REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

REFLECTIONS ON PEDAGOGICAL PRACTICES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10951620


Lucilene da Silva Luz1


Resumo

Neste artigo, tecem-se algumas considerações em movimento sobre a importância da reflexão referente às práticas pedagógicas. Nesse tocante, vale a ênfase de que educador necessita incluir esse movimento como indispensável à formação docente, isto é, a reflexão constante sobre o processo de ensino que reflete na aprendizagem. Para tanto, o referencial teórico embasa-se predominantemente no pensamento freiriano a fim de cumprir o objetivo que é refletir sobre o processo de ensino e contribuir para o processo formativo- reflexivo docente. Conclui-se que a reflexão sobre a prática é um importante movimento para a formação do educador disposto a desconstruir suas certezas e, a partir disso, reformular suas práticas para o desenvolvimento do educando. 

Palavras-chave: Reflexão. Práticas pedagógicas. Pensamento freiriano. Ensino. Aprendizagem.

Introdução

A formação docente não se constrói apenas por acúmulo de cursos, de técnicas ou de conhecimentos, mas sim, também, por meio da reflexibilidade crítica sobre as práticas diárias. O conceito de professor reflexivo pode ser percebido tanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior (Brasil, 2002), quanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio (Brasil, 1999). Nesses documentos, encontram-se, nesta ordem, as expressões relacionadas ao trabalho do professor: “ação-reflexão-ação”, como estratégia didática privilegiada para resolução de situações-problema (Brasil, 2002, artigo 5º) e “uma concepção de professor reflexivo” imprescindível ao questionamento e pensamento autônomo e ético em relação às intervenções no exercício da profissão, que é contextualizada e prática (Brasil, 1999, p. 30). 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) enfatiza a importância de “[…] criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem” (Brasil, 2018, p.17). A ação reflexiva pode ser um importante aliada à formação permanente.

Paulo Freire, em sua obra Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, apresenta uma visão revolucionária à época, que segue contribuindo na contemporaneidade sobre a educação e o papel do educador. Publicado em 1996, o livro em comento se destaca como uma leitura essencial para repensar práticas pedagógicas, reafirmar as exigências do ensinar e de promover uma abordagem que não se volte apenas ao processo de aprendizagem. O autor traz importantes reflexões sobre as exigências do ensinar para que o processo de aprendizagem ocorra. No entanto, o processo de ensinagem se destaca na obra, fator importante para que o desenvolvimento e a aprendizagem ocorram. Um dos grandes objetivos da escola é desenvolver sujeitos autônomos. A obra apresenta, como ideia central, que a educação deve ser um ato libertador, capacitando os alunos a pensarem criticamente e a se tornarem agentes ativos em sua própria aprendizagem e na sociedade em que vivem. Freire argumenta que o professor não deve ser um mero transmissor de conhecimento, porém um facilitador do diálogo e um coaprendiz ao lado dos alunos.

A obra de Freire (1996) aborda importantes reflexões sobre o que o ato de ensinar exige na formação e na prática docente. À vista disso, muito se estuda e se reflete sobre os objetivos para aprender determinados conteúdos e avançar para as próximas etapas. No processo de formação de professores, é bastante evidente a análise sobre teorias de aprendizagem, todavia, pouco se observam teorias da ensinagem ou das exigências do ensinar, principalmente do ensinar na perspectiva inclusiva. Algumas disciplinas de didática dão pistas sobre como o docente pode usar a criatividade para alcançar os seus objetivos no processo de ensino e de aprendizagem de diversas formas, atingindo diferentes públicos-alvo.

Procedimentos Metodológicos

O método adotado consiste em uma reflexão teórica de abordagem qualitativa, baseada predominantemente nos conceitos explorados por Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, estabelecendo conexões com outras obras do autor entre outros pensadores que apresentam importantes contribuições para reflexões sobre o processo educacional.

Este trabalho se caracteriza como uma reflexão teórica, surgida a partir das inquietações vivenciadas no contexto enquanto professora e pesquisadora, sobre as exigências do ensinar e a potência da reflexão sobre as práticas pedagógicas, para a formação do professor pesquisador e reflexivo. A formação segue-se através das pesquisas, ações e reflexões constantes das práticas educativas. Urge a necessidade de qualificar os processos de ensino e aprendizagem para que todos sejam contemplados com o direito de aprender. 

Ensinar exige

‘O sonho de mudar a cara da escola. O sonho de democratizá-la, de superar o seu elitismo autoritário, o que só pode ser feito democraticamente’ (1991, p. 74). O sonho tem que ver com uma sociedade menos injusta, menos malvada, mais democrática, menos discriminatória, menos racista, menos sexista’ (Freire, 1991, p. 118).

A escola, na contemporaneidade, configura-se como um território que convida à reinvenção. Durante o período de isolamento gerado pela pandemia, o contexto educacional convocou os educadores para além da reinvenção, ou melhor, para a reflexão, à flexibilidade e à empatia. A educação foi impactada e vive os efeitos até os dias atuais. Segue-se “esperançado” para minimizar os impactos na aprendizagem dos educandos, pois a   “Esperança não é certeza, traz consciência dos perigos e das ameaças, mas nos faz tomar partido e fazer apostas” (Morin 2021, p. 94).

A dinâmica no contexto educacional convocar e realizar o exercício de desconstrução de certezas “[…] tendemos a viver num mundo de certezas, de solidez perceptiva não contestada, em que nossas convicções provam que as coisas são somente como as vemos e não existe alternativa para aquilo que nos parece certo.” (Maturana; Varela, 2001, p. 22). A profissão docente exige reflexão contínua das práticas.

Freire (1996) apresenta reflexões sobre a prática docente. Destaca-se, desse modo, uma parte da escrita desse, na qual reflete que ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, os saberes socialmente construídos e que sejam significativos, pois os aprendentes trazem muitas experiências sociais que precisam ser valorizadas. No entanto, quando se refere ao processo de ensino e de aprendizagem de educandos que passam por um processo inclusivo, é preciso travar batalhas diárias contra a vulnerabilização colocada pelo viés capacitista quando o educando, além das Necessidades Educativas Especiais, também, conta com outros atravessamentos relacionados à vulnerabilidade social, educacional e familiar. A inclusão começa com a reflexão e o olhar sensível da família, dos educadores, da escola e da sociedade. A aposta constante de que, se dadas as condições adequadas, todas as pessoas aprendem no seu tempo e em conformidade às oportunidades que lhes são oferecidas. A dificuldade na aprendizagem só é superada com a reflexão sobre o processo de ensinar e de aprender.

Ao longo da obra de Freire (1996), destaca -se a importância da ética na prática educacional, enfatizando valores como respeito mútuo, diálogo aberto e comprometimento com a transformação social. Ele destaca a necessidade de superar a tradicional relação hierárquica entre professor e aluno, incentivando a horizontalidade e a cooperação.

Freire (1996) leva a refletir sobre o lugar do profissional educador, propondo que uma das práticas primordiais daquele tido como progressista consiste em refazer, com sensibilidade em relação à leitura e à releitura do grupo, o desafio de instigá-lo, bem como fomentar a disseminação da nova perspectiva de compreensão do contexto. Sob esse viés, é possível pensar na importância de refletir sobre o papel do professor enquanto profissional relacionado à função de pensar no educando além das exigências da escola, de não se alhear das suas condições sociais, culturais e econômicas, entretanto pensar em tais questões com perspectivas de promover a equidade, principalmente, após o longo período de isolamento recentemente vivenciado, no qual muitas crianças não tiveram as suas necessidades educacionais minimamente supridas. 

À vista disso, diversos educandos passaram grande tempo em ambientes familiares desafiadores, de organização diferente, não sendo viável que se desenvolvessem de uma forma mais saudável em tal período de distanciamento físico. Muitos deles, além da desvantagem na aprendizagem quase que inevitável, viveram a falta de interações sociais significativas, a dificuldade de algumas famílias em tentar manter o vínculo com a escola, a exigência e a rigidez de outras famílias com suas crianças na realização das atividades. Tudo isso trouxe prejuízos nas aprendizagens e na saúde mental das crianças. 

No contexto atual, reflete-se sobre o processo de ensino, de aprendizagem, de inclusão e sobre a saúde mental de toda comunidade escolar, mostrando-se isso importante. A formação e a reflexão sobre as práticas pedagógicas, sem dúvida, refletirá no processo de aprendizagem do educando. A pandemia trouxe muitas incertezas à sociedade, ou seja, de uma certa forma, saiu-se da zona de conforto e, de uma hora para outra, todos foram convocados a lidar e, até mesmo, apresentar soluções ao processo de ensino, de aprendizagem e de inclusão social.

Em aspectos gerais, as mudanças devido à imposição de conviver em um contexto incerto, para tantos adversos, não foram nada fáceis. Embora para os adultos tenha sido algo desafiador e, para muitos, até desequilibrante, o maior desafio voltou-se aos educandos em fase de desenvolvimento, principalmente os mais vulneráveis, sobre os quais a escola exerce um papel social potente na proteção e no cuidado.

Freire (1996) apresenta importantes contribuições à humanização da educação tão necessária desde sempre e imprescindível ao momento pós-ápice da pandemia vivenciada. Exige-se bom-senso no ato de ensinar, devendo dar-se todo o cuidado para que, na pressa de dar conta de conteúdos previstos para o ano/ciclo de escolarização do estudante, não se deixe para trás habilidades muito mais importantes. É essencial estimular a pergunta, a reflexão crítica, a voz e a mobilidade dos silenciados, porquanto ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Ademais, deve haver o cuidado para não construir uma ilha em torno das diferenças, mas sim o sentimento de pertencer, de buscar rupturas, de transformar, de mudar os olhares ao redor. No ponto de vista dos interesses dominantes, a educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades. Toda vez, porém, que a conjuntura o exige, a educação dominante é progressista, à sua maneira, pela metade.

Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, problematizar certezas e buscar rupturas, sendo ações relacionadas às práticas excludentes, alienantes ou práticas que não demonstrem um olhar sensível sobre o que se viveu nesses últimos anos. Ensinar exige disponibilidade ao diálogo, desconstrução das certezas e, acima de tudo, crença nas transformações que a educação proporciona.

Ensinar demanda não apenas a formação permanente, mas igualmente a reflexão sobre as práticas. O educador pesquisador e reflexivo, considerado como uma qualidade por alguns autores tais como Nóvoa (1995) e Freire (1996) essa ação não se identifica como qualidade, mas como exigência, pré-requisito dada a importância que o papel do educador tem na vida do educando. Preocupante que alguns insistam em ensinar da forma que aprenderam, sendo que, na contemporaneidade, o estudante de ontem não é o mesmo de hoje. Tentam parar e subjetivá-los como se dava nas práticas educativas do passado, porquanto, ainda, alguns insistem em repeti-la, sendo isso uma violência pedagógica. Calar-se diante de tal situação, sem lançar nenhuma reflexão aos sujeitos que a praticam, é compactuar com isso.

É um desperdício da infância, da potência do educando investir nesses tipos de práticas segregadoras. O pior de tudo é quando se leva a sério que essa abordagem tradicional, mecanicista, ensina os estudantes a decorar, diferente de aprender, que é atribuir sentidos e conseguir evocar naturalmente determinadas aprendizagens. Quanto menor a idade do público, mais desafiadora é a tarefa de atribuir sentidos às aprendizagens: o lúdico, as experiências que fazem sentido ao universo infantil são importantes dispositivos para tornar as aprendizagens significativas e prazerosas. Buscar, juntamente com o educando, formas de aprender a aprender, também, é um dispositivo importante e um potente recurso, que pode auxiliar no processo de ensino, de aprendizagem e de inclusão, o qual auxiliará o sujeito no decorrer do seu desenvolvimento e aprendizagem.

Um dos destaques da obra Pedagogia da Autonomia é a explanação sobre a conscientização de que ensinar é um ato que exige risco, aceitação do novo e da rejeição a qualquer forma de discriminação. O autor aborda a conscientização da inconclusão, do inacabamento. Essa prática combate todo tipo de discriminação, seja étnica, de gênero, religiosa ou, por regra geral, ofensas à substantividade do ser humano e, princilpalmente, dirigida a sujeitos em desenvolvimento, que precisam de diferentes tempos para aprender e não se encaixam nos ciclos previstos e esperados pela escola.

Quando aborda a prática do ensinar,  Freire (1996) propõe, além do combate ao preconceito e aos julgamentos do saber individual, a valorização da identidade cultural, dos tempos de aprendizagem de cada um. Para  o autor, é importante proporcionar entre educador e educando, junto aos demais educandos, a aceitação de uma experiência profunda em se aceitar. Ele aponta o reconhecimento do ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de sonhos, assumindo-se como sujeito inacabado, porque é capaz de reconhecer-se como objeto radical pertencente a uma identidade cultural, que se complementam e se enriquece com todos envolvidos na prática educativa e no processo de ensino, de aprendizagem e de inclusão.

Desconstruir a ideia de que o educador é o sujeito dono e depositante do conhecimento, e o educando é o sujeito receptor, mostra-se como uma tarefa primordial, pois ambos são ativos no processo de ensino e de aprendizagem conforme demonstrado na reciprocidade da frase: “[…] quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, p,25,1996). A vantagem dos seres humanos é ir além de seus condicionantes, sejam educacionais, sociais, culturais, científicos ou estatísticos.

Enquanto professores e pesquisadores, deve-se problematizar e combater os desvios fáceis com os quais se é tentado na prática. Freire (1996) destaca ser, por vezes, difícil conceber o impacto que uma ação aparentemente simples do professor pode vir a ter na vida de um educando, isto é, o quanto essas ações podem ser produtoras de saúde mental coletiva, ou geradoras das chamadas dificuldades de aprendizagem, entre outros transtornos que rotulam os sujeitos em desenvolvimento. Nessa perspectiva, é de extrema importância pensar nos sujeitos além das questões cognitivas, repensar os aspectos biopsicossociais desses sujeitos que, talvez, possam interferir nos modos de ser, de aprender e de se relacionar; modos esses tão prejudicados após esse longo período de isolamento físico social, e garantir o direito à educação para todos, pois  “O direito à educação envolve o fortalecimento da perspectiva da educação inclusiva, como princípio, meio e fim do trabalho educativo, construindo as condições de acesso, permanência e sucesso na escola a todos os estudantes.” (Hass; Baptista, 2019, p.3). A construção dessas condições se dá a partir de reflexões das práticas pedagógicas.

Benefícios da reflexão contínua 

Você, eu, um sem-número de educadores sabemos todos que a educação não é a chave das transformações do mundo, mas sabemos também que as mudanças do mundo são um que fazer educativo em si mesmas. Sabemos que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa. Sua força reside exatamente na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua força a serviço dos nossos sonhos. (Freire, 1991, p. 126)

O professor não tem o poder de mudar o mundo. Consegue-se contribuir para a transformação de pessoas pelo viés da educação. O olhar e a escuta sensíveis às demandas educacionais do estudante podem mudar percursos de escolarização. O educando de hoje é diferente do de amanhã. Por isso a necessidade de o educador repensar e refletir sobre as exigências do ensinar. Desconstruir a ideia de que, ao ensinar todos os educandos, eles aprenderão da mesma forma com os mesmos métodos e recursos. Estar atento(a) às particularidades do processo de ensino e de aprendizagem exige muita reflexão.

Conforme Nóvoa (1995), a formação do professor constrói-se através de um trabalho reflexivo e crítico sobre as práticas e a (re)construção contínua de uma identidade, ou   seja, a formação não se constrói apenas por acúmulo de cursos, de técnicas ou de conhecimentos, mas também a partir da reflexibilidade crítica sobre as práticas diárias. A transformação do professor reflexivo é algo constante; cada prática realizada contribui para essa (re)construção contínua de identidade do professor. Desconstruir as próprias certezas sobre o conhecimento adquirido no decorrer da formação e práticas:

O conhecimento do conhecimento obriga. Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente vigília contra a tentação da certeza, a reconhecer que as nossas certezas não são provas da verdade, como se o mundo que cada um vê fosse o mundo e não um mundo que construímos juntamente com os outros (Maturana; Varela; 2001, p. 267)

A partir das ideias apresentadas nesta reflexão sobre processo formativo- reflexivo, remete-se ao pensamento referente às oportunidades para abordar as capacidades latentes dos educandos de maneira ética. Isso envolve promover uma construção mais colaborativa entre os educadores e os educandos com o objetivo de superar as limitações existentes.

Maturana e Varela (2001) enfatizam que o processo de formação do conhecimento acontece nas relações, sendo uma trajetória particular, porém nunca individual. Na relação do regular com o mutável, nessa “[…] combinação de solidez e areias movediças que é tão típica da experiência humana quando olhamos de perto”. (p.261)

A reflexão sobre as práticas pedagógicas é fundamental para o desenvolvimento e o aprimoramento do processo de ensino e de aprendizagem. A seguir, citam-se alguns benefícios da reflexão no processo educacional:

– Melhoria Contínua: a reflexão permite aos educadores que identifiquem o que está funcionando bem e o que pode ser aprimorado em suas práticas. Essa análise contínua leva a um ciclo de melhoria constante, beneficiando tanto os professores quanto os estudantes.

-Adaptação às Mudanças: a sociedade e as necessidades educacionais estão em constante evolução. A reflexão ajuda os educadores a se adaptarem a novas tecnologias, a mudanças culturais e a demandas do mercado de trabalho, garantindo que o ensino seja relevante e significativo.

-Atendimento às Diversidades: cada estudante é único, com diferentes estilos de aprendizagem, habilidades e desafios. Ao refletir sobre as práticas pedagógicas, os educadores podem desenvolver estratégias mais eficazes para atender às necessidades individuais dos estudantes, promovendo a inclusão e o sucesso para todos.

-Desenvolvimento Profissional: a reflexão é uma ferramenta crucial ao desenvolvimento profissional dos educadores. Ao analisar suas próprias práticas, os professores podem identificar áreas em que desejam aprimorar suas habilidades e buscar oportunidades de formação e de capacitação.

-Promoção da Autonomia do Estudante: refletir sobre as práticas pedagógicas inclui considerar como os estudantes podem se tornar mais autônomos em seu próprio processo de aprendizagem. Isso envolve criar ambientes que incentivem a curiosidade, a investigação e o pensamento crítico.

-Engajamento dos Estudantes:  práticas pedagógicas reflexivas podem levar a métodos de ensino mais envolventes e motivadoras. Ao compreender o que funciona para os educandos, os educadores podem criar aulas mais interessantes e participativas, aumentando o engajamento e o entusiasmo pela aprendizagem.

-Avaliação Eficaz: a reflexão contribui para uma avaliação mais eficaz. Ao analisar os métodos de avaliação utilizados, os educadores podem garantir que estão medindo de maneira justa o progresso dos alunos e fornecendo feedback construtivo.

-Construção de Comunidade Escolar: a reflexão não é apenas uma prática individual, mas também pode ser incorporada em processos de equipe e em toda a comunidade escolar. Isso promove uma cultura de aprendizado colaborativo, em que educadores compartilham experiências e aprendem uns com os outros.

Em resumo, a reflexão sobre as práticas pedagógicas é essencial para criar ambientes de aprendizagem eficazes, dinâmicos e adaptáveis, que atendam às necessidades dos alunos e os preparem para os desafios do mundo contemporâneo.

Considerações em movimento reflexivo

Neste artigo, reafirma-se que o ato de ensinar abrange uma variedade de conceitos, visando ao desenvolvimento e à formação tanto ao educador quanto aos educandos. O educador desempenha papéis fundamentais no processo de ensino- aprendizagem, sendo a ética um elemento central. É por meio dela que os bons resultados dos educandos são alcançados, promovendo um diálogo saudável, respeitoso, que favorece a democracia em sala de aula, entre outros fatores contribuintes para o desenvolvimento e à aprendizagem do educando e do educador.

É perceptível a urgente necessidade em oferecer constante formação aos educadores, haja vista o objetivo de aprimorar capacidades e habilidades como ferramentas à criação de estratégias educacionais que promovam uma educação emancipatória, contribuindo para a transformação social. Possibilitar espaços de reflexão sobre as práticas é um caminho para o processo formativo dos educadores.

Além dos educadores, os pais e os responsáveis pelos educandos, de igual forma, desempenham um papel crucial no processo de escolarização, indo além do auxílio nas disciplinas. Eles são essenciais na formação inicial ética dos educandos, ensinando valores como respeito, obediência, tolerância e habilidades de comunicação, entre outras necessárias ao desenvolvimento e à aprendizagem. A família e a escola precisam caminhar juntas na escolarização do educando, contribuindo para o processo de reflexão docente.

Na atualidade, embora poucas escolas adotem métodos freirianos em sua abordagem pedagógica, reconhece-se que sua aplicação é desafiadora devido a uma série de fatores histórico-sociais. No entanto, muitos profissionais da educação estão empenhados em melhorar a qualidade do ensino em conjunto com o bem-estar dos educandos, uma vez que a existência da escola depende diretamente do corpo discente. A luta constante dos educadores não deve ser ignorada, porquanto é a educação que transforma pessoas, e, por sua vez, essas pessoas transformam o mundo (Freire, 1979). A tarefa de educar é potente. Quem semeia a educação colhe a possível transformação do futuro do educando.

A obra de Freire (1996) Pedagogia da Autonomia não é apenas teórica; é um chamado à ação para os educadores se engajarem em uma prática pedagógica que promova a autonomia, a consciência crítica e a transformação social. A influência duradoura desse livro reside na sua capacidade de inspirar professores a repensarem suas práticas e acreditarem no poder transformador da educação emancipatória que o processo de reflexão pode auxiliar.

Outro conceito fundamental de Freire é a “educação como prática da liberdade”; nessa, os educadores devem ser conscientes da realidade social de seus educandos e trabalhar em colaboração com eles para construir conhecimento significativo. Freire (1996) defende a superação da educação bancária, na qual o conhecimento é depositado passivamente nos alunos, em favor de uma abordagem problematizadora, na qual desafios do mundo real são explorados e solucionados coletivamente.

A importância da reflexão nas práticas pedagógicas não pode ser subestimada, haja vista desempenhar um papel vital no aprimoramento constante da educação. A análise crítica e contínua das abordagens de ensino não beneficia apenas os educadores, proporcionando-lhes oportunidades de desenvolvimento profissional e adaptabilidade, mas também impacta diretamente os educandos, criando ambientes de aprendizagem mais eficazes e inclusivos.

Ao refletir sobre as práticas pedagógicas, os educadores não apenas ajustam suas estratégias para atender às mudanças na sociedade e nas demandas educacionais, no entanto, igualmente, promovem a autonomia dos educandos, a diversidade de aprendizado e o engajamento ativo. Além disso, a reflexão contribui para a construção de uma comunidade escolar mais coesa e colaborativa, em que a troca de experiências e a aprendizagem mútua são incentivadas.

Em um mundo dinâmico e em constante evolução, a reflexão nas práticas pedagógicas emerge como uma ferramenta indispensável para a construção de uma educação relevante, personalizada e centrada no desenvolvimento integral dos alunos. Nesse contexto, a promoção de uma cultura reflexiva não apenas eleva a qualidade do ensino, mas também fortalece o papel transformador da educação na formação de indivíduos capazes de enfrentar os desafios do século XXI com pensamento crítico, criatividade e adaptabilidade. Portanto, investir no hábito da reflexão é investir no aprimoramento constante da educação e no empoderamento das futuras gerações para construir um futuro mais promissor e sustentável.

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NÓVOA, António. Os professores e a sua formação. Por


1Mestranda em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Psicóloga, Professora e Psicopedagoga Clínica e Institucional.