WOMEN’S REPORTS ON CHOOSING THE TYPE OF BIRTH: CONTRIBUTIONS TO NURSING
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202507160701
Dayane Caroline Guimarães Lopes1
Lara Barreto de Souza2
Elayne Arantes Elias3
Fabrício Bruno Cardoso4
Dayanne Teresinha Granetto Cardoso Floriani5
Resumo
Objetivou-se identificar a experiência no parto, analisar a assistência da equipe de enfermagem no parto e conhecer o acesso das mulheres aos meios de saúde. Pesquisa com abordagem quanti-qualitativa realizada com 15 mulheres que já vivenciaram o parto vaginal ou via cesariana. A Análise de dados se deu através da Análise de Conteúdo de Bardin. Observou-se que a maioria das mulheres passou pela cesariana e foi bem atendida, com informações sobre o parto e seus direitos, com boa experiência. A cesariana foi escolhida para evitar a dor do trabalho de parto, porém é importante a implementação de ações eficazes que reduzam a incidência de cesarianas desnecessárias e que desmistifiquem o parto vaginal, que é mais vantajoso e seguro, para que ocorra de forma humanizadora e em respeito ao protagonismo da mulher. A assistência prestada pela equipe de enfermagem foi caracterizada como boa. Conclui-se que, com o fortalecimento das práticas assistenciais obstétricas, haja a consolidação das políticas e que, com a confiança das usuárias de saúde, o enfermeiro obstetra terá cada vez mais espaço de cuidado, sendo mais uma alternativa na assistência obstétrica qualificada e humanizadora.
Palavras-chave: Parto. Mulheres. Enfermagem. Obstetrícia.
1 INTRODUÇÃO
O parto é visualizado de muitas formas pelas mulheres a partir das suas decisões e das suas limitações de escolha, que evolvem situações, como: evolução da gestação, nível de escolaridade da gestante, experiências vividas anteriormente ou presenciadas, nível de informação e intervenção do profissional para a decisão sobre o tipo de parto escolhido. O parto vaginal/normal é o mais indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde (MS) no Brasil, por ser seguro e por ocorrer devido aos atributos próprios do corpo feminino. Porém, mesmo com todas essas recomendações, muitas mulheres consideram o processo longo e doloroso, optando pela cesariana, elevando os índices desse tipo de parto (CARVALHO & CERQUEIRA, 2020).
O parto vaginal tem sido incentivado pelas políticas públicas de saúde no mundo inteiro pelos seus benefícios, que incluem: recuperação puerperal melhor e mais rápida, menor risco de infecções e hemorragias, redução do número de óbitos maternos, melhor produção de leite materno e involução uterina, devido à atuação da ocitocina e o contato imediato mãe-bebê. Além desses benefícios maternos, estão aqueles para o recém-nascido: melhor padrão respiratório, maior atividade ao nascer, formação de flora intestinal, fortalecimento do sistema imunológico, menor risco de anemia e icterícia, dentre outros (SÃO ROQUE et al, 2022).
Mesmo com os benefícios do parto natural, as taxas de cesarianas apresentam tendência crescente e isso não é uma realidade somente do Brasil. “No Sistema Único de Saúde (SUS), a taxa de cesariana é de aproximadamente 43% sendo, tipicamente, uma intervenção cirúrgica orientada a prevenir ou tratar complicações maternas e perinatais” e com indicação criteriosa e com justificativa clínica para a sua realização, ponderando riscos e benefícios. Uma cesariana eletiva e sem indicação clínica está relacionada a complicações cirúrgicas e maior morbidade materna-fetal, quando comparada ao parto natural (SIMÕES et al, 2022).
O aumento dos índices de cesarianas tem valor negativo, já que o risco de morte é dez vezes maior quando comparado ao parto normal, além de riscos de morbidade materna e neonatal. As indicações médicas para essa via de parto, geralmente, são: apresentação não cefálica, gemelaridade, não progressão espontânea do parto, patologias maternas, dentre outros. Dados também apontam que a taxa de cesariana é maior no setor privado (93,8%) do que no SUS (55,5%) e que na cesárea há maior frequência de partos prematuros, enquanto que no parto vaginal, há maior frequência feto a termo (SILVA et al, 2020).
No Brasil, um dos dispositivos das políticas públicas para as mulheres no processo gravídico-puerperal é a Rede Cegonha, que visa o aumento das boas práticas para o parto/nascimento respeitoso, seguro e digno, com diretrizes para o êxito da assistência à parturiente e ao feto, como: redução das intervenções durante o trabalho de parto e parto, utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor, viabilização do aleitamento materno imediato e fortalecimento do vínculo mãe-bebê (GAMA et al, 2021).
Para a vivência do parto, a gestante deve ser esclarecida nas consultas de pré-natal sobre como são os tipos de parto e suas características, como por exemplo: o trabalho de parto, as contrações, as posições favoráveis, as técnicas não farmacológicas para o alívio da dor, as técnicas de relaxamento, massagens e respiração, o apoio psicológico, dentre outras. Com isso, o enfermeiro presta orientações importantes sobre esse momento, diminuindo medos e inseguranças e estimulando a gestante a exercer sua autonomia na escolha desse processo, para que seja uma experiência gratificante. Nesse movimento, o enfermeiro qualificado, na consulta pré-natal, presta uma assistência humanizada e de confiança para a gestante, desmistificando falsos saberes (CARVALHO & CERQUEIRA, 2020).
A justificativa do estudo se dá pelo fato de que muitas gestantes acabam não decidindo conscientemente sobre a via de parto. Em algumas ocasiões, o parto vaginal é desejado e não ocorre por falta de incentivo e de orientações claras sobre suas características, com hipervalorização de possíveis intercorrências. Da mesma forma que a cesárea é escolhida em decorrência do desejo de evitar a dor e o desconforto do parto vaginal. Isso reforça a importância do acompanhamento pré-natal, com orientações adequadas, evitando assim, a desinformação, a escolha errônea pela via de parto, as intervenções cirúrgicas desnecessárias, um maior gasto e maiores chances de ocorrência de complicações pré e pós natais (SIMÕES et al, 2022).
O estudo tem como questões norteadoras: Como é a experiência das mulheres e assistência de enfermagem no parto? Como é o acesso delas aos meios de saúde? E como objetivos: identificar a experiência no parto, analisar a assistência da equipe de enfermagem no parto e conhecer o acesso das mulheres aos meios de saúde.
2 METODOLOGIA
Pesquisa com abordagem quanti-qualitativa. A utilização da mesclagem dos dois tipos de pesquisa se dá pela combinação da precisão dos dados quantificáveis com a riqueza das descrições na pesquisa qualitativa. É possível utilizar a precisão e a generalização dos dados quantitativos e a profundidade reflexiva explorada nos relatos/entrevistas, com as informações detalhadas sobre as experiências vividas (EULÁLIO & SANTOS, 2025).
Pesquisa realizada na cidade de São Fidélis, situada no estado do Rio de Janeiro, no período de 20 de novembro a 3 de dezembro de 2023, com 15 mulheres que já vivenciaram o parto vaginal ou via cesariana, escolhidas de forma aleatória com vistas à técnica Bola de Neve. Como critério de inclusão foi pontuado mulheres maiores de 18 anos. E, como critério de exclusão, mulheres com qualquer indicação clínica de risco, por exemplo: cardiopatas, pré-eclâmpsia e outras, pois as mesmas não teriam escolha da via de parto.
A participação das mulheres se deu por indicação, sem definição preestabelecida. A primeira mulher foi convidada, indicou a próxima e as demais foram indicadas umas às outras. Essa técnica, a Bola de Neve, é operacionalizada por amostragem não probabilística, ou seja, é baseada na recomendação de novos participantes pelos participantes que iniciaram a pesquisa, de forma aleatória. Nisso, o informante “chave”, escolhido pelo pesquisador, indica outros que possuem características comuns a ele (RIBEIRO et al, 2024).
No momento da entrevista, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi lido e assinado em duas vias e o questionário contendo perguntas abertas e fechadas foi sendo preenchido. O número de participantes também não foi previamente determinado e as entrevistas cessaram quando os objetivos da pesquisa foram alcançados, momento também denominado como saturação dos dados. Essa saturação é evidenciada quando a quantidade de dados e o número de entrevistas já são suficientes, sem que nenhuma informação nova apareça. Os dados individuais, fornecidos por cada participante, serão fundamentados para o término da coleta de dados e para o processo de análise quando não surgirem “novos códigos conceituais ou categorias e subcategorias” (MOURA et al, 2022).
A Análise de dados foi operacionalizada através do método de Análise de Conteúdo de Bardin. Foram seguidas as etapas fundamentais para essa análise, sendo elas: 1) Pré-análise – leitura analítica e organização do material; 2) Exploração do material – constituição de categorias conceituais; 3) Tratamento dos resultados – interpretação dos resultados obtidos nos depoimentos. (SOUSA & SANTOS, 2020).
O estudo seguiu o rigor metodológico, científico e legal e as recomendações éticas da Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa, designado pela Plataforma Brasil, e aprovado sob o número de parecer 6.512.992 e CAAE número 73130023.2.0000.5244.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A idade das 15 entrevistadas variou entre 27 e 70 e o número de filhos variou entre 1 e 3. Quase todas as entrevistadas tiveram sua 1ª consulta pré-natal com o médico, apenas uma teve essa consulta com o enfermeiro. Quase todas (93,3%) passaram pelo parto via cesariana.
3.1 Os aspectos desvelados na ocasião do pré-natal
As mulheres relataram terem sido bem atendidas nas consultas e apenas uma participante relatou não ter sido bem assistida em seu pré-natal, que foi pelo SUS. Das que foram bem atendidas, 53,3% tiveram suas consultas pelo meio particular e 40% tiveram suas consultas pelo SUS.
60% das entrevistadas conhecem os acessos da mulher ao parto e suas peculiaridades e 40% desconhecem.
Das participantes, 26,7% nunca souberam sobre seus direitos em relação à saúde pública, enquanto que, 40% souberam através do médico obstetra, 20% souberam pela equipe de enfermagem, 6,7% buscou informação por conta própria e 6,7% sabia por ser da área da saúde.
Todas as participantes consideram que falta divulgação nas unidades de saúde sobre os direitos em tipos de parto, amamentação e assuntos gerais. Quase todas (93,3%) relatam que dá pra melhorar as informações sobre seus direitos no SUS.
3.2 A decisão sobre o tipo de parto e as vivências
Sobre a escolha da via de parto 53,3% puderam escolher entre cesárea ou normal, as outras 46,7% relataram que o médico determinou que fosse a via cesariana.
Todas se lembram quais profissionais as assistiram e 93,3% não se desagradaram de nenhuma atitude por parte dos profissionais. 80% passaram pela equipe de enfermagem e foram bem assistidas, mas 20% não passaram por essa equipe.
Todas as entrevistadas relataram ter tido boa, muita boa ou ótima experiência durante o parto. Em sua maioria sendo um processo tranquilo.
Das participantes, 86,7% tiveram seus direitos assegurados no momento do parto, 6,7% não teve e 6,7% não sabia sobre seus direitos.
93,3% relataram que não sofreram nenhum tipo de violência durante o parto e 6,7% relatou que sim, mas que na época o episódio não era considerado violência.
Sobre a realização da laqueadura na oportunidade da cesariana, 33.33% fizeram o procedimento e a maioria (66,7%), não e também não desejam realizar (53,3%).
Quanto à maioria das mulheres ter passado pelo parto via cesariana, relataram que, se passassem por um parto novamente, 33,3% tentariam o parto vaginal e 66,7% optariam novamente pela cesárea.
Os pontos positivos em relação ao parto, em sua maioria, cesariana foram: bom procedimento cirúrgico e anestésico, não sentir dor no momento do parto e se sentir calma, segura, acolhida e bem atendida. Quanto aos pontos negativos, foram elencados: pouca assistência no pós-parto e não poder ter escolhido o tipo de parto, quando o médico determinou a via.
3.3 A descrição da escolha do parto e a ocorrência da cesariana para quase todas as mulheres
“Aguardei até 40s para tentar normal, mas não entrei em trabalho de parto, então optei por cesárea”. (Entrevistada 1)
“Boa, mas não pude escolher (realizou cesárea)”. (Entrevistada 2)
“Escolhi esta via por medo do parto normal”. (Entrevistada 3)
“Eu estava com PA alta, teve que ser cesariana”. (Entrevistada 4)
“Eu não tive passagem para parto normal, e era algo mais cômodo pra mim naquela época”. (Entrevistada 5)
“Eu escolhi cesárea, mas queria muito que tivesse sido normal”. (Entrevistada 6)
“Escolhi a cesárea, mas me arrependo de não ter estudado mais sobre o parto humanizado”. (Entrevistada 7)
“Eu escolheria cesárea de qualquer forma”. (Entrevistada 8)
“Sempre pensei em parto normal, mas por medo da dor preferi a cesárea”. (Entrevistada 9)
“Foi boa, só não queria ter entrado em trabalho de parto e sentido dor (antes da cesárea)”. (Entrevistada 10)
“Escolhi por medo da dor do parto normal”. (Entrevistada 11)
“Apesar dar dor, foi tranquilo (parto vaginal)”. (Entrevistada 12)
“Escolhi por medo da dor do parto normal”. (Entrevistada 13)
“Escolhi por medo da dor do parto normal”. (Entrevistada 14)
“Foi boa, pois eu me senti mais segura em saber quem iria realizar meu parto (via cesárea)”. (Entrevistada 15)
As justificativas para a decisão pelo parto via cesariana foram: 46,7% relataram a opção por não sentir dor durante o trabalho de parto vaginal, 20% relataram que a cesariana foi por necessidade em relação às condições clínicas/obstétricas e 26,7% escolheram a cesariana por questões próprias.
A evidência da realização da primeira consulta pré-natal com o médico, para a maioria das mulheres, com relato de bom atendimento na rede pública e privada reforça a importância do início precoce do acompanhamento pré-natal (até 12 semanas de gestação). A realização do número adequado de consultas promove uma gravidez e um parto saudáveis, contribuindo para a redução da morbimortalidade materna e infantil. É importante ressaltar a atuação dos enfermeiros nessas consultas, conforme políticas de saúde no Brasil, que incluindo ações específicas e protocolares na consulta de enfermagem no pré-natal, como: anamnese, exame físico, ginecológico e obstétrico (ausculta de batimentos cardiofetais, medida de altura uterina, etc), prescrição de suplementos, solicitação de exames, dentre outros. Essa abordagem, com boa comunicação, escuta atentiva e resolutividade, cria um vínculo entre a gestante e o enfermeiro (SANTOS et al, 2022).
O número adequado de consultas de pré-natal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é igual ou superior a seis e a gestante nunca poderá ser dispensada das consultas até que o parto aconteça. O pré-natal realizado pelo enfermeiro é aquele denominado de baixo risco, onde também serão investigados os antecedentes de saúde e as condições socioeconômicas da gestante. Além do exame físico (antropometria, inspeção da mama, presença de edema e varizes, exame obstétrico, etc), é indispensável orientar sobre: alimentação saudável, exercícios físicos, higiene, cuidados com as mamas, aleitamento materno, sexualidade e cuidados com o recém-nascido (RN). Além disso, conscientizar a gestante acerca dos seus direitos em relação ao parto, ao puerpério e ao planejamento familiar e dos detalhes do trabalho de parto, para que ela tenha conhecimento e tomada de decisão. Um momento oportuno para esse conhecimento é através de grupos educativos (FERREIRA et al, 2021).
A predominância do parto via cesariana aponta para a desconsideração dos benefícios do parto vaginal para a mãe e o RN, tais como rápida recuperação, alta precoce, menor risco de infecção e de hemorragia8, promoção da lactação, primeiro contato precoce mãe-filho, dentre outros. A decisão pelo tipo de parto deve ser de forma consciente e esclarecida das condições da gestação e dos riscos e benefícios de cada via. Essa escolha quanto à cesariana tende a ser influenciada pelo estilo de vida da mulher, por questões econômicas, pelo desejo de evitar a dor, pela falta de informações necessárias ou déficit na compreensão do processo de parto e pela ideia de ser um momento planejado, mesmo que o ato cirúrgico tenha risco de intercorrências (SOUZA et al, 2022).
Muitas mulheres conhecem os acessos ao parto e seus direitos em relação à saúde pública, assim como têm seus direitos assegurados no parto, prevenindo episódios de violência obstétrica. Dados confirmam que esses direitos devem ser esclarecidos para as gestantes, sendo eles: o acompanhamento de pré-natal, ter um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, conhecer a maternidade onde o parto poderá ocorrer, denunciar qualquer forma de violência obstétrica, dentre outros. È importante conhecer sobre a violência obstétrica, para não estar vulnerável a ações desumanizadoras e ao impedimento de exercer sua autonomia no parto. O direito de escolher a via de parto, sendo elas vaginal ou cesárea, deve considerar as condições da gestação e as orientações profissionais (LACERDA; MARIANO & PASSOS, 2022).
As informações sobre os direitos da gestante, principalmente no SUS, advindas dos médicos, enfermeiros e da busca por si mesma devem ser mais acessíveis e esclarecidas. Elas devem estar em circulação “para que com o conhecimento, as mulheres possam reivindicar por um melhor atendimento durante a gestação, parto e pós-parto”, reduzindo os índices de intervenções desnecessárias e sem o consentimento da parturiente (LACERDA; MARIANO & PASSOS, 2022).
Sobre a via de parto da maioria, escolhida ou determinada pelo médico, a via cesariana, é verificado em estudos que, no sistema privado as cesáreas ocorrem com maior flexibilidade do que no serviço público de saúde, sendo por escolha ou por indicação médica, enquanto que, as gestantes atendidas na rede pública, geralmente, não conseguem realizar o parto via cesariana, visto que os incentivos governamentais são para o parto vaginal, que reduz a permanência hospitalar e as intercorrências, em comparação com a cesariana eletiva sem indicação clínica. Algumas indicações para a cesariana são: hipertensão-eclâmpsia, doenças crônicas, altura uterina menor para a idade gestacional, infecções, obesidade e outras. Existe uma classificação, a de Robson, que avalia as taxas de cesariana, de acordo com a OMS e considera alguns aspectos, como, cesárea anterior, idade gestacional, número de fetos, apresentação fetal, dentre outros (SOUZA et al, 2022).
A assistência prestada pelos profissionais, incluindo a equipe de enfermagem, foi considerada como uma boa experiência, o que corrobora com o modelo atual de atenção humanizada. O modelo humanizado na assistência obstétrica situa o profissional, principalmente da enfermagem obstétrica, para acompanhar a mulher no parto, ofertando apoio emocional e transmitindo segurança e acolhimento desde a sua admissão, reduzindo sua exposição a riscos evitáveis. Especificamente no trabalho de parto, o enfermeiro também segue práticas de saúde humanizadoras, que reforçam o protagonismo da parturiente na sua autonomia plena, reduzem as intervenções desnecessárias, ofertam conforto e apoio, além de técnicas de relaxamento e controle da dor (OLIVEIRA; GALVÃO & RAMOS, 2021).
A realização da laqueadura na oportunidade da cesariana foi evidenciada por poucas mulheres, o que reforça a necessidade do respeito à lei nº 9.263, que proíbe esse tipo de esterilização durante o parto e o aborto, exceto em casos necessários. Na maioria dos casos, a cesariana é escolhida para a possibilidade dessa esterilização e por mulheres de classe econômica elevada em serviços privados, marcando o desrespeito à lei (SOUZA et al, 2022).
Outro dado importante é que, a maioria das mulheres que passou pelo parto via cesariana, passaria novamente pela cesárea em outra ocasião. A justificativa para a escolha dessa via é geralmente, para evitar a dor no trabalho de parto. Vale refletir que a cesariana é um procedimento cirúrgico, indicado perante os riscos para a gestante e o bebê, para salvar vidas. O parto vaginal tem protocolos de manejo para ofertar conforto e alívio das dores com técnicas não farmacológicas de massagens, respiração e relaxamento e com posições mais confortáveis e de maior movimentação e deambulação (BOMBANA et al, 2023).
Uma das formas de preservar a autonomia da gestante para o parto é a elaboração do plano de parto. Esse plano é elaborado pela gestante, juntamente com um enfermeiro da atenção básica em saúde, sendo um documento de caráter legal, registrando os desejos durante a assistência médico hospitalar no trabalho de parto, pós-parto e nos cuidados com o recém-nascido. Muitas mulheres não conhecem esse instrumento valioso para boas práticas obstétricas, sendo os profissionais de saúde, sobretudo o enfermeiro, como educador em saúde, responsáveis pela divulgação de informações como essa durante o pré-natal (LACERDA; MARIANO & PASSOS, 2022).
As boas práticas obstétricas estão alinhadas às evidências científicas, resultando no atendimento seguro, de qualidade e com bons desfechos maternos e neonatais. São práticas evidenciadas na enfermagem obstétrica e que situam o enfermeiro como um profissional qualificado para o cuidado obstétrico integral. Com essa atuação mais acessível nos serviços de saúde, há repercussões positivas quanto à satisfação das mulheres e ao reconhecimento de seus direitos e dos deveres dos profissionais, refletindo na assistência de qualidade e reduzindo o número de intervenções desnecessárias (OLIVEIRA; GALVÃO & RAMOS, 2021).
4 CONCLUSÃO
O estudo possibilitou descrever características da experiência e da escolha da via de parto, sendo identificado um maior índice de cesariana, por escolha ou por decisão médica, justificativa em decorrência de necessidade, frente ao curso da gravidez. Porém, identificou-se maior índice da ocorrência desse tipo de parto em instituições privadas de saúde. O que ressalta a reflexão e a implementação de ações eficazes que reduzam a incidência de cesarianas desnecessárias. contribuindo para a mudança de cenário e desmistificando o parto vaginal, que é mais vantajoso e incentivado, para que ocorra de forma humanizadora e em respeito ao protagonismo da mulher.
A assistência prestada pela equipe de enfermagem foi caracterizada como boa e importante, já que o enfermeiro é um cuidador que acompanha a gestante desde o pré-natal, com ações obstétricas específicas e sendo um facilitador para que a mulher esteja informada, podendo assim, exercer sua autonomia em relação à escolha da via de parto e vivenciar um momento sem intervenções desnecessárias e com um cuidado humanizado.
Foi possível constatar, que mesmo com o conhecimento do acesso aos serviços de saúde e com as informações recebidas pelas gestantes sobre o processo de parto, ainda há a necessidade de melhorias no acesso à informação do SUS, para que as gestantes estejam esclarecidas sobre seus direitos e tenham conhecimento adequado sobre seu processo de gestar e parir.
O estudo contribuiu para fortalecer as práticas da enfermagem obstétrica, em consonância com as políticas públicas de saúde no Brasil, sobretudo a Rede Cegonha, na redução da morbimortalidlidade materna e neonatal e na assistência humanizada ao parto e puerpério, situando a mulher como protagonista do evento de parir e aumentando o acesso aos serviços de saúde com a presença do enfermeiro obstetra no acompanhamento desde o pré-natal. Com o fortalecimento dessas práticas, a consolidação das políticas e a confiança das usuárias de saúde, o enfermeiro obstetra terá cada vez mais espaço de cuidado, sendo mais uma alternativa na assistência obstétrica qualificada e humanizadora.
REFERÊNCIAS
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1Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e Gestão (CENSUPEG). E-mail: dayanecaroline60@hotmail.com
2Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e Gestão (CENSUPEG). E-mail: lara-souzab@outlook.com)
3Docente da Faculdade de Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e Gestão (CENSUPEG). Doutora em Enfermagem. E-mail: elayneaelias@hotmail.com.
4Coordenador do Curso de Educação Física e Líder do Laboratório de Inovações Educacionais e Estudos Neuropsicopedagógicos (LIEENP) da Faculdade CENSUPEG. Doutor em Ciências Biológicas (Biofísica). E-mail: fabricio@censupeg.com.br
5Coordenadora dos cursos de Graduação em Enfermagem e Pós-graduação em Enfermagem em Obstetrícia e Ginecológica e em Aleitamento Materno da Faculdade CENSUPEG. Mestre em Educação e Saúde. E-mail: dayanne.granetto@censupeg.com.br