RELATIONSHIP BETWEEN FULL-TIME SECONDARY EDUCATION AND STUDENT SATISFACTION AT A PUBLIC SCHOOL LOCATED IN THE INTERIOR OF NORTHERN BRAZIL
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202502261355
Andréa Siqueira Braga1
Jaqueline Bastos2
Resumo
A educação em tempo integral tem se consolidado como uma estratégia eficaz para proporcionar uma formação mais completa e abrangente aos estudantes. Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar a relação entre o ensino médio integral e a satisfação de alunos de uma escola pública situada no interior do norte do Brasil. Para isso, realizou-se um estudo de abordagem quantitativa, com delineamento observacional analítico e transversal. Os dados coletados foram analisados a partir dados quantitativos, sendo que a análise ajudou a conhecer a relação dos alunos matriculados no 3º ano do ensino em tempo integral da escola pesquisada. Os resultados deste estudo mostraram que as mudanças relatadas pelos alunos foram bem positivas, pois os mesmos demonstraram estar satisfeitos com esse novo modelo, uma vez que deram ênfase ao fato da aquisição de mais conhecimentos, de mais projetos. A implementação da escola integral é uma proposta que busca oferecer uma educação mais completa, abrangente e enriquecedora aos estudantes, promovendo seu desenvolvimento integral e preparando-os para enfrentar as mudanças, as rotinas, assim como desfrutar das contribuições que esse modelo de ensino traz.
Palavras-chave: Ensino Integral. Satisfação. Alunos.
Abstract
Full-time education has been consolidated as an effective strategy to provide a more complete and comprehensive education to students. Thus, this study aims to analyze the relationship between full-time education in high school and the satisfaction of students in a public school located in the interior of northern Brazil. To this end, a quantitative study was carried out, with an analytical and cross-sectional observational design. The data collected were analyzed based on quantitative data, and the analysis helped to understand the relationship between students enrolled in the 3rd year of full-time education in the school studied. The results of this study showed that the changes reported by the students were very positive, as they demonstrated satisfaction with this new model, as they emphasized the fact that they acquired more knowledge and more projects. The implementation of full-time school is a proposal that seeks to offer a more complete, comprehensive and enriching education to students, promoting their integral development and preparing them to face changes and routines, as well as to enjoy the contributions that this teaching model brings.
Keywords: Full-time education. Satisfaction. Students.
Resumen
La educación a tiempo completo se ha consolidado como una estrategia eficaz para ofrecer una educación más completa e integral a los estudiantes. Así, este estudio tiene como objetivo analizar la relación entre la educación a tiempo completo en la educación secundaria y la satisfacción de los estudiantes en una escuela pública ubicada en el interior del norte de Brasil. Para ello se realizó un estudio cuantitativo, con un diseño observacional analítico y transversal. Los datos recopilados se analizaron con base en datos cuantitativos y el análisis ayudó a comprender la relación entre los estudiantes matriculados en el tercer año de educación a tiempo completo en la escuela estudiada. Los resultados de este estudio mostraron que los cambios reportados por los estudiantes fueron muy positivos, pues demostraron satisfacción con este nuevo modelo, pues destacaron el hecho de adquirir más conocimientos y más proyectos. La implementación de la escuela de tiempo completo es una propuesta que busca ofrecer una educación más completas, integral y enriquecedora a los estudiantes, promoviendo su desarrollo integral y preparándolos para enfrentar cambios y rutinas, así como para beneficiarse de los aportes que este modelo de enseñanza trae consigo.
Palabras clave: Educación a tiempo completo. Satisfacción. Estudiantes.
1 INTRODUÇÃO
A educação em tempo integral vem se firmando como uma estratégia eficaz para oferecer aos estudantes uma formação mais holística e abrangente, indo além do currículo convencional e incluindo atividades complementares e um acompanhamento pedagógico intensivo (Dainez; Smolka, 2019). No contexto brasileiro, a educação em tempo integral procura responder às demandas atuais por uma educação que promova tanto o conhecimento acadêmico quanto o desenvolvimento integral do aluno (Moll et al., 2020).
O objetivo deste trabalho é examinar como a satisfação dos estudantes do 3º ano se relaciona com o ensino médio integral em uma escola pública no interior da região Norte do Brasil. A literatura encontrada aponta consistentemente para os possíveis benefícios decorrentes da implementação da Educação Integral.
Embora a educação integral esteja se tornando mais comum, especialmente após a reforma do Ensino Médio, a jornada para sua plena implementação e para o alcance de seus resultados potenciais ainda está em seus estágios iniciais. Inúmeros desafios persistem na adaptação a essa modalidade de ensino. Dessa forma, o problema de pesquisa delineado consiste em identificar e analisar as potencialidades e os desafios inerentes à educação integral para estudos do ensino médio.
Este estudo se justifica pela expectativa de que todas as escolas do Brasil passem a adotar o ensino em tempo integral, em decorrência da nova reforma, processo que influencia significativamente na relação entre ensino médio integral e satisfação dos alunos. Entretanto, a hipótese central é que o simples aumento do tempo de permanência dos alunos na escola não resultará, por si só, no desenvolvimento e na satisfação pessoal dos alunos, proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Diante de um cenário repleto de desafios para a implementação da educação integral, este estudo propõe uma investigação quantitativa sobre a relação entre o ensino médio integral e a satisfação dos alunos em uma escola pública. A relevância desta pesquisa se justifica pela necessidade de compreender como fatores como infraestrutura inadequada, escassez de recursos e qualificação dos professores impactam a expansão dessa modalidade de ensino em todo o país.
Condições socioeconômicas familiares desfavoráveis levam muitos jovens brasileiros em idade escolar a buscar trabalho. Essa situação, segundo Roggero (2016), apresenta um desafio particular para o ensino em tempo integral: a obrigatoriedade de matrícula pode, paradoxalmente, intensificar a evasão escolar ou resultar na exclusão desses alunos do sistema educacional.
Entender as percepções dos estudantes é fundamental para aprimorar tanto as políticas educacionais quanto às práticas pedagógicas em vigor. Dar voz aos estudantes permite coletar análises significativas que podem direcionar ações futuras, visando garantir que o ensino em tempo integral continue a oferecer uma educação de excelência. Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar a relação entre o ensino médio integral e a satisfação de alunos de uma escola pública situada no interior do norte do Brasil.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A educação em tempo integral e sua implantação
A proposta de educação em tempo integral no Brasil tem sido amplamente debatida e estudada, ganhando destaque nas políticas educacionais atuais (Moll et al., 2020). A ideia central da educação integral, conforme é apontada por Cavaliere (2011), é oferecer um desenvolvimento holístico aos estudantes, contemplando não só a dimensão acadêmica, mas também aspectos sociais, emocionais e físicos, buscando uma formação mais completa e abrangente. Essa abordagem busca ir além do currículo tradicional, promovendo o crescimento do aluno em diversas áreas.
A educação integral é caracterizada pela expansão da jornada escolar e pela diversificação das oportunidades de aprendizado, por meio da oferta de atividades que enriquecem o currículo tradicional e visam o desenvolvimento pleno do aluno. Essa concepção educacional possui antecedentes históricos no Brasil, como as propostas de Anísio Teixeira na década de 1950, a exemplo da formação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CERC). Esse centro foi um projeto inovador para a época, com a proposta de educação em tempo integral, integrando atividades curriculares e extracurriculares, buscando uma formação mais completa para os estudantes (Coelho; Catani; Gatti, 2012).
A modalidade de ensino em tempo integral busca ir além do aumento da carga horária, priorizando também a melhoria da qualidade educacional oferecida. Isso se concretiza por meio da inclusão de atividades complementares ao currículo regular, de um suporte pedagógico mais próximo e individualizado aos estudantes, e da oferta de um currículo mais abrangente e variado, que contempla diferentes áreas do conhecimento e habilidades. O objetivo é proporcionar um aprendizado mais significativo e um desenvolvimento mais completo (Castro; Amorim, 2015).
A Escola EEEMTI Abraão Simão Jatene, a partir da adoção do modelo de ensino integral em 2021, passou por um processo abrangente de transformações. Essas mudanças envolveram melhorias na infraestrutura física, a contratação de novos colaboradores e uma nova organização da grade horária e das atividades. Tais adaptações foram implementadas para atender às necessidades inerentes a um período escolar mais longo e proporcionar um ambiente de aprendizado mais completo e estimulante. Nesse contexto, é importante considerar as características e necessidades específicas dos estudantes matriculados nesse regime de ensino
Embora existam diretrizes curriculares estabelecidas, o Ministério da Educação (MEC) ressalta que a intenção não é criar um currículo rígido, mas sim promover a flexibilidade e a adaptação às diversas realidades dos estudantes. O MEC destaca que outro propósito fundamental é preparar os alunos de forma mais alinhada com o seu contexto, além de oferecer melhores condições de trabalho aos profissionais da educação.
Em continuidade, isso envolve investir na formação continuada de professores, gestores e demais membros da equipe escolar, visando aprimorar a qualidade do ensino público. Portanto, espera-se, com as EEMTIs, aprimorar o ambiente socioeducacional e, por meio de uma atuação mais ampla, promover o desenvolvimento integral dos alunos.
2.2 Educação integral: conceitos e definições
A educação integral ocorre em todas as sociedades, mas não de forma uniforme em termos de ritmo e modalidade. Além disso, os autores ressaltam a interdependência entre educação e sociedade, pontuando a influência significativa da educação nas mudanças sociais fundamentais (Dias; Pinto, 2019).
A educação, de acordo com Mccowan (2015), “envolve, necessariamente, direitos humanos, que terão sempre implicações morais, que manterá ou violará os direitos humanos e as liberdades”. O autor enfatiza que a educação, portanto, constitui um compromisso moral que permeia as interações humanas e influencia o comportamento interpessoal.
Segundo Brandolin (2016), a educação integral não se restringe ao espaço físico da escola, mas se estende a atividades socioculturais promovidas em conjunto com organizações parceiras, formalizadas com o consentimento escolar. Além disso, é destacado que essa abordagem é particularmente relevante porque muitas escolas enfrentam restrições de infraestrutura e tempo, o que dificulta a implementação do modelo de educação integral abrangente proposto por Anísio Teixeira.
A complexidade inerente ao conceito de educação em tempo integral, onde é sujeito a diversas interpretações, intenções e perspectivas teóricas. Não existe, portanto, uma definição única e universalmente aceita, mas sim uma variedade de abordagens que contribuem para a construção de um entendimento. O autor ressalta a existência de numerosos outros posicionamentos sobre o tema na literatura (Cardoso, 2018).
Logo, a educação integral é uma abordagem que utiliza a ampliação do tempo na escola como meio para proporcionar aos alunos experiências de aprendizagem diversificadas, que vão além das atividades convencionais de sala de aula e se estendem a espaços extraescolares (Sirino; Ferreira, Mota, 2018).
2.3 Função social da escola integral
Segundo Dainez e Smolka (2019), “a função social da escola integral é um tema de grande importância e tem sido amplamente discutido no cenário educacional”. Na visão desses autores, a escola de tempo integral caracteriza-se por uma jornada estendida, que ultrapassa o currículo básico e oferece aos estudantes um amplo espectro de experiências nos âmbitos educacional, social e cultural.
A função social primordial da escola integral reside em assegurar uma educação abrangente, que vá além do ensino convencional das disciplinas curriculares. Com o aumento do tempo de permanência dos alunos, a escola pode diversificar sua oferta, incluindo atividades como artes, música, esportes, projetos de pesquisa, dança e práticas relacionadas à cidadania, entre outras (Dainez; Smolka, (2019).
2.4 Currículo da escola de tempo integral
Segundo Lima (2015), a educação em tempo integral exige uma reflexão sobre as mudanças necessárias com o aumento do tempo dedicado à educação. Isso implica, fundamentalmente, em reconhecer o potencial educativo de outros locais além da escola, que podem ser utilizados para ampliar o repertório de vivências dos estudantes. O autor advoga por experiências que se distanciem do modelo tradicional, caracterizado por um currículo rígido e imutável.
Sirino, Ferreira e Mota (2018) argumentam que a reflexão sobre a educação em tempo integral surge da constatação de que a jornada regular de aproximadamente quatro horas é insuficiente para atender às complexas demandas da educação contemporânea. Essas demandas incluem a transmissão dos conhecimentos acumulados nas diversas áreas do saber, o enfrentamento de questões sociais que afetam os alunos e o cumprimento de exigências burocráticas dos sistemas de ensino. Diante desse cenário, os autores observam que é comum a sensação de que a educação proporcionada não atinge seus objetivos na sua totalidade e que um tempo maior seria desejável para atender às necessidades da escola.
Outrossim, a educação integral como aquela que aborda o indivíduo em sua totalidade, reconhecendo sua complexidade e indivisibilidade. O autor esclarece que, no contexto escolar, essa abordagem se manifesta por meio de um currículo integrado, o qual, embora possa ser potencializado pelo tempo integral, não dependente dele. Esse tipo de educação se dedica ao desenvolvimento completo do indivíduo, abrangendo suas dimensões cognitiva, cultural, ética, estética e política. O autor enfatiza que, em um contexto escolar, essa abordagem só se justifica se estiver a serviço de um propósito público e democrático (Cavaliere, 2011).
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, com delineamento observacional analítico e transversal, realizado em uma escola pública estadual, situada em uma cidade do interior do Pará, norte do Brasil. A população do estudo foi definida a partir de uma amostra, composta pelos alunos do 3º ano do ensino médio, regularmente matriculados no ensino integral.
Realizou-se o cálculo do tamanho da amostra para uma população finita. Dado que a população elegível para o estudo consistia em 32 alunos, estimou-se o tamanho da amostra em 27 participantes, com margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%. A coleta de dados teve início no mês de outubro e término no mês de novembro de 2024 e transcorreu por meio da aplicação de um questionário estruturado com seis perguntas fechadas de múltipla escolha, em que só era permitido escolher uma opção, ou seja, a resposta que mais se adequa ao perfil do entrevistado.
Os participantes receberam convites por comunicado formal em sala de aula, onde tiveram que preencher o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes de preencher os questionários da pesquisa. Os dados coletados foram analisados por meio de gráficos, sendo que essa análise ajudou a conhecer o perfil dos alunos matriculados no 3º ano do ensino em tempo integral.
Em conformidade com os preceitos éticos para pesquisas com seres humanos, o estudo assegurou o anonimato e a confidencialidade das informações dos participantes. Isso foi feito com o intuito de atender aos requisitos estabelecidos na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece as diretrizes para a condução de estudos envolvendo seres humanos. A participação foi voluntária, precedida de esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa e da obtenção do consentimento informado de cada indivíduo antes da coleta de dados.
4 RESULTADOS
A pesquisa foi realizada com 27 estudantes do ensino médio integral de uma situada no interior do Brasil. Por se tratar de uma escola interiorana situada na Amazônia legal, muitos alunos moram, além da zona urbana, também em zona rural e em comunidades quilombolas. Diante desse perfil, apesar da maioria dos estudantes residirem na zona urbana (74%), uma porcentagem significativa reside na zona rural (22%), conforme expressa a figura 1.
Figura 1 – Gráfico sobre a localização da residência.
Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2025.
Quando analisada qual foi a principal e positiva mudança de hábito após a implementação e adesão do ensino médio integral, 11 (41%) entrevistados apontaram uma maior carga horária de estudo, seguido da inclusão de mais conhecimento/conteúdo na grade curricular dos alunos, mudança que foi apontado por oito (30%) participantes, conforme demonstra a figura 2.
Figura 2 – Gráfico sobre mudança do ensino regular para o ensino integral.
Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2025.
Ademais, o fato de terem mais projetos/matérias de ensino, relatados por cinco (18%) alunos, também foi uma mudança relevante. Essas mudanças influenciaram em aspectos como concentração, prioridade de conteúdo, estrutura, visão escolar mais ampla, mais matérias, diversidades de assuntos, conhecer melhor os professores, ocupação da mente, tempo curto fora da escola, novo método de ensino, qualidade de ensino e maior exigência.
Os resultados deste estudo mostraram que as mudanças relatadas pelos alunos foram bem positivas, pois os mesmos demonstraram estar satisfeitos com esse novo modelo, uma vez que deram ênfase ao fato da aquisição de mais conhecimentos, de mais projetos. Partindo desse princípio, pode-se considerar que a carga horária foi um fator de mudança, mas que não impactou de forma negativa nos estudos desses alunos.
Em relação a principal dificuldade encontrada no ensino integral, 59% dos entrevistados relataram maior cansaço físico e mental. Outros alunos (30%) apontaram que a necessidade de fazer mais atividades escolares também influenciou negativamente em sua rotina, fatores que estão relacionados com a necessidade de organização, maiores demandas, estrutura, pontualidade e maior controle para entrada e saída da escola, conforme destaca a figura 3.
Figura 3 – Gráfico sobre as dificuldades encontradas no ensino integral
Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2025.
Ao questionar os estudantes sobre qual foi a sua principal mudança de hábito após a implementação do ensino médio integral, as respostas foram equilibradas, já que 10 (37%) relataram a necessidade de acordar mais cedo, nove (33%) destacaram necessidade de mudar seus horários para todas as suas atividades diárias, seguida de uma rotina mais exaustiva, apontada por 7 (26%) dos entrevistados, conforme expressa a figura 4.
Figura 4 – Gráfico sobre a rotina no ensino integral.
Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2025.
Em relação ao questionamento sobre qual projeto pedagógico novo do ensino médio integral você mais se identificou, 11 (41%) destacam as práticas em robótica; oito (30%) apontaram que as práticas em saúde foram importantes, seguida dos estudos sobre os povos tradicionais, relatados por cinco (18%) participantes, conforme a figura 5.
Figura 5 – Gráfico sobre os projetos que se identificou.
Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2025.
Quando questionados sobre qual a maior contribuição você acredita que o ensino integral poderá lhe proporcionar para o crescimento pessoal e social, a grande maioria (48%) destacou a ampliação do conhecimento, seguindo de maior grau de habilidades (22%) e da melhora do comportamento pessoal perante a sociedade, conforme relata a figura 6.
Figura 6 – Gráfico sobre a contribuição do ensino integral para o crescimento pessoal e social.
Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2025.
5 DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Nas últimas duas décadas, o sistema educacional brasileiro, particularmente no nível do Ensino Médio, passou por uma transformação significativa com a implementação da educação integral. Esse modelo expande a jornada escolar e possibilita a incorporação de uma variedade de conteúdos, tanto teóricos quanto práticos, visando aprimorar o desenvolvimento escolar dos alunos (Branco, 2012).
Estudos recentes, no contexto da educação integral, analisam como a localização da escola – em área urbana ou rural –, combinada com disparidades socioeconômicas e variáveis relacionadas aos alunos, às famílias e ao ambiente escolar, impactam os resultados acadêmicos dos estudantes.
Diante desse contexto, um estudo acompanhou a evolução das notas em matemática, entre 2013 e 2017, de alunos de áreas urbanas e rurais, utilizando uma prova padronizada. Embora tenha havido avanços em ambas as localidades, os dados de 2017 demonstraram que a desigualdade de desempenho persistiu, com a nota mediana da zona rural 32 pontos abaixo da nota da zona urbana. (Cruz; Moura; Esperidião, 2024).
A Educação Integral, conforme revelam estudos sobre a implementação do ensino médio integral, visa fundamentalmente enriquecer o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Isso é alcançado introduzindo experiências que vão além daquelas tradicionalmente encontradas em sala de aula, promovendo, assim, mudanças de hábitos.
A implementação da Educação Integral nas escolas brasileiras é justificada pela necessidade de uma abordagem educacional abrangente, que vá além do ensino tradicional. Essa proposta busca integrar diversas áreas, como desenvolvimento social, saúde, esporte, inclusão digital e cultura, visando atender às necessidades dos alunos de forma completa e promover seu desenvolvimento integral (Brasil, 2009).
A Educação Integral se distingue por ir além do ensino tradicional, visando o desenvolvimento do aluno em diversas dimensões, como a científica, social, cultural e emocional (Bahia, 2014). Essa abordagem pedagógica inovadora valoriza a qualidade do tempo dedicado à educação, oferecendo uma variedade de atividades que enriquecem o aprendizado e promovem a formação integral dos estudantes. Além disso, a Educação Integral busca romper com a rigidez dos modelos educacionais convencionais, tanto em termos de organização curricular quanto de uso dos espaços e tempos escolares (Brasil, 2009).
A Educação Integral enfrenta o desafio de superar a fragmentação do ensino, buscando uma abordagem holística que contemple todas as dimensões do desenvolvimento humano. A integração de áreas como cultura, saúde, transporte e assistência social à educação é apontada como fundamental para a concretização desse objetivo. Além disso, a expansão do tempo escolar, promovida pela Educação Integral, é vista como um importante instrumento para reduzir desigualdades sociais e ampliar o acesso às oportunidades de aprendizado (Ribeiro, 2017).
Em continuidade, a autora Zanardi (2016) ressalta que a expansão do tempo escolar, por si só, não garante a superação de dificuldades sociais ou o alcance de resultados positivos na Educação Integral. É necessário que a escola se reorganize para atender o aluno em sua integralidade, oferecendo as condições necessárias para seu desenvolvimento pleno. A escola de Tempo Integral, portanto, não deve se limitar a prolongar a permanência do aluno no espaço escolar, apenas alternando aulas e atividades extracurriculares. É preciso ir além, repensando o currículo, a organização do tempo e dos espaços, e a proposta pedagógica, para que a escola seja um espaço de desenvolvimento integral para os alunos.
Nesse interim, o sucesso da Educação Integral e a superação dos desafios sociais não dependem apenas do aumento da carga horária escolar. É imprescindível que a escola se reorganize para atender de forma abrangente as necessidades dos alunos. O verdadeiro desafio reside em transformar a escola de tempo integral em um espaço que vá além da mera extensão da jornada, oferecendo uma proposta educativa rica e diversificada, que ultrapasse a simples alternância entre aulas e atividades complementares (Zanardi, 2016).
As mudanças de hábitos essenciais, justificando os esforços para estruturar e reestruturar propostas didático-metodológicas no turno complementar, o que enriquece o ensino oferecido no turno regular. Para alcançar esse objetivo, é necessário implementar um conjunto de ações que busquem orientar todos os envolvidos (estudantes, educadores, pais e comunidade) sobre o valor social da educação, conscientizando-os da importância da formação integral do educando (Costa, 2020).
Um currículo enriquecido para a Educação Integral deve ser estruturado com a inclusão de componentes essenciais que promovam uma atenção holística à educação do indivíduo. Isso implica considerar conhecimentos relevantes para sua vida social e cultural. Adicionalmente, o tempo adicional que o estudante passa na escola, bem como o espaço escolar, devem ser entendidos como um momento singular para seu desenvolvimento, tanto como aluno quanto como cidadão (Costa, 2020).
A Educação Integral, embora presente no cenário educacional atual, ainda se encontra em processo de desenvolvimento para atingir plenamente seus objetivos. Nesse contexto, para ser bem-sucedida, a Educação Integral deve atender a diversas demandas e, simultaneamente, promover a construção de relações que visem ao aprimoramento humano. Isso requer a criação de condições para que o indivíduo possa evoluir em sua totalidade, abrangendo as dimensões cognitiva, física, social, cultural, psicológica, afetiva, econômica, ética, estética, entre outras (Zanardi, 2016).
É fundamental ressaltar a importância de uma educação que transcenda a lógica estritamente escolar. Para isso, é necessário superar a ideia de que a educação integral implica na institucionalização completa de crianças e adolescentes, pois essa abordagem pode resultar em seu afastamento da sociedade, limitando sua interação ao espaço escolar em tempo integral (Dias; Colares; Pereira, 2024).
Implementar uma concepção de educação integral e aplicá-la efetivamente no ensino representa um desafio considerável. Para que a educação integral se concretize, é essencial um financiamento público estável e duradouro. Outros fatores podem inviabilizar esse tipo de ensino, como, por exemplo, as discussões centrais sobre educação, que abrangem os entes federativos.
6 CONCLUSÃO
A pesquisa realizada evidenciou que a escola de tempo integral oferece um leque de oportunidades para aprimorar o ensino em diversas áreas, abrangendo o desenvolvimento integral dos alunos nos aspectos físico, cognitivo, intelectual, afetivo, social e ético. Dessa forma, os resultados desta pesquisa revelam que a educação de tempo integral impactou positivamente o perfil dos alunos do 3º ano da escola investigada. Através de questionários, os alunos expressaram satisfação com o aumento do tempo de convivência com os colegas, melhoria na pontualidade, desenvolvimento de organização, maior concentração, aprimoramento de habilidades, foco e melhoria na convivência.
Para que a Educação Integral prospere, é essencial que os professores estejam devidamente preparados para o trabalho colaborativo, integrando diversas áreas do conhecimento e adaptando suas práticas pedagógicas à diversidade de necessidades dos alunos. A implementação da escola de tempo integral representa um avanço na oferta educacional, proporcionando uma formação mais completa e enriquecedora aos estudantes.
Almeja-se que essa proposta promova o desenvolvimento integral dos alunos, preparando-os para os desafios do mundo contemporâneo e permitindo que eles desfrutem dos benefícios inerentes a esse modelo de ensino. Os resultados positivos alcançados por meio da Educação Integral são evidentes, e a parceria com os pais, a colaboração entre os profissionais da escola e a valorização da educação básica se configuram como pilares cruciais para o sucesso educacional nesse contexto.
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1Mestranda do Curso de Ciências da Educação, da Faculdad Interamericana de Ciencias Sociales. e-mail: andreasbraga1985@gmail.com
2Prof.ª Dra. do curso de Ciências da Educação, da Faculdad Interamericana de Ciencias Sociales. e-mail: jaquelinebastos321@gmail.com