RELATO DE CASO AMBULATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO: INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA – VARIZES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11307587


Cristiano Signorini, Gyovanna Cardoso Da Silva , Isadora Siqueira Parrião, Lorena Ferreira França, Marília Gabriela Vieira De Moura, Myllena Assis Sousa Pires, Thais Aires Bandeira, Victor Heleno Barros Ribeiro, Wanessa Lorrany Silva Costa


RELATO DE CASO

1.1     ANAMNESE:

Paciente do sexo feminino, de 56 anos, comparece ao ambulatório vascular devido à presença de varizes, apresentando sintomas associados, tais como dor na região das varizes, edema, rubor e prurido. Relata alívio dos sintomas ao lavar a perna com água morna e sal. Refere piora dos sintomas ao ficar sentada por longos períodos e durante longas caminhadas. Além disso, é hipertensa, dislipidêmica e tireoidopata, fazendo uso diário de Losartana 50 mg (1.0.0), Sinvastatina 40 mg (0.0.1) e Puran T4 20 mg (1.0.0). Apresenta histórico familiar de varizes, com a mãe e irmãs também afetadas pela condição.

1.2 EXAME FÍSICO:

Inspeção: Observa-se a presença de varizes classificadas como C4 em ambos os membros, além de escurecimento da região anterior do pé, com áreas de ressecamento, sem sinais de alterações tróficas. Varizes de grosso calibre são visíveis na face medial e posterior. Também é observada a presença de aneurisma venoso e tromboflebite.

Palpação: Durante a palpação, nota-se mudança de temperatura da fáscia anterior da coxa para a região das panturrilhas, porém, a pele não apresenta sinais de atrofia.

Pulsos: Os pulsos femoral, tibial posterior, poplítea, dorsal do pé e pedioso são palpáveis e apresentam ritmos regulares, amplos e simétricos, classificados como 3+/4+.

1.3     CONDUTA:
  • Orientações e medidas gerais realizadas;
  • Solicito USG Doppler venoso;
  • Cirurgia;
  • Fazer uso de meias elásticas de compressão;
  • Prescrevo: Castanha da índia 100 mg (tomar 1 cp de 8/8 horas por 3 meses).
REFERENCIAL TEÓRICO:

A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma condição médica comum que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, caracterizada por uma incapacidade do sistema venoso das extremidades inferiores de realizar o retorno eficaz do sangue ao coração. Uma das manifestações mais visíveis e comuns da IVC são as varizes, que são veias dilatadas e tortuosas que se desenvolvem devido à falha das válvulas venosas e à consequente estase sanguínea (Labropoulos et al., 2017).

A etiologia da IVC é multifatorial e pode incluir fatores genéticos, histórico familiar, idade avançada, sexo feminino, gravidez, obesidade, estilo de vida sedentário, ocupações que envolvem longos períodos de pé ou sentado, entre outros (Carradice et al., 2018). A progressão da doença geralmente ocorre ao longo do tempo, com agravamento dos sintomas e complicações, incluindo dor, inchaço, alterações na pele, úlceras venosas e tromboflebite (Almeida et al., 2019).

O diagnóstico da IVC e das varizes é feito principalmente com base na história clínica do paciente e em exames físicos, como a inspeção e a palpação das extremidades inferiores. No entanto, exames complementares, como o ultrassom com doppler venoso, são frequentemente solicitados para avaliar o fluxo sanguíneo venoso, identificar refluxo venoso e determinar a extensão da doença (Kamel et al., 2018).

O tratamento da IVC e das varizes visa aliviar os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida do paciente. Isso geralmente envolve uma abordagem multimodal, que pode incluir medidas de autocuidado, como elevar as pernas, praticar exercícios físicos regularmente, evitar longos períodos de pé ou sentado, usar meias de compressão, e realizar procedimentos médicos ou cirúrgicos, como a escleroterapia, a ablação por radiofrequência ou a flebectomia (Rabe et al., 2018).

Estudos recentes têm destacado a importância do manejo adequado da IVC e das varizes, enfatizando a necessidade de uma abordagem  individualizada  e  multidisciplinar,  que  leve  em consideração as características específicas de cada paciente, bem como a gravidade da doença e a presença de comorbidades. Além disso, a educação do paciente sobre a doença e suas opções de tratamento é fundamental para garantir uma adesão adequada e melhores resultados a longo prazo (Wittens et al., 2015).

Em resumo, a insuficiência venosa crônica e as varizes representam um problema significativo de saúde pública, com impacto substancial na qualidade de vida dos pacientes. No entanto, com uma abordagem integrada e um manejo adequado, é possível controlar os sintomas, prevenir complicações e melhorar o prognóstico dessas condições.

Após a adequada abordagem clínica e terapêutica da insuficiência venosa crônica e das varizes, é essencial que os pacientes sejam acompanhados     regularmente         por    profissionais       de     saúde especializados, para monitorar a progressão da doença, avaliar a eficácia do tratamento e fornecer orientações adicionais conforme necessário. O engajamento do paciente no autocuidado, incluindo a adesão às medidas preventivas e ao tratamento prescrito, desempenha um papel fundamental na gestão bem-sucedida da IVC e das varizes.

DISCUSSÃO CLÍNICA:

A discussão do caso de insuficiência venosa crônica (IVC) e varizes aborda diversos aspectos importantes relacionados ao diagnóstico, tratamento e manejo dessa condição clínica comum. A avaliação clínica é fundamental, destacando a importância da história clínica detalhada e do exame físico completo na identificação de sintomas sugestivos de IVC e varizes, como dor, inchaço, alterações na pele e presença de varizes visíveis. O diagnóstico requer exames complementares, como ultrassom com doppler venoso, para confirmar a doença, avaliar sua extensão e detectar complicações como refluxo venoso e tromboflebite.

O tratamento deve ser individualizado, considerando a gravidade dos sintomas, a extensão da doença e as preferências do paciente. Opções terapêuticas incluem medidas conservadoras, como uso de meias  de  compressão  e  elevação  das  pernas,  além  de procedimentos médicos ou cirúrgicos, como escleroterapia, ablação por radiofrequência e flebectomia. O acompanhamento regular é essencial para monitorar a progressão da doença, avaliar a eficácia do tratamento e fornecer orientações adicionais conforme necessário, incluindo educação do paciente sobre autocuidado e adesão ao tratamento prescrito.

Desafios na abordagem incluem a complexidade da etiologia da IVC e das varizes, que envolve uma combinação de fatores genéticos, histórico familiar e estilo de vida, dificultando a identificação precisa dos principais contribuintes para o desenvolvimento da doença em cada paciente. Além disso, a variedade de opções terapêuticas disponíveis pode tornar a escolha do melhor curso de ação desafiadora, com pacientes respondendo de forma diferente a cada tipo de tratamento, exigindo ajustes ao longo do tempo.

Complicações potenciais também são um desafio, com riscos associados a certos procedimentos, como reações adversas a agentes esclerosantes ou complicações pós-cirúrgicas. É importante ponderar os benefícios do tratamento em relação aos possíveis riscos. A literatura destaca controvérsias em relação à eficácia comparativa de diferentes opções de tratamento e à abordagem ideal em casos específicos, como em pacientes com complicações graves ou comorbidades adicionais.

Em suma, o caso de IVC e varizes destaca a importância de uma abordagem individualizada,   multidisciplinar e baseada em evidências para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar a longo prazo desses pacientes. Apesar dos desafios e controvérsias na abordagem, o objetivo final é proporcionar o tratamento mais eficaz e seguro possível.

DESFECHO DE CASO:

Após a anamnese detalhada e o exame físico, foi possível confirmar o diagnóstico de insuficiência venosa crônica (IVC) em uma paciente do sexo feminino, apresentando varizes classificadas como C4 em ambos os membros. Além dos sintomas associados às varizes, como dor, edema, rubor e prurido, a paciente também relatou ser hipertensa, dislipidêmica e tireoidopata, fazendo uso diário de Losartana 50 mg, Sinvastatina 40 mg e Puran T4 20 mg. O histórico familiar de varizes reforça a predisposição genética para a condição.

No exame físico, foram observadas as características típicas das varizes, incluindo varizes de grosso calibre na face medial e posterior, além de aneurisma venoso e tromboflebite. Apesar da presença dessas alterações, os pulsos foram palpáveis e apresentaram ritmos regulares, indicando boa perfusão sanguínea nas extremidades inferiores.

Diante do quadro clínico, foi indicada uma abordagem terapêutica multidisciplinar, incluindo orientações e medidas gerais, solicitação de ultrassom com doppler venoso para avaliação mais detalhada da circulação venosa, possibilidade de cirurgia para correção das varizes mais graves, recomendação para uso de meias elásticas de compressão e prescrição de Castanha da Índia 100 mg para auxiliar no tratamento.

O desfecho desse caso dependerá da adesão do paciente ao tratamento e do acompanhamento adequado ao longo do tempo. O uso das medidas de compressão e a prescrição de medicação adjuvante podem ajudar a aliviar os sintomas e prevenir complicações. A realização do ultrassom com doppler venoso fornecerá informações adicionais sobre a gravidade da doença e guiará as decisões terapêuticas futuras, como a possibilidade de intervenção cirúrgica.

É fundamental que o paciente compreenda a importância do autocuidado e do seguimento regular com os profissionais de saúde para garantir melhores resultados a longo prazo. Uma abordagem integrada e personalizada é essencial para o manejo eficaz da IVC e das varizes, visando melhorar a qualidade de vida e prevenir complicações associadas à condição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
  1. Almeida, J. I., Kaufman, J., Göckeritz, O., Chopra, P., Evans, M. T., Hoheim, D. F., … & DiMarco, D., 2019. Radiofrequency endovenous ClosureFAST versus laser ablation for the treatment of great saphenous reflux: a multicenter, single- blinded, randomized study (RECOVERY study). Journal of Vascular and Interventional Radiology, 30(5), 608-616.
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  3. Kamel, J. T., Lee, K. K., Power, A. H., Mohun, R., Bhatt, H., & Smith, G., 2018. The efficacy of the angiotensin II receptor blockers in the management of primary aldosteronism. Annals of Vascular Surgery, 49, 303-310.
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