“REFLEXÕES ACERCA DO IMPACTO DA PORNOGRAFIA NA AUTOESTIMA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA À LUZ DA PSICANÁLISE”

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10208138


Sávio Saraiva de Sousa1 
Maria do Espirito Santos Gomes Pereira2 
Gilmaria Silva de Carvalho3 
Viviane Costa Barbosa Campos4


RESUMO 

O presente artigo aborda a pornografia como um tema controverso, destacando sua presença já enraizada na sociedade contemporânea. São discutidos os impactos do fácil acesso a material sexual explicito na era da internet, abordando a definição de pornografia, seu papel como tabu na sociedade e seu impacto na autoestima, com ênfase nas preocupações sobre a saúde mental e sexual. A pesquisa tem por objetivo analisar os possíveis impactos do consumo de material pornográfico para a autopercepção/ autoestima, considerando a falta de educação sexual adequada. A metodologia envolve uma revisão sistemática, utilizando o referencial teórico psicanalítico e a seleção de três artigos para análise. Os resultados convergem para a ideia de que o consumo de material pornográfico está relacionado a questões emocionais e de autoestima, satisfazendo o objetivo pré-estabelecido. Por fim, se destaca a importância de explorar essa área de estudo a fim de orientar políticas públicas, intervenções terapêuticas e programas educacionais. 

Palavras-chave: Pornografia, autoestima, educação sexual. 

ABSTRACT 

This article addresses pornography as a controversial topic, highlighting its presence already rooted in contemporary society. The impacts of easy access to explicit sexual material in the internet age are discussed, addressing the definition of pornography, its role as a taboo in society and its impact on self-esteem, with an emphasis on concerns about mental and sexual health. The research aims to analyze the possible impacts of consuming pornographic material on self-perception/esteem, considering the lack of adequate sexual education. The methodology involves a systematic review, using the psychoanalytic theoretical framework and a selection of three articles for analysis. The results converge to the idea that the consumption of pornographic material is related to emotional and self-esteem issues, satisfying the pre-established objective. Finally, the importance of exploring this area of study to guide public policies, therapeutic interventions and educational programs is highlighted. 

Keywords: pornography, self-esteem, sexual education. 

INTRODUÇÃO 

A pornografia é um tema controverso que envolve discussões carregadas de juízos e valores devido aos tabus culturais e moralismo. A sexualidade, como apontado por Foucault (1977), é uma construção histórica e social moldada por normas e instituições ao longo do tempo, o que pode promover a estigmatização da pornografia e limitar a educação sexual. A facilidade de acesso à pornografia na era da internet levanta preocupações sobre seu impacto na saúde mental e sexual dos jovens, incluindo expectativas distorcidas e problemas de autoestima. 

Os impactos da pornografia para os jovens no Brasil é um tema de preocupação crescente. Conforme dados de pesquisa produzida e encomendada pelo canal sexy hot em 2018 com objetivo de traçar o perfil de seus assinantes, evidenciou que a pornografia é presente no contexto dos jovens brasileiros. Com cerca de 22 milhões de pessoas assumindo o consumo de conteúdo pornográfico no país, cerca de 58% desse total sendo constituído por jovens, torna-se crucial analisar os possíveis impactos desse fenômeno. Em 13 de julho de 2023 a CAS (comissão de assuntos sociais) do senado federal debateu sobre o aumento do consumo de material pornográfico e suas consequências no meio social, sendo relatados casos de depressão, dependência psicológica desse material, abusos sexuais infanto-juvenis e o fácil acesso ao conteúdo pornográfico gratuito pela internet potencializou o consumo. A exposição cada vez mais precoce, devido ao advento de conexões e dispositivos cada vez mais acessíveis e modernos, a internet tornou-se um espaço vasto e de fácil acesso para conteúdo adulto. 

Conforme Sun (2016) A pornografia pode criar expectativas irreais sobre a aparência e o desempenho sexual, causando ansiedade e insatisfação em relacionamentos íntimos, caracterizando efeitos variados, desde a influência nas percepções a cerca de sexo e intimidade, criando expectativas irreais sobre o que é normal, desejável, como também, pode levar a uma visão distorcida sobre o corpo, prazer e relações sexuais, contribuindo para gerar insegurança e problemas de autoestima, Coelho Filho (2007) descreve autoestima sendo a imagem positiva de si, em equilíbrio entre autovalorização e autoavaliação . 

A autoestima desempenha um papel fundamental no bem-estar emocional e na formação da identidade. A pornografia, ao criar padrões sexuais inatingíveis, pode afetar negativamente a autoestima, levando a pressões e ansiedades sexuais. Portanto, é importante investigar os impactos da pornografia na autoestima e nas expectativas sexuais para promover experiências sexuais saudáveis e realistas. 

A justificativa para este estudo reside no fato de que a sexualidade continua sendo um tabu na sociedade, levando muitos jovens a partir de suas necessidades e curiosidades a respeito do assunto, optam por buscar acesso a conteúdos sexuais online de forma privada, sendo importante investigar como essa exposição afeta o desenvolvimento psicoemocional dos jovens, compreendendo que consumo de pornografia tem se disseminado devido a facilidade tecnológica, mas suas influências na autoestima e nas expectativas sexuais ainda são pouco exploradas. 

O objetivo deste projeto é identificar e analisar criticamente estudos científicos que abordam a relação entre pornografia, autoestima e reverberações nas expectativas sexuais. O projeto visa avaliar como o consumo de pornografia pode afetar a autoestima e as percepções do corpo, bem como conscientizar sobre os impactos da pornografia na saúde mental e sexual dos jovens. 

Em última análise, espera-se que esta revisão possa ajudar a promover uma discussão mais informada e crítica sobre consumo de pornografia e seus impactos negligenciados pela sociedade, contribuindo para a conscientização da população sobre o tema, observando que a falta de educação sexual adequada relacionada à pornografia online, o que dificulta a compreensão de práticas seguras e relacionamentos saudáveis. Portanto, é essencial abordar de forma sensível e educativa os impactos do consumo de pornografia para ajudar os jovens a desenvolver uma compreensão equilibrada da sexualidade. 

METODOLOGIA 

O presente trabalho consiste em uma pesquisa sistemática que faz uso do referencial teórico psicanalítico como alicerce para sua construção. O uso do método de pesquisa sistemática se dá devido a possibilidade avaliar a produção científica disponível e posteriormente reunir e avaliar criticamente a metodologia da pesquisa e condensar os resultados de múltiplos estudos precedentes a cerca de uma temática específica, de modo geral, uma revisão sistemática tem por característica a aplicação de estratégias de busca, análise crítica e síntese da literatura de forma organizada. Zoltowski et al (2014). 

Este estudo concentrou-se em pesquisas de publicações nacionais, as coletas de material de pesquisa foram realizadas nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Google acadêmico e Pepsic, instrumentos de pesquisa acadêmica livremente acessível, selecionadas por conter uma variedade de estudos que corroboram para o arcabouço da produção psicológica disponível no país. 

A busca ocorreu entre os meses de agosto e outubro de 2023 e teve como pressuposto estudos que contemplem a temática do consumo de pornografia aplicado a conceitos psicanalíticos, sendo utilizadas as seguintes palavras-chave para refinar a busca: pornografia, psicanalise e autoestima. Após uma seleção inicial foi realizada a leitura do material selecionado com objetivo de verificar a validade dos mesmos para com o objetivo de pesquisa, ocorrendo a inclusão ou exclusão. Por fim, os estudos selecionados foram agrupados em um quadro para facilitar a compreensão dos mesmos. 

A princípio foram selecionados 618 artigos a grosso modo, sendo a busca na plataforma SciELO e Google Acadêmico, sendo este último o que ofereceu maior aporte de pesquisas livremente acessíveis. Após a análise e seleção mais refinada 615 foram excluídos , por não abrangerem os objetivos previamente determinados. Por fim, foram utilizados o total de 3 artigos que corroboram com a análise e possibilitam a discussão acerca do tema estabelecido. 

No quadro a seguir os detalhes dos artigos selecionados podem ser observados, sendo organizados na seguinte ordem de colunas: título, autores, ano de publicação, metodologia e resultados/conclusão. 

TÍTULOAUTORESANOMETODOLOGIARESULTADOS/CONCLUSÃO
CONSUMO
EXCESSIVO DE
PORNOGRAFIA E
SUAS POSSÍVEIS
CONSEQUÊNCIAS
NA VIDA DO
USUÁRIO
Nádia Dominique de Sousa Maciel2023Estudo de natureza
qualitativa, baseado
em pesquisas
bibliográficas.
O estudo aponta uma diversidade de ideias e
aspectos científicos que estão em torno do consumo de pornografia, contudo Grande parte dos trabalhos apresentados apontam que os efeitos do consumo são parecidos com o consumo de indivíduos viciados em substâncias psicoativas.
PORNOGRAFIA, ADICÇÃO E PSICANÁLISE:
UMA INTERFACE
ENTRE CULTURA E
INCONSCIENTE
Isabella Viviana Rocha Lara Resende2023Pesquisa qualitativaOs resultados revelaram prejuízos nos processos de simbolização e elaboração
desejante dos participantes, impactos na autoestima e no desempenho sexual, como comparações, impotência sexual e frustrações em não conseguir reproduzir cenas desejadas.
ATITUDES DE
JOVENS FRENTE À
PORNOGRAFIA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS
Cynthia Perovano
Camargo Baumel1
Priscilla de Oliveira
Martins da Silva1
Valeschka Martins
Guerra1 Agnaldo
Garcia 1 Zeidi Araujo
Trindade 1
2019pesquisa qualitativaAs consequências do consumo de material
pornográfico indicam uma perspectiva tanto de prejuízos quanto de benefícios, consonante com outras pesquisas realizadas
sobre essa temática.
Quadro 1- artigos selecionados

DISCUSSÃO TEÓRICA: 

Pornografia: Breve introdução 

A definição de pornografia é multifacetada, subjetiva e influenciada por fatores culturais, podendo variar e se adaptando ao padrão de desejo relevante para seu público-alvo, variando de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. Etimologicamente a palavra pornografia advêm da junção dos vocábulos gregos porn(o) – pórnē, ēs — (prostituta ou depravada) e graphein (escrever). Na língua portuguesa, o dicionário Priberam define pornografia sendo: “estudo ou descrição da prostituição.” “Descrição ou representação de coisas consideradas obscenas, geralmente de caráter sexual.” “Qualquer coisa (livro, revista, filme, etc.) de cariz sexual com intenção de provocar excitação”. A partir do supracitado, o termo pode ser aplicado a representações audiovisuais, gráficas, textuais de material sexualmente explícito com objetivo de provocar estímulos corporais excitativos em seus consumidores.

Desse modo, o entendimento do termo pornografia não se dá objetivamente, sendo sua compreensão subjetiva até mesmo para o entendimento jurídico, conforme decisão do supremo tribunal federal: 

“À falta de conceito legal do que é pornográfico, obsceno ou contrário aos bons costumes, a autoridade deverá guiar-se pela consciência de homem médio de seu tempo, perscrutando os propósitos dos autores do material suspeito, notadamente a ausência, neles, de qualquer valor literário, artístico. educacional ou científico que o redima de seus aspectos mais crus e chocantes”. BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2 turma) 

A pornografia em tempos modernos, conhecida como “entretenimento adulto” pode ser encontrada em diferentes formas de mídias, entre elas filmes, revistas, animações, sites, jogos online, vídeos e se transmite facilmente através das redes sociais, especialmente entre aquelas que se permite mensagens privadas e criação de grupos de conversa, sobre a influência da tecnologia. Sá, Oliveira e Pereira (2021) trazem que a produção e consumo de material pornográfico é antiga, contudo, as tecnologias provocaram um aumento de sua produção e acesso, ampliando seu alcance através das mídias, o que colaborou para a extinção cada vez mais rápida de locais onde materiais pornográficos eram expostos de forma física, como banca de jornais, livrarias e salas privadas em videolocadoras, esse advento da tecnologia, conforme Pinto, Nogueira e Oliveira (2010) provocou consideráveis transformações em seu modo de distribuição e recepção, permitindo o anonimato de seus consumidores, capazmente de os resguardar do constrangimento público. 

Com isso, o consumidor não necessita mais estar em contato com outras pessoas comercialmente para adquirir o material pornográfico, MARTINEZ (2009) corrobora que a internet proporciona o consumo de pornografia sem intermediação ou vestígios, preservando seu consumidor, desse modo qualquer um pode fazer uso indiscriminado de seu tempo conectado à internet e desfrutar do que desejar, de forma anônima sem dar pistas de seus atos. 

Ora, se o mundo fantasmático do sujeito for de difícil acesso, sentido como ameaçador ou proibido, a pornografia pode ser um expediente oportuno que, além de aliviar uma tensão interna, tem a “vantagem” de propiciar a vivência da sexualidade sem culpa […] (CECCARELLI, 2011, p. 6) 

A facilidade no desfrute de material pornográfico se exemplifica por sites de busca como o Google, onde é possível se deparar com milhares de outros sites dedicados à exposição desse material, contendo diversas categorias a fim de atrair a partir dos fetiches de seus consumidores, como observamos na figura:

figura-1 categorias principais no site xvideos 
fonte: <xvideos.com> 

A psicanálise oferece uma perspectiva instigante sobre a pornografia, especialmente considerando a forma como lida com as complexas dinâmicas psicológicas que envolvem a sexualidade humana, desejos, e a influência do inconsciente. No entanto, a psicanálise não propõe uma definição direta de pornografia. Contudo, ela explora seu impacto na psique humana e como ela pode estar relacionada a aspectos do desenvolvimento sexual e psicológico, podendo ser vista como uma forma de expressão da sexualidade humana, que pode tanto refletir como habituar fantasias e desejos sexuais, especialmente, ao considerar a relação entre sexualidade, repressão e inconsciente. 

Para a teoria psicanalítica os indivíduos têm fantasias e desejos sexuais inconscientes, natos e inatos, muitos dos quais podem ser reprimidos ou não completamente reconhecidos pela consciência. Freud (1900) equipara as fantasias aos sonhos, sendo ambas formas de realização de desejo beneficiadas por um relaxamento da repressão, nesse sentido a fantasia é o espaço onde desejos e conflitos podem ser processados. A pornografia ao apresentar cenários fantasiosos e por vezes, distantes da realidade, pode fornecer uma saída para a expressão dessas fantasias comumente reprimidas devido a normas culturais, religiosas ou sociais internalizadas pelo individuo através do superego “consciência moral” Freud (1923), oferecendo um espaço onde as regras e limitações são temporariamente suspensas permitindo que as pessoas experimentem esses desejos de forma mais segura e privada, evitando o julgamento ou a punição social direta. 

A sexualidade, sendo um tema tabu, acaba gerando curiosidade devido à falta de acesso à informação, e a partir disso a pornografia é procurada e se torna uma opção para se perceber como se aplica as práticas sexuais e lidar com o próprio desejo privativamente, sem enfrentar qualquer tipo de julgamento social advindo dessa prática. 

Pornografia como tabu 

Vista a partir de uma perspectiva histórica, a pornografia transpassou por vários estágios, com aceitação e rejeição determinadas por uma variedade de fatores culturais, religiosos e sociais. Com base nesses e em outros fatores, é possível entender porque a pornografia se tornou um tabu para a sociedade, substantivo este definido pelo dicionário Priberam como “Proibição de determinada ação, de aproximação ou contato com algo ou alguém que é considerado sagrado”, “Lugar, animal, objeto, coisa ou ação proibidos por temor de castigo divino ou sobrenatural”, “Medo ou proibição de origem religiosa, social ou cultural”, “Assunto de que não se pode ou não se deve falar.” 

A maioria das sociedades ocidentais tem raízes religiosas profundas, e as religiões monoteístas como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo influenciaram historicamente os padrões morais e éticos da sociedade, interferindo em como a sexualidade é percebida e vivenciada. Estas religiões muitas vezes ensinam modéstia e castidade, e a pornografia contendo atos sexuais explícitos é considerada uma violação destes princípios, desse modo, o individuo busca sanar suas necessidades pulsantes através de meios privados, e a pornografia acaba por se tornar a reprodução das fantasias e o “oráculo” das curiosidades acerca das práticas sexuais veladas pelos valores sociais e seus tabus. (NUNES, 2014, p. 56) 

Em muitos lugares, a pornografia é vista como uma ameaça à moralidade e aos valores tradicionais da família e do casamento. Isto levou a esforços para limitar a sua disponibilidade e acesso, o cinema pornográfico traz a representação dos maiores tabus sem nem um tipo de restrição, no qual apesar do julgamento no contexto social em que pode ser vista como ofensiva, acaba por ter a capacidade, por meio da internet, de se estabelecer com produções de conteúdos sexuais de maneira explícita. 

Por se tratar de conteúdo cujo objetivo de seus consumidores é buscar estímulos capazes de provocar excitação e prazer genital, para Neto e Ceccarelli (2015) o estímulo na maioria das vezes é imediatamente reprimido/recalcado, abrindo margem ao aparecimento de formações reativas: a repugnância e o nojo, sentimentos estes diretamente contrários ao desejo real, surgindo como resposta defensiva na tentativa de suprimir impulsos ou desejos considerados inaceitáveis, ou ameaçadores aos valores morais, internalizados através do superego, sendo este uma instância psíquica tido como guardião da moral e dos bons costumes, estrutura constituinte da personalidade e, ao mesmo tempo crítico dela mesma. Homirith (2008) 

O mercado pornográfico traz a representação dos maiores tabus sem nenhum tipo de restrição, apesar do julgamento no contexto social e moral em que pode ser vista como promíscua, não se apresenta aos públicos os riscos de seu consumo deliberado. O desenvolvimento das tecnologias e da internet, proporcionaram uma procura exacerbada pela satisfação de desejos e fantasias através de atividades sexuais online. Essa procura pode levar a uma dependência, e consequentemente, a comportamentos parafílicos, que embora estejam ligadas a distúrbios relacionados com as parafilias, são aceitos culturalmente, tais são: masturbação compulsiva; promiscuidade prolongada; incompatibilidade de desejo sexual; dependência pornográfica; dependência de sexo por telefone e de cybersex. Essas três últimas aumentaram significativamente em virtude do crescente número de disponibilidade de materiais.(CALDEANO, 2016). 

Em relação ao consumo pornográfico, alguns elementos explicam as motivações de busca desse conteúdo, como a curiosidade pelo que envolve a interação sexual, pressão dos colegas, expectativa para se ter experiências sexuais, e através do estímulo visual a auto satisfação do desejo sexual sendo também uma forma de aliviar o estresse, e por fim um entretenimento para o tédio como também diante do sentimento de solidão para o preenchimento do vazio emocional, onde através da pornografia se busca meios de reequilíbrio emocional interno, mesmo que momentaneamente de situações em que mantinham os níveis de tédio ou estresse elevado. FERREIRA E SANTOS (2023) 

Impacto na autoestima 

Enquanto a pornografia é utilizada como base para o entendimento do sexo e suas práticas, acaba ocasionando assim uma repercussão negativa devido ao ato de comparar a realidade com os filmes (BAUMEL et al., 2019). Esse processo gera frustrações diante da impossibilidade em reproduzir os mesmos elementos presentes na idealização pornográfica, impactando a autoestima, termo este ligado a avaliação positiva ou negativa do indivíduo por ele mesmo, e como ele se sente diante de seus feitos e relacionamentos, desse modo, sua satisfação consigo mesmo. Mosquera et al., (2006) 

A autoestima dos jovens que estão iniciando a compreensão a respeito de relações sexuais é afetada por esse contexto e se cria uma referência do que é esperado em uma relação sexual, como também que tipo de corpo e desempenho deveria ter. Em se tratando de uma produção cinematográfica de conteúdos explícitos, existe toda uma estrutura de roteiro e atuações que não condizem com a realidade. 

A pornografia disponível nas redes, atualmente, possui como característica um arsenal ilimitado de vídeos, estes no que lhe concerne, garante ao sujeito altos níveis de dopamina por longos períodos, permitindo alcançar excitação elevada. A medida que um usuário molda a excitação segundo a pornografia, o sexo com parceiros reais passa a não proporcionar prazer suficiente, devido ao declínio dos níveis de dopamina liberados durante atividades normais. (SILVA; ESTORQUE; EVANGELISTA, 2023, p.2359) 

Um problema se evidencia a partir do momento em que se cria um hábito com o uso da pornografia, onde esse se torna um único meio rápido de experienciar uma satisfação sexual, e como consequência acaba prejudicando as relações reais, afetando a percepção de expectativas, padrão ideal de corpo e desempenho sexual, visto que: 

Se os filmes pornôs apresentam performances sexuais atléticas, o imaginário coletivo se povoa do ideário de um super-sexo. Em certa medida, tal ideário acaba por povoar nossas expectativas, desejos, anseios, fantasias. Logo, essa é a performance sexual que se espera reproduzir. (FRANCISCO, 2015, p.20) 

A forma como o desejo é constituído pelas expectativas sexuais, podem ser tanto positivas como negativas, isso pode mudar conforme o pensamento e o imaginário do indivíduo. Em se tratando de um contexto atravessado pela pornografia onde o desejo é concebido por uma relação de perfeição no ato sexual, se torna rigoroso consigo mesmo e com o parceiro, isso inclui a aparência do corpo e também a performance sexual. 

RESULTADOS 

Após análise detalhada verificou-se que os artigos apresentados no quadro 1 expõem discussões em seus resultados que convergem, sendo possível conectá-los para um resultado mais abrangente, destacando que o consumo de pornografia está relacionado a questões emocionais e de autoestima, ambos os textos destacam a busca por satisfação temporária, fuga de inseguranças e a ativação do sistema de recompensa do cérebro, o prazer adquirido no uso da pornografia, elicia a dopamina, neurotransmissor da recompensa. 

Maciel (2023) apresenta a interferência da pornografia em relação à autoestima associada a regulação emocional, destacando que o consumo repetitivo de material pornográfico fornece uma sensação temporária de prazer e satisfação reforçado pela busca de validação e fuga das inseguranças sociais, entretanto, esse prazer oferecido é efêmero, provocando um ciclo de busca continua por materiais pornográficos, ou seja, uma busca por mais estímulos que forneçam uma sensação de satisfação. 

Por sua vez, Rezende (2023) corrobora que o consumo excessivo de pornografia pode estar relacionado a dificuldades em aspectos emocionais como ansiedade, depressão e baixa autoestima. Destarte A pornografia para a autora é vista como uma estratégia utilizada por seus consumidores para lidar com suas emoções oferecendo uma fuga temporária de suas atribuições e estando momentaneamente em uma posição de controle, no entanto, o artigo apresenta que essa relação pode inserir o indivíduo em um ciclo vicioso, indicando a complexidade do uso de pornografia na tentativa de regulação emocional. 

Balmel et al., (2019) aborda o ciclo de recompensa associado ao consumo de pornografia, liberando neurotransmissores associados ao prazer. O texto também apresenta as opiniões dos entrevistados sobre como o consumo de material pornográfico pode influenciar o comportamento sexual e os relacionamentos. Entrevistados de ambos os gêneros relatam preocupações com efeitos negativos do consumo, elencando a idealização do corpo, insegurança, prejuízos à saúde mental, desenvolvimento de vício, e ameaça na manutenção de relacionamentos como as principais preocupações. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Apesar do papel significativo da pornografia na sociedade contemporânea, em especial como manual de relações sexuais, é surpreendente observar a existência de uma lacuna em relação aos estudos científicos relacionados a influência direta da pornografia na autoestima de seus usuários, indiscriminado gênero e orientação sexual. A complexidade da correlação entre pornografia e autoestima e o tabu que envolve o tema possa ter influenciado e desencorajado pesquisas mais aprofundadas, tendo em vista que é desafiador separar os efeitos da pornografia de outros fatores que também influenciam na autoestima, como pressões sociais, expectativas culturais, e padrões de beleza.

A ausência de estudos científicos específicos sobre a relação entre pornografia e autoestima é surpreendente, pois compreender como a pornografia pode impactar a autoestima é fundamental, especialmente considerando o acesso cada vez mais generalizado a esse conteúdo na era digital. Uma abordagem científica consciente pode proporcionar a criação de uma metodologia capaz de orientar políticas públicas, intervenções terapêuticas e programas educacionais que visam abrandar possíveis efeitos negativos. 

Segundo Freud (1905) a sexualidade saudável deve começar a ser trabalhada na infância e não apenas no início da puberdade, para o pai da teoria psicanalítica a criança é um ser dotado de sexualidade, o que precisa ser trabalhado é o diferimento entre sexualidade e genitália partindo deste pressuposto abre um leque de diálogo a ser trabalhado evitando que a curiosidade vindoura leve a pessoa a caminhos da pornografia precocemente e sem conhecimento prévio do tema. Esclarecer dúvidas e não reprimir as manifestações sexuais ajuda a compreender as manifestações da libido. 

A educação sexual se faz importante nesse processo em que o conteúdo pornográfico cada vez mais cedo introduz os jovens ao sexo, sem que se tenha o conhecimento prévio adequado sobre métodos contraceptivos, uso de preservativos para a proteção contra Infecção Sexualmente Transmissível (IST) além de uma gravidez não desejada, e também sobre consentimento nas relações sexuais. 

Em ultima análise, é impreterível que a sociedade científica desbrave espaço para estudos que explorem a relação entre pornografia e autoestima e seus correlatos na saúde mental. Em vista disso, é fundamental reconhecer a importância de compreender as complexidades psicológicas subjacentes. A falta de pesquisas nessa área deixa questões cruciais sem resposta, como a evolução desse consumo de acordo com o contexto social e cultural de cada nova geração, diferenças no impacto da autoestima em diferentes identidades de gênero e orientações sexuais, consequências a longo prazo, diferença dos impactos em diferentes faixas etárias, dessa formação, limitando a capacidade de abordar adequadamente os desafios que surgem do encontro entre autoestima, bem-estar emocional e pornografia e outros fatores que possam estar envolvidos. 

REFERÊNCIAS 

BAUMEL, C. P. C. et al.. Atitudes de Jovens frente à Pornografia e suas Consequências. Psico-USF, v. 24, n. 1, p. 131–144, jan. 2019. 

BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Recurso em Mandado de Segurança: RMS18534, Segunda Turma, Relator: Ministro Aliomar Baleeiro, 1/10/1968.

CALDEANO, Ana Rita Ribeiro. Perturbações Parafílicas no séc. XXI. Orientador: Mestre Juliana Nunes. 2006. 41 f. Dissertação (Para obtenção do Grau de Mestre em Medicina) – Universidade da Beira Interior Ciências da Saúde, Covilhã, 2016. 

Coelho Filho, C. A. A. (2007). Metamorfose de um corpo andarilho: busca e reencontro do algo melhor. São Paulo: Casa do Psicólogo. 

CECCARELLI, Paulo Roberto. A pornografia e o ocidente. Revista (In) visível. Portugal, 2011. p. 1–10. 

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1977. 

FERREIRA, R. M. C.; SANTOS, M. S. Dos efeitos à constatação dos usos da pornografia pela audiência. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun., São Paulo, v. 46, e2023102, 2023. doi: https://doi.org/10.1590/1809-58442023102pt. 

FRANCISCO, André Henrique dos Santos. SUPER-SEXO: A INFLUÊNCIA DO FILME PORNOGRÁFICO NO COMPORTAMENTO SEXUAL MASCULINO. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, [S. l.], v. 26, n. 2, 2015. DOI: 10.35919/rbsh.v26i2.130. Disponível em: https://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/view/130. Acesso em: 2 nov. 2023. 

FREUD, Sigmund. o ego o id e outros trabalhos. 1923. tradução: Joan Riviere. Londres: Hogarth Press e Instituto de Psicanálise. 1927. vol. XIX. 

FREUD, S.(1900). A interpretação de sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1972. p. 361-660. 

FREUD, S. (1905) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das obras completas, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 

FILHO, floriano. CAS debate o vício em pornografia e consequências entre jovens. Senado Federal. 2023. disponivel em: https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2023/07/13/cas-debate-o-vicio-em-pornografia-e -consequencias-entre-jovens 

MARTINEZ, Matias López. A transformação da pornografia. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos de graduação em Ciências Sociais – IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p.56-68, dez. 2009. Semestral. Disponível em: . Acesso em: 29 dez. 2009 

MOSQUERA, J.J.M. & STOBÄUS, C.D. (2006). Auto-Imagem, Auto-Estima e Auto-Realização: Qualidade de Vida na Universidade. Psicologia, Saúde & Doenças, 7(1), 83-88. 

NETO, Alberto Ribeiro; CECCARELLI, Paulo Roberto. Internet e pornografia: notas psicanalíticas sobre os devaneios eróticos na rede mundial de dados digitais. Reverso, Belo Horizonte , v. 37, n. 70, p. 15-22, jun. 2015 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952015000200002&ln g=pt&nrm=iso>. acessos em 02 out. 2023.

NUNES, Ébano. O Cinema Obsceno em Conflito: a história diante das fontes de pornografia e erotismo. Cadernos do Tempo Presente. n. 17, p. 55-60, set./out., 2014. 

PINTO. Pedro; NOGUEIRA, Maria da C.; OLIVEIRA. João M de. Debates feministas sobre pornografia heteronormativa: estéticas e ideologias da sexualização. Psicol Reflex Crit [Internet]. 2010;23(2):374–83. Available from: https://doi.org/10.1590/S0102-79722010000200020 

HOMIRITH, Adriana Chaves Borges. O conceito de superego na teoria freudiana. instituto de psicologia da universidade de são paulo. 2008. disponivel em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-13072009-102828/publico/doutorado adrianahomrich.pdf 

SÁ, M. A. A. de .; OLIVEIRA, A. D. .; PEREIRA, O. P. . AS CONSEQUÊNCIAS DO CONSUMO DE PORNOGRAFIA PARA A SEXUALIDADE DA MULHER HETEROSSEXUAL. Revista JRG de Estudos Acadêmicos , Brasil, São Paulo, v. 4, n. 9, p. 298–318, 2021. DOI: 10.5281/zenodo.5500539. Disponível em: http://revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/306. Acesso em: 3 out. 2023. 

SILVA, Aluízio Fernando Costa; ESTORQUE, Álefi Dornelas Soldeiro; EVANGELISTA, Fernando Vieira. Disfunção erétil em jovens causada por pornografia. Revista Brasileira de Revisão de Saúde, Curitiba, v. 6, n. 1, p. 2351-2367, 27 jan. 2023. DOI 10.34119/bjhrv6n1-184. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/56822. Acesso em: 12 out. 2023. 

Sun C, Bridges A, Johnson JA, Ezzell MB. A pornografia e o roteiro sexual masculino: uma análise do consumo e das relações sexuais. Archives of Sexual Behavior, 45(4), 983-994. 2026. 

ZOLTOWSKI, Ana Paula Couto et al. Qualidade metodológica das revisões sistemáticas em periódicos de psicologia brasileira. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 30, n. 1, p. 97- 104. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/L7CvnCh4KJVhgcnkLKnTtFc/


1Bacharelando em Psicologia na Faculdade Católica Dom Orione, Araguaína, Tocantins, Brasil. saviosaraiva@catolicaorione.edu.br
2Bacharelando em Psicologia na Faculdade Católica Dom Orione, Araguaína, Tocantins, Brasil. mariad@catolicaorione.edu.br 
3Bacharelando em Psicologia na Faculdade Católica Dom Orione, Araguaína, Tocantins, Brasil. gilmariasilva@catolicaorione.edu.br 
4Mestrado (2010) e Doutorado em Psicologia Clínica pela PUC Goiás (2017), Especialização em Psicopatologia Clínica pela Universidade Paulista (2007). Especialização em Psicologia do Trânsito (2014), viviane@catolicaorione.edu.br