RELEVÂNCIA DO TREINAMENTO RESISTIDO COMO FERRAMENTA DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT)

RELEVANCE RESISTANCE TRAINING AS A TOOL FOR THE PREVENTION AND CONTROL OF NON-COMMUNICABLE CHRONIC DISEASES (NCDs)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411011529


Carlos Alberto da Silva Trindade¹
Iran Damasceno Soares²
Mesias de Nazaré Campos Soares³
Rocilda Dias de Araújo4
Jorge Luis Martins da Costa5


RESUMO

Introdução o presente artigo trata-se de um trabalho final para a conclusão do curso de especialização em Fisiologia do Exercício e tem por Objetivo analisar e reforçar a importância da atividade física, com ênfase no treinamento resistido (TR) como ferramenta de combate, prevenção e tratamento de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) como a hipertensão, diabetes mellitus tipo 2, a obesidade, bem como ressaltar a importância desses exercícios para crianças e idosos. Para tal usamos o Método da Revisão Bibliográfica, trazendo para dialogar com os autores de pesquisas relevantes tanto no Brasil quanto no mundo, como por exemplo: José Maria Santarém. Fato é que as DCNT não são novidades, contudo nos últimos anos estas veem se proliferando em nossa sociedade. Acredita-se que isso se deva a má alimentação associada ao sedentarismo causado pelo o avanço tecnológico. Apesar de ainda não haver uma total confiança no TR, são inúmeras as pesquisas em torno desse estudo afim de propor melhorias e uma melhor qualidade de vida para indivíduos que sofrem com essas doenças. Conclui-se que o treinamento resistido estimula mudanças favoráveis em relação aos fatores de risco associados as DCNT’s e também seus efeitos relacionados à idade. Porém, níveis satisfatórios relacionados a saúde dessa parcela da população só será alcançada com efetivas políticas de promoção de vida saudável que por sua vez requer a participação dos diversos setores e atores sociais responsáveis e comprometidos com a saúde e a qualidade de vida da população brasileira.

Palavras-Chave: Treinamento Resistido (TR) e Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT)

ABSTRACT

Introduction: This article is a final paper for the completion of the specialization course in Exercise Physiology and aims to analyze and reinforce the importance of physical activity, with an emphasis on resistance training (RT) as a tool for combating, preventing, and treating Non-Communicable Chronic Diseases (NCDs) such as hypertension, type 2 diabetes mellitus, and obesity, as well as highlighting the importance of these exercises for children and the elderly. To do so, we used the Bibliographic Review Method, bringing to dialogue with the authors of relevant research both in Brazil and worldwide, such as José Maria Santarém. The fact is that NCDs are not new, however, in recent years they have been proliferating in our society. It is believed that this is due to poor diet associated with sedentary lifestyle caused by technological advancement. Although there is still no complete confidence in RT, there are numerous researches around this study in order to propose improvements and a better quality of life for individuals who suffer from these diseases. It is concluded that resistance training stimulates favorable changes in relation to the risk factors associated with NCDs and also its effects related to age. However, satisfactory health levels for this segment of the population will only be achieved with effective policies for promoting a healthy lifestyle, which in turn requires the participation of the various sectors and social actors responsible and committed to the health and quality of life of the Brazilian population.

Keywords: Resistance Training (RT) and Non-Communicable Chronic Diseases (NCDs)

1 INTRODUÇÃO

Com os avanços tecnológicos, as pesquisas científicas em torno dos benefícios prestados à saúde de um indivíduo pela prática da atividade física regular ficam cada vez mais evidenciadas, tanto na forma de prevenção bem como no tratamento e recuperação de lesões e ainda no controle de uma série de outras doenças.

Fato é que a quantidade de pessoas que buscam melhorias no bem-estar físico, no que diz respeito à saúde, ou estético tem aumentado de maneira significativa nos últimos tempos e talvez se tenha como resultado direto desta busca, praças, orlas, avenidas e academias de ginástica repletas de praticantes de caminhada, corrida e/ou treinamento de força.

Nunca se falou tanto da importância da atividade física como instrumento fundamental na contribuição para um bom estado de saúde. Porém, via de regra a procura por essa prática se deve em sua grande maioria, às recomendações médicas, uma vez que é alarmante o número de pessoas com algum tipo de doença crônica não transmissível (DCNT).

Em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBG), o Ministério da Saúde divulgou resultados de uma pesquisa realizada em todo o Brasil, na qual apresentou dados que apontaram, por exemplo, que cerca de 40% da população adulta brasileira, o equivalente a 57,4 milhões de pessoas, possui pelo menos uma doença crônica não transmissível (DCNT). Essas enfermidades são autodeclaradas principalmente pelo sexo feminino (44,5%) – são 34,4 milhões de mulheres e 23 milhões de homens (33,4%) portadores de enfermidades crônicas.

Por outro lado, estudos como este ao tratar do exercício físico como ferramenta de combate das DCNT’s, limitam-se a apresentá-los ou aplicá-los na forma de caminhadas e/ou danças, deixando de se reportarem a outros exercícios físicos como por exemplo, os exercícios resistidos ou treinamento de força, como também são conhecidos, onde uma gama de estudos publicados comprova o quão importante e eficiente é no tratamento desses tipos de enfermidades.

Nesse sentido, o que podemos perceber é que em nossas rotinas de trabalho ou em nossas relações sociais, é que se criou no imaginário da maioria da população, a idéia de que caminhar durante 30 minutos por dia e ao menos três vezes por semana já é o suficiente para solucionar quaisquer tipos de problemas relacionados à saúde ou até mesmo estéticos como no caso do emagrecimento.

Em relação ao exposto, Winett e Carpinele (2001) dizem que o sistema público de saúde enfatiza por primeiro os exercícios aeróbios em estado estável, pois estes melhoram o sistema cardiorrespiratório e ainda modifica a composição corporal. Mas que por outro lado, a tendência atual é que os programas de saúde publicam tenham como componente central os exercícios resistidos (TR), associados com os exercícios aeróbios.

Ainda segundo os mesmos autores, o treinamento de força pode afetar positivamente fatores de risco a saúde tais como: resistência à insulina, taxa de metabolismo basal, metabolismo da glicose, pressão arterial, gordura corporal e tempo de trânsito gastrointestinal, os quais estão associados com diabetes, doenças do coração e câncer.

Nos últimos anos a pratica do TR tem sido recomendado em todas as idades, desde a infância até o envelhecimento, tendo em vista os benefícios gerados a partir do mesmo. A falta de informação e o desconhecimento sobre o TR acabam por polemizar episódios como este, tendo em vista a crença popular que diz que este tipo de exercício físico pode retardar o crescimento e causar sérios danos ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. E por tanto, torne-se um ato de negligencia ou até mesmo de loucura por parte de quem o prescreve ou o recomenda. E no caso da prescrição de treinamento de força para idosos as desconfianças também geram polemicas.

2 TREINAMENTO RESISTIDO (TR)

O TR também é conhecido como treinamento de força e envolve ativação voluntária de músculos esqueléticos específicos contra alguma forma de resistência externa, que pode ser proporcionada pelo peso corporal, pesos livres (WINETT e CARPINELLI, 2001).

Nesse sentido, Ratamess et all (2009) reforçando o que foi mencionado acima diz que “o TR é definido como a manipulação de variáveis como tipos de exercícios, ordem de excussão, carga, número de séries e de repetições, duração dos intervalos de descanso e freqüência semanal”.

De acordo com Braith e Stewart (2006), o TR está sendo utilizado para prevenir e melhorar a saúde e a aptidão física, endossado pela American Heart Association, American College of Sports Medicine e pela American Diabetes Association.

Santarém, (2012) afirma que, “a atividade física é o fator ambiental mais importante para estimular a saúde das pessoas, diminuindo a ocorrência de mortes por todas as causas”.

Segundo Williams, et all (2007, p. 116),

O objetivo básico do treinamento resistido é aplicar um estímulo a cada grupo muscular principal por aproximadamente 30-90s e fornecer uma sobrecarga ligeiramente maior em relação a sessão de treinamento anterior. Uma sobrecarga maior pode ser um pequeno aumento na carga ou nas repetições, ou ambas. Sobrecarga progressiva é essencial para aumentar a força e o tamanho do músculo. O que parece ser necessário para estimular os aumentos na força e na massa muscular é justamente ultrapassar um pouco o limiar das sessões anteriores.

Para Winett e Carpinelli (2001), “atualmente considera-se que a pratica do TR entre 15 e 20 por semana já pode trazer benefícios e que treinamento eficiente envolve movimentos controlados para os grandes grupos musculares e não requer o uso de resistência exageradas.” Ainda segundo esses mesmos autores, há evidências de que a prática do TR uma vez por semana também pode aumentar a força e a massa muscular.

No entanto, segundo Braith e Beck (2008), “Não se sabe se o protocolo de exercícios com uma série difícil para 8 a 10 exercícios realizados de duas a três vezes por semana seria a mais efetiva para reduzir todos os fatores de risco para doenças”.

Nesse sentido, mesmo com a falta de respostas para algumas questões, evidencias mostram que o TR é muito eficiente em relação ao tempo de execução e tem favoráveis impactos sobre vários sistemas, com poucas contraindicações, e que realizado de forma apropriada, pode ser uma intervenção preventiva de custo-benefício viável. (WINETT e CARPINELLI, 2001).

Para Braith e Stewart (2006), o treinamento resistido com alta intensidade com repetições até a fadiga muscular com sessões entre duas ou três semanais gera resultados consideráveis para a saúde de um indivíduo. Contudo o TR produz reconhecidos efeitos estimulantes para a função cardiovascular, reduz os fatores de risco para doenças coronárias e para o diabetes do tipo II, previne osteoporose, diminui o risco de câncer do colo, promove à perda e a manutenção do peso corporal, melhora a estabilidade dinâmica e preserva a capacidade funcional geral e estimula o bem estar psicológico.  

Esse posicionamento é retificado em Winett e Carpinelli (2001, p. 23):

O treinamento resistido (TR) e o seu conseqüente aumento de massa muscular pode provavelmente reduzir múltiplos fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV), embora essas evidências ainda não estejam bem estabelecidas. A redução de massa muscular, produzida por envelhecimento ou por falta de atividade física, levam a uma alta prevalência de obesidade, resistência à insulina, diabetes do tipo II, dislipidemia e hipertensão. O músculo esquelético é a principal “esponja” metabólica para a glicose e para os triglicerídeos, e é um importante determinante da taxa metabólica de repouso. O TR tem sido proposto para promover saúde, prevenir doenças e melhorar a aptidão física, posição endossada pela American Heart Association, pelo American College of Sports Medicine, e pela American Diabetes Association. Independentemente do nível de aptidão física cardiovascular, a força muscular é inversamente associada com mortalidade por todas as causas e com a prevalência da síndrome metabólica.

De um modo geral podemos observar o fato de que o treinamento resistido tem um impacto favorável em múltiplos fatores de risco associados com doenças dentre outros e o quão ele pode ser benéfico à saúde de um indivíduo, tendo em vista que são vários os estudos que comprovam que o mesmo.

Novamente Winett e Carpinelli (2001), devido ao fato de manter a frequência cardíaca em seu nível normal, o TR pode ainda facilitar as tarefas da vida diárias, tornando-as menos desgastantes e menos arriscadas.

          Em relação a segurança, segundo o Conselho de Medicina Esportiva e Fitness, lesões são causadas em aparelhos domésticos ou em ambientes sem supervisão de um profissional da área e que quando supervisionado são menores que os causados em outros esportes ou atividades recreativas.

Para Braith e Stewart (2006), o treinamento resistido em relação ao seu risco/benefício, é para a maioria das pessoas, um negócio imensamente prospero. Ainda segundo esses mesmos autores exercícios com pesos utilizando com carga moderadas e seu aumento progressivo é bastante eficiente e gera menos riscos de lesões musculoesquelético.

As estatísticas comprovam o quanto TR é seguro e daí o porquê de estar sendo recomendado como ferramenta de prevenção e auxílio no tratamento das mais diversas enfermidades.  

O TR já foi considerado pelos profissionais da área como complicado, demorado e que exige a prática potencialmente perigosa de levantar explosivamente cargas pesadas. Na realidade, o treinamento resistido é seguro, relativamente simples, não envolve necessariamente cargas muito pesadas, e consome um tempo mínimo. (WINETT e CARPINELLI, 2001).

3 TREINAMENTO RESISTIDO E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE

O crescimento relativo e absoluto das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principalmente das doenças do aparelho circulatório, neoplasias e diabetes, expressa as intensas mudanças ocorridas nos padrões de adoecimento globais na segunda metade do século XX. Segundo dados da OMS, as DCNT foram responsáveis por 59% da mortalidade, cerca de 31,7 milhões de óbitos e 43% da carga global de doenças em 1998.7 Os países em desenvolvimento respondem por cerca de 78% da carga global de DCNT e 85% da carga de doenças do aparelho circulatório.

Para Williams e co-autores (2007), com o TR há o aumento da massa muscular e também da taxa metabólica basal, com isso o tecido adiposo diminui. O peso corporal pode não diminuir por conta do aumento de volume da massa magra. A qualidade de vida é relacionada com a capacidade de a pessoa realizar atividades que deseja ou precisa fazer.

Ainda segundo os mesmos autores, “tanto o TR quanto o treinamento aeróbio podem melhorar a qualidade de vida, mas o TR é mais eficiente e preferencial para as pessoas mais debilitadas”.

Contudo, o TR estimula mudanças favoráveis em relação aos fatores de risco associados a vários tipos de doenças, dentre elas, falaremos sobre algumas como, por exemplo: doenças cardiovasculares (DCV), diabetes, hipertensão, obesidade, abordando também seus efeitos relacionados à idade.

4 TREINAMENTO RESISTIDO E OS ASPECTOS CARDIOVASCULARES

Há diversas evidências de que uma única sessão de exercícios físicos pode proporcionar importantes benefícios ao sistema cardiovascular em decorrência, principalmente, da redução dos níveis pressóricos observados durante o período pós-exercício em relação ao repouso pré-exercício. (LIZARDO e SIMÕES, 2005, p. 290)

As alterações na morfologia do coração no TR são fisiológicas. A espessura das paredes do coração aumenta moderadamente, com ou sem aumento também discreto das câmaras.

As funções do miocárdio também são normais na hipertrofia por TR. Aspecto com grande aplicação prática é que o aumento da força muscular devido ao TR diminui o estresse cardiocirculatório (FC e PAS) nos esforços físicos. O TR diminui a pressão arterial de repouso tanto em normotensos quanto em hipertensos. O TR de intensidade moderada produz um duplo produto (FC x PAS) menor do que o do exercício aeróbio máximo em esteira. Efeitos do TR em marcadores bioquímicos de proteção arterial tem sido documentado, embora não de forma consistente. (WILLIAMS E CO-AUTORES, 2007).

Estudos que mostraram maior rigidez em artérias centrais promovida pelo TR provavelmente refletem adaptações fisiológicas sem significado clínico. Segundo Braith e Stewart (2006), “embora pouco conclusivos, alguns estudos demonstram proteção induzida pelo TR em relação ao estresse oxidativo, incluindo o ocasionado pelo treinamento aeróbio”.

Nesse sentido, os exercícios resistidos ou exercícios de musculação (exercícios localizados contra resistências) possuem papel de destaque, pois quando executados em altas intensidades, apesar de serem feitos de forma dinâmica apresentam componente isométrico bastante elevado (FORJAZ et al 2003).

É muito importante salientar que além das alterações cardiovasculares observadas durante a execução do exercício físico, existe um fenômeno dentre outros que vem chamando a atenção dos pesquisadores, que acontece após o término do exercício físico conhecido como hipotensão.

A hipotensão pós-exercício caracteriza-se pela redução da pressão arterial durante o período de recuperação, fazendo com que os valores pressóricos observados pós-exercícios permaneçam inferiores àqueles medidos antes do exercício ou mesmo aqueles medidos em um dia controle, sem a execução de exercícios. Para que a hipotensão pós-exercício tenha importância clínica é necessário que ela tenha magnitude importante e perdure na maior parte das 24 horas subsequentes à finalização do exercício. (BRUM, et al, 2004, p. 23).

5 TREINAMENTO RESISTIDO E A HIPERTENSÃO

Optamos por dividir o texto em dois seguimentos como: “aspectos cardiovasculares e hipertensão” afim de sugerir uma melhor compreensão, mesmo que uma coisa esteja ligada a outra diretamente. Dando dessa maneira continuidade ao assunto no que está relacionado aos problemas cardiovasculares.

Segundo Braith e Stewart (2006), com o envelhecimento, a hipertensão, a resistência à insulina, e o diabetes ocorre aumento da rigidez arterial em função da degeneração da camada media arterial, aumento no conteúdo de colágeno, dilatação arterial e hipertrofia. Estes fatores levam a aumento da pressão arterial sistólica e aumento do risco de eventos cardíacos.

Contudo o TR parece reduzir a pressão arterial sistólica e diastólica de repouso em cerca de 3 mmHg, o que se associa com a redução de 5 a 9% na morbidade cardíaca, redução de 8 a 14% na ocorrência de acidente vascular encefálico, e redução de 4% na mortalidade por todas as causas. (WILLIAMS, 2007).

Segundo Mediano et all (2005), A grande maioria dos estudos que analisaram os efeitos da atividade física nos níveis de PA pós-exercício utilizou o exercício aeróbio como principal estratégia. Talvez isso se deva ao fato da falta de conhecimento sobre o assunto em relação ao treinamento resistido. Uma vez que as informações sobre o comportamento da PA após uma sessão de treinamento de força ainda são relativamente escassas, principalmente quando a amostra é composta por hipertensos.

Entretanto, estudos verificaram que o exercício de força pode reduzir a PA sistólica pós-esforço, tanto de mulheres normotensas quanto hipertensas.

Nesse caso, foram realizados cinco exercícios em forma de circuito com 50% da carga máxima. Mais recentemente, manipulando a intensidade de seis exercícios de força, foi identificada uma redução na PA sistólica de jovens saudáveis em relação aos valores pré-exercício até 60min após a atividade. Contudo, não foram encontradas referências sobre o comportamento da PA pós-esforço quando se manipula o volume do exercício como, por exemplo, o número de séries. Isso pode ser importante, já que as respostas cardiovasculares em séries múltiplas podem ser mais elevadas que em série única. (MEDIANO, et al 2005, p. 338).

Não diferente dos demais estudos apresentados sobre as DCNT, a maioria das pesquisas sobre a atividade física com hipertensos ainda são feitos em sua grande maioria com exercícios aeróbios, o que de certa forma ainda gera e pode continuar gerando duvidas na aplicação de exercícios físicos como a musculação.

6 TREINAMENTO RESISTIDO E A DIABETES

No Brasil, segundo Melo, Giannella e Souza (2003), atualmente há cerca de 12 milhões de brasileiros diabéticos. Estima-se que destes, 7,8 milhões de pessoas tem o diagnóstico confirmado e outros 4 milhões estão sem diagnóstico.

Afim de propor melhorias nessas incidências, vários estudos concluíram que medidas de prevenção são eficazes em reduzir esses números alarmantes, principalmente em razão de se poderem evitar as complicações cardiovasculares.              Segundo o Consenso Brasileiro sobre Diabetes (2003), a prevenção efetiva também significa mais atenção à saúde de forma eficaz. A prevenção primária protege indivíduos suscetíveis de desenvolverem o diabetes mellitus. Ela tem impacto por reduzir ou retardar tanto a necessidade de atenção à saúde como a de tratar as complicações do diabetes mellitus do tipo 2.

Cardoso et all (2007), “a resistência à insulina e a maior produção de glicose em pessoas obesas e portadoras de diabetes mellitus tipo 2, ocorra pelo aumento da concentração de ácidos graxos livres.” O ligeiro aumento de insulina pode levar a ativação da lipase das células adiposas e consequentemente ao aumento de concentração de ácidos graxos livres na corrente sanguínea. Com isso podem ocorrer várias consequências como: a estimulação de maior secreção de insulina.

Isso ocorre porque os ácidos graxos livres atuam nas células betas, reduzindo o glicogênio síntese e redução da síntese de glicogênio. O risco de doença arterial coronariana está associado com diabetes mellitus, intolerância à glicose, e resistência à insulina, e esses fatores estão fortemente relacionados com hipertensão e dislipidemia, marcadores inflamatórios, fatores trombogênicos e disfunção endotelial.

De acordo com Braith e Stewart (2006), a contração muscular aumenta a captação de glicose no músculo esquelético. O TR utiliza exercícios localizados que no seu conjunto trabalham todo o corpo e pode proporcionar recrutamento de massa muscular maior do que a que ocorre nos exercícios aeróbios tradicionais. Estudos atuais demonstram que o TR é reconhecido como um componente básico para o controle glicêmico terapêutico de pessoas jovens e idosos com diabetes do tipo II.”

Reforçando a afirmação, Brum et all (2004, p.25), diz que:

O TR diminui os níveis de hemoglobina glicada em homens e mulheres diabéticos, em qualquer idade. Melhorar o controle glicêmico e diminuir os níveis de hemoglobina glicada são importantes para reduzir as complicações micro e macrovasculares do diabetes. O controle glicêmico induzido pelo TR parece ser dependente da intensidade dos exercícios, com os benefícios ocorrendo em pessoas que treinam entre 70 e 90% da carga máxima (1RM), que é o máximo peso que pode utilizado em uma repetição no exercício.

Observarmos que o treinamento resistido estimula o crescimento muscular, que por sua vez se utiliza da glicose como fonte energética. Braith e Stewart (2006) ressaltam que, “o TR geralmente não altera a tolerância à glicose ou o controle glicêmico, independentemente da idade, a menos que a tolerância à glicose esteja alterada. Por outro lado, o TR reduz a resposta aguda de insulina e aumenta a sensibilidade à insulina em testes metabólicos realizados em homens e mulheres de meia idade ou idosos.

O TR geralmente não altera a tolerância à glicose ou o controle glicêmico, independentemente da idade, a menos que a tolerância à glicose esteja alterada. Por outro lado, em testes metabólicos realizados em homens e mulheres de meia idade ou idosos. reduz a resposta aguda de insulina e aumenta a sensibilidade à mesma. (BRAITH e STEWART, 2006)

Para Katzer (2007), os benefícios adicionais para o indivíduo com diabetes mellitus do tipo 2 que têm hábitos regulares à prática do exercício físico podem ser os de curto prazo e os de longo prazo. Em curto prazo podemos citar aumento da ação da insulina; aumento da captação da glicose pelo músculo; captação da glicose no período pós-exercício; diminuição da taxa de glicose e aumento da sensibilidade celular à insulina.

7 TREINAMENTO RESISTIDO E A OBESIDADE

A obesidade pode estar associada a diversas complicações metabólicas como dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Fato é que estudos comprovam geralmente, a relação direta existente entre o risco de desenvolvimento de doenças associadas aumenta com o grau da obesidade. Entretanto, não somente a quantidade de gordura total em excesso deve ser considerada, a distribuição da gordura corporal é um importante fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)

Hoje, a obesidade pode ser considerada como um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil. Os números comprovam como a quantidade de pessoas com sobrepeso ou obesas tem crescido consideravelmente nos últimos anos. “Dados atuais explicam a prevalência da obesidade como o resultado da interação de fatores genéticos com fatores ambientais”, (KOPELMAN, 2000).

Para Winett e Carpinelli (2001), A gordura corporal acima do normal está associada a doenças coronariana e câncer. O aumento da obesidade central aumenta o risco de câncer colo retal, e parece iniciar uma série de eventos que podem resultar na resistência à insulina, intolerância à glicose, perfil lipoproteico anormal e hipertensão arterial.

O TR tem se mostrado particularmente eficiente na redução da adiposidade central.

Quando o foco é basicamente a perda de gordura e a melhora dos fatores de risco clássicos para diabetes e doenças coronarianas, dados recentes mostram que o treinamento cardiovascular de alta intensidade ou o treinamento resistido são os que mais modificam esses fatores de risco, e não o exercício de intensidade baixa a moderada tipicamente prescrito. (WINETT e CARPINELLI 2001, p.13).

O que sabemos é que ao se falar de perda de peso, o que ouvimos principalmente é que tem que haver a redução da ingestão calórica e aumentar o gasto da mesma por meio da atividade física. Por outro lado, ao se falar do auxílio da atividade física para se obter o objetivo desejado é que tal exercício deve ser de intensidade baixa a moderada ou ainda de exercícios aeróbios.

Em posição contrária, (CARPINELLI, OTTO e WINETT 2004) afirmam que,

Essa abordagem não resulta em perda de peso no curto prazo, e que revisões de literatura indicam que não seja efetiva na redução contínua da gordura corporal alem de 3 a 6 meses, sem conseguir a manutenção dos resultados. O balanço calórico negativo acentuado e contínuo tende a comprometer a massa corporal magra e reduzir a taxa metabólica de repouso. Devido a perda de massa muscular, pessoas que recuperam a perda de peso inicial, podem então exibir uma porcentagem mais alta de gordura corporal do que aquela anterior à dieta. O aumento da gordura corporal não é um problema apenas estético, pois leva a um apreciável aumento no risco de algumas doenças.

De acordo com Para Winett e Carpinelli (2001), o TR deve ser considerado nos programas de perda de peso porque ajudar a aumentar ou manter a taxa metabólica basal e a massa muscular, mas esses efeitos só ocorrem se não existir restrição calórica acentuada.

Nesse sentido, Williams e co-autores (2007), O TR tem se mostrado importante para o controle do peso corporal por aumentar a massa muscular. Um quilo de massa muscular aumenta a taxa metabólica basal em 21 Kcal/dia. O TR também tende a aumentar o gasto energético diário por facilitar as atividades, contribuindo para o controle do peso corporal. O TR crônico parece ser importante para controlar a gordura corporal, principalmente a gordura visceral, mais associada com a síndrome metabólica.

Ressaltamos que com o atual quadro clínico de uma grande parcela da população brasileira, é de fundamental importância a inclusão urgente de exercícios físicos nos programas de saúde pública em nosso país.

Por tanto,

Seja qual for o tipo de atividade física, ela deve ser inserida nos programas de combate à obesidade, visto que o exercício mesmo quando não promove a redução do peso, atua positivamente nos ajustes da composição corporal e nos componentes da aptidão física relacionada à saúde. Isto permite que o indivíduo desenvolva a capacidade de realizar tarefas diárias com vigor e demonstre traços e características associadas ao baixo risco do desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas, como adequada taxa de gordura corporal, bom tônus muscular, boa flexibilidade etc. (MACÊDO e SILVA, 2010, p. 53).

8 TREINAMENTO RESISTIDO NA INFÂNCIA

Podemos afirmar que hoje doenças associadas a problemas cardiovasculares como a hipertensão, diabetes, obesidade dentre outras, não se trata apenas de pessoas adultas ou idosas. As DCNT têm acometido cada vez mais crianças em várias fases da vida. Talvez esse fato se deva ao processo da má alimentação, que passou a ocupar principalmente os espaços escolares, como as cantinas e refeitórios.

A transição nutricional em curso na maioria dos países em desenvolvimento, junto com o aumento expressivo da obesidade e mesmo sua coexistência com o baixo peso, constitui um dos fatores mais importantes para explicar o aumento da carga das DCNT nesses países. (BARRETO, 2005)

A histórica sobre a contra-indicação do treinamento resistido para crianças pré-púberes é referida como baseada na concepção de que a falta de hormônios andrógenos iria impedir os ganhos de força, e acredita-se também que exista um alto risco de lesões, danos potenciais à placa de crescimento e soldadura precoce das epífises ósseas. Atualmente o TR é recomendado para aumentar a força muscular em crianças, melhorar o desempenho esportivo, melhorar a composição corporal, aumentar a massa óssea, e prevenir lesões no esporte. Todavia, algum risco de lesões é reconhecido, principalmente quando os exercícios são mal supervisionados. (MALINA, 2006).

Nesse sentido, alguns estudos tem apresentado resultados consideráveis em relação a prescrição do exercício resistido para crianças na fase da puberdade. Contudo a conclusão geral é que o TR não influencia de maneira negativa no crescimento em altura, o peso e a composição corporal em crianças e jovens adolescentes. Porém, existem pesquisadores que questionam a inclusão do TR nas abordagens de crianças obesas com a proposta de preservar a massa muscular durante períodos de dieta.

Malina (2006), conclui que o TR em crianças e jovens adolescentes é seguro e eficiente para aumentar a força muscular, e não afeta o crescimento em estatura, o peso e a composição corporal. A eficiência e a segurança do TR estão demonstradas em muitas situações de saúde comprometida ou de fragilidade, como é o caso da infância e da velhice. No caso das crianças, existe um quase consenso no sentido de que as atividades físicas devem ser lúdicas e não competitivas. A maioria das crianças não demonstra interesse por atividades individuais e de concentração, como é o caso do TR. Novamente Malina (2006), No entanto, muitas vezes o fortalecimento muscular pode ser uma necessidade, como é o caso de prevenção de lesões esportivas e o tratamento de doenças ou disfunções. Para essas situações, e também quando a criança demonstrar interesse na prática do TR é importante saber que não há contra indicações.

9 TREINAMENTO RESISTIDO E O ENVELHECIMENTO

Entre os 25 e 65 anos de idade há diminuição substancial da massa magra ou massa livre de gordura de 10 a 16% por conta das perdas na massa óssea, no músculo esquelético e na água corporal total que acontecem com o envelhecimento.

(MATSUDO, 2002).

          Uma das mais evidentes alterações que acontecem com o aumento da idade cronológica é a mudança nas dimensões corporais. Com o processo de envelhecimento existem mudanças principalmente na estatura, no peso e na composição corporal. Segundo Winett e Carpinelli (2001) acredita-se que com a prática do treinamento resistido por um indivíduo depois dos 50 anos de idade pode-se em poucos meses recuperar duas décadas de força e a massa muscular perdidas.

Os cientistas enfatizam cada vez mais a necessidade de que a atividade física seja parte fundamental dos programas mundiais de promoção da saúde. Não se pode pensar hoje em dia em “prevenir” ou minimizar os efeitos do envelhecimento sem que, além das medidas gerais de saúde, se inclua a atividade física. Esta preocupação tem sido discutida não somente nos chamados países desenvolvidos ou do primeiro mundo, como também nos países em desenvolvimento como, é o caso do Brasil.

Para Matsudo, (2002), “exercícios com pesos devem ser preferenciais para idosos, afim de estimular a manutenção da força muscular nos membros inferiores e superiores.” Contudo o que se pretende com esse tipo de exercício é permitir que o idoso tenha autonomia para exercer suas atividades da vida diária e acabar com o estigma de que é normal perdemos a saúde com o envelhecimento.

Nesse sentido, talvez um dos fenômenos da dimensão corporal mais estudados associados com o aumento da idade cronológica sejam as alterações na composição corporal, especialmente a diminuição na massa livre de gordura, o incremento da gordura corporal e a diminuição da densidade óssea. O ganho no peso corporal e o acúmulo da gordura corporal parecem resultar de um padrão programado geneticamente, de mudanças na dieta e no nível de atividade física relacionados com a idade ou de uma interação entre esses fatores. Embora a taxa metabólica de repouso diminua aproximadamente 10% por década, essas alterações metabólicas per senão explicam o aumento da gordura com a idade.

Por outro lado, é valido ressaltar que a condição da velhice não pode ser encarada como fator para se adquirir doenças multifatoriais como no caso das DCNT. Não podemos relacionar, ou pelo menos aceitar e acreditar que esta será uma condição natural para nós mesmo. Essa é uma situação que se tornou comum em nossa população brasileira e também na população mundial, mas isso não significa que ela deva ser encarada dessa maneira. O que temos que mudar através de nossos estudos e em nossas atividades diárias de trabalho é que não seja aceitável tal condição.

Infelizmente a literatura nessa área é limitada pela falta relativa, ao nosso conhecimento. No entanto, Matsudo (2002) ressalta que, independentemente dessas limitações, consideramos que o incremento da atividade física é fundamental no controle do peso e da gordura corporal durante o processo de envelhecimento, podendo também contribuir na prevenção e no controle de algumas condições clínicas associadas a esses fatores, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral, artrite, apneia do sono, prejuízo da mobilidade e aumento da mortalidade.

Os exercícios físicos proporcionam benefícios ao aparelho locomotor, ao sistema cardiovascular e respiratório, levando a uma aptidão satisfatória e à melhoria da saúde, pois fazem o idoso sair do seu isolamento, redescobrindo as suas possibilidades de movimento e propiciando a sua reintegração na sociedade. (SOUZA, 2007)

As evidências epidemiológicas apresentadas nos permitem dizer que a atividade física regular e a adoção de um estilo de vida ativo são necessários para a promoção da saúde e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento.

A atividade física deve ser estimulada desde a infância até a velhice, como forma de prevenir e controlar as doenças crônicas não-transmissíveis, que hoje é uma realidade em todas as fazes da vida, e como forma de manter a independência funcional.

As evidências sugerem que a atividade física regular e o estilo de vida ativo têm papel fundamental na prevenção e no controle das doenças crônicas não-transmissíveis, especialmente aquelas que se constituem na principal causa de mortalidade: as doenças cardiovasculares e o câncer. Além disso, a atividade física está associada também com melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de vida durante o envelhecimento. É importante enfatizar, no entanto, que, tão importante quanto estimular a prática regular da atividade física com o fortalecimento muscular, as mudanças para a adoça o de um estilo de vida ativo no dia-a-dia do indivíduo são parte fundamental de um envelhecer com saúde e qualidade. (MATSUDO, 2002. p. 204).

Para tanto, se faz necessário a pratica de exercícios resistidos para estimular a manutenção da força muscular dos membros superiores e inferiores, que deve ser a prioridade no idoso. Da mesma forma, o equilíbrio e os movimentos corporais totais devem fazer parte dos programas de atividade física na terceira idade.

10 CONCLUSÃO

Contudo, o que fica claro é que não existem dúvidas quanto ao fato de que o treinamento resistido traz resultados positivos a diversos fatores de risco associados as DCNT, como no caso de doenças do sistema cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 1 e 2, no caso da obesidade e ainda sua atuação como ferramenta preventiva quando iniciada sua pratica desde a infância e sua permanência até a velhice.

A efetividade de políticas de promoção de vida saudável requer a participação dos diversos setores e atores sociais responsáveis e comprometidos com a saúde e a qualidade de vida da população brasileira.

Deve ser uma missão de todo profissional da saúde divulgar os benefícios da atividade física, tentando afastar as pessoas do sedentarismo. Nesse sentido, novas propostas de exercícios aumentam as possibilidades de as pessoas encontrem as mais condizentes com as suas personalidades ou convicções. (SANTAREM, 2012, p. 09).

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¹Bacharel em Educação Física na Universidade Paulista – UNIP; Licenciado em Educação Física pela Faculdade Ciências da Amazônia – FCA. carlos.s2352@gmail.com.

²Bacharel em Educação Física na Universidade Paulista – UNIP; Licenciado em Educação Física pela Faculdade Ciências da Amazônia – FCA; Tecnólogo em Gestão em Segurança Pública pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR. iiran.soares@yahoo.com.br.

³Bacharel e licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; Especialista em Fisiologia do Exercício pela Faculdade de Macapá – FAMA (Anhanguera); Especialista em Musculação: Condicionamento Físico, Prevenção e Reabilitação de Lesões pela Instituto Facuminas EAD – Facuminas; Mestrando do curso de Saúde Pública da Facultad Interamericana de Ciencias Sociales – FICS – Asunción. Paraguay. mesiasfisio@gmail.com.

4Licenciada em Química pela Universidade Estadual do Amapá – UEAP; Bacharela em Educação Física pela Universidade Paulista – UNIP; Especialista em Mídias na Educação pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. rocilda.diasquim@gmail.com.

5Orientador. Profº Dr. Em Saúde Pública – Universidade Federal do Amapá – UNIFAP