REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.13175206
Wanderlei Porto do Nascimento Aguiar 1
Vinicius de Aguiar Caloti 2
Resumo
O texto destaca a importância de um antigo caminho que ligava Viana-ES à fazenda Araçatiba, no mesmo município, ressaltando a oportunidade de desenvolver pesquisas geográficas, históricas, turísticas e antropológicas sobre o tema. A busca por informações sobre essa estrada foi realizada através do “Google Acadêmico” e repositórios como a UFES e IFES, com poucos resultados disponíveis. Segundo o site oficial da Prefeitura Municipal de Viana-ES, os portugueses que saíram de Vila Velha no século XVI em busca de ouro passaram por Araçatiba, onde se instalaram os primeiros colonizadores. A “Caminhada Ecocultural” também é mencionada como um evento anual promovido pela Prefeitura Municipal de Viana, com a participação da Banda de Congo “Mãe Petronilha” em festejos locais. Palavras-chave: Araçatiba. Caminho. Memória. História. Cultura.
Introdução
Este relatório objetiva destacar a relevância de um caminho, que, anteriormente, de acordo com moradores locais, era o único meio terrestre de ligação entre a Sede do Município de Viana-ES e a antiga fazenda jesuíta de Araçatiba.
Esta iniciativa pretende oferecer a oportunidade de desenvolver, ulteriormente, pesquisas mais aprofundadas, como a pesquisa geográfica, turística, histórica, antropológica, sociológica, pesquisa etnográfica, dentre tantas outras, que poderão contribuir de forma significativa para o apoio a esses estudos, com a possibilidade futura de tornar essa rota mais proeminente e popular.
Empreendemos uma busca por informações escritas sobre a estrada antiga que ligava Viana-ES a Araçatiba. Utilizamos, para tal empreendimento, o “Google Acadêmico” e alguns repositórios tais quais a UFES3 e IFES44. Parcas investigações sobre o assunto estavam disponíveis. As referências maiores sobre a região, estavam no site oficial da Prefeitura Municipal de Viana-ES. A informação encontrada no citado site, diz que
Ao final do século XVI e início do século XVII, os portugueses saíram de Vila Velha e seguiram pelo Rio Jucu em canoas, em busca de ouro. Acredita-se que sua primeira passagem tenha sido por Araçatiba, instalando-se ali os primeiros colonizadores, seguindo depois pelo Rio Santo Agostinho até alcançar o local que hoje é a sede do município de Viana. Os indígenas que habitavam a região eram da tribo dos Puris. (VIANA, 2024).
Uma importante menção sobre a “Caminhada Ecocultural” foi encontrada no trabalho da pesquisadora Lourenço (2021, p. 55). Ela afirma que a Banda de Congo “Mãe Petronilha” “[…] participa de alguns festejos na comunidade como: o festejo da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda […]”, momento em que é “[…] comemorado o dia da padroeira do lugar na data de 8 de setembro; Caminhada Ecológica, que acontece anualmente no mês de julho, sendo um evento promovido pela Prefeitura Municipal de Viana”. (LOURENÇO, 2021, p. 55).
A ideia inicial protuberante, com auxílio dos moradores locais, movimento comunitário e das autoridades públicas que estão envolvidas no processo, transformar a rota denominada “Caminhada Ecocultural” num patrimônio cultural do município. Para isso são necessárias pesquisas, desenvolvimento de teorias, conceitos e metodologias, discussões envolvendo alguns pesquisadores para aperfeiçoar o trabalho e publicações dos eventos que acontecem no município.
O fim desses estudos é fomentar a história e cultura locais. É esperado, portanto, no futuro, a possibilidade da criação de uma Lei Municipal que trará a criação do patrimônio cultural.
Diante dessas questões preliminares, trataremos brevemente sobre o grupo que conduziu a trajetória, os registros fotográficos, algumas entrevistas informais e, até o momento, é um relato de campo pioneiro sobre a caminhada chamada “Caminhada Ecocutural”. Somos três os nomes: Maria José Costa Aguiar do Nascimento, Vinicius Aguiar Caloti e Wanderlei Porto do Nascimento Aguiar, que apreciam a natureza e as caminhadas com percursos que mostram a história, a cultura, a identidade e a memória de um povo. Em 21 de julho de 2024, tivemos a oportunidade de acompanhar a história de uma estrada antiga, que ligava Viana-ES sede do município, ao distrito de Araçatiba.
Figura 1: Os andejos Vinicius, Wanderlei e Maria José.
Caminhando pela Cultura
Aprazamos realizar essa caminhada, com um percurso que é de 13 quilômetros como combinado há algumas semanas. Nossa intenção é explorar as riquezas naturais nessa trajetória, dentre elas estão as paisagísticas, turísticas, históricas, geográficas e culturais. Nos preparamos adequadamente com todos os materiais disponíveis para cumprir o que havia sido acertado.
Levamos alimentos, protetores solares, chapéus, tênis, mochila e roupas apropriadas para trilhar. Chegamos ao ponto de partida às sete horas da manhã, onde já havia um numeroso grupo de andarilhos. Inicialmente o grupo realizou uma atividade de alongamento, visando evitar problemas físicos/musculares. Pedimos algumas informações sobre o que iriamos encontrar no percurso.
Conforme relatado pela Prefeitura Municipal de Viana (ES), no site da Secretaria de Comunicação,
O evento ocorre em comemoração aos 162 anos da cidade, completados dia 23 de julho, e pretende reunir milhares de pessoas em trajetos que podem ser feitos a pé e de bicicleta, com largada no Parque de Exposições de Viana Sede e chegada em Araçatiba. (VIANA, 2024).
O número de participantes do evento “Caminhada Ecoculural”, em sua 23ª edição, pode chegar próximo dos três mil.
As pessoas que trabalhavam no evento informaram-nos estar ocorrendo a distribuição de camisas para os primeiros mil inscritos. Dessa forma, identificamos uma fila de pessoas com extensão razoável. Mais adiante, outra fila, onde havia um ponto de distribuição de frutas e água. Era um dos cinco pontos de apoio, que defrontaríamos no decorrer da trajetória, para o conforto dos caminheiros.
Figura 2: Pessoas reunidas aguardando a largada.
De acordo com informações obtidas no site da Prefeitura Municipal de Viana (ES),
Esta tradicional caminhada em Viana visa integrar residentes e visitantes aos patrimônios culturais, históricos, naturais e paisagísticos da cidade. Além de promover um maior senso de pertencimento, a iniciativa estimula o turismo sustentável como um impulsionador do desenvolvimento econômico, social e humano. Participar também proporciona benefícios à saúde, incentivando a prática esportiva ao ar livre. (VIANA, 2024).
Iniciamos o percurso um pouco antes dos outros, por volta das sete horas da manhã. Ao percorrermos o primeiro quilômetro, percebemos que não éramos os únicos, pois havia outros caminheiros perfazendo a trilha. As imagens apresentadas a seguir demonstram isso.
Figuras 1 e 2: o primeiro quilômetro percorrido.
Conseguimos confirmar, por meio de algumas entrevistas informais, durante a caminhada, que o trajeto enriquece a história local, desperta curiosidades sobre a comunidade do município. Ademais contribui para a preservação do meio ambiente, incluindo nisso “invenções” criativas e pioneiras. Uma pessoa anônima nos relatou que numa dada ocasião construiu uma espécie de jangada com garrafas pet.
Eu construí uma embarcação de garrafa pet e me aventurei descendo o Rio Jucu, foi uma experiência sem igual. Acredito que alguém registrou o feito, porque foi algo muito diferente que eu fiz. Hoje eu não sei se conseguiria fazer isso, tendo em vista que o Rio Jucu está diferente, está assoreado, com alguns problemas de poluição. (informação verbal)5.
Ao continuarmos a trajetória nos deparamos com alguns animais, pastos, casarios, pequenos comércios, alguns locais com vegetação densa. Isso mostra que a região é tipicamente rural. Essas características observadas desvelam que a região tem uma economia cuja base é a agricultura, pecuária.
A criação de animais, produção de produtos alimentícios, artesanalmente como linguiça, mel, plantio de cana-de-açúcar para obtenção do caldo de cana, amplamente comercializado nas feiras livres municipais, são outros aspectos observados na região.
Figuras 3 e 4: animais criados na região. Ao lado, o Rio Jucu, maior rio na região.
Após uma breve pausa para o registro fotográfico, prosseguimos em uma região com um canavial de porte reduzido. O céu começou a ficar nublado. Inicialmente pensamos que poderia haver uma chuva torrencial, todavia, ao analisarmos um site de previsão meteorológica, concluímos que era um equívoco a nossa reflexão.
Figura 5: foto do canavial com um pequeno grupo caminhando.
Mais adiante adentramos num território repleto de árvores, muitas delas com placas informativas, que as descreviam em seus aspectos essenciais, tais quais seu nome popular da espécie, altura, idade, circunferência, peso. Essa região é uma reserva ecológica, uma área de proteção em que um órgão governamental é o responsável.
Figuras 6, 7, 8 e 9: região de reserva ambiental.
Conforme menciona o INCAPER6 o local é uma “Fazenda Experimental”. Afirmando que, a
Fazenda Experimental Engenheiro Agrônomo Reginaldo Conde (FERC): Localizada em Jucuruaba, em Viana, a Fazenda destaca-se pelo projeto do Centro de Educação Ambiental de Jucuruaba (Ceaj), que ocupa uma área de 27 hectares, sendo 12 ha de reserva florestal. A proposta do Centro é de despertar a consciência ambiental e responsabilidade do público em geral, em especial dos agricultores, na conservação dos recursos naturais e de espécies nativas da Mata Atlântica, como Pau Brasil, Seringueira, Palmáceas e Cacau. No local, existem Unidades Demonstrativas de Sistemas Agroflorestais que reforçam a linha de atuação de que é possível desenvolver atividades agrícolas sem degradar o meio ambiente. (INCAPER, 2024).
Nossa caminhada estava no marco quilométrico de número sete, perfazendo um pouco mais da metade do caminho. Estávamos saindo da reserva, percorrendo um espaço aberto, composto por estrada de “terra” e posteriormente por via pavimentada.
Figuras 10, 11, 12 e 13: andarilhos percorrendo as últimas etapas da caminhada.
A nossa trilha já estava beirando o término. Iríamos alcançar o distrito de Araçatiba, lugar mágico e acolhedor. De acordo com a programação, estávamos próximos para assistir a uma apresentação da Banda de Congo “Mãe Petronilha”. Uma banda tradicional no território de Araçatiba, contando com mais de cem anos de existência.
As informações retiradas do site da Prefeitura mostram a programação. A banda de congo abriria os shows programados, e assim ocorreu. “PROGRAMAÇÃO: 10h às 11h30: Banda de Congo Mãe Petronilha;12h às 13h30: Rogério Palassi e Banda; 14h às 15h30: Rony Borges;16h às 17h30: João Pedro e Miguel”. (VIANA, 2024).
Figuras 14 e 15: Banda de Congo “Mãe Petronilha”, se preparando para a apresentação.
A Banda de Congo desceu uma pequena ladeira de acesso à Igreja Nossa Senhora da Ajuda e, posou gentilmente para uma foto marcante. Imagem abaixo.
Figura 16: Fonte: a Banda de Congo “Mãe Petronilha” reunida.
Consoante a imagem há 11 integrantes participando da Banda de Congo neste dia de apresentação.
Igreja Nossa Senhora da Ajuda, na imagem abaixo. Atualmente esse patrimônio histórico está passando por uma reforma e restauração. Conforme menciona o IPHAN7
A Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Araçatiba, foi construída pelos jesuítas no século XVIII, como parte do conjunto de edifícios da antiga Fazenda de Araçatiba, que era constituída pela residência, engenhos, senzalas, oficinas e a igreja dedicada a Nossa Senhora da Ajuda. A produção da Fazenda contribuía para o sustento das aldeias jesuítas e dos antigos Colégio e Igreja São Tiago, em Vitória, transformados no Palácio Anchieta, atual sede do governo estadual. Atualmente, do conjunto restou a Igreja (localizada no alto de uma elevação que faz parte do perfil geológico do morro de Araçatiba) e as ruínas da Residência. (IPHAN, 2024).
Figura 17: Igreja Nossa Senhora da Ajuda, Araçatiba, Viana-ES.
Considerações finais
Após realizarmos todo o percurso, totalizando 13 quilômetros, sentimo-nos gratificados com a experiência de conhecer a trilha e o evento “Caminhada Ecocultural”, que já se encontra em sua 23ª edição. Nesse dia também estava em pauta o aniversário de Viana-ES, comemorando seus 162 anos de emancipação política. Consoante informações da Prefeitura “[…] no dia 23 de julho, Viana completa 162 anos de emancipação. Nesta data, Viana se tornará a capital do Espírito Santo por um dia, por ocasião do aniversário municipal, em decreto assinado pelo governador Renato Casagrande.” (VIANA, 2024).
Tivemos a oportunidade de assistir à apresentação da Banda de Congo “Mãe Petronilha”, uma banda centenária que mantém a história, a cultura e a memória local vivas. Nos despedimos do território com a convicção de que um novo aprendizado nos constituirá de forma contundente e categórica. O que vislumbramos está muito além do que imaginamos, superando significativamente o que prevíamos encontrar. Fica a saudade e desejamos poder retomar essa trajetória com novos sentidos, compreensões, interpretações. A cada nova edição da caminhada, além dos benefícios para a saúde, há a possibilidade de atividades para o turismo local, o esporte e o lazer. Além disso, é uma das oportunidades de se familiarizar no território, com a cultura e história dos africanos e afro-brasileiros, os quais são muito ricas em diversos aspectos.
3Universidade Federal do Espírito Santo.
4Instituto Federal do Espírito Santo.
5Entrevista concedida por uma pessoa que não quis se identificar. Entrevista I. Julho de 2024. Entrevistador: Wanderlei Porto do Nascimento Aguiar.
6Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural.
7Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Referências
GASKEL, J.L. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2000.
LOURENÇO, Karoline de Oliveira. Patrimônio cultural e território: Banda de Congo Mãe Petronilha de Araçatiba, Viana/ES. Dissertação (Mestrado em Artes) – Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2021.
INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISA, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Fazendas Experimentais, 2024. Disponível em: <https://incaper.es.gov.br/fazendas>. Acesso em: 23 de jul. de 2024.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN. Igreja de Nossa Senhora da Ajuda – Viana (ES). Brasília, DF: IPHAN, 2024. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1356/> . Acesso em: 23 jul. 2024.
VERTELO, Marcos Aurélio dos Santos. Comunidade de Araçatiba, Viana, ES: Herança e devoção de afrodescendentes no pós-abolição. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2017.
VIANA, Prefeitura Municipal de. Secretaria de Comunicação. 23ª Caminhada Ecocultural será realizada domingo, dia 21. Confira a programação. Viana (ES), 2024.
1 Especialista em Metodologias e Práticas para o Ensino Fundamental (IFES). Professor autista (SME – Cariacica/ES e Viana/ES). CV: http://lattes.cnpq.br/5355942123951291. e-mail: wanderp2065@gmail.com
2 Doutorando em História Social (UERJ). Professor autista da educação básica. CV: http://lattes.cnpq.br/0136238997778525. e-mail: aguiar0caloti@gmail.com