REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506121119
Tobias Divino dos Santos²; Natália Michelato Silva³; Mariana Gondim Mariutti-Zeferino⁴; Ana Caroline da Silva Santos⁵; Lorena Toledo Visu⁶; Tathiane Marques⁷.
RESUMO
O contexto institucional, indubitavelmente, gera um impacto significativo ao idoso, uma vez que favorece a vivência de perdas em vários aspectos de sua vida, considerando que o cenário interno que servia de sustento e proteção a identidade lhe foi tirado, logo as suas memórias, ideias, sentimentos, atitudes, valores, preferências e significados perdem o valor e o sentido de viver. Diante dessa realidade, esse estudo apresentou como objetivo ressignificar e resgatar histórias de vida dos idosos em uma Instituição de Longa Permanência (ILPI). Essas memórias foram coletadas por meio de uma escuta qualificada com foco na história de vida do idoso para ajudá-lo a relembrar e sua trajetória. Esses dados foram obtidos no período de agosto a outubro do ano 2022 em uma ILPI do interior paulista. Como resultado é possível observar a adesão significativa dos idosos em participar da pesquisa, além de ter sido notório o sentimento de satisfação e felicidade demonstrados por eles em relatar e ressignificar suas vivências que transcendem os muros da ILPI. Para finalizar foi elaborado um livro, que teve o consentimento dos idosos e da gestão, tendo como título “Resgatando Vidas”, para expor as histórias de vida desses idosos. Em suma, esse estudo proporcionou oferecer uma escuta qualificada por meio de intervenções que visam a valorização da vida desses idosos e os ajudam a elaborar suas vivências, ressignificar suas lembranças e amenizar os sofrimentos causados pela institucionalização, além de criar um ambiente terapêutico e acolhedor proporcionando a elaboração de vínculos entre idosos e profissionais.
Descritores: Envelhecimento; ILPI; Acolhimento Emocional.
1 INTRODUÇÃO
Em uma perspectiva da psicologia do desenvolvimento, o envelhecimento é considerado um processo natural da vida transpassado por mudanças físicas como a perda da força física, vitalidade e diminuição corporal e também por mudanças psicológicas e sociais (GONÇALVES et al., 2008).
Devido a diminuição de suas capacidades de adaptação, o ser humano em seu processo de envelhecimento, vai se tornando cada vez mais sensível ao meio ambiente. Nesse contexto, é necessário cuidado para que este processo seja realizado de maneira saudável e ativa, estimulando o idoso a praticar a sua independência e autocuidado. E nos casos em que o próprio idoso esteja apto para realizar tais necessidades, é importante que as mesmas sejam supridas, uma vez que o envelhecimento modifica a interação do idoso consigo mesmo e com os demais (RAMOS, 2003).
Desta forma, a família possui um papel de extrema importância na vida e no bem-estar do idoso, uma vez que é considerada como a rede de apoio e suporte para aqueles que necessitam mais de cuidados. Contudo, algumas variáveis perpassam esta relação, bem como o convívio entre gerações que pode ocasionar conflitos e problemas de relacionamento, o que pode ser agravado se os familiares não estiverem aptos a compreender o comportamento do idoso ou não conseguirem desempenhar a função de cuidadores (NÉRI et al., 2012).
Portanto, para idosos que não possuem respaldo familiar quando necessitam de auxílio para a execução de atividades rotineiras, ou a família não possui estrutura financeira, emocional, espaço físico e condição para cuidadores, há a possibilidade de inserção em uma instituição de longa permanência para idosos (TIER et al., 2004).
As instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) possuem como objetivo a garantia de atenção integral às pessoas com mais de sessenta anos, assegurando a sua dignidade e seus direitos. Buscam reduzir os riscos aos quais ficam expostos os idosos que não possuem uma moradia. As ILPIs são uma proposta de uniformização das instituições que prestam assistência aos idosos, garantindo condições de bem-estar físico, emocional e social, em conformidade com o Estatuto do Idoso e com as políticas públicas relacionadas a essa população (BORN, 2008)
Existe a perspectiva amplamente difundida de que as ILPIs são locais de abandono, tal denominação foi concebida pela ideia de que nesses locais existem pessoas solitárias e privadas de laços familiares, que residem apenas por questões de desprezo e desamparo. Contudo, tal concepção vem sendo modificada, uma vez que é possível encontrar idosos que optam se mudar para uma ILPI, por uma escolha voluntária que pode ser motivada por viuvez, não possuir filhos ou não desejar importuná-los, preferindo a independência (FREITAS, NORONHA, 2010).
Deste modo, o idoso demanda a promoção de um envelhecimento saudável, aspirando o bem-estar biopsicossocial. Nessa perspectiva integral do cuidado, a escuta qualificada é uma ferramenta essencial, por apresentar como potencial terapêutico a construção de vínculos e a promoção da saúde, abordando como questões sociais e familiares impactam na saúde da população idosa (SANTOS et al., 2019).
A escuta qualificada promove o acolhimento desse idoso, que é um processo de produção e promoção de saúde, que implica em escutar as queixas do usuário, considerando suas preocupações e angústias, possibilitando analisar as demandas para que por meio da articulação das redes internas e externas dos serviços de saúde, seja dada a continuidade de assistência (ARRUDA, 2012).
Tal prática envolve relações do tipo diálogo, vínculo e acolhimento, que possibilita compreender o sofrimento psíquico a partir da pessoa, valorizando as suas experiências e atenta para as suas necessidades e os diferentes aspectos que compõem o seu cotidiano. É um instrumento terapêutico facilitador e transformador que compõem maneiras menos enrijecidas de trabalho. Utiliza a empatia como ferramenta terapêutica, de modo que a comunicação entre os sujeitos aconteça de maneira fluida, permitindo que se estabeleça uma troca entre ambas as partes, produzindo alívio e a sensação de resolutividade diante das demandas apresentadas, essencial quando se trata de saúde mental, dando voz ao sofrimento do outro a fim de auxiliá-lo na busca da resolução de seu problema (MAYNART et al., 2014).
2 OBJETIVO
O objetivo geral deste relato de experiência, foi por meio de uma escuta qualificada e um acolhimento empático, resgatar histórias vividas por moradores de uma ILPI de uma cidade do interior paulista, a fim de ressignificar sofrimentos, promover uma melhoria de bem-estar e contribuir para a promoção da saúde.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um relato de experiência acerca de um estágio curricular de saúde desenvolvido por três discentes e uma docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Unifafibe, de Bebedouro-SP, em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos, totalizando a participação de 24 idosos. A atividade foi fomentada no período do segundo semestre do ano de 2022 no mês de agosto.
Foram realizados 10 encontros que visaram coletar memórias dos idosos por meio de uma escuta qualificada com o auxílio de um acolhimento emocional com foco nas histórias de vida desses, para ajudá-los a relembrarem suas trajetórias. Para a realização deste estágio foi necessário um termo de convênio, termo de estágio e termos de consentimento livre e esclarecido para os idosos e a responsável pela instituição.
O último momento correspondeu à elaboração de um livro, que teve o consentimento dos idosos e da gestão, tendo como título “Resgatando Vidas”, para expor as histórias de vida desses participantes. Nos relatos, os idosos pontuaram suas histórias, feitos significativos, rotinas, suas saudades, desejos e sentimentos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na sociedade ainda é muito presente a estigmatização da psicologia, rotulam que a psicoterapia e o plantão psicológico são úteis apenas para as pessoas consideradas “loucas”, fora do padrão. Essa ideia é na maioria das vezes exposta também pelos próprios profissionais de outras áreas da saúde, por isso e pela atuação adequada com pessoas idosas institucionalizadas, os profissionais precisam ter paciência, serem capacitados, orientados, basear-se na ciência e não no achismo, irem contra os estigmas preconceituosos e darem toda a atenção que as pessoas idosas necessitam, principalmente por esses estarem longe de seus familiares e de suas casas, por ser raro a família ir visitar e se dedicar a eles, e pelos idosos sofrerem com o distanciamento da sociedade e familiares.
Baseando-se na realidade existente dentro de uma ILPI em que há carência de afeto e de atenção os relatos acolhidos possuíam muita carga emocional que atravessavam diretamente o discurso dos residentes e também as vivências das estagiárias, pelo fato de proporcionar uma escuta qualificada àqueles idosos.
A tabela abaixo contém as iniciais, sexo e idade dos 24 idosos acolhidos.
N° | INICIAIS | SEXO | IDADE |
1 | A.A. | Masculino | 69 |
2 | A.S. | Feminino | 78 |
3 | A.R. | Feminino | 71 |
4 | S. M. | Feminino | 64 |
5 | C. L. | Feminino | 76 |
6 | E. F. | Feminino | 81 |
7 | F. C. | Masculino | 81 |
8 | S. | Feminino | 84 |
9 | J. P. | Masculino | 74 |
10 | J. C. | Masculino | 70 |
11 | L. S. | Feminino | 80 |
12 | L. A. | Masculino | 74 |
13 | M. R. | Feminino | 93 |
14 | M. V. | Feminino | 76 |
15 | M. J. | Feminino | 76 |
16 | M. F. | Feminino | 77 |
17 | M. S. | Feminino | 98 |
18 | M. P. | Feminino | 70 |
19 | R. V. | Feminino | 79 |
20 | O. B. | Masculino | 76 |
21 | P. A. | Feminino | 95 |
22 | P. M. | Masculino | 72 |
23 | U. V. | Feminino | 95 |
24 | W. S. | Masculino | 64 |
De acordo com a pesquisa de Paschoallin e Perensim (2015), os idosos apresentam sentimentos de carência devido à família não participar e não dar apoio a eles ao estarem institucionalizados. A família abandona seus familiares idosos na ILPI e passam a não se responsabilizar mais por eles.
Em alguns relatos os idosos relataram se sentirem presos na ILPI, frustrados por não poderem sair da instituição para fazerem algo que gostariam e pela repetição de atividades. Segundo Da Silva et al. (2013), os idosos em instituições asilares tendem a ficar mais tristes, amargurados e depressivos, além de perderem sua identidade e autoestima, por não terem atividades que lhe ocupam o tempo e terem que fazer o que a instituição determina, tornando essa um lugar de isolamento.
Essa autora ressalta ainda em seu estudo que os idosos se sentem abandonados e desligados do mundo, se entregando a rotina determinada pela instituição (SILVA et al., 2015).
Os idosos institucionalizados têm uma perda significativa na sua autonomia, na sua tomada de decisão, pois não podem fazer tudo o que desejam e precisam se adaptar a uma nova rotina, renunciando algumas atividades que gostavam, o que pode gerar sofrimento e sensação de estar preso. Por isso é importante que as instituições ofereçam aos idosos asilados mais atividades fora desse local, para que esses não se sintam presos, mas sim, pertencentes a sociedade. Oportunizem também atividades que sejam de interesse dos idosos, pois além de promover satisfação, promove bem-estar.
Nos acolhimentos emocionais os idosos traziam muito das suas vivências, sonhos e perdas em suas vidas. As estagiárias perceberam o quanto isso fazia com que eles se sentissem bem, ao ver que suas vidas já foram muito além dos muros de uma ILPI.
Dentre as histórias, duas idosas disseram que trabalharam de doméstica por muitos anos, M. F., sofreu racismo, não teve muito espaço na sociedade e sua nora não a deixava pegar seus netos no colo por ser negra. Disse que ser negra não é fácil na sociedade, mas ser negra e pobre é mais difícil e sofrido, e aos 15 anos sua mãe a entregou para uma senhora rica para trabalhar para ela; hoje vê a ILPI como sua casa, gosta muito de estar ali. C. L., disse se sentir muito frustrada, principalmente por não poder sair da ILPI. Seu filho era alcoólatra e vendeu tudo o que tinham. Outra idosa, A. S, gosta de conversar e contar sua história, tem orgulho de sua trajetória.
Os idosos carregam consigo inúmeros sentimentos, pensamentos, lembranças e aprendizados, e geralmente quando podem compartilhar isso com outras pessoas ficam gratos, melhora sua qualidade de vida e sentem orgulho de suas trajetórias. Eles têm muito a ensinar e contar. Viana et al. (2017) afirma que a gratidão contribui na gerontologia e para o desenvolvimento de estratégias que geram qualidade de vida as pessoas idosas.
Madeira e Gomes (2018), trazem em seu estudo que a população negra ainda enfrenta a perversidade, atrocidades e desvantagens. Essas vulnerabilidades vivenciadas por essa população são frutos da escravidão.
Os mesmos autores apontam que a população negra passa por situações de pobreza, negação de identidade, de cultura, demandas não atendidas por não ter acesso às políticas públicas de proteção social e de preconceito que se transforma em exclusão.
A idosa citada sofreu racismo e não tinha espaço na sociedade, o que ainda é relatado infelizmente por muitas pessoas negras. Os negros são os mais pobres, oprimidos, violentados e excluídos. Essa população ocupa posições mais desfavoráveis. A idosa viveu muitos anos uma vida análoga à escravidão, mas encontrou na ILPI sua morada, um lugar seguro.
Uma idosa quis entrar na instituição e os outros dois entraram por questões de saúde, bem-estar e cuidado adequado. Esses dois idosos eram alcoólatras, L. A., chegou a morar em um ferro-velho, foi levado ao hospital e encaminhado para ILPI por não ter ninguém para cuidar e J. C., ficou um tempo na Comunidade Terapêutica que havia na cidade na qual ficava localizada a ILPI, depois morou com o filho e esse optou em colocá-lo na instituição. A idosa e esse último idoso citado recebem visitas com frequência, saem da instituição, tem autonomia e gostam de estar ali. A idosa, M. P., disse que naquela semana teria algumas atividades diferentes na ILPI, como churrasco e forró, pois era a semana do idoso, e isso era ótimo.
Viver em uma ILPI gera inúmeras modificações na vida do idoso, principalmente voltada a sua autonomia. Os idosos sentem muitas vezes que não são úteis, que não tem nada que possam fazer. Desse modo, é de grande valia que a instituição permita que os idosos tenham autonomia, façam suas atividades e que fortaleça o vínculo com a família, para que esses se sintam produtores e não se sintam abandonados. Visto que, quando os idosos participam de diferentes atividades, ajudam o próximo e mantém contato com a família, se sentem bem, felizes e promove melhor qualidade de vida.
Mendes et al (2005), afirma que o idoso precisa participar de atividades que faça com que ele se sinta produtivo, que lhe gere prazer e felicidade. Guidetti e Pereira (2008), acrescentam que o envelhecimento modifica as rotinas dos idosos na sociedade, especialmente quando estão inseridos em asilos e abrigos. Dessa forma, os idosos necessitam viver com bem-estar, autonomia, apoios, cuidados de saúde e integrados na sociedade utilizando todas as suas capacidades.
Também observou-se nos acolhimentos o relato da dependência alcoólica e o quanto isso interferiu na vida dos idosos. Muitas das pessoas que fazem o uso de álcool utilizam todo seu dinheiro nisso e quando já gastaram tudo, começam a pedir emprestado ou vender seus bens, até não restar mais nada. Como foi o caso de R. V., seu filho era alcoólatra, vendeu tudo o que tinham e ela precisou entrar na ILPI, pois não tinha lugar para ficar, tendo grandes prejuízos materiais, psicológicos e financeiros.
Fora esses danos, também existe o dano familiar e o social. É visto com frequência pessoas alcoólatras abandonadas, morando nas ruas e sendo ignoradas pela sociedade, acreditam que por esses serem dependentes não existe “solução” e não merecem ajuda, pois escolheram estar nessa situação. Sabe-se também que a maioria dessas pessoas têm famílias e amigos, e que esses sofrem com o alcoolismo, mas que muitas vezes tentaram ajudar e por pensarem que não conseguem mais ajudar, deixam de lado seus entes, colaborando para a exclusão social e o afastamento familiar.
Vilela et al. (2015), obtém como resultado em seu estudo que o alcoolismo impacta a vida do indivíduo em diferentes aspectos, como o afastamento dos membros familiares, a separação, exclusão social, problemas financeiros, prejuízos à saúde física e mental, interferência nos projetos de vida e perdas para o indivíduo e sua família.
Diz ainda que o alcoolismo interfere nos projetos de vida do dependente, em especial, nos projetos familiares, podendo levar ao afastamento, à ruptura dessas relações.
Ao falar de alcoolismo é preciso englobar todo o contexto do sujeito, olhar o motivo da família não querer ajudar, o motivo da pessoa alcoólatra estar abandona e ter chegado nesse estado, mas independe da situação e do sofrimento, qualquer ser humano tem direito a ter acesso aos cuidados básicos adequados. O idoso supramencionado, L. A., foi abandonado em um ferro-velho, não teve familiares e amigos que lhe oferecessem qualidade de vida, sendo assim, negligenciado. Os seres humanos precisam estar em convívio com a sociedade, mas principalmente, precisam estar com seus familiares, pois isso promove inúmeros benefícios para a sua vida e sobrevivência. Mesmo com a negligência e com o afastamento familiar e social, houve a superação da dependência alcoólatra dos idosos ao entrarem na ILPI.
As estagiárias conversaram com outros três idosos, dois optaram entrarem na instituição por acreditarem que seus familiares precisavam viver suas vidas e F. C., que sofreu uma fratura e como não tinha nenhum ente, teve que ir para a ILPI. J. P., disse ter ficado muito sozinho onde morava e A. S., disse que mesmo tendo muitos amigos, depois que seus pais e irmãos faleceram, ficou sozinha.
De Almeida e Ciosak (2013) acreditam que os profissionais da área da saúde precisam estar interessados no cuidado da saúde do idoso, isso requer afeto, respeito, ética, comprometimento, promoção da qualidade de vida para a população idosa e contribuição para a efetivação do processo de comunicação. Paschoallin e Perensim (2015), agregam a ideia supracitada dizendo que o cuidador deve se relacionar com o idoso de forma amigável e acolhedora, com carinho e paciência, e buscando atendê-lo. Na maioria das vezes, falta tempo aos cuidadores para entenderem às necessidades da pessoa idosa de forma correta. Mesmo que os recursos sejam poucos, o cuidador precisa ser preparado para cuidar dos idosos, precisa conhecer o processo de envelhecimento e necessidades individuais, para promover uma velhice digna.
Diariamente é visto profissionais da área da saúde ressaltando a sobrecarga que sentem em seus trabalhos, principalmente quando são profissionais que trabalham com idosos. Expressam ser cansativo cuidar de idosos, especialmente quando são mais debilitados, pois demandam maior atenção, cuidado e dedicação. Mesmo com a sobrecarga, os profissionais precisam ter manejo, paciência, formação, cuidado humanizado, um olhar singular, fala adequada e respeito, pois o cansaço não justifica uma postura e comunicação desumana, desrespeitosa e não efetiva. Guidetti e Pereira (2008) pontuam que para uma comunicação efetiva é essencial a motivação da instituição, além de habilidades como a atenção, paciência, interesse e amor, pois isso melhorará a qualidade de vida e saúde mental dos idosos.
Ao chegarem em uma certa idade, muitas pessoas acreditam que já viveram suas vidas e que agora seus familiares precisam viver as suas vidas, optando entrarem em instituições. Outras entram em instituições por não terem familiares e amigos, por ficarem sozinhos ou precisarem de cuidados. Entende-se com isso que a procura por esses espaços ainda será muito frequente e por isso as instituições precisam cada vez mais de profissionais capacitados para receberem essas pessoas e precisam desenvolver atividades para que esses vejam que existe vida além da instituição, que eles não estão sozinhos.
As estagiárias acolheram outros cinco idosos. Notou-se que esses idosos também buscam a independência. Um deles, A. A., contribui com a limpeza da instituição e cuida das plantas, a outra, E. F., utiliza da tecnologia para pedir sua alimentação, usa as redes sociais e sai da instituição, e O. B., trabalha de guarda em um posto de gasolina aos domingos, além de sair da instituição para pagar suas contas, ir à padaria, mercado, dentre outros comércios. E. F., trouxe em seu relato que teve uma excelente qualidade de vida, foi muito ativa e morou em diferentes cidades, mas hoje acha difícil estar na ILPI. Não gosta de conversar com as demais pessoas da instituição e raramente sai do seu espaço para socializar.
Idosos que realizam atividades mantendo-se ativos, promovem a sua própria independência, autoestima, bem-estar, reduzem doenças, preocupações, pensamentos negativos e angústias. Assim sendo, a família, os profissionais e os amigos precisam encorajar e realizar com essas pessoas atividades para desenvolverem os benefícios citados acima. Ferreira et al. (2012) descreve que no envelhecimento há perdas, mas também é possível envelhecer ativamente e isso deve ser incentivado entre os idosos, pois promove vida plena, qualidade de vida, equilíbrio biopsicossocial e desenvolvimento de potencialidades. Em vista disso, é importante o apoio de políticas, da família, da sociedade, dos amigos e grupos de interesses em comum contra a discriminação e o preconceito contra o envelhecimento.
Os idosos desenvolvem apego pelos espaços onde vivem, pelos seus objetos e suas rotinas, e ao entrarem em instituições, vivem um luto pelas suas inúmeras perdas. Além de lidar com as rupturas, frequentemente essa população enfrenta dificuldades em se adaptar a uma nova forma de viver, em conviver com diferentes pessoas e em deixar costumes de lado, buscando assim, o isolamento social que pode impactar negativamente suas vidas, como no caso da idosa mencionada, que prefere isolar-se a ter contato com as pessoas da ILPI e sofre com a mudança no seu estilo de vida.
As pessoas idosas institucionalizadas estão longe de seus familiares e da sociedade, isso pode levá-los ao isolamento e a não vontade de se comunicar com as pessoas. Em vista disso, a comunicação e o entretenimento são importantes para a qualidade de vida dos idosos (GUIDETTI; PEREIRA, 2008).
Como resultado foi possível identificar que a partir dos relatos os idosos ressignificaram suas histórias que transcendem os muros da ILPI, além de demonstrarem satisfação e felicidade em poder contar suas vivências, serem ouvidos e poder recordar. A adesão dos idosos em participar do estágio foi observada, assim como a criação de um ambiente terapêutico e acolhedor.
Também foi notado que muitos idosos não possuíam vínculo com seus familiares, aumentando o sentimento e a sensação de estarem presos, sozinhos e abandonados. Mas percebeu-se também que alguns idosos veem a ILPI como sua casa, um lugar de acolhimento, superação e cuidado. Eles viveram suas vidas fora da instituição, realizaram sonhos, alcançaram objetivos, se sentiram e se sentem realizados, e ainda tem expectativas, a ILPI não é o fim, mesmo que alguns familiares e a sociedade vejam esse lugar como um depósito.
A partir da observação dos relatos dos idosos que pontuaram não terem filhos, foi possível refletir que atualmente as pessoas têm menos filhos ou não tem, o que impactará no futuro, pois mesmo que tenham irmãos, primos ou outros entes, não terão os filhos que dão mais certeza de auxílio na velhice, consequentemente, a tendência das pessoas a irem a ILPI por não terem quem cuidar será maior. Em vista disso, é de extrema importância que sejam desenvolvidas Políticas Públicas que olhem mais para os idosos e ofereçam maior humanização no tratamento a essa população, assim como profissionais cada vez mais qualificados, participação ativa da família, práticas de inserção na sociedade e o desenvolvimento da autonomia dos mesmos.
5 CONCLUSÃO
Em suma, esse estudo proporcionou oferecer uma escuta qualificada por meio de intervenções que visam a valorização da vida desses idosos e os ajudam a elaborar suas vivências, ressignificar suas lembranças e amenizar os sofrimentos causados pela institucionalização, além de criar um ambiente terapêutico e acolhedor proporcionando a elaboração de vínculos entre idosos e profissionais.
Por meio de uma escuta qualificada ofertada aos idosos, foi possível observar que a institucionalização impacta a vida desses em diferentes aspectos e que ao ser disponibilizado ao idoso tempo, paciência, interesse, acolhimento, atenção e disposição, ele ressignifica e resgata suas histórias por meio da fala, do gesto e do olhar.
Dessa forma, os idosos mostraram-se interessados em participar das intervenções, sentiram-se satisfeitos, felizes e gratos por poderem contar suas trajetórias. Também demonstraram contentamento em serem ouvidos, motivados e admirados, além de manifestarem satisfação pelo livro.
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¹Artigo apresentado à Revista FT.
²Mestre em Ciências da Saúde. Docente na Libertas – Faculdades Integradas. E-mail: tobiassantos@libertas.edu.br;
³Doutora em Ciências da Saúde. Coordenadora da área da saúde da Libertas – Faculdades Integradas. E-mail: saude@libertas.edu.br;
⁴Doutora em Ciências da Saúde. Docente na Libertas – Faculdades Integradas. E-mail: mgmariutti@yahoo.com.br;
⁵Especialista em Psicologia da Saúde pela FAMERP (ênfase: Oncologia, TMO, Cardiologia, Cirurgia Cardiovascular e Cuidados Paliativos Pediátricos – 2024-2025). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE (2022). Psicóloga da saúde no Hospital da Criança e Maternidade (HCM – FUNFARME). E-mail: carol.silva.santos98@gmail.com;
⁶Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas (2023-2024) e graduada em Psicologia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE (2018-2022). Atua nas áreas de Psicologia Clínica e Organizacional, com foco na abordagem Analítica Comportamental. E-mail: lorena.visu@gmail.com;
⁷Especialista em Clínica Analítico Comportamental – FAPSI (2023-2025). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE (2022). Psicóloga Clínica e Psicóloga de Grupo na operadora de saúde Bensaúde. E-mail: tathianemarquespsicologia@hotmail.com.