de valores expressos na filosofia organizacional, visando a formação de um ambiente propositivo e evolutivo diante de crises. Em seguida, apresenta-se uma análise de princípios norteadores para a formação de uma cultura e prática de resiliência, elencados de forma prática e eficaz com base nos fundamentos teóricos da Administração. A identificação e o destaque de cada princípio visam viabilizar a formação natural de um ambiente institucional que promova atitudes e comportamentos de resiliência, proatividade e assertividade nos colaboradores, garantindo a sobrevivência em tempos de crise e mudanças profundas. Conclui-se com análises sobre a importância da atividade de pesquisa e suas aplicações, ponderando as contribuições significativas para os processos de gestão estratégica, permitindo que as organizações sobrevivam e ajam com agilidade e serenidade na gestão de crises e mudanças.
Palavras-chave: Gestão estratégica. Resiliência. Administração empresarial. Cultura organizacional.
Abstract
This scientific article addresses the theme of business resilience, focusing on the principles that guide the management of organizations in a constantly changing business environment. This is a literature review aimed at understanding the principles of strategic management in times of crisis and change. Initially, the concept of business resilience is discussed, deepening the theme through questions about the institutional responsibility in establishing values expressed in the organizational philosophy, aiming at the formation of a propositional and evolutionary environment in the face of crises. Next, an analysis of guiding principles for the formation of a culture and practice of resilience is presented, listed in a practical and effective way based on the theoretical foundations of Administration. The identification and highlighting of each principle aims to enable the natural formation of an institutional environment that promotes attitudes and behaviors of resilience, proactivity and assertiveness in employees, ensuring survival in times of crisis and profound changes. It concludes with analyzes on the importance of research activity and its applications, considering the significant contributions to strategic management processes, allowing organizations to survive and act with agility and serenity in the management of crises and changes.
Keywords: Strategic management. Resilience. Business administration. Organizational culture.
1. Introdução
Em um cenário global marcado por mudanças intensas e imprevisíveis, a liderança de executivos e gestores se torna um fator crítico para o sucesso das organizações. As responsabilidades de trabalho desses profissionais têm se transformado para acomodar as mudanças estruturais mais recentes, como as incertezas geradas pela crise do coronavírus (COVID-19) (TENENTE, 2020).
Diante dessa transformação, a resiliência dos gestores tem ganhado destaque, em detrimento da resiliência das organizações. A literatura tem enfatizado a necessidade de flexibilidade, adaptabilidade, agilidade e resiliência para enfrentar crises e mudanças, atribuindo essa responsabilidade quase que exclusivamente aos indivíduos.
No entanto, é fundamental compreender que as organizações, entendidas como um conjunto de forças externas, dinâmicas e mutáveis (CUNHA, 1999), precisam integrar em sua missão a implantação de uma cultura de transformação para superar os desafios do mundo empresarial. Crises econômicas e financeiras não são fenômenos recentes, como demonstra a histórica queda da venda de tulipas na Holanda (ANGOLA, 2016).
Diante dessa realidade, as responsabilidades de trabalho dos executivos e gestores estão mudando. Indivíduos e equipes gerenciais precisam estar preparados para se adaptar a um ambiente de negócios em rápida transformação e liderar proativamente os processos de mudança. Contudo, qual é a responsabilidade das organizações na criação de uma cultura de transformação no ambiente organizacional?
Escobar (2015) destaca que a gestão de uma empresa reflete seu alto escalão, moldando a cultura organizacional, os valores e as decisões do dia a dia. Nesse sentido, quais princípios norteadores podem ser utilizados pelos executivos e gestores para desenvolver um ambiente organizacional propício ao enfrentamento de cenários de mudança com naturalidade pelos colaboradores?
Este artigo científico investiga a temática “Resiliência Empresarial: princípios norteadores para gestão de organizações em cenários de constante mudança no ambiente de negócios”, buscando responder às seguintes questões: Quais os desafios e as medidas que a organização pode adotar para maximizar seus resultados e minimizar impactos frente a um ambiente em constante mudança? Qual é a responsabilidade da gestão nesse processo?
2. Mudança não é palavrão: princípios norteadores para formação cultural de ambientes resilientes
Jack Welch, ex-CEO da General Electric Company, afirmou que quando o ritmo da mudança interna é ultrapassado pelo ritmo externo, o fim está próximo (MASTELLA, 2022). Portanto, é preciso entender que não só os indivíduos são capazes de mudança, mas também as organizações, compostas por pessoas. Drucker (1999) destaca que muitas mudanças podem ser esperadas nas próximas décadas e que a mobilidade social será ainda maior.
Diante disso, algumas perguntas precisam ser feitas para decodificar os desafios da implantação de uma filosofia de resiliência institucional: Como ter uma organização resiliente? Uma organização pode ser salva apenas por ter uma equipe resiliente? Como criar um ambiente natural de cultura de transformação onde todos trabalhem juntos para as mudanças?
Mastella (2022) propõe três eixos estruturantes para maximizar resultados e minimizar impactos negativos:
Utilizar os fundamentos teóricos da Administração de forma prática e eficaz, valendo-se dos princípios resultantes da relação entre teoria e prática para garantir resultados de sobrevivência;
Desenvolver uma cultura disruptiva aplicando os domínios conceituais, procedimentais e atitudinais da Ecologia Organizacional, impulsionando a quebra de paradigmas;
Priorizar a adoção das melhores práticas para uma gestão estratégica de resultados.
Esses eixos de condução são fundamentais para a implantação de um processo de gestão de desempenho e intervenções que proporcionem aos colaboradores oportunidades de aprendizagem baseada no trabalho, a partir dos valores presentes na visão, missão e objetivos da organização, constituindo uma filosofia institucional de resiliência.
A definição planejada de valores, de forma antecipada e estratégica, facilitará a implantação de um ambiente e cultura natural de transformação, permeando o comportamento dos profissionais e do dirigente ou gestor. Mastella (2022) ressalta que o dirigente ou gestor precisa refletir estrategicamente sobre o novo ambiente e suas características, agindo no momento apropriado, sob pena de comprometer o desempenho e a sobrevivência da organização.
Nesse sentido, apresento alguns princípios norteadores que auxiliam a formação de um sistema de gestão mais adaptável, influenciando as pessoas a lidarem com as mudanças de forma natural e com a celeridade necessária:
Promoção da diversidade: Uma equipe diversificada oferece mais perspectivas sobre um cenário problemático ou desafio. Os executivos e gestores devem garantir que a organização seja diversificada em, pelo menos, três dimensões: pessoal, ideológica e gerencial. É importante ter pessoas de diferentes departamentos, com diferentes perspectivas sobre um problema, com diferentes personalidades e formas de pensar. A diversidade garante que as crises não sejam tratadas de forma unidimensional, permitindo uma visão com multiplicidade de olhares sobre um tópico.
Integração modulada: A modularidade torna a organização mais forte e resiliente, apresentando resultados claros e vínculos de trabalho com maior grau de autonomia em cada processo ou área. Isso permite que eles interajam com segurança, garantindo que o desenvolvimento seja feito de forma eficaz, sem interrupção do trabalho e com alcance dos resultados. O grande desafio é discernir como reativar a conexão do sistema em caso de falha ou em uma situação diferente da tradicional.
Praticar redundância: Um sistema redundante consiste em processos multifacetados com vários componentes que executam funções sobrepostas. Se um falhar, o outro pode executar a mesma função. A redundância é muito importante em um ambiente altamente dinâmico. Independentemente do nível, isso pode acontecer com pessoas, recursos, fornecedores e parceiros. A redundância não está relacionada com desperdício, mas com a atenuação de riscos e a garantia de que a organização não pare, mesmo em cenários de crises de impactos globais.
Planejamento estratégico: Não é possível adivinhar com precisão cenários futuros. É preciso coletar sinais, detectar padrões de mudança e prever possíveis resultados. A tomada de decisões é fundamental para minimizar o impacto indesejado. Alday (2000) propõe cinco etapas para o planejamento estratégico: análise do ambiente, estabelecimento de uma diretriz organizacional, formulação de uma estratégia organizacional, implementação da estratégia organizacional e controle estratégico.
Cultura de evolução permanente: As organizações podem ser construídas objetivando otimização e eficiência ou melhorando sua capacidade de evolução. A capacidade de evolução é a forma de melhorar reagindo a novas oportunidades, perguntas ou informações. Morgan (1997) afirma que as organizações vivem em um estado de tensão com seus ambientes, onde ambos estão engajados em um padrão de criação mútua. É preciso testar, ver o que funciona, aprender com o erro e fazer de novo de outra forma, buscando sempre a evolução.
Confiança e Alteridade: Confiança e Alteridade são princípios que devem estar muito presentes neste momento, não só no ambiente interno da organização, mas também no relacionamento com todos os stakeholders. É preciso estar preocupado não só com a sobrevivência da organização, mas também com a saúde de todos que contribuem para o seu funcionamento. Os líderes devem pensar em como sua organização pode contribuir para outros atores interessados em seu ecossistema, mantendo o princípio de uma relação ganha-ganha.
3. Aprendizagem significativa
Ao concluir este artigo científico, constata-se o desafio da construção de um sistema de gestão mais flexível para formação de um ambiente institucional que influencie os colaboradores a lidarem com as mudanças com naturalidade e velocidade, necessária aos tempos de crise.
Durante a elaboração do relatório, foi necessário aprofundar as leituras e manter contato com as pesquisas sobre o novo ambiente das organizações e como as intensas transformações sociais e culturais têm afetado o comportamento das pessoas e das organizações, exigindo novas atitudes e o desenvolvimento de novas habilidades para ampliação de práticas de gestão cada vez mais estratégicas para tomada de decisões individuais, organizacionais e sociais nas diversas dimensões econômicas.
Constatou-se a relevância da adoção de melhores práticas para uma gestão estratégica de resultados corroborados pelos domínios conceituais, procedimentais e atitudinais, amplamente discutidos no contexto acadêmico e profissional de gestão organizacional.
Percebeu-se também o grau de complexidade e a amplitude do tema pesquisado e, portanto, reconhece-se que os dados apresentados neste relatório não têm a pretensão de esgotar a matéria, mas aguçar a curiosidade e incentivar outros acadêmicos, para que outras pesquisas surjam a partir desta revisão bibliográfica.
4. Referências Bibliográficas
ANGOLA. As Grandes crises econômicas, Economia. (Artigo para.01) recuperado em 17 de abril, 2022 de https://www.portaldeangola.com/2016/11/01/as-crises-financeiras-que-abalaram-a-economia-mundial/ acessado em 17/04/2022.
CUNHA, M. Ecologia organizacional: implicações para a gestão e algumas pistas para a superação de seu caráter anti-management. Revista de Administração de Empresas (RAE), São Paulo, v.39, n.4, pp. 21-18, 1999.
DRUCKER, P. F. Sociedade pós-capitalista. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999.
ESCOBAR, P.H. A importância da gestão para o sucesso da sua organização. Recuperado em 17 de Abril, 2022 de https://egestor.com.br/a-importancia-da-gestao-para-o-sucesso-da-sua-empresa/
MASTELLA. A. O novo ambiente das organizações. Unidade. Tema 1. [e‐book] Flórida: Must University, 2018.
MORGAN, G. Imagens da organização. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2002.
TENENTE, M. S. Resiliência em tempos de crise: um estudo sobre a capacidade de adaptação das empresas brasileiras durante a pandemia de COVID-19. 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (MBA em Gestão Empresarial) – Faculdade Iguaçu, Capanema, MG, 2020.
1Tenente, formado em 1991 na escola de oficiais do Exército Brasileiro. Atirador Especialista do Exército Brasileiro, Instrutor e campeão Sul Americano de Tiro de defesa Tático Militar, Bacharel em Administração de Empresas, Bacharel em Teologia, Pós-graduado em: Comércio Exterior e Negócios Internacionais. MBA em Planejamento Empresarial. CEO do Shopping Mundi USA LLC, estado da Flórida, EUA. Doutor HC, pela Academia Brasileira Teológica de Letras ABTL
2Graduado em Teologia (STBSB), Geografia (FISRJ), Pedagogia e Filosofia (UNINTER), pós-graduado em Orientação educacional, Coordenação Pedagógica, Docência Superior, Sexualidade Humana, Gestão pública em desenvolvimento Local. Mestre em Tecnologias emergentes em Educação pela MUST University (USA) e Doutor HC pela Academia Brasileira Teológica de Letras.